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FILOSOFIA: PATRÍSTICA, ESCOLÁSTICA, RACIONALISMO E EMPIRISMO Contexto histórico: queda do império romano, onde o cristianismo começa a surgir, consolidando-se como força espiritual e política. Vale lembrar que, embora tenha sido reprimida nos momentos iniciais e acusada de ter sido a responsável pelo retrocesso da cultura, a Igreja representava um elemento agregador em um mundo de constante conflito. Nesse contexto, nem os nobres sabiam ler, os monges eram os únicos letrados, portanto os poderosos, colocando a Igreja no comando. Esta, por sua vez, queria conquistar três pilares: a educação, a qual consegue e até hoje tem, a ciência, a qual conseguiu e quem discordasse sofria e, por ultimo, o poder do Estado, o qual não conseguiu, apenas de forma indireta, visto que os governantes consultavam os padres. Foi uma época em que se discutia a fé e a razão, a qual esta estava subordinada a fé: “creio para compreender, compreendo para crer.” PATRÍSTICA Era a filosofia dos chamados “Padres de Igreja”, os quais usavam a apologética para converter pagãos e combater heresias. Tem como o seu principal representante Santo Agostinho, que se baseava na filosofia platônica e sofreu influência de Plotino, um neoplatônico. Essa escola vai doutrinar, falar do cristianismo, trilhar as bases para conquistar os três pilares. Tinha como principais preocupações as relações entre a fé e a ciência (é preciso ter fé para fazer ciência), a natureza de Deus, a alma e a vida moral. Embora seja platônica, bebe muito de Aristóteles, tendo Deus como o primeiro motor imóvel. Esse Deus, entretanto, torna-se Pai de Cristo, portanto não é o mesmo Deus aristotélico, mas com a mesma ideia: o indivíduo sai da caverna e encontra Deus. A Patrística desenvolve a apologética para defender o cristianismo no combate às heresias. Vai tirar os indivíduos do mundo sensível e levá-los ao supra-sensível. Tem fundamentos na filosofia platônica, porém os Padres pegaram esta filosofia até onde os interessavam e fizeram mudanças e adaptações. Por exemplo: substitui o mundo das ideias platônicas pela ideia divina, onde Deus ilumina a razão, no qual o homem recebe Dele o conhecimento da verdade absoluta, os quais eram revelados por Ele por meio da Bíblia. Este dogma ficou conhecido como a “Teoria da Iluminação”. Além disso, a Patrística nega o modo de educação de Platão, pois ele diz que o Estado é quem deveria educar e a Patrística queria negar o Estado para obter o poder absoluto. Entretanto, o Estado nega o último pilar que a Igreja queria, pois não caberia a Igreja castigar e sim ao Estado. Nascem, então, duas instâncias do poder: a Igreja, dotada da educação, ciência e a arte da persuasão; e o Estado, o qual lhe compete punir através da força física. A Patrística traz a ideia do “homem interior”, que consiste na consciência moral e livre arbítrio da vontade para escolher entre o bem e o mal, ou seja, o homem é responsável pelo mal no mundo. Para explicar isso, há a ideia de que a história da humanidade é a história do pecado do homem, por livre arbítrio e a salvação de alguns predestinados pela graça divina. Para tanto, há a criação de duas cidades: a Cidade Terrestre e a Cidade de Deus. A Cidade Terrestre é formada pelos pecadores, é o mundo dos homens. Não necessariamente mau, mas tende ao pecado por ser governado pela vontade humana e, eventualmente, castigada por Deus, como, por exemplo, no “Dilúvio Universal”. A Cidade de Deus, por sua vez, é formada pelos predestinados pela graça divina. É a finalidade da história coincidindo com o seu fim, portanto, a vitória definitiva da Cidade de Deus. Essas duas cidades representam o confronto entre o poder estatal e o poder da Igreja. O grande tema de toda a filosofia patrística era a possibilidade ou impossibilidade de conciliar fé e razão. Havia aqueles que acreditavam que não eram conciliáveis, porém a fé era superior a razão; havia os que diziam que a razão estava subordinada a fé (creio para compreender); e, por fim, os que diziam que estes dois não se misturavam, sendo a razão responsável pelas coisas materiais, temporais; e a fé se refere à salvação da alma. ESCOLÁSTICA Tem como principal nome Tomás de Aquino, que tem grande influência das obras de Aristóteles, tomadas como perigosas na primeira metade da Idade Média. Ficou conhecida como filosofia Aristotélico-Tomista, o qual a razão continua como “serva da Teologia”. Baseia- se, portanto, na metafísica de Aristóteles, tendo Deus como causa incausada. Diferentemente da Patrística, a Escolástica tem maiores preocupações políticas, querendo, portanto, um representante no governo. Santo Tomás muda o enfoque dos temas políticos e, sob a influência dos textos de Aristóteles, preocupa-se com questões tais como a natureza do poder e das leis e a questão clássica do melhor governo. Entretanto, também não consegue o poder do Estado. A Escolástica ganha corpo, sobretudo, nas Universidades. Era, portanto, ensinada nas escolas. Surge a Teologia propriamente dita. Havia o princípio da autoridade, onde uma ideia é considerada verdadeira se for baseada nos argumentos de uma autoridade reconhecida (Bíblia, Platão, Aristóteles, um Papa ou um Santo). As Universidades tinham como figura central Santo Tomás de Aquino e representavam a liberdade de pensamento, tornando-se objeto de suspeitas. Quando as obras de Aristóteles chegam ao Ocidente pelos Árabes, a Igreja mostra o seu desagrado, condenando trechos dos textos de Aristóteles. SANTO TOMÁS DE AQUINO Foi um teólogo religioso, o qual dizia que a filosofia devia servir à fé, submetendo-se a ela. Para explicar a existência de Deus, bebe dos pensamentos aristotélicos, no qual o mundo sensível é dotado de movimentos, mas nada se move por si só. Ou seja, deve haver uma causa incausada (Deus) para que essa relação não tenda ao infinito, o que seria absurdo. Dessa forma, a existência de Deus é explicada pela razão, a qual Aquino diz que não há contradição com a fé, ao contrário, a razão demonstra, a fé revela. Isto posto, o conhecimento racional provém inicialmente dos sentidos (mundo sensível). Da sensação, o intelecto abstrai a individualidade das coisas, reduzindo as suas imperfeições, até atingir as formas. Há, portanto, dois tipos de intelecto: Intelecto Possível, o qual recebe dos sentidos as imagens das formas que ainda se encontram como potência; e o Intelecto Agente, o qual é responsável pelo conhecimento efetivo das formas, atualizando o que no Intelecto Possível só existia como potência. Entretanto só Deus é ato puro, portanto o homem não pode ser apenas Intelecto Agente. RACIONALISMO E EMPIRISMO Muda o enfoque do ser e trata mais do objeto, o qual ninguém havia tratado ainda, para afastar Deus como religião. Se Deus é o nosso criador, nós somos os Deuses dos objetos. Portanto, o homem não precisa mais contemplar Deus para atingir a razão. Nesse sentido, vai dizer que a Ciência não é mais divina, mas de ordem matemática; o homem faz a Ciência. Esse afastamento se dará pelo método, com a teoria do conhecimento. Principais pensadores: Descartes, Locke, Hume e Bacon. AS MUDANÇAS NA MODERNIDADE Consiste na recuperação da cultura Greco-latina, agora sem a intermediação da religião: laicização do pensamento. Agora prevalece a visão antropocêntrica com o racionalismo, o poder da razão e não mais a Teologia. MÉTODO O problema não é mais saber se as coisas são, mas se podemos conhecê-las. Essa problemática derivou duas correntes de pensamento: o Racionalismo e o Empirismo, no qual o primeiro enfatiza o papel da razão no processo do conhecimento, tendo Descartes como principal defensor; o segundo enfatiza o papel da experiênciasensível no processo do conhecimento, tendo Bacon, Locke e Hume como principais pensadores. RACIONALISMO CARTESIANO Descartes é conhecido como o “Pai da filosofia moderna”. Queria encontrar um método que o levasse à verdade inquestionável. Para encontrar esse método, Descartes parte em busca de uma verdade primeira que não possa ser posta em dúvida, desenvolvendo, assim, a Dúvida Metódica. Esta consiste no processo em que se duvida de tudo até achar uma verdade. Ora, se alguém está duvidando, logo está pensando. Porém, pode-se duvidar desse pensamento, mas, da mesma forma, estaria este duvidando de que se possa duvidar, logo continuaria duvidando e, portanto, pesando. Pode-se, então, duvidar da dúvida, mas não de que se está duvidando. Dessa forma, Descartes chegou ao primeiro princípio da filosofia: “penso, logo existo”, que quer dizer que “existo enquanto penso”. Logo, esta seria uma ideia clara e distinta a partir da qual seria reconstituído todo o saber. Descartes examina se haveria no espírito outras ideias igualmente claras e distintas e distinguiu três tipos de ideias: as Inatas, que são as que “parecem ter nascido comigo”, ou seja, já se encontram no espírito. Traz a ideia do “cogito” vindo das ideias inatas, assim como a ideia de Deus; as Adventícias, que são as que vieram de fora, formadas pela ação dos sentidos; e as Factícias, que são as que “foram feitas e inventadas por mim”. A IDEIA DE DEUS Substância infinita, imutável, onisciente, onipotente e criador de todas as coisas. Descartes prova a existência de Deus com a “prova ontológica”, que consiste na ideia de um ser perfeito. Ou seja, se é perfeito, deve ter a perfeição da existência, caso contrário não seria perfeito. O MUNDO Através da dúvida metódica, Descartes começara duvidando da existência do mundo e do seu próprio corpo. Entretanto, chegou a conclusão de que a existência de Deus é a garantia de que os objetos pensados por ideias claras e distintas são reais. Portanto, o mundo existe, assim como o próprio corpo. O racionalismo de Descartes, então, quebra a Ciência pela Igreja, restando a esta a educação. Critica o Empirismo, pois diz que a experiência – formada pela ação dos sentidos – pode enganar, já a razão não se pode enganar. EMPIRISMO BRITÂNICO Enfatiza o papel dos sentidos e da experiência sensível no processo do conhecimento. Francis Bacon Severo crítico da filosofia medieval por considerá-la desinteressada e contemplativa. Critica a lógica aristotélica, por considerar a dedução inadequada para o progresso da ciência. Diz que o método da indução é mais eficiente, insistindo na necessidade da experiência e investigação como métodos seguros. John Locke Critica as ideias inatas de Descartes, pois diz que a alma é como uma tabula rasa, ou seja, o conhecimento começa apenas com o experimento sensível. Portanto, enquanto Descartes enfatiza o papel do sujeito, Locke enfatiza o papel do objeto. Locke segue o caminho psicológico para mostrar como se processa o conhecimento. Distingue duas fontes possíveis para nossas ideias: a Sensação e a Reflexão. A Sensação resulta da modificação que os sentidos faz na mente, portanto é um estímulo externo. A partir da sensação que percebemos a qualidade das coisas, que podem ser primárias ou secundárias. As primárias são objetivas, existem realmente nas coisas: solidez, número, extensão, etc.; as secundárias variam de sujeito para sujeito, portanto são subjetivas: cor, som, sabor, etc. A Reflexão, por sua vez, se processa internamente. É a experiência interna do resultado da experiência externa produzida pela sensação, ou seja, é a percepção que a alma tem daquilo que nela ocorre. Portanto, as ideias simples, que vem da sensação, combinam-se formando as ideias complexas. Para Locke, por certeza intuitiva, o ser não pode ter sido criado a partir do nada, portanto há um Ser eterno, criador e não criado, que pode ser chamado de Deus.
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