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Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 1 Todas as noções de Ciência Política giram em torno da noção de “poder”. É preciso examinar essa noção de poder, antes de expor as diversas concepções relativas ao objeto da Ciência Política. CONCEITO DE PODER, BASE DA CIÊNCIA POLÍTICA A) Noção do poder: Léon Duguit chama de distinção entre governados e governantes. Ou seja, em todo grupo social há aqueles que dão as regras e os que obedecem. Dessa forma, a palavra “poder” designa, ao mesmo tempo, os governantes e a função que eles exercem. A Ciência Política, então, aparece como a ciência dos governantes. - Críticas à Duguit: A separação entre governantes e governados não é tão nítida, pois todo mundo é, ao mesmo tempo, governante e governado. Ex: o funcionário arrecadador é governante em relação ao contribuinte, mas governado em relação ao Ministro da Fazenda. B) Elementos do poder: Natural: o poder é talvez, em primeiro lugar, um fenômeno biológico. Assim como nos animais, certos indivíduos – os machos em geral – têm um verdadeiro caráter de chefe de grupo. Outro exemplo é a hierarquia da idade ou da força física, ambos fenômenos biológicos. Coação: - Física: Polícia, exército, torturas, prisões, etc. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 2 - Econômica: aquele que pode privar um homem de comer obtém facilmente a sua obediência. - Pressão social difusa: obediência aos pais e aos adultos em geral; tradições e costumes, como o homem não poder usar saia para que não seja sancionado difusamente. - Enquadramento coletivo: armadura social coerente e rígida, que permite enquadrar grandes massas humanas e estabelecer sobre elas uma autoridade poderosa. Ex: partidos políticos. - Psicológica: tende a não ser sentida por aquele que a sofre. Tende a torna-se uma das fontes fundamentais do poder em certos Estados. Ex: propagandas. PS: Pressão social difusa, enquadramento coletivo e propaganda estão na fronteira dos elementos materiais do poder e das crenças, em que as crenças não são sentidos como coação e o poder repousa largamente sobre as crenças. Dessa forma, a legitimidade (que aproxima-se da noção de consenso) é uma das chaves do poder. Falar de consenso é reconhecer que o poder repousa sobre as crenças, sobre a aceitação e conformidade; falar de poder é admitir que o consenso não é espontâneo, nem automático e que a coação e a força desempenham também o seu papel. C) Poder de dominação Dominação: não se situa no antagonismo governantes-governados, mas no nível dos governados: antagonismos entre governados. Ou seja, o fato de existir, no interior dos grupos sociais, alguns elementos mais fortes que Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 3 outros. Ex: firmas dominantes nas concorrências econômicas, classes superiores na vida social, etc. Dominação é, portanto, uma relação de assimetria entre os governados, que, por sua vez, é a relação entre os cidadãos. Há a superioridade, mas não por caráter formal. Por exemplo, um empregado fica sujeito ao patrão, mas apenas enquanto ele aceita as condições de trabalho. Poder: tem um caráter organizado e estrutural. É conhecido como o esqueleto da sociedade. O domínio resulta dos conflitos e lutas entre os governados. É a relação Estado e cidadão. A hierarquia entre os cargos estatais também é uma relação de poder. Ex: Ministro e Presidente. DIFERENÇAS PRINCIPAIS: - O que diferencia fundamentalmente o poder e a dominação é que o poder é institucionalizado. Ou seja, o poder é organizado de acordo com aquilo que é prescrito em normas jurídicas; - A dominação é um fato material, o poder é, também, um fenômeno de crença. Ou seja, entra a legitimidade, a crença, por parte do povo, de que estão sendo bem representados e há um consenso de que é necessário aquele poder para que se haja vida em sociedade; - O poder é reconhecido como poder, qualquer um pode insugir-se contra ele se não houver legitimidade; - A dominação é apenas suportada, ou seja, luta-se contra ela para garantir a igualdade ou reconstituí-la em seu proveito. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 4 DIFERENTES CONCEPÇÕES DA CIÊNCIA POLÍTICA A) Ciência Política, Ciência do Estado É a definição mais em harmonia com a noção de política. Teoria geral do Estado. Perspectiva mais estrita. Discute como as coisas devem funcionar, excluindo as anomalias. A definição jurídica tradicional do Estado repousa sobre a ideia de soberania, que é certa qualidade do poder. - Soberania no Estado - Soberania do Estado: define o Estado. É o fato de o Estado estar situado no topo da hierarquia dos grupos sociais, não havendo nenhum acima dele. B) Ciência Política, Ciência do Poder Repousa, ao mesmo tempo, sobre uma noção sociológica do Estado oposta ao conceito tradicional de soberania, e sobre considerações metodológicas. Hoje, tende-se para uma visão realista do Estado, baseada na análise sociológica. Se tratar a Ciência Política como Ciência do Poder, não trata apenas do Estado, mas também dele, de uma forma mais ampla. Ele trata de anomalias. Trata o Estado com duas características em relação aos outros grupos humanos: Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 5 - Organização política mais aperfeiçoada. Distinção entre governantes e governados. - A comunidade humana que serve de base para o Estado é a mais fortemente integrada ao momento atual. Laços sociais são mais fortes, em caso de conflito, a solidariedade nacional prevalece sobre a solidariedade de outro grupo social. Oposição entre a noção jurídica do Estado e a noção sociológica: Noção jurídica é a diferença entre o Estado e os outros agrupamentos humanos. É uma diferença de natureza: o Estado é soberano, as outras comunidades não são. Noção sociológica é a diferença de grau: todas as comunidades humanas têm governantes (organização política) dispondo de um sistema de sanções e de certa força material. No Estado, a organização política e as sanções são mais aperfeiçoadas e a força material maior. POLITY: conceitos que determinam a instituição. A sua estruturação. Como as coisas funcionam na teoria. POLITICS: dinâmica política, agir político, relações políticas. É a parte humana da política. Ex: como o presidente vai conseguir votos; a formação de alianças; a pressão a outros, etc. POLICY: qual o resultado que obter com as medidas políticas: resultados coletivos. É o conteúdo. Ex: o Governo diz que vai tomar medidas tais para obter resultados coletivos no futuro, por exemplo, baixar impostos para aumentar o investimento privado e bolsa família para reduzir a miséria. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 6 OBS: Usar, por exemplo, o Bolsa Família para conseguir votos é politics. C) Concepções intermediárias Ciência Política como Ciência do Estado é um domínio estreito. Ciência Política como Ciência do Poder é um domínio amplo. A Ciência Política não está estrita ao Estado e nem ampla ao Poder. Isolar certas formas do poder, qualificadas de “poder político”, que constituiriam o objeto próprio da Ciência Política. O PODER DO ESTADO Do conceito de poder. “A faculdade de tomar decisões em nome da coletividade” – Afonso Arinos. O poder está subdividido em dois fatores: força e competência. Se o poder se consolida unicamente na força, chama-se “poder de fato” Com a soberania se chegara à solução política da existência do Estadomoderno, distinto do antigo Estado medieval. A soberania de início é a monarquia e a monarquia o Estado. Não alcançaram ainda o moderno poder política em suas bases institucionais. Contudo, isso vem depois com as doutrinas e revoluções, de onde surge o Estado de direito, que constitui o respeito à hierarquia das normas e dos direitos fundamentais. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 7 Então, a ordem econômica da burguesia se implanta no ocidente e os reis conferem-lhe toda sorte de proteção. Fazem o primeiro intervencionismo estatal ajudando a burguesia a crescer e prosperar; fazem a legislação industrial do empresário burguês. Até que a burguesia quer também a influência política. 2. Os precursores da separação de poderes O princípio da separação de poderes conheceu precursores na antiguidade, na idade média e nos tempos modernos. Aristóteles distinguiu a assembléia-geral, o corpo de magistrados e o corpo judiciário. Locke assinala também a distinção entre os três poderes e adiciona um quarto: o poder prerrogativo. Este compete ao príncipe que terá também a maior atribuição de promover o bem comum onde a lei for omissa. 3. A doutrina da separação de poderes na obra de Montesquieu A Inglaterra conheceu Locke, a França vai conhecer Montesquieu. A grande reflexão política de Montesquieu gira em torno do conceito de liberdade. Esta consiste em fazer tudo o que a lei permite. Contudo, para que não se possa abusar desse poder, é necessário organizar a sociedade política de tal forma que o poder seja um freio ao poder. 4. Os três poderes: Legislativo, Executivo, Judiciário A cada um desses poderes correspondem determinadas funções. Montesquieu diz que a liberdade estará presente toda vez que haja um governo em que os cidadãos não o temam. O sentimento de segurança e garantia que o ordenamento jurídico proporcione proteção às relações sociais. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 8 - Com o poder legislativo e executivo na mão de uma única pessoa, a liberdade política desaparece, pois há o temor de elaborações de leis tirânicas, sujeitas a uma aplicação tirânica. - Com o poder judiciário e legislativo com uma só pessoa, confere ao juiz o poder de um opressor, em que a opressão é a ausência ou privação da liberdade política. Ou seja, um poder limitaria o outro, já antecipando a técnica dos “checks and balances” desenvolvida posteriormente na Inglaterra. 5. As técnicas de controle como corretivos para o rigor e rigidez da separação dos poderes - Pesos e contrapesos: dessa técnica resulta a presença do executivo na órbita legislativa por via do veto e da mensagem. Pelo veto, impede resoluções legislativas, pela mensagem, recomenda, propõe e, eventualmente, inicia a lei. A participação do executivo na esfera do poder judiciário se exprime mediante o indulto (ato de clemência ao Poder Público) e da atribuição reconhecida de nomear membros do poder judiciário. Do legislativo, há pontos de controle sobre o executivo como o da rejeição do veto, o processo de impeachment, aprovação de tratado, etc. E em relação ao judiciário, determina o número de membros do judiciário, limita a jurisdição, fixa a despesa dos tribunais, etc. A faculdade de impedir do judiciário só se manifesta concretamente quando decide sobre inconstitucionalidade de atos do legislativo e profere a ilegalidade de certas medidas administrativas do poder executivo. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 9 6. Primado da separação de poderes na doutrina constitucional do liberalismo Todo o prestígio que o princípio da separação de poderes auferiu, decorre da crença da garantia das liberdades individuais. Assentavam os constituintes liberais a esperança de imobilizar a progressiva democratização do poder, sua inevitável e total transferência ao braço popular. - A primeira adoção mais célebre da separação ocorreu na Constituição Americana de 1787. - O Brasil, ao decidir-se pela forma republicana de governo, aderiu ao princípio da separação dos poderes na tradição francesa. ‘’Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. 7. Em busca de um quarto poder: o moderador Benjamin Constant diz que para que não haja crise entre os três poderes e que o equilíbrio esteja sempre em vigência, era necessário um poder moderador, que serviria como um judiciário dos três poderes. O Brasil foi o primeiro e, talvez, o único país a adotar os quatro poderes. O poder moderador era a chave de toda a organização política, velando sobre a manutenção, equilíbrio e harmonia dos demais poderes políticos. SEPARAÇÃO DE PODERES Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 10 Através da obra de Montesquieu foi concebida para assegurar a liberdade dos indivíduos, além de aumentar a eficiência do Estado pela distribuição de suas atribuições entre órgãos especializados. Dessa forma, também excluiria a ideia de um governo tirânico, já que se apenas um homem tiver o poder de legislar, executar e julgar, haveria leis tirânicas sendo executadas de formas tirânicas. Vale lembrar que essa teoria foi acolhida em uma época que se buscavam meios para enfraquecer o Estado. Mesmo com a separação de poderes, o poder do Estado é uno e indivisível. Ou seja, há órgãos exercendo o poder de soberania, mas o Estado é único. Faz-se analogia ao corpo humano: é uno, embora haja vários órgãos o fazendo funcionar. Há quem sustente que é inadequado falar em separação de poderes, quando na verdade há uma distribuição de funções. Leroy-Beaulieu adota esta posição, dizendo que essa distribuição das funções estatais é resultado do princípio da divisão do trabalho, que foi inconscientemente aplicado. A separação desde Aristóteles O antecedente mais remoto da separação de poderes encontra-se em Aristóteles, que considera injusto e perigoso a atribuição do poder a um só homem. Entretanto, a concepção moderna da separação de poderes não foi buscar em Aristóteles a sua inspiração. No século XVIII surge uma primeira sistematização doutrinária da separação de poderes com Locke. Ele advogada esta separação em quatro funções fundamentais exercidas por dois órgãos do poder: o legislativo, que caberia ao parlamento e o executivo, exercido pelo rei, dividido em duas funções: função federativa, que era o poder de guerra e paz, de ligas e alianças e de todas as questões que devesse ser tratadas fora do Estado; e a função prerrogativa, que é o poder de fazer o bem público sem se subordinar a regras. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 11 Dessa forma, pode-se concluir que, embora Locke era expressamente oposto ao absolutismo pregado por Hobbes, ele não achava anormal a existência de um poder livre de limitações. Com Motesquieu aparece o sistema semelhante ao atual, com a presença do legislativo, executivo e judiciário, harmônicos e independentes entre si. Garantia, assim, a liberdade individual, enfraquecendo o Estado na companhia da função limitadora da Constituição. Esse princípio tornou-se um dos dogmas do Estado Moderno, onde havia a impossibilidade da democracia sem a separação. Tal premissa foi publicada na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão aprovada na França em 1789: “Toda cidade na qual a garantia dos direitos não está assegurada, nem a separação dos poderes determinada, não tem Constituição”. Sistema de freios e contrapesos O sistema de separação de poderes, associadoà ideia de Estado Democrático, deu origem ao sistema de freios e contrapesos. Dessa forma, os atos exercidos pelo Estado são de duas espécies: atos gerais e os atos especiais. Os primeiros só podem ser praticados pelo poder legislativo. Consiste na emissão de regras gerais e abstratas sem saber a quem elas vão atingir. Assim, pois, o legislativo não atua concretamente na vida social, não tendo meios para o abuso de poder. Os atos especiais acontecem depois de emitida a norma geral, entrando em ação a atuação do executivo. Este dispõe de meios concretos para agir, mas estão limitados pelos atos gerais do legislativo. OBS: se houver conflito entre os dois poderes, entra o poder judiciário, obrigando cada um a permanecerem em seus limites. Crítica: a separação de poderes é meramente formalista, jamais tendo sido praticada. Ou seja, guarda-se apenas a aparência da separação, visto que, na prática, um poder dominava os demais. Além disso, jamais conseguiu assegurar a liberdade dos indivíduos ou o caráter democrático, pois há Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 12 tremendas injustiças criadas pelo liberalismo, havendo uma minoria privilegiada. Junto à isso, a emissão de atos gerais, muitas vezes, obedece ao executivo. ORIGEM DO ESTADO - Formação originária: o Estado não nasce de outro Estado. É uma formação espontânea, não contratual, muito menos demarcado e artificial. Há quatro vertentes teóricas que tentam explicar a formação espontânea: - Formação de origem familial: Estado nasce a partir das relações familiais, tendo a ideia de família uma aglomeração de indivíduos que vão crescendo e desenvolvendo-se até a formação do Estado. A crítica feita para essa concepção é que ela não explica como esse grupo sai da informalidade para a formalidade. - Formação pela força: um grupo social se figura de maneira estável à outro grupo social, em uma espécie de superioridade. Oppenhewer diz que os vencedores submetem os vencidos, onde aqueles ditarão as diretrizes, inclusive econômicas. Haveria uma formação estatal derivada do conflito. - Formação por causas econômicas: essa formação tem como princípio a divisão social do trabalho. Ou seja, ao invés de matar os vencidos das guerras, era melhor usá-los como produção econômica, ajudando a produzir em prol do Estado e aumentando a população. Com a divisão de funções, haveria a racionalização da produção, porém geraria diferenças, pois um trabalho certamente seria mais valorizado que o outro. Marx e Weber vêem que a burguesia necessita do Estado e este serviria para a dominação burguesa se perpetuar. - Formação por desenvolvimento social: passagem de uma sociedade simples para uma mais complexa. Lowie diz que só teria uma formação estatal formal de acordo com as necessidades do grupo em formação. Ou seja, não adianta criar um alto grau de formalização para um grupo que ainda não requer tal necessidade. À medida que houvesse o desenvolvimento deste grupo, tanto político como econômico, suas influências aumentariam e, portanto, as suas Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 13 necessidades de serem regidos por uma instituição de alto nível organizacional. - Formação contratual: É uma decisão de criar o Estado por desejos jurídicos e políticos. Hobbes dizia que o homem é livre para fazer o que quiser, ou seja, se quiser matar, mata. Isso instalaria o caos. Dessa forma, acharam melhor limitar a liberdade com a criação de um contrato para limitá-la por um ente criado que seria o Estado. Dessa forma, os cidadãos estariam concordando em ter a sua liberdade limitada, por meio de um contrato, onde a liberdade só é aceita à medida que a lei permitir. Isso seria uma forma de proteção aos cidadãos pela regulação da vida. - Formação derivada: o Estado nasce de outro Estado. Ou seja, a presença do primeiro foi determinante para a origem do outro. - Formação por fracionamento: por conta, normalmente, de desavenças, podendo ser guerras, o Estado resolve se dividir. Pode haver a divisão em dois novos Estados, portanto acarretando no completo desaparecimento do Estado de origem; ou apenas na divisão de territórios, onde o Estado de origem não se destrói, apenas perde algum território. Ex: a Catalunha, caso venha a ser independente, ocorrerá uma divisão fracionária por mera divisão de territórios, visto que a Espanha não deixará de existir. Obs: quando uma colônia se torna independente há uma situação de fracionamento. Quando ocorre esse fracionamento pode ocorrer conflitos culturais, políticos e administrativos, havendo guerras internas e problemas externos, no caso, por exemplo, de países que faziam parte de blocos econômicos e foram completamente extintos. - Formação por união do Estado: situação oposta ao fracionamento. Dois ou mais Estados se unem formando apenas um que, normalmente, torna-se um Estado Federal. Ex: Estado brasileiro, com a União Federativa, estados e município. Conceito de Estado Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 14 Nação diz respeito a um vínculo cultural, ou seja, pode haver diversas nações em um único Estado, bem como pode haver nação sem haver Estado. Portanto, a definição de Estado como “nação politicamente organizada” é alvo de críticas. Kant: “multidão de homens vivendo sob as leis do direito”. Tal definição é criticada, pois, apesar de estar certa, de certa forma, a definição é muito abrangente, pois um município, por exemplo, está contida nessa convicção, bem como uma instituição pública ou privada, visto que há leis que as regem e as multidões as quais as constituem vivem sob as suas leis. Burdeau: “resultado de um processo de institucionalização do poder, onde as normas seriam praticadas de maneira impessoal, com as distribuições de competências” Esta definição seria adequadamente colocada em um Estado de Direito, entretanto não cabe a um Estado absolutista, visto que este é marcado pela pessoalidade do Monarca. Em regra, os cientistas políticos colocam o poder como exercício central do Estado. A questão jurídica do Estado enfatiza a ordem, que, por sua vez, são normas jurídicas que vão reger o poder. Ou seja, ela não nega o poder, mas enfatiza a disciplina jurídica. Dallari: “ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em um determinado território”. Dallari se preocupa mais com o aspecto jurídico e político. ELEMENTOS DO ESTADO 1. Soberania Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 15 É um conceito histórico e relativo. Histórico, pois a soberania surgiu com o advento do Estado Moderno. Relativo, pois há Estados soberanos e não soberanos. Do ponto de vista externo, a soberania é apenas uma qualidade do poder, podendo o Estado ter ou não. Do ponto de vista interno, onde há Estado, há soberania. Ou seja, é da essência do Estado uma superioridade e supremacia, sobrepondo-se, o Estado, aos demais poderes sociais. A crise desse conceito se manifesta, de um lado, pela dificuldade de conciliação da soberania do Estado com o ordenamento internacional, ou seja, o Estado como poder soberano escolhe se quer ou não submeter-se aos ordenamentos externos; de outro lado, a concorrência com a existência de grupos e instituições sociais que disputam ao Estado sua qualificação de poder supremo. A negação da soberania do Estado ocorre, normalmente, em visões anarquistas e marxistas. A discussão pelo poder por parte de grupos sociais cria centros concorrentes de poder que, antes de se submeter,agem paralelamente ao Estado, diminuindo-lhe a autoridade e supremacia. Afirmação absoluta, relativa e negação do princípio de soberania A corrente contemporânea mais copiosa é a de que a soberania é apenas uma qualidade do Estado, que se for tomar a soberania como elemento essencial, estaria excluindo comunidades políticas vassalas, bem como o caráter de estado às comunidades componentes de uma Federação. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 16 Jellinek: “capacidade do Estado a uma autovinculação e autodeterminação jurídica excessiva.” Com essa afirmação, Jellinek responde a Bodin, que dizia que a soberania é elemento inseparável do Estado. Traços característicos da soberania Soberania é uma e indivisível, irrevogável, perpétua e suprema. Não a se delega, ou seja, intransferível. Esses são os principais pontos de Bodin que, na época, era a teoria mais aceita, pois prestigiava a nova forma política que vinha crescendo: a dos monarcas absolutos. Importante salientar que Bodin visa a soberania para com outros Estados, enquanto Hobbes legitima a supremacia do monarca sobre os súditos. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 17 O titular do direito de soberania: as doutrinas teocráticas e as democráticas Soberania do Estado: assinala a preeminência do Estado sobre os demais grupos sociais internos e externos. Soberania no Estado: forma novos tipos de problemas concentrados na determinação da autoridade suprema no interior do Estado, na verificação hierárquica dos órgãos da comunidade política e na justificação da autoridade conferida ao sujeito ou titular do poder supremo. Tal discussão abriu espaço para várias doutrinas, dentre elas, duas merecem destaque: a teocrática e a democrática. Doutrinas teocráticas: sustentam o direito divino dos reis. - Doutrina da natureza divina dos governantes: mais exagerada e rigorosa das doutrinas. Conferia aos governantes o posto de deuses, com caráter de divindade. Ou seja, eles eram realmente os deuses e negar essa evidência era cometer blasfêmia ou sacrilégio. Ex: faraós, imperadores romano, etc. - Doutrina da investidura divina: confere aos reis o poder supremo, entretanto não os tira da posição de humano. Dessa forma, o poder divino é delegado ao governante. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 18 - Doutrina da investidura providencial: admite-se apenas a origem divina do poder, tornando cada vez mais legítimo a intervenção da divindade em matéria política. Essa doutrina alcança a eventual ideia da participação dos governados na escolha dos governantes, ou seja, o governante já não é o Deus propriamente dito, nem foi designado por Ele para exercer o poder. A partir daí, começa-se a interação com as doutrinas democráticas. Doutrinas democráticas: sustentam no povo a ideia de soberania; influência grande na formação do Estado Moderno. - Doutrina da soberania popular: primeira e a mais democrática das doutrinas. Não necessariamente uma forma republicada de governo. Essa doutrina funda o processo democrático sobre a igualdade política dos cidadãos e o sufrágio universal. Igualdade política no sentido de que cada um detém uma parcela igual de soberania perante o Estado. - Doutrina da soberania nacional: participação limitada da vontade popular, que evitasse o regime monárquico autocrático e coibisse os excessos da soberania popular, caso lhe fosse conferido o exercício do poder pleno. Essa doutrina foi usada pela Revolução Francesa, onde teve a Nação – corpo político vivo, atuante, detentora da soberania e a exerce através de seus representantes - como única e exclusiva detentora da soberania e não mais cada um com uma parte da soberania. Ou seja, a diferença significativa entre as duas doutrinas é que a doutrina da soberania nacional a nação se limita a escolha dos seus representantes, já na soberania popular cada um tem uma parcela da soberania. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 19 Essa doutrina dominou quase todo o direito político da França pós- revolucionária. “A soberania é una, indivisível, inalienável e imprescritível. Pertence à nação; nenhuma seção do povo, nenhum indivíduo pode atribuir-se- lhe o exercício”. Soberania inalienável: soberano não pode conferir poder a outro agente, tornando-o igual ou maior que o Estado. Ou seja, no caso do direito internacional, o Estado aceita ou não se vincular às normas de ordenamento externo. Soberania indivisível: não pode dividir a vontade coletiva, pois isso seria dividir o povo, que implicaria na divisão do Estado. Soberania una: só há uma soberania, o Estado não admite mais de um, pois deve haver um, o Estado, que seja maior que todas as outras instituições. Soberania irrevogável: não pode revogar a soberania, assim como não pode transferir. No caso da revogação, é extinguir a soberania, sem passar a outrem. Transferência é justamente delegar a outro. Ambos não são permitidos. Soberania incondicionada: apenas o próprio Estado pode impor limites a sua soberania, ou seja, só faz acordos se ele quiser. Soberania coativa: se não obedecer = coação. Ou seja, força-se a obediência ou apena aquele que desobedece. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 20 2. Finalidade de Estado É impossível chegar a uma ideia completa de Estado sem ter consciência de seus fins. A finalidade abrange a legitimidade do Estado, sua essência, razão de ser, conjunto de valores que o justifica. Precisa o Estado ter uma missão específica para existir? Para Vinlleneuve, a legitimação de todos os atos do Estado depende de sua adequação às finalidades. (Caracteriza um pensamento extremista). Kelsen não concorda de que a Teoria Geral do Estado se ocupe com essa questão, pois afirma que isso é uma questão política e a TGE trata de assuntos técnico-jurídicos. Mortati diz que a finalidade do Estado é genérica. Outros autores defendem a finalidade do Estado como elemento essencial. Entre eles estpa Groppali. Há, portanto, autores que defendem que não existe Estado sem uma finalidade. Exemplo: Alemanha Nazista. Sua finalidade era de supremacia racial. Entretanto, não precisa dessa finalidade forte, mas é necessária qualquer finalidade que seja. Entretanto, esse debate caracteriza-se por um debate ideológico, já que há autores que acham que aceitar a ideia da finalidade é aceitar a finalidade forte, assim como o nazismo. Ou seja, já há o medo dessa finalidade no sentido forte, então é preferível retirá-la. Atualmente, em Estado Democrático (intolerante aos unidimensionais), seria uma coexistência de finalidades: pluralismo de finalidades. Há uma Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 21 finalidade fraca, aberta, onde abortaria o medo da finalidade forte do totalitarismo. *Finalidade dos países socialistas seria forte, pois é unidimensional, já que é igualdade para todos, ferindo, por exemplo, a liberdade individual. Durante muito tempo houve discussão de qual seria a finalidade do Estado. Antigamente não tinha uma distinção clara entre a ciência política e a filosofia política. Nesta, os filósofos descreviam o que seria melhor, ou seja, propostas de modelo de Estado, uma concepção de justiça. Quando as teorias do Estado discutem sua finalidade, entende-se a figura política analiticamente,não como deve ser, pois, quando os teóricos colocam o “como deve ser”, estão invadindo a filosofia política, normatizando as teorias do Estado e esse é um dos motivos da antipatia dessa discussão. Pode-se admitir que o Estado prevalecem algumas concepções de finalidade, mas não pode apontar um dogmatismo, ou seja, ter uma finalidade específica. *Brasil tem algumas finalidades explícitas na Constituição, mas não são dogmas, já que pode haver outras finalidades. Se for de forma literal, não se poderia extrair outras finalidades nos códigos e resto da Constituição. Fins exclusivos e fins concorrentes Fins exclusivos são determinadas tarefas que o Estado assume sozinho. Ex: tarefa de segurança pública. Fins concorrentes são tarefas que o Estado assume com os particulares. Ex: prestar educação é um serviço público, mas pode ser exercida pelo Estado ou particulares. Ou seja, o Estado delega essa responsabilidade aos particulares. Outro exemplo é a saúde. Distinção entre o caráter desses fins Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 22 Há quem entenda que são universais e objetivos, outros entendem que são particulares e objetivos e, por fim, há os que dizem que são apenas subjetivos, ou seja, derivado dos interesses particulares. - Fins universais e objetivos: defendido por Platão e Aristóteles, são fins que serão sempre os mesmos, não variam no tempo, nem por Estado. O Estado servirá para concretizar o bem comum. Crítica: quando está negando outras finalidades, está colocando um critério normativo, fugindo da concepção empírica. *Perspectiva unidimensional. - Fins particulares e objetivos: nesse, cada um tem sua finalidade e esta pode mudar com o tempo (em tese, mudando a constituição e não o governo). Tende a gerar confusão entre as finalidades do Estado e a opção política que o Estado adotou (esta caracteriza-se como finalidade do governo). A finalidade não pode mudar com a mera mudança do governo. - Fins subjetivos: a finalidade do Estado é a síntese dos fins individuais já que estes movem o Estado e em suas ações sempre há fins, ou seja, a soma das finalidades subjetivas resultaria na finalidade do Estado (relação entre o Estado e os fins individuais). É o modelo mais liberal, diferente do comunitarismo. Grau de abrangência das finalidades Há fins expansivos, fins limitados e fins relativos. - Fins expansivos: é o Estado sem limites na busca da finalidade. Coloca o interesse da coletividade ao extremo acima do indivíduo. Há duas espécies: utilitárias e éticas. As utilitárias são os interesses materiais como bem supremo, ou seja, busca o desenvolvimento material, mesmo que for preciso sacrificar os valores fundamentais da pessoa humana. Ex: União Soviética era sem propriedade privada, pois o custo benefício será melhor para a coletividade. Outro exemplo mais moderado é o bem estar social. As éticas, por sua vez, vão rejeitar o utilitarismo, com a absoluta supremacia dos fins Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 23 éticos, ou seja, buscam o valor moral. Vai guiar o Estado e não vai ter limites para esse valor, caracterizando também o totalitarismo, pois o Estado vai ser bastante rigoroso com os comportamentos fora da moral oficial. Dessa forma, há uma supremacia absoluta das vontades dos governantes, já que eles são os responsáveis por dizer qual é a moral oficial. - Fins limitados: aqui, o Estado tem que ser autocontido. Ou seja, vai ser um mero vigilante da ordem social. Alguns autores caracterizam o Estado como “Estado-polícia”, ou seja, está ali apenas para garantir a segurança pública e garantir que o ouro não invada a sua propriedade privada. Dessa forma, é um Estado liberal, defendido por Locke e Smith. - Fins relativos (teóricas solidaristas): aqui, as ações humanas estão determinadas pelos vínculos sociais, numa espécie de interdependência social. O Estado vai cumprir suas finalidades na proporção que os vínculos determinarão. Cabe ao Estado conservar, ordenar e ajudar essa solidariedade que fundamenta as relações dos indivíduos. Sendo assim, há um equilíbrio entre as duas dimensões. *Estado Democrático de Direito: igualar liberdade com a igualdade material. Tendência pluralista. 3. Povo Antes de determinar o conceito de povo, é importante fazer algumas considerações acerca de conceitos que, eventualmente, serão confundidos com a ideia de povo. Por exemplo, o conceito de população e de nação. Noção de população: expressão no sentido demográfico, quantitativo. Não analisa o vínculo jurídico ou político com o Estado. São todos aqueles que se encontram, em determinado momento, naquele Estado, independente da nacionalidade de cada um. Ou seja, não engloba apenas os residentes, mas todos aqueles que estejam ali, por qualquer razão, inclusive os apátridas. Noção de nação: para nação há a concepção antiga e a concepção contemporânea. Para a antiga, a nação é vinculada à soberania nacional. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 24 Constrói a ideia de que todo Estado tem a necessidade de ter uma nação. Ou seja, para cada nação há um Estado. Entretanto, com o passar do tempo, foram surgindo críticas pertinentes, como, por exemplo, a que não é sempre que em um Estado tem-se uma única comunidade histórico-cultural. A partir dessa crítica que surge a nação contemporânea. Esta consiste na ideia de que nem toda nação vai ter um Estado, visto que podem ter várias nações dentro de um mesmo Estado. Dessa forma, nesta concepção contemporânea, desvincula-se a nação do Estado, sendo ela um vínculo histórico-cultural e não político-jurídico. Mas o que integra esse vínculo? Há três categorias de fatores: fatores naturais, históricos e psicológicos. - Fatores naturais: Território: pode haver uma mesma cultura em vários territórios. Raça: a teoria naturalística diz que a raça humana é uma só. Raça é uma ideia reducionista de nação. Pode haver uma hierarquização de raça, o que pode ser perigoso, como foi no nazismo. Língua: fator relevante, mas não pode ser coordenada absoluta, pois existem línguas faladas por mais de um grupo histórico-cultural. Ex: Canadá, EUA, Inglaterra. Língua é um produto cultural. - Fatores históricos: Tradição e costumes: elementos mais importantes para configurar a ideia de nação. É um elemento pacífico, o resgate de algo que vem do passado. É, também, uma narrativa comum de muitas pessoas. Leis: normas que regem a vida social. Não pode igualar esse fator histórico com o direito positivo. Ex: muçulmanos na França e no Marrocos: pode ter normas positivas no Marrocos e na França, mas os marroquinos não são obrigados a obedecer a normas marroquinas na França, embora é possível que cumpram, mas não por conta do direito positivo marroquino, mas por eles acharem que são marroquinos independente do território. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 25 Região: há a Alemanha protestante e católica. Não estão integradas em um mesmo fator histórico-cultural? Não necessariamente. Apenas uma variação muito mais individual que coletiva; pluralismo religioso. *Muitas vezes a religião vai ser irrelevante para o vínculo histórico0cultural, mas pode ser um fator determinante. Fatores psicológicos: consciência nacional; sentimento de pertencimento. Conceito voluntarístico de nação. Vontade de perpetuar aquele pertencimento. Pode desvincular-se desse pertencimento. Posto esses conceitos, agora podemos conceituar a ideia de povo: conjuntos e indivíduos que através deum momento jurídico, unem-se para constituir Estado (teoria contratualista), estabelecendo com este um vínculo jurídico de caráter permanente, participando da formação da vontade do Estado e do exercício do poder soberano (soberania popular). *Vínculo de cidadania: conjunto de todos aqueles nacionais do Estado. *Muito vinculada às revoluções burguesas. Segundo Jellinek, o povo tem aspecto subjetivo e objetivo, no qual o aspecto subjetivo diz respeito ao sujeito do poder político estatal. Sujeitos de direito e vão ter determinados direitos subjetivos de participação política (sufrágio). Já o aspecto objetivo diz respeito ao objeto do Estado, pois é o destinatário das próprias leis que criaram. O povo se subordina ao próprio Estado que ele rege. Status de povo Há quatro status de povo: positivo, negativo (esses dois não necessariamente participação política), ativo (subjetivo) e passivo (objetivo). - Ativo: poder de participação política no Estado. - Passivo: aqueles a quem as normas serão aplicadas. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 26 - Negativo: diz respeito ao direito do sujeito em interditar a participação do Estado na sua propriedade; Estado não pode invadir nem tomar a propriedade privada. - Positivo: cidadão vai exigir postura ativa do Estado. Acepção política, jurídica e sociológica de povo Acepção política: povo é o corpo eleitoral, ou seja, aqueles que podem votar. Criança não é povo então? Caracteriza-se, portanto, uma acepção restrita. Acepção jurídica: vínculo estável com uma ordem jurídica. Não é um vínculo puramente jurídico. Acepção sociológica: comunidade histórico-cultural. Acepção sociológica de nação. *Mais adequado chamar povo de um vínculo político-jurídico. Cidadania: situação jurídica subjetiva, consistente em um complexo de direitos e deveres públicos (Chiarelli). Não tem nada a ver com território. Morar na China não quer dizer extinguir a cidadania brasileira e nem adquirir a chinesa. 4. Território Parte do globo terrestre, na qual se acha fixada a população de um Estado com a exclusão da soberania de qualquer outro Estado. A soberania interna se exerce sob a população atual, por exemplo, estrangeiro no Brasil tem que seguir as regras da soberania do Brasil, conforme o princípio da impenetrabilidade que diz que um Estado não pode penetrar a sua soberania em outro Estado, mesmo que tenha um cidadão que compõe um povo estrangeiro. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 27 Na antiguidade dificilmente tinha conflitos de entrada e saída dos territórios. Não eram comuns conflitos entre públicos e privados. Não era tão importante as delimitações. Na Idade Média, a noção de territorialidade fica mais forte, tanto quanto a soberania. Na Modernidade, fixa a territorialidade como elemento do Estado, como estabilidade e efetividade do poder e essencial para a organização. O território caracteriza-se por uma figura tridimensional em forma de cone invertido, para que alcance o ar, a terra e a água. Existem delimitações no direito internacional que delimitam o espaço aéreo e marítimo do território. Os limites marítimos sempre deram muita confusão. Para se entender os limites marítimos, há a necessidade da consciência da existência de três faixas: a faixa chamada mar territorial, a zona contígua e a zona econômica exclusiva. Lembrando que cada país tem as suas delimitações e, portanto, esses números cabem apenas à legislação brasileira. Mar territorial: faixas de água que banham as costas do Estado, que exerce a sua soberania. (0 a 12 milhas). Zona Contígua: abrange a legislação aduaneira, tributária, migratória e sanitária (de 12 a 24 milhas). Zona Econômica Exclusiva: abrange os recursos naturais, a investigação científica, etc. (de 12 a 200 milhas) *entre as milhas 12 e 24 há uma interseção entre a zona contígua e a zona econômica exclusiva. Há também a plataforma continental, que é o leito ou subsolo das águas submarinas que se estendem além do mar territorial. Ou seja, se onde acabar a terra não ultrapassar as 200 milhas, a plataforma continental acabará lá, se ultrapassar, acaba nas 200 milhas. Concepções de território Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 28 São teorias que explicam a relação entre Estado e território. Há quatro concepções de território: teoria do território-patrimônio; teoria do território- objeto; teoria do território-espaço e teoria do território-competência. - Território-patrimônio: parte da Idade Média, onde a noção de propriedade era muito importante. Entretanto, nessa época não havia a distinção entre o poder do império e o domínio, no qual o poder do império é o poder sobre as pessoas e o domínio é o poder sobre as coisas. Portanto, a relação de Estado e território seria de um proprietário e um objeto, ou seja, relação de domínio. - Território-objeto: aprimoramento da primeira. Território é objeto de um direito real e especial (caráter público). Direito real é aquele que incide sobre as coisas (vem de “rés”, onde significa “coisa”). Análogo ao que ocorre na propriedade privada, mas não necessariamente essa relação. Aqui, a lógica continua sendo de domínio, entretanto, nessa teoria distingui-se os níveis de domínio (domínio público e privado). Não é boa ainda, pois na questão da soberania é preciso inserir a ideia de império. Território-espaço (mais aceita): território é a extensão espacial da soberania do Estado. Ou seja, agora é exercida sobre as pessoas, excluindo a ideia de domínio, dando lugar a ideia de império. Dessa forma, não tem relação de direito real, mas sim de direito pessoal. É o poder no território e não sobre o território, no qual o poder no território diz respeito ao poder sobre as pessoas situadas no território. Já o poder sobre o território quer dizer o poder em relação ao território. Nesta, o Estado tem poder sobre as propriedades, pois tem poder sobre o território, na primeira, o Estado tem poder sobre as pessoas, mas não em suas propriedades. - Território-competência (teoria de Kelsen): território é o âmbito de validade da ordem jurídica do Estado. Não há uma oposição entre essa e a terceira, é mais uma questão de ênfase. A teoria de Kelsen trata das competências enfatizando-a e não enfatizando a questão geográfica. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 29 Exceções à territorialidade - Situação em que uma coisa situada no território de um Estado X, ou neutro, é tratada como se essa coisa estivesse no território de um Estado Y. Por exemplo: navio em alto mar: fisicamente em nenhum território, entretanto o navio é tratado como território a qual ele pertence e, portanto, sua população também. - Navio de guerra situado em outro Estado trata o navio como Estado ao qual ele pertence. - Agentes diplomáticos são dotados de imunidade pessoal, ou seja, não são submetidos às normas do Estado no qual ele está, garantindo, assim, autonomia do agente para exercer o seu cargo. *Se houver ocupação de outro país, não se caracteriza como perda de território, pois é uma ocupação temporária. Só perde o território se, após a guerra, houver uma espécia de tratado dizendo que o território foi apropriado por outro país. FORMAS DE ESTADO 1. Estado unitário Terá uma unidade orgânica entre suas dimensões políticas, jurídicas e administrativas. No caso das administrativas, não têm funções bem definidas como o Brasil, mas existem divisões em que estão condicionados a um podercentral. Dessa forma, não há um ente autônomo como no Estado Federal. Quando fala-se de autonomia, se refere a autonomia política, onde no Estado Unitário não há. Pode haver certa autonomia administrativa que, mesmo assim, está subordinado a um poder central. Atualmente ainda há Estado Unitário, mas inclinando ao federalismo. Em períodos em que a moda era o totalitarismo, era melhor o Estado Unitário, entretanto hoje em dia a moda é democracia, logo, há uma tendência ao federalismo. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 30 Transpersonalização do princípio jurídico É a distinção do sujeito que exerce a função de governante e o seu cargo. Ex: uma coisa é Temer, outra coisa é o cargo de presidente. Não se pode personalizar isso. Dessa forma, há a impessoalidade da posição institucional, com a tendência ao aborto de eventuais abusos. Formação do Estado Unitário Pode ser pela fusão de dois Estados Unitários; pode ser pela parte do Estado Unitário que torna-se independente e cria-se outro Estado Unitário; e pode ser pela decomposição do Estado Federal, em que todos os estados membros viram um Estado Unitário. O Estado Unitário gira em torno da ideia de centralização. Há a necessidade de estabelecer comparações entre elas: Centralização Política x Centralização Administrativa A centralização política com certeza estará presente no Estado Unitário, visto que é um requisito necessário para a permanência dele. Não há qualquer traço de pluralismo, ou seja, há apenas uma ordem sem subdivisões de autonomia. A centralização administrativa, em regra, vai ter, embora não seja essencial para um Estado Unitário. A centralização administrativa refere-se a unidade em relação à execução das leis. Não há esferas autônomas administrativas, mas há divisões subordinadas ao poder central. *Dessa forma, pode haver Estado Unitário com descentralização administrativa, mas não política. Centralização Territorial x Centralização Material A centralização territorial quer dizer que o Estado Unitário vai exercer a sua soberania por todo o território, não havendo locais com autonomia espacial. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 31 A centralização material quer dizer que o Estado Unitário concentra em suas mãos as competências para governar. Não é necessário ter todas as competências centralizadas, mas nunca terá uma esfera totalmente autônoma, no sentido do Estado não poder atuar nesse espaço. Dessa forma, quanto menor o grau da centralização material, maior é a tendência ao Estado Federal. Centralização Concentrada x Centralização Desconcentrada A centralização concentrada diz respeito a um nível mais opressor. Há um centro de decisão e o centro de execução. O poder central toma todas as decisões e transfere a tarefa de cumprir a um ente inferior. A centralização desconcentrada diz respeito a um nível intermediário. O poder central delega um pouco de competência a órgãos hierarquicamente inferiores. Vale ressaltar que órgãos não são pessoas jurídicas e, portanto, desprovidos de autonomia. Age meramente como um meio de eficiência da pessoa jurídica a qual o órgão é subordinado (nesse caso, o Estado). Vantagens e desvantagens da centralização Vantagens: - Simplifica o governo, pois tudo está direcionado a um único poder; - Em matéria de eficácia do poder é muito bom (força, controle); - Reforça o princípio de unidade nacional; - Mais fácil planificar gastos; - Há quem ache que pode ajudar na impessoalidade, pois se tem um poder central decidindo em um lugar pouco visível, ele decidirá sem conhecer, ou seja, não sofrerá influência de ninguém para tomar suas decisões sobre aquele local. Desvantagens: - Ameaça a autonomia das coletividades particulares; Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 32 - Tende a desmobilizar politicamente a população, visto que eles nunca terão influência política, na medida em que há um poder central; - Sobrecarrega o poder central com muita coisa sem importância; - Poder central não conhece os problemas das comunidades menores (em paralelo a ultima vantagem). Descentralização Administrativa x Descentralização Política Existem determinadas centralizações administrativas, mas não é uma centralização política. Na descentralização administrativa, confere-se competências a órgãos administrativos razoavelmente amplas. Não é mais um poder voltado totalmente ao poder central. Indiretamente esses órgãos continuam subordinados ao poder central. Dessa forma, fatia-se administrativamente, mas não politicamente. *Dentre os Estados Unitários, o mais próximo do Federal é o que tem a descentralização administrativa. 2. União de Estados Primeiro, é importante dizer que a união de estados é diferente da fusão de estados, pois este diz respeito ao surgimento de um Estado, o que não acontece na união. Dessa forma, na união de estados, continua existindo os estados, mas ligados com algum tipo de vínculo. Há duas categorias de união: uniões paritárias e uniões desiguais, na qual na primeira não há um Estado submetido a outro, diferentemente da segunda, em que um Estado terá vantagem em relação a outro. Níveis de aprofundamento da união: Uniões organizadas x Uniões desorganizadas As uniões desorganizadas resolvem apenas matérias pontuais. Há autores que nem consideram como uma união de Estado, visto que essas matérias podem ser resolvidas por meio de tratados. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 33 As uniões organizadas são subdivididas em União Pessoal e União Real. A União Pessoal diz respeito à lei de sucessão da coroa que o torna rei de dois Estados. Ou seja, a união vai se dá na pessoa privada do governante. Entretanto, não torna um Estado dependente do outro. Antigamente não havia nenhuma relevância jurídica, entretanto, hoje poderia haver uma grande relevância jurídica, pois poderia haver a pessoalidade no governo. Algumas características da união pessoal é que ela se dá de forma aleatória, pois, em tese, não é algo planejado; é transitória, pois quando o governante morre acaba a união, caso o sucessor dele não for um sucessor comum; não existe qualquer tipo de personalidade jurídica internacional; e é um elemento subjetivo (rei). Já a União Real, diz respeito à união de coisas. Algumas características dessa união é que, diferente da união pessoal, ela é um elemento objetivo (comunhão de interesses), na medida em que os participantes acham que é mais fácil conquistar os seus objetivos através dessa união; portanto, é uma decisão consciente; não torna um Estado só, mas estabelece-se apenas um governante; está mais próxima de confederação do que de união pessoal; não dá pra ter guerra entre si; não se forma uma personalidade jurídica nova; em regra, envolvem Estados que tem fronteiras entre si; pode ser permanente. *Brasil já foi uma União Real pouco antes da independência. 3. Confederação Primeiro é necessário dizer que confederação é diferente de federação. Isto posto, pode-se definir protetorado como uma união de estados que, sem abrir mão de suas soberanias, criam órgãos comuns para seguir políticas comuns, principalmente em questões de defesa externa e segurança interna. Muitas vezes é uma espécie de solução para resolver conflitos entre povos semelhantes histórico e culturalmente. Dessa forma, não se pode confundir com uma criação de um novo Estado. Confederação não é a criação de um novo Estado. Ou seja, em uma confederação, continua-se comEstados independentes, mas unidos mediante tratados, enquanto federação é formada via Constituição, o que designa um Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 34 único Estado. Portanto há cidadania própria para cada membro da confederação, mas não há uma cidadania da confederação propriamente dita. Para sair de uma confederação, o Estado deve fazer uma “denúncia de tratado”. Para um estado sair de uma federação, em tese, é por meio de guerra. Em uma confederação, normalmente existe uma espécie de corpo comum, que é um corpo deliberativo para tomar decisões comuns. Para isto chama-se “dieta”. *O Direito Internacional reconhece a personalidade internacional da confederação. *Em uma confederação os membros vão conferir uma quantidade de competências à confederação muito menor que em uma federação, ou seja, há pouca centralização de competências. Na federação, a competência da União é muito maior, por haver resquícios do Estado unitário (no caso do Brasil). No EUA, por exemplo, há resquícios da confederação e, por isso, os Estados são mais autônomos e descentralizados, pois há competências descentralizadas. 4. Protetorado Entende-se por protetorado como uma espécie de “vassalagem moderna”, no qual um Estado tem uma organização política fraca que não tem capacidade de se estabelecer com autonomia. Nesse caso, cria-se uma espécie de tutela com outro país desenvolvido, no qual este irá assumir a responsabilidade do Estado menor. Há três categorias de protetorado: - Colônia: metrópole protege a colônia (protetorado colonial) - Semi Protetorado: existiram situações em que os EUA invadiram territórios do caribe, dizendo-se pacificador para manter uma estabilidade política, até tornaram-se independentes. Esta categoria é criticada por autores, pois acontece sem a autorização dos Estados menores. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 35 - Protetorado internacional: embora uma determinada nação tenha condições de ser um Estado independente, ele é inferior aos ricos e é preferível fazer essa espécie de protetorado. Por exemplo: Mônaco com a França. Mônaco é um território muito rico, mas é minúsculo e encontra-se no meio do território francês. Caso fosse independente, em momentos de guerra, estaria em completa minoria e sofreria uma instabilidade para se estabelecer. Além desses três tipos, o autor Bonavides encaixa mais uma categoria de protetorado: o protetorado ideológico. Este diz que alguns Estados, mesmo sendo formalmente independentes, se comportaram como protetorados. Por exemplo os Estados que se relacionavam com os EUA ou URSS (veja que não são os territórios que foram anexados pela URSS, mas os que eram independentes, mas que eram mantidos por essas nações. Por exemplo: Cuba. Dessa forma, eles eram independentes, mas ideológico e politicamente condicionados à esses Estados. Essa independência chama-se de “independência nominal”, na qual está findada apenas no papel, mas materialmente são protetorados. 5. Commonwealth A Commonwealth designa uma comunidade política fundada no bem comum. É mais ou menos a “república” do latim, na qual significa “coisa pública”. Representa de modo aparente o ponto de chegada da evolução política e conceitual do antigo Império Britânico. Quando é designado com letra minúscula, no sentido lato, caracteriza-se por uma oposição da ideia de monarquia. Com letra maiúscula refere-se a uma Commonwealth como um nome próprio, ou seja, uma comunidade específica, tendo, portanto, a monarquia no meio. Império Britânico foi dividido em três fases: - Sec XVIII: colônias - Sec XIX: domínios (autogoverno local, autonomia) Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 36 - Sec XX: soberania. Domínios saem de autônomos para independentes, entretanto vinculados entre si. Dessa forma, mantêm-se os laços de união imperial, agora assentados sobre o princípio básico da cooperação e da solidariedade dos povos participantes. A partir daí que resultou o “Commonwealth”. Tem gente que nem reconhece a terceira fase como império britânico. Segunda metade do século XX: Irlanda e India criam problemas, pois resolvem virar repúblicas. Dessa forma, a Irlanda sai do Commonwealth e a Índia vira república, mas desejou ficar. A partir daí estabeleceu-se que a Commonwealth podia abranger as duas formas de governo. Portanto, saiu de British commonwealth para Commonwealth of Nations, alcançando uma “união livre e paritária de Estados soberanos”, no qual está em estreita consonância com seu caráter “multirracial, multicultural e multilinguístico”. *Todo mundo era regido por uma mesma coroa, mas com o surgimento da república não tinha mais como. Dessa forma, a Commonwealth passou a ter status dual. Hoje há países republicanos, com a rainha como chefe da Commonwealth, mas sem interferir internamente no Estado, países monárquicos, com a rainha como chefe da Commonwealth, mas não chefe de Estado e reinos da Commonwealth, com a rainha sendo as duas coisas. 6. Estado Vassalo (união desigual) O Estado Vassalo é considerado como a versão antiga do protetorado1. Alguns autores compactuam a ideia de que tecnicamente não se pode nem dizer que é um Estado, pois não reconhece ao Estado Vassalo uma personalidade internacional – há quem diga que o Estado Vassalo é uma extensão do Estado Suserano2. 1 A diferença entre vassalagem e protetorado é que o primeiro é imposto (relação unilateral), quanto o protetorado é feito através de um acordo (bilateral). 2 Se o Estado Suserano quiser diminuir as competências do Estado Vassalo, ele poderá. Ou seja, o Estado Suserano que determinará a faixa de autonomia do Estado Vassalo. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 37 7. Estado sob administração fiduciária O Estado Fiduciário é uma modalidade especial de protetorado. Ou seja, pega-se determinado espaço – protetorado ou colônia de alguém, mas esse alguém não tem mais condição de administrar esse espaço – e põe um administrador fiduciário para “arrumar a casa”. Portanto, é a arte de nomear um interventor para arrumar as cosias até torná-lo independente. *Em tese essa relação ocorre por interesse humanitário (polity), mas há o interesse estratégico (politics). 8. Estado Federal O Estado Federal é uma realidade mais nova. Caracteriza-se pela união entre estados – não estados independentes, mas sim estados membros, pois se os estados membros tiverem soberania, independência, não há federação – uma aliança. *Entretanto a União não é hierarquicamente superior aos estados membros. Ou seja Esfera federal é diferente de Estado Federal. O primeiro é uma única esfera dentre inúmeras; uma fatia das demais competências. Portanto, há esfera estadual e municipal, a qual não há hierarquia entre eles e sim competências, onde uma, em tese, não poderá invadir a outra. O Estado Federal, por sua vez, engloba todas essas esferas. É como o país se mostra para o mundo. Contudo, a União que cumpre a função de falar em nome da República em âmbito internacional. Nesse sentido, o presidente (ou o Ministro de Relações Exteriores) age como Chefe de Estado. Ou seja, o presidente fala em nome da União que tem a competência de falar em nome do Estado. *A União em seu feixe de competências internas vai chamar de feixe nacional e não federal. Ou seja, competências federais dizem respeito apenas à esfera federal, enquanto o feixe nacional diz respeito à todas as esferasexistentes no Estado. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 38 Dessa forma, a União também vai exercer competência de caráter nacional, que envolve todos os entes, inclusive ela mesma. Ex: Código Tributário Nacional. Ou seja, quando se fala em união como esfera federal, fala em algo específico, e quando fala em União em caráter nacional, engloba todos os entes. Há uma pirâmide em que expressa a dinâmica das leis no Brasil. Nela, há as leis ordinárias, que são, por exemplo, as leis de cada ente criadoras dos impostos. Em seguida tem a lei complementar, por exemplo, o CTN (tem caráter nacional, portanto abrange todas as esferas) e, por fim, o sistema constitucional tributário que estabelece as competências para que os entes criem leis. Estabelece a competência para a União criar a lei complementar sobre normas gerais tributárias. A lei complementar se diferencia da ordinária quanto ao coro de aprovação. Nesse contexto, para uma lei ordinária ser aprovada, é necessária apenas a maioria simples dos que estão presentes na votação. Já a lei complementar, para ser aprovada, é necessária a maioria absoluta de todos os votantes do congresso, não apenas dos presentes. Soberania e Autonomia Soberania é aquele que não se submete a ninguém; independente. Logo, quem tem soberania é o Estado Federal e não municípios, estados ou união. Eles tem apenas uma esfera autônoma de competência que não pode ser invadida por outros entes. *Apesar da União falar em nome do Brasil, quem figura é o Brasil como Estado Federal e não pela União. A Constituição estabelece o quadro de competências, no qual um não pode invadir o outro. Nesse sentido, a União, como ente nacional, não está invadindo os outros entes, pois a Constituição estabelece essa competência Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 39 nacional a ela, na qual abrangerá os entes municipais, estaduais e, inclusive, a esfera federal. Contudo, há a possibilidade de intervenção federal (nome que a Constiuição dá, mas não se caracteriza uma invasão, pois é lícito, previsto na CF/88) em caso de grande catástrofe, onde a união intervirá para apaziguar a situação. Os entes da federação são autônomos, ou seja, vai reconhecer aos estados membros, municípios e união determinadas qualidades. Não se pode fazer mudanças na Constituição, via emenda constitucional, se isso caracterizar um desequilíbrio entre os entes. Portanto, não se pode delegar uma qualidade de um ao outro, pois isso implica em uma violação da autonomia deles. Por outro lado, pode-se criar competências novas – com cuidado para não ser um disfarce à invasão da autonomia de outro ente – mas não pode tirar de um e delegar a outro. A autonomia dos entes se desdobram em quatro capacidades: a) Capacidade de autogoverno b) Capacidade de autolegislação c) Capacidade de autoorganização d) Capacidade de autoadministração Capacidade de autogoverno: Capacidade para que cada ente da federação organize sozinho os seus poderes, dentro dos termos constitucionais (união e estado com 3 poderes, município com 2 poderes). Capacidade de autolegislação: Capacidade de exercer as suas competências legislativas Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 40 Capacidade de autoorganização: Capacidade de estabelecer uma norma fundante3 para as entidades da federação. Vale lembrar que a união não terá uma norma fundante, visto que há a Constituição Federal. Os estados poderão criar a constituição estadual e os municípios provêm da lei orgânica municipal. *O poder do estado membro criar a sua própria constituição chama-se de poder constituinte decorrente, pois decorre de outra constituição (a federal). Logo não é soberano, mas sim autônomo. Há quem entenda que os municípios são entes inferiores e não poderiam ser considerados um ente da federação, pois não tem representação no congresso. Por isso tem a lei orgânica e não a constituição municipal, o que, em tese, é a mesma coisa. Capacidade de autoadministração: Capacidade de exercer as suas competências administrativas. Tipos de federalismo Federalismo centralizado x federalismo descentralizado No federalismo centralizado, as principais competências (executivo e legislativo) são outorgadas ao ente federal (união). Ex: Brasil, onde grande parte do que importa fica na união. No federalismo descentralizado, essas competências são carregadas a outros entes. Ex: EUA, onde grande parte do que importa ficam nos estados membros. 3 Norma fundante estabelece as bases para a instituição de um ente político autônomo ou de um Estado soberano. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 41 Dentre os Estados Federais, há os que são mais centralizados e os que são menos centralizados (mais descentralizados). .E daí vem as nomenclaturas: Federação centralizada: há a descentralização político-administrativa, mas dentre os Estados Federais, são os que são mais centralizados. Federação descentralizada: há uma descentralização político- administrativa muito mais evidente que os Estados de federação centralizada. Federalismo centrípeto x federalismo centrífugo Há Estados que fizeram caminhos históricos diferentes e, por isso, vai influenciar diretamente no tipo de federalismo. Nesse contexto, o Brasil foi um Estado unitário, depois tornou-se uma federação, portanto, é um federalismo centrífugo a União dá as competências aos estados membros. Dessa forma, há a tendência do federalismo centralizado. Por outro lado, os EUA foi uma confederação, depois tornou-se federação e, portanto, é um federalismo centrípeto, onde os estados membros dão as competências para a União. Dessa forma, a tendência é de uma federalismo descentralizado. Entes da federação Estado membro: pessoa jurídica do direito público interno que é reconhecida como ente da federação e, consequentemente, dotado de autonomia. Está submetido ao princípio da simetria, que consiste no princípio que estabelece que a ordem estadual tem que espelhar naquilo que for essencial à Constituição Federal. Municípios: pessoa jurídica do direito público interno dotado de autonomia. Também é submetido ao princípio da simetria. A diferença entre os municípios e os estados é que os municípios não têm representação no Congresso. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 42 Distrito Federal: unidade da federação com autonomia parcialmente tutelada4. Comporta outros territórios além de Brasília. Se for pra inserir o DF no conceito de estado membro ou município, faz mais sentido estreitar-se na concepção de estado membro, assim como o STF o faz, pois, em regra, as suas competências são similares aos dos estados. Por exemplo: o Distrito Federal tem governador e tribunal (municípios não têm poder judiciário). Entretanto, é provido de Lei Orgânica e não de Constituição Estadual. Ou seja, tem competências de município e de estado, mas é interferido pela União. Territórios Federais Os territórios federais não são entes da federação. É uma espécie de mecanismo de descentralização territorial. Ou seja, é um território da união que funciona como descentralização administrativa, mas sem autonomia política. Por exemplo: Fernando de Noronha não é um território federal, mas já foi. Hoje é integrado ao estado de Pernambuco. FORMAS DE GOVERNO Os franceses enxergam como forma de governo, nas classificaçõesmais antigas e tradicionais, a monarquia, a aristocracia e a democracia. Para definir qual é o tipo de governo, é necessário a adoção de três critérios: o critério do número de titulares do poder soberano (defendido por Aristóteles), o critério da separação de poderes e o critério dos princípios essenciais que animam as práticas governativas e o poder estatal limitado ou absoluto. Os dois últimos critérios são concepções mais recentes e, portanto, traduzem melhor a compreensão contemporânea. Dessa forma, essas concepções contemporâneas configuram-se como uma reação ao modelo rígido anterior. Vale lembrar que o critério de separação de poderes dominou durante toda a idade do Estado Liberal, apoiado na teoria de Montesquieu. 4 Algumas competências administrativas e legislativas são da União. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 43 Nesse contexto, dentre as três, as classificações mais aprovadas são as que abrangem o critério do número de pessoas que exercem o poder soberano, dependidas por Aristóteles, Maquiavel e Montesquieu. 1. CLASSIFICAÇÃO DE ARISTÓTELES Aristóteles vai classificar as formas de governo em três tipos: a Monarquia, a Aristocracia e a Democracia. 1.1. Monarquia A Monarquia representa o governo de um só, ou seja, há uma exigência unitária e o máximo respeito às leis. 1.2 Aristocracia A Aristocracia diz respeito ao governo de alguns, dos melhores. É, portanto, regido pela força da cultura, da inteligência, dos melhores que puxam as rédeas do governo, ou seja, é exigido da aristocracia a seleção dos melhores para governar. 1.3 Democracia A Democracia atende aos princípios de liberdade e igualdade da população. Após isso, Aristóteles distingue as formas de governo puro das formas de governo impuro. As formas de governo puro dizem respeito ao governo que tem em vista o interesse comum, em qualquer uma das classificações. Por outro lado, o governo impuro diz respeito ao prevalecimento do interesse individual em face da coletividade. Nesse contexto, quando a monarquia tem seu governo voltado ao interesse próprio, configura-se em tirania. A Aristocracia, por sua vez, quando submetido a um governo voltado ao interesse individual, tem-se a oligarquia, plutocracia ou despotismo, voltado em interesses econômicos antissociais. Por fim, quando ocorre esse processo com a democracia, configura-se em demagogia, ou seja, um governo das multidões rudes, que transcendem às regras. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 44 2. ACRÉSCIMO ROMANO À CLASSIFICAÇÃO DE ARISTÓTELES: O GOVERNO MISTO. Alguns escritores políticos da sociedade romana, como Cícero, acrescentaram o quarto tipo de governo: o misto. Nesse sentido, segundo Cícero, esta forma de poder já existia no Estado romano. O governo misto consiste, basicamente, na redução dos poderes da monarquia, aristocracia e democracia, mediante instituições políticas, tais qual o Senado Aristocrático e a Câmara Democrática. Vale lembrar que autores modernos que admitem a existência da forma mista, entendem que a Inglaterra oferece o melhor exemplo na atualidade. Para entender esse exemplo, é necessária uma breve explicação do estilo de governo inglês. O governo inglês é regido por um sistema monárquico constituído pelo Rei, pela Câmara Alta (Câmara dos Lordes) e pela Câmara Baixa (Câmara dos Comuns). Nesse contexto, o Rei se caracteriza como a Coroa monárquica, a Câmara Alta como a Câmara Aristocrática e, por fim, a Câmara Baixa configura-se na Câmara Popular. Essas três instâncias constituem o parlamento inglês. 3. AS MODERNAS CLASSIFICAÇÕES DAS FORMAS DE GOVERNO: DE MAQUIAVEL A MONTESQUIEU. 3.1. Maquiavel Maquiavel se desfaz da tríplice governamental de Aristóteles e assume formas de governo em termos dualistas. Nesse sentido, para ele, há a monarquia, como poder singular, de governo hereditário e vitalício e a república, como poder plural, renovando-se mediante eleições. Na monarquia, há uma subdivisão baseada em monarquia absoluta e monarquia limitada, a qual esta subdivide-se em monarquia estamental, constitucional ou parlamentar. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 45 3.1.1. Monarquia absoluta A monarquia absoluta tem todo o poder concentrado no monarca. Dessa forma, o seu poder é proveniente da origem divina. 3.1.2. Monarquia limitada A monarquia limitada tem o poder central repartido. - Estamental: descentraliza certas funções e delega-as a elementos da nobreza reunidos em Cortes. É típico do regime feudal. - Constitucional: aqui o Rei exerce apenas o Poder executivo, ao lado dos poderes Legislativos e Judiciários. Por exemplo: Brasil imperial. - Parlamentar: aqui o Rei não exerce função de governo. Ou seja, ele reina, preside a nação, mas não governa. Esta função é exercida pelo Gabinete de Ministros. 3.1.3. República A república é o governo temporário e eletivo. É subdividido em república aristocrática e república democrática, na qual esta é subdividida em república democrática direta, indireta (representativa) e semidireta (mista). República Aristocrática: É o governo de classe privilegiada por direitos de nascimento ou conquista, ou seja, o governo dos melhores. Exemplo: Atenas foi uma República Aristocrática. República Democrática: Aqui, todo o poder emana do povo. - República Democrática Direta: é um modelo completamente abandonado atualmente, e consiste em um governo em que todos os cidadãos governam. Exemplo: antigo Estado ateniense. Leonardo David – 1º semestre – Ciência Política – T1AA – 2017.1 46 - República Democrática Indireta (representativa): é a solução racional dos filósofos da modernidade, concretizada na Revolução Francesa. Nela, foi firmado o princípio da soberania nacional. Nesse contexto, consiste em conferir o poder do governo aos representantes escolhidos por meio de eleições. Dessa forma, o Poder Executivo e o Poder Legislativo são eleitos pelo povo e o Poder Judiciário é nomeado pelos dois outros poderes que foram eleitos pelo povo. - República Democrática Semidireta (mista): é o governo que limita o poder da Assembleia Representativa, reservando ao povo os assuntos de maior importância, principalmente os de ordem constitucional. Dessa forma, esses assuntos importantes são decididos mediante referendos, iniciativas populares, vetos populares, etc. Ou seja, o povo decide os conflitos em última instância. 3.2. Montesquieu Montesquieu é o dono da teoria mais conhecida dos tempos modernos. Nela, ele distingue a natureza e o princípio do governo. Nesse contexto, a natureza exprime-se naquilo que faz com que o governo seja o que ele é, enquanto o princípio é aquilo que faz o governo atuar, ou seja, que anima o exercício do poder, como, por exemplo, as paixões humanas. São formas de governo: república, monarquia e despotismo. 3.2.1. República A república compreende a democracia e a aristocracia. Nesse cenário, a natureza da democracia consiste na soberania residir nas mãos do povo, enquanto o seu princípio é a virtude, traduzido no amor à pátria, na igualdade. Por outro lado, a natureza da aristocracia consiste na soberania pertencer a alguns, aos melhores, enquanto o seu princípio é a moderação dos governantes. 3.2.2. Monarquia A natureza da monarquia decorre de ser o governo de um só. Nesse contexto, o soberano governa mediante leis fixas. Entretanto, há
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