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Apoios Oclusais e Nichos - 1 CAPÍTULO 1 – DELINEADOR INTRODUÇÃO À PRÓTESE PARCIAL REMOVÍVEL 1 - Conceito e terminologia A prótese parcial removível tem como objetivo reabilitar arcos parcialmente desdenta- dos, devolvendo as funções estética, fonética e mastigatória. Pode ser removida tanto pelo profissional como pelo paciente, sem causar danos as suas partes constituintes e aos teci- dos de suporte biológico (dentes pilares e re- bordo residual). Existem várias terminologias para esse tipo de prótese e algumas são inadequadas. O termo ponte está relacionado às próteses que apresentam dentes pilares nas extremidades do espaço protético como, por exemplo, uma prótese fixa. Esse termo estaria correto para as próteses removíveis do tipo dento-suportada, porém inadequado para aquelas de extremida- de livre. Prótese móvel é outra denominação, u- tilizada por alguns profissionais, que não traduz as condições clínicas reais, pois uma prótese corretamente confeccionada apresenta reten- ção e estabilidade, durante a sua utilização. Outro termo comumente encontrado é aparelho parcial removível, o qual estaria mais indicado para designar aparelhos ortodônticos, embora a sua utilização não seja incorreta. Dessa for- ma, a terminologia mais adequada é Prótese Parcial Removível porque define corretamente esse tipo de reabilitação. 2 - Partes constituintes Figura 1 - Partes constituintes A) Apoios Oclusais - são os componentes das próteses parciais removíveis que se situam sobre a superfície funcional dos dentes rema- nescentes, proporcionando suporte no sentido vertical. B) Grampos - podem ser de retenção ou de oposição. Os grampos de retenção são res- ponsáveis pela resistência ao deslocamento da prótese, no sentido cérvico-oclusal, durante a função mastigatória. Os grampos de oposição têm a função de anular as forças exercidas pelos grampos de retenção, estabilizando o dente pilar. C) Barra ou Conexão maior - é o componente responsável pela união das partes situadas em um hemiarco ao hemiarco oposto. D) Selas - localizam-se nos espaços protéticos e são constituídas por uma grade metálica, onde serão fixados a resina de base e os den- tes artificiais. E) Conectores menores - são os componen- tes de união das estruturas situadas sobre os dentes remanescentes à barra ou conexão maior. 3 - Transmissão de esforços A) Transmissão via dental: esse tipo de transmissão de esforços ocorre nas próteses Apoios Oclusais e Nichos - 2 removíveis dento-suportadas, ou seja, aquelas que apresentam dentes pilares nas extremida- des do espaço protético. B) Transmissão via dento-mucosa: es- se tipo de transmissão de esforços ocorre nas próteses removíveis de extremidade livre, ou seja, aquelas que apresentam dente pilar so- mente na extremidade mesial do espaço proté- tico. 4 - Indicações As próteses parciais removíveis estão indicadas para a reabilitação de espaços proté- ticos intercalados de extensão ampla e, mais especificamente, para os espaços de extremi- dade livre. Além disso, esse tipo de prótese está indicado para arcos que apresentam gran- de número de espaços protéticos e/ou perda acentuada de rebordo residual. 5 - Contra-indicações De um modo geral, esse tipo de próte- se somente estaria contra-indicado nos casos onde a saúde bucal estivesse comprometida e não houvesse colaboração por parte do pacien- te em corrigir essa situação, o que impossibili- taria qualquer tipo de tratamento odontol ógico. 6 - Vantagens Restabelece as funções estética, foné- tica e mastigatória (50%), devolvendo o equilí- brio biológico. 7 - Desvantagens A) Estética - nos casos de prótese par- cial removível a grampo, para reabilitar espa- ços protéticos anteriores, pode ocorrer o apa- recimento de metal na região vestibular, preju- dicando a estética. Existem variações no plane- jamento que podem ser utilizadas visando as- sociar a função e a estética. Porém, se isso não for possível, deve-se sempre dar prioridade à função. B) Cárie - ainda persiste o conceito er- rôneo de que a prótese parcial removível leva ao aparecimento de cárie. Todavia, tem sido observado que isso somente ocorre quando o paciente não realiza correta higienização, por falta de colaboração ou por falta de orientação do profissional. 8 - Causas das falhas A) Diagnóstico e planejamento inadequados; B) Utilização incorreta do delineador; C) Preparos bucais inadequados; D) Instruções inadequadas ao técnico; E) Desenho incorreto das partes constituintes; F) Extremidade livre; G) Oclusão; H) Falta de orientações ao paciente; I) Controle posterior insuficiente ou inadequa- do; J) Falhas do técnico; K) Não colaboração do paciente. Entre as causas anteriormente citadas, pode-se observar que de A até I são aspectos exclusivamente de responsabilidade do profis- sional. Ao técnico de laboratório cabe seguir corretamente as instruções do cirurgião- dentista e utilizar materiais de boa qualidade, dentro das especificações do fabricante. O paciente deve seguir a orientação do profissional com relação à utilização e higieni- zação da prótese. “Uma prótese removível a grampo, de- senhada e construída de modo a evitar os erros e deficiências previamente mencionados, é capaz de devolver função, estética agradável e duradoura, sem causar dano às estruturas de suporte”. (McGivney & Castleberry). Apoios Oclusais e Nichos - 3 DELINEADORES 1 - Introdução A reabilitação de pacientes parcialmen- te desdentados com prótese parcial removível estabelece a substituição dos dentes ausentes, por meio de mecanismos retentivos e estabili- zadores que permitam, ao próprio paciente, retirá-la e reposicioná-la na boca, sem causar danos aos dentes de suporte e componentes da prótese. A inserção e a remoção da prótese de- vem ser realizadas seguindo uma trajetória, que é determinada em delineador, pelo cirurgi- ão-dentista, durante o planejamento da prótese. O q ue é t raj e tó ri a d e i n serção? Trajetória de inserção é a direção que a prótese deve seguir desde o momento em que suas partes metálicas iniciam o contato com os dentes pilares até o seu assentamento final. O q ue é t raj e tó ri a d e remo ção? Trajetória de remoção é a direção que a prótese deve seguir desde sua posição de assentamento final até que seus componentes metálicos não mais apresentem contatos com os dentes pilares. 2 - Definição Delineador ou paralelômetro é um apa- relho essencial para o diagnóstico e planeja- mento das próteses parciais removíveis. Além de determinar o paralelismo entre faces axiais dos dentes, também, proporciona a localização de áreas retentivas para colocação das pontas ativas dos grampos de retenção. Outras de suas funções são: verificação de áreas de inter- ferências ósseas, mucosas e/ou dentais, análi- se da estética e orientação dos preparos dos dentes pilares. 3 - Histórico A determinação do eixo de inserção e remoção em Prótese Parcial Removível tem sido discutida desde o ínicio do século XX, quando era realizada de maneira empírica com a utilização de 2 lápis (Figura 2). Já na década de 20, o Dr. Herman E. S. Chayes foi o primeiro pesquisador a descrever a importância do para- lelismo no planejamento de próteses bucais e, com isso, desenvolveuo primeiro delineador intra-bucal (Figura 3). Na mesma época surgiu o delineador “Robinson”, o primeiro delineador especialmente desenvolvido para o uso odonto- lógico (Figura 4). Figura 2 - Del in ea me nto Emp ír ico Figura 3 - Del in eador de Chayes Apoios Oclusais e Nichos - 4 Figura 4 - Del in eador de Rob inson No ano de 1923, Weinstein & Roth desenvolveram o primeiro delineador comercializado (Figura 5). Figura 5 - Del in eador de We ins te in & Roth Atualmente, os delineadores (Figura 6) permitem a determinação precisa do eixo de inserção e remoção das próteses parciais removíveis. F igura 6 - Del in eador B io-A r t 4 - Partes constituintes O delineador convencional utilizado atualmente é constítuido por: A) Delineador propriamente dito; B) Platina ou mesa reclinável; C) Acessórios. A - Delineador propriamente dito I - Haste vertical fixa; II - Haste horizontal móvel; III - Haste vertical móvel; IV - Mandril; V - Base ou plataforma. F igura 7 - Del in eador propr ia mente d ito B - Platina ou mesa reclinável I - Mesa porta-modelos e garras; II - Parafuso das garras; III - Junta universal; IV - Base da platina e Trava da junta universal. Apoios Oclusais e Nichos - 5 Figura 8 - Pl at ina ou mesa rec li náve l C – Acessórios I - Faca de corte na extremidade; II - Faca de corte lateral; III - Ponta analisadora; IV - Calha para apreensão de grafite; V - Discos calibradores (0,25; 0,50 e 0,75mm); VI- Discos calibradores modificados com anel móvel(0,25; 0,50 e 0,75mm); VII- Braçadeira. Figura 9 - A cessór ios d o d el ine ador 5 - Técnica de emprego Na técnica que será apresentada, de- ve-se considerar quatro fatores que, segundo HENDERSON & STEFFELL, atuam como de- terminantes no estabelecimento da direção de inserção ideal para as próteses parciais remo- víveis. Esses fatores visam possibilitar o prepa- ro de planos guias, obter áreas de retenção equivalentes para todos os dentes de suporte, localizar grampos em regiões que favoreçam a estética e evitar regiões retentivas ósseas, mucosas e/ou dentais que dificultem ou impe- çam a inserção e remoção da prótese. 6 - Fatores determinantes da trajetória de inserção e remoção A - Planos Guias Os planos guias são superfícies parale- las entre si, preparadas nas faces axiais de dentes pilares íntegros, restaurados ou com coroas protéticas. Para determinação dessas áreas paralelas, é necessária a utilização do delineador. Coloca-se a faca no mandril da haste vertical móvel e, em seguida, posiciona- se o modelo de estudo na platina, de modo que a superfície oclusal fique paralela à base hori- zontal do delineador. Posteriormente, o parafu- so da junta universal da platina é fixado. Em seguida, deve-se posicionar a superfície lateral da faca, de modo que toque a superfície proxi- mal dos dentes vizinhos aos espaços protéticos (Figura 10). É preciso ressaltar que a superfície lateral da faca deve tocar na região dos terços médio e oclusal/incisal. O terço cervical é sem- pre aliviado com o objetivo de evitar injúrias aos tecidos gengivais. Apoios Oclusais e Nichos - 6 Figura 10 - Deter mi nação do p la no gui a. Todavia, se não for obtido paralelismo das superfícies proximais, solta-se o parafuso da junta universal e se realiza movimentos na platina para anterior ou para posterior (Figura 11), até obter o paralelismo de todas as faces proximais vizinhas aos espaços protéticos. Em seguida, o parafuso da junta universal é nova- mente fixado. Figura 11 - Mov i men tação ânter o-pos ter ior da pla ti na. Porém, existem casos em que, mesmo após a movimentação, o paralelismo não é obtido para todos os dentes. Assim, há a ne- cessidade de realização de desgastes nas superfícies proximais dos dentes pilares, limita- dos ao esmalte dentário. Para isso, é importan- te que o profissional use o bom senso durante a movimentação da platina no sentido ântero- posterior. A técnica para a obtenção desses preparos será descrita detalhadamente no ca- pítulo Conectores Menores. B - Áreas Retentivas Equivalentes Após a obtenção dos planos guias, de- termina-se o grau de retenção nos dentes pila- res que irão receber grampos de retenção, com o uso do disco calibrador 0,25mm. O disco calibrador deve ser fixado no mandril da haste vertical móvel do delineador. Em seguida, o disco e a haste vertical devem ser posicionados de modo a tocarem simulta- neamente na superfície mésio-vestibular ou disto-vestibular, formando uma figura geométri- ca triangular, próxima à região cervical (Figura 12). Figura 12 - Deter mi nação de ár eas ret ent ivas Esse procedimento é realizado em to- dos os dentes pilares. No caso de ausência de área retentiva, movimenta-se a platina lateral- mente, em direção ao dente sem retenção, até a obtenção da área retentiva (Figura 13). É importante salientar que esse movimento deve ser realizado cuidadosamente, para que os planos guias, já estabelecidos, não sejam alte- rados. Além disso, as áreas retentivas dos dentes do hemiarco oposto devem ser reavali- adas, pois, após a movimentação, essas áreas podem ser perdidas. Apoios Oclusais e Nichos - 7 Figura 13 - Mov i men tação la tera l d a p lat in a. Existem casos em que, mesmo após a movimentação lateral do modelo na platina, áreas retentivas não são obtidas. Assim, é necessário criar áreas retentivas, realizando desgastes em esmalte dos dentes íntegros, recontorno da superfície do dente com resina composta, restaurações de amálgama, ou mesmo, coroas totais. C - Áreas de Interferências Após a obtenção das áreas retentivas, coloca-se, novamente, a faca no mandril da haste vertical móvel e realiza-se a análise de possíveis áreas de interferência na trajetória de inserção e remoção, que está sendo estabele- cida (Figura 14). As interferências podem ser ósseas, mucosas, ou mesmo, alguma superfície axial de dentes, que estejam inclinados para lingual. A análise de interferências no modelo de estu- do é efetuada por meio do toque lateral da faca, que representa o eixo de inserção, com as superfícies que irão receber componentes rígidos da prótese, ou seja, locais onde estarão situados a conexão maior, os conectores me- nores, o braço do grampo de Roach, entre outros. Caso alguma interferência seja encon- trada, deve-se, inicialmente, tentar alterar a trajetória de inserção/remoção e, se necessá- rio, recorrer à realização de alívios, desgastes axiais dos dentes ou cirurgias. Figura 14 - Á reas de Inter f erênc ia D- Estética A estética não deve ser o fator mais importante no planejamento da prótese parcial removível. A preservação dos dentes remanes- centes é o fator mais relevante em relação à estética, que não deve, de forma alguma, influ- enciar negativamente no sucesso da prótese parcial removível. Contudo, nos casos em que há o en- volvimento de espaços protéticos e/ou dentes pilares anteriores, pode-se começar a análise no delineador pela estética, sem interferir na função. 7 - Equador anatômico e equador protéticoQuando um dente é analisado isolada- mente, em posição vertical, e uma linha sobre a área axial mais convexa é traçada, determina- se o equador anatômico desse dente (Figura 15). O equador anatômico divide o dente em duas áreas: uma expulsiva ou ocluso-equatorial e outra retentiva ou cérvico-equatorial. Apoios Oclusais e Nichos - 8 Figura 15 - Eq uador A natô mico Todavia, o equador anatômico não tem interesse protético, porque ao determinar uma trajetória de inserção, são demarcadas linhas equatoriais que delimitam áreas retentivas e expulsivas comuns para todos os dentes pila- res, independente de suas posições na arcada. A determinação de áreas retentivas e expulsivas é importante porque os grampos de oposição são rígidos e devem estar localizados em áreas não retentivas. Por outro lado, os grampos de retenção deverão estar com suas pontas ativas em áreas retentivas. O equador protético (Figura 16) depen- de do posicionamento dos dentes na arcada e da direção de inserção determinada. F igura 16 - Eq uador Prot ét ico (azu l) d e acordo com o p os ic i ona mento dos dent es na arcada e em re lação ao equa dor a natô mico (preto) . O equador protético deve ser analisado durante o planejamento de cada caso, para que seja visualizada a necessidade de alívios, cor- reções por meio de desgastes, restaurações, coroas ou, ainda, de uma nova direção de in- serção/remoção da prótese. Para o traçado do equador protético, o grafite deve ser fixado no mandril da haste vertical móvel do delineador e, com a sua face lateral, as faces axiais dos dentes pilares são contornadas, circunscrevendo o perímetro de maior diâmetro. REFERÊNCIAS 1. Apllegate, O C.: Essentials of remova- ble partial denture prothesis, Philadel- phia, 1965, W. B. Saunders Co. 2. McGiveney G.P, Castleberry. D. J. McCracken’s Removable Partial Pros- thodontics (9 ed.). St. Louis, M. O, Mosby, 1995, pp 189-212. 3. Wagner. A. G, Forgue. E. G. A study of four methods of recording the path of insertion of removable partial dentures. J. Prosthet. Dent. V. 35. n 3. p 267-72. mar. 1976. 4. Engelmeier. R. L., The history and de- velopment of dental surveyor: Part I. J. Prosth. V 11. n 1. p.11-8. marc. 2002 5. Engelmeier. R. L., The history and de- velopment of dental surveyor: Part II. J. Prosth. V 11. n 2. p.122-30. jun. 2002. 6. Bezzon. O. L.; et al. Device for record- ing de path of inserion for removable partial dentures. J. Prosthet. Dent. V. 84. n. 2 p. 136-38. aug. 2000. Vista Lingual
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