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História do pensamento filosófico Unidade II

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23
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
Unidade II
5 A FILOSOFIA NO PERÍODO CLÁSSICO GREGO
5.1 Sócrates
Um divisor de águas na história da filosofia terrena
Figura 3 – A morte de Sócrates
O fundador do pensamento filosófico
A história da filosofia na Grécia Antiga divide-se entre os filósofos pré-socráticos e pós-socráticos, 
tamanha foi a importância de Sócrates para a instauração do pensamento filosófico ocidental. 
Considerado pelos homens do tempo como o mais sábio e inteligente, Sócrates demonstrava em 
sua forma de pensar a necessidade de levar o conhecimento para os cidadãos gregos da época pelo 
diálogo como forma de transmissão de sabedoria. Nascido em 470 ou 469 a.C., em Atenas, era filho 
de um escultor e de uma parteira. Aprendeu a arte paterna; mas dedicou-se inteiramente à meditação 
e ao ensino filosófico, apesar da pobreza. Ao desempenhar cargos políticos, sempre foi um modelo 
irrepreensível de bom cidadão. Adquiriu sabedoria principalmente por intermédio da reflexão pessoal, 
na moldura da alta cultura ateniense da época, em contato com o que havia de mais ilustre na época.
Por meio da palavra, ele se ocupava da missão de fazer conhecer as coisas do mundo e do ser humano. 
Seus pensamentos e suas ideias atravessaram os séculos pelas obras de seus discípulos mais importantes: 
24
Unidade II
Platão, Xenofontes e Aristóteles, porque ele mesmo nada deixou por escrito. Por defender ideias contrárias 
à sociedade instaurada na Grécia, Sócrates não foi bem aceito por grande parte da aristocracia grega, 
uma vez que a tônica do seu discurso criticava diversos aspectos da cultura grega, ressaltando que muitas 
tradições, crenças religiosas e costumes não colaboravam para o desenvolvimento intelectual dos cidadãos.
A inovação presente nas suas ideias para a sociedade logo começou a chamar a atenção de jovens 
atenienses, impressionados pelo seu dom de orador e pela sua inteligência, o que o tornou popular 
em pouco tempo. No entanto, por temer mudanças na sociedade, a elite conservadora de Atenas 
viu em Sócrates um inimigo público, além de um agitador da ordem pública. Por isso, ele foi preso, 
acusado de subversão, de corromper a juventude e também de provocar mudanças na religião grega. 
Sua condenação foi o suicídio por envenenamento, dentro da cela, em 399 a.C. Esse fim trágico, 
porém, não impediu que esse filósofo ateniense, e um dos fundadores da atual filosofia ocidental, 
entrasse para a história de forma definitiva; embora existam historiadores que afirmam que só é 
possível falar de Sócrates como um personagem de Platão. Nos diálogos escritos por Platão, Sócrates 
aparece como mestre que se recusava a ter discípulos, além de ser um homem piedoso que não 
valorizava os prazeres dos sentidos, mas colocava o belo entre as maiores virtudes, juntamente com 
a bondade e a justiça.
Tanto o julgamento como a execução de Sócrates são episódios centrais da obra de Platão (Apologia 
e Críton). Sócrates admitiu que poderia ter evitado sua condenação se tivesse desistido da vida justa 
que levava e, mesmo depois de condenado, ele poderia ter evitado a morte por ingestão de cicuta, se 
tivesse escapado com a ajuda de amigos. Nesse sentido, a vontade de colaborar com a justiça da pólis 
e com seus próprios valores revela a grandiosidade do seu pensamento. Todos os detalhes a respeito da 
vida e da morte de Sócrates que são historicamente conhecidos vêm dos diálogos de Platão, das peças 
de Aristófanes e dos diálogos de Xenofonte. Não se sabe direito qual era a função de Sócrates, se ele se 
ocupava de algo além da filosofia. 
De acordo com os registros, aprendeu a profissão de oleiro com o pai e aparece na obra de Xenofonte 
declarando que se dedicava àquilo que ele considerava a arte ou a ocupação mais importante de todas: 
maiêutica, ou seja, o nascimento das ideias.
Platão atesta que Sócrates não recebia pagamento algum por suas aulas, e sua pobreza consistia na 
prova maior de que não era um sofista. Diversas fontes citam que ele tinha servido ao exército em várias 
batalhas. Na Apologia, Sócrates compara seu período no serviço militar a seus problemas no tribunal, e 
alega que qualquer jurado que achasse que ele deveria se retirar da filosofia, deveria também acreditar 
que os soldados devessem se retirar do campo de batalha, quando era provável que pudessem morrer 
lutando.
As crenças de Sócrates, em comparação às de Platão, são difíceis de diferenciar, uma vez que há 
poucas diferenças entre os dois tipos de pensamento filosófico. Por essa razão, diferenciar as crenças 
filosóficas de Sócrates, de Platão e de Xenofonte consiste em uma missão bastante difícil, devendo 
sempre ter em mente que aquilo que é atribuído a Sócrates pode muito bem refletir o pensamento dos 
outros autores.
25
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
Certamente, se existe algo que pode ser atestado sobre as ideias de Sócrates, é que ele se destacou por 
ser moralmente, intelectualmente e filosoficamente diferente de seus contemporâneos. Quando estava 
sendo julgado por heresia e por corromper a juventude, usou seu método de elenchos para demonstrar as 
crenças errôneas de seus julgadores. Sócrates acreditava na imortalidade da alma e que teria recebido, em 
um dado momento da sua vida, uma missão especial do deus Apolo, que pode ser traduzida na defesa do 
logos apolíneo “conhece-te a ti mesmo”. Ele também tinha dúvidas sobre a possibilidade de a arete (virtude) 
ser ensinada, considerando que a moral é uma questão de inspiração e não de parentesco, uma vez que 
pais moralmente perfeitos não tinham filhos semelhantes a eles. Sócrates alegou com frequência que 
suas ideias não eram próprias, mas sim de seus mestres, entre eles Pródico e Anaxágoras de Clazômenas. 
Ele sempre dizia que sua sabedoria era limitada, assim como a sua própria ignorância, atribuindo os atos 
errados como consequência da ignorância, embora nunca tenha assumido ser um sábio.
O fundador do pensamento ocidental também acreditava que a maneira mais apropriada para 
as pessoas viverem era se concentrando no próprio desenvolvimento intelectual, ao invés de buscar 
a riqueza material. Ele costumava convidar outras pessoas a se concentrar na amizade e em um 
sentido de comunidade, uma vez que acreditava ser esse o melhor modo de um povo evoluir. 
Suas ações são a maior prova dessa crença, pois aceitou sua sentença de morte quando todos 
acreditavam que fugiria de Atenas. 
Para Sócrates, os seres humanos possuíam virtudes tanto no campo filosófico quanto no intelectual, 
conferindo à virtude o papel mais importante para o desenvolvimento do ser humano. Segundo seus 
discípulos, ele acreditava que as ideias faziam parte de um mundo que somente os sábios conseguiam 
entender, fazendo com que o filósofo se tornasse o governante ideal para um Estado. Ao se opor 
declaradamente à democracia aristocrática praticada em Atenas durante a sua época, ele afirmava que 
a república perfeita deveria ser governada apenas por filósofos.
Os ideais libertários contidos nos discursos proferidos por Sócrates, assim como o rigor do seu caráter 
e da sua postura crítica, acabaram gerando um mal-estar geral, além da rejeição popular, fazendo com 
que ele contraísse inimigos pessoais. Diante do povo e de lideranças reacionárias, era considerado como 
parte atuante da casta intelectual da época. Essa hostilidade toda manisfestou-se por meio jurídico 
na acusação movida contra ele por Mileto, Anito e Licon, no sentido de subverter os jovens a renegar 
os deuses da própria pátria, introduzindo novas crenças. Para não entrar em confronto com a justiça 
humana, Sócrates humilhou-se e pediu perdão, pois tinha dentro da alma algo que ia muito mais longe 
do que uma simples explicação para a vida na Terra, que era o juízo da razão destinado à eternidade. Por 
esse motivo, ele preferiu abrir mão da própria vida a enfrentar o poder judiciário. Quando foi declarado 
culpado, ficou em silêncio perante o tribunal, que o condenou à pena de morte pela maioria dos votos.Tendo que esperar mais de um mês para ser executado na prisão, Sócrates aproveitou o tempo para 
ministrar palestras espirituais aos amigos. Vem dessa fase o famoso diálogo a respeito da imortalidade da 
alma, que ele teria proferido pouco antes de morrer e que foi relatado por Platão no Fédon. De acordo 
com ele, as palavras derradeiras dirigidas pelo seu mestre aos discípulos, após ter ingerido o veneno, 
foram: “Devemos um galo a Esculápio”, referindo-se ao Deus da medicina, que o tinha liberado do mal da 
existência com o poder da morte. Apesar de gerar polêmica, Sócrates restabeleceu a possibilidade do saber 
ao determinar o objeto real da ciência, que não é o sensível e o particular, como pensavam os sofistas.
26
Unidade II
De maneira contrária, ele acreditava no inteligível, um conceito que se expressa pela própria 
definição, sendo obtido por intermédio de um processo dialético chamado de indução, que pode ser 
descrito pela comparação de vários seres da mesma espécie, visando eliminar as diferenças individuais, 
bem como as qualidades mutáveis, para atingir aquilo que existe de comum, estável e permanente na 
natureza e na essência da coisa em si. Trata-se, portanto, de uma forma de generalização que parte do 
indivíduo à concepção universal da natureza humana. 
Durante a exposição didática dessas ideias, Sócrates sempre utilizava o diálogo, com a dupla 
função de confrontar um oponente às suas ideias ou de instruir um discípulo. No primeiro 
caso, assumia de forma humilde a postura de quem aprende e, com isso, conseguia aumentar 
o número de perguntas até conseguir apanhar o adversário em uma contradição evidente para 
constrangê-lo à declaração humilhante da ignorância. Essa estratégia era a ironia socrática. Já 
no segundo caso, por ser um discípulo, ele mesmo multiplicava as perguntas, com a habilidade 
e o objetivo de obter, pelo processo indutivo, um conceito e uma definição geral de um objeto. 
Esta era sua proposta pedagógica.
A introspecção sempre foi uma característica marcante da filosofia de Sócrates, que se revela no 
famoso lema “conhece-te a ti mesmo”, ou seja, que nos leva a entrar em contato com a nossa prória 
ignorância. Alcançava em Sócrates uma importância tão grande que se personificava na voz interior 
divina, que poderia ser de um gênio ou de um demônio. Como ele não deixou nada registrado, as 
informações que temos de sua vida e de seu pensamento nos foram legadas pelos seus dois discípulos, 
Xenofonte e Platão, de formação intelectual muito diferente. Xenofonte, ao escrever Anábase, em seus 
Ditos Memoráveis, nos revelou mais os aspectos pragmáticos e morais do pensamento socrático. No 
entanto, seu estilo simples e sem profundidade, apesar da sua devoção para com o mestre, deixam 
claro que ele não compreendeu a complexidade do pensamento filosófico de Sócrates, por ser mais um 
homem de ação do que um pensador legítimo da sua época.
É possível afirmar que Sócrates atua como protagonista de todas as obras platônicas, mesmo 
tendo este conhecido seu mestre já idoso e na última década de vida. O conhecimento perfeito do 
ser humano coloca-se como objetivo maior de todas as suas reflexões, assim como a moral está 
posicionada no centro de tudo, para o qual convergem todas as vertentes filosóficas. No campo da 
psicologia, Sócrates deixou sua contribuição ao pensar sobre a espiritualidade e a imortalidade da 
alma, destacando a diferença entre as duas ordens de conhecimento, o sensitivo e o intelectual, 
sem definir a capacidade de escolha, mas relacionando a vontade com a inteligência. Na teodiceia, 
ele admitiu a existência de Deus com o seguinte argumento teológico: tudo aquilo que possui uma 
finalidade resulta de uma inteligência e, se o homem é inteligente, também deve ser inteligente a 
causa eficiente que o concebeu.
Pela moral socrática, a lei natural pressupõe um ser superior ao homem, um legislador, que 
a sancionou. Portanto, Deus não só existe, como também é Providência, uma vez que governa o 
mundo com sabedoria, e o homem pode atingi-lo por meio de sacrifícios e com orações. Apesar da 
elevação dessas doutrinas, Sócrates aceita os preconceitos contra a mitologia da sua época, que 
ele pretendia reformular. Nesse aspecto, a moral constitui a parte crucial da filosofia socrática, 
pois ensina a pensar para viver bem, mostrando que a única forma de alcançar a felicidade ou a 
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HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
semelhança com Deus está na prática da virtude, que pode ser adquirida com a sabedoria ou com 
a identificação com ela. Essa doutrina consiste em um desdobramento natural da falha psicológica 
de não conceituar a vontade e a inteligência de maneira diferenciada. Sócrates reconhece ainda, 
acima de todas as leis criadas, a existência de uma lei natural que não depende do conhecimento 
humano, uma vez que é universal e se estabelece como fonte primordial de todo direito como 
expressão da vontade divina ditada pela voz interior da consciência. Mesmo sublime na forma de 
descrever os princípios gerais de sua ética, Sócrates, de fato, sempre atribui à utilidade a razão e o 
estímulo de toda e qualquer virtude.
A filosofia socrática, portanto, está restrita à gnosiologia e à ética. A gnosiologia de Sócrates, que se 
concretizava na sua doutrina dialógica, resume-se em seis aspectos fundamentais: a ironia, a maiêutica, 
a introspecção, a ignorância, a indução e a definição. Porém, é necessário separar o espírito dos falsos 
conhecimentos, dos preconceitos e das opiniões. Sócrates, juntamente com os sofistas, mesmo com 
finalidade diversa, reclama pela libertação da autoridade e da tradição, tendo em vista a reflexão livre 
e a crença na razão para tornar possível conceber o verdadeiro conhecimento e a ciência. Isso significa 
que a instrução não deve consistir apenas na exposição de um assunto ao aluno, já que o mestre deve 
retirá-lo da própria mente do discípulo, pela constituição inerente do espírito humano como um dado 
estrutural e universal da sua existência.
Para Sócrates, a forma lógica para chegar ao conhecimento científico de fato consiste na 
indução, quer dizer, no percurso do que é particular até o universal, do foco opinativo à ciência, do 
experimento ao conceito, leva à definição, para demonstrar o ideal e a reflexão final do processo 
gnosiológico socrático sobre a essência da realidade. Ele também é considerado o fundador 
da ciência, em especial da ciência moral, defendendo a doutrina de que ética é sinônimo de 
racionalidade. Além disso, a virtude é considerada como inteligência, razão e ciência, e não um 
sentimento, uma tradição, uma lei e o senso comum. Isso tudo precisa ser superado, fazendo com 
que a razão prevaleça.
Diante do seu legado para a humanidade, torna-se visível que Sócrates não deixou um pensamento 
filosófico fechado. Porém, cabe a ele o mérito de ter descoberto o método e de ter fundado uma 
grande escola no campo da filosofia. Por esse motivo, dele depende, de forma direta ou indireta, a 
evolução do pensamento na Grécia Antiga, que se desenvolveu a partir da linha socrática, valorizando 
a herança dos pré-socráticos e organizando-se em sistemas originais e múltiplos. Mesmo diferentes 
entre si, todas essas correntes possuem em comum a crença de que o bem maior do ser humano está 
na sabedoria. A escola socrática mais expressiva é a platônica e seguiu a evolução lógica do objeto 
central do pensamento socrático, que é o conceito, assim como com o aspecto fundamental do 
pensamento antecessor, tendo seu auge em Aristóteles, discípulo de Platão, como o grande desfecho 
da metafísica grega.
 Observação
“Outros povos nos deram santos, os gregos nos deram sábios” (Nietzsche).
28
Unidade II
5.2 Platão
Figura 4 – Platão (detalhe de A Escola de Atenas)
O pensador das ideias
Platão nasceu em Atenas em 427 a.C., durante da Guerra do Peloponeso, no tempo da revolução 
oligárquica e aristocrática que tirou os democratas do poder em Atenas, impondo o Conselho dos 400. 
Nesse período, a Liga do Peloponeso,liderada por Esparta, derrotou a Liga da Hélade, liderada por 
Atenas, dando início ao governo dos Trinta Tiranos. No entanto, sua vida transcorreu entre a fase áurea 
da democracia ateniense e o final do período helênico, o que confere ao seu legado filosófico a tônica 
da liberdade e da expressão política. Ele fundou a Academia e foi mestre de Aristóteles. Aos 20 anos de 
idade, conheceu Sócrates, de quem foi discípulo.
O interesse de Platão pelos assuntos políticos decorreu das condições em que vivia na Grécia Antiga, 
onde a vida cultural foi se desenvolvendo muito vinculada aos acontecimentos da cidade-estado, a 
pólis, e em torno da organização política, constituída por várias cidades-estados que mantinham suas 
tradições e sua religiosidade. A própria dimensão dessas comunidades exigia o fortalecimento dos 
vínculos solidários entre seus habitantes, ao mesmo tempo em que permitia a cada uma a construção 
da sua fisionomia social particular como um patrimônio comum a todos os cidadãos. Os fenômenos 
geográfico e político estavam tão associados que a palavra pólis servia para indicar tanto o lugar da 
cidade quanto a natureza da soberania. Sendo assim, qualquer indivíduo nesse contexto pensava em si 
mesmo como um ser político.
Perto de completar 40 anos, Platão partiu para a Magna Grécia com o intuito de entrar em contato 
com as comunidades pitagóricas. Nessa jornada, foi convidado por Dionísio I para ir à Siracusa, na 
29
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
Sicília. Ele partiu para essa região com a esperança de implementar seus ideais políticos; mas acabou 
se desentendendo com o tirano local e retornou para Atenas, onde fundou a Academia de Física. A 
instituição ganhou prestígio em pouco tempo, sendo procurada por um grande número de jovens que 
buscavam instrução e até mesmo por homens já ilustres, com a finalidade de debater ideias. Ao regressar 
para Atenas, em 360 a.C., Platão comandou a Academia até em 347 a.C., quando faleceu.
Grosso modo, Platão criou a noção de que o homem está em contato permanente com duas 
realidades: a inteligível e a sensível, sendo a primeira concreta e imutável. Já a segunda, refere-se a 
todas as coisas que afetam os sentidos do homem. São, portanto, realidades dependentes, mutáveis 
e imagens das realidades inteligíveis. Essa concepção platônica de mundo também é conhecida 
por Teoria das Ideias ou Teoria das Formas, tendo sido elaborada como hipótese no diálogo Fédon, 
constituindo assim uma forma de assegurar a possibilidade do conhecimento, além de oferecer uma 
inteligibilidade relativa aos fenômenos. Na visão platônica de mundo, aquilo que é captado pelos 
sentidos humanos significa apenas uma cópia simplificada do mundo das ideias. Assim, tudo o que 
existe de forma concreta faz parte, junto com todos os outros objetos semelhantes, de uma ideia 
perfeita. Por exemplo, uma faca terá características próprias, como cor, forma, tamanho, entre outras. 
Já outra terá outros atributos, sem deixar de ser faca, tanto quanto a outra. O que faz com que 
ambas sejam facas consiste na ideia perfeita que se tem desse objeto, sendo capaz de conter todas as 
possibilidades de ser aquilo que é.
De acordo com Platão, algo é na medida em que participa da ideia desse objeto, e seu foco se 
detém em coisas como o ser humano, o bem ou a justiça. A teoria platônica explica a forma de 
conhecimento das coisas, alegando que, ao ver um objeto muitas vezes, nos lembramos da ideia dele, 
que já vimos no mundo das ideias. Para isso, Platão cria o mito de que, antes mesmo de nascer, a 
alma de cada um habitava em uma estrela, onde estão as ideias. Ao nascer, seríamos arremessados 
em direção à Terra. Com o impacto produzido, acabamos por esquecer o que vimos onde estávamos 
anteriormente. Porém, à medida que vemos um objeto aparecer de várias maneiras, a alma recorda-se 
da ideia primordial daquele objeto que foi visto na estrela de onde partiu. A essa recordação Platão 
dá o nome de anamnesis.
Assim sendo, uma das bases para a investigação sobre as ideias consiste em saber que não estamos 
completamente ignorantes sobre elas. Isso se torna necessário para que tenhamos em nossa alma 
um tipo de conhecimento ou de recordação do contato original com o mundo ideal antes do nosso 
nascimento, para que possamos nos lembrar delas sendo reproduzidas no mundo concreto. Isso faz com 
que toda a ciência platônica seja uma forma de reminiscência, pois a investigação das ideias supõe que 
as almas preexistiram em uma região divina onde as contemplavam.
Platão acreditava que o filósofo deveria buscar a verdade plena, que poderia ser encontrada 
apenas em uma instância superior, uma vez que a verdade é invariável, e, se existe uma verdade 
essencial para a humanidade, ela deve valer para todos. Dessa maneira, a existência das coisas 
físicas deve ter outro pressuposto, que transcende a forma de buscar essas realidades e que está 
no conhecimento daquilo que está além das coisas. Em Platão, essa busca racional possui caráter 
contemplativo, o que significa buscar a verdade no interior do próprio homem como um participante 
das verdades essenciais do ser.
30
Unidade II
Assim como seu mestre Sócrates, Platão dedicou-se à descoberta das verdades essenciais das coisas 
pelo conhecimento, sempre destacando o homem não na condição de corpo, mas sim enquanto alma. 
Na visão dele, a alma humana, por ser perfeita, faz parte do mundo perfeito das ideias, embora isso só 
possa ser concretizado por intermédio dos sentidos. Nesse aspecto, também o conhecimento tinha fins 
morais, com o intuito de levar o homem à bondade e à felicidade, o que faz do conhecimento uma forma 
de reconhecimento capaz de fazer com que haja um reencontro com as verdades que sempre soubemos 
existir, permitindo com isso diferenciar as aparências de verdades e as verdades. Sendo assim, a obtenção 
do autoconhecimento apresentava-se como um caminho árduo a ser seguido de maneira meticulosa.
É interessante observar que Platão não defendia que todas as pessoas tivessem igualdade de acesso 
à razão, pois ele reconhecia que, apesar de todos terem a alma perfeita, nem todos conseguiriam chegar 
à contemplação absoluta do mundo das ideias, lembrando que o conhecimento para Platão tem fins 
morais. De acordo com ele, existiam três tipos de virtude na alma humana – a sabedoria, que deveria 
ser o governo, a coragem, que deveria equivaler à força dos soldados, e a temperança, que estaria 
relacionada ao baixo-ventre do Estado, ou seja, aos trabalhadores, uma vez que a alma desses indivíduos 
é guiada pelos sentidos.
Na visão platônica, o homem divide-se entre corpo, matéria e alma – o imaterial e o divino. O 
corpo vive em processo contínuo de mudança de aparência, mas a alma não muda nunca. A partir 
do momento em que nascemos, apesar da alma perfeita, estamos aprisionados ao corpo e nos 
esquecemos das verdades essenciais escritas eternamente na alma. Para Platão, a alma está dividida 
em três partes: Racional: cabeça – tem que controlar as outras duas partes, e sua virtude está na 
sabedoria ou na prudência (phrónesis); Irrascível: tórax – parte da impetuosidade, dos sentimentos. 
A virtude está na coragem (andreía); e Concupiscente: relativa ao baixo-ventre, incluindo o apetite 
e o desejo carnal ligado à libido. 
Vale destacar que, para Platão, depois da morte, a alma reencarnava em outro corpo; mas se ocupava 
com a filosofia, graças ao desapego material, estando a ela concedido o prazer de passar a eternidade ao 
lado dos deuses. Assim, somente por meio da relação de sua alma com a Alma do Mundo o ser humano 
pode acessar o mundo das ideias. A ação do homem pode atingir somente o mundo material, pois, no 
mundo das ideias, ele não pode transformar nada, uma vez que já existe a perfeição.
A ascensão ao conhecimento está representada por Platão na Alegoria da Caverna, que 
descreve um prisioneiro que contempla, no fundo de uma caverna, os reflexos de simulacros 
que, sem que perceba, são transportados à frente deuma fogueira, no sentido figurado. Como 
sempre, as projeções do que existe acredita serem elas a realidade e permanece na ilusão. No 
entanto, essa situação muda com a libertação desse homem, que reconhece seu engano ao 
descobrir a encenação que o iludia. Depois de subir a rampa que leva à saída da caverna, ele 
pode contemplar do lado de fora a verdadeira realidade. Acostumado às sombras, primeiro ele 
enxerga através dos reflexos, até ter condições de olhar diretamente para a luz solar como fonte 
de toda a realidade. Essa alegoria de dimensão emocional, filosófica, religiosa e científica guarda 
também uma conotação política, ou seja, aquele que se liberta das ilusões e se eleva à visão da 
realidade é quem pode e deve governar para libertar os demais prisioneiros das sombras. 
31
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
Trata-se do filósofo político, capaz de fazer da sua sabedoria um instrumento de libertação 
de consciências e de justiça social. Sendo assim, o conhecimento no platonismo se constrói 
como uma articulação entre o intelecto e a emoção, entre razão e vontade, como resultado da 
inteligência e do sentimento de amor.
 Lembrete
Desde que o ser humano tomou consciência da sua condição, muitos 
estudiosos buscaram não uma resposta derradeira para o sentido da 
existência, mas sim explicar os princípios éticos, morais e religiosos que 
regem a trajetória do homem na Terra.
5.3 Aristóteles
Figura 5 – Aristóteles (detalhe de A Escola de Atenas)
O organizador do mundo
O filósofo grego Aristóteles colaborou em larga escala para o desenvolvimento de muitas ciências; 
mas uma retrospectiva do legado do seu pensamento para a humanidade permite perceber que o valor 
dessa contribuição foi bastante desigual. A sua química e a sua física são bem menos significativas 
do que as investigações no domínio das ciências da vida. Isso ocorreu porque ele não possuía relógios 
precisos nem qualquer tipo de instrumento de medição. 
Aristóteles também não tinha consciência da importância da velocidade e da temperatura. Na 
mesma medida em que seus escritos zoológicos continuavam a ser considerados impressionantes pelo 
32
Unidade II
próprio Darwin, a sua física estava já ultrapassada no século VI d.C. Ao contrário do seu trabalho nas 
ciências empíricas, há aspectos da filosofia teórica de Aristóteles que ainda têm muito a nos ensinar, com 
destaque para suas afirmações sobre a natureza da linguagem, da realidade e da relação entre as duas. 
Nas duas categorias, Aristóteles apresenta uma lista dos diferentes tipos de coisas que podem afirmar-se 
a propósito de um indivíduo. Essa lista contém dez artigos: substância, quantidade, qualidade, relação, 
espaço, tempo, postura, vestuário, atividade e passividade.
Considerado o pensador mais influente da filosofia ocidental, Aristóteles nasceu em Estagira, na 
Calcídica, em 384 a.C. Por ser filho de Nicômaco, amigo e médico pessoal do rei macedônio Amintas 
II, pai de Filipe II da Macedônia, é possível compreender seu interesse pela biologia e pela fisiologia, em 
decorrência da atuação profissional exercida pelo pai e pelo tio. Ainda na adolescência, Aristóteles foi 
morar em Atenas, maior reduto de intelectuais e artistas da Grécia, para dar prosseguimento aos estudos. 
Das duas grandes instituições da preferência dos jovens da época, a escola de Isócrates e a Academia de 
Platão, optou pela segunda e nela permaneceu por vinte anos, até 347 a.C., ano da morte do seu mestre.
Com a escolha do sobrinho de Platão, Espeusipo, para assumir a Academia, Aristóteles partiu para 
Assos com alguns ex-alunos, talvez por que as ideias do novo diretor não lhe agradassem ou por ter se 
sentido rejeitado, uma vez que se julgava o mais preparado para assumir a direção da Academia. Lá, ele 
criou um círculo filosófico com a ajuda de Hérmias, tirano local. Depois da morte de Hérmias, Aristóteles 
foi para Mitilene, na Ilha de Lesbos, onde realizou grande parte das suas investigações no campo da 
biologia. Em 336 a.C., retornou a Atenas e fundou a Lykeion, que deu origem à palavra Liceu, uma escola 
onde os alunos ficaram conhecidos como peripatéticos, ou seja, aqueles que passeiam, por causa do 
hábito de Aristóteles de ensinar ao ar livre.
Diferentemente da Academia de Platão, o Liceu dava preferência às ciências naturais, que estudavam 
exemplares da fauna e da flora das regiões conquistadas. Os estudos abrangiam as áreas do conhecimento 
clássico da época, como a filosofia, procurando estabelecer as bases dessas disciplinas e também a 
metodologia científica do estudo. Aristóteles foi diretor da escola até 324 a.C., depois da morte de 
Alexandre. Com temor da postura antimacedônia dos atenienses, que o ameaçaram, ele deixou a cidade, 
afirmando que os gregos estavam cometendo outro crime contra a filosofia, depois do julgamento e da 
morte de Sócrates.
Como aluno de Platão, Aristóteles discordava de uma parte fundamental da filosofia do seu mestre. 
Enquanto Platão concebia dois mundos existentes, um apreendido pelos sentidos humanos, em constante 
mutação, e o outro concebido como sendo das ideias, acessível somente pelo pensamento intelectual, imutável 
e atemporal, Aristóteles contemplava apenas a existência do mundo em que vivemos, alegando que aquilo 
que estava além da experiência humana não poderia significar nada para o homem. Na visão aristotélica, 
a lógica funciona como um elemento introdutório para o conhecimento, tendo como base uma estrutura 
de raciocínio formal que compreende pressupostos criados previamente, para que se possa chegar a uma 
conclusão. Como a dedução parte do universal para o particular e a indução, pelo contrário, do particular 
para o universal, se forem verdadeiras as premissas, a conclusão, logicamente, também deverá ser.
No campo da psicologia, Aristóteles toma como base os conceitos de alma e de intelecto, sendo a 
primeira a essência de um corpo que possui vida em potencial. Já o intelecto, na visão dele, não fica 
33
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
restrito somente a uma relação exclusiva com o corpo, uma vez que a sua ação vai mais longe. Nesse 
contexto, o organismo desenvolvido assume a forma que vai lhe permitir a perfeição por intermédio da 
ação. Essa seria a alma, que faz com que a flora cresça e a fauna se reproduza. Para o homem, além de a 
alma apresentar atributos vegetativos e sensitivos, ela tem também a inteligência, que reúne condições 
de captar a essência de tudo, independentemente da condição orgânica. O filósofo também acreditava 
que a mulher era um ser incompleto e passivo, enquanto o homem seria o ser em ação.
Aristóteles foi o verdadeiro fundador da zoologia, dentro do campo de estudo da biologia, ao 
estabelecer a primeira divisão do reino animal. Ele também é considerado o fundador da teoria da 
abiogênese, que persistiu durante muitos séculos, atestando que um ser nascia a partir de um germe da 
vida, sem que outro precisasse gerá-lo, exceção feita aos seres humanos. O que atualmente denominamos 
de metafísica Aristóteles chamava de filosofia primeira, aquela que estuda fenômenos que acontecem 
além do mundo físico, que podem ser compreendidos pelos sentidos. Nesse sentido, o conceito de 
metafísica em Aristóteles apresenta-se de forma extremamente complexa, com quatro definições 
possíveis, ou seja, a ciência que busca por causas e princípios, que busca o ser enquanto ser, a que apura 
a substância e aquilo que está além dos sentidos. É importante destacar que a teoria aristotélica sobre 
as causas abrange toda a natureza. Além disso, o filósofo distingue a essência do acidente em alguma 
coisa. A definição de essência seria algo responsável pela identificação de um ser, sem a qual se torna 
impossível reconhecê-lo como ele mesmo. Já o acidente é algo que pode ser parte estrutural ou não do 
ser, mas que não o descaracteriza por sua falta.
Para Aristóteles, a ética pode ser considerada como a ciência das condutas, que estuda assuntos 
que podem sofrer alteração. Sendo assim, ela sedebate com aquilo que é essencial e imutável no 
ser humano, com o que pode ser adquirido por atitudes repetidas ou por costumes que legitimam 
as virtudes e os vícios. O seu objetivo último, portanto, consiste na garantia ou na possibilidade de 
conquista da felicidade. Tomando como princípio as disposições naturais do homem, a função da moral 
consiste em demonstrar como elas necessitam ser mudadas para se adaptar à razão. Ainda na visão 
dele, as virtudes se realizam sempre na esfera do homem e perdem sentido quando as relações humanas 
deixam de existir.
Já a virtude, seja ela especulativa ou intelectual, diferencia-se porque faz parte de um universo 
filosófico limitado que, excluindo a vida moral, busca o conhecimento pelo conhecimento. Dessa 
maneira, na filosofia aristotélica, a prática da contemplação volta o homem para Deus, sendo a política 
uma consequência natural da ética. Para ele, ambas compõem a unidade denominada filosofia prática. 
Nesse sentido, se a ética está preocupada com a felicidade individual do homem, a política se ocupa 
em investigar as formas de governo e as instituições capazes de assegurar a felicidade coletiva na 
constituição do estado.
De acordo com Aristóteles (1978, top. 104b1-3):
um problema de dialética é um tema de investigação que contribui para 
a escolha ou a rejeição de alguma coisa, ou ainda para a verdade e o 
conhecimento, e isso quer por si mesmo, quer como ajuda para a solução de 
algum outro problema do mesmo tipo.
34
Unidade II
Ele também considerava como primordial o conhecimento da retórica, que consiste em uma técnica 
relacionada à vida pública. Para ele, o discurso retórico opera no campo deliberativo, no campo judicial 
e no campo epidítico (demonstrativo).
 Saiba mais
Não deixe de ler o livro O Mundo de Sofia, de Josten Gaarder, que conta 
de forma divertida e didática a história desses grandes filósofos gregos, 
além de outros também.
GAARDER. J. O mundo de Sofia. São Paulo: Cia. das Letras, 1995.
6 A FILOSOFIA NA IDADE MÉDIA
Figura 6 – Capa da Bíblia Moralisée, 1275 (Deus criando o universo através de princípios geométricos)
A filosofia da Idade Média pode ser considerada como o pensamento filosófico ocidental que preencheu 
o espaço entre o fim do mundo antigo, determinado pela queda do Império Romano do Ocidente (476), 
e pelo começo dos tempos modernos, que têm seu início a partir da conquista de Constantinopla (1453) 
ou do princípio da Reforma Religiosa em 1517. A essa filosofia medieval costuma-se dar o nome de 
filosofia escolástica, que começou mesmo no século IX. Por isso, vamos dividir a filosofia da Idade Média 
em dois grandes períodos – a filosofia patrística e a filosofia escolástica.
Se formos traçar um perfil da filosofia medieval pelo seu conteúdo, naquilo que corresponde 
à sua essência espiritual, podemos conceituá-la como o pensamento filosófico ocidental que vem 
desde Santo Agostinho e de Anselmo de Cantuária, obedecendo ao mote: “saber para crer, crer para 
poder saber”. Durante esse período, a filosofia, que tem por objetivo tratar dos grandes problemas 
35
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
do mundo, do homem e de Deus só com as forças da razão, alia-se com a fé religiosa no pressuposto 
de uma unidade ideológica. Nela, está representado o espírito de toda essa fase da história humana 
e nada é mais significativo do que essa unidade espiritual. Como nunca, todos vivem na certeza 
da existência de Deus, da sua sabedoria, do seu poder e da sua bondade. Nesse sentido, o homem 
podia dizer com segurança que sabia da origem do mundo e da sua própria natureza, cheia de 
sentido, bem como sua essência homem e sua posição no universo, tendo em vista a significação 
da sua vida e a imortalidade. Enquanto na era moderna indaga-se a respeito da possibilidade da 
ordem e da lei, na época medieval a ordem estabelece-se como algo evidente, sendo nossa a tarefa 
de reconhecê-la. No início da patrística, a Idade Média encontrou seu direcionamento, que foi 
preservado até o final.
Surge, porém, a indagação se ainda se trata de pura filosofia, quando o conhecimento não é 
dominante, sendo guiado pela religião. Claro, pois como tudo já estava pronto e se repetia com frequência, 
a filosofia não teria que solucionar qualquer tipo de problema, pois eles já estariam resolvidos no campo 
da fé. Nesse sentido, é com base na fé que o filósofo deve pensar, e o pensamento filosófico deve servir 
ao patrimônio da crença, aplicando-lhe a análise e a síntese pela ciência. Em resumo, trata-se de uma 
filosofia comprometida com juízos de valor preconcebidos, o que deixa um rastro de dúvida quanto à 
existência de uma filosofia de fato na Idade Média.
Atualmente, depois das investigações de DeniEle, Ehrle, Bauemker, M. De WUlf. Grabmann, 
MaNdoNNet, Gilson e outros, sabemos que as realizações filosóficas pertinentes à Idade Média eram 
bem mais abrangentes, interessantes e também individuais do que poderíamos imaginar. Além disso, 
também para o homem medieval era livre o pensamento e a investigação. Mesmo sem fazer grande 
uso da sua liberdade, o homem da Idade Média seguiu as pressuposições e também a opinião pública. 
Condenar a Idade Média, alegando o fato de ela não ser “isenta de preconceitos”, é um paradoxo. Na 
realidade, em época alguma houve ausência de preconceitos. Porém, existe o ideal ao qual devemos 
perseguir por amor à verdade, o que também ocorreu na filosofia medieval, que buscou alcançar a 
verdade objetiva. Por isso, não devemos subestimar a Idade Média; pois, quanto mais conhecemos 
melhor o homem moderno na sua forma de pensar e de sentir, ele parece muitas vezes mais medieval 
que a própria Idade Média.
Possui ainda a Idade Média algum significado do ponto de vista filosófico? Com certeza, pois ela 
conservou os antigos pressupostos teóricos, incluindo não apenas a ciência e a arte da antiguidade, 
mas também garantiu nas suas escolas a continuidade do saber filosófico. Nesse aspecto, temas tão 
fundamentais relativos à causalidade, à realidade, à finalidade, à universalidade, à individualidade, à 
sensibilidade e ao mundo fenomenal, à compreensão e à razão, à alma e ao espírito, ao mundo e a Deus 
foram transmitidos aos filósofos modernos pela Idade Média.
36
Unidade II
6.1 A Patrística
Figura 7 – Santo Agostinho
A filosofia cristã dos primeiros sete séculos foi denominada de patrística, por ter sido elaborada pelos 
padres da Igreja, considerados como os primeiros teóricos. Ela consiste no conjunto de doutrina das verdades 
da fé cristã e na sua defesa contra os “pagãos” e os hereges. Esse conjunto foi responsável pela defesa da 
fé e da criação dos costumes que decidiram os rumos da Igreja no decorrer dos sete primeiros séculos do 
cristianismo. A patrística também se ocupou da elucidação progressiva dos dogmas cristãos e daquilo que 
chamamos de Tradição Católica. Quando o ocidentalismo, para defender-se de ataques de outros povos, 
religiões e culturas, precisou esclarecer seus próprios dogmatismos, a pratística mostrou-se como a expressão 
acabada da verdade que a filosofia grega havia buscado, enquanto o próprio Deus não havia ainda encarnado.
Se, por um lado, se procura interpretar o cristianismo por intermédio de conceitos tomados da 
filosofia grega; do outro, encontra-se o significado que esta última dá ao cristianismo. Os primeiros 
pensadores cristãos também se debateram com os filósofos, Platão, Aristóteles, sobretudo com os 
estoicos e os epicureus. Sem perder de vista os ideais da doutrina cristã, eles buscaram encontrar, frente 
à filosofia e aos filósofos, o local adequado da reflexão filosófica e do pensamento cristão.
Vale lembrar que o cristianismo primitivo recebeu influências de vários segmentos da filosofia grega, 
já citados anteriormente, sem que se pudesse determinar com clareza a extensão provocada por esse 
contato. Costuma-se dizer que os filósofos convertidos ao cristianismo buscaram conferir à doutrina 
cristã um status filosófico, mas sem o cuidado de salientaras fontes filosóficas. Entre os autores que 
se ocuparam dessa tarefa, estão Justino, Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenes, Gregório de 
Nazianzo, Basílio de Cesareia e Gregório de Nissa.
37
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
Como observa Johannes Hirschberger (1966):
Tratando-se de filosofia patrística, não devemos, como outrora, pensar 
somente nas obras de filósofos que só foram filósofos. A filosofia da 
patrística está antes contida nos tratados dos pastores de alma, pregadores, 
exegetas, teólogos, apologetas que buscam antes de tudo a exposição da sua 
doutrina religiosa. Mas, ao mesmo tempo, levados pela natureza das cousas 
e dada a ocasião, se põem a resolver problemas propriamente pertencentes 
à filosofia; e então, pela força do assunto, versam a metodologia filosófica.
Divisão didática
Podemos dividir a Patrística em três fases:
• até o ano 200, ocupou-se em defender o cristianismo contra seus adversários (padres apologistas, 
como São Justino Mártir).
• até o ano 450, consolida-se o período em que surgem as primeiras grandes teorias da filosofia 
cristã, como a de Santo Agostinho e a de Clemente Alexandrino, entre outros.
• até o século VIII, são refeitas as doutrinas já formuladas e de cunho original.
Também é possível dividir a literatura patrística em três períodos, da seguinte forma:
• Período ante-niceno – corresponde ao período anterior ao Concílio Ecumênico de Niceia. Inclui 
todos os escritos surgidos entre o século I e o início do século IV.
• Período niceno – faz menção ao período entre os anos anteriores até aqueles posteriores ao Concílio 
Ecumênico de Niceia. Abrange os escritos que surgiram entre o início e o fim do século IV.
• Período pós-niceno – trata-se do período compreendido entre os séculos V e VIII.
6.1.1 A filosofia de Agostinho
Aurélio Agostinho foi um padre que merece destaque entre os representantes do clero, da mesma 
forma que Tomás de Aquino se diferenciou entre os escolásticos. Enquanto Agostinho buscou inspiração 
na filosofia platônica, Tomás de Aquino preferiu os pensamentos de Aristóteles para elaborar a filosofia 
metafísica cristã. Por ser muito sensível e compreensivo, Agostinho revelou ter em si a mesma essência 
da patrística grega, com o caráter pragmático da patrística latina, mesmo que os problemas que o 
preocupassem fossem sempre de natureza prática e moral, como o mal, a liberdade e o destino.
Nascido em Tagasta, na Numídia, em 354, Agostinho pertencia a uma família burguesa comandada 
pelo pai, que era pagão, tendo sido batizado somente antes de morrer. No entanto, a mãe era uma 
cristã fervorosa que influenciou muito o filho nesse aspecto. Ele foi para Cartago para aperfeiçoar 
seus estudos e, ao terminá-los, abriu uma escola lá mesmo. Em seguida, partiu para Roma e depois 
para Milão. Ele deixou de ensinar aos 32 anos, por motivo de saúde e de natureza espiritual. Após uma 
38
Unidade II
reflexão crítica e madura das suas ideias, acabou abandonando o maniqueísmo para adotar a filosofia 
neoplatônica, que lhe ensinou a espiritualidade divina, bem como a negatividade do mal. Agostinho 
retirou-se do mundo durante meses, visando ao isolamento, na companhia da mãe, do filho e de alguns 
discípulos, nos arredores de Milão. Foi durante essa fase da sua vida que redigiu seus diálogos filosóficos.
Logo após a conversão aos 33 anos, Agostinho deixou Milão, doou tudo o que tinha para os pobres e fundou 
um mosteiro em uma de suas propriedades. Foi ordenado padre em 391 e consagrado bispo em 395, tendo 
governado a igreja de Hipona até a morte, aos 75 anos, durante o assédio da cidade pelos vândalos em 430. Ele 
também de dedicou, em tempo integral, a estudar a Bíblia e a redigir suas obras, especialmente as de caráter 
filosófico. Entre elas, estão Contra os acadêmicos, Os solilóquios, Sobre a imortalidade da alma, Sobre a quantidade 
da alma, Sobre o mestre, Sobre os costumes, Do livre arbítrio, Sobre as duas almas, Da natureza do bem.
De acordo com Agostinho, a filosofia poderia resolver o problema da vida, a qual apenas o cristianismo 
poderia dar uma solução real. Nesse sentido, seu grande interesse estava relacionado aos problemas de Deus 
e da alma, por serem os mais importantes. No início, ele garantiu a certeza da própria existência espiritual, 
de onde tirou uma verdade superior e imutável como condição e origem de toda verdade individual. 
Mesmo ao desvalorizar o conhecimento sensível em relação ao conhecimento intelectual, alegava que os 
sentidos e o intelecto consistem nas fontes de conhecimento. Como para ver algo com os olhos humanos, é 
necessária a luz física, da mesma forma, para o conhecimento intelectual, seria preciso uma luz espiritual que 
vem de Deus, sendo esta a Verdade e o Verbo divino, para onde são levadas as ideias do pensamento platônico.
Com relação à natureza de Deus, Agostinho demonstrou uma noção exata, ortodoxa e cristã, definindo-o 
como um poder racional infinito, eterno, imutável, simples, espírito, pessoa, consciência. Para ele, Deus é 
ainda ser, saber e amor, e, no tocante às relações mundanas, Deus é concebido como criador. 
Vale lembrar que o pensamento clássico grego concebia uma dualidade metafísica. Já no pensamento 
cristão agostiniano, esse dualismo persiste, mas agora incorporando a moral e os pecados dos espíritos 
que se erguem contra Deus, preferindo o mundo a Ele. Portanto, no cristianismo, o mal estaria, do ponto 
de vista metafísico, na negação e na privação. Basicamente, Agostinho tratou do problema das relações 
entre Deus e o tempo, uma vez que este último é considerado uma criatura de Deus, porque passa a 
existir a partir da criação das coisas.
Ainda é possível afirmar que a psicologia de Agostinho encontrou ressonância no seu platonismo 
cristão. Nesse sentido, o corpo não é mau por natureza, uma vez que a matéria não pode ser essencialmente 
má, por ter sido criada por Deus. No entanto, a união do corpo com a alma é acidental, pois alma e corpo 
não formam a unidade metafísica, substancial, da doutrina da forma e da matéria. 
Entretanto, demonstrou indecisão entre o criacionismo e o traducionismo, ou seja, se a alma é 
criada diretamente por Deus ou provém da alma dos pais. A única certeza é que ela é imortal pela 
sua simplicidade. Agostinho a classificou platonicamente em vegetativa, sensitiva e intelectiva; mas 
destacou que estão todas forjadas na substância humana. Dessa forma, a inteligência é divina em 
intelecto intuitivo, a razão consiste em fruto da vontade. Enquanto no homem a vontade é amor, no 
animal funciona como instinto, e nos seres inferiores está representada pelo apetite.
39
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
Sem sombra de dúvida, a moral agostiniana é cristã e transcendente. A característica mais 
importante da sua moral está no voluntarismo, na ação própria do pensamento latino, de forma oposta 
ao pensamento grego. Dessa forma, a vontade não é determinada pelo intelecto, pois vem antes dele. 
Para a filosofia agostiniana, como a vontade é livre, pode querer o mal; pois se trata de um ser limitado, 
capaz de ir ao encontro da vontade de Deus. O pecado, portanto, possui em si mesmo o dado estrutural 
da pena da sua desordem e, como o homem não pode prejudicar Deus, acaba prejudicando a si mesmo, 
dilacerado pela sua natureza. A teoria agostiniana sobre a liberdade em Adão, antes do pecado original, 
consiste justamente em poder não pecar. Depois do pecado original cometido, está em não poder não 
pecar e nos bem-aventurados será não poder pecar.
Exposta dessa maneira, a vontade humana parece impotente e sem graça. Já a questão da graça, que 
perturbava Agostinho, apresenta um interesse filosófico, uma vez que trata de conciliar a causalidade 
absoluta de Deus com o livre arbítrio do homem.
Com relação à família, Agostinho, assim como o apóstolo Paulo, considerou o celibato superior 
ao matrimônio. Se o mundo terminasse por causa do celibato, ele demonstraria alegria pela 
passagem do tempo para a eternidade. Quanto àpolítica, ele possui uma concepção negativa da 
função estatal, pois se não houvesse pecado e os homens fossem todos corretos, o Estado de nada 
serviria. Na visão de Agostinho, a propriedade seria de direito positivo, e não natural. Também a 
escravidão não seria de direito natural, e sim uma consequência do pecado original, que sempre 
incomodou toda a humanidade. Por não poder ser vencida de forma racional, sua essência já é 
corrompida, podendo ser superada apenas por meio do conformismo cristão, de quem é escravo, e 
da caridade, de quem é senhor.
Agostinho foi profundamente perturbado pelo problema do mal, do qual fornece uma rica 
fenomenologia, e também por muito tempo desviado dessa questão pela solução maniqueísta, que 
impediu seu acesso ao justo conceito de Deus e à possibilidade da vida moral. Ele descobriu a solução 
para esse problema na libertação e na sua concepção filosófico-teológica, considerada como um marco 
fundamental entre o pensamento grego e cristão. Inicialmente, ele refutou a realidade metafísica do 
mal, alegando ser ela a privação do ser, da mesma forma que a escuridão consiste na ausência de 
luz. Essa privação é necessária em qualquer criatura que não seja Deus. Já ao mal físico, que atinge a 
perfeição natural dos seres, buscou explicá-lo argumentando que o contraste dos seres contribuiria para 
a composição harmônica do todo.
No que se refere ao “mal moral”, existe de fato a má vontade que provoca livremente o mal; porém, ela 
não é causa eficiente, mas deficiente, sendo o mal não ser, que pode vir do homem livre e limitado e não de 
Deus, que é puro ser e cria apenas o ser. Como o mal moral chegou ao mundo humano pelo pecado original 
e atual, a humanidade foi castigada com todo tipo de sofrimento, incluindo a perda dos dons divinos. 
Dessa forma, o mal físico tem outra explicação mais profunda, uma vez que o mal moral foi remediado 
pela redenção de Cristo, Homem-Deus, que devolveu à humanidade os dons divinos, bem como a 
possibilidade do bem moral, mas deixou permanecer o sofrimento como consequência do pecado, como 
meio de purificação e expiação. 
40
Unidade II
Para explicar o mal moral e seus desdobramentos, Agostinho atestou o fato de ser muito mais glorioso 
para Deus retirar o bem do mal, em vez de simplesmente impedir o mal. De maneira resumida, a doutrina 
agostiniana sobre o mal consiste basicamente na privação do bem ou devido a uma natureza específica.
Agostinho divide em três partes a história que antecedeu a de Cristo. A primeira encontra-se 
relacionada à história da Cidade de Deus e da Cidade Satânica após o pecado original, até se unirem em 
um único mundo caótico humano, indo até a chegada de Abraão, com o começo da separação. 
Já na segunda parte, ele se restringre à Cidade de Deus, instalada em Israel, de Abraão até 
Cristo. Na terceira fase, o filósofo volta ao ponto em que tem início a história da Cidade de 
Deus desde seus primórdios, para tratar da mesma forma a cidade do mundo que nos leva ao 
Império Romano. Apesar de fragmentada, essa narrativa, na qual Satanás parece ter seu reino, 
representa, ao mesmo tempo, uma unidade e uma perspectiva de progresso para Cristo, sempre 
mais aguardado e profetizado em Israel e pelos povos pagãos, que também, de alguma forma, já 
preparavam a sua vinda.
Após a vinda de Cristo, acabou a divisão política entre as duas cidades, e elas acabam se 
entrelaçando como nos primórdios da humanidade, sem ser mais uma união caótica, mas sim 
reformulada pela Igreja, que está acima de todas as convenções humanas na unidade dos homens 
com Deus. Nesse sentido, a Igreja passa a ser acessível às almas de boa vontade que dela não 
podem participar, indo além do mundo terreno. Como todos os predestinados se encontram na 
prática unidos na Igreja, a divisão final vai acontecer somente no fim dos tempos, depois da morte 
e do julgamento universal. Por ser uma visão unitária e teológica da história, pertence ao terreno 
da teologia e não da filosofia.
6.2 A Escolástica
Figura 8 – Santo Agostinho
A escolástica possui um significado mais limitado quando comparada às disciplinas ministradas nas 
escolas medievais, entre elas a gramática, a retórica e a dialética; a aritmética, a geometria, a astronomia 
41
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
e a música, embora contemple uma conotação mais ampla ao se reportar à linha filosófica adotada pela 
Igreja na Idade Média. Esse modo de pensar essencialmente cristão buscava respostas que justificassem 
a fé na doutrina ensinada pelo clero, considerado como o guardião das verdades espirituais. Essa escola 
filosófica prevaleceu do princípio do século IX até o final do século XVI, época que representou o declínio 
da era medieval, sendo a escolástica o resultado de estudos mais profundos da arte dialética, assim 
como a radicalização dessa prática. No início, ela foi disseminada nas catedrais e nos monastérios para 
depois chegar às universidades.
Com isso, a filosofia da antiguidade clássica adquiriu características judaico-cristãs, já esboçadas 
a partir do século V, com a necessidade urgente de fazer um mergulho profundo em uma cultura 
espiritual que estava se desenvolvendo rapidamente, para assimilar a esses princípios religiosos uma 
essência filosófica capaz de introduzir o cristianismo no campo da filosofia. A partir dessas tentativas de 
racionalização do pensamento cristão, surgiram os dogmas católicos, que se infiltraram na mentalidade 
clássica dos conceitos gregos, como ‘providência’, ‘revelação divina’, ‘criação proveniente do nada’, entre 
tantos outros.
 Lembrete
No período medieval, enquanto Agostinho buscou sua inspiração na 
filosofia platônica, Tomás de Aquino preferiu os pensamentos de Aristóteles 
para elaborar a filosofia metafísica cristã.
A tarefa dos escolásticos consistia, portanto, em harmonizar ideais platônicos com fatores de natureza 
espiritual, inseridos do cristianismo vigente ocidental. Mesmo quando Aristóteles é contemplado no 
pensamento cristão por Tomás de Aquino, o neoplatonismo adotado pela Igreja ainda é preservado, 
fazendo com que a escolástica seja permanentemente atravessada por dois universos distintos, o da 
fé herdada da mentalidade platônica e a razão aristotélica. No caso de Agostinho, havia o clamor 
pelo predomínio da fé em detrimento da razão, ao passo que, em Tomás de Aquino, se acreditava na 
independência da esfera racional na busca de respostas mais apropriadas, embora não houvesse rejeição 
à primazia da fé sobre a razão.
O método adotado pela Escolástica se deu por meio do ensino, fundamentado no mestre 
com o domínio da palavra e também no debate livre entre o professor e seu discípulo. Além 
disso, também houve as formas literárias e, entre elas, predominam os comentários, nascidos 
das discussões, dos quais se originam as summas, que permitem ao autor se ver um pouco 
mais livre dos textos. Uma das summas mais renomadas é a Summa Theologica de São Tomás. 
A Opuscula é igualmente usada pelos escolásticos, representando um caminho mais autônomo 
para se abordar uma questão.
Vale ressaltar que a escolástica foi nitidamente influenciada pela Bíblia Sagrada, pelos filósofos da 
antiguidade e também pelos padres da Igreja, escritores do primeiro período do cristianismo oficial, que 
dominavam a fé e a santidade. Ela ainda pode ser considerada como o último período do pensamento 
cristão, que se estende desde o começo do século IX até o final do século XVI, abrangendo da constituição 
42
Unidade II
do Império Romano até o final da Idade Média. Portanto, a escolástica era a filosofia ensinada nas 
escolas dessa época pelos professores chamados de escolásticos. As disciplinas ensinadas nas escolas 
medievais dividiam-se entre gramática, retórica, dialética, aritmética, geometria, astronomia e música. 
A escolástica veio a partir do desenvolvimento da dialética.
Junto com essa instrução, ainda existe, na Idade Média, uma educação militar, ministrada 
por militares para militares. Também a Igreja preocupa-seno sentido de conferir ao seu sistema 
educacional um sentido ético, religioso e católico. Pode-se afirmar que a história da filosofia 
escolástica começou com o nome de João Scoto Erígena, que nasceu na Irlanda, em 874. Ele 
foi chamado à corte culta de Carlos, o Calvo, para presidir e ministrar aulas na escola palatina. 
Sua obra principal consiste Da Divisão da Natureza, dividida em cinco livros. Por apresentar 
características neoplatônicas, o esquema especulativo da obra traz a descida da unidade à 
multiplicidade, bem como o retorno da multiplicidade à unidade. A valorização conceitual das 
ideias, problema que tanto despertou o interesse da escolástica, foi solucionado de maneira 
radical no pensamento escotista.
 Saiba mais
Leia o livro indicado a seguir, do escritor e pensador italiano Umberto Eco:
ECO, U. O nome da rosa. Rio de Janeiro: Record, 2009.
As soluções oferecidas pela escolástica podem ser basicamente divididas em três: a solução 
chamada de realismo transcendente, a solução do realismo moderado e a solução nominalista. 
Segundo a solução proposta pelo realismo transcendente, a ideia de uma realidade existe além da 
esfera mental e do objeto, consistindo na solução platônica adotada pela escolástica iniciante. Já a 
solução do realismo moderado traz em si uma realidade objetiva e fora do campo mental. Nesse 
sentido, a solução conceptualista-nominalista destaca que o universal não possui existência 
objetiva, mas somente mental ou nominal. Após a decadência cultural que se seguiu à renascença, 
começou a se manifestar nos séculos XI e XII um renascimento especulativo, incluindo a luta dos 
teólogos e dos místicos, contra a ciência filosófica por eles considerada um resíduo pagão e uma 
distração mundana contra os filósofos e os dialéticos que a cultivavam. Também é importante 
destacar sua posição crítica com relação à pesquisa filosófica, pois a dúvida nos leva à investigação, 
e a investigação nos leva à ciência.
 Observação
“Há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã 
filosofia” (Shakespeare).
43
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
6.2.1 O pensamento de Tomás de Aquino
Figura 9 – São Tomás de Aquino
Podemos afirmar que o tomismo ou a doutrina escolástica de Tomás de Aquino, adotada 
oficialmente pela Igreja Católica, caracteriza-se, principalmente, pela tentativa de conciliar a filosofia 
de Aristóteles com o cristianismo, desfazendo-se das doutrinas que não estavam enquadradas de 
acordo com os princípios aristotélicos. 
A obra de Tomás de Aquino pode ser dividida em partes, tratados, questões e artigos, objeções 
e respostas, em rigorosa ordem numérica, abordando em sua estrutura a composição do mundo 
feudal, separado em classes e em estamentos sociais. Como a expressão máxima do apogeu do mundo 
medieval, contemporânea dos castelos e das catedrais, o tomismo consiste em um manancial de ideias, 
em que a teologia do século XIII encontrou sua forma mais coerente e sólida de formulação. Contudo, 
o tomismo não foi totalmente aceito pelos escolásticos medievais, e apenas na segunda metade do 
século XVI foi adotado como arma de defesa e ataque da Contrarreforma da Igreja Católica.
Coube a Tomás de Aquino a tarefa de mostrar a solução definitiva para o conflito existente nas 
relações entre a razão e a fé. Estamos falando de duas ciências, a filosofia e a teologia, sendo que a 
primeira baseia-se no exercício da razão humana, enquanto a segunda, na revelação divina. Apesar de 
serem independentes, apresentam, por vezes, os objetos de estudo comuns, como a existência de Deus, 
a essência da alma, entre outros. Por esse motivo, a distinção entre essas ciências tem origem mais do 
objeto formal, pois a teologia estuda o dogma pelo método da autoridade ou da revelação, e a filosofia 
o analisa pela demonstração científica ou pela razão. Portanto, teologia e filosofia não são ciências 
contraditórias, pois ambas procuram a verdade, e esta é uma só. Na hipótese de uma contradição entre 
a razão e a revelação, o erro não será jamais da teologia, mas sim da filosofia, pois nossas limitações do 
ponto de vista do conhecimento racional desviaram-se e não conseguiram atingir a verdade.
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Unidade II
Para Tomás de Aquino, nada está na inteligência que não tenha estado antes nos sentidos, 
motivo pelo qual não podemos ter de Deus, de pronto, uma noção imediata. Com o objetivo de 
provar sua existência, Tomás procede a posteriori, ou seja, não da ideia de Deus, mas sim dos efeitos 
por Ele proporcionados. 
Dessa forma, ele utiliza o mundo sensível, cuja existência é dada pelos sentidos como ponto de 
partida, bem como a metafísica de Aristóteles, para demonstrar a existência de Deus de cinco modos, 
mais conhecidos como as famosas cinco vias:
1) A do “Movimento” – trata-se do argumento aristotélico do primeiro motor, que afirma “não 
ser possível admitir uma série infinita de seres que se movem, movendo por sua vez outros seres; 
logo, é preciso chegar a um motor que mova sem ser movido”. Portanto, o movimento existe e é 
uma evidência para nossos sentidos. Tudo aquilo que se move é movido por outro motor; e se esse 
motor, por sua vez, é movido, vai necessitar de um motor que o mova, e assim por diante de forma 
infinita, o que é impossível, se não houver um primeiro motor imóvel, que move sem ser movido, 
que é Deus.
2) A da “Concatenação das Causas” – tudo está sujeito à lei de causa e efeito. Portanto, existe 
uma série de causas e efeitos ao mesmo tempo. Sendo assim, torna-se impossível remontar 
indefinidamente na série das causas. Logo, há uma causa primeira, não causada, que é Deus.
3) A da “Contingência” – todos os seres conhecidos são finitos, pois não possuem em si próprios 
a razão de sua existência. São e deixam de ser. Se são todos mortais, em um prazo de tempo 
deixariam de ser e nada mais existiria, o que é absurdo. Portanto, os seres contingentes implicam 
o ser necessário, ou seja, Deus.
4) A dos “Graus de Perfeição” – todas as perfeições possuem graus, que se aproximam mais ou 
menos da perfeição absoluta. Deve, pois, haver um ser supremo perfeito, que é Deus.
5) A da “Ordem Universal” – todos os seres tendem para uma ordem, não de forma aleatória, mas 
por uma inteligência que os guia. Isso significa que há um ser inteligente que ordena a natureza 
e a impulsiona para seu fim. Esse ente é Deus.
A partir desses conceitos, Tomás de Aquino concluiu o quanto podemos conhecer sobre a natureza e 
as virtudes de Deus. No entanto, observou que esse conhecimento é imperfeito, pois sabemos que “Deus 
é”, mas não “O que é”. Mesmo assim, podemos compreender que Deus é eterno, infinito e onipotente em 
suas relações com o mundo, além de ser Criador e Providência. 
Nesse sentido, a doutrina tomista acredita que a alma, como princípio espiritual, une-se ao corpo, 
como princípio material, para constituir uma substância. Dessa forma, possuem alma as plantas, sendo 
a “alma vegetativa” a responsável pelas funções de alimentação e reprodução. No caso dos animais, é 
a “alma sensitiva” que responde às funções anteriores, mais à sensação e à mobilidade. Para o homem, 
juntam-se todas as funções anteriores, acrescentando-se a racional. 
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HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
No que diz respeito às propriedades da alma humana, ele admite o livre-arbítrio, que é estudado 
sob todos seus aspectos, e os problemas dele derivados são resolvidos com seriedade e rigidez. Tomás de 
Aquino considera a inteligência como a faculdade mais perfeita da alma humana.
Por intermédio dos seus princípios éticos, ele também adapta a doutrina de Aristóteles aos 
princípios cristãos. Dessa forma, a ética passa a ser o “movimento da criatura racional para Deus”, que 
busca a bem-aventurança e consiste na contemplação imediata de Deus. Para Tomás de Aquino, o 
conhecimento tem dois momentos: o sensitivo e o intelectual. O conhecimento sensitivo do objeto está 
fora de nós e acontece mediante a sensação, que consiste na impressão do objeto material em nossa 
consciência.Ela processa-se pela assimilação das sensações do sujeito com o objeto conhecido. Já o 
conhecimento intelectual depende do conhecimento sensitivo; mas ultrapassa-o por meio da abstração 
e da generalização na busca da formulação de conceitos.
Considerado o maior representante da escolástica, Tomás de Aquino elaborou um sistema filosófico 
sintético, coerente e fundamentado em Aristóteles, reformulando, assim, todo o pensamento cristão 
e adquirindo plena consciência dos poderes racionais, o que permite ao cristianismo ser visto como 
uma filosofia. Assim, podemos atribuir a Tomás de Aquino o pensamento escolástico, bem como o 
pensamento patrístico, que teve seu ápice em Agostinho, repleto de elementos helenistas e neoplatônicos, 
incluindo a herança da revelação judaico-cristã. A ele, deve-se diretamente o pensamento helênico na 
sistematização do pensamento de Aristóteles, que chega a Tomás de Aquino acrescido pelas influências 
de outras culturas.
Diferentemente do agostinianismo, e em sintonia com o pensamento aristotélico, Tomás de 
Aquino considerava a filosofia como uma disciplina para resolver o problema do mundo e totalmente 
distinta da teologia, mas sem ser oposta a ela. Pelo contrário, diversamente de Agostinho, ela estaria 
em harmonia com a aristotélica, por ser empírica e racional, sem intervenções divinas. 
Nesse contexto, o conhecimento humano passa por dois momentos, o sensível e o intelectual, e 
o segundo pressupõe o primeiro. O conhecimento sensível do objeto, que está fora de nós, acontece 
por meio da impressão da imagem, ou seja, pela forma do objeto material na alma, o que representa 
o objeto desprovido da matéria.
Já o conhecimento intelectual observa a natureza das coisas em nível mais profundido em 
comparação aos sentidos humanos, sobre os quais exerce a sua função. Na forma sensível, que significa 
o objeto material na sua individualidade, independentemente da matéria, o inteligível, o universal e 
a essência estão retidos nele como potencial. Para que venha à tona, é preciso descontextualizá-lo 
das condições materiais. Esse procedimento pode ser feito apenas por um agente intelectual capaz de 
abstrair e desmaterializar o inteligível da representação sensível. Porém, esse conhecimento não possui 
conteúdo ideal nem conceitos, como pretendia o inatismo agostiniano. Além disso, trata-se de uma 
faculdade da alma individual, que não vem de fora.
É importante salientar que, na filosofia de Tomás de Aquino, a espécie inteligível é o meio 
pelo qual a mente entende as coisas extramentais, e isso corresponde perfeitamente aos dados do 
conhecimento, que nos assegura conhecermos coisas e não ideias. Contudo, as coisas podem ser 
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Unidade II
conhecidas somente por meio das espécies e das imagens; mas sem entrar fisicamente no cérebro. 
Nesse aspecto, o conceito tomista de verdade encontra-se em harmonia com a concepção realista do 
mundo, justificando-se pela experiência prática e pela razão. Portanto, a verdade lógica encontra-se 
na adaptação entre a coisa e o intelecto.
O indicativo pelo qual a verdade se manifesta à nossa mente está na evidência e, como muitos 
conhecimentos nossos não são evidentes, mas de natureza intuitiva, tornam-se verdadeiros quando 
levados à evidência por intermédio da prática demonstrativa. Embora a demonstração seja um processo 
dedutivo, os conceitos e as ideias não são inatos na mente humana, como defendia o agostinianismo, e 
nem sequer nas suas relações lógicas. Elas consistem no resultado fundamental da experiência humana 
mediante a indução, que chega à essência das coisas.
A metafísica geral tem por finalidade o ser em geral, as atribuições e as leis relativas, enquanto 
a metafísica especial busca estudar o homem em suas grandes especificações, entre elas Deus, o 
espírito e o mundo. Nesse sentido, a base do tomismo está na especificação do ser em potência e ato, 
significando este a realidade e a perfeição, enquanto a potência representa o oposto. Nesse contexto, o 
princípio de potência e ato vale para qualquer realidade material, sendo o princípio da matéria aquele 
que interessa à cosmologia tomista. 
Dessa maneira, a concretização da forma em vários indivíduos, que realmente existem, depende da 
matéria, que representa o indivíduo no mundo concreto.
Além da matéria e da forma como causas constitutivas, os seres materiais possuem duas outras 
causas – a eficiente e a final. A causa eficiente é responsável pelo surgimento de um ser na realidade, 
sintetizando aquela matéria com a forma por ela determinada. Já a causa final determina a ordem 
observada no universo. Em outras palavras, todo ser material existe por causa do cruzamento de quatro 
causas – material, formal, eficiente e final, que constituem o ser na realidade e na ordem com os 
demais seres vivos pertencentes ao universo.
Como o princípio da vida está dentro do ser, sendo denominado de alma, possuem uma alma também 
as plantas e os animais. Porém, para a psicologia racional, que se ocupa com o homem, interessa somente 
a alma racional. A alma racional desempenha as funções da alma vegetativa e sensitiva, compreendendo 
e desejando; pois, na visão de Tomás de Aquino, existe uma forma só e, consequentemente, apenas uma 
alma para cada indivíduo. No homem, existe uma alma espiritual, unida com o corpo, que o transcende. 
Portanto, além das atividades já mencionadas, manifestam-se ainda atividades espirituais, como o intelecto 
e a vontade. A atividade intelectual, por exemplo, está direcionada para entidades imateriais, como os 
conceitos. No caso da vontade humana, ela é livre e indeterminada, enquanto o mundo material segue 
regido por leis fundamentais. Assim sendo, a vontade apresenta-se como um princípio imaterial e espiritual 
da alma racional, que é imortal, por ser imaterial e espiritual.
Diferentemente do dualismo platônico-agostiniano, Tomás de Aquino afirma que a alma, mesmo 
espiritual, está junto do corpo material, que é a sua forma. Desse modo, como o corpo não pode existir 
sem a alma, também a alma, mesmo imortal, não pode viver em sua plenitude sem o corpo, que lhe 
serve como uma ferramenta crucial. Ao contrário da doutrina agostiniana, que pretendia ser Deus 
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HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
conhecido imediatamente por intuição, Tomás de Aquino ressalta que Deus pode ser conhecido apenas 
pela demonstração sólida e racional, sem que seja necessário recorrer a argumentações a priori, mas 
unicamente a posteriori, partindo da experiência que, sem Ele, seria contraditória.
Cinco são as provas tomistas a respeito da experiência de Deus, mas todas elas preservam 
em comum a evidência tanto sensível quanto racional para proceder à demonstração da lógica. 
A primeira é fundamental e serve de modelo para as demais, pois se fundamenta na doutrina da 
potência e do ato. Cada uma tem como base dois elementos sólidos que são incontestáveis. 
É preciso ententer que, se Deus for conhecido indiretamente só pelas provas, será muito mais 
limitado o nosso conhecimento da essência divina como sendo aquela que vai além do intelecto 
humano de forma divina.
Antes de mais nada, sabemos o que Deus não é, mas conhecemos sua natureza positiva em função da 
doutrina da analogia, com base no fato de que o conhecimento certo de Deus deve ser realizado a partir 
das suas criaturas, fazendo com que o efeito tenha semelhança com a causa. A doutrina da analogia 
remete a Deus, às perfeições criadas positivamente, retirando as imperfeições ou toda forma de limitação. 
Para concluir, aquilo que conhecemos sobre Deus consiste em um conjunto complexo e incompleto 
de negações e de analogias. No que diz respeito à questão das relações entre Deus e o universo, o ponto 
de partida para solucioná-las está na ideia de criação, ou seja, na produção livre e total do mundo por 
parte de Deus e a partir do nada.
 Lembrete
No período medieval, enquanto Agostinho buscou sua inspiração na 
filosofia platônica, Tomás de Aquino preferiu os pensamentos de Aristótelespara elaborar a filosofia metafísica cristã.
 Saiba mais
Os filmes indicados em seguida podem propiciar uma inter-relação com 
os conteúdos da unidade:
A ODISSÉIA. Dir. Andrei Konchalovsky. EUA; UK; Grécia; Itália; Alemanha, 
1997. 176 minutos.
A VILA. Dir. M. Night Shyamalan. EUA, 2004.109 minutos.
ECO, U. O nome da rosa. Rio de Janeiro: Record, 2009.
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Unidade II
 Resumo
A filosofia antiga pode ser dividida em três períodos:
• Primeiro período: do século VII até o ano de 450 a.C., de Tales até 
Sócrates. Caracteriza-se pela formação ou juventude, uma vez que 
é durante ele que se estuda a natureza, passando a ser conhecido e 
chamado de Período Cosmológico.
• Segundo período: de 450 a.C. até o século III d.C., de Sócrates até 
o ecletismo. Seu foco central está no ser humano; por isso, essa fase 
recebeu o nome de Período Antropológico.
• Terceiro período: do século I até o século VI d.C. Por três séculos 
coincide com o período antropológico; mas deixa evidente a 
decadência da filosofia grega, e seu foco passa a ser Deus ou a união 
teosófica com Ele. Por essa razão, denomina-se Período Teosófico.
Sócrates foi um divisor de águas na história da filosofia na Grécia 
Antiga, que se divide entre os filósofos pré-socráticos e pós-socráticos, tal 
foi sua relevância para o pensamento filosófico ocidental. Consagrado na 
sua época como o mais sábio e inteligente dos homens, Sócrates revelava 
na sua postura filosófica o quanto era importante levar o conhecimento 
para os gregos por meio do diálogo como forma pedagógica de transmissão 
de saber. Ele também acreditava que a alma humana era imortal e que teria 
recebido a missão do deus Apolo de alertar o homem sobre a necessidade 
de conhecer a si mesmo. Além disso, duvidava da possibilidade de a virtude 
ser ensinada, uma vez que a moral pressupõe uma questão de inspiração 
e não de parentesco, já que pais moralmente perfeitos podem não gerar 
filhos iguais a eles. Sócrates destacou ainda que suas ideias não eram 
próprias, mas sim de seus mestres, entre eles Pródico e Anaxágoras de 
Clazômenas. Chamou a atenção para a limitação da sua sabedoria e da 
própria ignorância, atribuindo os erros cometidos à ignorância, pois jamais 
assumiu ser um homem sábio.
No pensamento filosófico de Platão, essa busca racional possui uma 
natureza mais contemplativa, o que implica a busca da verdade no interior do 
próprio homem como um agente participante da essência do ser. Da mesma 
forma que Sócrates, ocupou-se em desvendar as verdades essenciais das 
coisas por meio do conhecimento, desconsiderando o homem na condição de 
corpo, mas ressaltando a sua alma pela perfeição e com direito a um lugar no 
mundo perfeito das ideias. No entanto, esse formalismo pode ser encontrado 
na experiência sensitiva. Para ele, também o conhecimento deve ser concebido 
para uma finalidade moral, com o objetivo de elevar o homem à instância da 
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HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
bondade e da felicidade. Assim sendo, a maneira de conhecer era, de fato, uma 
forma de reconhecimento, possibilitando o reencontro do ser humano com 
as verdades já conhecidas e capacitando-o a discernir sobre o que existe 
entre as aparências de verdades e as verdades propriamente ditas.
Conhecido como o pensador que mais influenciou a filosofia ocidental, 
Aristóteles nasceu em Estagira, na Calcídica, em 384 a.C. Na condição de 
discípulo de Platão, ele discordava de uma parte fundamental da filosofia 
do seu mestre, que concebia dois mundos distintos, um dominado pelos 
sentidos humanos, em processo de mutação perene, e o outro como sendo 
das ideias, acessível apenas pelo pensamento intelectual, que é imutável 
e atemporal. Aristóteles aceitava somente a existência do mundo em que 
vivemos, alegando que aquilo que se encontra além da experiência humana 
não poderia fazer sentido algum para o homem. Na filosofia aristotélica, a 
lógica é considerada como uma introdução para o conhecimento, baseada 
em uma estrutura de raciocínio que inclui pressupostos criados para que se 
possa chegar à etapa conclusiva.
Se traçarmos um perfil da filosofia medieval pelo seu conteúdo, 
naquilo que corresponde à sua essência espiritual, podemos conceituá-la 
como o pensamento filosófico ocidental que vem desde Santo Agostinho 
e de Anselmo de Cantuária, obedecendo ao mote: “saber para crer, crer 
para poder saber”. Durante esse período, a filosofia, que tem por objetivo 
tratar dos grandes problemas do mundo, do homem e de Deus só com as 
forças da razão, alia-se com a fé religiosa no pressuposto de uma unidade 
ideológica. Nela, está representado o espírito de toda essa fase da história 
humana, e nada é mais significativo do que essa unidade espiritual. Como 
nunca, todos vivem na certeza da existência de Deus, da sua sabedoria, 
do seu poder e da sua bondade. Nesse sentido, o homem podia dizer, com 
segurança, que sabia da origem do mundo e da sua própria natureza, cheia 
de sentido, bem como a sua essência homem e a sua posição no universo, 
tendo em vista a significação da sua vida e a imortalidade. Enquanto na 
era moderna indaga-se a respeito da possibilidade da ordem e da lei, na 
época medieval a ordem estabelece-se como algo evidente, sendo nossa 
a tarefa de reconhecê-la. No início da patrística, a Idade Média encontrou 
seu direcionamento, que foi preservado até o final.
O padre Agostinho destacou-se entre o clero, assim como Tomás de 
Aquino entre os escolásticos. Pela sua imensa sensibilidade e pela sua 
postura compreensiva, Agostinho juntou a patrística grega com o caráter 
prático da patrística latina, mesmo que os problemas que o preocupassem 
fossem de ordem prática e moral, como o mal, a liberdade e o destino. 
Para ele, a filosofia era a solução para os problemas da vida, para os quais 
apenas o cristianismo podia dar uma solução definitiva. Portanto, seu 
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Unidade II
maior interesse estava restrito aos problemas de Deus e da alma, por serem 
os mais relevantes. Mesmo minimizando o conhecimento dos sentidos em 
relação ao conhecimento intelectual, Agostinho afirmou que os sentidos, 
assim como o intelecto, também consistem em fontes de conhecimento.
A escolástica possui um significado mais limitado quando comparada 
às disciplinas ministradas nas escolas medievais, entre elas a gramática, 
a retórica e dialética; a aritmética, a geometria, a astronomia e a música, 
embora contemple uma conotação mais ampla ao se reportar à linha 
filosófica adotada pela Igreja na Idade Média. Esse modo de pensar 
essencialmente cristão buscava respostas que justificassem a fé na 
doutrina ensinada pelo clero, considerado como o guardião das verdades 
espirituais. Essa escola filosófica prevaleceu do princípio do século IX até 
o final do século XVI, época que representou o declínio da Era Medieval, 
sendo a escolástica o resultado de estudos mais profundos da arte dialética, 
assim como a radicalização dessa prática. No início, ela foi disseminada nas 
catedrais e nos monastérios, para depois chegar às universidades.
A tarefa dos escolásticos consistia, portanto, em harmonizar ideais 
platônicos com fatores de natureza espiritual, inseridos no cristianismo 
vigente ocidental. Mesmo quando Aristóteles é contemplado no pensamento 
cristão por Tomás de Aquino, o neoplatonismo adotado pela Igreja ainda é 
preservado, fazendo com que a escolástica seja permanentemente atravessada 
por dois universos distintos – o da fé herdada da mentalidade platônica e a 
razão aristotélica. No caso de Agostinho, havia o clamor pelo predomínio da 
fé em detrimento da razão, ao passo que, em Tomás de Aquino, se acreditava 
na independência da esfera racional na busca de respostas mais apropriadas, 
embora não houvesse rejeição à primazia da fé sobre a razão.
Podemos afirmar que o tomismo, ou a doutrina escolástica de Tomás 
de Aquino, adotada oficialmente pela Igreja Católica, caracteriza-se, 
principalmente, pela tentativa de conciliar a filosofia de Aristóteles 
com o cristianismo, desfazendo-se das

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