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O Estado Plurinacional

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FACULDADE BRASILEIRA DE VITÓRIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
AMANDA CRISTINA PEDROSA DIEGUEZ
BRUNA TRANCOUSO DOS SANTOS
ELLEN SILVA KRÜGER
GRACIELLY VIEIRA CAMPOS
JUVENILDA SILVA RIBEIRO
MARCO ANTONIO DE SOUZA CAMPELLO
RÚBIA BORGES MONTEIRO
 O ESTADO PLURINACIONAL
VITÓRIA - ES
2013
AMANDA CRISTINA PEDROSA DIEGUEZ
BRUNA TRANCOUSO DOS SANTOS
ELLEN SILVA KRÜGER
GRACIELLY VIEIRA CAMPOS
JUVENILDA SILVA RIBEIRO
MARCO ANTONIO DE SOUZA CAMPELLO
RÚBIA BORGES MONTEIRO
O ESTADO PLURINACIONAL
Trabalho apresentado à disciplina de Ciência Política do Curso de Graduação em Direito da Faculdade Brasileira – MULTIVIX, como requisito para avaliação do segundo bimestre. 
Professora orientadora: Tatyana Lellis
VITÓRIA - ES
2013
SUMÁRIO
1 CONCEITO DE ESTADO PLURINACIONAL ................................................. 4
2 DIFERENÇAS DO ESTADO COMUM E ESTADO PLURINACIONAL .......... 5
2.1 Quanto ao conceito....................................................................................5
2.2 Quanto à estrutura do Estado Plurinacional - Divisão dos poderes.....7
2.3 Quanto à estrutura do Estado Plurinacional – Constituição..................8
2.4 Quanto à estrutura do Estado Plurinacional - Cidadania......................10
3 EXEMPLO DE ESTADO PLURINACIONAL................................................. 11
4 CONCEPÇÕES DO GRUPO SOBRE O ESTADO PLURINACIONAL..........12
5 REFERÊNCIAS...............…........................................................................... 14
CONCEITO DE ESTADO PLURINACIONAL
Para conceituar Estado Plurinacional, cujo surgimento para os doutrinadores ocorre na Bolívia ao Equador, recorremos ao professor José Luiz Quadros de Magalhães (2013). Ele constrói um conceito de Estado Plurinacional por meio de um resgate histórico, isso porque o conceito de Estado Plurinacional perpassa pelo seu potencial revolucionário. É necessário, portanto, desvendar o paradigma do Estado Nacional (ou Estado Moderno), que possui um contexto histórico de colonização, exploração e exclusão de grupos étnicos, religiosos e societários.
No século XIX, na América Latina, os Estados nacionais buscaram lutar pela independência, a fim de eliminar o autoritarismo e a violência dos detentores do poder (Igreja e Império) sobre o índio, o negro escravo, o mestiço, o crioulo, o camponês e ao operariado urbano que foram marginalizados e segregados da identidade nacional com a negação de sua cultura e do conceito de sociedade Moderna.
Magalhães nos lembra de que um fator comum nestes Estados é o fato de que, quase invariavelmente, foram Estados construídos para uma parcela minoritária da população, onde não interessava para as elites econômicas e militares que a maior parte da população se sentisse integrante, se sentisse parte de Estado. Nas palavras de José Luiz Quadros de Magalhães, o Estado Nacional impõe (2010):
A uniformização de valores e comportamentos, especialmente na família e na forma de propriedade exclui radicalmente grupos sociais (étnicos e culturais) distintos que, ou se enquadram ou são jogados, aos milhões, para fora desta sociedade constitucionalizada (uniformizada). O destino destes povos é a alienação, o aculturamento e perda de raízes ou então a miséria, os presídios ou ainda os manicômios. (MAGALHÃES, 2010:53).
Dessa forma, em proporções diferentes em toda a América, milhões de povos originários (de grupos indígenas os mais distintos) assim como milhões de forçados imigrantes africanos, foram radicalmente excluídos de qualquer ideia de nacionalidade. O direito não era para estas maiorias e a nacionalidade não era para estas pessoas. Não interessava às elites que indígenas e africanos se sentissem nacionais. Era melhor que permanecessem à margem, ou mesmo, no caso dos indígenas, que não existissem: milhões foram mortos (assim como no Brasil).
As revoluções da Bolívia e do Equador foram capazes de romper com os sistemas e instituições que os dominavam e excluíam sua própria história. Incorporaram na Constituição o conceito de ''Bem Viver'', fornecendo um novo paradigma na organização social, capaz de atender as demandas dos povos e nações historicamente marginalizados, através ideia de “poder-ser”.
Nesse sentido, as revoluções da Bolívia e do Equador, seus poderes constituintes democráticos, fundam um novo Estado capaz de superar a brutalidade dos estados nacionais nas Américas: o Estado plurinacional, democrático e popular.
DIFERENÇAS DO ESTADO COMUM E ESTADO PLURINACIONAL
2.1 Quanto ao conceito
Para a pesquisadora Ileana Almeida (2008), a grande revolução do Estado Plurinacional é o fato de que este Estado constitucional, democrático participativo e dialógico pode finalmente romper com as bases teóricas e sociais do Estado nacional constitucional e democrático representativo (pouco democrático e nada representativo dos grupos não uniformizados). Ileana Almeida (2008) aponta o Estado Comum como uniformizador de valores e radicalmente excludente. No mesmo sentido, José Luiz Quadros de Magalhães (2012) lembra a força da Globalização no Estado Comum, o que nos tornaria povos de cultura uniformizada.
Sendo assim, o Estado Moderno está constituído por uma organização constitucional democrática participativa e dialógica, onde o que reina é, na verdade, o estabelecimento de uma classe dominante, classes de homens de cor branca, por elites militares e econômicas. Os direitos sociais para população dos indígenas e africanos ficaram totalmente perdidos, não importava onde estariam alocados, qual o pensamento que tinham sobre qualquer assunto; sua existência se tornaria alienada, sem cultura, sem suas raízes, sem seus direitos, sem nada. 
Mesmo como essas informações, ainda falamos em Estado Democrático? Esse não era um Estado democrático e nenhum pouco representativo, principalmente pelos grupos desfavorecidos. A forma correta para se titularizar esse Estado seria como um reino de intolerantes, de excludentes.
Ileana Almeida nos ajuda a refletir sobre o processo de construção do Estado Plurinacional no Equador: 
Sin embargo, no se toma encuenta que losgruos étnicos no luchansimplemente por parcelas de tierrascultivables, sino por underecho histórico. Por lomismo se defiendenlastierrascomunales y se trata de preservar las zonas de significado ecológico-cultural (ALMEIDA, 2008:19).
Certamente, o Estado Plurinacional tenta romper o projeto uniformizador do Estado Comum que sustenta a sociedade capitalista como sistema único fundado na falsa naturalização da família e da propriedade, e mais tarde da economia liberal. Nas palavras de Ileana Almeida:
Al funcionar el Estado como representación de uma nacion única cumpletambiénsu papel enel plano ideológico. La privación de derechos políticos a las nacionalidades no hispanizadas llevaaldesconocimiento de la existência misma de otrospueblos y convierte al indígena em vitima del racismo. La ideología de ladiscriminación, aunque no es oficial, de hecho está generalizada em los diferentes estratos étnicos. Estoempuja a muchos indígenas a abandonar suidentidad y pasar a forma filas de  lanaciónecuatorianaaunque, pó lo general, ensu sectores más explotados (ALMEIDA, 2008:21).
Assim, para Ileana Almeida, nasce uma nova América Latina (a América Plural ou Indo-afro-latino América), que nasce renovada das democracias dialógicas populares, se redescobrindo indígena, realmente democrática, economicamente igualitária e socialmente e culturalmente diversa, plural. Essa nova América surge em meio à crise econômica e ambiental global, que anuncia o fim de uma época de violências, fundada no egoísmo e na competição; anuncia, finalmente, algo de novo: democrático e diverso, capaz de romper com a intolerância unificadora do Estado Moderno.
Portanto, o Estado Moderno caracterizado pela centralização do poder político, unidade territorial, unidade nacional, democracia representativa, burocracia, separação entre públicoe privado e poderes Executivo, Legislativo e Judiciários únicos para toda nação choca-se com uma nova proposta: o Estado Plurinacional. Este se propõe a formar a autêntica expressão de vontade do povo, de soberania popular, e de legitimação de poder por meio de instituições estatais regionalizadas, o respeito à propriedade privada dos ancestrais, menor burocracia e fortalecimento das metodologias culturais para a solução dos conflitos, Poder Constituinte Originário singular, Poder Legislativo com maior participação popular direta e Poder Judiciário de representação regionalizada.
Quanto à estrutura do Estado Plurinacional - Divisão dos poderes 
A proposta de plurinacionalidade, no caso da Bolívia e do Equador, provocou mudanças institucionais nas estruturas do Estado, no Judiciário, no sistema eleitoral e representativo, entre outras. Aspectos jurídicos na organização dos poderes da Bolívia e Equador são marcantes. 
A professora Cynthia Soares Carneiro (2010) faz apontamentos: a construção da unidade nacional pelo consenso dialógico plurinacional; a descentralização das instituições estatais, admitindo uma participação cidadã efetiva e reconhecendo sua diversidade, a função de subsidiariedade e responsabilidade dos Estados e dos organismos de integração regional e multilaterais em relação às necessidades locais na efetivação de direitos; a flexibilização das limitações à circulação de pessoas, garantindo o direito de permanência e direitos políticos aos estrangeiros (dimensão mais ampla à plurinacionalidade declarada que vai além da multiculturalidade dos povos originários); o reconhecimento e o estímulo à constituição de novas formas de propriedade da terra.
Parece que essa nova dimensão política precisou ser acrescentada aos princípios do Judiciário, especialmente quando se baseia em conceitos que provocam limitações do julgamento. Embora a Bolívia permaneça, constitucionalmente, um Estado unitário, certamente acusa diferentes traços no exercício do poder, em função da Carta Magna reconhecer a legitimidade dos modos de se fazer justiça por parte das comunidades indígenas, segundo usos e costumes, e do poder desses municípios comunais de vetar decisões tomadas a nível nacional. 
Devemos considerar, ainda, que apesar de a Bolívia não ser formalmente uma federação, pode-se dizer que há uma relação do centro com os municípios indígenas autônomos, uma vez que cada povo ou nação indígena se rege e direciona suas demandas ao poder central de acordo a seus próprios usos e costumes.
No Poder Judiciário boliviano os membros da Corte Suprema da Bolívia são eleitos para um mandato de dez anos pelo Congresso Nacional.
O Equador tem um Congresso unicameral formado por 100 (cem) membros, eleitos diretamente por voto popular, nas províncias, para um período de 4 (quatro) anos. O Equador é dividido em 22 (vinte e duas) províncias, divididas em municípios. Tanto as províncias quanto os municípios têm legislativos locais. 
Quanto ao Poder Judiciário, a Suprema Corte do Equador é composta de 31 juízes. O país não aceita jurisdição compulsória da Corte Internacional de Justiça. Os novos membros da Suprema Corte são escolhidos pelos membros atuais da corte. Há também uma Corte Eleitoral e uma Corte Constitucional.
Quanto à estrutura do Estado Plurinacional - Constituição 
A professora Cynthia Soares Carneiro (2010) elenca a importância de alguns artigos da Constituição da Bolívia. O artigo 14, que trata dos direitos fundamentais e garantias reforça a recepção e validade dos tratados internacionais de direitos humanos; o artigo 20 elenca o direito à água e tratamento de esgoto como direitos humanos; o artigo 79 trata de educação e atribui aos direitos humanos o principal componente para se trabalhar a diversidade cultural, linguística e que deve ser observada no sistema educacional do país. Nos artigos 199 há como critério para nomeações de magistrados para integrar o Tribunal Constitucional Plurinacional, o conhecimento e experiência em direitos humanos; o mesmo se exige da Defensoria Pública que deve se pautar pela proteção e promoção dos direitos humanos, inclusive submetendo ao controle da população relatórios periódicos que demonstrem a situação dos direitos humanos no país. No artigo 255 reforça a forma de articulação internacional do país que deve primar pelos direitos humanos e, ainda, o artigo 410 traz os critérios e conteúdos principais em caso de reformas constitucionais e os direitos humanos integram o chamado bloco de constitucionalidade, ou seja, qualquer mudança constitucional deve ter como princípio a preservação e promoção dos direitos humanos. 
Dessa forma, o traço mais marcante da nova Constituição talvez seja a conexão entre direitos universais e abstratos centrados na ideia de indivíduo, e direitos tradicionais, comunitários, centrados na ideia do coletivo. É interessante notar que os princípios básicos da organização liberal do Estado não são negados, apenas acrescentados por outras atribuições de pessoa jurídica, como aponta Áurea Mota: 
Neste sentido, as principais inovações presentes na Constituição, podem ser sobremaneira sentidas no que se refere às autonomias e à livre determinação; à concepção de pessoa jurídica mais ampla do que somente individual – onde observamos explicitamente a emergência do fenômeno que chamo de complexificação da noção de pessoa; na forte percepção de que a preservação, a forma de distribuição e os usos da Pachamama (Mãe Terra), bem como dos recursos naturais bolivianos são vistos como essenciais para o desenvolvimento integral do país; e, por fim, de uma forma democrática participativa popular ampliada (Mota, 2009: 145).
Também notamos na Constituição Política de 2008 da Bolívia evidente ampliação dos direitos fundamentais, praticamente retratando a Declaração Universal de Direitos Humanos e os Pactos decorrentes, além de outros tratados de direitos humanos e direito comunitário. Ocorre ainda uma nova concepção e um redesenho que articula todos os direitos de modo integral assumidos pelo Estado, é o que podemos observar no texto do artigo 13:
Artículo 13. I. Los derechosreconocidos por esta Constituciónsoninviolables, universales, interdependientes, indivisibles y progresivos. El Estado tieneeldeber de promoverlos, protegerlos y respetarlos. II. Los derechos que proclama esta Constitución no serán entendidos como negación de otrosderechosno enunciados. 
III. La clasificación de losderechosestablecidaen esta Constitución no determina jerarquíaalgunanisuperioridad de unos derechos sobre otros. 
IV Los tratados y conveniosinternacionales ratificados por laAsamblea Legislativa Plurinacional, que reconocenlosderechos humanos y que prohíbensulimitaciónenlos Estados de Excepciónprevalecenenelorden interno. Los derechos y deberes consagrados en esta Constitución se interpretarán de conformidadconlos Tratados internacionales de derechos humanos ratificados por Bolivia. (Bolívia, Nueva Constitución Politica Nacional: 2008).
Sintetizando as inovações constitucionais, o professor Fernando Antonio Carvalho Dantas (2012) aponta as principais características do Estado Plurinacional:
Substituição da continuidade constitucional pela ruptura; inovação dos textos legais e das Constituições; institucionalização baseada em princípios, e não em regras; extensão do texto Constitucional baseado em linguagem acessível; proibição de que os poderes constituídos estabeleçam formas de reforma constitucional; maior grau de rigidez no processo constituinte; reconstrução do sistema de democracia participativa, representativa e comunitária; e integração de povos e recursos naturais, fazendo surgir um novo modelo de constituição econômica (DANTAS in ALVES, 2012, p.141).
Quanto à estrutura do Estado Plurinacional– cidadania
Desde o tempo da Grécia clássica discute-se o exercício da cidadania. Percebemos que, de uma forma geral, o cidadão tem sido tomado como referente a um membro individual da comunidade política, e considerado como uma das referências básicas da identidadeindividual e coletiva das comunidades. O conceito liberal e democrático de cidadania nunca foi estático. Foi reformulado por uma série de princípios normativos liberais, democráticos, sociais e nacionais ao longo dos anos.
Uma das principais diferenças do Estado Plurinacional para o Estado Moderno (de política liberal) é a importância crescente da categoria de cidadão em oposição àquela de pessoa/indivíduo a qual estamos mais habituados. O que importa ao se fundamentarem os princípios de justiça em uma sociedade plurinacional é o estabelecimento de uma concepção política de ser cidadão. 
Assim, nos confrontamos com uma apresentação de cidadania por princípios mais políticos e menos territorialistas. Essa mudança parece sugerir que haverá mais oportunidades de ligar o pluralismo cultural de estados plurinacionais aos princípios da justiça. No mínimo, essas oportunidades parecem maiores do que aquelas sugeridas por focos mais individualistas. 
O artigo 269 da Constituição da Bolívia, primeiro da terceira parte intitulada “Estrutura e organização territorial do estado”, representa uma inovação face aos textos constitucionais anteriores, precisamente por incluir na configuração territorial da Bolívia, além dos departamentos, províncias e municípios, os territórios indígenas originários campesinos. O direito à autodeterminação, ao menos nas esferas “municipais”, está assegurado aos povos indígenas, sobretudo pelo artigo 289, o qual estabelece que: 
La autonomía indígena originaria campesina consiste en el autogobierno como ejercicio de la libre determinación de las naciones y los pueblos indígena originario campesinos, cuya población comparte territorio, cultura, historia, lenguas, y organización o instituciones jurídicas, políticas, sociales y económicas propias (Bolívia, Nueva Constitución Politica Nacional: 2008).
Dessa maneira, a descentralização alcançada pelas autonomias indígenas, parece encaminhar o sistema político para um Estado mais próximo da legitimidade do cidadão plurinacional. Mas tudo isso se encontra, ainda, em aberto, uma vez que a Constituição, não obstante sua extensão, ainda é uma peça normativa genérica cujos objetivos gerais, para serem alcançados, dependem de leis ordinárias que surgirão do parlamento. O futuro nos dirá se a Constituição boliviana se torna um mecanismo político para que nesse país se promova a formação de uma identidade nacional capaz de superar as mazelas da desnaturação das etnias que podem ser uma ameaça à unidade do Estado.
EXEMPLO DE ESTADO PLURINACIONAL
Há constitucionalistas que apontam a Bolívia e o Equador como os países de sinais mais claros de superação do modelo de Estado Moderno para o modelo de Estado Plurinacional. Fato talvez oriundo, nesses dois países, de recentes movimentos revolucionários que influenciaram suas novas Constituições, promulgadas em 2008. As recentes Constituições trazem, em especial, mudanças positivadas no poder constituinte originário. 
As alterações envolvem ampla mobilização popular, sendo vistas por estudiosos do direito como uma autêntica expressão de vontade do povo, de soberania popular, e de legitimação de poder.
O Estado plurinacional reconhece a democracia participativa como base da democracia representativa e garante a existência de formas de constituição da família e da economia segundo os valores tradicionais dos diversos grupos sociais (étnicos e culturais) existentes (MAGALHÃES, 2010, p.92).
Essas experiências são apontadas como formadoras de um Estado Plurinacional porque atribuem a este tipo de Estado a característica de autonomia, inclusive jurídica, dos diversos grupos étnicos e culturais internos. A nova Constituição da Bolívia concebe amplos e inovadores direitos e garantias aos povos originários, inclusive com a plena participação destes povos no governo do Estado, tanto na função legislativa, quanto nas funções judiciária e executiva. E, avançando na ótica do Estado plurinacional, a nova Constituição boliviana reafirma a separação ente Igreja e Estado, respeitando, assim, todas as crenças, dentre outras propostas socializadoras que agregam os povos, respeitando e valorizando suas diferenças. 
CONCEPÇÕES DO GRUPO SOBRE O ESTADO PLURINACIONAL
Doutrinadores do Direito afirmam que para a compreensão da estratégia do novo texto Constitucional da Bolívia e Equador é necessário um conhecimento aprofundado das lutas dos povos indígenas, além da importância do aspecto democrático e dialógico no tratamento dado ao Poder Constituinte. Tal Poder é afirmado como instrumento assegurador de envolvimento das diferentes culturas e dos diversos povos, que reivindicam um Estado multiculturalista, em outras palavras, um Estado plurinacional.
Importante destacar que com os fundamentos de uma democracia participativa e dialógica nasce o conceito de Estado plurinacional que, a princípio, supera o Estado Moderno, derrubando a ideologia de intolerância da diversidade. Embora sejam necessários ainda outros estudos e análises aprofundadas do processo de construção do Estado Plurinacional, as nossas leituras sobre o mesmo nos permitiram compreender que uma nova organização de Estado torna-se necessária, como alternativa ao Estado capitalista neoliberal.
Se analisarmos este novo modelo de maneira holística, podemos encontrar respaldo nos ensinamentos de Jürgem Habermas, o qual propõe um modelo democrático de espaços plurais de deliberação e debate. Considera de crucial importância a comunicação entre os homens e a participação de todos nos debates. Talvez seja uma pretensão grande demais para o grupo, com leituras restritas, tentar associar tal grande autor às tentativas de se criar um novo modelo de Estado, mas parece existir influência dos ensinamentos habermasianos na busca de inclusão de uma pluralidade de grupos nas decisões e rumos do Estado. Embora um novo modelo estatal não tenha sido objeto das proposições do autor, e sim o fortalecimento do Judiciário, esclarecemos que o que apontamos existir são influências da ideologia política proposta por Jürgem Habermas.
Dentro dessa discussão, é relevante que voltemos o olhar para o Brasil. Nossa história é marcada pela invasão europeia, que se expressou na exploração predadora e no colonialismo. No processo de libertação da coroa as propostas de integração territorial, de fim da escravidão e de respeito aos povos originários se perderam. Assim, apesar da vitória da independência, diversos povos (índios, quilombolas e outros) ficaram marcadamente dominados por uma oligarquia rural - e seguiram mergulhados na submissão, uma vez que essas oligarquias não tinham qualquer pretensão de incluí-los na vida da nova nação brasileira. Não bastasse isso, a demarcação de fronteiras ocorreu sem levar em conta as nacionalidades que por centenas de anos ali viviam. Para esses povos vistos como seres de segunda categoria a melhor saída encontrada, quando não lograram a dizimação, foi a tutela. Haja vista nosso atual Código Civil considerar os índios relativamente incapazes. Em outras palavras, anos depois da conquista da emancipação eles ainda são considerados incapazes de gerir a própria vida, precisam ser tutelados.
Então, a proposta que nos parece mais conveniente é minimamente respeitar a Constituição Brasileira de 1988, tornar fático aquilo que está positivado, a exemplo do artigo 231:
São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. (Brasil, Constituição da República Federativa do Brasil: 1988).
É certo que a Constituição estipula a necessidade de diálogo com os povos envolvidos, mas isso não significa, em absoluto, que eles sejam realmente ouvidos. Basta observar as manifestações que são feitas em Brasília, sem qualquer resultado prático, como se pode ver no caso da usina Belo Monte que segue sendo construída apesar de todo o rechaço por parte dos povos indígenas e dos ribeirinhos.Na prática, há um enorme distanciamento entre as garantias constitucionais e a realidade vivida pelos povos no Brasil.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Ileana. El Estado Plurinacional – valor histórico e libertad política para los indígenas ecuatorianos. Editora AbyaYala, Quito, Ecuador, 2008.
ALVES, Marina Voctório. Neoconstitucionalismo e Novo Constitucionalismo Latino-Americano: características e distinções. Revista SRJ, Rio de Janeiro, V.19, n34, p.133-145, ago, 2012.
BOLÍVIA. Nueva Constitución Politica Nacional. La Paz. Asamblea Nacional Constituynte. Octubre de 2008. Disponível em <http://www.presidencia.gov.bo/download/constitución.pdf> Acesso em: 27 out. 2013. 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Organização do texto: Juarez de Oliveira. 4. ed. São Paulo: Saraiva (Série Legislação Brasileira), 1990.
CARNEIRO, Cynthia Soares; VADEL, Javier. Direito de Integração Sul-Americano: ordem jurídica e sistema-mundo/colonial. In: VADEL, J. (Org.). Os novos rumos do regionalismo e as alternativas políticas na América do Sul. 1 ed. Belo Horizonte: Editora PUC Minas, v. 1, 2010.
EQUADOR. Constitución de Ecuador. AsambleaConstituyente. Disponível em: <http://www.aceproject.org/ero-en/regions/americas/EC/ecuador-constitucion-politica-de-ecuador-2010/view>. Acesso em: 5 nov. 2013.
GUIMARÃES, Gabriel Fernandes Rocha. Etnonacionalismo: o MAS e a formação do estado plurinacional boliviano. Revista de Ciência Política: teoria&pesquisa. Editora UFMG. vol. 21, n. 1, p. 61-72, jan./jun. 2012.
MAGALHÃES, José Luiz Quadros de. O Estado plurinacional na América Latina. Disponível em: < http://jusvi.com/artigos/38959/2> Acesso em: 26 de outubro de 2013.
_______________________________. Estado Plurinacional e Direito Internacional - Coleção Para Entender - Coordenador da Coleção: Leonardo Nemer C. Brant. Minas Gerais: Juruá, 2012.
MOTA, Áurea. A nova constituição política do estado boliviano. In: J. M. Domingues e A. S. Guimarães (orgs.), A Bolívia no espelho do futuro. Belo Horizonte: UFMG. 2009.
SIQUEIRA, Andrea Cristina Matos. Direitos humanos e novo constitucionalismo latino-americano: Uma construção pluriversal possível a partir de parcerias estratégicas internacionais. Jus Navigandi, Teresina, ano 18, n.3693, 11 ago 2013. Disponível em: http://jus.com.br/artigos/25066. Acesso em: 5 nov. 2013.

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