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Organização Judicial de Portugal no séc

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Organização Judicial de Portugal no séc. XVI e XVII. 
Havia um Sistema Judiciário – o qual não deve ser confundido com o sistema atual, pois hoje 
temos um poder judiciário – no qual funcionava para passar a justiça do rei. A justiça do rei era 
considerada uma graça concedida aos seus súditos, ou seja, era um favor que o rei estava 
prestando à sua população. Nesse Sistema Judiciário havia juízes contratados para passar a 
justiça do rei, porém essa justiça não é independente como podemos enxergar nos dias atuais: 
o rei era a autoridade máxima, portanto ele poderia alterar qualquer sentença dada pelos 
juízes. Por conta da não separação dos poderes – essa noção ainda não existia nessa época – 
os juízes não apenas julgavam, mas desempenhavam também funções administrativas, 
militares e legislativas. 
A estrutura do Sistema Judiciário está dividida em três níveis: 
- Justiça Municipal 
- Justiça Senhorial 
- Justiça da Coroa 
O SURGIMENTO DOS MUNICÍPIOS 
Surgirão ocupações urbanas de forma espontânea ou pelo desejo do rei, as quais algumas vão 
se desenvolvendo e aumentando a sua importância. As menores ocupações eram chamadas de 
Arraial. Esses arraiás, à medida que iam crescendo, iam tornando-se Vilas. Estas, por sua vez, 
quando se desenvolviam ainda mais, tornavam-se cidades. Essas cidades, quando começavam 
a aumentar a sua importância, ou seja, quando se tornavam centros urbanos que agregavam 
as pessoas politicamente, militarmente e economicamente, os seus cidadãos passavam a 
desejar transformá-la em um município. Ou seja, o município era, basicamente, uma 
organização política formada pelo crescimento de uma vila ou cidade, porém era preciso ter o 
aval do Rei, mediante a concessão de uma Carta de Foral. 
CARTA DE FORAL 
As Cartas de Foral são documentos jurídicos que disciplinam os deveres gerais, as obrigações 
específicas, os direitos e os privilégios do município. Por exemplo: a Carta de Foral poderia 
tratar dos impostos, das festas que deviam ser realizadas pelas cidades em favor do Rei e dos 
órgãos administrativos e judiciais que aquela cidade iria ter. 
POR QUE O INTERESSE EM TRANSFORMAR UMA CIDADE EM MUNICÍPIO? 
O motivo do desejo em tornar uma cidade em município era possuir uma Câmara Municipal, 
pois com a Câmara, o município passava a ter mais influência diante da Coroa. Além disso, 
poderiam pleitear coisas de seu interesse perante o Rei. Ou seja, poderiam administrar os 
interesses do município. Esses interesses eram copilados por meio das Posturas Municipais, 
que consistia em regras que deveriam ser respeitadas pelos cidadãos do município (uma 
espécie dos nossos Códigos). Entretanto, o município deveria ter a capacidade de custear a 
Câmara, pois o Rei não ajudava em nada. Portanto, surgem os ‘’homens bons’’ para exercer 
essa função. 
HOMENS BONS E ELEIÇÕES 
Os homens bons eram necessariamente homens, chefes de família, que possuía alguma 
linhagem de nobreza ou riqueza e deveria ter o sangue limpo. Ter o sangue limpo significava a 
ausência de antepassados judeus nas ultimas três gerações. 
Apenas os homens bons poderiam se candidatar a vereadores do município e, para escolher os 
vereadores, havia a eleição de pelouros. Essa eleição consistia na reunião de todos os homens 
bons para fazer a votação entre eles. Após eleito os vereadores, havia, entre eles, a votação 
para eleger os juízes municipais (juízes ordinários). Estes julgavam as causas de menor 
complexidade. Vale lembrar que os juízes ordinários eram leigos, ou seja, não eram letrados, 
não tinham formação em direito na Universidade de Coimbra. 
CAPITANIAS 
Portugal, nessa época, ainda estava em transição para o mundo moderno para tornar-se, de 
fato, um país. Portanto, ainda havia aspectos medievais em seu reinado como o sistema feudal 
de distribuição de terras. Nessas distribuições havia o Suserano (Rei) e o Vassalo (Nobre), em 
que o Rei conferia ao Vassalo uma terra e o Vassalo, por sua vez, passaria a dever obediência e 
fidelidade ao suserano em uma espécie de vassalagem. 
No Brasil não tivemos feudos, mas tivemos as capitanias. Basicamente não havia diferença 
entre esses dois sistemas de distribuição de terras. (Em Portugal era chamado Sistema 
Senhorial e, no Brasil, Sistema de Capitanias). 
As Capitanias não são um autogoverno, assim como o município. Era um governo por um líder 
designado. Também tinha o poder de jurisdição, ou seja, o poder de dizer o direito, o poder de 
julgar. 
Para receber uma capitania, era preciso a prescrição de dois documentos formais: a Carta de 
Doação e a Carta de Foral. 
- CARTA DE DOAÇÃO: Consistia em um contrato entre o rei e o capitão donatário, a qual trazia 
as delimitações geográficas da capitania, indicava o sucessor do capitão donatário em caso de 
morte (havia um índice de mortalidade muito alto naquela época) e a formalização da doação 
de outros direitos que acompanhasse a terra doada. Por exemplo: o direito de ter a justiça 
senhorial. 
- CARTA DE FORAL: Já explicado anteriormente. 
JURISDIÇÃO 
Quem exercia o poder jurisdicional na capitania poderiam ser duas pessoas: o capitão 
donatário, mesmo sendo leigo, e o ouvidor. 
Era muito difícil um capitão donatário exercer a função de julgamento, pois eles se 
preocupavam com outras coisas, como por exemplo, as guerras com os índios, as invasões 
marítimas, etc. Então o capitão donatário escolhia um ouvidor, que teria que ser 
necessariamente letrado (formado em direito na Universidade de Coimbra) e permanecer no 
cargo por, no máximo, três anos. 
A justiça senhorial irá funcionar em três situações: 
- Em algum caso originalmente municipal, já julgado pelos juízes ordinários, em que o 
prejudicado recorreu ao ouvidor. 
- Em casos de maiores complexidades. Exemplo: lesa à Majestade. (Mesmo aqueles que 
ocorreram dentro dos municípios. Lembre-se que os juízes ordinários só julgavam casos de 
pequenas complexidades.) 
- Situação de menor complexidade em um local fora dos municípios. Exemplo: Vilas que não se 
tornaram municípios. 
JUSTIÇA DA COROA 
A Justiça da Coroa era exercida, em primeiro momento, por um Ouvidor Geral. (Esse cargo foi 
extinto logo em seguida, pois as suas tarefas eram muitas e impossíveis serem exercidas por 
um só homem). Com a extinção, foi criado um tribunal chamado Relação da Bahia, criado em 
1609, o único do Brasil até ser criado outro no Rio de Janeiro em 1752. Nesse tempo, todos os 
recursos do Brasil iam para a Bahia. Acima desse tribunal, ainda havia a Casa da Suplicação, 
localizado em Lisboa. Era o mais alto tribunal português, em que, acima dele, havia apenas o 
Rei. Entretanto, pouquíssimos casos chegavam à Casa da Suplicação, pelo alto custo para 
usufruí-lo. 
Além da Relação da Bahia e da Casa da Suplicação, havia outro tipo de magistrado que eram os 
Juízes de Fora. 
JUÍZES DE FORA 
Eram enviados a um município em duas situações: 
- Quando a Coroa precisava controlar politicamente a Câmara Municipal. Exemplo: estabelecer 
impostos sobre o ouro descoberto nas minas. Nesse caso, havia conflito de interesses entre a 
Câmara e a Coroa, pois a Câmara era constituída pelos homens bons, que eram homens ricos 
que detinham suas riquezas, também, a partir das explorações do ouro, e a imposição de 
impostos era maléfico para eles. Então a Coroa enviava os Juízes de Fora para garantir que a 
Câmara só tomasse decisões de acordo com os interesses do Rei. Ou seja, serviam como uma 
espécie de interventor político. 
- Substituir os juízes ordinários, quando estes adotassem decisões que contrariassem os 
interesses da Coroa.

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