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DIREITO PENAL IV- UNAERP PROF. Paulo José Freire Teotônio DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 2 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres UNIDADE I- DO LENOCINIO E DO TRAFICO DE PESSOAS ..................................................................... 4 1. MEDIAÇÃO PARA SERVIR A LASCÍVIA DE OUTREM ............................................................................................ 4 2. FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO ............................................................................................................... 6 3. CASA DE PROSTITUIÇÃO .................................................................................................................................. 9 4. RUFIANISMO ................................................................................................................................................. 11 5. TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS .......................................................................................................... 13 6. TRÁFICO INTERNO DE PESSOAS ...................................................................................................................... 16 UNIDADE II – DO ULTRAJE PÚBLICO AO PÚDOR .................................................................................. 20 7. ATO OBSCENO .............................................................................................................................................. 20 8. ESCRITO OBSCENO ........................................................................................................................................ 22 UNIDADE III – CRIMES CONTRA A FAMILIA............................................................................................... 25 9. BIGAMIA ...................................................................................................................................................... 25 10. ABANDONO MATERIAL ................................................................................................................................. 26 11. ABANDONO INTELECTUAL ............................................................................................................................ 29 UNIDADE IV – CRIMES CONTRA A SAÚDE PUBLICA............................................................................ 32 12. EPIDEMIA ..................................................................................................................................................... 32 13. INFRAÇÃO DE MEDIDA SANITÁRIA PREVENTIVA ............................................................................................. 35 14. OMISSÃO DE NOTIFICAÇÃO DE DOENÇA ....................................................................................................... 36 15. EXERCÍCIO ILEGAL DA MEDICINA, ARTE DENTÁRIA OU FARMACÊUTICA ...................................................... 37 16. CHARLATANISMO ......................................................................................................................................... 39 17. CURANDEISMO ............................................................................................................................................. 41 UNIDADE V- CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA ..................................................................................... 47 18. INCITAÇÃO AO CRIME .................................................................................................................................. 47 19. APOLOGIA AO CRIME ................................................................................................................................... 52 20. QUADRILHA OU BANDO ............................................................................................................................... 55 21. CONSTITUIÇÃO DE MILICIA PRIVADA ........................................................................................................... 60 UNIDADE VI - DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA ............................................................................ 63 22. MOEDA FALSA ............................................................................................................................................. 63 23. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO ..................................................................................................... 70 24. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR ............................................................................................... 74 25. FALSIDADE IDEOLÓGICA ............................................................................................................................... 77 26. FALSO RECONHECIMENTO DE FIRMAS OU LETRAS ........................................................................................ 81 27. CERTIDÃO OU ATESTADO IDEOLOGICAMENTE FALSO ................................................................................... 82 28. FALSIDADE DE ATESTADO MÉDICO .............................................................................................................. 83 29. USO DE DOCUMENTO FALSO – FORÇADO ...................................................................................................... 84 30. SUPRESSÃO DE DOCUMENTO ........................................................................................................................ 85 DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 3 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres 31. FALSA IDENTIDADE ...................................................................................................................................... 87 32. ADULTERAÇÃO DE SINAL DE IDENTIFICADOR DE VEICULO AUTOMOTOR ...................................................... 88 33. ART 311-A CÓDIGO PENAL – FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PUBLICO ............................................ 89 UNIDADE VII – CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ...................................................... 97 CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONARIOS CONTRA A ADMINISTRAÇAO .................................. 97 34. CONCEITO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO .......................................................................................................... 97 35. PECULATO .................................................................................................................................................... 99 36. CONCUSSÃO ............................................................................................................................................... 106 37. EXCESSO DE EXAÇÃO ............................................................................................................................... 109 38. CORRUPÇÃO PASSIVA ................................................................................................................................. 112 39. FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO ................................................................................... 115 40. PREVARICAÇÃO .......................................................................................................................................... 117 41. CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA ................................................................................................................. 120 42. ADVOCACIA ADMINISTRATIVA ................................................................................................................... 122 DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULARES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ..... 123 43. RESISTÊNCIA .............................................................................................................................................. 123 44.DESOBEDIÊNCIA ......................................................................................................................................... 125 45. DESACATO ................................................................................................................................................. 127 46. TRÁFICO DE INFLUÊNCIA ............................................................................................................................ 129 47. CORRUPÇÃO ATIVA .................................................................................................................................... 132 48. CONTRABANDO OU DESCAMINHO ............................................................................................................... 134 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA .................................................................. 134 49. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA ........................................................................................................................ 134 50. COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU DE CONTRAVENÇÃO ......................................................................... 136 51. AUTO- ACUSAÇÃO FALSA ........................................................................................................................... 138 52. FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA .................................................................................................... 139 53. COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO ............................................................................................................ 143 54. EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZOES ......................................................................................... 145 55. FAVORECIMENTO PESSOAL ......................................................................................................................... 147 56. FAVORECIMENTO REAL .............................................................................................................................. 148 57. EXERCÍCIO ARBITRÁRIO OU ABUSO DE PODER .......................................................................................... 150 58. FUGA DE PESSOA PRESA OU SUBMETIDA A MEDIDA DE SEGURANÇA ...................................................... 152 59. EVASÃO MEDIANTE VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA .................................................................................... 154 60. ARREBATAMENTO DE PRESO ...................................................................................................................... 156 61. MOTIM DE PRESOS ..................................................................................................................................... 157 62. PATROCÍNIO INFIEL .................................................................................................................................... 158 63. PATROCÍNIO SIMULTÂNEO OU TERGIVERSAÇÃO ....................................................................................... 160 64. SONEGAÇÃO DE PAPEL OU OBJETO DE VALOR ........................................................................................... 161 65. EXPLORAÇÃO DE PRESTÍGIO ....................................................................................................................... 162 DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 4 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres UNIDADE I- DO LENOCINIO E DO TRAFICO DE PESSOAS Lenocínio é uma prática criminosa que consiste em explorar, estimular ou facilitar a prostituição sob qualquer forma ou aspecto, havendo ou não mediação direta ou intuito de lucro. O lenocínio compreende toda ação que visa a facilitar ou promover a prática de atos de libidinagem ou a prostituição de outras pessoas, ou dela tirar proveito, que é um grave problema social. O crime de lenocínio não pune a própria prática da prostituição, mas sim toda conduta que incentiva, favorece e facilita tal prática, com intenção lucrativa ou profissionalmente (conhecido juridicamente como lenocínio questuário). Quando há mediação no lenocínio, esta é chamada de cafetinagem, ou seja, é feita por um sujeito apelidado de “cafetão”, que é um agente para as prostitutas, responsável por recolher parte dos seus lucros em troca de serviços de publicidade, proteção física, ou para fornecer um local onde elas possam “atender” seus clientes. A relação cafetão x prostituta pode ser abusiva, sendo baseada em técnicas de intimidação psicológica, manipulação, força física e agressão sexual para controlar as prostitutas (ou garotos de programa). Este crime está tipificado no artigo 227 ao 230 do Código Penal Brasileiro. 1. Mediação para servir a lascívia de outrem Art. 227 CP: "Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem: Pena Reclusão, de um a três anos." A mediação é o ato que pode vir a fomentar o desejo de alguém se prostituir. No art. 218 o núcleo é induzir. A vítima é um menor de 14 anos, enquanto “outrem” é pessoa incerta e indeterminada. Então, nos dois artigos referidos, não há o requisito prostituição, em que pese ser uma figura de lenocínio. Bem jurídico: A moralidade na vida sexual e, na forma qualificada, também a liberdade sexual e a liberdade sexual Sujeito Ativo: Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem (o prazer sexual de alguém); DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 5 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres Sujeito Passivo: Qualquer pessoa que colabore com a ação do agente; Tipo Objetivo: Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem (o prazer sexual de alguém); Tipo Subjetivo: O dolo, com o fim de satisfazer a luxúria ou o prazer sexual de terceiro; Inexistindo modalidade culposa. “Para satisfazer a lascívia de outrem” = com fins de satisfazer = dolo específico. O dolo aqui é necessário. A lascívia não precisa ser satisfeita, mas o intuito de satisfazê-la é suficiente. Quem pratica o crime não tem nenhum encontro sexual com a vítima. O encontro que o autor tem com a vítima é para induzir, não para se favorecer. Consumação: Quando houver a satisfação da lascívia. Tentativa: A tentativa é admissível. Sem induzimento, não há crime. Por que não? Pois aí estaremos dentro da esfera da liberdade sexual da pessoa. Isso na mediação. O induzimento é o núcleo; sem induzimento, caímos no puro exercício da liberdade sexual. Figuras Qualificadas: a) Se a vítima for menor de 18 anos e maior de 14 anos; O legislador incluiu aqui no art. 218 uma figura equiparada ao lenocínio, pois se assemelha ao art. 227. Art. 218 CP “Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem”. b) Se o agente for ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa que cuide da educação, tratamento ou guarda da vítima; c) Se o crime for cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude; d) Se o crime for cometido com intuito de lucro, aplica-se também a pena de multa. Concurso De Pessoas: Na hipótese de participação apenas secundária ou acessória em outro delito queima de 48 horas de dignidade sexual. No caso do induzimento de pessoa maior de 14 anos, deve-se provar que houve o induzimento. No art. 227, dever-se-á comprovar a vontade da vítima de satisfazer a lascívia de outrem. Mas essa vontade é derivada do induzimento. E os outros vulneráveis? Quem são? Os que não podem oferecer resistência ou que tenham debilidade mental a ponto de não compreenderem o que praticam. Note que não existe essa figura aqui. DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP6 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres Mas, em relação à idade, veja o que ocorre no art. 227: Art. 227 CP § 1º: “§ 1o Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, ou se o agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda: Pena - reclusão, de dois a cinco anos." E, em relação aos outros vulneráveis, só haverá a previsão para a ocorrência de violência real ou fraude. Não haverá agravação da pena, pois o alienado mental, por exemplo, na melhor das hipóteses só poderá ser enquadrado no caput. Art. 218-A. CP “Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem: “Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.” Este era o antigo crime de corrupção de menores. Era o antigo art. 218, bem como trazia a Lei 2252/54. Induzi-lo a presenciar ato de libidinagem. O que é? Qualquer ato sexual. Pode ser conjunção carnal, ou qualquer outro ato libidinoso. É uma figura parecida com a antiga corrupção de menores. O que mudou? É que além do presenciar/induzir a presenciar, hoje o crime não mais se chama corrupção de menores, e não temos mais o art. 218, que foi revogado pela Lei 12015. A Lei 2252 previa outra figura de corrupção de menores, que era para a prática de atos infracionais, ou seja, para infrações penais, norma que também foi revogada. Essas duas figuras foram parar no Estatuto da Criança e do Adolescente. Aqui no Código Penal o crime se chama de satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente. Mas o sujeito passivo é quem mesmo? Quem é a vítima? Não é criança ou adolescente como o ECA. É menor de 14. Então cuidado com isso. São todas as crianças, mas não todos os adolescentes; são somente os que tenham 12 ou 13 anos. Muito cuidado. Grifem ato de libidinagem em suas anotações. Não é conjunção carnal ou somente outros atos libidinosos. Não exige contato físico, pois a norma fala em presenciar. Ato de libidinagem não inclui filmes, mas presenciar o ato sexual. Até aqui temos crimes sexuais contra vulneráveis, e precisavam de contato físico (até o art. 218). O art. 218-A dispensa o contato físico com a vítima. 2. Favorecimento da prostituição Art. 228 CP: "Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. [...]" DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 7 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres Prostituição é o comércio habitual do próprio corpo, exercido por qualquer pessoa (homem ou mulher), em que estes se prestam à satisfação sexual de indeterminado número de pessoas, em troca de pagamento não somente monetário, mas também por meio de bens e serviços. A reiteração do comércio sexual é imprescindível, pois, trata-se de atividade necessariamente habitual. Pressupõe o contato físico entre as pessoas envolvidas na atividade sexual (conjunção carnal, sexo oral, sexo anal, masturbação etc.). A prostituição em si mesma, embora seja um ato considerado imoral, não é crime, somente a exploração do lenocínio por terceiros constitui ilícito penal. Objetivo Jurídico: a dignidade e a liberdade sexual Objeto Material: o menor de dezoito anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para optar pela prostituição. Sujeito Ativo: Qualquer pessoa, homem ou mulher Sujeito Passivo: Qualquer pessoa não menor de 18 anos, homem ou mulher, capaz de entender o ato que pratica, no momento da ação praticada. Tipo Objetivo: Induzir, atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone. O favorecimento pode ocorrer por ação ou omissão. Esta última, no caso de o agente, que possua o dever jurídico de impedir que a vítima ingresse na prostituição, nada fazer e aderir à sua conduta; Tipo Subjetivo: O dolo, ou seja, a vontade livre e consciente de induzir, atrair, facilitar, impedir ou dificultar, com o fim de satisfazer a luxúria ou o prazer sexual de terceiro; Consumação: Nas modalidades induzir, atrair e facilitar, o delito se consuma no momento em que a vítima passa a se dedicar à prostituição ou outra forma de exploração sexual, colocando-se, de forma constante, à disposição dos clientes, ainda que não tenha atendido nenhum. A consumação se prolonga no tempo, enquanto a vítima estiver impedida ou sofrendo embaraços para abandonar a prostituição. Já na modalidade de impedir ou dificultar o abandono da exploração sexual, o crime se consuma no momento em que a vítima delibera por deixar a atividade e o agente obsta esse intento, protraindo a consumação durante todo o período. DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 8 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres Tentativa: Há quem considere que a tentativa é admissível e quem não sustente que não cabe tentativa nas formas induzir e atrair, pois o crime depende da efetiva ocorrência da prostituição. A tentativa é possível por se tratar de crime plurissubsistente (costuma se realizar por meio de vários atos), permitindo o fracionamento do iter criminis. Elementar Do Tipo: Crime doloso (não há previsão de modalidade culposa), transeunte (praticado de forma que não deixa vestígios, não havendo necessidade, em regra, de prova pericial. Figuras Qualificadas: a) Se o agente for ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge ou companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) Se o crime for cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude; c) Se o crime for cometido com intuito de lucro. Quem se favorece da prostituição, induz, atrai, facilita ou dificulta o abandono. Com ou sem fim lucrativo. Se houver o intuito de lucro, haverá rufianismo também. Exemplo: aquele que trabalha numa agência captando meninas para uma escola de modelos que não existe. Na verdade, é uma casa de prostituição. Ganha para isso, mas não sabe o destino físico, apesar de saber o que acontecerá. Art. 218-B CP: “(Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável) Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá- la, impedir ou dificultar que a abandone: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.” Compare os dois artigos agora. Vejam que aqui temos uma espécie maior de vulneráveis, de sujeitos passivos. No art. 228 não se trata apenas dos vulneráveis. No 218-B trata-se por vulnerável aquele que tem menos de 18 anos. Sempre fique atento na redação dos tipos penais para não se enrolar. Cuidado hein! Até então os vulneráveis eram os menores de 14, deficientes mentais, os que não tinham discernimento e não poderiam oferecer resistência. Agora é tudo isso, com a exceção de que não é mais o menor de 14 anos, mas sim o menor de 18 anos. Regra geral: art. 228. Regra especial: art. 218-B. DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 9 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. Se efetivamentese favorece da prostituição alheia e se sustenta disso, há concurso material com rufianismo. Como comprovar que o sujeito se sustenta de rufianismo? Vendo como ele paga as contas, se ele trabalha, onde ele passa o tempo. Se o marido deixa a mulher se prostituir e não objeta, ele pode ou não ser rufião. Se o que entra em casa é para o sustento dele, ele é rufião. Se houver concurso de pessoas, aplica-se também o art. 69, o que será levado em conta na dosimetria. 3. Casa de prostituição § 2º do art. 218-B: “Incorre nas mesmas penas: I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo; II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo.” Objeto Jurídico: A moralidade pública sexual Sujeito Ativo: Qualquer pessoa, lembrando, porem que não pratica o crime a prostituta que mantém lugar para explorar, ela própria e sozinha, seu comércio carnal. Sujeito Passivo: A pessoa explorada sexualmente e, mais remotamente, a coletividade. Tipo Objetivo: O verbo manter (sustentar, prover, conservar). Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja ou não intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente. É indiferente que o proprietário do local ali compareça, já que o tipo não pune a conduta daquele que participa da exploração sexual, no local a ela destinada ou em qualquer outro. Tipo Sujeito: O dolo consistente na vontade consciente de manter estabelecimento em que ocorre exploração sexual. Consumação: Consuma-se o crime com a manutenção do estabelecimento, pois se trata de crime habitual. Por essa razão, não admite tentativa; DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 10 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres Isso é uma grande Novidade. Por quê? Quem é que vai ser punido aqui? A prostituição não está sendo favorecida, mas o ato sexual com menor de 18 anos está sendo praticado. Veja que aqui temos dois detalhes importantes: a pessoa não favorece a prostituição porque tem que ser um ato habitual. Aqui, o legislador quis incluir a conduta do cliente. Não havia crime antes, só estupro, na pior das hipóteses. Quem contrata o serviço de prostituição, pagando ou não, responde pelo crime na forma equiparada do § 2º. Quem pratica ato sexual também pratica o crime de favorecimento, como figura equiparada. Até hoje não tínhamos, no Direito Brasileiro, a figura do cliente da prostituição. Havia somente a possibilidade de ele responder por estupro ou atentado violento ao pudor, desde que comprovadas as elementares Aqui, o vulnerável foi colocado não como o menor de 14 anos, mas o que tem entre 14 e 18. O Código Penal, como falamos antes, tinha essas duas categorias: o menor de 14, que, caso praticasse ato sexual com alguém, o legislador presumia a ocorrência de violência contra ele (a), e o "menor", que é o maior de 14 e menor de 18, que também é vulnerável, mas que tinha algum discernimento. Cuidado, então. *Menor é o maior de 14 e menor de 18. Nos crimes envolvendo prostituição, tem que haver dolo do cliente. Mas as presunções do legislador permitem também entender que houve dolo eventual. Professora entende que o legislador acabou com essa discussão, pois agora a presunção é absoluta. Será matéria de defesa, pois a princípio o crime está tipificado. Quanto às outras formas de vulnerabilidade, não se precisa ter uma demência tão profunda e imperceptível. Tem que ser algo que o homem médio observaria. Art. 218-B, § 2º, inciso II CP: “Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone: § 2o Incorre nas mesmas penas: II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo. [...]” O inciso I é a figura do cliente. Temos que ter uma cautela quanto a quem é considerado “menor”, que é o menor de 18 e maior de 14 anos. Os responsáveis pelo estabelecimento também responderão. Neste momento, importará a boa-fé: se tenho um apartamento, não moro na cidade e alugo para uma pessoa, e depois de meses descubro que o imóvel está sendo usado como casa de prostituição e promoção de encontros de natureza sexual, não responderei (talvez eu tenha uma dor de cabeça na delegacia, ao explicar a situação). Importa saber quem gerencia DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 11 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres a casa. E se ele mantém a casa e não estamos falando de uma pessoa que tenha menos de 18 anos? Qual o crime? Casa de prostituição. Vale para quem tem a posse do espaço físico. Se houver vulneráveis, art. 218, se não tiver, art. 229. 4. Rufianismo Art. 230 CP - Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1o Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos ou se o crime é cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) § 2o Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da pena correspondente à violência. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) Rufianismo: é Crime contra os costumes, consistente em tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça, consiste num modelo de lenocínio em que determinada pessoa vive de modo “parasita” as custas dos lucros obtidos pela prostituição de outrem (prostitutas ou garotos de programas). A expressão “tirar proveito” diz respeito à vantagem econômica, e não sexual, acontecendo quando o agente participa diretamente dos lucros do sujeito passivo ou se fazendo sustentar por quem a exerce, famosamente conhecido pelo termo “gigolô”, “cafetões” ou “cafetinas” (quando são mulheres). Bem Jurídico Tutelado: é a moralidade pública, ou seja, os bons costumes. Sujeito Ativo: pode ser qualquer pessoa, logo, trata-se de crime comum. Sujeito Passivo: A pessoa que exerce a prostituição e, secundariamente, a coletividade. O crime pode ser praticado na forma de omissão imprópria, quando a agente é garantidor do sujeito passivo. DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 12 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres A ação penal nesta espécie de delito será sempre de natureza pública incondicionada. Consumação: A consumação ocorrerá com a prática reiterada de atos tendentes à obtenção de proveito ou de sustento por parte do rufião. Tentativa: Por se tratar de crime habitual, não se admite tentativa: Divergências ocorrem quando se trata da possibilidade de tentativa deste crime, prevalecendo, a não possibilidadede tentativa em crimes habituais. Tipo Objetivo: Tirar proveito e fazer-se sustentar, no todo ou em parte, pela prostituição alheia. Na primeira hipótese (rufianismo ativo), o rufião obtém vantagem diretamente dos lucros obtidos pela prostituta, embora deles não necessite para seu sustento. Já na segunda modalidade (rufianismo passivo), o agente participa indiretamente do proveito da prostituição, vivendo às custas da meretriz, recebendo dinheiro, alimentação, vestuário, moradia e outros benefícios de que necessita para a sua manutenção; Tipo Subjetivo: O dolo consistente na vontade de tirar proveito da prostituição alheia ou de fazer-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça. Não se exige qualquer finalidade especial por parte do sujeito ativo; Este crime está previsto no artigo 230 do Código Penal Brasileiro, sendo a pena de um a quatro anos de reclusão, mais o pagamento de multa, a ação penal nesta espécie de delito será sempre de natureza pública incondicionada. Forma qualificada: há a forma qualificada para o crime de rufianismo, prestando bastante atenção que, no caso da vítima ser menor de 18 anos e maior de 14, haverá a qualificação do delito. Obs.: E se a vítima for menor de 14 anos? Estaremos diante do crime de Estupro de Vulnerável, podendo o agente (rufião) figurar como partícipe do delito. Art.230 CP §1° Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos ou se o crime é cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009). § 2º, Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009). DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 13 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres O rufião vem a utilizar de violência ou grave ameaça, a fim de ter participação dos lucros da prostituta. É o caso mais comum na prática, quando o autor impõe “medo” à vítima a fim de receber parte da quantia adquirida, e também oferece em troca proteção à prostituta. Temos, nos § 3º tanto do art. 227 quanto do 228, a previsão de pena de multa para os crimes de lenocínio e outras formas de exploração sexual. Com exceção do crime de rufianismo, que não existe contra vulnerável, todas as outras figuras podem ter um acréscimo de multa em razão do fim econômico querido pelo agente. Temos que lembrar que prostituição para os efeitos penais não tem fim lucrativo. Para quem explora, pode ou não haver intuito de lucro. Quem se sustenta da prostituição alheia também pratica o crime de rufianismo. Daí temos a possibilidade de crime de rufianismo. 5. Tráfico internacional de pessoas Art. 231 CP. Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no estrangeiro. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência) Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência) § 1o Incorre na mesma pena aquele que agenciar aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência) § 2o A pena é aumentada da metade se: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência) I - a vítima é menor de 18 (dezoito) anos (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência) II - a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato; (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência) III - se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência) IV - há emprego de violência, grave ameaça ou fraude. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência) § 3o Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência) DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 14 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres O tráfico de pessoas é uma prática criminosa mundial e sem fronteiras. É uma espécie de máfia altamente rentável, movimentando bilhões de dólares por ano em todo o mundo, chegando a atingir milhões de pessoas, forçadas a trabalhos escravos e sexuais. Bem Jurídico Tutelado: é a liberdade (dignidade) sexual, sendo punido o tráfico para exploração sexual de criança, adolescente, adulto e idoso. Sujeito Ativo: pode figurar qualquer pessoa, tratando-se de crime comum. Sujeito Passivo: pode ser qualquer pessoa (corrente majoritária). A pessoa que exerce a prostituição ou que é sexualmente explorada (corrente minoritária) que entendia que apenas a prostituta poderia figurar no pólo passivo, porém não é a que prevalece e, secundariamente, a coletividade. Tipo Objetivo: Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no estrangeiro. O § 1º estabelece que incorram nas mesmas penas aquele que agenciar (servir de agente ou intermediário), aliciar (atrair) o u comprar a pessoa traficada, assim como, tendo o conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. A pena será aumentada de metade se houver emprego de violência, grave ameaça ou fraude (§2º, IV); Tipo Subjetivo: O dolo, com a finalidade especial por parte do sujeito ativo de promover a prostituição da pessoa que fez ingressar ou sair do país. Nas formas equiparadas, transportar, transferir e alojar a vítima traficada deve o agente ter conhecimento de sua condição. Se o crime for cometido também com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também a multa (§3º); Qual é a teoria da ubiqüidade? Aplica-se a lei brasileira independente de onde ele estiver, desde que dentro do território brasileiro. Aqui dentro só será discutida a competência para julgar o crime. Temos alguns preceitos de Direito Processual Penal, como a prevenção do juízo, que deverão ser levados em conta. O complicador só existe quando há extraterritorialidade. Quem efetivamente investigará é a Polícia Federal e pedirá auxilio à Interpol. DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 15 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres Aquele que aloja: suponhamos que uma pessoa que praticou tráfico de pessoas liga para um amigo dizendo que não conseguiu cama para as amigas, na verdade, prostitutas. Não há o condicionamento a lucro ou a resultado. O terceiro de boa-fé não responderá. Não existe o crime de tráfico de pessoas a título de culpa. O dolo eventual pode ficar evidente em alguns casos. Diga que o crime ocorreu entre Brasil e Itália. Mas imagine que ele passe pelo espaço aéreo deMarrocos. Pode o espaço aéreo marroquino ser considerado lugar do crime? Não, pois não é ali o destino do crime, e não foi onde começou, e também por causa do direito de passagem inocente. Considera-se espaço do crime o local onde se produziu a ação ou resultado. Todavia nada disso importa para a caracterização do crime: saiu do território brasileiro? Já consumou. Saiu do território de um Estado estrangeiro? Consumou. A passagem inocente é um tratado em que uma aeronave, que esteja em espaço aéreo de um outro Estado, se ali não era a intenção de se realizar o resultado do crime, este não será punível à luz do ordenamento daquele lugar. Diferente é o caso do tráfico de drogas: se a aeronave sobrevoar o espaço a brasileiro, não se identificar e houver indícios de que o avião está traficando, o abate é autorizado. Consumação: ocorrerá com a entrada ou saída da pessoa do território nacional, dispensando-se que pratique algum ato fruto de exploração sexual. Quando falamos da consumação deste delito, existindo a corrente que defende a consumação quando da entrada ou saída da vítima do território nacional, dispensando que esta venha a ser explorada sexualmente. (majoritária). Há uma segunda corrente entendendo que o delito apenas se consuma quando a vítima vem a praticar algum ato típico da prostituição, caso contrário ocorreria apenas a sua tentativa. Tentativa: é admissível em qualquer das formas previstas; A ação penal é pública incondicionada e sua competência para julgar é da Justiça Federal, conforme o Art. 109, V, da Constituição Federal. A Declaração Universal dos Direitos Humanos teve como suas principais preocupações à positivação internacional dos direitos mínimos dos seres humanos, complementando assim os propósitos das Nações Unidas de proteção aos direitos humanos, é tida como um dos principais instrumentos normativos de enfrentamento ao tráfico de pessoas, juntamente com outros tratados, convenções e pactos. DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 16 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres No que tange ao tráfico de pessoas, a Declaração em seu art. 4º, faz menção que: Art. 4º “Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas”. Hoje em dia o crime existe em quase todos os países e por força da Convenção de Palermo e seus protocolos adicionais são, antes de tudo, vários tratados que visam o combate ao crime organizado transacional. Existe uma grande necessidade de que se conjugue o referido instrumento aos vários tratados de direitos humanos, isso porque a Convenção surgiu vinculada a um tratado que trata da repressão ao crime organizado internacional. O Protocolo de Palermo, em seu art. 3º, define tráfico de pessoas como sendo: Art. 3º [...] o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos. A referida alteração no dispositivo legal veio com o intuito de atender a nova idéia que surgia, de que não somente mulheres podem ser acometidas como vítimas desse crime. O dispositivo anterior tratava como vítima somente mulheres, pois não se imaginava que homens poderiam exercer a prostituição. Entretanto, com a evolução do crime, também se tornou necessário proteger o sexo masculino como sendo vítimas desse crime, pois a falta de proteção viria a ofender os princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade. Os traficantes, agentes do crime de tráfico, cometem crimes graves ao traficar, especialmente no local de trabalho ou no local onde a vítima é mantida sob trabalhos forçados, servidão ou tratamento de modo escravo. Dentre os crimes cometidos, cita-se: agressão, espancamento, estupro, tortura, abdução, venda de seres humanos, cárcere privado, homicídio, negligência dos direitos trabalhistas, fraude, entre outros. 6. Tráfico interno de pessoas Art. 231-A CP. Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. § 1o. Incorre na mesma pena aquele que agenciar aliciar, vender ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 17 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres § 2o. A pena é aumentada da metade se: I - a vítima é menor de 18 (dezoito) anos; II - a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato; III - se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou IV - há emprego de violência, grave ameaça ou fraude. § 3o. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. Bem Jurídico: Moralidade sexual e a liberdade sexual Sujeito Ativo: Qualquer pessoa seja como promotor do tráfico de pessoas seja como consumidor; Sujeito Passivo: A pessoa que exerce a prostituição ou que é sexualmente explorada e, secundariamente, a coletividade; Tipo Objetivo: Promover e facilitar o deslocamento de pessoa dentro do território para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual. Incorrem nas mesmas penas aquele que agenciar aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo o conhecimento dessa condição, transportá- la, transferi- la ou alojá-la. As condutas incriminadoras não dizem respeito à pessoa que vai exercer a prostituição, mas a alguém que, dolosamente, promove intermedia ou facilita seu recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou acolhimento. São três as condutas incriminadoras: Promover, intermediar ou facilitar, no território nacional, o recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou o acolhimento de pessoa que venha exercer a prostituição. Promover é dirigir a realização. É organizar a execução. Intermediar é colocar-se na posição intermediária entre outro agente e a pessoa. Identifica-se com a negociação dos interesses do promotor e os da pessoa que irá exercer a prostituição. Nessa modalidade, indispensável a co-autoria, pois outro agente necessariamente estará promovendo. Ou seja, para haver intermediação é indispensável que haja um promotor. Facilitar é, de qualquer modo, auxiliar, contribuir para que fique mais fácil a realização do tipo. É vencer dificuldades, romper obstáculos, eliminar empecilhos. DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 18 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres A pena será aumentada à metade, se houver emprego de violência, grave ameaça ou fraude; Tipo Subjetivo: O dolo, com o especial fim de promover a prostituição da pessoa em território nacional. Nas formas equiparadas, deve o agente ter conhecimentode sua condição; É crime doloso. O agente deve estar consciente da contribuição que dá para o recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou acolhimento da pessoa, mas, principalmente, deve saber que ela irá exercer a prostituição. Se não sabe que a intenção da pessoa é o exercício da prostituição, o fato é atípico, por erro de tipo, excludente do dolo. Figura Equiparada : está no § 1º “Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar, vender ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la.” Consumação : Há crime consumado no momento em que é realizado o primeiro ato de recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou acolhimento da pessoa. Será permanente enquanto durar o transporte da pessoa, bem assim a sua presença no alojamento ou no lugar onde tiver sido acolhida. Tentativa : Possível a tentativa quando, realizada a conduta, a pessoa não é transportada, transferida, alojada ou acolhida, por circunstâncias alheias à vontade do agente, inclusive quando ela, por sua própria vontade, resolve permanecer onde se encontra. Formas Qualificadas : O parágrafo único do art. 231-A determina seja aplicado, ao tráfico interno de pessoas, o disposto nos §§ 1° e 2° do art. 231. Assim, aplica-se a norma do § 1° do art. 227 que, com a redação da Lei n° 11.106/2005, diz: “Se a vítima é maior de 14 (catorze) anos e menor de 18 (dezoito) anos, ou se o agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda: Pena – reclusão, de 2(dois) a 5 (cinco) anos.” Qualifica o crime a menor idade da vítima ou uma das relações entre ela e o agente, referidas no preceito. Alcança os professores, educadores, diretores de estabelecimentos de ensino, de saúde, internatos, externatos, casas de internação de menores, enfim, pessoas que estejam exercendo um poder de autoridade, decorrente das relações de tratamento e guarda. DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 19 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres Estando o agente nas condições referidas na norma, merecerá maior reprovação pela violação decorrente do dever, legal ou jurídico, de proteger a vítima. A segunda forma qualificada cuida dos meios empregados pelo agente para realizar a conduta típica. Se usar violência, grave ameaça ou fraude, a pena será de reclusão de quatro a dez anos. Por violência física devem-se entender as lesões corporais, leves, graves ou gravíssimas e também as v ias d e fato. Grave ameaça é a promessa da causação de um mal importante. Causas de aumento: § 2º: “A pena é aumentada da metade se: I – a vítima é menor de 18 (dezoito) anos; II – a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato; III – se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou IV – há emprego de violência, grave ameaça ou fraude.” Fraude é o engodo, o engano, o meio que o agente emprega para manter a vítima em erro ou levá-la a apreciar mal a realidade. Além da pena mais severa, o agente responderá, em concurso material, pelo crime contra a pessoa decorrente do emprego da violência – lesão corporal ou morte , a não ser quando tais resultados tenham derivado de culpa, caso em que incidirá o art. 223, aplicável também ao delito do art. 231-A, por força do que dispõe o art. 232. Assim, se o agente, ao realizar a conduta típica com violência, causa-lhe lesões corporais graves ou morte, por negligência, imprudência o u imperícia, sua pena será reclusão de oito a doze ou de doze a vinte e cinco anos, respectivamente Conclui-se que tanto o crime de tráfico internacional de pessoa quanto o tráfico interno deve merecer atenção das autoridades públicas bem assim de toda a sociedade brasileira. A ação penal é de iniciativa pública incondicionada. DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 20 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres UNIDADE II – DO ULTRAJE PÚBLICO AO PÚDOR 7. Ato obsceno Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Ato obsceno: é o ato revestido de sexualidade e que fere o sentimento médio de pudor – ex.: exposição de órgãos sexuais, dos seios, das nádegas, prática de ato libidinoso em local público, micção voltada para a via pública com exposição do pênis, “trottoir” feito por travestis nus ou seminus nas ruas etc. Palavras e gestos obscenos: não caracteriza este crime, mas pode configurar “crime contra a honra” ou a contravenção penal de “importunação ofensiva ao pudor” Ato Obsceno é crime formal e de perigo. Por que crime formal? O legislador descreve a conduta, descreve o resultado, mas não exige sua produção. Bem Jurídico: O pudor público; Sujeito Ativo: Qualquer pessoa Sujeito Passivo: A coletividade; Tipo Objetivo: Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público. Ato obsceno constitui uma conduta positiva do agente, com conteúdo sexual, atentatória ao pudor público, suscitando repugnância. É necessário que o ato seja visualizado para que eu possa falar em Ato Obsceno? Não! Basta a probabilidade de afetar Lógico: dogmaticamente, claro. Na prática, se ninguém ver, nada acontece (exemplo da Praça XV). Mas para se falar dogmaticamente no crime é necessário que alguém veja? Não, basta a probabilidade de ver. Local ermo: posso falar na probabilidade de visão? Para a jurisprudência não. Ou seja, tem que ser num local público que dê margem à visualização. Basta ser provável que alguém passando ali pudesse ver. Tipo Subjetivo: O dolo; teria que ser o de ferir o pudor médio. DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 21 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres Ex. Sujeito assaltado, andando nu, está com dolo de ferir o pudor coletivo? Evidente que não. Consumação : Consuma-se com a prática do ato obsceno, bastando a possibilidade de ser contemplado. Tentativa : É admissível a tentativa, embora de difícil ocorrência Com a prática do ato que fere a moralidade média. Precisa ter visualização? Não! Só precisa ter probabilidade de visualização. Ex: Sujeito é surpreendido quando ia tirar a jeba pra fora. O que seria mentalmente necessário pra dizermos que o sujeito queria pôr pra fora? Poderia estar dando uma coçadinha no saco. Sujeito abrindo a calça pode estar simplesmente arrumando a cinta; arejando; fazendo o sol bater pra matar um pouco de pereba. Tem que ter o potencial de ofender a moralidade média. Não precisa ser visualizado. Do ponto de vista dogmático seria possível (mas improvável na prática) quando o sujeito fosse impedido de realizar o ato. Quando seria possível então? Só quando ele falasse. “Vou mostrar meu pirulito pra vocês” e começa a descer a calça e alguém o impede. Na prática ninguém iria à polícia, pois foi evitado. O fato do cara andar nu na rua obrigatoriamente caracteriza Ato Obsceno?!Urinar na via pública é sempre Ato Obsceno também? Vai depender da circunstância. Urinar é satisfazer a necessidade fisiológica, mas existem formas: pode urinar escondido ou exibindo o órgão sexual. Se fosse filmado, com as imagens mostrando que você tentava ocultar, Erro de Tipo. Agora, tem gente que faz pra câmera. Vê a câmera do prédio, fica urinando, exibindo e dando tchau. Há dúvida de que ele quer afetar a moralidade pública? Nenhuma. Então a micção em público nem sempre é considerada ato de chocar a moralidade pública. Também a mesma coisa de andar nu, vide o exemplo do sujeito que bateu a cabeça no acidente de trânsito, rasgou a roupa e saiu correndo nu, mentalmente perturbado em virtude do acidente. Ou, por exemplo, durante o assalto. Uma pessoa andando na baixada por volta das 3h, o traveco vem com a faca nas costas e manda “Tira a roupa”. Ele sai correndo com suas coisas e logo chega a polícia. Posso falar em Ato Obsceno? Não. Qual a justificativa jurídica para o Ato? Motivo de Força Maior. O que esse motivo de Força Maior exclui?! Força Maior exclui DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 22 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres conduta? Onde eu enquadraria? Estou diante de uma excludente de ilicitude: Estado de Necessidade. Mesmo que não fosse excluída a ilicitude do fato poderia falar em excludente de culpabilidade? Não era exigível conduta diversa nessa circunstância. A pessoa não quis chocar. 8. Escrito obsceno Escrito ou objeto obsceno Art. 234 - Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem: I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos objetos referidos neste artigo; II - realiza, em lugar público ou acessível ao público, representação teatral, ou exibição cinematográfica de caráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter; III - realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo rádio, audição ou recitação de caráter obsceno. Bem Jurídico: A proteção do pudor público; Sujeito Ativo: Qualquer pessoa; Sujeito Passivo: A coletividade; Crime De Perigo Abstrato: o legislador presume o perigo; Crime Comum: pode ser praticado por qualquer pessoa; Crime De Ação Múltipla: o legislador descreve vários tipos de conduta. Se o sujeito realiza mais de uma entre as condutas alternativamente incriminadas, responde por crime único. Tipo Objetivo: Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno. Objeto Material: DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 23 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres a) Desenho obsceno; b) Escrito obsceno; c) Pintura obscena; d) Estampa obscena; e) Qualquer objeto obsceno Imprensa: Se cometido por meio de imprensa, o delito configurado não é o previsto no art. 234 do Código Penal, mas sim o do art. 17 da Lei de Imprensa. 5.250, de 9-2-1967). Dano Efetivo: É dispensável que o escrito, desenho etc. realmente ofendam o pudor público. Basta a possibilidade de dano. Da mesma maneira, responderá aquele que vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos objetos referidos acima. Ainda, quem realiza, em lugar público ou acessível ao público, representação teatral, ou exibição cinematográfica de caráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter. Por fim, é punível aquele realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo rádio, audição ou recitação de caráter obsceno; Tipo Subjetivo: além do dolo e o elemento subjetivo consistente na finalidade de comercializar, distribuir ou expor ao público o objeto material do delito. Já se entendeu suficiente o dolo eventual. Consumação: Ocorre com a realização de qualquer das condutas. Não é necessário, para a consumação , que alguém tenha acesso ao escrito ou objeto obsceno, nem que o pudor público seja efetivamente atingido. Basta a possibilidade de que tal aconteça. Tentativa: É admissível a tentativa; Tipo Objetivo : do crime de escrito ou objeto obsceno, ele prevê vários verbos núcleos da conduta incriminada: a) fazer (fabricar/produzir); b) importar (fazer entrar, introduzir, no país); c) exportar (fazer sair para fora do país); d) adquirir (obter a qualquer título); e) ter sob sua guarda (guardar, possuir). DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 24 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres É importante que o verbo núcleo venha acompanhado do objeto do crime: a) escrito obsceno (grafia registrada); b) desenho obsceno (representação gráfica de coisas ou pessoas); c) pintura obscena (representação gráfica colorida de coisas ou pessoas), d) estampa obscena (gravura impressa, por chapa); d) qualquer objeto obsceno (filmes, fotografias, estátuas, internet, DVDs, etc.). E para a conduta ser passível de culpabilidade é preciso que seja destinado ao: a) comércio, b) distribuição c) exposição pública; isto é, deve ter a finalidade especial, não caracterizando o crime quando destinado ao uso próprio. Aumento De Pena: Nos crimes previstos neste Título, a pena é aumentada de metade, se do crime resultar gravidez; e de um sexto até a metade, se o agente transmite à vitima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador. A transmissão de doença sexualmente transmissível também gera aumento de pena; Segredo De Justiça: Os processos envolvendo crimes sexuais devem correr em segredo de justiça, para resguardar a dignidade do agente e da vítima. DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 25 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres UNIDADE III – CRIMES CONTRA A FAMILIA 9. Bigamia Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento: Pena - reclusão, de dois a seis anos. § 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três anos. § 2º - Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que não a bigamia, considera-se inexistente o crime Bigamia: É o ato da pessoa que, sendo casada, contrai novo casamento Quem contrai casamento sendo casado comete crime de bigamia. Quem é casado e contrai união estável não comete o crime, apenas deslealdade. Além disso vimos a questão do erro. Ele não torna o casamento nulo de pleno direito, mas pode tornar anulável quando houver vício em relação à honra da pessoa, reputação, até mesmo quanto à saúde física e mental. O tipo penal fala em bigamia, mas deve-se interpretar extensivamente para abranger também a poligamia, que é a contração de 3 ou mais casamentos. Objetividade Jurídica: tutela a família, em seu aspecto monogâmico. Objeto Material: é o casamento entre homem e mulher. Núcleo Do Tipo : é o verbo contrair, no sentido de formalizar novas núpcias . Por se tratar de crime de forma vinculada, exige-se que o casamento anterior seja válido. Conduta Típica : é contrair casamento. Significa ser parte da celebração formal do Matrimônio, na condição de um dos contraentes, desde queo agente já seja casado, isto é, tenha, antes, contraído casamento com outra pessoa. Sujeito Ativo: homem ou mulher casado que casa-se novamente n a constância de casamento anterior, pois é um crime plurissubjetivo ou concurso necessário (exige a presença de duas ou mais pessoas). DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 26 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres Admite-se a participação nas modalidades induzimento, instigação e auxílio, ressaltando que o participe do caput do artigo, não pode ter pena superior ao do § 1 º, em razão dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Sujeito Passivo: o Estado, bem como mediatamente o cônjuge inocente. Consumação : O crime de bigamia consuma-se quando uma pessoa contrai novo matrimônio quando ainda está casada com outra pessoa. Divide-se em bigamia interna e internacional. O crime de bigamia interna ocorre quando a pessoa casada casa-se novamente no próprio país; Crime de bigamia internacional se concretiza quando a pessoa casa da contrai novo matrimônio em outro país que considere crime o fato. Na legislação brasileira somente se dissolve um casamento com a morte de um dos cônjuges ou com o divórcio, aplicando-se a presunção quanto ao ausente, conforme o artigo 1571, § 1º do CP. A União Estável, embora equiparada ao casamento para fins civis, se alguém é casado legalmente e mantém união estável simultaneamente, esse alguém não é considerado bígamo, pois a lei não inclui a união estável. O mesmo raciocínio serve para a separação judicial. Bigamia Privilegiada – art. 235, § 1º Neste dispositivo, o legislador rompeu com a teoria monista no que se refere ao concurso de pessoas, na medida em que a pessoa casada que contrai novo casamento responde pelo art. 235, caput, enquanto o contraente não casado, mas que está ciente do impedimento do outro, incide no § 1º, com pena mais branda. Segundo o art. 1.514 do Código Civil o casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal e o juiz declara-os casados. 10. Abandono material Art. 244 CP “Abandono material – Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 27 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo: Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País. Parágrafo único – Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada.” O que é o abandono, seja material, moral ou intelectual? De maneira simplista, podemos entendê-lo como “deixar de fazer algo”. Abandono Material : é aquele em que recursos, indispensáveis para alguém da família, deixam de ser providos. Esses recursos devem ou deveriam ser fornecidos por alguém. Não se esqueçam que os alimentos são devidos em relação ao parentesco que se forma. Objetividade Jurídica: tutela a assistência familiar, relativamente à necessidade material de seus membros (alimentos, habitação, vestuário, remédios, etc). Objeto Material: é a renda, a pensão ou outro auxílio. Núcleos Do Tipo: São três . a) deixar de prover no sentido de não fornecer os meios de sobrevivência apontadas – cônjuge, filho menor de 18 anos ou inapto para o trabalho e ascendente inválido ou maior de 60 anos. O Código Civil define o conceito de alimentos: Art. 1694 do CC “Podem os parentes, os cônjuges, ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender as necessidades de sua educação”. b) Faltar ao pagamento: significa não honrar a obrigação de pagar a pensão alimentícia fixada judicialmente. c) deixar de socorrer: significa negar proteção e assistência ao ascendente ou descendente gravemente enfermo. A lei só abrange o ascendente ou descendente, excluindo o cônjuge. Entretanto, neste caso, ele estará tutelado pela primeira figura do artigo. DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 28 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres Sujeito Ativo: só pode ser os cônjuges; os pais; os ascendentes (avós,bisavós), de parte de pai ou mãe; os descendentes maiores de 18 anos. Sujeito Passivo : são os cônjuges, o filho menor de 18 anos ou inapto para o trabalho, o ascendente invalido ou o ascendente maior de 60anos, se dependente de assistência material, bem como descendentes ou ascendente gravemente enfermo, pouco importando o grau de parentesco na linha reta. Tipo Subjetivo: é o dolo, não admitindo a forma culposa. Consumação: consuma-se no momento em que o agente, deixa de assegurar os recursos necessários, ou falta ao pagamento da pensão alimentícia, ou deixa de socorrer descendente ou ascendente gravemente enfermo. Não se exige o efetivo prejuízo da vítima, por ser um crime formal. Tentativa: não admite a forma tentada,pois se trata de crime unissubsistente, que impossibilita o fracionamento do iter criminis. Figuras Equiparadas : Art. 244 § Único CP : “É considerado abandono material quando o agente, sendo solvente ilude a vítima para não pagar a pensão alimentícia.” Art. 245 CP : “Entregar filho menor de 18 (dezoito) anos a pessoa em cuja companhia saiba ou deva saber que o menor fica moral ou materialmente em perigo: Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. § 1º - A pena é de 1 (um) a 4 (quatro) anos de reclusão, se o agente pratica delito para obter lucro, ou se o menor é enviado para o exterior. § 2º - Incorre, também, na pena do parágrafo anterior quem, embora excluído o perigo moral ou material, auxilia a efetivação de ato destinado ao envio de menor para o exterior, com o fito de obter lucro.” Aqui o filho menor de 18 anos fica em perigo moral ou material. O que é perigo moral? Deixar, por exemplo, viver em casa de prostituição ou com traficantes. Viver em casas de jogos mal afamadas também. Enfim, tudo que possa levar à corrupção da criança ou adolescente. E o abandono material? Muito cuidado agora. O artigo anterior tem nome jurídico “abandono material”, e a redação deste é “...saber que o menor fica moral ou materialmente em perigo: [...]” então temos aqui, também, um abandono material. A diferença é que, no art. 244, o abandono é no sentido de deixar de prover os recursos para a subsistência. Enquanto aqui, fala-se em perigo para a integridade da criança. DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 29 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres “Materialmente” quer dizer local ou condições, e “Moralmente” é com relação ao vínculo com pessoas quenão têm boa fama, presumidamente criminosas ou desonestas, que podem corromper o menor. Outro detalhe sobre o art. 245 é que a vítima deste crime, nas três hipóteses, é o filho menor de 18 anos. Frisamos isso porque veremos, na aula que vem, a previsão semelhante no Estatuto da Criança e do Adolescente. Lá há medidas parecidas, no tocante ao envio para o exterior ou abandono. Mas não se fala, lá, apenas em filho, mas em criança ou adolescente em geral. São perigos morais também, mas neste artigo eles estão definidos e enumerados. Temos, portanto, uma relação de especialidade deste artigo em relação ao 245. Abandono Moral Art. 247 CP: “Permitir alguém que menor de dezoito anos, sujeito a seu poder ou confiado à sua guarda ou vigilância: I – frequente casa de jogo ou mal-afamada, ou conviva com pessoa viciosa ou de má vida; II – frequente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou participe de representação de igual natureza; III – resida ou trabalhe em casa de prostituição; IV – mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública: Pena – detenção, de um a três meses, ou multa.” Objetividade Jurídica: tutela a assistência familiar, relativamente à educação e à formação moral do menor. Objeto Material: é a pessoa menor de 18 anos sujeita ao poder familiar, à guarda ou vigilância do responsável. Núcleos Do Tipo: é permitir, que pode ser por ação ou omissão (crime omissivo próprio), no sentido de consentir e deixar que o menor de 1 8 anos realize qualquer d as condutas dos incisos I a IV do artigo. 11. Abandono Intelectual Art. 246 CP : “Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar: Pena – detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.” DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 30 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres Objetividade Jurídica: tutela a assistência familiar, relativamente ao ensino obrigatório do filho menor em idade escolar. Nos termo do art. 208, § 1º, o Estado deve proporcionar a todos o ensino gratuito e aos pais o dever de assistir, criar e fiscalizar a educação dos filhos – 227 a 229 da CF. Objeto Material: é a instrução primária do filho menor em idade escolar. Núcleos do tipo: é a expressão deixar de prover no sentido de não efetuar a matrícula do filho em idade escolar em estabelecimento de instrução primária ou impedir que o filho freqüente o estabelecimento de ensino fundamental. Sujeito Ativo: os pais do filho em idade escolar. Como o Direito Penal não admite a analogia in malam partem para normas penais incriminadoras, os tutores ou outros responsáveis legais pela guarda do menor não podem figurar como sujeito ativo deste crime. Sujeito Passivo: é o filho menor em idade escolar, necessitado de instrução primária. Sobre o conceito de instrução primária e idade escolar, há duas correntes: a) Instrução primária é aquela que compreende o ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 anos de idade e ter á por objetivo a formação básica do cidadão. Logo, a idade escolar vai dos 6 aos 14 anos de idade; b) Instrução primária é a inerente às pessoas com idade entre 6 a 17 anos, como se extrai do art. 208 da CF. Portanto, a corrente mais consentânea é a segunda, por se tratar de norma constitucional. Elemento Subjetivo: é o dolo, não admitindo a forma culposa. Se, os pais esquecem-se de matricular o filho em idade escolar em estabelecimento de ensino, neste caso o fato é atípico. Consumação: consuma-se no momento em que os pais, agindo com dolo, deixam de efetuar a matrícula do filho em idade escolar até o dia do término do prazo de matrícula. Ou então, consuma-se o crime quando, por livre vontade dos pais, o filho é impedido de freqüentar o estabelecimento de ensino. DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 31 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres Sendo um crime formal, o prejuízo ao menor em idade escolar é presumido, em razão da falta de acesso à instrução primária. Tentativa: não admite, por ser um crime unissubsistente na medida em que não há possibilidade do fracionamento do iter criminis. No Brasil a legislação permite o homeschooling? Discute-se se os pais, pela questão da baixa qualidade do ensino ofertado pelo Estado, se podem eles oferecer o ensino domiciliar aos seus filho menores de idade. Sobre o assunto, Damásio de Jesus e outros autores firmam entendimento no sentido de que a Constituição Federal dispõe sobre a educação de forma abrangente, incluindo a educação escolar e a domiciliar. Por outro lado, a legislação infraconstitucional, ao regulamentar o tema, só abrange a educação escolar (pública e privada). Art.246 do CP - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. A outra corrente, liderada pelo STJ , firme entendimento no sentido de que a legislação brasileira não prevê o ensino domiciliar. Veja o trecho de uma decisão do STJ: STJ - “Inexiste previsão constitucional e legal, como reconhecido pelos impetrantes, que autorizem os pais a ministrarem aos filhos as disciplinas do ensino fundamental, no recesso do lar, sem controle do poder público mormente quanto à freqüência no estabelecimento de ensino e ao total de horas letivas indispensáveis à aprovação do aluno” Portanto, por enquanto, vem prevalecendo a posição STJ no sentido de que, enquanto não houver legislação regulamentando o assunto, o ensino domiciliar é impossível no Brasil. Os fundamentos são: Não há fiscalização do Poder Público quanto à freqüência do menor às aulas; O Estado não tem como avaliar o desempenho do aluno para constatar se a educação domiciliar está sendo suficiente e adequada. Portanto, nesta linha de pensamento, os pais que resolverem fornecer ensino fundamental no seu domicílio, estará violando o preceito do art. 246 do CP, pois a legislação determina que o ensino fundamental deve ser escolar (público ou privado). DIREITO PENAL IV - Prof. Paulo Jose Freire Teotônio - UNAERP 32 Resumo Direito Penal IV - Rejaine Tosta Torres UNIDADE IV – CRIMES CONTRA A SAÚDE PUBLICA 12. Epidemia Art. 267 - Causar epidemia mediante a propagação de germes patogênicos. Pena: Reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos. § 1º : se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro § 2º: No caso de culpa, a pena é de detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, ou, se resulta morte de 2(dois) a 4 (quatro) anos. Conceito: “Na conduta de epidemia, o agente se vale da propagação de germes patogênicos (microorganismos capazes de produzir moléstias infecciosas).” Epidemia é a doença infecciosa e passageira que ataca ao mesmo tempo e no mesmo lugar grande número de pessoas. Ex:caxumba, sarampo, rubéola. Sujeito Ativo: qualquer pessoa Sujeito Passivo: sociedade e vítimas que foram contaminadas ou expostas a perigo concreto. Objeto Jurídico: É a incolumidade pública, neste delito, especificamente, na saúde
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