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Trabalho de Conclusão de Curso - Direito Penal - Violência Sexual Infantil

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FACULDADE ESTACIO DE SA DE CAMPO GRANDE – MS
Curso de Direito 
 VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTIL NO ÂMBITO FAMILIAR
VITÓRIO VARRASQUIM NETO 
CAMPO GRANDE / MS
2017
FACULDADE ESTACIO DE SA DE CAMPO GRANDE – MS
Curso de Direito 
VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTIL NO ÂMBITO FAMILIAR
Artigo Cientifico Jurídico apresentado como exigência parcial para a conclusão da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso à banca examinadora da Faculdade Estácio de Sá de Campo Grande/MS, sob a orientação da Professora Daniella Duarte Lopes. 
CAMPO GRANDE / MS
2017
RESUMO
O trabalho aqui exposto tem o objetivo de analisar o problema da violência sexual praticada contra a criança e adolescente no âmbito familiar, cometida por seus responsáveis ou pessoas próximas, que muitas vezes usam de uma suposta autoridade para praticar a violência. Agressões que muitas vezes se tornam graves e ocasionam sequelas incorrigíveis e intratáveis, busca-se analisar os problemas sociais que ocasionam a violência no lar destas crianças e quais as características deste ser humano, que se torna responsável pela brutalidade incabível cometida contra as pessoas mais indefesas de sua própria família. 
Palavras chaves: Violência contra criança e adolescente; família; autoridade; sociedade; Lei nº. 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº. 2848/40 - Código Penal Brasileiro.
SUMÁRIO
	
INTRODUÇÃO
O presente trabalho traz à tona um grande problema que é a violência sexual infantil, e com isso traz alguns questionamentos, como, qual o papel do Estado e da sociedade para sanar esse problema? Quais as consequências e delimitações desse problema? Faz-se necessário a princípio que seja identificado a profundidade e dimensão de suas raízes, trazendo à tona fatos relevantes que vem contribuindo de forma a manter essa problemática pouco visível aos olhos da sociedade, para que assim as autoridades competentes cumpram de forma consciente e eficiente o trabalho dos órgãos reguladores e de proteção. Havendo fiscalização e respeito, em conjunto com toda a sociedade, os direitos estipulados em lei serão facilmente cumpridos com a finalidade de dispor a esses seres humanos que realmente recebam a proteção e o abrigo necessários, principalmente no âmbito familiar, recebendo qualidade de vida, respeito, proteção, amor e dignidade.
No capitulo primeiro será tratado sobre a conceito de violência, ou seja, irá abranger o significado desse fenômeno histórico. E dentro desse capitulo será abordado também em subtópicos a violência contra a criança e ao adolescente, de modo a tratar no âmbito da história e sociedade outro subtópico desse capitulo abordara a violência doméstica, que é a violência praticada dentro do lar. Ou seja, a violência, de um modo geral.
No segundo capitulo será tratado sobre os tipos de violência praticados contra a criança e ao adolescente, em especial, as mais comuns, como violência física, violência sexual e a violência psicológica. Esses tipos de violências mencionados nesse capitulo serão abordados em subtópicos.
No terceiro capitulo será abordado sobre o perfil do agressor, seu caráter psicológico e como afeta a vítima, 
No quarto capitulo será falado sobre os direitos da criança e do adolescente, trazendo as normas regulamentadoras sobre o assunto. Dentro desse capitulo também teremos subtópicos, um trazendo a lei especifica do direito da criança e do adolescente e outro sobre a dignidade da pessoa humana, fazendo um link com a criança e ao adolescente.
O quinto e último capitulo será tratada sobre as etapas da denúncia do abuso sexual infantil, trazendo o conceito jurídico, a forma com que geralmente é oferecida e os degraus a serem percorridos, desde o oferecimento da denúncia até o início do processo judicial e apresenta um subtópico trazendo medidas de proteção.
Sendo assim, buscamos neste estudo primeiramente uma compreensão do tema, de seus conceitos básicos e históricos, tratando da violência e do âmbito familiar. Em seguida faz-se necessário a compreensão jurídica do tema e os mecanismos necessários para sua efetiva consolidação, limitando o tema à violência sexual ocorrida no âmbito intrafamiliar, por ser esta muito danosa, visto que o agressor seria quem deveria oferecer a proteção. 
1. – CONCEITO DE VIOLÊNCIA
O tema abordado neste tópico é um fenômeno histórico que tem se disseminado em nossa sociedade de diversas formas e por diferentes motivos e fatores. Provoca indignação, insegurança, medo e revolta à coletividade pela sua brutalidade e frieza.
A Violência é um termo amplo, encontrado desde as formas mais cruéis de torturas até as mais sutis. Ocorrem no cotidiano da vida social, no âmbito familiar, no ambiente de trabalho tanto público quanto privado.
Violência tem o seguinte significado segundo o Dicionário Houaiss:
Violência é a ação ou efeito de violentar, de empregar força física (contra alguém ou algo) ou intimidação moral contra (alguém); ato violento, crueldade, força”. No aspecto jurídico, o mesmo dicionário define o termo como o “constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade de outrem; coação.[1: HOUAISS, Grande Dicionário Disponível http://houaiss.uol.com.br/ em Acesso realizado em março/2017.]
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define violência como “a imposição de um grau significativo de dor e sofrimento evitáveis”.[2: Relatório Mundial sobre Violência e Saúde. Organização Mundial de Saúde 2002; 1:1-42]
O Ministério da Saúde, no documento Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violência, assim a define: “a violência consiste em ações humanas individuais, de grupos, classes, nações, que ocasionam a morte de seres humanos, ou afetam sua integridade física, moral, mental ou espiritual”. A violência é um fenômeno plurianual, eminentemente social.[3: LEMOS, Ana Cristiana. Saúde e Violência. http://projetointerdisciplinaravm2011-1.wikispaces.com/Grupo+2+-+Sa%C3%BAde+e+Viol%C3%AAncia, acesso em 08/03/2017.]
Entende-se aqui, que a violência, pela sua natureza complexa, envolve as pessoas na sua totalidade bio-psiquica e social. Porém os lócus de realização da violência é o contexto histórico-social, onde as particularidades biológicas, encontram as peculiaridades de cada um e as condições socioculturais para manifestação.
Conforme Souza, para se construir a definição de violência é necessário defini-la quanto a sua magnitude, registra da seguinte forma: 
01 – Violência criminal é aquela que as ações manifestas, intencionais ou não, coletivas ou individuais, são traduzidas crimes e contravenções penais; 
02 – Violência política, independente do regime político, é aquela em que o Estado é o principal perpetrador e que são algumas vezes aceitas ou rejeitadas. Os Estados autoritários são os maiores perpetradores da violência; 
03 - Decorre da divisão desigual das oportunidades de ganho e de trabalho socialmente necessário à sua manutenção. Exacerba-se, nessa manifestação a divisão de classes em especial a exclusão social, combustível essencial para a violência;[4: SOUZA, Luís Antônio Francisco de. Sociologia e o controle social. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2008, p.13]
A violência tem raízes em diversas patologias sociais, é toda violação aos direitos sociais (vida, habitação, saúde, educação, segurança, propriedade, liberdade de ir e vir, de consciência e de culto), políticos (direito a votar e ser votado, ter participação política), econômicos (emprego e salário) e culturais (direito de manter e manifestar sua própria cultura). 
Conforme Anthony Asblaster no Dicionário do Pensamento Social do Século XX: “Não existe uma definição consensual ou incontroversa de violência. O termo é potente demais para que isso seja possível. ”[5: Asblaster, Anthony Dicionário do Pensamento Social do Século XX disponível em http://www.serasaexperian.com.br/guiacontraviolencia/violencia.htm acessorealizado em março/2017]
Uma visão cristã acerca da origem da violência não descarta tais fatores, mas aponta como a causa mais profunda da violência a corrupção do coração humano. Nas palavras de Jesus Cristo, “Do interior do coração dos homens vêm os maus pensamentos, as imoralidades sexuais, os roubos, os homicídios, os adultérios, as cobiças, as maldades, o engano, a devassidão, a inveja, a calúnia, a arrogância e a insensatez. ”[6: ALMEIDA, João Ferreira. BIBLIA SAGRADA – Edição Contemporânea de Almeida. Editora Vida, 1995 2011. Novo Testamento Pag. 36]
Um dos registros mais antigos de violência é o assassinato de Abel por seu irmão Caim, episódio registrado na Bíblia e que remonta a milhares de anos6. De acordo com Tiago, discípulo de Jesus Cristo, as guerras – uma das mais fortes manifestações da violência – têm origem no coração humano: “De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês?”
De acordo com Climene e Buralli (1998) a palavra violência origina-se do latim “violentia” que significa o ato de violentar abusivamente praticar algo contra sua vontade contra o direito natural, exercendo constrangimento sobre determinada pessoa por obriga-la a praticar algo contra a sua vontade.[7: ]
Identificar a violência como um fator desmedido que contribui com a redução do valor da vida humana, e se constitui em violação absoluta dos direitos humanos é de suma importância, para que a sociedade se sensibilize com essa triste realidade.[8: ]
Violência não é apenas levantar a mão para uma pessoa. Violência é não respeitar os direitos básicos de sobrevivência, é uma palavra torta que pode se tornar um trauma e resultar em seres humanos angustiados, inseguros e difícil de se relacionar. Vai muito além.
Assim sendo a violência passou a ser uma preocupação da justiça, da segurança e também de movimentos sociais.
1.1 – Violência contra a criança e ao adolescente
O relacionamento humano é um tema a ser explorado tanto no que diz respeito ao ambiente externo quanto dentro de suas residências e aí implica também na forma de tratamento de pais e filhos ou mesmo adultos e crianças.
A conceituação do ser humano ou do ser social traz como prerrogativas, a cultura, o desenvolvimento, o relacionamento interpessoal e a vivencia em sociedade de forma organizada. 
Ao longo da história vários foram os subterfúgios utilizados no âmbito social para se validar determinadas ações. No campo do Direito inúmeros documentos foram escritos para defender os interesses sociais assim como para favorecer aos interesses da sociedade da época.
A priori entender-se-á por sociedade a classe dominante da época, que foi e ainda o é base geradora de documentos como a declaração universal dos direitos humanos (1948): liberdade, igualdade e fraternidade (ou solidariedade) que serviu de pilar da revolução francesa ocorrida séculos antes e ainda influenciam o comportamento e a liberdade mundial.
O perfeito entendimento da obediência as leis assegurando a convivência social faz com que o ser humano evolua. Garantir que cada um receba o que lhe e de direito sem a necessidade de pressões externas no contexto social deveria ser um norte a seguir. No entanto nem tudo ocorre da maneira como se espera e para isso desenvolve-se novos mecanismos de regulamentação e controle do comportamento social sendo inclusive passível de pena.
 A violência contra a criança e ao adolescente ocorre desde os primórdios da humanidade, variando conforme a sociedade estudada.
Quando tratamos de violência sexual contra crianças e adolescentes estamos lidando com o envolvimento destes vulneráveis em atividades sexuais com um adulto ou com qualquer pessoa um pouco mais velha ou maior. Relação que ocorre com uma diferença de idade, de tamanho ou de poder, na qual as crianças/adolescentes são usadas como objeto sexual para gratificação das necessidades ou dos desejos de um adulto, sendo ela incapaz de dar um consentimento consciente por causa do desequilíbrio no poder ou de qualquer incapacidade mental ou até mesmo física.
Precisamos ressaltar que estas crianças e adolescentes não se encontram preparados de forma física, cognitiva, emocional ou socialmente falando para enfrentar uma situação de violência sexual, que ocorre de forma abusiva, envolvendo uma relação de poder entre autor e vítima. 
O abuso sexual infantil é todo envolvimento de uma criança em uma atividade sexual que ela não compreende completamente, que envolve uma situação de vulnerabilidade e poder, tornando-a incapaz de se defender. O abuso sexual poderá ocorrer entre uma criança e um adulto, entre uma criança com outra criança ou adolescente, havendo uma relação de responsabilidade, confiança ou poder com a vítima, sendo qualquer ato que busca gratificar ou satisfazer as necessidades sexuais de outra pessoa, incluindo a indução ou coerção buscando a realização do prazer pessoal.
A violência sexual infantil é crime que vai contra os direitos humanos, apresenta causas múltiplas e que são complexas relacionadas a questões sociais, econômicas e culturais.
1.2 – Violência doméstica 
A violência praticada dentro do lar é chamada violência doméstica. Ocorre em meio às interações pai, mãe, filhos e parentes, e não deve ser considerada algo natural; ao contrário, é algo destrutivo e que permeia a dinâmica familiar, podendo atingir crianças, mulheres, adolescentes e idosos de diferentes níveis socioculturais.
Os primeiros estudos sobre violência doméstica surgiram nos Estados Unidos, na década de 1960, e analisavam a chamada “síndrome do bebê espancado”. Esse fenômeno foi considerado um grave problema para o desenvolvimento infantil. A partir daí o Estado passou a intervir em uma matéria tida até então como exclusivamente familiar. Posteriormente, sob influência do movimento feminista, vieram à tona, na década de 1970, os estudos sobre a violência praticada contra as mulheres, compreendendo abusos de natureza física, sexual e psicológica.
De acordo com Machado e Queiroz, o interesse da área de saúde pela violência cresceu devido a dois fatores: a conscientização crescente dos valores da vida e dos direitos de cidadania e as mudanças no perfil de morbimortalidade. Em 1996, a questão da violência foi reconhecida mundialmente como um importante e crescente problema de saúde pública em todo o mundo pela 49ª Assembleia Mundial de Saúde (AMS) – Resolução WHA 49.25. Ressaltaram-se as consequências para indivíduos, famílias, comunidades e países, tanto no curto como no longo prazo, e os prejuízos para o desenvolvimento social e econômico8.[9: ]
[10: 8 MACHADO L. & QUEIROZ, Z. Negligência e Maus-tratos in Tratado (Freitas et al.org.) Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2002.]
No que se refere especificamente a criança e ao adolescente, convencionou-se identificar os maus-tratos cometidos tanto por ações quanto por omissões, intencionais ou não. É importante ressaltar, no entanto, que a violência doméstica e os maus-tratos não devem ser entendidos fora do contexto da violência social/estrutural em que os indivíduos e as comunidades estão inseridos. 
Outro aspecto relevante é que a violência doméstica, não se limita à família. Envolve todas as pessoas que convivem no mesmo espaço doméstico e que estão vinculadas ou não por laços de parentesco. O termo “doméstico” incluiria também pessoas que convivem no ambiente familiar, como empregados, agregados e visitantes esporádicos9.[11: 9 Araújo MF. Violência e abuso sexual na família. Psicologia em Estudo 2002; 7(2). Disponível em: URL:http://www.unati.uerj.br/tse/scielo.php?script=sciarttext&pid=S151759282001000200002&Ing=pt&nrm=iso>, acesso em 15/03/2017.]
Nas últimas décadas a família vem sofrendo modificações estruturais rápidas, ocasionadas por diferenciados motivos: separações, divórcios, novas uniões, instabilidade financeira, movimentos migratórios nacionais e internacionais em busca de oportunidades de trabalho e participação crescente dasmulheres no mercado de trabalho. Estas modificações têm gerado abalos na estrutura familiar, conduzindo a uma deterioração da qualidade das relações familiares, contribuindo para um aumento das condições de estresse nos indivíduos e propiciando a manifestação de situações conflituosas.10[12: 10 Karsch UM. Idosos dependentes: família e cuidadores. Cad Saúde Pública 2003 jun;19 (3): 861-66]
Os maus-tratos e abusos foram reconhecidos como um problema social devido à fragilidade e dependência de ambos. Eles podem ser vítimas dos mais diversos tipos de violência que vão desde insultos e agressões físicas perpetradas pelos próprios familiares ou alguém que faça parte deste convívio e independem de raça, gênero ou classe social das vítimas.
Defrontar-se com a pura realidade de que eles são vítimas de violência em sua própria família tem sido muito difícil, pois entra em confronto com o que a utopia sustentada ao longo dos anos, na qual a criança e ao adolescente deveriam encontrar na família espaço privilegiado de segurança e afeto, sendo respeitado.
2. –TIPOS DE VIOLÊNCIA
Existem algumas situações características para cada ato criminoso praticado contra a criança e ao adolescente mesmo sendo em família. Dos tipos mais comuns de violência encontrados destaca-se a violência física, violência sexual, violência psicológica. 
2.1 – Violência física
A violência física surge em família num ato disciplinar onde pelo uso da força tenta-se modificar o comportamento ou punir as falhas cometidas. Porem a legislação Brasileira trabalha para punir os autores das agressões que extrapolam o direito de disciplinar e causam danos físicos que se configuram como lesão corporal dependendo da gravidade até mesmo tentativa de homicídio. 
Para Cezar Roberto Bitencourt 1013:
A conduta típica de crime de lesão corporal consiste em ofender, isto é, lesar, ferir a integridade corporal ou a saúde de outrem. Ofensa à integridade corporal compreende a alteração, anatômica ou funcional, interna ou externa, do corpo humano, como, por exemplo, equimoses, luxações, mutilações, fratura, etc. 
Por ser um crime que atenta contra o bem-estar físico e até mesmo contra a vida de outrem o Código Penal11 no seu artigo 129 trata das situações e punições para os agentes da seguinte maneira:
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - Detenção, de três meses a um ano.
Lesão corporal de natureza grave
§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - Perigo de vida;
III - Debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - Aceleração de parto:
Pena - Reclusão, de um a cinco anos.
§ 2º Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - Enfermidade incurável;
III - Perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - Deformidade permanente;
V - Aborto:
Pena - Reclusão, de dois a oito anos.
Lesão corporal seguida de morte
[...]
§ 3º Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
[...]
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)
§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006). 
Este tipo de comportamento inaceitável do ponto de vista social pela sua natureza e pelo fato da vítima muitas vezes estar indefesa desta demonstração de poder e fúria, tem se apresentado com muita frequência em nossa sociedade inclusive com casos mais graves que ocasionam a morte da vítima. 
2.2 – Violência sexual
O crime de violência sexual consiste em submeter a criança ou adolescente a prostituição ou explora-lo sexualmente. Conceitualmente Mirabete12 diz que: 
O crime de corrupção de menores é previsto no Art. 218: “corromper ou facilitar a corrupção de pessoa maior de catorze e menor de dezoito anos, com ela praticando ato de libidinagem ou induzindo-a a pratica-lo ou presencia-lo: pena: reclusão de um a quatro anos. 
A violência sexual não ocorre somente quando há o contato físico, a conjunção carnal ou o ato libidinoso, mas a violência física é caracterizada quando o agressor: passa as mãos no corpo da criança, quando ocorre o coito, ou a tentativa deste, manipulação de genitais, contato oral-genital e uso sexual do ânus, beijar a criança ou adolescente na boca, sexo oral, ejacular na vítima, colocar objetos no anus ou na vagina da vítima, penetrar o anus ou a vagina com o dedo ou órgão genital, colocar o pênis no órgão sexual da vítima e simular o coito e até mesmo força-la a praticar atos sexuais com animais. 
O abuso sexual infantil quando ocorrido no seio familiar é considerado intrafamiliar e é um dos diversos tipos de violência que a criança ou adolescente pode estar exposto no interior de seu lar. Ocorre nos mais diversos âmbitos da sociedade, não havendo distinção de classe social, raça, etnia, religião ou outro.
A violência sexual ocorre de forma silenciosa, e na maioria das vezes, não chega ao conhecimento das autoridades competentes, trata-se de uma das formas mais cruéis de se maltratar uma criança ou adolescente, tornando-os ainda mais vulneráveis e ocasionando grandes sequelas, consiste na utilização de um menor para a satisfação dos desejos sexuais de um adulto.
Conforme consta:
[…] abuso sexual consiste no uso de uma criança para fins de gratificação sexual de um adulto ou adolescente cinco anos mais velho, criança imatura em seu desenvolvimento e incapaz de compreender o que se passa, a ponto de poder dar o seu consentimento informado. O consentimento informado está vinculado à capacidade ou à incapacidade do indivíduo para tomar decisões de forma voluntária, correspondendo – direta ou indiretamente - ao grau de desenvolvimento psicológico e moral da pessoa. A autonomia ocorre quando o indivíduo reconhece as regras, que são mutuamente consentidas, as respeita e tem a noção de que podem ser alteradas.13
A violência sexual contra criança e adolescente é o segundo tipo de violência mais comum ocorrido, sendo que o agressor se utiliza do seu desenvolvimento psicossocial mais adiantado para obter satisfação sexual.
[13: 12 MIRABETE, Júlio Fabbrini, Manual de Direito Penal, 22ed – São Paulo: Atlas, 2004 Pág. 437.][14: 13 FURNISS, Tilman. Abuso sexual da criança: Uma abordagem multidisciplinar. Tradução: Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Editora Artes Médicas, 1993, p. 10.]
2.3 – Violência Psicológica 
O abuso psicológico é tão grave a criança e ao adolescente quanto qualquer outro tipo de abuso, é também a violência que tem maior prevalência no mundo.
A violência psicológica contra a criança ou ao adolescente se conceitua pela pratica que se repete rotineiramente, através de atitudes que causam conscientemente ou não, o sentimento de inferioridade, sentimento de humilhação, de forma que agride moralmente a criança/adolescente.
Esse tipo de violência é especialmente mais grave quando praticado por membros da família, membros que tenham laços afetivos, no qual a criança/adolescente tenha confiança. A violência psicológica ocorrida após o abuso sexual ocasiona a depreciação, desrespeito e abalam o emocional podendo causar transtornos para toda a vida. 
3. – PERFIL DO AGRESSOR 
Ao traçar o perfil psicológico do agressor de uma forma geral especialistas apontam como sendo um indivíduo emocionalmente imaturo e possessivo. Exalta-sefacilmente, briga por motivos fúteis e reage com muita frequência como se fosse uma criança, que destrói o brinquedo, quando este o degrada.
Pesquisas realizadas apontam para o fato de que a maioria dos agressores são homens (67,4%), cônjuge e/ou ex-cônjuge da vítima. Não existem trabalhos explícitos sobre incidência de patologias psiquiátricas nos agressores, entretanto, considera-se valido que os agressores se dividem entre portadores de: transtorno antissocial da personalidade, transtornos explosivos da personalidade (emocionalmente instável), dependentes químicos e alcoolistas, embriagues patológica, transtornos histéricos (histriônico), outros transtornos da personalidade, tais como, paranoia, e ciúme patológico15.
Através de analise empírica detecta-se também que os agressores geralmente têm baixa autoestima, estão desempregados ou com algum problema financeiro ou dependem economicamente da mulher16. Ou seja, dentre os agressores existe o meio influenciado no comportamento agressivo e antissocial. [15: Disponível em: http://jus.com.br/artigos/7753/a-violencia-domestica-como-violacao-dos-direitos-humanos/ Acesso em 17 fev. 2017. ]
Em seu trabalho Marisa Marques Ribeiro17 com base em pesquisas da ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência) elenca quem são os principais fatores a serem observados e quem são os agressores:
. [16: RIBEIRO, Marisa Marques. Violência Doméstica contra a criança e ao adolescente. 1 ed. Curitiba: Juruá 2009 Pág. 80.][17: Disponível em: http://mariahelena.tv/artigos_violencia_domestica.asp Acesso em: 18 fev. 2017.]
Das características:
Pais que maltratam seus filhos, muitas vezes foram maltratados na infância;
A mãe e a agressora mais frequente do abuso físico e negligencia;
O pai causa lesões mais graves, quando agressor;
Imaturidade emocional;
Uso de álcool e drogas;
Isolamento da família e da sociedade;
Fanatismo religioso;
Problemas psiquiátricos e psicológicos;
Envolvimento criminal;
Temperamento violento;
Exigências e cobranças exageradas;
Graves dificuldades socioecomicas;
Famílias cujas necessidades básicas não são atendidas pelo Estado.
Num quadro patológico é comum que o agressor apresente um perfil psicopático, demonstrando medos diversos e a mania de perseguição. Durante a crise a vítima é barbaramente espancada, sendo válvula de escape para os seus fantasmas18.
Em alguns casos possuem o complexo de Édipo exacerbado, são do tipo “bate e pede desculpa”. A seguir, confessa-se arrependido, jurando não voltar a agressão. 
Demonstra através de palavras e caricias que falsamente a ama e depois dos maus tratos, das ameaças, vem o abuso sexual, toda esta situação, faz com que fiquem dependentes emocionalmente e fisicamente da situação, ficando muitas vezes presas ao agressor. 
4. – DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
Os direitos fundamentais existem para que cada indivíduo como ser humano, possa exigir que a sociedade e os demais respeitem sua dignidade e que se garantam as necessidades básicas de cada um, eles surgiram com a necessidade de proteger o homem do poder estatal, a partir dos ideais advindos do Iluminismo dos séculos XVII e XVIII, mais particularmente com as concepções das constituições escritas.
“Não está em saber quais, quantos são esses direitos, qual a sua natureza e o seu fundamento, se são direitos naturais ou históricos, absolutos ou relativos; mas sim qual é o modo mais seguro para garanti-los, para impedir que, apesar das solenes declarações, eles sejam continuamente violados”.[18: BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. EDITORA, 1992, p.30.]
Como ressaltado por Maria Tereza Sadek:
(…) a atual Constituição Brasileira difere-se das constituições precedentes na medida em que além da garantia dos direitos individuais consagrou uma série de direitos sociais e coletivos, definiu metas e criou instrumentos necessários para a defesa desses direitos. [19: BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. EDITORA, 1992, p.30.]
A Constituição Federal de 1988 vem propiciar fundamentos a partir dos direitos humanos, trazendo seus princípios e objetivos. 
4.1 – Constituição Federal
Regulamentar os direitos conquistados pelo cidadão e de através de seus agentes diretamente determinados assegurar o devido cumprimento pela sociedade compete a instrumentos como a Constituição Federal elaborada em 1988. Ao abordar a questão dos direitos e garantias fundamentais do cidadão a constituição federal no seu art. 5 diz que é aplicável ao cidadão brasileiro independentemente se adulto ou jovem e adolescente seus direitos devem ser preservados na integra de forma a manter sua dignidade básica.
Já a necessidade de gerar mecanismos específicos e também previstos na Constituição Federal para trabalhar com este público fez com que em 1990 através da Lei 8.069, origina-se o Estatuto da Criança e do Adolescente. 
O artigo 227 da Constituição Federal do Brasil, diz na sua integra: [20: Disponível em http://200.217.71.99/data/site/uploads/arquivos/constituicao%20federal.pdf. Acesso em 18 set. 2015.]
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.[...] 
Assim como a Constituição de 1988 busca-se assegurar direitos gerais de todos os cidadãos no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90) assegura as crianças e adolescentes o exercício deste direito. A princípio observaremos como caracteriza Jose de Farias Tavares22 crianças e adolescentes: 
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.
Define criança: a pessoal natural que conte com menos de 12 (doze) anos de idade, adolescente: quem tem entre 12 anos completos e 18 anos incompletos. A essas pessoas é que se destina o Estatuto, como regra geral, podendo haver exceções como cita o parágrafo único. 
 [21: TAVARES, Jose Farias de. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente – Rio de Janeiro: Forense, 2006 pág. 09.]
A Constituição Federal de 1988 no que tange aos direitos da criança e do adolescente foi elaborada com base na Convenção sobre os direitos da criança como cita Roberto Barbosa Alves23: [22: MACEDO, José Rivair; "A Mulher na Idade Média. " Contexto; São Paulo; 1999. Disponível em: <http://quetalhistoria.blogspot.com.br/2008/07/mulher-na-idade-mdia-macedo-jos-rivair.html> acesso em 18 set. 2012.]
A CF de 1988 [...] utilizou como fonte o projeto da normativa internacional e sintetizou aqueles preceitos que mais tarde seriam adotados pelas nações unidas. 
A Constituição Federal/88 inaugurou-se, através dos Artigos 227 e 228, um novo sistema de proteção à criança e ao adolescente: assegurando seus direitos e garantias fundamentais e servindo de base para a criação do estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), instituindo o dever da família, do Estado, e da Sociedade de salvaguardar as crianças e adolescentes contra todas as formas de negligencia, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, bem como estabeleceu punições na legislação para os crimes de abuso, violência e exploração sexual contra meninos e meninas.
Em nossa Constituição Federal o tema violência sexual possui especial relevância, nosso País foi o primeiro a promulgar um marco legal, que se trata do Estatuto da Criança e do Adolescente em consonância com a Convenção sobe os Direitos da Criança (1989). 
4.2 – Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
O Estatuto da Criançae do Adolescente busca assegurar verdadeiramente seus interesses, fornecendo atendimento prioritário conforme cita Roberto Barbosa Alves24:
A CF inaugurou um verdadeiro sistema de proteção de direitos fundamentais que é próprio de crianças e adolescente [...] o reconhecimento de que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos e a garantia de prioridade absoluta no atendimento de seus direitos. 
Uma vez eleito os mecanismos de proteção aos direitos da criança e do adolescente agora cabe ao Estado e a sociedade prioritariamente assegurar o cumprimento da lei e a defesa dos interesses destes indefesos. Confirmando o que já fora expresso por Alves, temos que definido o objetivo de se estender a proteção legal à criança e ao adolescente, de forma completa, integral e com absoluta prevalência, Liberatti25 afirma que: ,[23: ALVES, Roberto Barbosa. Direito da Infância e da Juventude – 3 ed. Atual. São Paulo: Saraiva 2008 Pág. 10.][24: LIBERATI, Wilson Donzieti. Adolescente e Ato infracional: Medida Socioeducativa é pena? São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2003. Pag.45.]
A determinação de prioridade no atendimento aos direitos infanto juvenis, inserida no texto da Convenção, é uma garantia e um vínculo normativo idôneo, para assegurar a efetividade aos direitos subjetivos; é um princípio jurídico-garantista na formulação pragmática, por situar-se como um limite à discriminação das autoridades. 
O princípio da prioridade que foi efetivado acertadamente, pela Constituição Federal de 1988 e, posteriormente, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, corroborou uma serie de princípios, dentre os quais, o da condição, peculiar de pessoa em processo de desenvolvimento e da prioridade absoluta, como forma de se garantir, acima de tudo, o princípio constitucional da dignidade humana. 
As medidas de proteção à criança serão providenciadas, conforme preceitua o artigo 101 do ECA, o Ministério Público será avisado sobre a infração penal ocorrida e a Autoridade Policial promoverá, concomitantemente, a abertura do inquérito, visto que é necessário prévio procedimento investigatório. A criança/adolescente vitimado tem que cumprir formalidades periciais e deverá receber atendimento à sua saúde física e mental. 
4.3 – Princípio da dignidade da pessoa humana
Os princípios jurídicos são os pontos básicos, os quais servem de apoio para o início da aplicação dos dispositivos jurídicos, pois são a base do Direito. 
	
Para Miguel Reale os “princípios são, pois, verdades ou juízos fundamentais”, os quais constituem alicerce a fim de garantir a concretude de um conjunto de preceitos, o que nada mais é do que um sistema de conceitos relativos a dada porção da realidade.26 
[25: ROTHENBURG, Walter Claudis. Princípios Constitucionais. Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris Editor, 2003. p. 14. ]
Antes de discorrer no que diz respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana é importante mencionar acerca do que vem a ser dignidade.
Do latim ‘’dignitas’’, dignidade é a qualidade de (ser) digno. Este adjetivo faz referência ao correspondente ou ao proporcionado ao mérito de alguém ou de algo, ao que é merecedor de algo e de cuja qualidade é aceitável, está relacionada com a excelência, a gravidade e a honorabilidade das pessoas na sua forma de se comportar é uma qualidade humana que depende da racionalidade. Apenas os seres humanos têm capacidade para melhorar a sua vida a partir do livre-arbítrio e do exercício da sua liberdade individual.
Kant afirma que a "dignidade é reconhecida como o valor de uma maneira de pensar”27. A dignidade da pessoa humana é um valor irrenunciável, inviolável e inalienável, ou seja, ninguém pode desistir, mesmo que voluntariamente, de tal prerrogativa; ninguém pode ultrapassar esta esfera de valor no trato com o outro e, da mesma forma, ninguém pode dispor deste direito.
A Constituição Federal, visando propiciar as garantias constitucionais e excluindo qualquer processo discriminatório, no seu artigo 3º, inciso IV, determina que é necessária a promoção do bem geral, independentemente de cor, raça, idade ou classe social.28[26: Disponível em http://ceaam.net/lef/CF88.htm Acesso realizado em 21/10/2015.]
Tendo em vista a sua relevância, o princípio da dignidade da pessoa humana não pode ter sua finalidade restringida simplesmente à natureza humana no sentido subjetivo, pois, pressupõe uma finalidade muito maior, na medida em que a dignidade da pessoa humana fundamenta a existência dos direitos fundamentais. E quando a criança e ao adolescente são inclusos como merecedores de tais direitos e garantias, há que se falar na importância dos direitos sociais, previstos no caput do artigo 6º da Constituição Federal, os quais têm status de direito fundamental.29.
5. – ETAPAS DA DENUNCIA DO ABUSO SEXUAL INFANTIL
No conceito jurídico, busca-se a investigação do crime e a devida punição ao autor. “A responsabilização do abusador se dá, através de medida judicial, à qual procura impor-lhe uma perda, através de sanção penal, mostrando à sociedade a inconformidade com o seu agir. ”30. ,[27: ALVES, Roberto Barbosa. Direito da Infância e da Juventude – 3 ed. Atual. São Paulo: Saraiva 2008 Pág. 10.]
Ocasiona o envolvimento de diversos órgãos estatais, dentre eles, podemos destacar: Delegacia de Polícia, Ministério Público, Juízo Criminal, Assistência à Saúde, Juízo Criminal.
A denúncia geralmente ocorre por meio de alguém próximo a vítima, estando no âmbito escolar, familiar ou outro convívio, seja um professor, ou amigo, familiar, vizinho.
Deve ser comunicado imediatamente a Delegacia de Polícia, visto tratar-se de um crime, sendo então, adotadas medidas de proteção, elencadas no artigo 101 do ECA. 
A criança/adolescente deverá ser submetida a avaliação medica e será instaurado o procedimento investigatório, mediante abertura do Inquérito Policial, quando então, as provas periciais, tais quais exame de corpo de delito deverão ser providenciados. 
Quando o abuso for constatado na escola ou mediante atendimento médico, os profissionais envolvidos estarão comprometidos a tomar as providencias de comunicação com a máxima urgência, sob pena de sanção. 
É de fundamental importância que se tomem os devidos cuidados com a exposição da vítima na Unidade Policial e em todo o procedimento a ser realizado, visto que ela já foi submetida a situação tal de violência e as provas devem ser preservadas. 
Depois da análise do Inquérito Policial, cabe ao Promotor de Justiça, após verificação da prova e presença de autoria, apresentar denúncia do fato delituoso para o processamento da devida ação penal contra o agressor quando se inicia o processo judiciário, onde novamente as partes serão ouvidas e inquiridas pelo Juiz de Direito, que ministrara, por fim a sentença penal. 
5.1 – Medidas de Proteção
As medidas de Proteção à criança serão solicitadas, se o abuso for revelado na escola ou no hospital é obrigatório aos profissionais da saúde e educação a comunicação imediata do fato delituoso às Autoridades Competentes, sob pena de cometimento de infração administrativa. 
Recentemente o Presidente Michel Temer, sancionou o Projeto de Lei (3.792/15) que visa a proteção das vítimas de violência sexual infantil, a lei traz que devem ser feitas, periodicamente, campanhas para conscientizar a sociedade de uma forma que estimule mais rapidamente a identificação da violência praticada contra a criança e ao adolescente.
A lei traz também que os órgãos públicos, sendo eles, de justiça, assistência social, saúde e segurança pública, devem implementar ações articuladas no atendimento da vítima. Como por exemplo a criação de atendimento telefônico para denúncias de abuso, de exploração sexual e também criação de serviços de referência multidisciplinar no Sistema Único de Saúde para dar assistência a crianças e aos adolescentes em situações de violência sexual.
Além disso, a lei cria o depoimento especial, que visa aumentar a segurança da criança e do adolescente,fazendo com que tenham o direito de serem ouvidas em local apropriado, que transmitam segurança, com infraestrutura e espaços físicos que garantam sua privacidade, de modo que a vítima não tenha nenhum contato, nem mesmo visual, com o acusado.
CONCLUSÃO
Por meio deste trabalho, podemos verificar que diversas são as maneiras de atingir um ser humano tão frágil, a violência aqui tratada além de ser considerada crime é um problema antigo e frequente. As estatísticas subestimam a realidade: muitos fatos não são denunciados por omissão. A criança e ao adolescente quando são expostos, temem ficar mais vulneráveis a novas agressões.
A Constituição Federal, em seu art. 226, traz a família como base da sociedade e, ainda, confere a ela especial proteção do Estado.
A violência contra a criança e ao adolescente muitas vezes ocorre por uma questão de costume, cultura, falta de tempo e uma série de fatores conforme foram abordados, passam totalmente despercebidos, como se fosse algo comum.
A criança e o adolescente são presas fáceis para os maus tratos, a desestrutura familiar e a negligencia contribuem de forma relevante para dar frequência a esse problema, o que eles desejam é cessar a agressão, é serem amparados, orientados e respeitados, assegurando assim, o direito à sua integridade física, psíquica, sexual e moral.
A visão que normalmente a sociedade tem é aquela que envolve violência física com requintes de crueldade e deixa de observar a silenciosa, a sutil a que maltrata o psicológico, mexe com a autoestima, ocasiona lesão, invade seu espaço, passa por cima de suas vontades deixando o ser humano ainda mais vulnerável.
Importante ressaltar ainda a adoção de medidas legais, de Proteção, a serem impostas pelo Juiz ao agressor, medidas essas que englobam uma série de procedimentos a serem adotados, tanto na esfera policial como na judiciaria, visando dar maior proteção as vítimas e fazendo com que o Estado cumpra o seu dever, protegendo-as de seu agressor.
Estar atento e ouvir o grito oprimido das vítimas, sobretudo sendo estas crianças e adolescentes que não conseguem se defender, extrapola a condição de dever apenas do Estado, uma vez que a sociedade, as pessoas, vizinhos, parentes, amigos próximos tem um contato maior e mais rápido que qualquer Instituição Estatal. 
Um passo importante é o acompanhamento e tratamento psicológico que possa dar a vítima uma chance de futuro, assegurando minimizar as sequelas, o que é um trabalho árduo, visto a gravidade e intensidade do problema.
Diante de todos esses fatos elencados no decorrer do trabalho se faz necessário e de maneira rápida que políticas públicas sejam aplicadas, que façam valer de forma correta os direitos já atribuídos ao grupo e que esses possam gozar de seus direitos, de serem protegidos no âmbito do lar, que possa usufruir de segurança, paz, tranquilidade de uma vida digna, respeitando e os protegendo.
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