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Sumário 1. Introdução ............................................................................................................... 4 2. Autores .................................................................................................................... 6 2.1 Karl Popper ......................................................................................................... 6 2.2 Thomas Kuhn ...................................................................................................... 8 2.3 Imre Lakatos ..................................................................................................... 10 2.4 Larry Laudan .................................................................................................... 12 2.5 Gaston Bachelard .............................................................................................. 15 2.6 Stephen Toulmin ............................................................................................... 16 2.7 Paul Feyerabend ................................................................................................ 18 2.8 Humberto Maturana ......................................................................................... 21 2.9 Mario Bunge ...................................................................................................... 24 3. Conclusão ............................................................................................................. 30 4. Referências Bibliográficas .................................................................................... 31 4 1. Introdução Primeiramente precisamos compreender alguns conceitos que ao longo do trabalho serão mencionados pela visão dos filósofos. O conhecimento é provado, ou seja, baseasse nas coisas que podemos comprovar. A indução generaliza os dados das observações. Se todos os objetos ou situações observadas em algum determinado tempo forem as mesmas, logo o indutivista acredita que todos os objetos ou situações seriam iguais. Porém, ainda é discutido como se justificar esse princípio. A base do indutivista para suas análises é não tirar conclusões antes de terminar sua observação. Esperou até recolher um grande número de observações do fato de que era alimentado ás 9 da manhã, e fez essas observações sob uma ampla variedade de circunstâncias, ás quartas e quintas-feiras, em dias quentes e frios, em dias chuvosos e dias secos. A cada dia acrescentava uma outra proposição de observação à sua lista. Finalmente, sua consciência indutivista ficou satisfeita e ele levou a cabo uma inferência indutiva para concluir. ‘’Eu sou alimentado sempre as 9 da manhã’’. Mas, ai de mim, essa conclusão demonstrou ser falsa, de modo inequívoco quando na véspera de Natal, ao invés de ser alimentado, ele foi degolado. (CHALMERS, 1993). O autor traz a história do peru, que relata bem o problema que os indutivistas ainda encontram para justificar sua lógica, pois ao concluir sua pesquisa, não temos a garantia de sua conclusão ser a verdadeira, por hora se torna, porem corre o risco de ter outra conclusão não esperada. Não podemos afirmar que todas as observações tenham o resultado verdadeiro, e sim, um resultado ‘provavelmente verdadeiro’, ou seja, não importa quantas vezes observamos o mesmo objeto, a mesma situação, um fenômeno, não podemos dizer que o que observamos terá uma conclusão cem por centro certa. Nos exemplos anteriores tiramos conclusões que no final não eram verdadeiras as análises feitas antes. Nem tudo podemos concluir da mesma forma. Outro exemplo claro que o autor traz é: ‘‘O sol vai se pôr todos os dias. (De fato, no Ártico e na Antártida, há dias em que o Sol não se pões). ’’ (CHALMERS, 1993) 5 Entendo que a indução não poderia ter uma conclusão generalizando tudo, pois como vimos, nem sempre o que observamos poderá servir para tudo, alguns fatos ao decorrer dos anos poderão modificar os resultados observados hoje. Acredito também que a indução pode ser aplicada nas observações de que um fato observado tem uma conclusão positiva, como o exemplo de Hume, observar que o Sol nascerá hoje, e não concluir que o Sol sempre nascerá. O relativista acredita, que um cientista carrega conhecimento e esses conhecimentos não poderá ser esquecido ao julgar uma teoria como verdadeira ou não. Cada um possui um ponto de vista e assim, nem todos os indivíduos concordam com as mesmas coisas. Nega o caráter único de se avaliar uma teoria, para ele as decisões são feitas pelos indivíduos ou a comunidade dando valor. Já o racionalista, característica importante é a universalidade e seu caráter não- histórico. Diferenciando o racionalista em extremado, “afirma que há um critério único, atemporal e universal com referências ao qual se podem avaliar os méritos relativos de teorias rivais. ” (CHALMERS, 1993), o racional, (quando sua teoria deixa de ser eficaz, ele procura entre as teorias rivais a que melhor corresponde a ele, seja ela qual for.), e o típico, (Se as teorias estão de acordo com os critérios universais ele entende que as mesmas podem ser verdadeiras, aproximadamente verdadeiras, ou provavelmente verdadeiras.). Com isso veremos a seguir os filósofos e suas visões das ciências e seus pontos de vistas. 6 2. Autores 2.1 Karl Popper Karl Popper nasceu em 1902 em Viena, tornando-se professor do ensino médio por vários anos. Em 1926, lecionou lógica e método científico em alguns cursos de economia, concluiu seu doutorado em filosofia em 1928. Tornou-se professor de filosofia na universidade de Canterbury. Entre os seus temas centrais estão o critério de demarcação, conjecturas e refutações e o falsacionismo nas ciências. “Não me considero especialista nem em ciência nem em filosofia. Tenho, contudo, tentado com afinco, durante toda a minha vida, compreender alguma coisa acerca do mundo em que vivemos. O conhecimento científico e a racionalidade humana que o produz são, em meu entender, sempre falíveis ou sujeitos a erro. Mas são também, creio, o orgulho da humanidade. Pois o homem é, tanto quanto sei, a única coisa no universo que tenta entendê-lo. Espero que continuemos a fazê-lo e que estejamos também cientes das severas limitações de todas as nossas intervenções. “ (POPPER, apud GUTIERRE,2012) Por muito tempo, discutia-se o critério de demarcação do que é ou não ciência. Com objetivo de distinguirem o que seria ciência de fato e o que seria opinião. O que se sabia era que a ciência buscava a verdade acima de tudo, porém, precisava-se distinguir então o saber contingente, onde expressa a opinião, e o saber necessário que constituía o objeto do discurso científico, pois o único discurso que satisfazia as exigências era mostrando nos fenômenos conexões casuais onde os mesmos poderiam ser demonstrados, ou seja, utilizavam como critério de demarcação a verificabilidade. “Assim, a partir da crítica e do diálogo com os integrantes do Círculo de Viena, Popper tentou superar o problema da distinção entre ciência, nos termos em que este foi colocado por Aristóteles, ou seja, na forma de um receituário para se evitar o erro, além de se posicionar radicalmente contra a postura indutivista. “ (SCHMIDT, P.; SANTOS, J. L, 2007, p.4). Seu critério abrange que “ Um enunciado ou teoria é falsificável, segundo o meu critério, se e só se existir, pelo menos um falsificador potencial” (POPPER, 1987, 7 apud SILVEIRA, 1994, p. 206).Ou seja, quando um enunciado possuir a descrição de um fato, porém ir contra a teoria. Para Popper, todo conhecimento é provisório refutável e corrigido. Sua visão de racionalista afirma que todas as teorias podem sim ter erros e os mesmos podem ser solucionados e não abandonados. Seu objetivo não é comprovar uma teoria e sim saber quando a mesma está errada e como proceder quando acontecer. “Pode-se dizer, resumidamente, que o critério que define o “status” científico de uma teoria é sua capacidade de ser refutada ou testada” (MOREIRA, 2016, P. 8) Afirma então que a solução da demarcação é utilizar o critério da refutabilidade ou testabilidade para distinguir entre teorias científicas e não científicas. Resume-se então o falsacionista na visão de Popper: A ciência começa com problemas, problemas estes associados à explicação do comportamento de alguns aspectos do mundo ou universo. Hipóteses falsificáveis são propostas pelos cientistas como soluções para o problema. As hipóteses conjeturadas são então criticadas e testadas. Algumas serão rapidamente eliminadas. Outras podem se revelar mais bem-sucedidas. Estas devem ser submetidas a críticas e testes ainda mais rigorosos. Quando uma hipótese que passou por uma ampla gama de testes rigorosos com sucesso é eventualmente falsificada, um novo problema, auspiciosamente bem distante do problema original resolvido, emergiu. Este novo problema pede a invenção de novas hipóteses, seguindo-se a crítica e testes renovados. E, assim, o processo continua indefinidamente (CHALMERS, 1999, apud MOREIRA, 2016, p. 9). 8 2.2 Thomas Kuhn Físico e filosofo, Thomas Kuhn nasceu em 1922 em Cincinnat, Estados Unidos. Formou-se então em física na universidade de Harvard, onde obteve seu mestrado 1946 e doutorado 1949, ambas em física. Tornou-se professor na universidade, lecionando a disciplina de ciências, com isso, por ter que estudar a história da ciência, Kuhn então desenvolveu sua obra. Lecionou também em outras universidades renomadas na Califórnia, Princeton e no Instituto de tecnologia de Massachusetts onde finalizou sua carreira ao falecer em 1996. Sua epistemologia possui conceitos como paradigma, ciência normal, revolução científica, e a incomensurabilidade. Anteriormente a sua visão, a ciência era vista como uma ciência neutra, onde se dava por indução, era acumulativa e linear e que seu conhecimento obtido era definitivo. Porem na visão de Kuhn, a ciência não era neutra, ou seja, antecedida por teorias, os cientistas ao observar já possuíam conhecimentos de algumas teorias e assim já levavam a pressupostos teóricos. Reconhecia que a ciência possuía um caráter construtivo. Kuhn afirma que a ciência segue um modelo de desenvolvimento baseado em ciência normal (período em que a ciência estava voltada apenas para um paradigma), surgindo então as revoluções científicas (ciência extraordinária, onde surge novos paradigmas e então tense a disputa de selecionar aquele que mais se completa nas explicações). A ciência normal, tem como objetivo forçar a natureza a se encaixar nos limites preestabelecidos dos paradigmas, a mesma não tem a função de descobrir novos fenômenos e espécies, quando um fenômeno não pode ser explicado por um paradigma em vigor o mesmo é esquecido, ignorado. Essa ciência nada mais é que um limite estabelecido pelos cientistas conservadores, ou seja, na visão de Kuhn, os cientistas devem se concentrar em resolver os fenômenos antigos com esses paradigmas e não criar novos. 9 Coloca então, que o critério de demarcação difere a ciência das outras pelo período de ciência normal. Onde utiliza como exemplo “a astronomia durante a Idade Média (Paradigma ptolomaico); a mecânica nos séculos XVIII e XIX (Paradigma newtoniano); a ótica no século XIX (paradigma ondulatório); a teoria da Relatividade no século XX (paradigma relativismo). ” (KUHN, 1978, apud OSTERMANN, 1996, p.188) Já a Revolução Científica, trata do período que os cientistas não conseguem mais explicar os fenômenos, porém os mesmos não podem ser deixados de lados, e assim surge as anomalias, o chamado período extraordinário. Com isso surge um novo paradigma e o mesmo, após ser aceito, torna permanente e assim volta a ciência normal. Com isso, ocorre a competição desses paradigmas pela aceitação dos cientistas mostrando visões diferenciadas de mundo. “Se novas teorias são chamadas para resolver as anomalias presentes na relação entre uma teoria existente e a natureza, então a nova teoria bem-sucedida deve permitir predições diferentes daquelas derivadas de sua predecessora. Essa diferença não poderia ocorrer se as duas teorias fossem logicamente compatíveis”. (OSTERMAM, 1996, P. 191). Nesse Sentido Kuhn emprega a expressão de incomensurabilidade de paradigmas. A ideia de Kuhn para a incomensurabilidade é que os padrões científicos utilizados em vigor são diferentes as definições de cada paradigma, ou seja, os padrões pré-estabelecidos e aceitos pela sociedade científica não serão os mesmos para definir um paradigma. 10 2.3 Imre Lakatos Lakatos nasceu em 1922-1974 em Debrecen Hungria. Graduou-se em matemática, física e filosofia na universidade de Debrecen em 1944. Obteve seu doutorado em filosofia em 1961 na universidade de Cambridge. Foi professor de filosofia e metodologia científica. Entre os seus temas centrais, podemos citar o programa de investigação, o núcleo central, heurística negativa e positiva e o cinturão protetor. Minha dívida pessoal com ele é imensa: mudou minha vida mais que nenhuma outra pessoa (...). Sua filosofia me ajudou a romper, de forma definitiva, com a perspectiva hegeliana que eu havia, retido durante quase vinte anos, e, o que é ainda mais importante, me forneceu um conjunto muito fértil de problemas, um autêntico programa de pesquisa" (Lakatos, 1989; p.180 apud SILVEIRA, 1996, p.219). Lakatos foi um seguidor de Popper, porém, tinha algumas crenças diferentes. Acreditava que uma teoria não era totalmente descartada só pelo fato de passarmos a ter outra que melhor justificava os fatos, e sim, que ambas poderiam ser uteis e se completassem. Ele também tenta justificar com a sua ‘’metodologia dos programas de pesquisas científicas’’ as críticas que Popper recebera por algumas teorias. A metodologia dos programas de pesquisa científica A própria ciência como um todo pode ser considerada um imenso programa de pesquisa com a suprema regra heurística de Popper: 'arquitetar conjecturas que tenham maior conteúdo empírico do que as suas predecessoras' " (Lakatos, 1979; p.162 apud SILVEIRA, 1996, p.220). Acreditava que uma teoria não estaria sozinha, e sim, cada uma estaria interligada, sendo ela progressiva (o cientista obtém novos resultados) e regressivas (o cientista não consegue mais adquirir novos resultados). Assim torna a visão da ciência como a história dos programas de pesquisas e não das teorias isoladas. O programa de pesquisa de Lakatos consistia em um núcleo firme e o cinturão protetor, onde o mesmo afirmava que o núcleo firme não se alterava, servia como base para as pesquisas, mesmo encontrando anomalias, essa teoria inicial se manteria. Já o 11 cinturão protetor, consiste nas teorias auxiliares, ou seja, a base se mantem e conforme a metodologia estabelecida para se estudar um objeto, poderíamos obter anomalias e com isso ocorrem novas transformações, novas hipóteses, porém, seu núcleo continua o mesmo. Todo programa de pesquisa precisa de rotas que indicam onde devemos seguir, denominadocomo heurística positiva que indica as alterações que devem ser feitas no cinturão protetor para superar as anomalias encontradas, e a rota que nos indica que não devemos prosseguir denominado de heurística negativas, essa, justifica que o núcleo firme não é alterado independente se o resultado for uma anomalia ou algum caso problemático. Neste caso justificasse as alterações no cinturão protetor. "A heurística positiva consiste num conjunto parcialmente articulado de sugestões ou palpites sobre como mudar e desenvolver as ' variantes refutáveis do programa de pesquisa, e sobre como modificar e sofisticar o cinto de proteção ' refutável ' " (Lakatos, 1979; p. 165 apud SILVEIRA, 1996, p.222). Lakatos diz que uma teoria não poderá ser abandonada se não houver outra que a supere: “O embate se dá entre, no mínimo, dois programas de pesquisa e os fatos; a superação de um programa por outro não acontece instantaneamente, constituindo-se em um processo temporalmente extenso” (MOREIRA, 2016). Defende então como lógica de pesquisa o que ele chama de falsacionismo metodológico de base evolutiva, onde se sobrevive as teorias mais apitas, ou seja, as que possuem mais informações, mais conteúdo para se sustentar. Utiliza esse método como demarcação de teorias científicas das não- cientificas. 12 2.4 Larry Laudan Americano, Laudan nasceu em 1945, obteve seu doutorado em física na universidade de Kansas e em filosofia na universidade de Princeton. Lecionou aulas de história e filosofia da ciência por muitos anos. Atualmente Laudan leciona em universidades mexicanas. Sua epistemologia se destaca na resolução de problemas (empírico e conceituais), as tradições de pesquisas e as teorias científicas. Sua visão da ciência é pragmática, afirmando que a mesma precisa de teorias eficazes na resolução de problemas ou, um modelo cientifico por resoluções de problemas. Não podemos afirmar que a ciência tem se encaminhado para um caminho progressivo, pois não possuímos métodos de comprovar se a ciência está avançando ou não, mas podemos dizer que avançamos as teorias as tornando cada vez mais comprovadas com aplicações práticas e com isso, podemos realizar fatos novos. Ao propor um modelo voltado para a resolução de problemas, sejam eles empíricos ou conceituais, acredita-se que os mesmos sejam a unidade básica do progresso científico. O objetivo da ciência seria então, ampliar ao máximo o leque de problemas empíricos resolvidos, reduzindo em contrapartida a quantidade de problemas anômalos e conceituais. Então, a ciência não é algo racional, mas complexa e diacrônica, pois se encontra submetida a eventuais mudanças e transformações ao longo dos tempos (LAUDAN, 1986). Os problemas empíricos são aqueles voltados para o mundo natural, ou seja, problemas reais, porém, estranhas que precisem de soluções práticas e aceitáveis de imediato. “Esses problemas reais se diferenciam dos fatos, os quais são designados como enunciados verdadeiros sobre o mundo, e que muitas vezes não remetem a um problema empírico porque são desconhecidos” (OSTERMANN e PRADO, 2005 apud BOCATO, 2013, P. 7) Dividem-se em três tipos: o Problemas não resolvidos: não possui soluções adequadas, ou seja, não possui teorias que solucionem os mesmos. 13 o Problemas Resolvidos: Os que possuem teorias que possam satisfazer a solução dos fenômenos estudados. o Problemas Anômalos: São aqueles problemas que não conseguem ser resolvidos por teorias em questão, porem podem ser solucionados por teorias rivais ou alternativas. Se entende então, que só se tem o progresso se os problemas apresentados de alguma forma forem resolvidos. Já os problemas conceituais, sendo representados por uma teoria, possui dois problemas conceituais: o Problemas Internos: Quando o cientista não pode mais prosseguir com a teoria pois a mesma se autocontradiz, passando a ter conceitos que não conseguem justificar os fenômenos. o Problemas Externos: Quando surge outra teoria que explique melhor os acontecimentos. Ou quando outra teoria possui melhor argumentação. O que Laudan afirma então, é que a ciência se faz com os problemas que a mesma cria, ou seja, com a solução de problemas empíricos e com menos problemas conceituais. Precisa-se solucionar todos os problemas com as teorias e não ter problemas entre essas teorias. Acredita também que o progresso ocorra com as tradições de investigação Uma tradição de investigação é um conjunto de supostos gerais acerca das entidades e processos de um âmbito de estudo, e acerca dos métodos apropriados que devem ser utilizados para investigar os problemas e construir teorias deste domínio (ibid, p.116 apud MOREIRA, 2016, P. 22). As tradições de investigação são colocadas como um conjunto de teorias em evolução, as quais não podem ser analisadas fora do seu contexto histórico. Apresenta essencialmente duas características importantes, uma metodológica e outra ontológica. o Função Metodológica: Grupo de regras onde fala o que se pode ou não fazer em uma determinada área. o Função Ontológica: Diz respeito ao objeto, ou seja, se possui métodos legítimos e ilegítimos, existe também objetos e fenômenos legítimos e ilegítimos. 14 Sendo então, trabalhados nas tradições o caminho que o cientista leva para criar sua teoria. Tais considerações remetem ao fato de que o núcleo firme, porém passível de modificações, pode alterar-se de forma totalmente diferente das características originais, sendo que, tais progressos ou degradações são necessários para o avanço científico. Neste sentido as teorias evoluem por aceitação, utilização, degeneração ou mesmo progressividade (LAUDAN, 1986). 15 2.5 Gaston Bachelard Bachelard nasceu em Bar-Sur-Aube na região da Champaigne em 1884- 1962 na França. Trabalhou desde novo e conciliava os seus estudos. Obteve licenciatura em Matemática em 1912, porém teve seus estudos interrompidos pela convocação no exército. Ao voltar a Bar-Sur-Aube, lecionou física e química no ensino secundário. Iniciou seu curso de filosofia aos 35 anos. Concluiu seu doutorado defendendo então sua tese “Um ensaio sobre o conhecimento aproximado” em 1920. Iniciou então a lecionar na universidade Faculté des Lettres em Dijon Paris, ensinando história e filosofia das ciências. Sua epistemologia trás em questão os conceitos dos obstáculos epistemológicos, pois afirma que os mesmos impedem o crescimento científico, ou seja, todo cientista deveria deixar de lado hábitos e pensamentos para assim alcançar o espírito cientifico. Esses obstáculos não se referem a elementos ou fatores externos e sim, estão se referindo a dificuldade de captar o acontecimento ou fenômeno devido ás condições epistemológicas que impedem o desenvolvimento científico. Bachelard destaca alguns desses obstáculos. Fala então, do primeiro obstáculo, experiência imediata, que nos faz colocar a experiência acima da crítica, ou seja, faz que toda a experiência vivida por nós se torna mais importante que o questionamento das dificuldades encontradas ao longo do seu caminho. Outro obstáculo, generalista, seria a generalização prematura da elaboração do conhecimento, ou seja, a tendência de tratar casos específicos como regras gerais. Acredita que o espírito científico deve ser aberto e disperso, ou seja, cada experiência e hipóteses são necessárias para se ter o pleno conhecimento. Pensar corretamente o real é aproveitar as suas ambiguidades para modificar e alertar o pensamento.Dialetizar o pensamento aumenta a garantia de criar cientificamente fenômenos completos, de regenerar as variáveis degeneradas ou suprimidas que a ciência, como o pensamento ingênuo, havia desprezado no seu primeiro estado (ibid., p.48 apud MOREIRA, 2016, P.28) 16 2.6 Stephen Toulmin Nascido em Londres em (1922- 2009), Toulmin graduou-se em matemática e física pelo King’s College. Obteve seu doutorado em filosofia na universidade de Cambridge. Atuou como professor dês da sua graduação, dando aula em universidades renomadas nos Estados Unidos. Sua visão epistemológica da visão do conhecimento científico visa uma nova teoria da compreensão humana, ou seja, para Toulmin, o ser humano conhece e também é consciente de que conhece, por isso vem crescendo novas ideias e discursões, porém, torna-se muito vastas. Propõe então, novos conceitos e mudanças conceitual baseados em novas explicações onde levem em conta os processos sócio histórico. A teoria do conhecimento para esse filósofo, não poderia se basear em princípios fixos e imutáveis, ou seja, o mundo em que conhecemos desde as primeiras tentativas de tentarmos entende-lo, estaria mudando, com isso, acreditava que para conseguir um bom entendimento deveríamos interagir com o humano atual, seus conhecimentos e incluir o mundo em que ele vive, criando assim, novos problemas que sejam atuais porem, com crenças e ideias sobre a natureza que já conhecemos. Como já mencionado, seu ponto chave para sua nova teoria são os conceitos e as mudanças conceituais. Toulmin caracteriza então, os conceitos coletivos em dois aspectos, a inovação, refere-se aos fatores que levam a tradição intelectual a avançar, e a seleção, aos fatores que levam a tradição intelectual coletiva a aceitar algumas inovações. É preciso entender então que os conceitos são ideias compartilhadas coletivamente e os pensamentos e crenças são ideias individuais. Trazendo então duas dimensões, sendo elas, a coletiva e a individual. Onde a coletiva, entende-se que são adquiridos conhecimentos através da nossa educação e da nossa cultura, com isso, acabam sendo reflexo do pensamento e da compreensão da sociedade onde cada indivíduo vive, ou seja, tudo que aprendemos, possuímos a capacidade de modicar e de inovar com o tempo esses conhecimentos. Toulmin acredita, que os problemas do século XX, baseiam-se no dilema do absolutista, que afirma que “a razão é por natureza igual para todos os homens” e o 17 relativista, que afirma que “padrões racionais dependem do contexto histórico”. Critica o programa de Kuhn, afirmando que a ciência não avança com revoluções científicas e, os cientistas não aderem paradigmas por questões dogmáticas. Porém, concorda com Kuhn na crítica indutivista, onde entende que a mesma não pode aderir conclusões profundas de fatos tão abrangentes. Compara a evolução das espécies de Darwin com o desenvolvimento conceitual. Pois nem todos os conhecimentos são transmitidos para as gerações seguintes. Essa explicação evolutiva dos conceitos caracteriza, de um lado, a continuidade e coerência de disciplinas separadas e identificadas por diferentes atividades intelectuais dos seres humanos e, de outro, um estado de profundas mudanças a longo prazo pelas quais as disciplinas se transformam ou são superadas. (MOREIRA, 2016, P. 32) Sendo essas disciplinas, empresas racionais, onde conseguem reunir grupos de pessoas com mesmos interesses, sendo eles, o objeto de estudo, métodos e objetivos. Podemos usar como exemplo a Física Atômica – “O que mantém esses homens unidos em sua profissão comum é seu interesse compartilhado por preocupações próprias da física atômica, mediante alguma outra prova. ” (MOREIRA, 2016, P32). Através dessas disciplinas, busca-se sempre o crescimento e a melhor explicação dos fenômenos. Os problemas conceituais estão sempre surgindo, pois, nossas ideias de mundo variam constantemente, contudo, como colocar a natureza como o problema, se nossas ideias se associam com as nossas ambições e intelectualidade. Toulmin assevera que devemos abandonar o pressuposto de que a compreensão humana opera necessária e universalmente de acordo com princípios fixos. Esta postura inverte o ponto de prova. Antes a mudança conceitual era o fenômeno que devia ser explicado dentro de um cenário de imutabilidade intelectual; agora o fluxo intelectual é esperado e tudo o que é contínuo, estável ou universal se converte no fenômeno que exige explicação. A regra é a variabilidade conceitual. (MOREIRA, 2016, P. 34) 18 2.7 Paul Feyerabend Feyerabend filósofo austríaco, nascido em Viena, em 1924, viveu nos EUA e na Europa. Serviu no exército militar, e em 1946, após ser atingido na coluna, passou a utilizar muletas até o final de sua vida em 1994. Após o ocorrido voltou a Viena para assim dar continuidade a seus estudos. Estudou história e filosofia e obteve doutorado em física em 1951. Estudou em Cambridge como orientado de Karl Popper em 1952. Mesmo achando Popper um físico renomado, Feyerabend não concordava com som suas ideias. Passou a lecionar na Universidade de Bristol com o curso de filosofia da ciência. Sua obra de grande destaque chama-se “Contra o Método”, onde seus principais conceitos são, o anarquismo epistemológico, o pluralismo metodológico, contra-regra, contra-indução, e o vale tudo. Anarquismo Epistemológico A ciência é um empreendimento essencialmente anárquico: o anarquismo teorético é mais humanitário e mais suscetível de estimular o progresso do que suas alternativas representadas por ordem e lei. (FEYERABEND, 1977, P. 19) Primeiramente devemos esclarecer o que se entende por “anarquismo epistemológico”. Sendo assim, “Anarquismo” significa tudo aquilo que possa ser contrário às normas e aos costumes pré-estabelecidos. Porém na sua visão, Feyerabend não se opõe as metodologias e sim no fato de serem regidas por regras únicas, ou seja, nas regras universais. Não acredita que exista “o” método e sim métodos que possam ser utilizados de formas diferentes para várias situações. Sendo assim, o anarquista epistemológico defende sua visão tal qual o anarquista político e o religioso. Acredita que o mundo, descrito pela ciência, possui realidades mais profundas, e as mesmas possam ser vistas de maneiras diferentes. Se o mundo que queremos explorar, sendo desconhecido, não podemos restringir nossas opções de pesquisa diretamente, devemos, por contrário, deixá-las em aberto. 19 Com tudo, se autodenominou anarquista, pois sua proposta de modelo do conhecimento permite que o profissional desenvolva livremente suas pesquisas. Afirma então que para desenvolver o conhecimento Tudo Vale. (FEYERABEND, 2007). Seu pressuposto admite que o fenômeno estuado e seu compreendimento são ideias corretas de um único processo, e não possui fatos ruins. Estamos sempre a sujeito de relevar nossos conhecimentos filosóficos e histórico-cultural. O conhecimento ... não é um gradual aproximar-se da verdade. É, antes, um oceano de alternativas mutuamente incompatíveis (e, talvez, até mesmo incomensuráveis), onde cada teoria singular, cada conto de fadas, cada mito que seja parte do todo força as demais partes a manterem articulação maior, fazendo com que todas concorram, através desse processo de competição, para o desenvolvimento de nossa consciência. Nada é jamais definitivo, nenhuma forma de ver pode ser omitida de uma explicação abrangente. (FEYERABEND, 1977, P.40-41, apud REGNER, 1996, P. 236) Vale Tudo Feyerabend defende que nenhuma das metodologias propostas foram bem- sucedidas até agora,pois como iriamos explicar a ciência com base em algumas regras metodológicas simples. Vale tudo não é um princípio que eu defendo – eu não acredito que princípios possam ser usados ou discutidos eficientemente fora da situação concreta de pesquisa à qual eles devem supostamente ser aplicados – mas a exclamação horrorizada do racionalista que olhar a história mais de perto. (Feyerabend, 1993, apud PRESTON, 1997, p. 172) Sua proposta nunca foi de postular princípios metodológicos, mas sim, mostrar a maneira que a ciência se deu através de sua história. Não podemos afirmar que existe uma desordem na ciência, mas podemos dizer, que existe uma busca constante de regras para solucionar teorias, observações e hipóteses. Defende o princípio da contra-indução, que seria o procedimento que se opõe as regras do racionalismo, pela possibilidade de êxito por dois motivos: 20 o Precisa-se sempre ampliar os conhecimentos para podermos ter novas concepções, possuir novas alternativas, e assim comparar ideias novas das antigas. o As teorias não estão em harmonias com todos os fatos conhecidos no seu campo de domínio. Acredita que o homem não pode conhecer o mundo apenas com suas próprias avaliações e sim, necessita de opiniões externas para conseguir um bom entendimento dos fatos. Com tudo, Feyerabend é a favor a contra-regra, que leva o indivíduo introduzir hipóteses que vão contra as teorias aceitas. Critica o que denominou de condição de coerência, que leva o cientista a adequar suas hipóteses novas as teorias antigas. Na visão de Feyerabend a condição de coerência, impede os cientistas a criarem novas hipóteses, e assim serem forçados a utilizarem métodos antigos e não novos para solucionar novos fatos. Contudo, denominou o princípio da autonomia. Afirmando que os cientistas devem comparar suas teorias com outras, adotarem métodos diferentes se for preciso ao invés de abandonar suas teorias, surgindo assim o processo de competição. O pluralismo das teorias e das doutrinas metafísicas não é apenas importante para a metodologia; também é parte essencial da concepção humanitária. Educadores e progressistas têm sempre tentado desenvolver a individualidade de seus discípulos, para assegurar que frutifiquem os talentos e convicções particulares e, por vezes, únicos que uma criança possua... Os argumentos em prol da pluralidade evidenciam que ... é possível conservar o que mereceria o nome de liberdade de criação artística e usá-la amplamente não apenas como trilha de fuga, mas como elemento necessário para descobrir e, talvez, alterar os traços do mundo que nos rodeia (op. cit., apud MOREIRA, 2016, p. 37). “Contudo, Feyerabend entende que só é possível alcançar o progresso da ciência se a diferença entre o ser e o dever ser não for encarada como linha divisória fundamental, assim como a distinção entre observação e teoria, pois, a experiência sem a teoria é tão incompreensível quanto teoria sem a experiência. “(MOREIRA, 2016, P.38). 21 2.8 Humberto Maturana Biólogo, nascido em 1928, Santiago (chile). Obteve PH.D. em biologia na universidade de Harvard, e trabalhou em neurofisiologia no M.I.T. Atualmente atua como professor no departamento de biologia da universidade do Chile desde 1960. Interessou-se por filosofia, antropologia, anatomia, genética e cardiologia. Sua obra de maior destaque chama-se Cognição, Ciência e vida cotidiana, sendo seu principal conceito a Autopoiese. Maturana procura explicar o fenômeno do conhecer a partir do Conhecedor/ Observador, ou seja, suas experiências, e pela abordagem de cunho biológico, conhecida como a teoria da Autopoiese. o Autopoiese: voltado para a capacidade que os seres têm de se produzirem a si próprios, ou seja, o sistema de ser vivo tem a capacidade de se manter sozinho sem a ajuda do meio externo, o sistema pode se manter vivo sem precisar de alguém ou alguma coisa para ajudar. É uma explicação do que é o viver e, ao mesmo tempo, uma explicação da fenomenologia observada no constante vir a ser dos seres vivos no domínio de sua existência. Enquanto uma reflexão sobre nossa experiência com os outros na linguagem, é também uma reflexão sobre as relações humanas em geral, e sobre a linguagem e a cognição em particular. (MATURANA, 2001. P.13, apud MOREIRA, 2004, P. 597) Sustenta que a linguagem se fundamenta nas emoções e é a base para a convivência humana, ou seja, as emoções e as experiências do observador são validas para relatar um fato. O pesquisador com a paixão de pesquisar consegue assim, relatar os fatos do observado, se ele não tem essa paixão não teria um motivo para pesquisar. Sendo assim, para Maturana, um fato relatado tem que ser vivido pelo observador, pois só assim, se adquire conhecimento e para ser aceito não precisa de tantas regras, apenas tem que ser aceito por alguém. O conhecimento é uma apreciação de um observador sobre a conduta do outro, que pode ser ele mesmo. No momento em que se vê isto dessa forma, por um lado, descobre-se que o conhecimento é sempre adquirido na convivência. Descobre-se que se aprende a ser de uma ou 22 outra forma na convivência com os outros seres humanos. Por outro lado, descobre-se que o conhecimento tem a ver com as ações. (MATURANA, 2001, P.123 apud MOREIRA, 2016, P. 41). Sua ideia central procura explicar o conhecedor, pois explicando o conhecedor conseguiremos explicar o conhecer, com isso, usamos como ponto de partida a experiência do observador e o observar. Denomina então o homem como uma máquina autopoética, capas de se correlacionar internamente produzindo sua própria organização através da produção de seus próprios componentes. Porém Maturana afirma que o explicar é distinto da experiência, ou seja, quando você vive uma experiência sua explicação pelo acontecido não será de fato como ocorreu, e sim seria uma justificativa pelo ocorrido. O explicar é sempre uma reformulação da experiência que se explica. As explicações são sempre reformulações da experiência, mas nem toda reformulação da experiência é uma explicação. Uma explicação é uma reformulação da experiência aceita por um observador. (OP. Cit., p. 29 apud MOREIRA, 2004, p. 600) Maturana chama atenção no fato de que na experiência, a ilusão é indistinguível da percepção, ou seja, não conseguimos distinguir a verdade da ilusão. Podemos citar como exemplo, “quando ‘sentimos’ que nosso trem está partindo, mas na verdade estamos parados e o trem no trilho ao lado é que está em movimento. “ (MOREIRA, 2004, P. 599). Dois modos de aceitar explicações Objetividade sem Parênteses, o observador não precisa estar lá para que ela exista, é independente se tiver alguém. Fenômenos da natureza seria um exemplo. Cada observador pode observar e relatar de formas diferentes e todas elas são verdadeiras. Objetividade Entre Parênteses, cada observador tenta explicar e fazer com que os outros aceitem seu ponto de vista, porém, nem todos estão ou enxergam a mesma coisa, pois possuem experiências e emoções diferentes, então sua realidade não é aceita e mesmo assim, o observado desse observador não está errado, apenas não é compreendido por todos. Critério de validação das explicações Científicas 23 Na perspectiva científica, para Maturana existe quatro condições que devem satisfazer as explicações, sendo elas: o O Fenômeno: é a maneira que o observador deve fazer para poder relatar e observar o fenômeno em si, ou seja, como o observador vai poder analisar os fatos, quais materiais utilizar. o A hipótese explicativa: é a maneira que o observador relatao observado e quando posto a prática consegue gerar o fenômeno a ser explicado. o A dedução: é o conjunto de experiências que o observador carrega para poder realizar a experiência, ou seja, todo conhecimento que o observador possui e com isso necessita utilizar para poder analisar o novo fenômeno. o A realização da experiência: momento onde o observador coloca em prática o que foi observado. Com tudo, podemos afirmar que o conhecimento científico é sempre contínuo, que a paixão científica vem através da vontade de pesquisar, com isso, sempre pode-se ter novas perguntas e novos métodos explicativos aceitos por comunidades científicas. O critério de validação utilizados pelos cientistas, para Maturana, é o que define a ciência. 24 2.9 Mario Bunge Nascido em 1919 na cidade de Buenos Aires (Argentina), Mario Bunge estudou na universidade nacional de La Plata, onde graduou-se com PH.D. em ciências físico-matemática em 1952. Tornou-se professor na universidade dando aula de física teórica e filosofia, e na universidade de Buenos Aires. Atualmente atua como professor de lógica e metafísica na universidade McGil em Montreal. Em sua epistemologia, Bunge divide a ciência em três conceitos principais, sendo eles, a verificabilidade, modelo teórico e modelo conceitual. Bunge considera que a ciência nem sempre está em busca do conhecimento objetivo e com isso divide-a em duas partes, sendo ela: o Ciência Formal: Necessita da lógica formal, as que utilizamos como padrão, ou seja, formas abstratas que denominamos porem não enxergamos, como exemplo o número 3, onde conhecemos essa forma porem não a enxergamos. Incluem-se a lógica e a matemática. o Ciência Fática: É aquela ciência que está sempre mudando, ou seja, verifica hipóteses, se é ou não possível e seu final é improvável. Necessita do algo a mais para que suas hipóteses sejam aceitas como certas ou não. Afirma também, que a ciência possui um conhecimento de racionalidade, que “...é constituído por ideias que se vinculam entre si mediante regras lógicas e se organizam em sistemas (teorias). ” (BUNGE, 1972, apud CUPANI, 2002) e objetividade, “O conhecimento científico concorda aproximadamente com o objeto de estudos; que as ideias se adaptam em alguma medida aos fatos. (MOREIRA, 2016, p.45). Caracteriza o conhecimento científico através da verificabilidade, ou seja, na sua visão, é o modo, o método e a forma que os problemas científicos se apresentam e são colocados a provas. Todos os métodos precisam possuir procedimentos que ao gerar resultados sejam possíveis de ser refeitos através de quem quer que seja. O método Científico 25 Bunge questiona se existe um método que seria utilizado como padrão em pesquisas, ou seja, todos as pesquisas possuiriam um manual de como ser feita e todos passariam a utilizar sem exceção. Com isso afirma que jamais existiria tal método a menos que se modificasse radicalmente a definição de ciência. O método utilizado para pesquisa é apenas o caminho que passa a nos ajudar para que as novas descobertas sejam feitas. Tal método segundo Bunge estaria longe de ser uma receita. Modelos Científicos Bunge define como Modelo Conceitual ou Objeto-Modelo o modo de tentar dar forma e nome para objetos inexistentes, e no final comprovar a existência ou não do objeto em estudo. Se no final não tiver um resultado positivo esse modelo serve de exemplo para novas ideias e modelos. Logo define o modelo teórico como um aumento na complexidade da compreensão, ou seja, se adquire mais conceitos e explica com mais detalhes o objeto em análise. Quando suposições e dados especiais respeitantes a um corpo particular [objeto-modelo] são associados à mecânica clássica e à teoria clássica da gravitação [teorias gerais], produz-se uma teoria especial [modelo teórico] sobre esse corpo. Temos deste modo teorias lunares, teorias sobre Marte, teorias sobre Vênus, e assim por diante. (Bunge, 1973, p; 54, apud PIETROCOLA, P. 222) Pressuposições do conhecimento científico o Realismo Ontológico: Todas as pesquisas e ações implicam em nossas ações e nossos conhecimentos, pois sem isso não teríamos como criar teorias. o Determinismo Ontológico: Tudo tem um motivo de ter acontecido, nada surge do nada, sempre tem algo por trás dos acontecimentos. Aqui Bunge trata que não existe magia, nada desaparece ou surge do nada. Com tudo, Bunge assume um papel de racionalista, afirmando que a ciências naturais possui característica fundamental a verificabilidade. Afirma que a modelização é um “processo criativo do ser humano que encerra um aspecto idealizado de um pedaço da realidade, é uma eficaz de apreender a realidade” (MOREIRA, 2016, P. 47). 26 2.10 Ernest Mayr Biólogo alemã (1904- 2005), dedicou grande parte da sua carreira ao estudo da evolução, genética das populações e taxonomia. Obteve doutorado em zoologia com apenas 16 meses de formado. Sua epistemologia trata na afirmação de que cada ciência requer seu próprio método de pesquisa, com tudo, esses métodos nem sempre serão válidos ou eficaz para todos, tendo então um enfoque na biologia. Mayr afirmava que tal ciência seria independente, pois muitos conceitos de física não eram capazes de justificar a existência dos seres vivos. Com o surgimento da teoria de Darwis, “Evolução”, essa necessidade de transformar essa ciência em independente se tornou maior. Pois como iriam explicar que os seres vivos teriam origem de ancestrais, e dentre outros fatos e descobertas posteriormente. Mayr destaca quatro princípios básicos que assim sustentariam suas ideias de que a biologia não se encaixaria nos conceitos da física, sendo elas: o Essencialismo ou Tipologia: Não era aceitado grandes variedades de variações, ou seja, cada objeto da origem ao mesmo objeto exatamente iguais, sem podendo assim dizer ter variações entre eles. Usando um exemplo dos triângulos, ele só pode dar origem em outro triangulo e um retângulo só dá origem a outro triangulo e não sendo possível outra forma geométrica surgir nessa combinação. o Determinismo: Trata nas diversas possibilidades que o mundo dá, ou seja, se conhecermos todas as possibilidades de situações poderíamos assim saber o futuro eterno. o Reducionismo: Acreditava que a explicação para tudo estava no conhecimento das menores partes dos seres, objetos em estudo, ou seja, quando conhecemos a menor forma que funcionamento de um ser, sua célula, e como ela funciona, poderíamos assim saber tudo sobre seu funcionamento. 27 o Busca de leis naturais universais: A razão principal dessa menor importância das leis na formulação de teorias biológicas talvez seja o papel principal do acaso e da aleatoriedade em sistemas biológicos. Outras razões para o pequeno papel das leis são o caráter único de um alto percentual dos fenômenos em sistemas vivos e também a natureza histórica dos eventos. Com tudo, muitos cientistas não aceitaram essa divisão, pois a física era a base das explicações. Foram surgindo então novas hipóteses para explicar os problemas não solucionados desses seres. Surge assim o Vitalismo e a Teologia: o Vitalismo: Por não conseguir solucionar alguns problemas no estudo dos seres, naturalistas passaram a acreditar que os seres assim como o movimento dos planetas eram controlados por uma força oculta e invisível chamada gravidade, os seres também possuíam uma força que foi chamada de Vis Vitalis. E assim todos os problemas eram justificados por essa força oculta. o Teologia: Acreditavam em um mundo de duração longa ou eterna, mas com umatendência para o melhoramento ou a perfeição. Essa visão era aceita por diversas religiões, sendo representada pelo cristianismo que tinha ideias como a do milénio e da ressureição. Mayr foi então procurando e apresentando fatos que justifiquem essa independência, com isso afirma que a biologia se compõe em dois campos distintos, sendo eles: o Biologia Funcional: lida com a fisiologia de todas as atividades de organismos vivos, sobretudo com todos os processos celulares, onde podem ser explicados de maneira mecanicista por química e física. o Biologia Histórica: Trabalha com a parte histórica e evolucionista da biologia, ou seja, precisamos conhecer sua origem para podermos entender sua evolução. Um dos seus argumentos principais para tal independência é o surgimento de espécies e a extinção e outras. “Não há como explicar fenômenos únicos através de leis universais”. O último passo no desenvolvimento da autonomia da biologia foi a descoberta de vários conceitos ou princípios biológicos específicos. 28 o A complexidade dos sistemas vivos: Todo sistema biológico possui capacidades de se reproduzirem, possuem metabolismos, se regeneram, se adaptam, crescem e possuem organização hierárquica. Com isso são tão complexos que que existe no mundo inanimado, e não são aplicáveis para a física. o Evolução: Anteriormente se via o mundo como um planeta que não havia tido alteração desde a sua criação, porém, com os estudos dos seres vivos, pode-se perceber que nosso planeta e tudo que possui vida tem se alterando a cada ano. o Biopopulação: esse conceito é fundamental na diferença do mundo inanimado e do ser vivo, onde que no inanimado Platão afirma que suas classes possuem um representante idênticos e que as variações são consequência de acidentes, já nos seres, não existe iguais, ou seja, todos os seres vivos possuem características específicas, onde sé o mesmo tem. o Casualidade Dual: Processo puramente físicos, ou seja, leis naturais, que em associação com o acaso controlam por completo tudo o que acontece no mundo das ciências exatas. Contudo, a biologia precisava além de conceitos novos outros métodos de explicação, pois como explicar a extinção dos dinossauros sem poder experimentos e como explicar a origem dos seres humanos. Com isso foi-se criado um novo método heurístico, o Narrativas Históricas. o Narrativas Históricas: (...). Tal como na formulação de teorias o cientista começa com uma conjectura e testa exaustivamente sua validade, assim também na biologia evolucionista o cientista constrói uma narrativa histórica, que tem então seu valor explicativo testado. (Mayr, 2005, p.28). Reducionismo X Visão Holista Na abordagem reducionista, reflete em conhecer o ser em sua menor porção e passaríamos a intender seu funcionamento, porem para Mayr, mesmo se conhecermos os prótons, nêutrons, elétrons, mesmo assim não conseguiríamos a compreender a origem da vida. A visão holística trabalha com a interação de níveis superiores, ou seja, 29 mesmo sabendo todas as moléculas que compõem um órgão, mesmo assim não saberíamos como ele funcionaria. Com essa visão de que precisamos saber além da sua composição microscópica, o reducionismo foi deixando de ser eficaz para a biologia e as mais um fato de que essa ciência seria independendo surgia. A biologia organiza seus conhecimentos em estruturas conceituais e não em leis. Os conceitos possuem maior flexibilidade e aproveitamento heurístico. O progresso da ciência biológica consiste em grande medida no desenvolvimento de novos conceitos e princípios (classificação, seleção, evolução, espécie, taxa, descendência, aptidão, variedade, casualidade, etc.) e no permanente refinamento e articulação desses conceitos e, ocasionalmente, eliminação de conceitos errôneos. (Moreira, 2009,2016, p. 52) 30 3. Conclusão Podemos concluir então que ao passar dos anos, cada filósofo teve uma contribuição muito grande para a formação da nossa ciência. Cada ideia trabalhada e exposta de formas diferentes podemos ter uma visão mais ampla e assim questionar qual método poderia satisfazer melhor a nossa realidade de hoje em dia. Cada um com sua visão, proporcionou para a ciência uma forma diferenciada e mais aprofundada de enxergarmos os fenômenos. Tanto na visão científica de Kuhn, Lakatos, ambos físicos, que na sua visão estudaram a ciências voltada a física. Trabalhando conceitos que hoje utilizamos como metodologias universais. Todas as visões e os questionamentos estabelecidos por cada um, em determinados momentos foram satisfatórios, porém, como já dizia Feyerabend, não se pode ter um método único para se utilizar como base. Acredito como eles, que a ciência é muito ampla e que não podemos estabelecer metodologias únicas e irrefutáveis, pois o mundo muda, e os problemas mudam com ele, com isso, precisamos de novos métodos e novas metodologias que assim, possam solucionar esses problemas. 31 4. Referências Bibliográficas ARIZA, Rafael Porlán; HARRES, João Batista S.; A epistemologia evolucionista de Stephen Toulmin e o ensino de ciência; Lajeado, 2002 CHALMERS, A.F.; O que é ciência afinal?; Editora Brasiliense,1993 MAYR, CUPANI, Alberto; PIETROCOLA, Maurício; A relevância da epistemologia de Mario Bunge para o ensino de ciências; Florianópolis, 2002. 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