Buscar

MUQ NETTO. Ditadura e Serviço Social

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FICHAMENTO DE: 
 DITADURA E SERVIÇO SOCIAL - UMA ANÁLISE DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL PÓS-64 
MUQ 
1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 IPC 
DITADURA E SERVIÇO SOCIAL - UMA ANÁLISE DO SERVIÇO SOCIAL NO 
BRASIL PÓS-64
1
 
José Paulo Netto. 
 
 
 
 
Cap. 2 – A renovação do Serviço Social sob a autocracia burguesa 
 
2.2.2. A erosão do Serviço Social “tradicional” no Brasil 
 
 
1. “Pontuamos que a instauração da autocracia burguesa cria os suportes histórico-sociais para a 
evicção do Serviço Social ‘tradicional’ (cf. seção 2.1). [...] a partir da segunda metade da década de 
cinquenta, desenhavam um processo de crise [...] que acabaria por derruir as bases das formas 
tradicionais do exercício profissional (bem como suas representações). Nossa interpretação, portanto, 
atribui à autocracia burguesa a função precipitadora de um processo de erosão do Serviço Social 
‘tradicional’ que lhe é anterior – e cujo desfecho, como se verá, ela conferiu uma direção particular.” 
(p.136-137); 
 
2. “O quadro econômico-social do final dos anos cinquenta, em plena alavancagem da 
industrialização pesada, colocava demandas de intervenção sobre a “questão social” que desdobravam 
amplamente as práticas que os assistentes sociais brasileiros estavam cristalizados como próprias de 
sua atividade ([...]nos processo das abordagens individual e grupal). [...] então, o empenho profissional 
para desenvolver outras modalidades interventivas, com a assunção da abordagem “comunitária” 
enquanto outro “processo” profissional.” (p.137); 
 
3. Esta assunção – que se faz mediante uma incorporação teórica e metodológica [...] denotando um 
esforço de sincronia com as exigências da realidade nacional, terá algumas consequências 
significativas para o evolver imediato da profissão: 
 
a. Uma diz respeito à incidência, no mundo mental do assistente social, de disciplinas sociais 
que sensibilizam o profissional para problemáticas macrossociais. Ainda que o universo 
teórico-metodológico dos suportes originais do Desenvolvimento de Comunidade fosse 
candidamente acrítico e profundamente mistificador dos processos sociais reais e não 
supusesse uma ruptura com os pressupostos gerais do tradicionalismo (Ammann, 1982; 
Castro, 1984; Arcoverde, 1985), ele abria uma fenda num horizonte de preocupações 
basicamente microssociais. 
 
b. Outra consequência, igualmente expressiva, era a inserção do assistente social em equipes 
multiprofissionais [...]. 
 
c. Enfim, posta a natureza das experiências e dos programas, relacionava o assistente social 
com aparelhos administrativos e decisórios do Estado, situando-se ao mesmo tempo em 
face de novas exigências de alocação e gestão de recursos e de circuitos explicitamente 
políticos. 
 
 (p.137-138); 
 
 
 
1
 Netto, J. Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. Cortez, 
1991. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“... a abordagem 
‘comunitária’, em si 
mesma, não 
significa a 
transcendência do 
tradicionalismo, 
mas contém 
vetores que 
apontam para a sua 
ultrapassagem.” 
(NETTO, 1991) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para um melhor 
entendimento, 
consultar: 
Ideologia do 
desenvolvimento 
de comunidade no 
Brasil. Safira 
Ammann 
Netto começará a 
desenvolver uma 
crítica sobre o 
Desenvolvimento 
de Comunidade 
FICHAMENTO DE: 
 DITADURA E SERVIÇO SOCIAL - UMA ANÁLISE DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL PÓS-64 
MUQ 
2 
4. Num curto prazo de tempo, o novo “processo” profissional começou a polarizar intensamente os 
quadros mais jovens da categoria dos assistentes sociais. Contribuía para isso, 
 
a. de um lado e fortemente, o cenário sociopolítico brasileiro e, igualmente, um caldo de 
cultura internacional: a temática da superação do subdesenvolvimento dava a tônica nas 
ciências sociais, na atividade política e imantava interesses governamentais e recursos em 
programas internacionais – estava-se em plena era do desenvolvimentismo [...]. 
 
b. Mas, de outro lado, a gravitação do Desenvolvimento de Comunidade crescia porque, além 
da incorporação ao seu ideário de nomes respeitados na profissão, nele os novos quadros 
visualizavam a forma de intervenção profissional mais consoante com as necessidades e 
as características de uma sociedade como a brasileira – onde a “questão social” tinha 
magnitude elementarmente massiva. 
 
(p.138); 
 
5. “É nesta postura que, nem sempre elaborada teórica e estrategicamente, se filtra a erosão das bases 
do Serviço Social “tradicional”: sem negar-lhe explicitamente a legitimidade, as novas energias 
profissionais dirigiam-se para formas de intervenção (e de representação) que apareciam como mais 
consentâneas com a realidade brasileira que as já consagradas e cristalizadas nos “processos” que o 
identificavam historicamente (o Caso e o Grupo).” (p.138); 
 
6. “[...] tudo colabora para que o tom decisivo da legitimação profissional comece a girar – e, 
realmente se inflete: na plástica expressão de fino analista, o assistente social quer deixar de ser um 
“apóstolo” para investir-se da condição de “agente de mudanças”(Castro, 1984).” (p.138); 
 
7. “[...] Um evento marcante: o II Congresso Brasileiro de Serviço Social, realizado no Rio de 
Janeiro, em 1961 (CBCISS). O congresso não significou apenas “a descoberta do 
desenvolvimentismo” [...]: efetivamente, entronizou a intervenção profissional inscrita no 
Desenvolvimento de Comunidade [...], situada como ponta da profissão e a mais compatível com o 
conjunto de demanda da sociedade brasileira. No desdobramento do largo temário do conclave – 
subordinado ao mote “Desenvolvimento nacional para o bem-estar social” -, despontam três elementos 
que são absolutamente relevantes para detectar a erosão do Serviço Social “tradicional”: 
 
a. Primeiro, o reconhecimento de que a profissão ou se sintoniza com as “solicitações de uma 
sociedade em mudança e em crescimento” ou se arrisca a ver seu exercício “relegado a um 
segundo plano”; 
 
b. Em consequência, levanta-se a necessidade “de [...] aperfeiçoar o aparelhamento 
conceitual do Serviço Social e de [...] elevar o padrão técnico, científico e cultural dos 
profissionais desse campo de atividade”; 
 
c. E, finalmente, a reivindicação de funções não apenas executivas na programação e 
implementação de projetos de desenvolvimento; 
 
 
Mesmo sem explicitar as questões candentes que iam anacronizando o Serviço Social “tradicional” [...], 
estes três elementos delimitam-nas nitidamente: 
 
 A dissincronia com as “solicitações” contemporâneas, 
 A insuficiência da formação profissional e a 
 Subalternidade executiva. 
 
(p.138-139); 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
História do Serviço 
Social na América 
Latina. 
MANRIQUE 
CASTRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Uma sessão 
plenária do 
congresso do 
CBCISS (1962) 
tinha o tema de 
“Aposição do 
Serviço Social no 
desenvolvimento 
social para o bem-
estar”; evoca uma 
certa criticidade, 
até quando 
analisados os 
elementos 
descritos. 
 
 
 
FICHAMENTO DE: 
 DITADURA E SERVIÇO SOCIAL - UMA ANÁLISE DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL PÓS-64 
MUQ 
3 
8. ”Não se constata até aí, abertamente, uma crise do Serviço Social “tradicional”; de fato, ela é 
somente sinalizada. Entretanto, nos anos imediatamente seguintes, a erosão das formas consagradas do 
Serviço Social ganha uma dinâmica mais intensa. Seus detonadores de fundo são extrapofissionais:compreendem o estágio de precipitação da dinâmica sociopolítica da vida brasileira, entre 1960-
61/1964, com aprofundamento e a problematização do processo democrático na sociedade e no Estado 
(cf. capítulo 1, seção 1.1). Possuem, porém, um rebatimento profissional, pela mediação diversa de 
quatro condutos específicos, embora com óbvias vinculações entre si. 
 
a. O primeiro remete ao próprio amadurecimento dos setores da categoria profissional, na 
sua relação com outros protagonistas (profissionais: nas equipes multiprofissionais; 
sociais; grupos da população politicamente organizados) e outras instâncias (núcleos 
administrativos e políticos organizados). 
 
b. O segundo refere-se ao desgarramento de segmentos da Igreja católica em face do seu 
conservantismo tradicional; a emersão de “católicos de esquerda” e mesmo de uma 
esquerda católica, com ativa militância cívica e política afeta sensivelmente a categoria 
profissional. 
 
c. O terceiro é o espraiar do movimento estudantil, que faz seu ingresso nas escolas de 
Serviço Social e tem aí uma ponderação muito peculiar. 
 
d. O quarto é o referencial próprio de parte significativa das ciências sociais do período, 
imantada por dimensões críticas e nacional-populares. 
 
 (p.139-140); 
 
9. “A resultante desses componentes rebate no âmbito profissional do Serviço Social: de uma parte, 
vai criticando práticas e representações “tradicionais”; de outra, introduz diferenciações mesmo no 
interior das práticas e representações que se reclamavam conectados às novas exigências – 
precisamente aquelas que se prendiam ao Desenvolvimento de Comunidade. Vislumbra-se, no primeiro 
lustro dos anos sessenta, um duplo e simultâneo movimento: o visível desprestígio do Serviço Social 
“tradicional” e a crescente valorização do que parecia transcendê-lo no próprio terreno profissional, a 
intervenção no plano “comunitário”. ” (p.140); 
 
10. “E aqui, rebatendo mediatamente o processo sociopolítico em curso e as suas tensões, divisavam-
se três vertentes profissionais – 
 
a. Uma corrente que extrapola para o Desenvolvimento de Comunidade os procedimentos e as 
representações “tradicionais”, apenas alterando o âmbito da sua intervenção; 
 
b. Outra, que pensa o Desenvolvimento de Comunidade numa perspectiva macrossocietária, 
supondo mudanças socioeconômicas estruturais, mas sempre no bojo do ordenamento 
capitalista; 
 
c. E, enfim, uma vertente que pensa o Desenvolvimento de Comunidade como instrumento de 
um processo de transformação social substantiva, conectado à libertação social das classes 
e camadas subalternas. 
 
” (p.140); 
 
11. “Não é um exercício de especulação projetar que o desenvolvimento deste processo profissional, 
nas condições então vividas pela sociedade brasileira, conduziria, a médio prazo pelo menos, à plena 
erosão das formas “tradicionais” do Serviço Social. Evidentemente, não estariam em questão as 
abordagens profissionais individuais e grupal, porém o seu enquadramento teórico-metodológico, 
ideológico e operativo. Ao mesmo tempo, o próprio evolver do Desenvolvimento de Comunidade, muito 
provavelmente, experimentaria os conflitos e as tensões que derivariam do confronto entre suas 
vertentes.” (p.140-141); 
 O movimento 
estudantil nas 
escolas de Serviço 
Social, durante toda 
a década de 
sessenta, foi 
inteiramente 
dominado pela 
esquerda católica 
(primeiro, a 
Juventude 
Universitária 
Católica/JUC; em 
seguida, a Ação 
Popular/AP). Cabe 
observar que 
muitos dirigentes 
estudantis da 
época, com ativa 
militância nos 
processos políticos 
do tempo, 
integrariam 
posteriormente os 
quadros docentes 
do Serviço Social. 
Netto, 1991. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ver nota nº 14, na 
página 4. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
a. & b. são grupos 
vinculados às 
classes dirigentes 
 
 
 
 
 
 
 
c. Intelectuais que 
expressam uma 
vertente com 
interesse na luta de 
classes. 
Ammann. 
Ideologia do 
Desenvolvimento 
de Comunidade 
 
FICHAMENTO DE: 
 DITADURA E SERVIÇO SOCIAL - UMA ANÁLISE DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL PÓS-64 
MUQ 
4 
 
12. “Esse desenvolvimento foi abortado pelo golpe de abril. Como variável independente, a 
autocracia burguesa modificou substantivamente o cenário em que ele vinha se desenrolando. Modificou-
o muito contraditoriamente: num primeiro momento, pela neutralização dos protagonistas 
sociopolíticos comprometidos com a democratização da sociedade e do Estado, cortou com os efetivos 
suportes que poderiam dar um encaminhamento crítico e progressista à crise em andamento no 
Serviço Social “tradicional”;” (p.141); 
 
13. “[...]mas, com a implementação do seu projeto de “modernização conservadora”, precipitou esta 
mesma crise. É sobre este patamar que se vai operar a renovação profissional que é objeto do nosso 
interesse [...]. Realmente, as formas “tradicionais” terão seus fundamentos de legitimação em curto 
prazo, mas o conservantismo sociopolítico e elas inerente engendrará outros componentes de 
fundamentação e legitimação para as suas concepções profissionais.” (p.141); 
 
14. “As vertentes que, no “processo” do Desenvolvimento de Comunidade, revelavam-se compatíveis 
com os limites da autocracia burguesa (ou seja, as duas primeiras vertentes mencionadas há pouco) 
encontrariam um campo aberto para o seu florescimento.” (p.141); 
 
15. “Evidencia-se, assim, que a renovação do Serviço Social que se processa no marco da 
autocracia burguesa mantém uma relação complexa com o quadro anterior da profissão: erguendo-se 
sobre o colapso da legitimação das formas profissionais “tradicionais”, resgata alguns de seus núcleos 
tanto quanto bloqueia alternativas de desenvolvimento que estavam embutidas naquele colapso – ao 
mesmo tempo em que dinamiza, sobre novo piso, outras tendências emergentes no processo da crise que 
converteu em dado explicito.” (p.141); 
 
16. “Ainda que sem espaços para fazer rebater, na prática profissional, os ganhos deste lapso, os 
assistentes sociais vinculados à crítica mais consequente do Serviço Social “tradicional” deles se 
beneficiaram, e, no ocaso da ditadura, haveriam de capitalizá-los.” (p.141); 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ver nota nº 10, na 
página 3.

Continue navegando