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Curso de Hematologia Geral MÓDULO III Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada, é proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados a seus respectivos autores descritos nas referências bibliográficas. MÓDULO III ANEMIAS Podemos definir anemia como sendo a diminuição da hemoglobina circulante abaixo dos valores normais, levando-se em consideração a faixa etária e o sexo. Quando pobre em hemoglobina e eritrócitos, o sangue anêmico mostra-se descorado, com baixa viscosidade e incapaz de carrear oxigênio com a devida eficácia. Isto leva à uma deficiência de suprimento de oxigênio para os tecidos do organismo. Dessa alteração, e das reações homeostásicas compensadoras, decorrem sinais e sintomas de anemia tais como: palidez, anorexia, náuseas, irritabilidade, cefaléia, tontura, insônia, fadigabilidade, entre outros. A anemia sempre resulta de um desequilíbrio entre a produção e a destruição de glóbulos vermelhos. As anemias decorrentes da produção insuficiente da medula são denominadas arregenerativas, enquanto que as anemias decorrentes da destruição acelerada das hemácias são ditas regenerativas, uma vez que a medula estimulada pelo aumento de produção de eritropoetina devido à hipóxia, sofre hiperplasia eritrocitária compensadora com produção aumentada de reticulócitos. Para o laboratório de análises clínicas o diagnóstico baseia-se na interpretação dos valores das contagens corpusculares associada à alterações morfológicas dos eritrócitos. Assim, quando observamos no hemograma variações dos índices VCM (Volume corpuscular médio), HCM (hemoglobina corpuscular média), RDW (amplitude da dimensão de hemácias), além do hematócrito e hemoglobina, pode-se chegar a uma classificação morfológica da anemia. 26 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Classificação das anemias Morfologicamente para fins de diagnóstico laboratorial podemos classificar as anemias em: normocíticas e normocrômicas, microcíticas e hipocrômicas, e em macrocíticas. FIGURA – Classificação Morfológica das anemias. FONTE: SILVA, 1999. Classificação etiopatogênica das anemias Levando-se em consideração aspectos fisiológicos, as anemias podem ser classificadas, de acordo com sua causa principal, em: 1- Hemorrágicas; 2- Hemolíticas; 3- Hipoproliferativas; 27 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores 1- Anemias Hemorrágicas: -Agudas → hemorragias por traumatismos, grandes cirurgias. São geralmente normocíticas e normocrômicas. -Crônicas → Perda lenta e constante de sangue, geralmente por lesões ulcerativas do tubo gastrointestinal e distúrbios ginecológicos. Quando não tratadas podem tornar-se microcíticas e hipocrômicas porque se instala uma deficiência de ferro. 2- Anemias Hemolíticas: A hemólise é a diminuição da sobrevida dos eritrócitos (120 dias) anormais ou alterados, que conduz a uma destruição diária aumentada. As anemias hemolíticas podem ser: -Genéticas: → Defeitos de membrana = esferocitose, eliptocitose; → Enzimopatias = deficiência de G-6PD e piruvatoquinase; → Hemoglobinopatias = Anemia falciforme, talassemia, hemoglobinas instáveis. -Adquiridas: → Mediada por anticorpos: - Doença hemolítica do recém nascido; - Anemia hemolítica auto-imune; - Reações transfusionais. → Hemólise Mecânica = microangiopática, próteses valvares. →Infecções = malária, pneumonia pneumocócica, bartonela, clostridum welchii. → Agentes físicos = queimaduras. → Agentes químicos = intoxicação por metais pesados. → Hemoglobinúria paroxística noturna. 3- Anemias Hipoproliferativas: São anemias decorrentes de uma eritropoese ineficaz, devido à: - Deficiência nutricional → deficiência de ferro, ácido fólico ou vitamina B12. 28 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores - Requerimentos aumentados → gravidez (deficiência de ferro, folato ou B12) - Insuficiência da medula óssea → infiltração maligna, infecções, drogas. Anemias hemolíticas por defeito de membrana Esferocitose hereditária → É uma doença autossômica dominante onde o defeito está nas proteínas que participam da interação vertical: espectrina, proteína 4.1, anquirina e proteína de banda 3. Esse defeito, pela redução da superfície da membrana, leva à formação do esferócito, que é destruído precocemente no baço. O CHCM (concentração de hemoglobina corpuscular média) pode chegar à mais de 40. O reticulócito está entre 5% a 25%. Na avaliação morfológica eritrocitária podemos encontrar policromasia, poiquilocitose, anisocitose, esferócitos e eritroblastos. Há um aumento da bilirrubina indireta. O diagnóstico pode ser confirmado através do teste de fragilidade osmótica (aumentada) e eletroforese de proteínas de membrana. Eliptocitose hereditária → O defeito está na interação horizontal da membrana e especificamente nos dímeros alfa e beta da espectrina. A hemólise é discreta, levando à um aumento da bilirrubina indireta e da contagem de reticulócitos. Na morfologia eritrocitária mais de 25% dos eritrócitos estão na forma elíptica. Anemias hemolíticas - enzimopatias Deficiência de Glicose-6-fosfatodesidrogenase (G-6PD) → É uma doença hereditária ligada ao sexo (cromossomo X). A hemólise ocorre porque, na deficiência de G-6PD, a hemoglobina de oxida, o heme se libera da globina e esta se desnatura formando corpos de Heinz, os quais ocasionam uma rigidez da membrana, e esses eritrócitos serão hemolisados na microcirculção esplênica. Os episódios de hemólise podem ser desencadeados por processos infecciosos, diabetes e pela exposição à agentes e drogas oxidantes. O diagnóstico pode ser confirmado através de dosagem de G-6PD e pesquisa de corpos de Heinz. 29 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Deficiência de piruvatoquinase (PK) → É uma doença hereditária autossômica recessiva que resulta numa deficiente produção de ATP. A hemólise é crônica, normocítica e normocrônica. Anemia hemolíticas - hemoglobinopatias Anemia falciforme → A hemoglobinopatia S (sickle cell disease) é resultado de uma mutação da cadeia beta da globina, com a troca do aminoácido ácido glutâmico pelo aminoácido valina, que resulta na formação de uma hemoglobina anormal HbS. Esta troca de aminoácido abala a estrutura da molécula favorecendo a polimerização e a formação de tactóides, sob condições de baixo teor de oxigênio ou baixo pH. Os tactóides são rígidos e cristais capazes de deformar o eritrócito, fazendo com que o mesmo assuma a forma de foice e conseqüente hemólise. Este processo é reversível com a reoxigenação. Pacientes homozigotos (HbS/HbS) desenvolvem a doença falciforme, enquanto os pacientes heterozigotos (HbS/HbA) apresentam o estigma ou traço falcêmico sem alterações clínicas evidentes. Os achados laboratoriais são: diminuiçãoda concentração de hemoglobina; VCM variando de microcítico a macrocítico; HCM e CHCM com valores baixos; reticulocitose, policromasia, poiquilocitose; presença de eritroblastos, ponteado basófilo e drepanócitos (hemácias em foice). O diagnóstico é confirmado pelo teste de falcização e pela eletroforese de hemoglobina. Hemoglobinopatia C → É resultado de uma mutação na cadeia beta da globina, com a troca do aminoácido acido glutâmico pelo aminoácido lisina. A conseqüência dessa mutação é a cristalização da hemoglobina na parte central do eritrócito, caracterizando a célula em alvo. O diagnóstico é feito pela eletroforese de hemoglobina que mostrará bandas na posição de A1 e C. A anemia quando presente é geralmente normocítica e normocrômica e o achado característico na extensão sanguínea é o codócito. Talassemias → A talassemia é uma hemoglobinopatia devido a falta ou produção insuficiente de cadeias de globina. Portanto, é a quantidade que interfere na função da hemoglobina e não a qualidade, a qual está preservada. Quando isso ocorre nas cadeias 30 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores do tipo alfa, tem-se as alfas talassemias, e quando ocorre nas cadeias do tipo beta tem-se as betas talassemias. Como se vê, a classificação das talassemias se dá de acordo com a cadeia polipeptídica afetada. Assim, as alfas talassemias ocorrem por deleções que envolvem os genes alfa e mutações (não deleções) que afetam a expressão do gene. As alfas talassemias podem ter manifestações clínicas severas ou serem assintomáticas, e são classificadas em: - Hidropsia fetal: → Hemoglobina de 4 a 10,0 g/dl → Anisopoiquilocitose +++ → Microcitose +++ → Presença de eritroblastos → Reticulocitose variável → Hb Bart’s 80% → Hb Portland 20% → HbH não detectado - Doença de hemoglobina H: → Hemoglobina de 7 a 10,0 g/dl → Microcitose +++ → Hipocromia +++ → Reticulócitos de 5% a 10% - Alfa talassemia minor: → Anemia discreta, se presente → Anisopoiquilocitose variável → Microcitose em torno de 72 fentolitros → Hipocromia com HCM em torno de 22 picogramas → CHCM em torno de 31 - Portador silencioso: →sem características clínicas e laboratoriais de anemia por deficiência de síntese de cadeia alfa. 31 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores TABELA – Características Clínicas e Hematológicas das Alfas Talassemias. FONTE: SILVA, 1999. As betas talassemias ocorrem pela deficiência de produção de cadeia beta, e podem ser: - Talassemia beta homozigótica (Major) → A beta talassemia major é a forma mais severa com intensa microcitose e hipocromia. A morfologia eritrocitária apresenta ainda poiquilocitose intensa, anisocitose, células em alvo, policromasia, ponteado basófilo e eritroblastos. Divide-se em: Beta+Beta+ (deficiência acentuada da produção de cadeias beta) e Beta0Beta0 (Ausência de produção de cadeias beta) - Talassemia beta heterozigótica (Minor) → A beta talassemia minor apresenta manifestações clínicas discretas ou são assintomáticas. A concentração de hemoglobina está acima de 10,0 g/dl e pode apresentar na extensão sangüínea hipocromia, microcitose, codócitos e ponteado basófilo. 32 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores TABELA – Características Clínicas e Hematológicas das Beta Talassemias. FONTE: SILVA, 1999. Hemoglobinúria paroxística noturna → É uma doença hemolítica adquirida causada por um defeito estrutural da membrana celular eritróide resultante de um clone anormal da Stem cell, onde os glóbulos vermelhos passam a ter maior sensibilidade ao complemento, o que leva à hemólise. Esta hemólise acontece principalmente a noite, quando há um decréscimo de pH sangüíneo durante o sono. Pode haver anemia severa com hemoglobina em torno de 6 g/dl. Ocorre hemoglobinúria, perda de ferro sob a forma de hemossiderina. Pode-se observar ao esfregaço sangüíneo macro ou microcitose, hipocromia, policromasia. Apresenta reticulocitose, leucopenia e trombocitopenia. O teste de HAM é utilizado para se verificar a sensibilidade das hemácias ao complemento em soro acidificado 33 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Anemias hemolíticas imunológicas Auto imunes → Ocorre quando o sistema imunológico do paciente deixa de reconhecer os seus próprios antígenos e passa a formar anticorpos dirigidos às suas próprias células ou tecidos. Cerca de 70% dessas anemias são secundárias à doenças como: lupus, eritematoso sistêmico, leucemia linfocítica crônica, linfomas, tumores, infecções virais e síndromes de imunodeficiência. O teste de COOMBS direto é positivo. Isoanticorpos → Estão relacionados à doença hemolítica do recém nascido e com as reações hemolíticas trasfusionais. Provocados por drogas → Formação de microcomplexos que interagem com a membrana eritrocitária causando hemólise. O teste de COOMBS direto é positivo. Anemias Hipoproliferativas carênciais Anemia megaloblástica → É uma anemia macrocítica não hemolítica decorrente da deficiência dos fatores de reprodução da eritropoese, especificamente pela falta de vitamina B12 e folato. Na extensão sangüínea pode-se observar neutrófilos hipersegmentados. Deficiência de vitamina B12: - Dieta inadequada; - Deficiência do fator intrínseco – anemia perniciosa e gastrectomia; - Doença intestinal: linfoma, crescimento bacteriano no intestino delgado; - Gravidez. Deficiência de ácido fólico: - Alcoolismo; - Crescimento na infância sem dieta adequada; - Doença intestinal; - Gestação; - Hematopoese marcadamente aumentada (anemia hemolítica); 34 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Drogas que causam anemia megaloblática: - AZT; - Hidroxiuréia; - Fenitoína; - Fenobarbital; - Aciclovir; - Trimetropim; - Anticoncepcionais orais; - Anticonvulsivantes. Anemia Ferropriva → É a doença hematológica mais freqüente e decorre da deficiência de ferro no organismo causada por: - Perda de sangue crônica (adulto); - Ingestão inadequada (crianças); - Requerimento aumentado (gestação); - Deficiência de transporte e/ou absorção de ferro; - Verminoses. A anemia se instala após a depleção progressiva dos estoques de ferro no organismo. Quando inicia a deficiência de ferro, o estoque de ferro do deposito é utilizado e começa a diminuir. Diminui também a ferritina plasmática. Progredindo a ingestão deficiente de ferro ou o excesso de perda, a hemoglobinização do eritrócito é comprometida levando à um estado de hipóxia, que estimula a produção de eritropoetina. Os precursores eritróides são estimulados e há um aumento das divisões mitóticas (microcitose). Com o departamento de maturação deficiente ocorre uma hemoglobinização anormal do eritrócito, com baixo conteúdo de hemoglobina (hipocromia). A anemia ferropriva instalada apresenta ferro sérico diminuído, capacidade de transporte aumentada, índice de saturação diminuído e ferritina diminuída.Anemia sideroblástica → É causada por um defeito na utilização do átomo de ferro e na produção do grupo heme. Pode ser: - Congênita → ligada ao sexo; 35 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores - Adquirida→ secundárias à drogas (cloranfenicol, isoniasida) e elementos químicos como chumbo e cobre. Esses agentes interferem na síntese do heme; A anemia sideroblástica caracteriza-se por apresentar depósitos de grânulos de ferro dispostos ao redor do núcleo dos eritroblastos e dos eritrócitos. São evidenciados pela coloração com azul da Prússia, caracterizando sideroblastos em anel (eritroblastos) e siderócitos (eritrócitos). No hemograma encontramos redução da concentração de hemoglobina, VCM < 80, HCM e CHCM diminuído, anisocitose, poiquilocitose, microcitose, hipocromia e ponteado basófilo. Ferro sérico, o índice de saturação e ferretina estão aumentados. Dupla população eritrocitária, caracterizando um dimorfismo celular no histograma eritrocitário. Anemia de doenças crônicas → É secundaria à uma doença crônica: processos infecciosos, inflamatórios e doenças malignas. A anemia se instala por distúrbio no metabolismo do ferro. É uma anemia microcítica e hipocrômica, com o nível de hemoglobina entre 7 a 11,0 g/dl. No hemograma encontramos VCM e HCM reduzidos, micrócitos, hipocromia com anisocitose e poiquilocitose. O ferro sérico está diminuído, a capacidade de transporte normal, o índice de saturação normal e a ferritina normal ou elevada Anemia aplástica ou aplasia medular Ocorre pela alteração da Stem cell ou dos fatores reguladores da hematopoese. É caracterizada pela pancitopenia ou diminuição nas três linhagens de células produzidas na medula óssea. - Aplasia de medula adquirida: induzida por agente químicos e físicos, radiações, infecções e idiopáticas. - Aplasia de medula constitucional: anemia de Fanconi ------ FIM MÓDULO III ----- 36 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores
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