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Curso de Hematologia Geral MÓDULO V Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada, é proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados a seus respectivos autores descritos nas referências bibliográficas. MÓDULO V Hemostasia O termo hemostasia refere-se ao conjunto de mecanismos pelos quais mantêm-se o sangue fluido dentro do vaso, sem coagular (trombose) nem extravasar (hemorragia). Didaticamente, podemos dividir a hemostasia em 3 etapas: 1- Hemostasia Primária; 2- Coagulação; 3- Fibrinólise. A totalidade dos processos envolvidos nestas etapas depende de elementos independentes, porém interativos, tais como: - vasos sangüíneos (particularmente o endotélio); - elementos celulares sangüíneos (particularmente plaquetas); - proteínas procoagulantes do plasma (fatores de coagulação); - sistema fibrinolítico, - proteínas inibitórias e anticoagulantes. 56 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores No caso de uma hemorragia (lesão de vaso), os mecanismos da hemostasia são mobilizados. Inicialmente ocorre uma vasoconstrição que reduz o fluxo sangüíneo no vaso lesado, minimizando a perda de sangue no local, até que a ação conjunta das plaquetas e dos fatores da coagulação promova o tamponamento. Este tamponamento perdura até que a tecido vascular lesado se regenere, ação dos fibroblastos. Em seguida ocorre a dissolução do tampão hemostático. Grosseiramente, os eventos da hemostasia podem ser esquematizados da seguinte forma: Parede vascular lesada → fator tecidual → ativação das plaquetas → vasoconstrição → diminuição do volume sangüíneo → aumento da concentração do fator tecidual → ativação dos fatores plasmáticos → formação da fibrina que se junta ao trombo plaquetário → tampão hemostático → regeneração vascular → fibrinólise. A eficiência deste sistema de eventos, que visa a preservação da massa sangüínea, depende de uma ação localizada (focalizada pela hemostasia primária), da não extensão do processo (fatores inibidores e fibrinolíticos) e da rapidez dos processos. Quando ocorre falha ou aberração dos mecanismos homeostáticos, temos as síndromes hemorrágicas ou a trombose e a coagulação intravascular disseminada. A- Hemostasia Primária: É o conjunto de fenômenos responsáveis pela focalização inicial do processo através da formação do agregado plaquetário, e envolve principalmente os vasos, as plaquetas, fibrinogênio e o fator de von Willebrand. Esses fenômenos compreendem: - vasoconstrição reflexa; - adesão das plaquetas às estruturas do sub-endotélio; - ativação das plaquetas; - agregação das plaquetas 57 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Vasos sangüíneos: O endotélio normal mantêm-se como uma superfície tromboresistente em função, principalmente, da produção de prostaciclina PG12 (potente vasodilatador e antiagregante plaquetário). Também produz e estoca o fator de von Willebrand. Quando ocorre uma lesão, o sub-endotélio, ao contrário do endotélio, é capaz de desencadear o mecanismo hemostático, através de estruturas sub-endoteliais que estimulam os elementos procoagulantes do sistema. Neste caso, as plaquetas aderem-se ao sub-endotélio em segundos, e em alguns minutos é formada a fibrina. Plaquetas: São fragmentos anucleados de megacariócitos de importância central nos primeiros passos da ativação do sistema hemostático. As plaquetas além de formar o trombo plaquetário, são uma fonte de substâncias que vão promover a vasoconstrição, as modificações plaquetárias com emissão de pseudópodes, a agregação plaquetária e a integração com as proteínas da coagulação. Ativação Plaquetária ↓ Ativação da fosfalipase C ↓ Ativação da proteína C quinase ↓ Aumento de Cálcio intracelular ↓ Desenvolvimento de pseudópodes ↓ Agregação plaquetária ↓ Secreção de ADP → ativar a aderência ↓ Contração da actinomiosina plaquetária → retração do coágulo 58 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Fator de von Willebrand – (FvW) Consiste numa proteína produzida no endotélio vascular que faz a ligação entre a glicoproteína da membrana da plaqueta e o colágeno do sub-endotélio. B- Coagulação: O mecanismo da coagulação consiste numa série de reações que culminam na formação de uma proteína, insolúvel em uréia, denominada fibrina. Este gel de fibrina se une ao trombo plaquetário formando o tampão hemostático ou coágulo propriamente dito, aumentando a eficiência do efeito mecânico de tamponamento. A transformação do fibrinogênio em fibrina se dá por um sistema complexo de reações enzimáticas que podem ser ativadas por duas vias: via extrínseca e via intrínseca. FONTE: TERRA, 2000. Via extrínseca: → O agente desencadeante é o fator tissular liberado por lesão do endotélio, que ativa o fator VII, que vai exercer sua ação proteolítica sobre os fatores X e IX. 59 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores FONTE: TERRA, 2000. Via Intrínseca: → O agente desencadeante é o contato com uma superfície eletronegativa no sub-endotélio, não havendo entrada de elemento exógeno, e por isso chamada de via intrínseca. Em contato com estas superfícies eletronegativas, o fator XII é ativado, que ativa o fator XI, que ativa o fator IX. O fator IX junto com o fator VIII ativam o fator X (via comum). FONTE: TERRA, 2000. 60 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Fatores da coagulação: Origem e sinônimos. Os fatores envolvidos nesta fase (coagulação) são substâncias sintetizadas com antecedência e que circulam no plasma na forma inativa, e que serão ativadas na hora e local da lesão. Assim, na complexa cadeia de fatores da coagulação antecedentes da trombina, cada proteína ativada (produto) funciona como enzima que ativa a proteína seguinte (substrato), sucessivamente, até a ativação da protrombina. 61 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores C- Fibrinólise: Nesta fase ocorre a digestão enzimática da malha de fibrina permitindo uma posterior repermeabilização do vaso. O sistema fibrinolítico é composto de vários ativadores e inibidores e de uma proteína central, o plasminogênio. Os ativadores são os fatores da fase contato da coagulação, o t-PA ou ativador tissular do plasminogênio, e o SCU-PA ou prourokinase. O plasminogênio é o precursor inativo que se transforma em plasmina poração de seus ativadores. A plasmina é uma enzima capaz de proteolizar a fibrina, o fibrinogênio, e os fatores Va e VIIIa. A ação proteolítica da plasmina produz os chamados produtos de degradação do fibrinogênio e da fibrina. O principal inibidor da plasmina é a alfa2-antiplasmina. FONTE: TERRA, 2000. D- Outros fatores de regulação da hemostasia: → Os fatores ativados que se desprendem do coágulo são rapidamente neutralizados por inibidores fisiológicos da coagulação: 62 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores - Antitrombina III : É uma potente enzima proteolítica capaz de inibir a calicreína e os fatores XII, XIa, IXa, Xa e IIa. A heparina acelera em 100 vezes a ação da antitrombina III; - Proteína C e S: são proteínas dependentes da vit. K capazes de inibir os fatores Va e VIIIa. Distúrbios da hemostasia I- Distúrbios Plaquetários: São denominadas púrpuras plaquetárias e caracterizam-se clinicamente por apresentarem petéquias, sangramento espontâneo ou por traumas. Podem ser: a- Plaquetopênicas (defeito quantitativo): → Hereditárias: púrpura amegacariocítica, síndrome de Fanconi. → Adquiridas: anemia aplástica, inibição sobre megacariócitos por drogas, deficiência de vitamina B12, ácido fólico, infiltração medular por células leucêmicas. → Aumento da destruição: na coagulação intravascular disseminada (CID), doenças auto-imunes, pós transfusão, hiperesplenismo, circulação extracorpórea. b- Plaquetopáticas (defeito qualitativo): → Hereditárias: diminuição da adesão plaquetária no sub-endotélio (doença de von Willebrand, síndrome de Bernard-Soulier), tromboastenia, trombocitopatias. → Adquiridas: induzidas por medicamentos, distúrbios mieloproliferativos. c- Trombocitose (número elevado de plaquetas): → doenças mieloproliferativas. II- Distúrbios Vasculares: → Púrpuras vasculares hereditárias: telangectasia de Rendu-Osler-Weber, doença congênita do colágeno. → Púrpuras vasculares adquiridas: vasculites, causas mecânicas. 63 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores III- Distúrbios da coagulação plasmática: → Hereditários: deficiência de síntese de fatores plasmáticos (hemofilia A-fator VIII e hemofilia B-fator IX). → Adquiridas: Na coagulação intravascular disseminada (CID), doenças hepáticas, deficiência de vitamina K. IV- Trombose (alteração no equilíbrio: hemostasia e seu controle): → Trombose ligada ao fator vascular; → Trombose ligada à função plaquetária; → Trombose ligada aos fatores plasmáticos da coagulação. Estudo laboratorial da hemostasia: De modo geral, para o diagnóstico das alterações da hemostasia ou para avaliações pré operatórias, os laboratórios de análises clínicas realizam em suas rotinas os seguintes exames: → avaliação plaquetária; → tempo de coagulação (TC) → tempo de sangramento (TS); → prova do laço ou fragilidade capilar (PL) → retração do coágulo (RC) → tempo de atividade de protrombina (TP ou TAP) → tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) • Avaliação plaquetária: atualmente a avaliação quantitativa das plaquetas é obtida através de contadores eletrônicos, aliada à observação da lâmina de sangue periférico, para detecção de possíveis anormalidades que alteram as contagens automatizadas (aglomerados de plaquetas, satelitismo plaquetário, plaquetas gigantes contadas como leucócitos). O valor normal de plaquetas gira em torno de 150 a 400 mil/mm3. 64 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores • Tempo de coagulação: o sangue colhido é transferido para um tubo de ensaio e a partir daí (contato com a parede do tubo) mede-se o tempo até a formação de um coágulo firme. O valor normal pode ser considerado entre 6 a 12 minutos. O tempo de coagulação mede a via intrínseca da coagulação. Porém, é um teste bastante grosseiro, sujeito a muitas interferências (diâmetro do tubo, coleta traumática, garroteamento prolongado). Além disso o TC não detecta pacientes hemofílicos leves e moderados sujeitos à sangramentos. Portanto o TC tem pouco valor clínico. • Tempo de sangramento: este teste mede a eficiência do tampão plaquetário em estancar o sangue após incisão na pele. Avalia possíveis defeitos plaquetários e vasculares na hemostasia primária. É importante no diagnóstico da doença de von Willebrand. O valor normal (método de Ivy) é de 1 a 7 minutos. • Prova do laço ou Fragilidade Capilar: mede a hemostasia primária e estabelece as condições de permeabilidade e fragilidade capilar pelo aumento da pressão interna dos capilares feita por garroteamento. O aparecimento de até 5 petéquias é considerado normal. A prova do laço tem valor duvidoso pois em algumas púrpuras plaquetárias e vasculares o teste se mostra negativo. • Retração do coágulo (RC): fornece dados relativos à atividade plaquetária e de sua enzima trombastenina, na retração do coágulo. O sangue é colhido e transferido, sem anticoagulante, a um tudo de ensaio que deve permanecer em banho-maria à 37ºC. Se após duas horas não houver retração, deixar o tubo por 24 horas e aí então confirmar a não retração. O resultado deve ser expresso como coágulo retrátil, parcialmente retrátil, e irretrátil. • Tempo de atividade protrombina (TP ou TAP): avalia o mecanismo extrínseco da coagulação. O plasma pobre em plaquetas (ppp) recebe o fator tecidual(fator extrínseco) e cálcio, e a via extrínseca é ativada culminando na formação da fibrina. O laboratório deve estabelecer seus próprios valores de referência utilizando um controle com pool de 65 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores plasma normal, que gira em torno de 12 a 15 segundos. Nesta prova deve-se levar em consideração também a qualidade da tromboplastina utilizada, indicada pelo fator ISI. Este teste (TP) também é utilizado para monitorar pacientes em uso de anticoagulantes orais (cumarínicos). • Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA): avalia a via intrínseca da coagulação. Neste teste o plasma pobre em plaquetas (ppp) em contato com ativador de contato e o cálcio, sofre ativação dos fatores da via intrínseca formando a fibrina. Aqui também o tempo considerado normal depende de cada laboratório (pool de plasma normal), e gira em torno de até 35 segundos. O TTPA também é utilizado para monitorar pacientes que usam anticoagulantes como heparina de alto peso molecular. ------ FIM MÓDULO V ----- 66 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Referências Bibliográficas BRUM, M. A. R. Diagnóstico Laboratorial das Leucemias. Campo Grande, 2003. DIGGS, L. W.; STURM, D.; BELL, A. The Morphology of Human Blood Cells. 5ª ed. Abbott Laboratories, 1985. FAILACE, Renato. Hemograma, manual de interpretação. 3ª ed. Artmed, Porto Alegre, 1995. FLEURY, MarcosKneipp. Cadernos de Hematologia: Hematopoese. Rio de Janeiro, 1998. HAYHOE, F.G.J.; FLEMANS, R.J. Um Atlas colorido de Citologia Hematológica. 2ª ed. Artes médicas, 1989. MATOS, Maria de Fátima Cepa. Hemostasia-Coagulação. UFMS, Campo Grande. NAOUM, Paulo César. 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Mc Grow Hill, London, 1998. ------ FIM DO CURSO ----- 68 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores
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