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www.esab.edu.br Sociologia das Organizações Sociologia das Organizações Vila Velha (ES) 2013 Diretoria Executiva Charlie Anderson Olsen Larissa Kleis Pereira Margarete Lazzaris Kleis Thiago Kleis Pereira Conteudista Kettle Duarte Paes Coordenação de Projeto Andreza Lopes Patrícia Battisti Supervisão de Design Educacional Barbara da Silveira Vieira Supervisão de Revisão Gramatical Andrea Minsky Supervisão de Design Gráfico Laura Martins Rodrigues Design Educacional Renata Oltramari Revisão Gramatical Elaine Monteiro Seidler Érica da Silva Martins Valduga Hellen Melo Pereira Paulo de Tarso Vieira Design Gráfico Neri Gonçalves Ribeiro Diagramação Fernando Andrade Letícia Felini Equipe Acadêmica da ESAB Coordenadores dos Cursos Docentes dos Cursos Copyright © Todos os direitos desta obra são da Escola Superior Aberta do Brasil. www.esab.edu.br Av. Santa Leopoldina, nº 840 Coqueiral de Itaparica - Vila Velha, ES CEP 29102-040 Escola Superior Aberta do Brasil Diretor Acadêmico Beatriz Christo Gobbi Coordenadora do Núcleo de Educação a Distância Beatriz Christo Gobbi Coordenadora do Curso de Administração EAD Rosemary Riguetti Coordenador do Curso de Pedagogia EAD Claudio David Cari Coordenador do Curso de Sistemas de Informação EAD David Gomes Barboza Produção do Material Didático-Pedagógico Delinea Tecnologia Educacional / Escola Superior Aberta do Brasil Diretor Geral Nildo Ferreira Apresentação Caro estudante, Seja bem vindo à ESAB. A Escola Superior Aberta do Brasil, funda-se no princípio básico de atuar com educação a distância, utilizando como meio, tão somente, a internet. Em 2004,foi especialmente credenciada para ofertar cursos de pós- graduação a distância, via e-learning, utilizando-se de software próprio denominado Campus Online. Em 2009 foi credenciada com Instituição de Ensino Superior – IES, através da portaria MEC nº 1242/2009, de 30 de dezembro de 2009, ocasião em que também foi autorizada a ofertar o curso de pedagogia – licenciatura, na modalidade presencial, conforme portaria Mec nº 14/2010, de 9 de janeiro de 2010. Em outubro de 2012 recebeu o Prêmio Top Educação 2012, da Editora Segmento, sendo reconhecida como a Melhor Instituição de Ensino EAD para Docentes. Em 2013 é aprovada para a oferta dos cursos de: Administração (Bacharelado); Pedagogia (Licenciatura) e Sistemas de Informação (Bacharelado), todos na modalidade EAD, com avaliação máxima das comissões avaliadoras. Como você já sabe, vivemos em sociedade, mais especificamente na contemporaneidade, em uma sociedade de organizações. Como bem destacou Etzioni (1980), nascemos, estudamos, trabalhamos e finalmente nos divertimos em organizações. Logo, dada a importância dessas instituições na sociedade, a disciplina de Sociologia das Organizações pretende ser um convite a você, estudante de um curso superior, para que inicie contato com uma das mais complexas Ciências Sociais. Para nos auxiliar neste trabalho, apresentaremos nossa discussão baseada nas obras de Bernardes (2003), Castro (2010), Costa (2002), Giddens (2005) e Dias (2008). Mas, para que esse encontro seja proveitoso, é importante que você passe a refletir acerca do ambiente organizacional, sobretudo porque são essas reflexões que levam a compreensão dos aspectos sociais, econômicos e culturais inseridos no seio das organizações. Bom estudo! Equipe Acadêmica da ESAB Objetivo O nosso objetivo é compreender os estudos na área da Sociologia Organizacional que auxiliem a atuação na área de gestão de organizações, promovendo habilidades para analisar as situações grupais e organizacionais de forma crítica e criativa. Com isso, visamos também facilitar seu processo de reflexão e de tomada de decisão, fornecendo-lhe instrumental teórico baseado em conhecimento científico na área de organizações. Competências e habilidades • Compreender a importância de uma reflexão crítica sobre sua realidade social e cultural, assim como sobre os processos históricos, políticos e econômicos que concorreram para a disposição de tal realidade. • Conhecer as correntes teóricas e as aplicações práticas dos conceitos propostos pela Sociologia das Organizações sobre o mundo do trabalho. • Aplicar as ferramentas conceituais proporcionadas pela Sociologia das Organizações na gestão e no desenvolvimento das competências das pessoas que integram a equipe de trabalho de uma organização. • Utilizar os conhecimentos adquiridos para lidar com modelos de gestão flexíveis e inovadores, atuando com iniciativa e criatividade, sendo consciente das implicações éticas do seu trabalho. Ementa Sistema social e sua hierarquia. Divisão do trabalho e industrialização. Estratificação social e distribuição de renda. Tipologia das organizações. Organizações modernas. O modelo burocrático e suas disfunções. Marx, Weber, Durkheim, Merton e Parsons. Antropologia cultural. Cultura, subculturas e contracultura nas organizações. Ritos, rituais, heróis, símbolos, mitos e tabus. Microssociologia organizacional. Sumário 1. Introdução à Sociologia: perspectiva histórica e conceitos gerais sobre o sistema social ...........................................................................................6 2. Contexto de emergência da disciplina e conceitos importantes ....................................10 3. Divisão do trabalho e Revolução Industrial ...................................................................14 4. Aspectos socioeconômicos da Revolução Industrial ......................................................17 5. Tipologia das organizações: objetivos e critérios ...........................................................22 6. Tipologia das organizações: Etzioni, Blau e Scott ..........................................................25 7. Tipologia das organizações: empresa privada e empresa pública ..................................31 8. Tipologia das organizações: poder e autoridade nas organizações ................................35 9. Tipologia das organizações: liderança ...........................................................................39 10. Tipologia das organizações: conflito entre indivíduo e sociedade ..................................43 11. Organizações modernas: as organizações e a vida moderna .........................................47 12. Organizações modernas: questões de gênero – as mulheres na gerência .....................51 13. Organizações modernas: ultrapassando os limites do modelo burocrático ....................56 14. O modelo burocrático e suas disfunções ........................................................................60 15. Karl Marx: as lutas de classe e os conflitos sociais .........................................................64 16. Max Weber: dominação, poder e burocracia .................................................................68 17. Émile Durkheim: especialização e a divisão do trabalho social e as formas de solidariedade humana ...........................................................................73 18. Merton e Parsons ..........................................................................................................77 19. Antropologia cultural e as organizações ........................................................................82 20. Cultura organizacional ..................................................................................................86 21. Subculturas e contracultura nas organizações ...............................................................91 22. Ritos, rituais, heróis, símbolos, mitos, tabus e organizações ..........................................95 23. Microssociologia organizacional: aspectos gerais ..........................................................9824. Microssociologia organizacional: relações intergrupais ...............................................102 Glossário ............................................................................................................................108 Referências ........................................................................................................................119 www.esab.edu.br 6 1 Introdução à Sociologia: perspectiva histórica e conceitos gerais sobre o sistema social Objetivo Conhecer os antecedentes históricos do sistema social e os principais conceitos em Sociologia em geral. Se você pudesse percorrer a história da humanidade até os nossos dias atuais, constataria que o homem, como ser social, preocupa-se com problemas sociais. Em cada época verificamos como os homens buscam resolver tais problemas, seja por meio da religião, da filosofia, da ciência ou do senso comum. Isso ocorre em virtude da constante imposição do homem sobre a natureza. Novos desafios e descobertas dinamizam a história da humanidade em sua busca pela sobrevivência (CASTRO, 2010). Sabemos que o homem é um ser dotado de inteligência. E, ao questionar o que é o mundo e o próprio homem, fez nascer a filosofia – por volta do século VI a.C., quando surgiram os primeiros filósofos gregos. Eles buscaram um tratamento racional da natureza no seu conjunto, e tinham como preocupação voltar-se para o mundo existente e suas transformações. Os filósofos buscavam um princípio capaz de explicar tudo. Os primeiros questionamentos sobre o homem começaram com Sócrates, que considerava a conduta moral dependente do conhecimento. Para esse filósofo, segundo Castro (2010), a ignorância impede o homem de atingir a felicidade, que é o conhecimento do bem. Outro filósofo importante foi Platão, discípulo de Sócrates. Platão considerava a sabedoria como essencial para a felicidade. Para Platão, o mundo real é o mundo das ideias, do qual o mundo sensível é apenas sombra. É com Aristóteles, discípulo de Platão, que encontramos a definição de Filosofia Social. Segundo ele, seja qual for a sociedade, essa www.esab.edu.br 7 se trata de uma organização natural e moralmente necessária para o homem atingir a felicidade. Evoluindo mais adiante na história, Castro (2010) explica que as primeiras investigações filosóficas acerca do mundo e do homem somam- se os acontecimentos oriundos da Revolução Francesa e da Revolução Industrial como substrato sobre o qual emergiram as abordagens sociológicas. Giddens (2005) acrescenta que as origens da sociologia como estudo sistemático da sociedade e do comportamento humano é relativamente recente, datando de fins do século XVIII. E aponta que a emergência da abordagem sociológica se deu a partir dos acontecimentos e das mudanças radicais introduzidas pelas Revoluções Francesa e Industrial da Europa dos séculos XVIII e XIX. Esses eventos mudaram irreversivelmente o modo de vida que os humanos haviam mantido por milhares de anos. E é exatamente esse período do século XIX o marco do surgimento da Sociologia, a partir das teorizações de Augusto Comte sobre as fases da evolução da humanidade. Comte formulou a lei dos três estados: para ele a humanidade passou do estado teológico para o estado metafísico, para só então atingir o estado científico. Castro (2010) elucida que para Comte a história da humanidade baseia-se na ordem, tendo como princípio o amor e como finalidade o progresso. A única fonte legítima da ciência, segundo ele, é a experiência sensível. Saiba que foi Augusto Comte quem atribuiu à sociologia a função de estudar as leis sociais, sendo elas: estática – ordem, coexistência social – ou dinâmica – processo, transformações sociais. Sua visão sobre a sociologia era científica e objetivava observar os fatos sociais e morais, por meio dos quais os grupos humanos se formam e progridem. Castro (2010) ressalta as contribuições de outros estudiosos do tema e disserta sobre as preocupações metodológicas para a nova disciplina oriundas dos trabalhos de Karl Marx e, sobretudo, de Émile www.esab.edu.br 8 Durkheim. Esses dois pensadores merecerão considerações especiais no desenvolvimento da Sociologia em geral e da Sociologia Aplicada às Organizações em particular. A partir deste ponto, você já pode ser capaz de refletir sobre o que é a sociologia por meio das definições apresentadas anteriormente! Para auxiliá-lo, temos a interpretação de Castro (2010), que define a Sociologia como uma ciência social que busca compreender as estruturas sociais, o comportamento social e os diversos tipos de sociedades. Outra definição importante vem de terras brasileiras, trata-se da noção desenvolvida por Florestan Fernandes, citado por Castro (2010), para quem a Sociologia se propõe a explicar a ordem existente por meio dos fenômenos sociais e seus efeitos que operam em um campo a-histórico, isso porque toda sociedade possui certos elementos estruturais e funcionais idênticos, que tendem a combinar-se de modo a produzir efeitos constantes na mesma magnitude. Para Giddens (2005), a Sociologia consiste no estudo da vida social humana, dos grupos e das sociedades, sendo uma ciência fascinante, uma vez que seu objeto de estudo é o nosso próprio comportamento como seres sociais. Note que para esse autor a abrangência do estudo sociológico é ampla, incluindo desde a análise de encontros ocasionais entre indivíduos na rua até a investigação de processos sociais globais. Contudo, há de se operar uma mudança de visão quando olhamos o mundo sob o ponto de vista da Sociologia, uma vez que ela nos ensina que aquilo que encaramos como natural ou verdadeiro nem sempre é o que parece ser, e que nossa vida é fortemente influenciada por forças históricas e sociais. Por isso, o foco da abordagem sociológica é entender os modos complexos e profundos pelos quais nossas vidas individuais refletem os contextos de nossa experiência social (GIDDENS, 2005). Tenha em mente que acontecimentos das duas grandes revoluções mundiais contribuíram para a construção de dois grandes princípios da Sociologia. Giddens (2005) aponta que a Revolução Francesa (1789) marcou o triunfo de valores como liberdade e igualdade sobre a ordem social tradicional. Já a Revolução Industrial ocasionou www.esab.edu.br 9 amplas transformações sociais e econômicas, que culminaram com o desenvolvimento de inovações tecnológicas, como a energia e a máquina a vapor. Sobre a Revolução Industrial, você sabia que o surgimento da indústria levou a uma enorme migração do campo para as áreas de industrialização nascente, causando uma rápida expansão das áreas urbanas e introduzindo novas formas de relações sociais? Então, saiba que essa situação mudou drasticamente o mundo social, isso porque a maioria dos bens de que necessitamos passaram a ser produzidos, desde então, por indústrias. Todas essas grandes mudanças e rupturas com os modos de vida tradicionais desafiaram pensadores a desenvolverem uma nova visão de mundo. Os pioneiros da Sociologia foram apanhados pelos acontecimentos que cercaram essas grandes revoluções e tentaram compreender sua emergência e a sua consequência potenciais. Para sua reflexão Vamos refletir sobre as mesmas questões que esses pensadores buscaram responder em todos os períodos históricos. Com suas visões e conceitos, reflita e responda: o que é a natureza humana? Por que a sociedade é estruturada da forma como é? Como e por que as sociedades mudam? Já parou para pensar sobre essas questões? As respostas a essas reflexões formam parte de sua aprendizagem e são individuais, não precisando ser comunicadas ou enviadas aos tutores. www.esab.edu.br 10 2 Contexto de emergência da disciplina e conceitos importantes Objetivo Estudar os aspectos históricosde surgimento da disciplina Sociologia das Organizações e conceitos importantes para o tema. Podemos dizer que a Administração e a Sociologia tiveram um desenvolvimento semelhante. Ambas surgiram das necessidades de organização da sociedade provocada pela Revolução Industrial. As duas disciplinas sofreram, em seu início, influências das Ciências Exatas. Prova disso é que a Sociologia no início era a “Física Social” por Auguste Comte, e a Administração tinha um profundo viés nas Ciências Exatas, notadamente na Engenharia, com Frederick W. Taylor, seu iniciador (DIAS, 2008). 2.1 Aspectos históricos da Sociologia das Organizações A Revolução Industrial levou-nos ao surgimento das fábricas, fato que passou a ter enorme importância na sociedade. Em decorrência dessa importância e da necessidade de tentar solucionar os diversos problemas que foram surgindo com o seu desenvolvimento, emergiu, no fim do século XX, uma nova ciência social, a ciência da Administração, que inicialmente se desenvolveu por causa de conceitos advindos da engenharia, fruto do trabalho dos pioneiros da administração, que em sua maioria tinha sua origem nessa profissão. Nesse sentido, a administração surge com a proposta de unir as pessoas para alcançar objetivos comuns, o que de imediato mostra a necessidade de organização das atividades que deverão ser desenvolvidas para se conseguir alcançar esses objetivos. Com isso, desenvolve-se um processo www.esab.edu.br 11 de organização do trabalho estreitamente ligado à distribuição de funções e ao sequenciamento de tarefas, aumentando assim a produtividade (DIAS, 2008). Ampliando esta nossa análise, é importante destacar que a ação humana possui natureza teológica, por isso faz-se importante uma busca pela conciliação dos objetivos individuais e grupais. Com isso, você pode perceber que os temas que integram a Sociologia das Organizações podem ser analisados tomando a organização (seja ela uma empresa privada, um grupo familiar, uma escola) como um elemento central (CASTRO, 2010). 2.2 Funções e elementos da Sociologia das Organizações O domínio da Sociologia é o social, e o objeto são as relações sociais. Castro (2010) recupera sucintamente as ideias dos grandes nomes da Sociologia para traçar um panorama de emergência da disciplina sociológica e consequentemente a emergência da Sociologia das Organizações. Para melhor entendimento, veja na descrição a seguir os três sociólogos que se destacam: • Durkheim: sociólogo que considera que os tipos de integração social ocorrem de forma objetiva; • Weber: caracteriza o envolvimento, tomando como referência tipos de controle (tradicional, carismático e burocrático) com base em uma perspectiva subjetiva; • Parsons: quem considera que o envolvimento dos participantes numa determinada ação social supõe que a intenção e o sentindo se constituem num sistema simbólico. Em relação à Sociologia das Organizações, Castro (2010) explica que existe uma concordância entre os estudiosos da área em atribuir a origem da disciplina às pesquisas realizadas na Western Eletric Company, por www.esab.edu.br 12 Elton Mayo, no início do século XX. As pesquisas objetivaram o estudo da moral e da fadiga dos trabalhadores e da monotonia do trabalho relacionadas com a produção. Saiba mais Um dos grandes acontecimentos na história da Sociologia das Organizações foi a experiência de Hawthorne. Para entender um pouco mais sobre esse evento, clique aqui. Depois dos trabalhos de Hawthorne, diversos outros fatores foram levados em consideração, cujas conclusões ressaltaram a importância das relações interpessoais e das motivações alicerçadas em variáveis independentes. Com isso, o objeto da Sociologia das Organizações consiste em se analisar as organizações e os papéis profissionais. Assim, Castro (2010) destaca que a Sociologia Aplicada à Administração se preocupa em compreender as organizações e os papéis que as integram, considerando o sistema social em suas manifestações morfológicas e funcionais. De acordo com o autor, nas organizações, os indivíduos assumem papéis socioprofissionais, e compete à Sociologia analisar essa realidade como complexo funcional. Assim, torna-se necessário que se tenha em mente que administrar implica decidir. Para destacar essa temática, Castro (2010) lança mão de alguns autores importantes da área e suas respectivas conceituações do que seria a Administração: • Herbert A. Simon: considera a Administração como uma arte cujo objetivo é conseguir que algo determinado seja realizado, exigindo, por isso, decisão e ação; • Henry Fayol: formulou um conceito que se tornou clássico: administrar é prever, organizar, comandar, coordenar e controlar; www.esab.edu.br 13 • Frederick Taylor: declara que o principal objetivo da Administração deve ser o de assegurar o máximo de prosperidade ao patrão e, ao mesmo tempo, ao empregado. Por fim, temos que a Sociologia interessou-se primeiramente pelos fatos sociais, tais como a religião, o jurídico, a moral e o econômico. Contudo, pela impossibilidade de traçar leis da evolução social, como era a pretensão dos pioneiros, passou a estudar os grupos parciais e as relações interindividuais. Com isso, surgiu então esse campo de estudo da Sociologia aplicada com denominações diversas: Sociologia Industrial, Sociologia do Trabalho, Sociologia da Administração, Sociologia das Organizações, entre outras (CASTRO, 2010). www.esab.edu.br 14 3 Divisão do trabalho e Revolução Industrial Objetivo Apresentar as transformações sociais que serviram de base para a sociedade e as organizações modernas. O trabalhador industrial se especializou em áreas de trabalho cada vez mais limitadas, sofrendo ao mesmo tempo um empobrecimento na sua qualificação em comparação com o artesão que realizava todo o processo produtivo. Isso porque a introdução da máquina durante o século XVIII impulsionou a organização racional das tarefas produtivas. O grande nome da época foi Adam Smith, que em sua obra “A riqueza das nações”, publicada em 1776, apresentou um exemplo de divisão do trabalho em uma fábrica de alfinetes que se tornou clássico. Adam Smith descreve como operários realizam até 18 operações distintas com um fio metálico do qual devem produzir um alfinete, gerando ao final do dia até 4800 unidades. E compara com um operário que isoladamente não conseguiria produzir 20 unidades num mesmo período (DIAS, 2008). Com a transição de formas de trabalho desencadeadas pela Revolução Industrial, o problema técnico organizacional de especialização e divisão do trabalho estava intimamente ligado a outro: o da gestão do fator humano. Os incipientes trabalhadores das indústrias ainda mantinham os hábitos adquiridos nas formas de trabalho agrícola e no ambiente doméstico. Assim, os industriais tiveram de impor regras de comportamento até então desconhecidas por aqueles trabalhadores rurais e domésticos, fato que gerou uma série de conflitos. As transformações desencadeadas pela Revolução Industrial em virtude da produção em série possibilitaram a maior velocidade na geração de produtos, que por sua vez apresentam uma homogeneização maior. Isso faz com que os produtos se tornem cada vez mais baratos, levando a uma redução do custo unitário. Contudo, isso não significou uma diminuição da qualidade, uma vez que a padronização, com a utilização www.esab.edu.br 15 dos instrumentos cada vez mais precisos, permite reduzir as variações em termos de qualidade do produto final. Cabe destacar ainda que com o advento da Revolução Industrial surgiram novos papéis sociais, principalmente os de empresário capitalista e de operário. Para o autor, o empresário é o detentor dos instrumentos de produção (máquinas, equipamentos, local de trabalho),e o operário é portador da força de trabalho, fator essencial para a produção industrial. Essa interdependência recíproca entre o empresário e o operário era fator fundamental de distinção da nova sociedade que se iniciava. Marx, por exemplo, caracteriza esses dois grupos sociais como classes fundamentais na sociedade capitalista (DIAS, 2008). 3.1 Revolução Industrial As transformações desencadeadas da Revolução Industrial marcaram profundamente o social, criando novas formas de organização e causando modificações culturais duradouras que perduram até os dias atuais. Dias (2008) destaca que a chamada primeira revolução técnico-científica compreende o período em que um conjunto de invenções e inovações relacionadas permitiu alcançar uma enorme aceleração da produção de bens e assegurar um crescimento que foi se tornando rapidamente independente da agricultura. Esse fenômeno teve início na Inglaterra no século XVIII, num período compreendido entre os anos 1760 a 1820, e foi caracterizada pela produção em larga escala e generalização do uso da máquina para reduzir tempos e custos de produção. Conforme Dias (2008), a Revolução Industrial inglesa emergiu a partir da indústria algodoeira, que multiplicou extraordinariamente a produção de tecidos pela introdução de teares mecânicos. Contudo, foi a siderurgia quem produziu um impacto ainda mais decisivo por meio da grande mudança que provocou no processo produtivo. Isso foi possível em virtude de vários aperfeiçoamentos em fornos e sistemas de fundição, o que permitiu obter ferro de alta qualidade, capaz de substituir vantajosamente outros materiais para melhorar muitas técnicas existentes e construir novas máquinas. www.esab.edu.br 16 Assim, foi graças ao ferro que se deu o desenvolvimento das estradas que vieram a somar-se às importantes transformações para o transporte das mercadorias e matérias-primas. Esse fato contribuiu para o aumento do comércio, uma vez que houve a diminuição do tempo de deslocamento, levando a uma ruptura das relações de dependência entre núcleos urbanos e rurais, próprias da sociedade agrícola anterior (DIAS, 2008). Saiba que a Revolução Industrial possibilitou o crescimento da economia inglesa. As consequências foram: • aumento da necessidade de suas indústrias por matéria-prima, que a Inglaterra não tinha e era obrigada a buscar no mercado externo; • a necessidade de ampliar o mercado consumidor dos seus produtos. Em decorrência desses dois fatores, houve a necessidade de um aumento do controle das colônias, além de um crescimento da disputa com outras potências da época pela obtenção e manutenção dos mercados. Isso porque durante o período de Revolução Industrial a Inglaterra dependia cada vez mais do comércio externo para escoar sua produção. Essa expansão se deu à custa do trabalho escravo e direcionados para os centros produtores de matéria-prima que as indústrias necessitavam. Você pode perceber que nesse período de intensas mudanças a máquina assumiu funções antes desempenhadas pelo homem, multiplicando a capacidade manual e artesanal e executando com vantagem tarefas que antes eram exercidas por muitos indivíduos. As indústrias poderiam trabalhar com um número menor de trabalhadores, mas com capacidade produtiva maior. Fórum Caro estudante, dirija-se ao Ambiente Virtual de Aprendizagem da instituição e participe do nosso Fórum de discussão. Lá você poderá interagir com seus colegas e com seu tutor de forma a ampliar, por meio da interação, a construção do seu conhecimento. Vamos lá? www.esab.edu.br 17 4 Aspectos socioeconômicos da Revolução Industrial Objetivo Conhecer as transformações socioeconômicas que ajudaram a criar o ambiente para a emergência das organizações modernas. Vimos na unidade anterior que o crescimento econômico gerou muitas consequências. Podemos dizer que as desigualdades existentes entre os indivíduos dentro da sociedade passaram a ser fruto de mudanças econômicas e sociais, que Giddens (2005) chama de estratificação social. É comum pensarmos na estratificação em termos de bens ou de propriedade, mas sua ocorrência também pode se dar com base em outros atributos, como gênero, idade, afiliação religiosa ou posto militar. 4.1 Estratificação social A estratificação pode ser mais bem compreendida como uma situação em que os indivíduos possuem um acesso diferencial aos bens de uma sociedade, ou seja, são as desigualdades estruturadas entre diferentes agrupamentos de pessoas. As sociedades podem ser vistas como constituídas de estratos em uma hierarquia, na qual os mais favorecidos encontram-se no topo, e os menos privilegiados estão mais próximos da base. Situação que ainda pode ser percebida nos dias atuais. Com base no que foi dito, podemos perceber que a estratificação social se refere aos estratos ou às camadas sociais que se pressupõem, constituindo certa hierarquia social, na qual estrato significa um conjunto de pessoas que detém o mesmo status ou posição social. Para Dias (2008), de maneira geral, há três tipos principais de estratificação social: o estamento, a casta e a classe. Já Giddens (2005) acrescenta à classificação anterior a escravidão, defendendo então quatro sistemas de estratificação nas sociedades www.esab.edu.br 18 humanas: a casta, a escravidão, o estamento e a classe. Como instituição formal, a escravidão foi gradualmente erradicada, tendo desaparecido quase completamente no mundo atual. A casta associa-se às culturas da Índia. Os hindus acreditam que, se os indivíduos não forem fiéis aos rituais e deveres da sua casta, renascerão em uma posição inferior na próxima encarnação. Saiba que, de acordo com Giddens (2005), os estamentos fizeram parte de muitas civilizações tradicionais. Na Europa, o estamento mais alto era composto pela aristocracia e pela pequena nobreza, o clero formava outro estamento, e os plebeus (servos, mercadores e artesãos) compunham o chamado terceiro estamento. Já os sistemas de classes, apontam Giddens (2005) e Dias (2008), diferem em muitos aspectos da escravidão, das castas e dos estamentos. Pode-se definir uma classe como um agrupamento de pessoas que compartilham recursos econômicos em comum, os quais influenciavam profundamente o tipo e o estilo de vida que podiam levar. A posse de riquezas juntamente com a profissão são as bases principais das diferenças de classe. Conforme Giddens (2005), as classes diferem das antigas formas de estratificação em muitos sentidos. • Ao contrário de outros tipos de estratos, as classes não são estabelecidas por providências legais ou religiosas; a condição de membro não se baseia em uma posição herdada, especificada legalmente ou por costume. Os sistemas de classes são normalmente mais mutáveis do que os outros tipos de estratificação, e as fronteiras entre as classes nunca são claras. Não existe nenhuma restrição formal quanto ao casamento de pessoas de classes diferentes. • A classe do individuo é, pelo menos de alguma forma, conquistada, e não simplesmente determinada no nascimento, como é comum em outros tipos de sistema de estratificação. A mobilidade social é bem mais comum do que nos outros tipos (no sistema de castas, a mobilidade individual de uma casta para outra é impossível). www.esab.edu.br 19 • As classes dependem de diferenças econômicas entre os agrupamentos de indivíduos – desigualdades na posse e no controle de recursos materiais. Nos outros tipos de sistemas de estratificação, os fatores não econômicos (como a influência da religião no sistema indiano de casta) são geralmente os mais importantes. • Nos demais tipos de sistemas de estratificação, as desigualdades são expressas primeiramente nas relações pessoais de dever ou de obrigação – entre o servo e o senhor, o escravo e o amo ouentre os indivíduos de castas mais baixas ou de castas mais altas. Os sistemas de classes, em contraste, funcionam principalmente por meio de conexões de larga escala com caráter impessoal. Por exemplo, o ingrediente principal das diferenças de classe encontra- se nas desigualdades de condições de pagamento e de trabalho, que afetam todas as pessoas em categorias ocupacionais específicas, como resultado de circunstâncias econômicas que prevalecem em toda a economia. 4.2 Distribuição de renda Saiba que a distribuição de renda e desigualdade social associada ao crescimento econômico dos países são temas centrais nas ciências da sociedade, como Economia e Sociologia. Esse fato já foi sinalizado no século XVIII por Adam Smith em sua obra seminal chamada “Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações”. Por isso a importância de conhecermos as formas de como se medem os resultados das atividades econômicas de um país. Podemos medir o desempenho econômico de uma nação pela análise de seu Produto Interno Bruto (PIB) e da sua renda per capita. O PIB consiste na soma de todas as riquezas produzidas dentro dos limites de uma determinada região (cidade, estado, país) durante certo período de tempo. O PIB é expresso em valores monetários. No Brasil, expressamo- lo em reais, nos Estados Unidos em dólares, por exemplo. Ele é um importante índice para avaliar a atividade econômica de uma nação e para avaliar o crescimento econômico. www.esab.edu.br 20 Dias (2008) esclarece que para o cálculo do PIB são contabilizados apenas os produtos e bens finais, não sendo considerados os insumos de produção como matérias-primas, mão de obra, impostos e energia. Isso ocorre para que se evite a contagem dobrada de uma mesma riqueza, gerada ao longo da cadeia de produção. Imagine, por exemplo, que a economia do Brasil se resumisse a uma fábrica de pregos que vendeu 50 kg do produto por R$ 400,00. Para produzir, ela precisa adquirir matéria-prima e no preço final estão embutidos os custos de compra dos insumos e a riqueza produzida por essa fábrica de pregos. Se a matéria-prima é adquirida por R$ 150,00, então a riqueza gerada no processamento e na transformação do ferro, do carvão e da água em prego é de R$ 250,00. Esse é o valor contabilizado no PIB. Além do PIB, existe outro índice econômico que nos ajuda a entender a produção e distribuição da renda de um país: a renda per capita. Para sabermos o valor da renda per capita de um país, basta pegarmos o valor do PIB e dividirmos pelo número de habitantes. No entanto, Dias (2008) chama atenção que essa é uma maneira muito imperfeita para avaliar o padrão de vida de uma população. Ora, qual a relação entre PIB, renda per capta, distribuição de renda e desigualdades sociais? Todos esses temas se relacionam para nos dar uma ideia de como está o crescimento econômico de um país e a situação social de seus habitantes. Isso porque, sem relacionar os índices econômicos entre si, poderemos ter uma ideia equivocada da riqueza de um país. É possível que um país seja muito rico e seus habitantes muito pobres ou o país pode não ser tão rico e seus habitantes desfrutarem de um padrão de vida superior. O que determina essa diferença é o perfil da distribuição de renda, ou seja, como a riqueza total que é produzida no país e é distribuída entre os habitantes. Saiba que, para acompanhar como se dá a distribuição de renda das nações, foram criados diversos índices estatísticos, tais como o coeficiente Gini e o IDH. O coeficiente Gini foi desenvolvido pelo matemático italiano Corrado Gini e consiste em um parâmetro internacional usado para medir a desigualdade de distribuição de renda entre os países. O coeficiente varia entre 0 e 1, sendo que quanto mais próximo do zero www.esab.edu.br 21 menor é a desigualdade de renda num país, ou seja, melhor a distribuição de renda. Quanto mais próximo do um, maior a concentração de renda num país. O IDH é um índice que tem sua origem na Sociologia e nos ajuda a compreender como os habitantes de um país se relacionam com a riqueza produzida. Também podemos utilizá-lo para realizarmos comparações entre os países. Aqui o objetivo é de medir o grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida à população. Esse índice é calculado com base em dados econômicos e sociais e vai de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Logo, quanto mais próximo de 1, mais desenvolvido é o país. Esse índice também é usado para apurar o desenvolvimento de cidades, estados e regiões. Estudo complementar Nesta unidade, vimos uma breve descrição das consequências geradas pela divisão do trabalho e pela Revolução Industrial, substratos das organizações modernas, e da emergência da disciplina que estamos estudando. Diante da realidade surgida a partir desses acontecimentos, torna-se importante um aprofundamento sobre as questões discutidas nesta unidade relacionadas à estratificação social e à distribuição de renda. Para tanto, sugerimos a você fazer a leitura do artigo: “Salário mínimo e distribuição de renda”, que pode ser acessado clicando aqui. www.esab.edu.br 22 5 Tipologia das organizações: objetivos e critérios Objetivo Compreender os critérios e objetivos que permitem classificar as organizações em classes ou tipos. Sendo a união de pessoas em busca de objetivos comuns, as organizações apresentam várias tipologias, dependendo dos objetivos que congregam. O estudo das tipologias organizacionais emerge a partir das pesquisas referente à chamada corrente estruturalista em Administração. O termo estrutura é proveniente de emprego muito antigo, tanto nas ciências físicas quanto nas sociais, e em termos amplos significa a análise dos elementos internos de um sistema, suas inter-relações e sua disposição. A introdução do termo estrutura nas ciências sociais deve-se a Herbert Spencer (1858), que a utilizou associando-a com o conceito de função, em um sentido biológico. Essa mesma utilização é retomada mais tarde por Émile Durkheim, o fundador da sociologia (MOTTA; VASCONCELLOS, 2006). Com isso, Motta e Vasconcelos (2006) apresentam as correntes estruturalistas e seus respectivos representantes no campo dos estudos sociológicos em Administração. • Estruturalismo abstrato: método de estudo que adota uma posição coletiva contra uma posição individualista das outras correntes. Essa corrente se concentra na análise de modelos e tradições culturais que emergem das relações sociais. • Estruturalismo concreto: considera a estrutura a própria definição do objeto. Assim, o conjunto de relações sociais, em dado momento, constituiria uma estrutura a ser analisada e compreendida. www.esab.edu.br 23 • Estruturalismo fenomenológico: para essa corrente, o ato de aprender sobre o mundo consiste em compreender objetivamente a significação das intenções do outro a partir de suas condutas. • Estruturalismo dialético: propõe uma análise do social em que seja relacionado um estudo das partes dos fenômenos como sendo maior do que a soma das partes e propõe uma ida e volta do todo para as partes de maneira dialética e autônoma. Por meio das relações de reciprocidade que se institui entre elas que o todo é, de algum modo, restaurado. Dito isso, retomamos Castro (2010) e as tipologias organizacionais. Para esse autor, as organizações desenvolvem suas tipologias de acordo com os objetivos visados. Para o autor, são quatro critérios que definem a tipologia organizacional. • Necessidades básicas: todos os sistemas sociais deparam-se com quatro necessidades básicas a serem enfrentadas, duas voltadas para problemas internos ao próprio sistema e duas relativas a questões externas. As necessidades voltadas para problemas internos são: integraçãoe latência. Integração: compreende o estabelecimento e a organização de um conjunto de relações entre as unidades participantes do sistema, visando coordená-las e unificá-las numa única entidade. Latência: trata-se da manutenção dos padrões culturais e motivacionais do sistema no curso de tempo. As necessidades voltadas para os problemas externos são: adaptação e consecução de metas. Adaptação: compreende a acomodação do sistema às exigências do ambiente, considerando as mudanças da realidade exterior. Consecução de metas: envolve a definição de objetivos e metas e a alocação de recursos para atingi-los. • Conformidade: considera a conformidade como elemento integrante das relações de poder entre quem dele dispõe e quem a ele se submete. Distingue três formas de exercício do poder: coercitiva, remunerativa e normativa. O poder coercitivo tende a gerar alienação. O remunerativo provoca envolvimento calculista. O normativo liga-se a uma congruência moral. www.esab.edu.br 24 • Organicidade: baseando-se na abordagem sistêmica, leva em conta a inter-relação orgânica entre indivíduo e organização. Qualquer que seja o sistema, sempre se fazem presentes objetivos e metas sob influências do ambiente. • Objetivo de benefício: segundo Peter M. Blau e W. Richard Scott (sociólogos norte-americanos), as organizações são vistas a partir do objeto do benefício, isto é, definindo quem é o beneficiado. Distinguem, então, quatro tipos de organizações: de negócio, de serviço, de benefício mútuo e de natureza comunitária. Para Castro (2010), uma dimensão importante a ser analisada em tipologia organizacional refere-se aos grupos informais. Para o autor, de forma geral, as organizações classificam-se como grupos formais. Esse tipo de grupo mantém-se por uma estrutura organizacional que permite que se exerça o controle sobre seus membros. Já o grupo informal se refere aos indivíduos que realizam suas tarefas em função das interações dos participantes do grupo. Nesse tipo de grupo o controle emerge por acaso e não como uma relação de poder. Um grupo informal pode sofrer transformações, atingindo o tipo formal. No interior das organizações, surgem grupos informais compostos de indivíduos que desempenham papéis semelhantes e que se associam por interesses comuns. Cabe destacar ainda que os grupos informais exercem influências positivas e negativas nas organizações. Eles facilitam a comunicação, traduzindo-a para a informalidade e facilitando a compreensão. Todavia, podem inserir ruídos, deturpando a mensagem. www.esab.edu.br 25 6 Tipologia das organizações: Etzioni, Blau e Scott Objetivo Conhecer a tipologia organizacional desenvolvida por Amitai Etzioni, Peter Blau e Richard Scott. Nesta unidade, vamos conhecer os tipos de organizações, com base em três sociólogos: Etzioni, Blau e Scott. Vamos lá? 6.1 Tipos de organizações Etzioni centralizou seus estudos sobre as bases de poder e o controle nas organizações. Para ele, há uma hierarquia na qual o poder é exercido pelos superiores para controlar os subordinados com vistas a atingir os objetivos organizacionais. Com isso, Etzioni pôde construir uma tipologia de organizações, na qual se combinam um aspecto estrutural, uma vez que se baseia nos tipos e na distribuição de poder, e um aspecto motivacional, visto que se baseia nas diferentes formas de compromisso dos participantes com a organização burocrática (DIAS, 2008). Assim, temos que Etzioni elabora sua tipologia de organizações classificando as organizações com base no uso e no significado da obediência. Para ele, a estrutura de obediência em uma organização é determinada pelos tipos de controles aplicados aos participantes. Assim, a tipologia das organizações, segundo Etzioni, é a que segue: • organizações burocráticas coercitivas são aquelas nas quais a coerção constitui o principal meio de controle dos participantes dos níveis mais baixos. Exemplos típicos são os campos de concentração, os campos de prisioneiros de guerra, a grande maioria das prisões, instituições correcionais e hospitais de custódia de doentes mentais; www.esab.edu.br 26 • as organizações burocráticas utilitárias são aquelas em que a remuneração é o principal meio de controle dos participantes. As empresas industriais e comerciais constituem bons exemplos desse tipo de organização, embora devamos considerar que elas se aproximarão ou se distanciarão mais do tipo à medida que a maior parte dos participantes for composta por funcionários de escritório, funcionários ou operários; • as organizações burocráticas normativas são aquelas nas quais o poder normativo é a principal fonte de controle dos participantes dos níveis mais baixos e a orientação com relação à organização é caracterizada pelo alto nível de envolvimento. Nessas organizações, o envolvimento baseia-se na internalização de diretivas aceitas como legítimas. As organizações religiosas, os hospitais em geral e as universidades são exemplos típicos desse tipo de organização; • as organizações burocráticas híbridas são organizações duais, tais como sindicatos, unidades de combate etc. De acordo com Dias (2008), a tipologia de Etzioni tem um grande apelo em virtude da consideração que faz sobre os sistemas psicossociais das organizações. Entretanto, apresenta como desvantagem o fato de dar pouca importância à estrutura, à tecnologia utilizada e ao ambiente externo. Trata-se, portanto, de uma tipologia simples e unidimensional, baseada exclusivamente nos tipos de controle. 6.2 Tipologia de Blau e Scott Peter Blau e Richard Scott são nomes importantes do estruturalismo na Teoria das Organizações. Para esses estudiosos, o conflito ocupa lugar de destaque no desenvolvimento das organizações. Os trabalhos de Blau e Scott mostram como, na prática organizacional, as regras e os procedimentos formais são desobedecidos pelos atores sociais no exercício de seu trabalho diário. www.esab.edu.br 27 Castro (2010) destaca que Blau e Scott, em suas pesquisas empíricas, constaram que funcionários de uma organização sem fins lucrativos desobedeciam a normas e regulamentos nos casos em que pessoas necessitadas solicitavam-lhes ajuda formal. As justificativas a essa desobediência, segundo os pesquisadores, era que os funcionários acreditavam que as pessoas mereciam um tratamento mais “humano” do que o possibilitado pelas regras formais e duras. Após muitos estudos, os sociólogos Blau e Scott constataram que em organizações burocráticas os funcionários, a fim de evitar os aspectos desagradáveis das regras, modificam sua conduta, em busca de atitudes que julguem mais adequadas para a situação alinhada, sobretudo, de seus valores e sua cultura organizacional. Assim, de acordo com Castro (2010), para Blau e Scott as organizações existem para proporcionar benefícios à sociedade. Essa questão remete à ideia de que as organizações se relacionam com outras organizações, funcionários, clientes etc. A partir dessa ideia, Blau e Scott desenvolvem sua tipologia organizacional com base no beneficiário, o que propiciou a questão: quem se beneficia com a organização? Os benefícios, segundo Blau e Scott, são a essência da existência da organização. Aqui cabe destacar a você que Blau e Scott estudaram as organizações do ponto de vista formal e informal. Os autores sofreram influência dos trabalhos de Weber sobre as burocracias para a elaboração de sua obra denominada “Organizações formais”. Para tanto, procuraram analisar os conflitos gerados pela interação dos fatores internos e externos das organizações. Blau e Scott observam que as organizações também se relacionam com pessoas que não fazem parte do seu quadro, e essas pessoas têm influências consideráveis na estrutura e no funcionamento das organizações. Assim, para equacionaresses conflitos e tornar a organização mais eficaz, propuseram uma mudança organizacional a partir da análise dos grupos formais e informais, do sistema de comunicação, de liderança e dos mecanismos de controle organizacionais. www.esab.edu.br 28 Note que a tipologia das organizações elaborada por Blau e Scott mostra quatro tipos de participantes que se beneficiam: • os próprios membros da organização; • os proprietários, dirigentes ou acionistas da organização; • os clientes da organização; • o público em geral. Assim, existem quatro tipos básicos de organizações: • associações de benefícios mútuos, em que os beneficiários principais são os próprios membros da organização, como as associações profissionais, as cooperativas, os sindicatos, os fundos mútuos, os consórcios etc.; • organizações de interesses comerciais, sendo os proprietários ou acionistas os principais beneficiários da organização. Como exemplo as empresas privadas, as sociedades anônimas ou as sociedades de responsabilidade limitada; • organizações de serviços, em que um grupo de clientes é o beneficiário principal; hospitais, universidades, escolas, organizações religiosas, agências sociais e ONGs são exemplos; • organizações de Estado, o beneficiário é o público em geral. Exemplos: organização militar, correios, instituições jurídicas e penais, segurança pública, saneamento básico etc. A tipologia de Blau e Scott destaca a centralidade do beneficiário sobre a organização a ponto de condicionar sua estrutura e seus objetivos. Entretanto, em consonância com a tipologia de Etzioni, a classificação de Blau e Scott também omite as tecnologias e o ambiente técnico das organizações, tratando-se também de uma tipologia simples e unidimensional. www.esab.edu.br 29 Para sua reflexão Vimos nas unidades estudadas algumas dimensões da disciplina de Sociologia das Organizações, tais como antecedentes históricos e a abrangência dos estudos pretendidos. Vimos que a Sociologia em geral se preocupa em estudar as ações sociais e seus efeitos sobre a sociedade, e que a Sociologia das Organizações, em particular, busca compreender as ações dos grupos dentro das organizações e como essas ações impactam as organizações e consequentemente o meio que a cerca – a sociedade. Agora, considere você como membro de uma organização e reflita sobre o espaço organizacional, com suas várias dimensões, a partir de uma ótica da Sociologia das Organizações. Quais problemáticas suscitadas pela disciplina de Sociologia das Organizações você achou mais relevantes? Vamos em frente! As respostas a essas reflexões formam parte de sua aprendizagem e são individuais, não precisando ser comunicadas ou enviadas aos tutores. www.esab.edu.br 30 Resumo Nestas seis unidades, vimos que as transformações sociais e econômicas originadas pela Revolução Industrial e sua consequente divisão técnica do trabalho se constituíram nos antecedentes históricos que serviram de base para a emergência da Sociologia como disciplina científica. Vimos também que a Sociologia nasceu com o objetivo de compreender as ações dos humanos na sociedade e que a busca de conhecimentos mais específicos sobre os grupos organizados foi o que colaborou para o surgimento da disciplina de Sociologia das Organizações. Esta disciplina, em seu âmago, busca analisar as organizações e as interações entre os grupos para o alcance dos objetivos organizacionais. www.esab.edu.br 31 7 Tipologia das organizações: empresa privada e empresa pública Objetivo Compreender as diferenças fundamentais entre os tipos organizacionais empresa privada e empresa pública. Vamos começar esta unidade fazendo uma pergunta: você sabia que já estamos vivendo em uma sociedade de organizações? Isso porque, na vida contemporânea, considerável parte de nosso tempo passamos em organizações das quais somos clientes, contribuintes, espectadores, defensores etc. As organizações têm objetivos bem distintos e para alcançá-los lançam mão da competência das pessoas que, reunidas em grupo, são capazes de atingir os objetivos de uma organização. Pois bem, dito isso, vamos então tentar compreender o que é uma organização para depois poder estabelecer de uma maneira clara qual a diferença entre organizações do tipo empresa privada e uma organização do tipo empresa pública. Para autores como Dias (2008) e Castro (2010), uma organização é uma reunião de pessoas criada intencionalmente para se alcançar determinados objetivos mediante o trabalho humano e a utilização de recursos materiais. Nesse sentido, cabe destacar que as organizações apresentam uma estrutura hierárquica, que apresentam uma série de relações entre seus componentes como: cultura, poder e autoridade, liderança, conflito etc. Essas dimensões serão alvo de nossos estudos nas próximas unidades. Caro aluno, discutir sobre organizações não é nada fácil. Desse modo, para que tenhamos outras referências sobre o tema, vamos nos apropriar dos ensinamentos dos autores Bernardes e Marcondes (2006) sobre www.esab.edu.br 32 organizações e seu papel na sociedade atual. Esses autores mencionam que as organizações são formadas por um conjunto de pessoas e incorporam várias características da sociedade a qual estão inseridas. Além disso, as organizações existem para satisfazer as necessidades dos clientes e atingir objetivos econômicos e sociais. Há de se destacar que as organizações podem ser de vários tipos, por exemplo, empresas privadas, empresas públicas, organizações religiosas e organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIPs). Nesta unidade, vamos discutir os dois primeiros tipos de organizações: empresas privadas e empresas públicas. Vamos lá? 7.1 Empresas privadas De acordo com Castro (2010), as empresas são grupos organizados que contam com a utilização de recursos materiais e humanos, visando ao alcance de objetivos determinados e definidos, notadamente econômicos, para atender aos interesses dos proprietários. Assim, a empresa privada é aquela que – individual, familiar, companhia limitada ou sociedade anônima – põe em risco o próprio capital, na produção e comercialização de bens e serviços, com objetivo de auferir lucros. Nesse sentido, a empresa é uma entidade autônoma produtora de bens e serviços que, sob o comando de uma pessoa ou de um grupo que se responsabiliza por ela, busca cumprir as atividades que visam garantir seu êxito. A autonomia da empresa se deve ao fato de se tratar de uma pessoa jurídica com patrimônio próprio. Perceba que uma empresa é composta por várias áreas, formando um sistema. Os subsistemas empresariais comportam uma série de funções que variam de acordo com os objetivos propostos. Cabe destacar que, para Castro (2010), de modo geral, as funções administrativas são: propriedade, administração, produção, comercialização. Vamos ver o significado dessas funções: www.esab.edu.br 33 • propriedade: função desempenhada pelos proprietários, isto é, indivíduo, pequena sociedade, família, acionistas; • administração: funções de planejamento, coordenação, avaliação, controle. A administração conta também com funções auxiliares (transporte, por exemplo); • produção: funções de execução compreendendo chefia, encarregado e operariado. A produção conta também com funções auxiliares (transporte, por exemplo); • comercialização: funções de marketing e de vendas, também contando com auxiliares. Por sua vez, essas funções implicam recursos de quatro tipos: • recursos humanos: especialistas de nível universitário, técnicos de nível médio, semiqualificados, não qualificados; • recurso materiais: instalações físicas, maquinaria, instrumental e ferramentas, matéria-prima, semi-industrializada e/ou industrializada;• recursos financeiros: próprios e/ou captados em bancos ou no mercado; • recursos institucionais: leis e decretos, estatuto, regulamentos, ordens de serviço, memorando. 7.2 Empresas públicas Vimos nesta unidade que as organizações são criadas para atender a objetivos definidos que podem ser econômicos, culturais, sociais etc. Agora, chegou o momento de conhecermos a empresa pública. Para Castro (2010), a empresa pública é aquela que utiliza recursos públicos para a produção de bens e serviços, visando ao bem comum. O estatuto legal da empresa pública, de acordo com o Decreto-Lei nº www.esab.edu.br 34 200/67, que Dispõe sobre a organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras providências. Empresa pública consiste em ser uma pessoa jurídica de direito privado, criada por lei para a exploração de atividade econômica em que o Governo seja levado a exercê-la por força de contingência ou de conveniência administrativa, podendo revestir-se de qualquer das formas admitidas em direito, com patrimônio próprio e capital exclusivo da União ou com a participação da União. Saiba mais Você pode compreender mais sobre Administração e estilo de gerenciamento no setor público e privado clicando aqui. www.esab.edu.br 35 8 Tipologia das organizações: poder e autoridade nas organizações Objetivo Estudar as tipologias de poder e autoridade dentro do ambiente organizacional. Para que nossa convivência humana em sociedade seja equilibrada, é necessário selar vários acordos tácitos para manter certa estabilidade social. Nesse processo, podemos perceber que os indivíduos possuem a capacidade de modificar o comportamento de outros indivíduos. A essa capacidade chamamos de poder. Saiba que, no âmbito das organizações, o poder pode emanar do cargo ocupado, das características pessoais ou de ambos. Essa assertiva fica clara nas palavras de Castro (2010), para quem os indivíduos que conseguem levar outros a executar certa atividade em função de seu cargo na organização exercem poder de posição, já aqueles que derivam seu poder da legitimação dos seus subordinados têm poder pessoal. Alguns indivíduos têm ambos os poderes. De acordo com Castro (2010), para Amitai Etzioni, o poder depende dos meios empregados para fazer os indivíduos consentirem com o que foi proposto e que esses meios podem ser físicos, materiais ou simbólicos e determinam o tipo de poder, a saber: • poder coercitivo: baseia-se em punições. É exercido por meio de ameaças em troca do comportamento desejado; • poder manipulativo: baseia-se no controle de recursos materiais e recompensas. É exercido por meio da troca de algum tipo de recompensa pelo comportamento esperado; www.esab.edu.br 36 • poder normativo: baseia-se no controle e na manipulação de recompensas simbólicas. Está associado ao controle moral e ético dos integrantes da organização, que são regidos por motivos como convicção, fé, crença ou ideologia. Para pensar o poder, Castro (2010) lança mão do conceito desenvolvido pelo pensador alemão Max Weber, um dos autores clássicos da sociologia que influenciou profundamente o estudo sobre as organizações. Nesse sentido, de acordo com Weber (1974 apud CASTRO, 2010), o poder é a imposição da vontade numa relação social, mesmo contra a resistência dos outros. O poder, a partir da perspectiva weberiana, afirma Castro (2010), é amorfo e pode encontrar um fundamento legítimo, ou não, por parte de quem o exerce. Nesse caso, quando o poder é considerado legítimo, temos associado a ele a noção de autoridade. Esse tipo de poder compreende os três tipos ideais de dominação: dominação legal, tradicional e carismática. Aqui cabe destacar o que significa dominação. A dominação, conforme Weber (1974 apud CASTRO, 2010), consiste na probabilidade de encontrar obediência a uma dada ordem que é obedecida por outros. Assim, para se exercer um poder legítimo, não basta a vontade de dominar o outro; é necessário que haja disposição de obediência por parte do outro. Já toda dominação busca legitimidade e sua validade está baseada na ideia da autoridade. Desse modo, os três tipos puros de dominação são: • dominação legal: é regida por um estatuto, obedece-se a ordens impessoais, objetivas e legalmente instituídas e aos superiores por ela designados, não importando quem ocupa o cargo ou a posição. É uma dominação burocrática, havendo relação hierárquica. Você pode perceber esse tipo de dominação numa relação entre chefia e subordinados de uma empresa; • dominação tradicional: é o tipo mais antigo e puro da dominação patriarcal. É a dominação na qual o senhor comanda seus súditos, e esta é aceita em nome de uma tradição reconhecida como válida. www.esab.edu.br 37 Esse tipo de dominação pode ser observado nos costumes de uma tribo indígena na relação entre o chefe e os membros da tribo; • dominação carismática: ocorre em virtude de devoção afetiva à pessoa do senhor e a seus dotes sobrenaturais. Baseia-se na crença. O líder carismático, em certo sentido, é sempre revolucionário, na medida em que se coloca em oposição consciente a algum aspecto estabelecido da sociedade em que atua. Para que se estabeleça uma autoridade desse tipo, é necessário que o apelo do líder seja considerado como legítimo por seus seguidores, os quais estabelecem com ele uma lealdade de tipo pessoal. Você pode observar esse tipo de dominação na relação entre um líder espiritual, por exemplo, de qualquer congregação religiosa e seus seguidores. Ainda sobre a questão do poder e autoridade nas organizações, temos conceituações de outros autores, como Castro (2010) e Bernardes e Marcondes (2009). Para esses últimos, o poder é a influência sobre as ações dos outros, seja coagindo-os ou enganando-os, mas sempre com o intuito de atingir os próprios objetivos contra a vontade deles. Já a autoridade, para esses mesmos autores, diz respeito à influência sobre o comportamento de outros para a promoção de objetivos coletivos, com base em alguma forma verificável de consentimento desses outros que são informados da situação. Vejamos, como exemplo de autoridade, o papel do líder perante sua equipe que precisa desenvolver uma campanha de marketing que tem por meta alcançar um público infantil. A organização define a equipe e a equipe escolhe entre seus pares o líder que irá conduzir os esforços de todos no cumprimento dos objetivos da campanha. Nesse caso, para que se configure uma autoridade há a necessidade da aceitação de todos os envolvidos da influência do líder escolhido por sentirem que isso permite mais facilmente obterem o resultado pretendido. Castro (2010) compartilha do conceito de poder e de autoridade desenvolvido por Max Weber e acrescenta que nas empresas o termo autoridade é usado como metáfora ou homonímia, já que o poder, nessas organizações, se fundamenta em normas, regras e estatutos. Assim, a www.esab.edu.br 38 estrutura de uma empresa fundamenta-se em áreas de atuação e em níveis hierárquicos de mando e subordinação com a autoridade racional- legal exercida pelos superiores sobre os subordinados. Nesse caso, vigora o princípio da competência e o poder é exercido por tecnocratas que devem seguir as normas estabelecidas. Atividade Chegou a hora de você testar seus conhecimentos em relação às unidades 1 a 8. Para isso, dirija-se ao Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e responda às questões. Além de revisar o conteúdo, você estará se preparando para a prova. Bom trabalho! www.esab.edu.br 39 9 Tipologia das organizações: liderança Objetivo Conhecer os tipos de liderança que podemos encontrar dentro das organizações. Atualmente, com a velocidade das mudanças no ambiente externo das organizações, impõe-seuma nova realidade para as empresas, exigindo delas estruturas mais flexíveis e valorização do capital humano. Diante dessa desafiadora realidade, o papel do líder também passa por mudanças. As transformações ambientais, ocorridas especialmente a partir da década de 1980 (a globalização, a terceirização, o declínio do emprego e a expansão da internet entre outras), levaram a uma efervescência do assunto. Diante desse contexto mutante, para que a organização possa manter uma posição competitiva no mercado, é necessário que os indivíduos que dela fazem parte estejam comprometidos com os objetivos organizacionais. Nesse caso, o papel da liderança é fundamental, uma vez que é responsável pela participação efetiva de todas as pessoas da empresa, motivando-as a trabalharem em conjunto com uma visão e um objetivo comuns. Você mesmo deve ter passado por uma experiência num grupo cuja liderança tenha lhe permitido boas experiências, ou não? As organizações de sucesso sabem como gerenciar o conhecimento gerado pelas pessoas que nelas trabalham e isso é tarefa do líder. Hoje é ponto pacífico que, para alcançar o sucesso, não basta que as organizações possuam recursos tecnológicos e financeiros. O principal ativo de uma empresa são as pessoas e o conhecimento por elas gerado. Por isso, há por toda parte uma grande procura de indivíduos que possuam a capacidade necessária para liderar eficazmente. www.esab.edu.br 40 Para Castro (2010), a liderança é a capacidade de influenciar as atividades de um indivíduo ou de um grupo para a consecução de um objetivo numa dada situação. Dessa definição de liderança, segue-se que o processo de liderança é uma função do líder, do liderado ou subordinado e de variáveis situacionais. Aqui, caro aluno, torna-se importante notar que essa definição não faz menção a qualquer tipo particular de organização, mas diz respeito a toda situação em que alguém procura influenciar o comportamento de outro indivíduo ou grupos. Nesse caso, em um ou outro momento da vida, todos tentam exercer a liderança, seja no âmbito de uma empresa, de uma organização social, de instituição educacional ou no próprio seio familiar. Cabe destacar que durante muito tempo a liderança foi entendida, predominantemente, como traços de personalidade, na suposição de que havia certas características pessoais, tais como a força física ou inteligência emocional, que eram essenciais para uma liderança eficaz. Essa abordagem pregava que o indivíduo já nascia um líder, ou seja, já portava ao nascer as características que favoreciam o exercício da liderança. Como era de se esperar, a abordagem dos traços de personalidade se mostrou insuficiente para dar conta de uma realidade muito mais complexa e emergiu, então, outra corrente intitulada abordagem comportamental. Nesse enfoque, o ambiente ganha relevo, já que agora se entende que a liderança pode ser aprendida. Com essa ênfase no comportamento e no ambiente, há mais estímulo para a possibilidade de treinar as pessoas a adaptar os estilos de comportamento dos líderes às mais diversas situações. Para compreendermos as formas de liderança, faz-se necessário antes entender, conforme Castro (2010), o processo de socialização organizacional. Para esse autor, a socialização visa a interação dos indivíduos do grupo pela transmissão de valores culturais. Assim, www.esab.edu.br 41 a cultura organizacional é o meio pelo qual se confere sentido ao comportamento de cada participante ou grupo. Castro (2010, p. 173) cita o antropólogo Claude Lévi-Strauss para dizer que a “cultura diz respeito à capacidade exclusivamente humana de dar sentido a si mesmo e a tudo o que é diferente de si, ou seja, o outro”. A interação com os outros, no contexto organizacional, leva ao que Castro (2010) vai chamar de grupo social no qual cada integrante conta com um cabedal de experiências e de cultura, e que precisam unir-se para alcançar os objetivos organizacionais. Nesse ponto, podemos observar a necessidade de gerenciamento das mais variadas competências dos indivíduos. Trata-se de valorizar ideias, de usar a criatividade de maneira que possamos conduzir as ações dos grupos para o alcance dos resultados pretendidos. Note que é nesse ponto que se faz crucial o papel da liderança, do atributo de um membro do grupo influenciar os outros. Já vimos que a liderança é exercida em função do poder pessoal, do poder instituído ou de ambos. Assim, esperamos do líder uma visão ampla, conhecimento, maturidade e disposição para enfrentar riscos. Vamos analisar as tipologias de liderança desenvolvidas por três estudiosos – Lewin, Lippitt e White, conforme Castro (2010). Esses estudiosos desenvolveram pesquisas em organizações e chegaram a três tipos de liderança: democrática, autocrática e liberal. Vamos entender cada um deles: • líder democrático: o grupo participa nas decisões; os objetivos e seu meio condutor é decidido por todos. O líder consulta o grupo, estimula-o, iguala-se a qualquer um dos elementos do grupo, é objetivo e orientador; estimula o bem-estar e cria laços entre todos, resultando produtividade; • líder autoritário: esse tipo de líder é que determina as tarefas a executar, orienta o grupo sem a sua participação, dá instruções a cada elemento, não aceita sugestão, inexiste a relação de amizade, www.esab.edu.br 42 cria tensão, desmotivação e consequente frustração. O único objetivo é o lucro e a produção, • líder liberal: esse tipo de líder dá total liberdade aos liderados para tomar decisões. O grupo é que determina as tarefas a executar e que tarefas devem desempenhar. O líder só toma decisões em casos de extrema gravidade. Não há imposição de regras. Saiba mais Um importante assunto quando se discute organizações é a questão da liderança. Isso porque, como já vimos, uma organização é um conjunto de pessoas reunidas para o alcance de objetivos comuns. Nessa busca, a figura do gerente/líder é indispensável. Assim, dada a importância do tema e para saber mais sobre liderança clique aqui. www.esab.edu.br 43 10 Tipologia das organizações: conflito entre indivíduo e sociedade Objetivo Estudar os tipos de conflitos existentes nas organizações. Que tal iniciarmos esta unidade fazendo uma viagem no tempo? Por volta de 10.000 a 8.000 a.C., inicia-se a prática do escambo. Na Mesopotâmia e no Egito, agrupamentos humanos que desenvolviam atividades extrativistas faziam uma transição para atividades de cultivo agrícola e pastoreio. Nesse período, surgiram as primeiras aldeias, marcando a mudança da economia de subsistência para a produção rural e a divisão social do trabalho. Em meio a essas transformações, surgiu a necessidade de habilidades gerenciais como forma de minimizar os conflitos inerentes e essas formas de interação social. Esses conflitos estão ligados aos objetivos almejados que conduzem à competição e à divergência. Bernardes e Marcondes (2006) nos explicam que, havendo convergência, pode haver conflito em função das possibilidades de desacordo em relação aos meios para se alcançar determinados fins. Os mesmos autores (2006) salientam que a administração em seus primórdios via o conflito como uma disfunção que deveria ser evitada. Com o passar dos tempos, o conflito passou a ser considerado até benéfico por ser estimulador de mudanças nas organizações. Contudo, destacam que o conflito tem tanto um lado positivo quanto um lado negativo que precisam ser administrados para refletirem um efeito sempre positivo no âmbito das organizações. Assim, Bernardes e www.esab.edu.br 44 Marcondes (2006) mencionam os efeitos desagregadores e integradores do conflito, como segue: a. efeitos desagregadores do conflito: • aumento do ressentimento pessoal e entre grupos; •destruição dos oponentes com prejuízos recíprocos; • inibição dos canais de cooperação; • desvio das metas de produção para as de retaliação. b. efeitos integradores do conflito: • provocam a solução de questões pendentes; • conduzem à resolução das questões; • aumentam a coesão grupal; • levam a alianças com outros grupos; • mantêm os grupos alertados para os interesses de seus membros. Diante disso, partiremos para uma visão sociológica do conflito trazida pelos autores Bernardes e Marcondes (2006). O conflito, a partir dessa perspectiva, é considerado um fenômeno externo e decorrente das interações entre os indivíduos e grupos na forma de comportamentos. No âmbito das empresas, o conflito pode ser visto como desacordo, que é influenciado por variáveis culturais, tais como: • tecnologia: designa os resultados obtidos (bens ou serviços prestados), os processos utilizados (manuais, mecânicos, automatizados etc.) e os insumos necessários (máquinas, mão de obra, conhecimentos, habilidades, tempo etc.); • preceitos: designa o conjunto de normas de procedimentos, de organização e de relacionamento e posições ocupadas pelos participantes nos vários agrupamentos, crenças e valores partilhados pelos membros dos grupos sociais; • sentimentos: designa a manifestação de emoções decorrentes de execução de atividades (causadoras de satisfação, alienação etc.), obediência a normas de procedimentos e organização (que determina posições hierárquicas e consequentemente medo, inveja e raiva) e relacionamentos sociais (geradores de simpatias, admiração, desprezo etc.). www.esab.edu.br 45 Essa classificação se mostra interessante por servir de base para o gerenciamento dos conflitos organizacionais. Isso porque os conflitos decorrentes da tecnologia podem ter maior facilidade de resolução por meio da discussão racional dos pontos divergentes. Já os provocados pelo componente preceitos exigem até mudanças culturais para a sua solução, pois decorrem do dissenso quanto a crenças e valores interiorizados na família e sociedade e, por isso, obviamente difíceis de acomodação. Finalmente, os induzidos por sentimentos são os mais dificultosos de resolução por serem motivados por fatores inatos e aprendidos na primeira infância (BERNARDES; MARCONDES, 2006). 10.1 A gestão dos conflitos organizacionais Vimos nesta unidade que nos primórdios da administração o conflito era visto de forma negativa e como algo que deveria ser evitado. Com o tempo, essa visão mudou e hoje o conflito é visto como algo benéfico e impulsionador de mudanças na organização. Diante dessa nova perspectiva sobre o conflito, surge a necessidade da sua gestão. Os efeitos desagregadores e integradores do conflito podem lhe auxiliar no futuro, por exemplo, no papel de administrador para gerenciar os conflitos com a intenção de manter as divergências nos limites dos efeitos integradores. Bernardes e Marcondes (2006) nos sugerem a observação das medidas preventivas para evitar a ocorrência de conflitos desagregadores e a corretiva para quando o conflito já estiver se instalado. Vamos conhecê-las? a. Medidas preventivas: em princípio, seu objetivo é fazer com que as metas se tornem convergentes. Isso não é fácil devido à cultura reinante em instituições que impõem acima de tudo muita competição interna, visando à acepção na carreira via promoção gerencial e não por especialização. Tal situação só pode ser modificada se o administrador encontrar-se na cúpula e dispuser de poder para esmagar as resistências, principalmente de seus pares. www.esab.edu.br 46 b. Medidas corretivas: o primeiro passo é reconhecer a existência do conflito entre os grupos, por exemplo, entre os operários e a direção durante uma greve; e o segundo é identificar o peso de cada uma das três variáveis culturais, o que dará uma ideia da dificuldade de chegar a uma solução. Essa pode ser alcançada de três formas: • negociação: consiste no processo segundo o qual conflitantes sentam-se à mesa de negociação, objetivando um acordo que beneficie ambas as partes. Isso deveria ser feito na própria organização, mas geralmente já vão para as Juntas de Conciliação e Julgamento na Justiça do Trabalho. É sabidamente uma forma de pouco sucesso; • mediação: falhando a negociação, resta solicitar a um terceiro que intervenha no sentido de restabelecer a comunicação e fornecer alternativas que venham a atender aos interesses dos grupos em litígio. Tal função caberia à Justiça do Trabalho, como terceira parte e isenta de ânimo; • arbitragem: é o passo dado quando os anteriores falham. Consiste em atribuir a um terceiro a decisão, dando ganho de causa a um e a derrota ao outro. Essa forma sempre deixará sequelas, pois o grupo perdedor nunca aceitará a derrota, voltando a entrar em desacordo com o oponente assim que tiver oportunidade. Muito bem, agora que já estudamos sobre o conflito entre indivíduo e sociedade, podemos partir agora para a próxima etapa! Tarefa dissertativa Caro estudante, convidamos você a acessar o Ambiente Virtual de Aprendizagem e realizar a tarefa dissertativa. www.esab.edu.br 47 11 Organizações modernas: as organizações e a vida moderna Objetivo Compreender a importância e a centralidade das organizações modernas nas vidas das pessoas. Você já parou para pensar sobre as grandes mudanças que ocorreram nos últimos 100 anos? Você sabia que nos últimos 50 anos o mundo mudou muito mais do que nos últimos 500 anos? Isso mesmo! As mais fantásticas inovações que hoje fazem parte do nosso cotidiano nasceram há menos de 100 anos. Um exemplo disso é o que se chama de nanotecnologia, que é a tecnologia utilizada para manipular estruturas moleculares ou atômicas infinitamente pequenas, tornando possível a criação de produtos até então inconcebíveis com a tecnologia convencional, tais como os microchips. E o que esses acontecimentos têm em comum? O solo comum em que são desenvolvidas essas invenções são as organizações modernas. Figura 1 – Microchip. Fonte: <http://www.cienciaviva.org.br/>. Agora, vamos lembrar um pouco como era a vida antigamente, e nesse recordar, seguiremos Giddens (2005). Provavelmente, você já ouviu falar que houve um tempo em que todos nós nascíamos em nossas casas. As mulheres em trabalho de parto não dispunham de outros recursos www.esab.edu.br 48 que não aqueles que a comunidade pudesse oferecer. E, isso não faz tanto tempo assim, basta dizer que na década de 1950 a maioria das pessoas ainda nascia em suas próprias casas, e a parteira continuava desempenhando um papel importante. Entretanto, isso mudou. Atualmente é mais comum as mulheres darem a luz em um hospital. Um hospital moderno é um bom exemplo de organização. Aqui, vale lembrar que uma organização é um grande agrupamento de pessoas que se reúnem para alcançar objetivos específicos. Logo, no caso do hospital, tais objetivos são a cura de doenças e o oferecimento de outras formas de atenção médica. Atualmente, as organizações desempenham um papel bem mais importante em nosso cotidiano do que jamais se verificou anteriormente (GIDDENS, 2005). Ora, cada vez que utiliza o telefone, abre a torneira ou entra no carro, você está em contato com as organizações. Como Giddens (2005) destaca, faz-se necessário lembrar que, durante a maior parte da história da humanidade, antes do nível de desenvolvimento organizacional assumir as proporções atuais, as pessoas não podiam contar com aspectos da vida que agora fazem parte do cotidiano. Por exemplo, cerca de um século atrás, poucas casas estavam equipadas com o fornecimento regular de água encanada, e a maior parte da água consumida era poluída, sendo responsável por numerosas doenças e epidemias. Mesmo nos dias de hoje, em vastas regiões do mundo em desenvolvimento,
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