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LOBATO: a perspectiva do maravilhoso em Narizinho Arrebitado Acadêmicas: Katryne Victória Ribas do Nascimento Mariana Ranair Aikanã Michela Calixto Nascimento Silva GOVERNO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – MEC FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E LITERÁRIOS – DELL CAMPUS DE VILHENA – RO Monteiro Lobato • José Bento Monteiro Lobato (1882-1948) nasceu em Tubaté/SP e morreu em São Paulo/SP. • Diplomou-se em Direito em 1904 e em 1907 foi nomeado Promotor em Areias/SP. • Em 1911, morre seu avô, Visconde de Tremenbé, e herda a fazenda de Buquira, passando de Promotor a fazendeiro; mesma época em que escreve seu primeiro livro, Jeca Tatu. • Em 1917, vende a fazenda e muda-se para São Paulo/SP. • Compra a Revista do Brasil e começa a editar seus livros para adultos; Urupês é o primeiro, em 1918. • Em 1921, dedica-se a literatura infantil. • Em 1945 os livros passam a ser editados pela Editora Brasiliense, assim dá inicio ao Sítio do Picapau Amarelo. POR QUE DO TÍTULO? • Segundo o dicionário Larousse (2007, p. 873) “Reinação s.f. 1. Brincadeira, pândega. 2. Travessura, traquinagem.” • Lobato (1993, p. 7) diz que “[...] Lúcia, a menina do narizinho do arrebitado, ou Narizinho como todos dizem.” • A partir das definições anteriores podemos perceber que o título do livro diz respeito a histórias de traquinagens de Narizinho. VERSÕES DE “A MENINA DO NARIZ ARREBITADO” VERSÕES DE “REINAÇÕES DE NARIZINHO” Estrutura do livro Reinações de Narizinho O livro Reinações de Narizinho é composto por várias histórias, como se fossem episódios, e não uma história longa como o romance. Os enredos das histórias possuem histórias de criação do próprio Lobato, e outros com junções de histórias e personagens infantis já conhecidas, como Gato Félix, Pinóquio, Pequeno Polegar, Branca de Neve, Cinderela, Pinóquio. PERSONAGENS • Reinações de Narizinho (1921) é o primeiro volume de uma série que tem o Sítio do Picapau Amarelo como referência geográfica para as aventuras dos personagens lobatianos. Nele, Monteiro Lobato apresenta suas propostas culturais básicas, trazendo já delineados os personagens nucleares: Dona Benta, Tia Nastácia, Narizinho, Pedrinho, Emília, Viconde de Sabugosa, Rabicó, Faz-de-Conta, e o Burro Falante. KHÉDE, Sonia Salomão. Reinações de Narizinho. In: ____. Personagens da literatura infanto-juvenil. 2. ed. São Paulo: Ática, 1990, p. 50. DONA BENTA E TIA NASTÁCIA • Dona Benta é proprietária do sítio e avó de Pedrinho e Narizinho. Faz parte de suas qualidades ser ponderada, sábia e amável, mas como toda avó, mima seus netos sem deixar de ser rigorosa. Adora contar histórias e desta maneira incentiva as crianças à leitura e criatividade. Sua sabedoria foi adquirida através dos livros e de sua experiência de vida. • Tia Nastácia é a cozinheira do sítio. Ela prepara comidas deliciosas e tipicamente brasileiras, sempre muito religiosa, é devota de São Jorge. Apesar de analfabeta possui uma cultura popular e conhece o folclore como ninguém. NARIZINHO • “Lúcia, amenina do narizinho arrebitado, ou Narizinho como todos dizem. Narizinho tem sete ano, é morena como jambo, gosta muito de pipoca e já sabe fazer uns bolinhos de polvilho bem gostosos.”. (LOBATO, 1993, p. 7); • Neta de Dona Benta; • Além de se divertir com Emília, sua boneca de pano, Narizinho tem um companheiro, seu primo Pedrinho. EMÍLIA • “Foi feita por Tia Anastácia com olhos de retrós preto e sobrancelhas tão lá em cima que é ver uma bruxa. Apesar disso Narizinho gosta muito dela; não almoça nem janta sem a ter ao lado, nem se deita sem primeiro acomodá-la numa rendinha entre dois pés de cadeira.”. (LOBATO, 1993, p. 7); • No início não falava, nem se movia; depois que tomou as pílulas do Dr. Caramujo virou uma personagem surreal, mistura de boneca e gente. • “Como intenção de valorização, vemos o espírito de líder que caracteriza a boneca, sua ascendência mandona, mas brejeira, sobre os que convivem com que ela sabe querer as coisas ou a mantém seus pontos de vista ou suas opiniões.” (COELHO, 2000, p. 144). PRÍNCIPE ESCAMADO • “— Príncipe e rei ao mesmo tempo! — exclamou a menina batendo palmas. — Que bom, que bom, que bom! Sempre tive vontade de conhecer um príncipe-rei.” (LOBATO, 1993, p. 9); • Príncipe e rei do Reino das Águas Claras, que se localiza em um ribeirão perto do Sítio. Um certo dia Narizinho estava a dar comida para os peixes, quando deitou na sombra de uma árvore e se deparou com o Príncipe e um besouro andando na ponta do seu nariz. O príncipe então leva Narizinho para conhecer o seu Reino, onde se encontra também com o Doutor Caramujo que faz a boneca Emília falar. Reino das Águas Claras “Pelo caminho foram saudados com grandes marcas de respeito, por varias corujas e numerosíssimos morcegos. Minutos depois chegavam ao portão do reino. A menina abriu a boca, admirada. — Quem construiu este maravilhoso portão de coral, príncipe? E tão bonito que ate parece um sonho. — Foram os Pólipos, os pedreiros mais trabalhadores e incansáveis do mar. Também meu palácio foi construído por eles, todo de coral rosa e branco. Narizinho ainda estava de boca aberta quando o príncipe notou que o portão não fora fechado naquele dia.” (LOBATO, 1993, p. 9). O MARAVILHOSO • O maravilhoso não busca justificativas ao narrar suas histórias, elas simplesmente acontecem e são aceitas. Portanto: • “Maravilhoso implica que estejamos mergulhados num mundo de leis totalmente diferentes das que existem no nosso; por este fato, os acontecimentos não são absolutamente inquietantes. Ao contrário, [...] trata-se realmente de uns acontecimentos chocantes, impossíveis, mas que se acaba por tornar-se paradoxalmente possível.” TODOROV, T.. Introdução à literatura fantástica. In: SILVA, I. R. F. da. A narrativa fantástica e a maravilhosa no livro reinações de narizinho – teoria, leitura e importância de ensino. O MARAVILHOSO • “Chamamos de maravilhoso a interferência de deuses ou de seres sobrenaturais na poesia ou na prosa (fadas, anjos, etc.). Pode-se falar num maravilhoso pagão (greco-romano ou celta, por exemplo), quando predominam os seres de uma mitologia pagã, ou num maravilhoso cristão, quando há interferência de seres miraculosos ligados à mitologia cristã (anjos, demônios, santos, etc.).” (RODRIGUES, 1988, p. 54 - 55). LOBATO E A FUSÃO DO REAL COM O MARAVILHOSO • “Um dos grandes achados de Lobato, tal como o de seus antecessores L. Carrol e Collodi, foi mostrar o maravilhoso como possível de ser vivido por qualquer um. Misturando o imaginário com o cotidiano real, mostra, como possíveis, aventuras que normalmente só podiam existir no mundo da fantasia.” (COELHO, 2000, p. 138). Exemplificação da fusão “E já ia dormindo, embalada pelo mexerico das águas, quando sentiu cócegas no rosto. Arregalou os olhos: um peixinho vestido de gente estava de pé na ponta do seu nariz. Vestido de gente, sim! Trazia casaco vermelho, cartolinha na cabeça e guarda-chuva na mão — a maior das galantezas! O peixinho olhava para o nariz de Narizinho com rugas na testa, como quem não está entendendo nada do que vê.” (LOBATO, 1993, p. 8) Esperteza/Astúcia da personagem principal • “Procuraram o bobinho por toda a parte, inutilmente. E que a menina, mal viu entrar na sala a diaba da velha, disfarçadamente o tinha agarrado e enfiado na manga do vestido. Dona Carochinha remexia por todos os cantos, ate dentro das terrinas, sempre resmungona.” (LOBATO, 1993, p. 13). A presença da metamorfose “— Ora graças! — exclamou num suspiro de alivio. – Chegou afinal o dia da minha libertação. Quando nasci, uma fada rabugenta, que detestavaminha pobre mãe, virou-me em aranha, condenando-me a viver de costuras a vida inteira. No mesmo instante, porem, uma fada boa surgiu, e me deu esse espelho com estas palavras: ‘No dia em que fizeres o vestido mais lindo do mundo, deixarás de ser aranha e serás o que quiseres’.”. (LOBATO, 1993, p. 15). Uso de Talismã “A pobre e muda de nascença. Ando a procura de um bom doutor que a cure. — Há um excelente na corte, o celebre doutor Caramujo. Emprega umas pílulas que curam todas as doenças, menos a gosma dele. Tenho a certeza de que o doutor Caramujo põe a senhora Emília a falar pelos cotovelos.” (LOBATO, 1993, p. 9) LOBATO E A FUSÃO DO REAL COM O MARAVILHOSO • “Evidentemente, a linguagem que expressava tal fusão foi elemento fundamental. Fluente, coloquial, objetivo, despojado e sem retórica ou rodeios, o discurso que constrói a efabulação de A Menina do Narizinho Arredbitado é dos que agarram de imediato o pequeno leitor. Principalmente pelo humor que impregna.”. (COELHO, 2000, p. 138) • A relação estabelecida entre o real e o maravilhoso proporcionam ao leitor infantil a identificação com o mundo encantado determinado por Lobato. Além disso, as obras possibilitam o acesso da criança ao poder da imaginação pelo fato de o elemento maravilhoso não necessitar de explicação, simplesmente acontecem e são aceitos. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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