Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A concepção estrutural para um projeto arquitetônico é a primeira etapa para seu dimensionamento e por sua vez, parte inicialmente do partido adotado, no qual o arquiteto pretende desenvolver o programa de necessidades da edificação. Entretanto, conceber a estrutura depende de fatores inerentes a escolha do profissional projetista. O cliente, de acordo com seu orçamento e suas prioridades para execução, opta pelo sistema estrutural que melhor se encaixa nos seus parâmetros. Simultâneo a isso, o engenheiro calculista é o principal responsável para adoção do sistema que mais se adeque a proposta da construção. Conceber a estrutura é diferente de dimensiona-la. Portanto, apesar da responsabilidade final do engenheiro de detalhar a estrutura, e de determinar a viabilidade da mesma, cabe ao arquiteto a compreensão de quais materiais e técnicas mais se adaptem a forma criada por ele. Atualmente, o sistema estrutural mais difundido no Brasil é o em concreto armado. Esse sistema compreende 4 elementos principais. A fundação e a laje são os principais receptores diretos de carga, enquanto as vigas e os pilares são responsáveis pela transmissão das mesmas (figura 01). Figura 01: Esquema dos elementos estruturais. Fonte: Acervo pessoal dos autores, 2017. DICAS: *para as lajes maciças ou nervuradas bidirecionais não é necessário que as vigas sempre existam onde há paredes, pois as mesmas podem se apoiar nas lajes; *as vigas contam com dois tipos de apoios: os pilares e as próprias vigas; *os pilares devem estar posicionados de forma a apoiar as vigas e a sua distribuição começa de fora para dentro. Para conceber a estrutura, é necessário adotar-se recomendações de normas brasileiras. A norma vigente para concreto é a NBR 6118. A seguir, será realizado exemplo de lançamento e pré-dimensionamento do sistema estrutural, que confere a 2ª etapa do processo dimensional. Dados sobre o projeto: *Obra na cidade de Luís Correia, portanto, classe de agressividade ambiental III. Fonte: Norma Brasileira ABNT 6118, 2014. LANÇAMENTO DAS LAJES Considerações: Para adotar as lajes, analisa-se o pavimento superior, porque este é o responsável por conter a maior concentração de cargas, acarretando na pior situação para dimensionamento; Analisa-se então a presença de vazios (onde não tem laje); Verifica-se a possível disposição das vigas nos ambientes, e adota-se lajes onde as vigas não ficam expostas de forma a interferir na estética projetual; Obs.: no exemplo a seguir, a diferença de níveis nos ambientes foi considerada apenas como desnível de revestimento cerâmico, portanto, mesmo nivelamento nos ambientes. PRE-DIMENSIONAMENTO DAS LAJES De acordo com Pinheiro (2007), a dimensão das lajes é determinada conforme a seguinte fórmula: Sendo h a altura da laje e lx a dimensão do menor vão em cm. Observação: outros autores variam o valor 40, entre 36 e 38, entretanto neste trabalho se usará a pior situação de dimensionamento para maior segurança da estrutura. Desta maneira, tem-se os seguintes valores de cálculo: LAJE 01 h1 = 3,43cm LAJE 02 h2 = 8,625cm LAJE 03 h3 = 8,75cm LAJE 04 h4 = 3,625cm LAJE 05 h5 = 3,125cm LAJE 06 h6 = 8,75cm LAJE 07 h7 = 3,93cm Por causa da classe de agressividade ambiental na cidade da obra, adota-se o parâmetro de cobrimento do concreto estabelecido na NBR 6118. Fonte: Norma Brasileira ABNT 6118, 2014. Por este motivo, já que para no detalhamento da armadura da laje o valor de cobrimento é descontado da espessura da laje, será acrescido ao valor calculado a diferença entre o cobrimento da classe I (20mm = 2cm) e o cobrimento da classe III (35mm = 3,5cm). Tem-se, portanto: O valor a ser acrescido nas espessuras das lajes calculadas anteriormente é de 1,5cm. LAJE 01 h1 = 3,43 + 1,5 = 4,93cm LAJE 02 h2 = 8,625 + 1,5 = 10,125cm LAJE 03 h3 = 8,75 + 1,5 = 10,25cm LAJE 04 h4 = 3,625 + 1,5 = 5,125cm LAJE 05 h5 = 3,125 + 1,5 = 4,625cm LAJE 06 h6 = 8,75 + 1,5 = 10,25cm LAJE 07 h7 = 3,93 + 1,5 = 5,43cm Ainda conforme a NBR 6118, existem valores mínimos a serem adotados para cada tipo de laje, de acordo com seu uso: • 5 cm para lajes de cobertura não em balanço; • 7 cm para lajes de piso ou de cobertura em balanço; • 10 cm para lajes que suportem veículos de peso total menor ou igual a 30 kN; • 12 cm para lajes que suportem veículos de peso total maior que 30 kN. (PINHEIRO, 2007, [s.p.]) Analisando-se as lajes do projeto, seria adotado os valores mínimos de 7cm para as lajes 01, 04, 05 e 07. As demais sofrem arredondamento para 11cm. Todavia, por questões executivas de custo e tempo na obra, adotar-se-á a espessura comum de 11cm para todas. LANÇAMENTO DAS VIGAS As vigas são lançadas de acordo com as lajes e seus trechos são determinados de acordo com os apoios. Onde há pilar, ou encontro de vigas há formação de novo trecho. Trecho é diferente de vão. Vão é a distância de um pilar a outro. Leva-se em consideração o valor econômico de 3,50 a 5,00 m no vão das lajes para a disposição das vigas. PRE-DIMENSIONAMENTO DAS VIGAS São as distâncias entre os vãos () que irão ser utilizadas para o cálculo das alturas das vigas. De acordo com Pinheiro (2007), a dimensão das vigas é determinada conforme as seguintes fórmulas: tramos internos: tramos externos ou vigas biapoiadas: balanços: Para vigas contínuas realiza-se a seguinte relação entre os vãos para verificação de compatibilidade: Caso haja compatibilidade, usa-se: Quando não há compatibilidade de trechos, usa-se a relação de tramos internos de maneira independente. Segundo a NBR 6118, a dimensão mínima para base da viga é de 12 cm e de altura 25 cm. Geralmente, adota-se seções múltiplas de 5cm para a altura, respeitando o dimensionamento padrão das esquadrias. Dessa maneira, para o projeto aqui desenvolvido, tem-se os seguintes valores de cálculo: VIGA 01 - Obs.: valores também válidos para Viga 02 e 04. V1a e V1b Verificação de compatibilidade: = = 0,68 (compatível) Compatibilização: hadot=40cm. Obs.: valores também válidos para Viga 02 e 04. VIGA 03 hV3 , hadot=35cm. VIGA 05 hV5 , hadot=50cm. VIGA 06 V6a e V6b Verificação de compatibilidade: = = 0,46 (não compatibiliza) V6b e V6c Verificação de compatibilidade: = = 0,81 (compatível) Compatibilização: hadot=35cm. V6c e V6d Verificação de compatibilidade: = = 1,17 (compatível) Compatibilização: hadot=35cm. V6d e V6e Verificação de compatibilidade: = = 2,55 (não compatibiliza) Para os trechos não compatíveis: V6a (balanço) hV6a , hadot=35cm. V6e (balanço) hV6e , hadot=35cm (para singularidade na viga V6). VIGA 07 hV7 , hadot=25cm. VIGA 08 V8a e V8b Verificação de compatibilidade: = = 1,17 (compatível) Compatibilização: hadot=35cm. VIGA 09 V9a e V9b Verificação de compatibilidade: = (não compatibiliza) V9b e V9c Verificação de compatibilidade: = (compatível) Compatibilização: hadot=35cm. V9a (balanço) hV6a , hadot=35cm. VIGA 10 V10a e V10b Verificação de compatibilidade: = = 1,17 (compatível) Compatibilização: hadot=35cm. V10b e V10c Verificação de compatibilidade: = = 2,55 (não compatibiliza) V10c (balanço) hV10c , hadot=35cm. Levando-se em conta o cobrimento devido agressividade ambiental (3,5cm), acrescenta-se 7cm a base mínima de 12cm, adotando-se por questões executivas b=20cm. LANÇAMENTO DOS PILARES Os pilares são lançados “nos cruzamentos das vigas (permitindo apoio direto das mesmas) e nos cantos da estrutura da edificação. Os espaçamentos dos pilares definem os vãos das vigas, resultando em geral espaçamentos entre 2,5 a 6 m” (ALVA, 2007, p. 15). Tem-se então o seguinte lançamento de pilares: PRE-DIMENSIONAMENTO DOS PILARES Inicia-se o pré-dimensionamento com a estimativa de carga (Fnd), através da área de influência (Ai) de cada pilar. A área de influência é dividida na distância entre os eixos entre os pilares, prevendo-se metade para cada lado: A fórmula da carga é: Para cadatipo de pilar tem-se as seguintes constantes (ALVA, 2007, p. 17): Posição do pilar Coeficiente (β) Interno 1,8 Extremidade 2,2 Canto 2,5 A carga depende também do número de pavimentos da edificação (n) e da carga distribuída no pavimento (q). Para o exemplo, existem 2 pavimentos (superior e cobertura) e adotou-se q=10KN/m². A tensão resistente (res) do pilar é calculada segundo a fórmula: Onde, fck é a resistência própria do concreto e fyk a resistência do aço. Para o projeto, adotou-se concreto C30 e aço CA 50, tendo fck=30Mpa=3KN/cm² e fyk=50KN/cm². A relação entre tensão e carga determina a área de seção do pilar (A). Entretanto, a NBR 6118 não permite área mínima de 360cm², com menor dimensão de 19cm. Em área calculada inferior a esse valor, adota-se ele. Verificar cálculos na tabela seguinte: PILAR nº n q (KN/m²) Ai (m²) Fnd (KN) res (KN/cm²) A (cm²) Aadotada (cm²) b (cm) h (cm) P1 2,2 2 10 5,40 237,6 2,69 88,33 360 20 18 P2 2,2 2 10 13,28 584,32 2,69 217,22 360 20 18 P3 2,2 2 10 7,90 347,60 2,69 129,22 360 20 18 P4 2,2 2 10 6,55 288,20 2,69 107,14 360 20 18 P5 1,8 2 10 16,15 581,40 2,69 216,13 360 20 18 P6 2,2 2 10 9,60 422,40 2,69 157,03 360 20 18 P7 2,2 2 10 6,42 282,48 2,69 105,01 360 20 18 P8 2,2 2 10 11,08 487,52 2,69 181,23 360 20 18 P9 2,5 2 10 5,17 258,80 2,69 96,21 360 20 18 P10 2,2 2 10 7,64 336,16 2,69 125,00 360 20 18 P11 2,2 2 10 7,64 336,16 2,69 125,00 360 20 18 Adotou-se valor geral de 20x18cm para todos os pilares. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014. ALVA, Gerson M S. 2007. 24f. Concepção estrutural de edifícios em concreto armado. Apostila da disciplina Estrutura de Concreto. Departamento de Estruturas e Construção Civil. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2007. PINHEIRO, Libanio M (Org.). 2007. 380f. Fundamentos do concreto e projeto de edifícios. Departamento de Engenharia de estruturas. Escola de Engenharia de São Carlos. Universidade de São Paulo, São Carlos, 2007.
Compartilhar