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Volta à caverna de Platão com Skinner

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Volta à caverna de Platão com Skinner
Você que tem ideias tão modernas
É o mesmo homem que vivia nas cavernas
-Humberto Gessinger
Convido vocês a darem um passeio pelos mundos de Platão, o filósofo grego que, anos antes de Cristo, descreveu a existência com a alegoria da caverna. Conta ele que nessa época os seres humanos viviam presos, acorrentados numa caverna onde não podiam ver a luz do sol. 
 Dessa forma, Platão concebia dois mundos. Um, dentro da caverna, chamado mundo sensível; outro, do lado de fora, chamado mundo inteligível, ou mundo das ideias. Nessa caverna os seres humanos, aprisionados pelos sentidos, estariam limitados a experimentar apenas as sombras que são projetadas nas paredes ao fundo, que corresponderiam a copias imperfeitas do modelo perfeito das coisas contidas no mundo das ideias. Sem consciência de seu aprisionamento, os habitantes da caverna considerariam real o que não passaria de ilusão, e viviam então alienados, afastados da verdadeira realidade.
Assim, Platão separa aquilo que pode ser apreendido pelos sentidos e pela mente e promove uma cisão, uma fragmentação do sujeito em corpo e alma, entre o que se é e a idealização do que se pode ser.  A criação deste mundo ideal, contudo, em seu extremo, pode promover a negação dos sentidos e a mortificação da vida ao nos desconectar de possibilidades tangíveis.
Qualquer semelhança desses mundos com a realidade atual não é mera coincidência. Platão influenciou o nosso pensar de tal forma que, ainda hoje, somos seduzidos pela crença de que há ideais de perfeição que precisamos a qualquer custo atingir. Queremos a casa dos sonhos, o companheiro ou companheira perfeitos, o corpo ideal, empregos notáveis, performances excelentes e uma vida exemplar, que seja apreciada e sirva de modelo para os outros.
Contudo, agora que saímos e nos afastamos demais do mundo sensível, proponho que nos aproximemos novamente. Será que viver os sentidos é mesmo tão limitante quanto Platão pode fazer pensar? 
Milênios depois, entremos novamente na caverna de Platão acompanhados por Skinner, o pensador que aposta que no poder dos estímulos em produzir mudanças e aprimorar nossa forma de sentir e perceber o mundo.
Skinner passeia pela caverna sem as correntes platônicas e visita todos os cantos para nos apresentar as contingências de reforço: a relação das ações humanas com as suas consequências no mundo terreno, e a relação destas consequências sobre as ações humanas.
Em uma das galerias, nos apresenta os reforços naturais, estímulos que nos atingem diretamente, sem necessitar do intermédio de alguém, e que produzem consequências que nos satisfazem, o que nos leva a repetir o que fazemos. Acontece, por exemplo, quando olhamos uma paisagem e nos deslumbramos, quando lemos e compreendemos, quando tocamos e sentimos.
Em outra galeria, nos apresenta os reforços arbitrários, ou seja, aqueles que nos satisfazem a partir da mediação dos outros. Corresponde ao que sentimos quando somos elogiados por alguém, quando recebemos recompensas por um bom desempenho nos estudos ou no trabalho, quando somos valorizados pelo nosso grupo de amigos, ou quando nos sentimos alegres após um dia de esforço, ao chegar em casa e receber um afago de alguém.
Na grande caverna que é a vida, Skinner nos mostra um grande espetáculo: uma bela conjugação de estímulos, cada qual nos saciando e nos satisfazendo a sua maneira, todos disponíveis para a apreciação dos nossos sentidos e de todo o nosso ser. Skinner une corpo e mente em um só, tudo é corpo, aqui e agora.
Quando Skinner nos reapresenta a caverna de Platão, ele não quer nos dizer para não termos ideais ou deixarmos de aperfeiçoar o que somos. Contudo, nos estimula a pensar e a viver a realidade terrena, com tudo o que nela há de perfeito e imperfeito, para que através das interações possamos chegar ao que podemos ser, o que é de uma riqueza imensurável, mas está longe de ser o modelo de perfeição utópico de Platão.
FONTES CONSULTADAS:
PLATÃO. A República. São Paulo: Nova Cultural, 2000.

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