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Teoria Política I - Prof. Antonio Roberto Espinosa (Unifesp - EPPEN) 2. Formação do Estado. Política interna e externa. Nomia e Paz X Soberania (anomia) e guerra. A centralidade do Estado e suas duas personalidades (dupla face) - O que é (são) teoria (teorias) política (políticas)? E a política? Condição da ciência: o abandono da ingenuidade, do senso comum Separação e divórcio entre a palavra e a coisa. O signo e o representado, a realidade do mundo e a realidade da representação do mundo. O concreto = a realidade O pensado = realidade pensada “O concreto é concreto porque é a síntese de muitas determinações, isto é, unidade do diverso” = caos em movimento “O método que consiste em elevar-se do abstrato ao concreto não é senão a maneira de proceder do pensamento para se apropriar do concreto, para reproduzi-lo como concreto pensado” - Objeto, método e corpo conceitual Componentes de qualquer ciência: 1) Objeto claramente definido (recortado e distinto de qualquer outro); 2) Método de pesquisa preciso, com verificações; 3) Corpo conceitual próprio. Ciências da natureza: Investigação empírica: Emprego da Matemática - Observação - Mensuração - Verificação - Laboratório - Busca das constâncias - Anotação criteriosa - Formulação de hipóteses - Teste das hipóteses - Formulação de leis Redução do objeto de estudo até o ponto de encontro de intervalos constantes e imutáveis entre seus elementos. Emprego da quantificação e de fórmulas matemáticas expressivas. Ruptura epistemológica da modernidade (e efeitos): Particular X Totalidade Ciência X Religião Ciência X Filosofia Cientista X Papa (Deus) Eficiência X Especulação Lucro X Beleza-Esperança O particular abstrato ignora e - A busca minuciosa da verdade nas minúcias, ânsia por encontrar um mundo de “essências” regulares e constante, distinto do caos dos fenômenos ou “aparências”; - A obsessão por produzir conhecimentos úteis, que possam ser empregados pela indústria e gerar lucros - Permitem chegar a leis que confortam, na medida em que antecipam a ocorrência de fenômenos. No particular-particular: constâncias, repetições e previsibilidade; - Mas isto leva a uma alienação da totalidade. À sua própria perda! A construção da ciência (da natureza) pode significar a perda de sentido da vida real. O esquartejamento do corpo do homem em coisas-parte previsíveis - A busca do rigor, da eficiência e da utilidade do conhecimento leva as ciências da natureza a subdividirem também o corpo humano em microcorpos (ou microdivisões do corpo) autônomos; - Nesses microcorpos (ou partes isoladas do todo do corpo) busca-se a constância, a repetição, os intervalos regulares, que tornam possível a matematização. - O homem, reduzido a seu corpo físico, portanto, é conhecido nas pequenas minúcias; Isso corresponde ao descarte do indivíduo e das sociedades como uma totalidade complexa; - O que torna historicamente necessário o rigor no estudo do homem como totalidade e o surgimento de ciências. O indivíduo, a sociedade e o Estado - Três totalidades complexas: - O próprio corpo humano é uma totalidade complexa; - Homeopatia X Alopatia. - O indivíduo, porém, não é apenas o seu corpo, mas também a sua personalidade, a sua identidade, sua autoestima. - A sociedade não é apenas a somatória dos indivíduos de um grupo, mas tem uma historicidade própria, socializa seus membros; - Ela forma seus membros e se reproduz; - Constitui um sistema que age, formatando seus integrantes; - Estes, por sua vez, também agem sobre ela. - O Estado, finalmente, é um corpo burocrático, com poder de mando, em relação dialética com a sociedade e os indivíduos particulares. É o objeto central, do estudo da Ciência Política. Ou das ciências políticas. O resgate do homem e da totalidade como objetos do saber - O extraordinário avanço das ciências da natureza após a revolução copernicana; - As grandes navegações e a descoberta de outros continentes, outras formas de ser humano e outras culturas; - O advento do Estado e a supressão de antigas autocracias e as reformas religiosas, derrubando “verdades” milenares e apontando para o papel também de sujeito desempenhado pelo homem. - Tudo isso criava a necessidade de um novo entendimento conjunto da realidade. Ou da filosofia. Ou ainda: de uma nova filosofia (centrada no homem e não mais em Deus); - E também a necessidade de emprego da mesma racionalidade moderna para a compreensão do ser humano. Ou Ciências Humanas. Ciências humanas e da natureza Semelhanças Diferenças Busca do rigor: - Controle das pesquisas - Observação rigorosa - Sistematização - Busca de leis gerais - Éticas - Laboratório X História - Causalidade e efeitos - Intervalos entre os fenômenos - Uso do ferramental matemático - Grau de previsibilidade O que é Estado? - Forma nova de organização e exercício do poder, surgida nos séculos XV e XVI, na Europa - Poder centralizado e hierárquico (burocrático) Com uma autoridade centralizada e controle sobre todo o território, e a faculdade e a obrigação de fazer valerem as leis. Ciência Política: a mais antiga das ciências humanas MAQUIAVEL: O Príncipe (1513 A Primeira década de Tito Lívio (1517) Comte: Curso de Filosofia Positiva (1830-1842) Durkheim: O suicídio (1897) As regras do método (1895) Soberania territorial: (DUPLA SUBVERSÃO) - Unifica os feudos e espaços de “ninguém”, despojando os antigos senhores locais e submetendo-os à autoridade central. - Fragmenta o poder universal da igreja, submetendo o papa a sua soberania no âmbito do seu território. - Regras da unificação e centralização do poder: Compreende um território contínuo, com fronteiras definidas, reconhecidas pelos vizinhos: - Na maior parte dos casos, com uma única língua comum. - Quase sempre, com valores semelhantes e uma unidade cultural que lhe confere uma identidade própria; - Com forças armadas centralizadas, encarregadas de defender as fronteiras e promover os interesses comuns; - Com um mesmo corpo de leis (uma mesma Constituição) e o mesmo soberano. Sucedeu o sistema feudal: dispersão política e autoridade universal da igreja. Duas novas dicotomias 1ª: SOBERANO x SÚDITOS 2ª: INTERNO (soberano) x EXTERNO (outros soberanos) Estado é o monopólio da violência legítima. Definição de Max Weber: "Força e legitimidade. Legitimidade doo uso da força por uma burocracia centralizada e hierarquizada." - Direito de uso da força por uma burocracia centralizada, reconhecida como legítima pelos súditos e pelos congêneres concorrentes. - Soberania. Sobre o território, que depois se transformará em SOBERANIA NACIONAL. O que é arquia? Anarquia? E Anarquia Internacional? - A política num ambiente não regido por Leis ou pelo Direito. - A política entre soberanias nacionais particularistas, em que uma não reconhece outra como sua superiora. - O ambiente em que mesmo o Direito é imposto pelo mais forte, gerando uma ordem momentânea. - Situação em que a única lei possível é a “lei do mais forte”, porque “Um Estado é lobo para outro Estado”. Estado de Natureza. Heteronomia: Ordem imposta de fora ou de cima. Estranha. Que leva à submissão. Representa a autocracia. Autonomia: Ordem consensuada pelos cidadãos, por isso, autônoma ou democracia. As duas perguntas de Bobbio em Democracia e Sistema Internacional 1) Pode haver um estado plenamente democrático num sistema internacional autocrático (ou pior, anárquico)? 2) Pode haver um sistema internacional democráticoque englobe estados autocráticos? Três estágios sociais: Face interna Face externa Tipo de relação Dos cidadãos entre si e com o Estado. Dos Estados entre si. Princípio Regulador Princípio de sujeição ou subordinação. Dos súditos ao soberano e de ambos à lei. Princípio de igualdade. Os soberanos são iguais entre si. São todos soberanos Paz/Guerra; Com lei/ sem lei Anomia (sem leis, estado de guerra permanente, Nomia (sob leis, com paz ou Estado hobbesiano de natureza) Figura do Tertius (terceiro) Juiz Aliado, árbitro ou mediador Caráter das leis e tratados Vinculante Não-vinculante Violência Monopólio legítimo da violência. Direito de fazer a guerra. Nome Pactum subjectionis Pacta societatis Duas palavras de origem grega Arché (ou arqué) Anarquia Forma, formato, ordenado. Origem de ARQUIA. Exemplos: Monarquia = Governo de apenas um, Poliarquia = governo de vários etc. Arquétipo = Aquilo que tem uma forma (ou estrutura) determinada. Segundo o Aurélio: “1. Modelo de seres criados. 2. Padrão, exemplar, modelo, protótipo”. Arquetípico = Aquilo que é formatado ou tem uma forma definida, que é estruturado. O Estado = O conjunto de instituições burocráticas O contrário daquilo que tem arquia. Ou seja: Uma situação sem forma ou estrutura. Sem governo ou sem ordem estabelecida. AN + ARQUIA (sem arquia ou sem forma) Anárquico: Situação sem forma, desestruturada. Que poderia ser definida como caótica, logo imprevisível, fora de controle. Anárquico: Confuso, desordenado, caótico”. Sem Estado ou contra o Estado: Sociedade ou grupo humano sem formato, sem autoridade e sem qualquer hierarquia. As duas dicotomias de Bobbio: Dicotomia Espaço Atores 1ª Paz x Guerra Geral e, depois, Externo (Estado polêmico ou Estado de Natureza) Estados 2ª Democracia x Autocracia Interno (Estado civil) Indivíduos entre si face ao Estado Momento Correspondência Descrição apressada Estado polêmico Estado de Natureza (Hobbes) Guerra de todos contra todos. Anarquia. Sem qualquer força capaz de impor soluções negociadas ou a lei comum. Situação desagradável. O homem é lobo para outro homem. Estado agonístico (Inovação bobbeana) Fase em que os homens, em seu conjunto, já não suportam o Estado polêmico mas ainda não dispõem dos meios e condições históricas para a passagem ao Estado pacífico. O homem-lobo angustiado. Estado Pacífico Estado Civil (Hobbes e Locke) Situação em que a paz passou a ser a regra de convivência interna, mediada pelas razões da lei e a solução pacífica dos conflitos. O homem civil ou civilizado. A transição da guerra à paz Aspectos Estado polêmico Estado agonístico Estado pacífico Tipo de Estado Estado de natureza Situação intermediária Estado Civil 1) Relações nômicas Anomia (guerra de todos contra todos) Anomia Nomia (leis e paz) 2) Descrição Conflito permanente Disposição, mas ineficaz, para evitar o confronto na solução de conflitos Situação de paz, com poder legítimo para solucionar conflitos 3) Pacto Ainda sem pacto. Estado de beligerância permanente. 1º pacto: Adoção de normas para evitar a solução violenta dos conflitos. 2º pacto: Validação das normas e regras para a solução pacífica dos conflitos. 4) Natureza do pacto -- Pacto negativo Pacto positivo 5) O que muda com o pacto? Podem até haver vontades particular e geral de superar essa situação. Normas não permanentes e ainda não legítimas. Sem efeito jurídico vinculante. Regras e instituições para garantir as regras: leis. Vinculante. 6) O tertius (terceiro admitido) O aliado. Este reforça um dos beligerantes, para decidir o conflito pela força. Admitida a figura do árbitro ou mediador. (Sua eficácia depende do consenso dos beligerantes) Entrada em cena de um 3º ator neutro e com iniciativa para resolver os conflitos: O JUIZ. 7) Natureza do tertius Parcial (Desequilibra as correlações em proveito próprio) Passivo (Cuja força é delegada pelas partes e depende do consenso entre elas) Ativo (Age por força da lei, independentemente, e com força para solucionar os conflitos) 8) Nome do Pacto Até podem haver consensos momentâneos, mas sem força vinculante. Pacta societatis (Pactos de sociedade ou de associação. Não vinculantes). Pactum subjectionis (Ou pacto de sujeição, hierárquico. Governo das leis). Duas modalidades de pacto de sujeição (ou de paz interna) Tipo de pacto Estado Sujeição Normas Parentesco Visibilidade Heteronômic o Autocrático Imposta Legais Anomia. Forma mais próxima do Estado Polêmico Forma de governo obscura. Segredos de Estado Autônomo Democrático* (O que Bobbio chama “de-mocrático” Maquiavel chamaria “republicano”). Consentida Legais e legítimas Nomia. Forma superior, só possível no Estado Pacífico mais desenvolvido. Formas de governo visíveis para os súditos (e os demas Estados). Transparentes. Sem segredos de Estado e sem espionagem. Condição da paz perpétua. Para a existência de democracia* são necessários: 1) Respeito aos direitos naturais; 2) Regras para as decisões coletivas. ** O Sistema Internacional não conhece pactum subjectionis (pacto de sujeição). Nele, há uma alternância entre pacta societatis e anomias (estados de natureza = guerras); Ou seja, ele oscila entre o estado polêmico e o estado agonístico; Nele não há estado pacífico. Trata-se de uma sucessão de imperialismo (colonização) e império (anomia), sem cair na heteronomia. 3. Política e contemplação. Platão e o rei-filósofo. Um esboço de teoria política. Aristóteles, os tipos de Estado e suas perversões. O Rei-filósofo e as formas de governo segundo a quantidade - Política e contemplação: - Sócrates (469-399 a.C ): o criador do conceito; - Mestre de Platão (428/427-348/347 a.C), - o mestre de Aristóteles (384-322 a.C); A democracia ateniense; Os pontos extremos da cultura helênica e os paradoxos: Mobilismo extremo X Imobilismo; Platão: o Rei-Filósofo. Aristóteles: As formas de governo segundo a quantidade de governantes. Políbio (203-120 a.C): Governos mistos. SÓCRATES: o conceito. Rigor na construção intelectual O parto do conceito Filho de parteira e escultor. Analfabeto. 19 livros: transcrições dos diálogos por Platão. Diálogos em praça pública. Escola a céu aberto em Atenas. Oponentes: os sofistas. Que formavam políticos e advogados no ambiente democrático de Atenas. Condenado ao suicídio (beber cicuta) por perverter a juventude. Oráculo de Delfos “Conhece-te a ti mesmo” Combate permanente aos sofistas “Meu saber consiste em saber que nada sei” E nisso consiste a sua superioridade em relação aos concorrentes. A consciência da própria ignorância. Daí a busca constante do conceito. Os grandes dilemas da filosofia grega e seus paradoxos: O embate entre as escolas de Eléa e de Éfeso: Mobilismo extremo x Completa imobilidade Confronto entre democracia ate. e autocracia esp.: O poder da Ágora (Eclésia) x Tirania (ou oligarquia) Razão X Sentidos: Única verdade: a permanência Mudança = a única realidade Só pode existir aquilo que é concebido pelo pensamento. O ser é; O não-ser não é; Logo: o ser é 1) Uno; 2) Indivisível;3) Infinito; 4) Imutável; 5) Imóvel. O real é aquilo que se sente. Logo, a physis do universo é o fogo. Ou seja: a eterna mudança. O resto são momentos ou ilusões. “Não te banharás duas vezes no mesmo rio”. Dois modelos políticos gregos Ateniense Espartano DEMOCRACIA Referência: Péricles (495-429 a.C). Estadista responsável pelas leis e a democracia. General. Base: liberdade. Responsável pela “era de ouro”. Atenas: Cidade comercial. Porto da Antiguidade. Ponto de confluência de povos e culturas. Locus da Filosofia. AUTOCRACIA Legislador: Licurgo (ensino público), com educação fornecida pelo Estado (internatos) dos 7 aos 18 anos. Preparação inclusive para a guerra. Legislação rigorosa. Esparta: Economia baseada na Agricultura. Um Estado territorial. Proteção da colheita e do território. Locus da estabilidade e da ordem. Princípios da democracia ateniense: Isonomia Isegoria Igualdade de todos perante a Lei. As leis são as mesmas para todos os políticos (membros da pólis = cidade). Todos devem ser tratados da mesma forma. Direito de falar e ser ouvido pela Assembléia. Isso não inclui, pela ordem: Escravos, estrangeiros, artesãos, mulheres e crianças. Todos os cidadãos têm o mesmo peso político. Todo cidadão pode propor leis, falar na Assembléia e votar. O “voto” de cada um vale tanto quanto o de qualquer outro. O poder de cada um é igual ao de todos os demais. Cada cabeça um voto. Democracia direta: Mandatos curtos: Não-reelegibilidade; Revogabilidade permanente (por decisão da Assembleia); Prestação de contas regulares e extraordinárias; Eleição por: SORTEIO (Pressuposto: a igualdade fundamental entre todos os cidadãos). Duas classes de cidadãos livres segundo Aristóteles Idiotas Políticos Procupados somente com seus IDIONS - umbigo. Que se deixam mobilizar pelos seus interesses pessoais. Interessados nas leis e assutos da POLIS. Política - assuntos de todos. Sócrates, Platão e Aristóteles: conservadores. Não-democratas. Filósofos em busca da estabilidade = permanência; Busca de uma ordem durável = verdadeira; Platão = regressista, em direção a uma ordem perfeita, verdadeira; Aristóteles = busca dos melhores, os poucos e bons para a maioria. Três diálogos políticos de PLATÃO O político = Tornar os cidadãos mais felizes e melhores. A república = Cidade ideal, governada pelos mais sábios e sustentada pelos mais valentes. As leis = Duas formas de governo. De cima para baixo: monarquia; de baixo para cima: Democracia. Os dois mundos de Platão Mundo das idéias Mundo sensível Matrizes, perfeitas: mundo das verdades. Eterno: não sujeito a mudanças ou melhorias. Verdadeiro: nele tudo como deve ser: o belo que é belo; o bom que é bom; mundo dos conceitos. Cópias: este mundo é aquele em que são copiados sobre o “devir” aqueles modelos. Imitação: trata-se de um mundo imperfeito. Que se parece com as idéias, mas não são elas. Falso: nele as coisas imperfeitas estão em permanente deterioração. A ascese ao mundo das ideias somente por meio da Filosofia: Mediante a libertação do mundo dos sentidos atinge-se primeiro os conceitos mais simples e, ao final, as ideias mais levadas, trata-se de um processo racional só realizável por filósofos e por meio da filosofia. Trata-se de uma hierarquia só escalável pelo desprendimento do corpo e pela razão As três ideias supremas: Beleza (belo) Moralidade (bem) Verdade (que também é justiça) O mito da caverna: - O homem “normal” é como um indivíduo acorrentado na entrada de uma caverna, de costas para o sol luminoso e que só enxerga as sombras no fundo. E imagina que este é o mundo. - O filósofo é o indivíduo que rompe os grilhões, vira-se, ofusca-se com a luz, mas, ao recuperar-se, distingue o que é o mundo real: as ideias ou archés. E se liberta das sombras-cópias; - E que ajuda os demais a também se libertarem. A República e o Rei-Filósofo Forma de organização social e política perfeita: - Completa harmonia, devido a ser justa; Igualdade, ordem e estabilidade; Justiça e harmonia; - No melhor dos mundos possíveis, cada um dá o que tem de melhor e recebe o que o necessário do Estado. Hierarquia das almas e a República - Proposta de reorganização da sociedade e do Estado, principal obra política de Platão; - Atribuir poder conforme a “alma” das classes sociais: Um Estado estável, justo e perfeito. Cada um se ocupa daquilo que faz bem. Tipos de almas Funções dos homens Ouro = Sábios (Filósofos, poetas) Os de ouro governam com justiça e equidade. Nela os filósofos são reis e os reis, filósofos. A sabedoria a serviço da vida. Prata = Comerciantes e mercadores Os homens de prata geram riquezas; Bronze = Soldados Os de bronze garantem a ordem; Ferro = Artesãos urbanos Os de ferro produzem utensílios; Barro = Camponeses Os de barro produzem alimentos. Estatização do ensino, das crianças e mulheres Educação pública Extinção da família - Segundo Platão, a compra de educação com dinheiro introduz diferenças artificiais entre os homens. - Todo o ensino, portanto, deveria ser estatal. A alma dos indivíduos seriam identificadas ao nascer e eles seriam educados, até os 18 anos, pelo Estado, conforme as suas aptidões naturais (a alma). - Na República não haveria dinheiro ou família, nada que possa trazer particularismos. As crianças e mulheres seriam bens e responsabilidades públicos. - As crianças seriam filhas de todos os homens e os pais, pais de todas. - As mulheres também seriam bens comuns. República x Democracia - A palavra República tem um significado oposto ao que viria a adquirir na modernidade. Embora associada à igualdade, em Platão, ela representa uma reorganização social a partir de uma elite, a dos filósofos. Seria uma aristocracia. - Trata-se de uma proposta normativa. Normas para mudar a situação vigente. - E a situação que o incomodava era a democracia. Ciclo da degradação e corrupção da cidade Idade de Ouro: Rei-Filósofo. Harmonia e estabilidade. Idade de Prata: Timocracia. Quando os guerreiros se impuseram aos sábios. Durou até quando os guerreiros passaram a se interessar pela riqueza. Idade do Cobre. Oligarquia. Domínio dos ricos. Idade do Ferro. Democracia. Governo da maioria ou dos pobres. A democracia degenera em anarquia. Anarquia se degenera em tirania. O tirano é inimigo de todos. ARITÓTELES, a Física e a Metafísica: A conciliação entre o ser e o não-ser. Aristóteles pensa a Filosofia como sistema. Integra tudo. De acordo com ele: o ser é, mas o não-ser também é. Ele procura reconciliar Parmênides e Heráclito em sua Física e Metafísica. Como? - O não-ser é o espaço (vazio) ocupado pelo ser, ele, portanto, é a condição do ser. - Só que ocupa totalmente o espaço, não deixando lugar para que o não-ser se mostre. - Desse modo ele concilia o movimento com uma concepção imobilista. O ser é móvel, pois se move no não-ser. O ponto de equilíbrio: o poder e o bem comum - A função, e a justificativa, do poder é o bem comum; - Qualquer tipo de poder sobre a sociedade é moralmente justificado e necessário quando se orienta para o bem da coletividade; - Qualquer forma de governo é “salutar” quando o objeto e o móvel de sua ação é a segurança e a felicidade dos governados; - Quando ele objetiva o bem do próprio governante, passa a ser inaceitável (condenável). Desequilíbrio = perversão Qualquer tipo de poder, contudo, pode se degenerar, perverter. De saudável pode se tornar doentio e maléfico. Isto ocorre quando o governante deixa de se nortear pelo bem comum e passa a se orientar pelo próprio bem. O governante autocentrado representa uma perversão; ele deixa de sersaudável e passa a ser doentio, moralmente condenável. Corrupto, ao invés do bem comum, ele representa o mal aos comuns. As três formas de governo e suas corrupções (formas degeneradas) Governantes Forma de governo Características Forma degenerada 1 Monarquia Governo de um Tirania Poucos Aristocracia Governo de poucos (ou uma elite) Oligarquia Muitos Poliarquia Governo de muitos Democracia A perda de equilíbrio entre governo e governados faz com que uma dessas formas deixa de prezar o bem público e passe a servir interesses do governo. Forma de governo misto (POLÍBIO) - Na Guerra da Macedônia, quando da tomada da Arcádia, em 168 a.C, foi levado, junto com outros nobres, como refém para Roma, foi preceptor de Cipião Africano. Retornou após a morte de Cipião. - Historiador, buscou as causas da estabilidade de Roma na sua forma de governo, que chamou de Governo Misto. A Constituição romana combina as formas de governo que colidiram na Grécia. A Constituição romana combina as três formas de governo gregas (mescladas e dosadas pelos romanos) Formas gregas de governo Equivalentes combinados em Roma Monarquia O cônsul romano se parece muito com os soberanos gregos. Aristocracia Um órgão que congregava a elite romana, o Senado cumpria o papel de dar representação às camadas superiores. Democracia Da mesma forma que em Atenas, mas sem o mesmo poder decisório da Eclésia, os comícios romanos cumpriam o papel de ouvir a plebe (ou o povo). O equilíbrio das três formas de governo, segundo Políbio, foi a chave para que uma delas não preponderasse, degenerando-se em tirania, oligarquia ou democracia. Dessa forma em Roma se logrou a estabilidade. 5. Principado e República. As dicotomias. A política como arte da conquista e da manutenção do poder. O papel da fortuna e a ciência política. Introdução ao pensamento de Maquiavel. Principado e República (As formas de Estado e a arte do poder) “Não existe elogio à altura deste homem” - O Príncipe (1513, publicado em 1531) - A primeira década de Tito Lívio (1517, publicação em 1531) - A arte da guerra (Entre 1519 e 1520, também editada em 1531) - Mandrágora (peça de 1518, publicada em 1524) - A história de Florença (1532). A política como ela é: as formas efetivamente utilizadas para conquistar e manter o poder, não como “deveria ser” (ou a idealização da política). Um exame frio dos métodos usados: o casamento, a traição, as alianças, as leis, a força.... Biografia sucinta (1469-1527) - Família com + de 400 anos de Florença, mas de poucas posses. - 1498. Eleito secretário de duas instituições da República de Florença: da Segunda Chancelaria da Senhoria e dos Dez da Liberdade e da Paz . Nessa função conhece César Bórgia (filho de Rodrigo, o papa Alexandre VI), para muitos, o modelo de O príncipe; - 1512. Os Médici retomam o poder. É demitido, preso, torturado e exilado; - 1520 . Convidado pelo cardeal Júlio de Médici (papa Clemente VII, a partir de 1522) a escrever a história de Florença; - 1526. Os Médici são depostos e expulsos da cidade. Cai novamente em desgraça. Morre em 27. O Príncipe - Obra escrita no exílio, em Sant’Andrea, na Percussina, a 3,3 km de San Casciano dei Bagni, Florença, em 1513; Dedicada a Lourenço II, de Médici, então com 20 anos, então Duque de Urbino, filho de Piero de Médici. Maquiavel via nele as virtús de um príncipe capaz de unificar a Itália - Juventude, ousadia, determinação, prudência, arrogância e comedimento, crueldade e compaixão; - Uma solicitação nada discreta, na dedicatória; - Lourenço II, porém, morre em 1519. A obra é publicada em 1531. As cinco revoluções maquiavélicas 1ª) Moral. Com a concepção moralista de que a política seria a arte de fazer o bem, ou servir a comunidade. A política como busca do poder; 2ª) Metodológica. O precedente histórico. E não mais das “boas” justificativas religiosas; 3ª) Ontológica. Busca das identidades regionais, ao invés do suposto universalismo divino; 4ª) Prática. Para a superação da fragmentação entre os potentados feduais na busca do Estado territorial; 5ª) Epistemológica. O resgate dos casos históricos para interpretar as características efetivas do poder. A grande troca de fundamento: A Natureza Humana x Deus (A política X A moral. A política como é X A “política” como deveria ser.) Os dois aspectos da política e a definição da política como arte Prática Teoria Arte relativa ao poder, não se trata de uma técnica, sujeita a previsões. Nem de uma esfera de atividade fortuita, porque o homem tem peso sobre ela, mas não tem certeza dos resultados. Conquista ou Conservação. Arte da conquista e manutenção do poder. Ciência, que lida com a incerteza sobre o futuro e a interpretação do passado: define as possibilidades e probabilidades. Ela se define a partir das relações de força, nisso ela tem uma lógica que lhe é própria e irredutível a outras esferas. A história e a natureza do homem e da sociedade. Método analítico-histórico O Estado, a Sociedade e o Homem não são objetos que se possa submeter a experimentos empíricos. Ainda que fosse possível trancafiar o homem num laboratório (como os psicólogos fazem com os ratos e macacos), ele se adaptaria ao ambiente. E o experimento mediria o próprio laboratório, não o homem. O laboratório do cientista é o passado, a história, os casos precedentes. Mas eles não encerram a verdade sobre o futuro. Este pertence à fortuna. E mesmo no passado, as respostas cerca de como se conquista/mantém o poder oferecem exemplos contraditórios de sucesso e fracasso. O método analítico - Análise racional das informações históricas: busca lógica dos significados e conteúdos. - Uso das comparações - Busca das motivações lógicas dos sujeitos envolvidos - Da relação entre governantes e governados em cada caso concreto. - Ferramental lógico: as dicotomias, para a construção de conceitos racionais compreensivos. Precisão das palavras = abrangência e correção dos conceitos. Dicotomias: ferramenta da razão - Interrogar os casos precedentes, em busca de respostas gerais e lições para a prática política. - Perguntas fundadas em duas alternativas mutuamente excludentes, mas cada uma delas perfeita. Exemplo: Com Estado (Arquia) e Sem Estado (Anarquia). - Duas formas antagônicas de Estado. República ou Principado. - Estudar uma delas de dois pontos de vista distintos: Sua conquista e sua manutenção. As relações de uma coisa com a outra. - Os tipos de principado: novos e antigos. - Os novos: totalmente novos ou acrescentados a um antigo. - Formas de manutenção: pelas armas e pela lei. - Formas de conquista: pelas armas ou com apoio interno; - Pelas armas: próprias ou de terceiros. - Com apoio interno. Dos potentados ou dos de baixo. - Formas de conquista e relação com a perpetuação do poder. A dupla dimensão da política – Ambas se interdeterminam e interpenetram dialeticamente Virtú Fortuna O conjunto de ações realizáveis pelo Príncipe ou o Estadista visando o sucesso de suas empreitadas. Exemplos: a preparação para as diversas situações, boas armas e boas leis. O estudo, o planejamento. Levar em conta as situações do passado. Todas as situações que escapam ao controle do Príncipe ou Estadista, e que podem favorecer ou prejudicar seus projetos. Exemplos: Ocorrências sem precedentes; Fenômenos da natureza; Novidades, inclusive as decorrentes de ações dos adversários. A relação conflituosa e dialética entre virtú e fortuna - A ação do príncipe ou Estadista limita-se ao previsível e ao conhecido; - Mas o resultado depende, em metade dos casos, dos imprevistos, a fortuna. - A dialética entre virtú e fortuna, entre o domador e a fera; A fortuna é mulher(texto). Pensadores XXV, pg. 110/111 (104/105 na 2ª ed.). Virtú e a Fortuna “Penso poder ser verdade que a fortuna seja árbitra de metade de nossas ações mas que, ainda assim, ela nos deixe governar quase a outra metade. Comparo-a a um desses rios impetuosos que, quando se encolerizam, alagam as planícies, destroem as árvores, os edifícios, arrastam montes de terra de um lugar para outro: tudo foge diante deles, foge ao seu ímpeto”. “Assim, como disse, dois agindo diferentemente alcançam o mesmo efeito, e dois agindo igualmente um vai diretamente ao fim e o outro não. Disso dependem também as diferenças de prosperidade, pois um se conduz com cautela e paciência e os tempos e as coisas lhe são favoráveis (...). Mas os tempos e as coisas mudam e ele se arruína, porque não alterou o modo de proceder”. “Concluo, portanto, por dizer que, modificando-se a sorte, e mantendo os homens, obstinadamente, o seu modo de agir, são felizes enquanto esse modo de agir e as particularidades dos tempos concordarem. Não concordando, são infelizes”. “[Apesar disso,] Estou convencido de que é melhor ser impetuoso [virtú 1] do que circunspecto [virtú 2] porque a sorte é mulher e, para dominá-la, é preciso bater-lhe e contrariá-la”. “E é geralmente reconhecido que ela [a mulher] se deixa dominar mais por estes [os impetuosos] do que por aqueles que procedem friamente. A sorte, como mulher, é sempre amiga dos jovens, porque são menos circunspectos, mas felizes e com maior audácia a dominam”. Uma virtú elementar: conhecer a natureza humana Ruptura com Aristóteles: para o filósofo peripatético, haveria uma sociabilidade natural dos homens. Para Maquiavel, ao contrário, a sociedade seria artificial. Criada pelos homens para se defender dos homens. A natureza do homem: egoística. Cada um só se move por seus próprios interesses particulares. Em princípio todos os homens são maus e traiçoeiros. A complexidade da natureza humana “Raramente” os homens são inteiramente bons ou maus; Eles são maus, mas também abrigam sentimentos solidários – até por necessidade, uma vez que às vezes também dependem de outros; Sempre há algo mais na natureza humana, elemento com o qual é preciso lidar para governar os homens; A punição e o prêmio: necessários, por uma noção de justiça e para manter a disciplina; Regra geral de como governar: os homens devem ser mimados ou exterminados. Obrigação do príncipe: manter o Estado. “É necessário que [o Príncipe] possua ânimo disposto a voltar-se para a direção a que os ventos e as variações da sorte o impelirem, e, como disse acima, não partir do bem, mas, podendo, saber entrar para o mal, se a isso estiver obrigado. O príncipe deve, no entanto, ter muito cuidado em não deixar escapar da boca expressões que não revelem (...) piedade, fé, integridade, humanidade, religião”. É melhor ser amado ou temido? “Concluo, pois (voltando ao assunto se é melhor ser temido ou amado), que um príncipe sábio, amando os homens como eles querem e sendo por eles temido como ele quer, deve basear-se sobre o que é seu e não sobre o que é dos outros. Enfim, deve somente procurar evitar ser odiado, como foi dito”. Evitar ser odiado... A um príncipe pouco devem importar as conspirações se é amado pelo povo, mas quando este é seu inimigo e o odeia, deve temer a tudo e a todos. Os Estados bem organizados e os príncipes prudentes preocupam-se sempre em não reduzir os grandes ao desespero e satisfazer e contentar o povo, porque essa é uma das questões mais importantes que um príncipe deve ter em mente”. Causas do ódio e desprezo ao príncipe - Um príncipe pode ser desprezado, se parecer fraco ao governado. - Ou pode ser odiado se atentar contra a honra ou a bolsa dos governados. - Causas do ódio: ofensa aos familiares ou à segurança financeira da família. - Agressões aos filhos - E sobretudo à mulher do ofendido “O que principalmente o torna odioso, como disse acima, é o ser rapace e usurpador dos bens e das mulheres dos seus súditos. Desde que não se tirem aos homens os bens e a honra, vivem estes satisfeitos e só se deverá combater a ambição dos poucos, a qual se pode sofrear de muitos modos e com facilidade. Fá-lo desprezível o ser considerado volúvel, leviano, efeminado, pusilânime, irresoluto. E essas são as duas coisas que devem ser evitadas pelo príncipe como o nauta evita um rochedo”. ... A salvação de Severo e a arte de governar contra o ódio “Cômodo, Severo, Antonino, Caracala e Maximino (...) foram extremamente cruéis e rapaces. Para satisfazer os soldados, não deixaram de cometer nenhuma daquelas injúrias que se pudessem cometer contra o povo, e todos, excetuando-se Severo, tiveram triste fim. É que Severo foi tão valoroso que, mantendo a amizade dos soldados, embora oprimindo o povo, pode reinar com felicidade, porque aquelas suas virtudes o tornavam tão admirável no conceito dos soldados e do povo, que, ficava, de certa forma, atônito, e aqueles, reverentes e satisfeitos”. Defender ou não a fé? Objeto da religião = a FÉ; Objeto da moral = o BEM; Objeto da política = o PODER. “Deveis saber, portanto, que existem duas formas de se combater: uma pelas leis, outra pela força. A primeira é própria do homem; a segunda, dos animais”. Coerência somente prática e para conservar o Estado. “Um príncipe de nossos tempos, cujo nome não convém declarar [Fernando II, o Católico, rei de Aragão, Sicília, Nápoles, Navarra e Castela (1452-1516)], prega incessantemente a paz e a fé, sendo, no entanto, inimigo acérrimo de uma e de outra. E qualquer delas, se ele efetivamente a observasse, ter-lhe-ia arrebatado, mais de uma vez, arrebatado a reputação ou o Estado [espanhol]”. A dicotomia das formas de Estado “Todos os Estados, domínios que tem havido e que há sobre os homens foram e são Repúblicas ou Principados”. Ele diz: Principados, não monarquias. “Os principados ou são hereditários, cujo senhor é príncipe pelo sangue, por longo tempo, ou são novos. Os novos são totalmente novos, como Milão com Francesco Sforza, ou são como membros acrescentados a um Estado que um príncipe adquire por herança, como o reino de Nápoles ao rei da Espanha”. Dicotomia República-Principado (Origem e fundamento da dominação) Principado República Seu fundamento é a autoridade do Príncipe. Constituídos a partir da figura do governante. Nos hereditários: “nesta espécie de Estados afeiçoados à família de seu príncipe, são muito menores as dificuldades de mantê-los, pois basta somente que não seja abandonada a praxe dos antecessores, e, depois, contemporize as situações particulares”. Seu fundamento é o consenso (ou o consentimento) entre os governados. Constituídos de baixo para cima. Caso a tradição da Florença (pré-Médicis). Forma de Estado tratada na Primeira década de Tito Lívio. Em O Príncipe, o assunto é o principado, forma que ele acha adequada para a unificação da Itália, aglutinando antigas repúblicas, velhos e novos principados, cada um com suas características próprias, num tecido complexo. Facilidade de conservar os ex-principados hereditários “Nesta espécie de Estados afeiçoados à família de seu príncipe são muito menores as dificuldades de mantê-los, pois basta somente que não seja abandonada a praxe dos antecessores, e depois se contemporize com as situações particulares, de modo que, se tal príncipe é de engenho ordinário, sempre manterá no seu Estado, se não houver força extraordinária e excessiva que o prive deste; e, mesmo que assim seja, o readquire, por pior que seja o ocupante”. Entre o povo e os poderosos “Não se pode honestamente satisfazer aos grandes sem injúria para os outros, mas o povo pode ser satisfeito. Porque o objetivo do povo é mais honesto do que o dos poderosos; estes querem oprimir e aquele não ser oprimido.Contra a hostilidade do povo o príncipe não pode se assegurar nunca, porque são muitos; com relação aos grandes, é possível, porque são poucos”. “O pior que o príncipe pode esperar do povo hostil é ser abandonado por ele. Mas, da inimizade dos grandes, não deve temer só que o abandonem, como também que o ataquem, pois estes têm maior alcance de vistas e maior astúcia, e têm tempo de salvar-se, procurando aproximar-se dos prováveis vitoriosos. Precisa o príncipe de viver sempre com o povo, mas pode prescindir perfeitamente dos grandes”. Quem deve o poder a outrem Casos da Lombardia (Rei Luís). E outros, inclusive César Bórgia em Rouen. “Conclui-se daí [de vários casos] uma regra geral, que nunca sai raramente falha: quando alguém é a causa de do poder de outrem, arruína-se, pois aquele poder vem de astúcia ou força, e qualquer destas é suspeita ao novo poderoso”. Dicotomias entre principados (Antigos e novos) Principados novos Características Governados que estavam acostumados a se autogovernarem (velhas Repúblicas). Vêem o Príncipe como estranho (heteronomia) ou tirano (ou autocrata). Necessário: eliminar os oponentes (ou prejudicados) e cativar os súditos. Membros novos ajuntados a um principado hereditário antigo. Mistura de leis sob um mesmo soberano. Fator complicador: a ideia de rebelião. “Os homens mudam de boa vontade de senhor, supondo melhorar, e esta crença os faz tomar armas contra o senhor atual. De fato, enganam-se e vêm por experiência própria haverem piorado”. Principados antigos Alternativas de ação Governados acostumados a antigas leis e a antigas dinastias. Habituados a obedecer, mas aos mesmos senhores. Necessário: manter as antigas leis e costumes; eliminar as referências às antigas dinastias. 1) Estabelecerem-se os soberanos nas novas aquisições, como o fizeram os sultões turcos na Grécia; 2) Aumentarem suas forças militares nas novas regiões (a alternativa mais onerosa); 3) Criarem colônias, misturando antigos súditos aos novos, em que aqueles visariam aumentar seus lucros. Origem e conservação do poder - Dentre as novas aquisições territoriais (e de súditos) ele identifica: As conquistadas por meios próprios ou graças ao apoio de algum potentado; Por favor de uma força poderosa ou por favor do povo. Dependendo da forma de conquista de poder, variam as formas de sua conservação. Mais armas, leis ou alianças. Há também as conquistadas: - por meio de um crime (assassinato); - por alianças (como casamentos arranjados); - ou compradas. Quem põe dispõe Dependendo do tipo de principado, ou seja, de forma de conquista do poder, as diferentes formas para conservá-lo. Quem chega ao poder por favor dos conterrâneos depende deles para nele continuar. Dois tipos de governo com o apoio dos conterrâneos: do povo ou dos poderosos: - Se a causa foi o povo, basta manter-se fiel aos motivos que o levaram ao poder, ou seja, não perder o apoio do povo. O povo é mais fácil de agradar do que os poderosos; - Se a causa do seu poder é algum potentado, se são os poderosos, estará em suas mãos. Soberania limitada, pois estará em suas mãos e será derrubado por eles; - Quem põe tira. Logo, quem chega ao poder por favor de outrem ou o elimina ou será eliminado por ele. A crueldade: bem ou mal praticada “Poderia alguém surpreender-se pelo fato de que Agátocles [conquistador de Siracusa e da Sicília] e semelhantes, depois de tantas traições e crueldades, pudessem viver tranquilamente e a salvo em sua pátria, e defender-se dos inimigos externos e de que os cidadãos não conspirassem contra ele (...). Creio que isso seja consequência de serem as crueldades mal ou bem praticadas”. “Bem usadas se podem chamar aquelas (se é que se pode dizer bem do mal) que são feitas, de uma só vez, pela necessidade de prover alguém à própria segurança, e depois são postas à margem, transformando-se o mais possível em vantagem para os súditos. Mal usadas são as que (...) em vez de extinguirem-se, crescem com o tempo”. Boas armas e boas leis Há duas formas de combate que o príncipe precisa travar o tempo todo para assegurar o seu comando: Pela lei e pela força. Pela lei, pensando nos homens; pela força, pensando nos animais, que os homens também são. Ou seja, é preciso impor-se aos poderosos e virtuais adversários. Pela força. Coerção. Impor a subordinação. Conservar o apoio da sociedade (do povo), garantindo o progresso e a convivência: boas leis. Homens, ferro, dinheiro e pão É preciso ter tropas numerosas e satisfeitas, assim como bem armadas. É na paz que se ganha as guerras. Durante os períodos de paz é preciso preparar-se para a guerra. A confiança gera a vitória. A fórmula do poder: homens, ferro, dinheiro e pão. Forças mercenárias ou conscritas? Causa do sucesso na guerra: tropas numerosas, bem armadas e valentes. É melhor ter forças próprias, nacionais, conscritas, do que mercenárias, como era hábito na época. Mercenários: motivados mais pelo dinheiro; ou tornam o príncipe refém; leais mais a si próprias que ao príncipe, a seus desejos, a sua ganância. Forças nacionais próprias: mais leais ao Estado e ao príncipe; passam a ter uma causa: maior entusiasmo. Mais confiantes. Uma das causas da primeira queda de Maquiavel: derrotas da república florentina para a França e os Médici com tropas conscritas. Forças armadas próprias “Sem possuir forças próprias, nenhum principado está seguro, antes, está à mercê da sorte, não existindo virtude que o defenda nas adversidades. Foi sempre opinião e sentença dos homens sábios – ‘ quod nihil sit tam infirmum aut instabile quam fama potential non sua vi nixa’ [‘Nada é tão instável quanto a fama de poderio de um príncipe quando não apoiada na própria força’]. E as forças próprias são aquelas compostas de súditos ou de cidadãos, ou de servos teus; todas as outras são mercenárias ou auxiliares”. Impessoalidade do Estado A arte de governar exige impessoalidade: - As mesmas leis para todos e para cada um. - Introduz as razões de Estado. Diferenças entre a vida pessoal e a vida pública. A moral individual e a moral do Estado. A moral do indivíduo pode ser a bondade ou a solidariedade. A do Estado: a da conservação do poder. Por isso: - O príncipe não deve se deter diante de nada para realizar o seu fim. - As injúrias (mal): convém praticar de uma só vez; - As benesses (bem): convém prolongar no tempo. Prudência pública (Distinta da pessoal ou do medo) Prudência: não subestimar inimigos ou situações. Se o inimigo erra: acreditar que pode se tratar de armadilha. Buscar as razões que explicam seus comportamentos. A segurança do príncipe: é impossível enquanto viverem os que foram por ele despojados do poder. A escolha dos ministros e assessores “Para que um príncipe possa conhecer bem o ministro, há este modo que não falha nunca: quando vires que o ministro pensa mais em si próprio do que em ti, e que em todas as suas ações procura tirar proveito pessoal, podes ter a certeza de que ele não é bom, e nunca poderás fiar-te nele; e aquele que tem em mãos os negócios do Estado não deve pensar nunca em si próprio, mas sempre no príncipe, e nunca lembrar-lhe coisas que estejam fora do Estado”. Evitar os aduladores e tirar proveito dos próprios inimigos “Aquele [ministro] que governasse de fato em breve tempo lhe tomaria o Estado. Mas, aconselhando-se com mais de um, um príncipe que não seja sábio não terá nunca unidade de conselhos e nem saberá por si mesmo como harmonizá-los. Cada um dos conselheiros pensará como quiser e ele não saberá corrigi-los nem ajuizar a respeito”. “E não pode ser de outra maneira, pois os homens sair-te-ão sempre maus, se por necessidade não se fizerem bons. O que se conclui daí é que os bons conselhos,de onde quer que provenham, nascem da prudência do príncipe e não a prudência do príncipe dos bons conselhos”. Síntese: A lógica da política. É assim que funciona. Diferença: Maquiavel falava (e escreveu) aquilo que todos (inclusive os políticos clericais) fazem (mas não confessam). Ao informar como os príncipes agem, ele possivelmente acreditava também estar preparando a Itália (o povo italiano) para a construção de seu Estado (Leitura de Gramsci). Nesse sentido, em política: os fins justificam os meios, porque o fim é a segurança da coletividade. Uma moral centrada na especificidade da instância política. 6. O realismo político e o Estado territorial. O conceito de Estado de Natureza e o de Estado Civil. Hobbes e o paradoxo do Contrato Social imposto pela força. Contratualismo, Estado de Natureza e Estado Civil O Estado Territorial = Nova forma de mando e de exercício do poder (A sociedade e o mando podem ser mudados. O homem também é autor da sua história) A busca de um fundamento para o novo monopólio da violência = a noção de contrato social A transferência voluntária de poder da coletividade a um grupo organizado ou a um único indivíduo, se se trata de um contrato, os termos do mando-obediência podem ser repactuados. Dicotomia: Estado de Natureza Estado Civil Situação original: pré-social Em que cada indivíduo seria um; não limitado por qualquer conveniência, norma ou regra. Em que o homem seria = homem. Livre = soberano de si. Homem natural. O homem como ele é. Fonte de legitimidade para quaisquer acertos com outros homens. Situação resultante da vida em sociedade Com limites à liberdade individual. Sob leis e regras. Com indivíduos cooperantes com o grupo social. Homem civilizado. Ou social Situação histórica em que os indivíduos passam a viver em cives = cidades = sob leis = civilizados. A transição legítima O contrato entre homens livres. A validade do contrato = firmado por homens naturais. Seu fundamento = a própria natureza humana. O fundamento do contrato social (que funda a vida em sociedade) = a natureza (homens naturais). A validade da restrição da liberdade: o exercício da plena liberdade por homens livres. A base do contratualismo. A transição legítima (a base do contratualismo) O contrato entre homens livres. A validade do contrato = firmado por homens naturais. Seu fundamento = a própria natureza humana. O fundamento do contrato social (que funda a vida em sociedade) = a natureza (homens naturais). A validade da restrição da liberdade: o exercício da plena liberdade por homens livres. Os dois principais contratualistas Thomas Hobbes John Locke Pessimista = Medo Segundo Gilmar Bedin, um contratualista absolutista. Obra principal: Leviatã: ou a Matéria, a Forma e Poder de Um Estado Eclesiástico e Civil (1651). Conceito central: o egoísmo natural do homem (a competição). Otimista = Esperança Filósofo da Revolução Gloriosa (1688-89) e do liberalismo. Obra principal: Segundo tratado sobre o Governo – Ensaio relativo à verdadeira origem, extensão e objeto do governo civil (1690). Conceito central: a sociabilidade natural do homem (a cooperação). Sentimentos naturais: Medo X Esperança Verdadeiro pânico do que pode ser provocado Otimismo de que o mundo pode ser diferente, pela natureza profunda do ser humano. pacífico, ordeiro e progressita. Para um, a sociedade (O Estado) é o remédio para a natureza malévola do homem. Para outro é o contrário: a sociedade (ou o Estado) é que representam a fonte das perversões, por negarem a natureza do homem. Mais Estado ou menos Estado? Falaremos dos inspiradores das principais correntes depois do intervalo Hobbes: um autor da Guerra Civil Guerra Civil de meio século entre conservadores (absolutistas – para afirmar a autoridade do poder central) e liberais (contratualistas – para moderar o poder central, com vários freios e contrapesos): 1642-1649 (Carlos I X Parlamento) e seguintes, até 1689. Hobbes conseguiu a proeza de radicalizar os dois termos da contradição e ser as duas coisas ao mesmo tempo: ABSOLUTISTA e CONTRATUALISTA. Propunha um contrato livre pelos indivíduos para o fortalecimento do poder monárquico. Ferramenta: a troca da própria liberdade pela segurança. Objetivo do homem: defender-se do próprio homem. Um filósofo medroso e do medo “Medroso”. Formou suas convicções ideológicas e sua teoria dominado por um intenso medo. - Lutava para: - Evitar a desagregação da Inglaterra. - Prevenir que ela retornasse ao Estado de Natureza. “Pela supremacia e pela unidade do poder”, “como uma condição indispensável para a vida em sociedade” (Bedin). Biografia sucinta de Hobbes - Morre dez anos antes da Revolução Gloriosa. - Teve vida tranqüila. Foi preceptor na casa de William Cavendish, o duque de Devonshire, líder conservador. Viveu na França e Itália. Conheceu Galileu Galilei, a quem comunicou um projeto de tratar a Moral e o Direito de modo geométrico. - Conviveu com os filósofos Gassendi e Descartes. Principais obras Ambas escritas durante o exílio na França: De Cive: Elementos Filosóficos a Respeito do Cidadão (1642). Leviatã: ou a Matéria, a Forma e Poder de Um Estado Eclesiástico e Civil (1651). Leviatã e últimos anos Ficou malvisto pelo clero católico francês, por atacar as bases de um poder que seria espiritual e universal, defendendo uma idéia de Estado territorial. E por utilizar para isso inúmeras citações bíblicas (e até demoníacas). Tornou-se pessoa non grata entre os ingleses exilados em Paris, pois também rompeu com um princípio caro à maioria da intelectualidade liberal: a noção aristotélica da sociabilidade natural do homem. Sem “clima”, teve que retornar à Inglaterra e viver seus últimos quase 30 anos na casa dos Cavendish. O Estado de Natureza Conceito central na obra de Hobbes e para o realismo político posterior; Trata-se da selva em que todos constituem uma ameaça para todos; “guerra de todos contra todos”; Única regra: a da sobrevivência; cada um determinado somente pela própria sobrevivência; Ambiente em que cada um se relaciona com todos os outros em condições de igualdade, em luta pela sua vida, apesar de suas diferenças físicas e naturais; Trata-se de um ambiente anárquico (an + arquia = sem governo, sem leis, sem regras). O homem, lobo para outro homem - A natureza do homem: - Egoística, mesquinha. Cada um só se preocuparia com a própria sobrevivência e a própria segurança. Os outros seriam meios para isso; - Os homens seriam naturalmente desiguais entre si: uns mais fortes, outros mais jovens, uns mais espertos, outros menos; - Os mais preparados se sobreporiam aos demais, tornando sua vida ainda mais complicada e amarga. Única lei: a do mais forte; - O homem natural vive sob o “temor” permanente “da morte violenta”. “Ter” algo seria um risco de morte; - Ninguém lavraria a terra, pois poderia ser desapropriado do seu produto; - Ninguém se dedicaria ao comércio, pois as riquezas próprias atrairiam a cobiça e a violência dos demais. Igualdade e liberdade naturais - No Estado de Natureza, todos os homens são: 1) Fundamentalmente iguais. As diferenças entre eles são irrelevantes; 2) Fundamentalmente livres; 3) Determinados pela necessidade de sobreviver num ambiente hostil; 4) É essa igualdade que os leva à guerra generalizada de todos contra todos. “A natureza fez os homens tão iguais quanto às faculdades do corpo e do espírito que, embora às vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim,quando se considera tudo isso em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que qualquer um possa, com base nela, reclamar qualquer benefício a que outro a que outro não possa aspirar, tal como ele...” É exatamente essa igualdade fundamental entre os homens que torna a posse de qualquer bem extraordinário como insuportável aos demais e que provoca a guerra generalizada. O texto segue: “Porque, quanto à força corporal, o mais fraco tem força suficiente para matar o mais forte, quer por secreta maquinação, quer aliando-se com outros que se encontrem ameaçados pelo mesmo perigo”. Liberdade e a guerra natural generalizada “De todo modo que na natureza do homem encontramos três causas principais de discórdia. Primeiro a competição [entre iguais]; segundo, a desconfiança; e terceiro, a glória. “A primeira leva os homens a atacar os outros tendo em vista o lucro; a segunda, a segurança; e a terceira, a reputação. Os primeiros usam a violência para se tornarem senhores das pessoas, mulheres, filhos e rebanhos dos outros homens; os segundos, para defendê-los; e os terceiros por ninharias, como uma palavra, um sorriso.” Da IGUALDADE entre todos os homens (ou das diferenças equalizáveis pela artimanha) e da LIBERDADE natural disso decorrente deriva que a principal ameaça para outro homem é o próprio homem, e vice-versa. Daí que todos vivam em guerra permanente uns contra os outros. A necessidade de que cada um se defenda de qualquer outro e o ataque quando tem condições para isso. Igualdade = Guerra “[Da] igualdade quanto à capacidade resulta a igualdade da esperança de atingirmos nossos fins. [É isso que faz com que os homens] esforçam-se por se destruir ou subjugar um ao outro. E disso se segue que, quando um invasor nada mais tem a recear do que o poder de um outro homem, se alguém planta, semeia ou constrói ou possui alguma coisa conveniente, é provavelmente de esperar que outros venham preparados com forças conjugadas, para desapossá-lo ou privá-lo, não apenas do fruto do seu trabalho, mas também de sua vida e de sua liberdade. Por sua vez o invasor ficará no mesmo perigo em relação aos outros”. A impossibilidade de vida civil No Estado de Natureza, ninguém comercia, ninguém planta. Nele não há troca, agricultura ou pecuária. Todos são necessariamente nômades. Ninguém pode ter uma casa, qualquer facilidade ou qualquer conforto. Inexistência de trocas = Inexistência de sociedade civil. Sociedade civil = mundo das trocas ou da economia. Lei da natureza: defender a própria vida “Uma lei da natureza (lex naturalis) é um preceito ou regra geral, estabelecido pela razão, mediante o qual se proíbe a um homem fazer tudo que possa destruir sua vida ou privá-lo dos meios necessários para preservá-la. (...) O direito consiste na liberdade de fazer ou de omitir, ao passo que a lei determina ou obriga a uma dessas coisas (...) Encerra a suma do direito de natureza: isto é, por todos os meios que pudermos, defendermo-nos a nós mesmos”. A guerra de todos contra todos “Dado que a condição do homem é uma guerra de todos contra todos, sendo neste caso, cada um governado pela sua própria razão, e não havendo nada de que possa lançar mão, que não possa servir-lhe de ajuda para a preservação de sua vida contra seus inimigos, segue-se daqui que, numa tal condição, todo homem tem direito a todas as coisas, incluindo os corpos dos outros”. Liberdade total Liberdade = o direito natural (ou racional no Estado de Natureza) de cada um decidir e usar os meios para defender a própria vida ou prolongá-la. A própria natureza determina que os homens sejam livres e racionais para sobreviver (em competição perpétua com os outros). Liberdade como liberdade de fazer a guerra e surpreender as ameaças e fontes de oportunidades. A liberdade natural No Estado de Natureza, os homens, inferiorizados em relação a outras espécies, seriam iguais entre si e livres [as limitações físicas do corpo do homem]. “Liberdade significa, em sentido próprio, a ausência de oposição (entendendo por oposição os impedimentos externos do movimento); e não se aplica menos às criaturas irracionais e inanimadas do que às racionais. Porque de tudo que estiver amarrado ou envolvido de forma a não poder mover-se dentro de um certo espaço, sendo este espaço determinado pela oposição de algum corpo externo, dizemos que não tem liberdade de ir mais além”. “Conformemente a este significado próprio e geralmente aceite da palavra, um homem livre é aquele que, naquelas coisas que graças a sua força e engenho é capaz de fazer, não é impedido de fazer o que tem vontade de fazer”. “O direito de natureza, o que geralmente chamam jus naturale, é a liberdade que cada homem possui de usar seu próprio poder da maneira que quiser, para a preservação da sua própria natureza, de sua vida; e, logo, de fazer tudo aquilo que seu próprio julgamento e razão lhe indiquem como meios adequados a esse fim”. Busca da segurança e a situação de guerra de todos contra todos Vida curta e desagradável Situação em que a vida é rara. E rala. Rara: crianças, velhos, doentes, mulheres: presas fáceis. Rala: sem prazeres. Rotina: a luta pela sobrevivência. Em que ninguém pode dormir ou relaxar. O Estado de Natureza é, portanto, a situação que Hobbes descreve como uma dimensão ao mesmo tempo “curta”, “solitária”, “pobre’, “incômoda”, “sacrificada”, “ameaçada” e “desagradável”. Insuportável e indesejável. As quatro dimensões do Estado de Natureza 1) A situação pré-social. A vida humana antes da “invenção da sociedade”; 2) O risco do ponto para onde podemos voltar. Ameaça à sociedade atual. A forma de existência a que podemos retornar se a sociedade se desagregar; a barbárie; 3) Os motivos e a realidade natural do ser humano, que subjaz à sociedade e ao homem civilizado. Ou seja, não fosse constrangido pelas leis e pela coação social, é a forma pela qual os homens agiriam; 4) A presente forma de relacionamento internacional. Se, no interior das sociedades, a noção de sujeição do mais fraco pelo mais forte cria uma situação de convivência, “civilizada”, a relação entre os Estados, na esfera mundial, continua a prevalecer o Estado de Natureza. Ou seja, trata-se de um “ambiente anárquico”, em que cada um sente-se igual a todos os outros e tenta submetê-los. O contrato: antídoto humano contra a natureza do homem - A noção de Contrato Social Para escapar das condições intoleráveis de existência, Hobbes só teria visto uma forma: a associação de todos os homens, mediante: um PACTO ou CONTRATO SOCIAL. Esta seria a única alternativa: a criação de uma organização mais forte que os mais fortes, para superar a lei da força e implantar a lei que sujeitaria a todos. Uma organização que se sobreporia a todas as individualidades, para prevenir os excessos e controlar a cada um. Mais forte que qualquer indivíduo. Um artifício contra a natureza A vida civil (ou social) é um artifício criado pelo homem face a natureza do próprio homem; - Um artifício racional face a racionalidade da própria natureza; - Remédio contra a afecção; - Barragem face a fúria das tormentas; - Lenitivo; Portanto, frágil e provisório. Para domar a natureza do homem, um pacto e a criação do Estado “A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de defendê-los das invasões dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros, garantindo-lhes assim uma segurança suficiente para que, mediante seu próprio labor e graças aos frutos da terra, possam alimentar-se e viver satisfeitos, é conferir toda sua força e poder a um homem ou a uma assembleia de homens, que possa reduzir suas diversas vontades, por pluralidade de votos, a uma só vontade”. A transferência da liberdade ao “deus mortal”, o soberano A declaração simbólica: ’Cedo o direito de governar-mea mim mesmo a este homem, ou a esta assembleia de homens, com a condição de transferires a ele teu direito, autorizando, de maneira semelhante, todas as suas ações’. “Feito isso, à multidão assim unida numa só pessoa se chama Estado, em latim, civitas. É esta a geração daquele grande Leviatã, ou antes (para falar em termos mais reverentes) daquele Deus mortal, ao qual devemos, abaixo de Deus Imortal, a nossa paz e segurança”. O Estado como depositário das liberdades: a emergência do soberano O contrato inter-humano = um contrato racional. Supremo exercício da liberdade para garantir a própria vida. - A arma derradeira da associação com outros homens para sobreviver à ameaça dos outros homens. - A emergência do soberano = O leviatã. O único ser livre. - A criação (artificial) de um “deus mortal”, que subordina o próprio “deus imortal”. O artifício do contrato hobbesiano Um contrato conforme as regras do Estado de Natureza: Impositivo, de submissão dos mais fracos. - Um contrato imposto pelos mais fortes aos mais fracos; De adesão; - Um contrato que interessaria a todos, de prevenção contra a própria natureza humana. O Estado seria, portanto, um artifício. Uma entidade ARTIFICIAL. E o artificial seria superior ao NATURAL, mais desejável que ele. A superação da guerra de todos contra todos: uma paz artificial. A novidade teórica e o paradoxo conceitual A novidade teórica: um contrato para a vida em comum; Qualquer contrato supõe a liberdade dos contratantes, que cada um decida o que é mais vantajoso para si próprio; Entretanto, este é um contrato ao mesmo tempo imposto e livremente aceito pelos contratantes. Um contrato absolutista: Não para defender a liberdade, mas para trocá-la pela segurança. O contrato que impõe a subserviência voluntária. A submissão. A troca da incerteza pela segurança. O contrato absolutista ou autocrático Os termos da troca: Segurança x Liberdade A moeda de troca dos indivíduos: a sua liberdade. A promessa do Estado: a segurança. Os súditos O soberano Para obterem a segurança, e, portanto, uma vida mais longa, confortável e menos ameaçadora, os homens renunciariam à sua própria liberdade; Abdicariam da sua própria natureza, ou seja, da soberania sobre si próprios; Em favor de um ator coletivo mais forte, que submeteria também os demais homens. - O Estado emerge como o depositário das liberdades individuais, como o soberano; - Capaz de agir contra qualquer um em nome da coletividade; - A pluralidade dos indivíduos, assim, seria substituída pela singularidade do Estado. A desintegração do Estado, por isso, possível já que ele é artificial, era o temor de Hobbes. Estado Sociedade civil Para os clássicos, o Estado é a concentração do poder físico e do direito ao uso da violência contra os fora-da-regra. - A forma e o conteúdo dos governos; - As relações de mando e obediência; - Direito sobre a vida e a morte dos súditos. Para os mesmos autores, Sociedade civil é a esfera das interações entre os indivíduos, sobretudo no plano econômico. - Relações reguladas por contratos. Das compras e vendas ou de propriedade; - Esfera material; - Relações entre os agentes produtivos. Propriedade e progresso - O direito de propriedade é central para o funcionamento da economia: - Para conferir segurança a quem vende e a quem compra; - Para a circulação das mercadorias; - Para propiciar lucro a quem investe; - E para o progresso material dos indivíduos particulares e do grupo. A questão da falta do soberano Como, sem uma figura como a do Estado, os homens se acham livres para atender somente a seus instintos e usar os meios mais drásticos para isso: “Manifesto que, durante o tempo em que os homens vivem sem um poder comum capaz de manter a todos em respeito, eles se encontram naquela condição a que se chama guerra; e uma guerra que é de todos os homens contra todos os homens”. Estado de natureza e comércio Incertezas Ausência de cooperação No Estado de Natureza, “ninguém plantava”, devido ao fato de não saber se colheria e se ficaria com a colheita. A lei do mais forte inviabilizava qualquer atividade de retorno a médio ou curto prazo. Não havia propriedade ou sociedade civil. Nessa condição, todos restringiam-se ao consumo imediato. Nela não havia qualquer tipo de cooperação ou de comércio. Ninguém comprava ou pagava e ninguém vendia. A única relação interindividual possível era a guerra. Estado e sociedade civil - O Estado (leia-se a Política) aparece e cria as condições necessárias à existência de uma sociedade civil. - É o Estado (como monopólio organizado da violência) que garante a propriedade. - E a propriedade privada e o direito de comercializar, vender e receber são elementos constitutivos do comércio e da sociedade civil. A força, o direito e a economia Estado de Natureza → Lei da Força (inexistência de sociedade civil) → Correlação de forças ↴ Sociedade civil ← Propriedade � Comércio � Crescimento ← Regras e garantias ← Contrato social A lógica hobbesiana - É a força que gera a economia, não a produção que sustenta a força. - É a política que garante a produção, a circulação e a distribuição, não estas que sustentam aquela. - A lógica da força (da política) prepondera sobre as lógicas da produção e distribuição das riquezas. - É a política que explica a economia, não esta que explica aquela. 8. O liberalismo e o contrato social natural. 1) Divisão do trabalho e a propriedade. 2) O Estado civil e o direito de rebelião. Locke X Hobbes - Liberalismo X Realismo Realismo Liberalismo Fundamento Política Economia Filósofo Thomas Hobbes (Séc. XVII) John Locke (Fim do XVII) Época Auge da Guerra Civil Paz interna pós-Revolução Gloriosa Tipo de conhecimento Empírico, descritivo: “compreender os fenômenos como são” Normativo, prescritivo: conforme o espírito da lei. Perspectiva Pessimista Otimista Natureza humana Competitiva, agressiva Cooperativa Natureza da política Disputa de poder Especialização da divisão do trabalho Papel do estadista Identificar as correlações de forças e adequar as políticas possíveis à conservação do Estado Buscar a racionalidade, as maiores vantagens conforme os princípios da liberdade, da propriedade, dos valores individuais e do progresso. Estilo e linguagem Abordagem sobretudo empírica e científica Abordagem que estimula a militância e a transformação Concepções (paradigmas) antagônicos Definição do Estado de Natureza Contrato Social: modo, finalidade e conteúdo Estado Civil Um autor da paz pós-guerra civil - John Locke (Wrington, 1632-Harlow, 1704): - Ensaio acerca do entendimento (3a ed. revisada pelo autor saiu em 1706); - Segundo tratado sobre o Governo – Ensaio relativo à verdadeira origem, extensão e objeto do governo civil (1690). - Guerra civil entre liberais e absolutistas (inicialmente, entre 1642 e 1649 entre o Parlamento e a Dinastia Stuart – Carlos I): 1642-1689 (Revolução Gloriosa). - Guilherme de Orange derruba Jaime I (e a dinastia Stuart) em 1688 e torna-se rei da Inglaterra como Guilherme III. Outro filósofo famoso ainda em vida Suas obras, sobretudo o Segundo tratado sobre o governo, tornaram Locke famoso e reconhecido em vida e ele logo se igualou em fama a Thomas Hobbes. Ambos em lados opostos: aquele, absolutista, ele liberal. Tinha 53 anos quando começou a Revolução Gloriosa, em 1685, que tinha como referência o recém-falecido Conde Shaftesbury, seu protetor. A revolução foi vitoriosa em 1689 e Locke viveu até 1704 (72 anos). Biografia sucinta - John Locke (1632-1704): Um dos principais predecessores do iluminismo: - Estudou Química e Biologiaem Oxford. Exímio matemático e lógico. - Era também médico e trabalhou para a família do Lorde Ashley Cooper, proeminente líder liberal, o Conde de Shaftesbury (1621-1683), de quem se tornou protegido. Ashley foi um dos 5 chanceleres ingleses. - Foi secretário do Comércio e Agricultura por dois anos (1672-1674). - Recebeu diversas missões diplomáticas, uma delas em Brandemburgo. Viveu quatro anos na França (1675-1679). Amigo, dentre outros, dos discípulos de Gassendi. - Juntamente com Shaftesbury, foi para o exílio na Holanda em 1682. Teve que adotar um nome falso para evitar a prisão e a deportação, vivendo no país até 1688. - Nos períodos em que viveu no exterior estruturou suas principais obras. Centralidade de quatro categorias - Liberdade (Controle do próprio tempo e dos próprios bens) - Individualidade (Base de qualquer grupo) - Trabalho (Economia - Fundamento legítimo da propriedade) - Propriedade Liberdade - Conceito estruturante para Locke: “Um estado de liberdade (...) não o é de licenciosidade; ainda que naquele estado o homem tenha uma liberdade incontrolável para dispor de sua pessoa e posses, não possui, no entanto, liberdade para destruir a si mesmo ou a qualquer criatura que esteja em sua posse, senão quando isso seja exigido por algum uso mais nobre do que a simples conservação”. Individualidade (liberdade do indivíduo) “Sendo os homens, por natureza, todos livres, iguais e independentes, ninguém pode ser expulso de sua propriedade e submetido ao poder político de outrem sem dar o seu consentimento”. Trabalho Decisão livre do indivíduo acerca do que fazer com seu corpo e com o seu tempo. Ele poderia optar, livremente, por dissipar seu tempo e corpo em prazeres. Entretanto, ao decidir empregá-los numa atividade útil, de transformação da natureza, ele cria um bem, que lhe pertence por direito natural e a cujo usufruto ele tem pleno direito. “É o trabalho, portanto, que atribui a maior parte do valor à terra, sem o qual ela dificilmente valeria alguma coisa; é a ele que devemos a maior parte de todos os produtos úteis da terra; por tudo isso, a palha, o farelo e pão desse acre de trigo valem mais do que o produto de um acre de terra igualmente boa mas abandonada, sendo o valor daquele o efeito do trabalho”. Propriedade O homem que trabalha a terra mistura a sua liberdade com o bem oferecido por deus, como se misturasse o seu suor com aquele pedaço da natureza, transformando aquele bem natural uma extensão do seu próprio corpo. “Embora a natureza tudo nos ofereça em comum, o homem, sendo senhor de si próprio e proprietário de sua pessoa e das ações e do trabalho que executa, teria ainda em si mesmo a base da propriedade” Estado de Guerra e diferença essencial em relação a Hobbes Estado de Natureza (Situação original) x Estado de Guerra (Situação excepcional) O Estado de Guerra Situação excepcional que pode afetar tanto o Estado de Natureza quanto o Estado Civil (ou Sociedade Política; Ele se caracteriza pela “inimizade” e a “destruição”, comportamentos atípicos do ser humano, adotado em momentos de ruptura; Situação anômala (quase doentia), embora racional, em que alguns indivíduos atentam contra a vida e a propriedade de outros. E colocam a sua própria em risco. O Estado de Guerra segundo Locke “O estado de guerra é um estado de inimizade e destruição; e, por isso, ao declarar, por meio de palavra ou ação – não de um modo precipitado, mas de maneira calma e firme -, um desígnio com relação à vida de outrem, coloca-o ao seu lado num estado de guerra contra aquele a quem declarou tal intenção e assim expõe sua vida ao poder de outrem, para ser arrebatada por aquele ou por qualquer outro que a ele se junte em sua defesa (...). Diferença entre Estado de Guerra e Estado de Natureza. Contra Hobbes “E nisto reside a clara diferença entre o estado de natureza e o estado de guerra que, muito embora alguns tenham confundido [Quem? Hobbes?], estão tão distantes um do outro quanto um estado de paz, boa vontade, assistência mútua e preservação está de um estado de inimizade, malícia, violência e destruição mútua”. O Estado de Natureza Situação que precede a Sociedade Política (ou Estado Civil). Somente isso, porque, nele, os indivíduos são capazes de identificar o outro como seu semelhante e de ter em relação a ele um comportamento racional e respeitoso. Porque o homem é: - Racional; - Prioriza a própria vida e respeita o direito à vida do outro; - É um animal sociável, naturalmente social. Sociedade civil sem política - O Estado de Natureza é caracterizado pela inexistência de uma autoridade (ou juiz) acima deles; - Apesar disso o homem não deixa de ser homem e é sociável. “Quando os homens vivem juntos conforme a razão, sem um superior comum na Terra que possua autoridade para julgar entre eles, verifica-se propriamente o estado de natureza”. O advento da inimizade e da destruição excepcionais da guerra “A falta de um juiz comum com autoridade coloca todos os homens em um estado de natureza; a força sem o direito sobre a pessoa de um homem provoca o estado de guerra não só quando há como quando não há um juiz comum (...) “Evitar esse estado de guerra – no qual não há apelo senão para o céu, e no qual qualquer divergência, por menor que seja, é capaz de ir dar, se não houver autoridade que decida entre os contendores – é razão decisiva para que os homens se reúnam em sociedade, deixando o estado de natureza”. O trabalho e a naturalidade da propriedade individual No Estado de Natureza, cada homem é proprietário ao menos - DO SEU PRÓPRIO CORPO; - DO SEU TEMPO; O trabalho é fruto de uma decisão livre do homem acerca do que fazer com o seu corpo e o seu tempo; Ele poderia dedicar-se aos prazeres. Mas prefere trabalhar. Com isso mistura sua liberdade com um bem natural (a terra, por exemplo) e transforma este num bem pessoal. Adquire a marca da sua liberdade. Trabalho + natureza = propriedade “É evidente que, embora a natureza tudo nos ofereça em comum, o homem, sendo senhor de si próprio e proprietário de sua pessoa e das suas ações ou do trabalho que executa, teria ainda em si a base da propriedade; e aquilo que compôs a maior parte do que ele aplicou ao sustento ou conforto do próprio ser, quando as invenções e as artes aperfeiçoaram os confortos materiais da vida, era perfeitamente seu, não pertencendo em comum aos outros [...]”. Individualização da natureza - O trabalho individualiza a parte da Natureza com a qual o homem misturou suas escolhas; - Essa parte da natureza torna-se, portanto, uma extensão do seu próprio corpo; - Mesmo no Estado de Natureza, um homem sabe reconhecer um pedaço de terra já trabalhado por outro homem e o respeita, como deve respeitar seu próprio corpo; - Caso das ruas do roçado na plantação. Frutos são de quem os plantou e cuidou do terreno. Lei natural e a propriedade “O estado de natureza tem uma lei a governá-lo e que a todos submete; e a razão, que é essa lei, ensina a todos os homens que apenas a consultam que, sendo todos iguais e independentes, nenhum deve prejudicar a outrem na vida, na saúde, na liberdade, ou nas posses [...]”. Legitimidade da propriedade - Mesmo no Estado de Natureza, portanto, já havia propriedade e ela era respeitada também pelos seus não-proprietários (diferença essencial face ao Estado de Natureza hobbesiano); - Daí a legitimidade da propriedade; - E daí a obrigação do indivíduo de cuidar do que é seu; - Embora legítima, a propriedade era precária, devido ao risco do Estado de Guerra. Isso exigia a organização de um ente coletivo, mais forte que qualquer particular, para garantir, além da liberdade, também a propriedade individual. A pena de morte e o direito legítimo de propriedade privada "O
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