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Angústia Fundamental, A

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A Angústia Fundamental 
Fabiana de Souza Fernandes da Silva 
Resumo: Ao ouvir a expressão "Angústia Fundamental" em uma das aulas, 
sabia que esse seria o tema do meu trabalho do final do semestre. Isso porque 
sempre me encantou o quanto a teoria, ou melhor, a filosofia lacania articula-se 
elegantemente com a filosofia heideggeriana. Durante a minha graduação em 
filosofia, "afundei-me" no existencialismo heideggeriano e no seu conceito 
central do mais absoluto "Nada" (das Nicht). É uma linda teoria que acabei 
interpretando de forma niilista. Esse niilismo gratuito foi uma má interpretação 
de um belíssimo conceito, que ao coadunar-se com o conceito de desejo em 
termos lacanianos - a expressão de uma cobiça que tende a satisfazer-se no 
absoluto, isto é, fora de qualquer realização de um anseio ou de uma 
propensão - define o verbo constitutivo do ser humano: desejar. 
 
Fabiana de Souza Fernandes da Silva 
A Angústia Fundamental 
 
 Nesse semestre, durante uma das aulas, chegamos a um 
conceito que foi denominado "angústia fundamental" ou "falta 
fundamental". Fiquei bastante interessada, pois durante a minha 
formação em filosofia ocupei-me bastante da filosofia existencialista 
de Heidegger, em cujo centro encontra-se essa mesma "angústia 
fundamental". Principalmente porque Freud acaba por concluir que 
essa angústia fundamental é constitutiva do sujeito. Minha intenção 
é relacionar essa angústia com a falta originária, a castração e a 
nossa incompletude. 
 
 Para falar de incompletude e castração não podemos deixar 
de falar do Complexo de Édipo. Escolhi falar sobre tal complexo 
pela ótica lacaniana, pois, a meu ver, essa ótica enxerga através do 
campo simbólico, assim como a filosofia. Lacan centra a questão 
edipiana na triangulação de três funções subjetivas, que se 
constituem como entidades no próprio processo. Ou seja, a 
identidade sexual organiza-se na estrutura edípica. Essa estrutura 
edípica é centrada no narcisismo e no falo. Sendo o narcisismo a 
completude absoluta, a fusão da criança com a mãe e, o falo, o 
significante de uma falta e, conseqüentemente, de um desejo. 
 
 No âmbito da sua teoria do significante e de sua tópica 
(imaginário, real e simbólico), Lacan definiu o complexo de Édipo 
como uma função simbólica: o pai intervém sob a forma da lei, para 
privar a criança da fusão com a mãe. Segundo essa perspectiva, o 
mito edipiano atribui ao pai, por conseguinte, a exigência da 
castração: "A lei primordial, escreveu Lacan, é, pois, aquela que, 
regulando a aliança, superpõe o reino da cultura ao reino da 
natureza, entregue à lei do acasalamento. Essa lei, portanto, faz-se 
conhecer suficientemente como idêntica a uma ordem de 
linguagem". Ou seja, para Lacan a castração refere-se à perda da 
onipotência narcísica e o acesso ao simbólico. Portanto, a falta 
refere-se à impossibilidade da completude, à impossibilidade de 
simbolizar o real, pois, na tentativa de apreendê-lo, temos entre nós 
e o real a linguagem, o que significa que jamais apreenderemos as 
coisas em si mesmas. 
 
"Se você diz, 'eu te amo', então você já se apaixonou pela 
linguagem, o que já é uma forma de separação e infidelidade". Jean 
Baudrillard. 
 
 Agora em termos filosóficos, se pensarmos que todas as 
coisas têm o seu "ser no mundo", chegamos à conclusão de que 
aquilo que não pode ser é "nada" e daí deriva a angústia de vir a 
ser "nada". O ser humano define-se no fazer, na ação, - "no 
princípio era o verbo", ou seria a linguagem? - pois, diferentemente 
dos outros animais, nasce incompleto, inacabado, prematuro, 
apenas podendo "vir a ser" humano. Assim sendo, podemos dizer 
que o ser humano é "pura possibilidade", o que significa que o 
nosso modo de ser no mundo será sempre marcado pela decisão. 
Isso se dá pelo fato de sermos originariamente "cindidos" entre a 
possibilidade de ser ou de deixar de ser, ou melhor, entre a 
possibilidade de ser e a possibilidade de "nada". Assim sendo, 
temos a nossa existência marcada pela "de-cisão", ou seja, vivemos 
tentando dar conta de eliminar essa cisão ou divisão - se quisermos 
- constitutiva. Daí a necessidade de de-cidir o tempo todo, fazendo 
das nossas decisões ou escolhas mais banais, - como decidir levar 
ou não o guarda-chuva consigo - apenas uma "sombra" da decisão 
mais originária que é a decisão de ser, de fazer a ser nada, não ser. 
 
 Por sermos seres incompletos e por vivermos assombrados 
pelo fantasma do não-ser, vivemos projetando-nos para o futuro. 
Isso significa que vivemos tentando correr à frente de nós mesmos, 
 para que de alguma forma possamos garantir a nossa existência. É 
como se tivéssemos uma garantia de encontrarmos a nós mesmos 
no futuro e de assim continuarmos a ser. Entendo que essa 
dissertação possa parecer um tanto filosófica, mas o meu ponto é 
que penso que a mola propulsora dessa "projeção", desse "correr à 
frente de si mesmo", seja o desejo. 
 
O desejo fundamental me parece ser uma resposta para a 
angústia fundamental assim como o ser é uma resposta para o 
nada, para o não ser. Mas vamos à definição de desejo segundo o 
dicionário de psicanálise: 
 
"Termo empregado em filosofia, psicanálise e psicologia para 
designar, ao mesmo tempo, a propensão, o anseio, a necessidade, 
a cobiça ou o apetite, isto é, qualquer forma de movimento em 
direção a um objeto cuja atração espiritual ou sexual é sentida pela 
alma e pelo corpo. 
 
Em Freud, essa idéia é empregada no contexto de uma teoria 
do inconsciente para designar, ao mesmo tempo, a propensão e a 
realização da propensão. Nesse sentido, o desejo é a realização de 
um anseio ou voto (Wunsch) inconsciente. 
 
Entre os sucessores de Freud, somente Lacan conceituou a 
idéia de desejo em psicanálise a partir da tradição filosófica, para 
dela fazer a expressão de uma cobiça que tende a satisfazer-se no 
absoluto, isto é, fora de qualquer realização de um anseio ou de 
uma propensão". 
 
 Voltemos agora à minha analogia entre ser e desejo e entre 
angústia fundamental e nada. Segundo Lacan, que tem um pendor 
para a tradição filosófica, o desejo só se realiza no absoluto. Talvez 
possamos dizer que, segundo a filosofia heideggeriana, o absoluto 
é o nada. Assim, podemos dizer que para Lacan o desejo é fora de 
qualquer realização, pois a sua realização remete ao absoluto. O 
absoluto é tudo aquilo que, para existir ou para ser verdadeiro, 
depende apenas de si e de nada mais para além de si e não existe 
por uma relação com o outro, mas em si mesmo. Para Heidegger, o 
nada é não condicionado, é a falta absoluta que permite que se 
possa ser. Traduzindo em termos lacanianos, é a falta que chancela 
o desejo que nunca se realiza. 
 
 Portanto, parece que é o desejo que nos projeta à frente de 
nós mesmos, ou não seria correto dizer que o desejo é o próprio 
projeto humano? Digo isso, pois se o desejo é o significante de uma 
falta - para a filosofia existencialista, a falta é aquilo que não é, é o 
nada - e sendo a angústia fundamental, a angústia de nada ser, 
então podemos dizer que, sem o desejo nada somos, ou melhor 
dizendo, somos pura angústia. 
Bibliografia: 
 
LACAN, J. Escritos. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar Ed., 1998. 935p. 
 
ROUDINESCO, E.; PLON, M. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar Ed., 1998. 873p. 
 
BLEICHMAR, H – Introdução ao Estudo das Perversões – Ed. Artes 
Médicas, Porto Alegre, 1984.

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