Buscar

LICC-LINDB Comentada

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
Redatora: Fernanda Piva 
 
Revisora: Mariângela Guerreiro Milhoranza
 
Fernanda Piva é Bacharel em Direito pela Unisinos e Coordenadora da diagramação e
montagem das revistas da Notadez.
 
 
Mariângela Guerreiro Milhoranza é Mestre em Direito pela PUC-RS, Especialista em Direito
Processual Civil pela PUC-RS, Advogada em Porto Alegre/RS; Professora da FARGS, Egressa
da Escola Superior do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul; Pesquisadora do
Núcleo de Pesquisas (CNPQ) “Limites da Jurisdição” sob coordenação do Professor Dr. Araken
de Assis junto ao Programa de Pós-Graduação em Direito da PUC/RS; Pesquisadora do
Núcleo de Pesquisas (CNPQ) “Novas Técnicas” sob coordenação do Professor Dr. José Maria
Rosa Tesheiner; Membro do Instituto de Hermenêutica Jurídica.
 
 
 
 
Art. 1º. Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e
cinco dias depois de oficialmente publicada.
 
Até o advento da Lei Complementar 95/98, posteriormente alterada pela LC 107/01, a cláusula
de vigência vinha expressa, geralmente, na fórmula tradicional: “Esta lei entra em vigor na data
de sua publicação”.
 
A partir da Lei Complementar nº 95, que alterou o Dec.-Lei 4.657/42, a vigência da lei deverá
vir indicada de forma expressa, estabelecida em dias, e de modo que contemple prazo razoável
 1 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
para que dela se tenha amplo conhecimento, passando a cláusula padrão a ser: “ Esta lei entra
em vigor após decorridos (número de dias) de sua publicação”.
 
No caso de o legislador optar pela imediata entrada em vigor da lei, só poderá fazê-lo se
verificar que a mesma é de pequena repercussão, reservando-se para esses casos a fórmula
tradicional primeiramente citada.
 
Na falta de disposição expressa da cláusula de vigência, aplica-se como regra supletiva a do
art. 1º da LICC, que dispõe que a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias depois de
oficialmente publicada.
 
Por fim, a contagem de prazo para a entrada em vigor das leis que estabeleçam períodos de
vacância far-se-á incluindo a data da publicação e do último dia prazo, entrando em vigor no
dia subseqüente à sua consumação integral.
 
§ 1º. Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se
inicia três meses depois de oficialmente publicada.
 
Não havendo prazo para sua entrada em vigor, a obrigatoriedade da norma brasileira no
exterior se dará após o prazo de 3 meses, contados de sua publicação no Diário Oficial,
passando a ser reconhecida pelo direito internacional público e privado.
 
Sendo assim, a lei antiga subsistirá no exterior até 3 meses após a publicação oficial da lei
nova, ou seja, antes de escoado esse prazo, a lei nova não terá incidência em país estrangeiro.
 
No caso de a lei nova fixar prazo superior a 3 meses para o início de sua vigência no Brasil,
silenciando quanto à data de entrada em vigor no exterior, impor-se-á o prazo de vigência
interna à do exterior.
 
Em relação às circulares e instruções dirigidas a autoridades e funcionários brasileiros no
 2 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
exterior, são aplicáveis desde o momento em que cheguem ao conhecimento dessas pessoas
de forma autêntica.
 
Pode-se citar, de acordo com a doutrina de Vicente Raó 1 , alguns efeitos do início da
obrigatoriedade da lei brasileira no estrangeiro:
 
– a lei brasileira passará a ter vigência três meses depois de sua publicação oficial, desde que
não haja estipulação do prazo para sua entrada em vigor;
 
– os atos levados a efeito no exterior, de conformidade com a velha norma revogada serão
válidos, porque, embora essa lei já estivesse revogada no Brasil, continuará vigorando em
território alienígena até findar-se o prazo de três meses;
 
– os regulamentos internos, as portarias, os avisos e circulares alusivos à organização e
funcionamento dos órgãos e serviços administrativos terão vigência perante as autoridades e
funcionários brasileiros no exterior a partir do instante em que lhes forem, autenticamente,
comunicados;
 
– o contrato celebrado no Brasil de acordo com a nova lei alcançará os que se encontrarem
fora no país, mesmo que aquela norma ainda não tenha entrado em vigor no exterior;
 
– a pessoa que for parte numa relação jurídica, ao regressar ao Brasil, antes do término do
prazo de três meses, sujeitar-se-á, no momento de sua chegada, à nova lei já vigente em
nosso país, respeitando-se os atos já praticados no exterior segundo a lei brasileira lá
vigorante.
 
§ 2º. A vigência das leis, que os Governos Estaduais elaborem por autorização do
Governo Federal, depende da aprovação deste e começa no prazo que a legislação
estadual fixar.
 
 3 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
Norma sem aplicação desde a Constituição de 1947.
 
§ 3º. Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada
à correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova
publicação.
 
No que diz respeito aos erros na publicação da lei, Ferrara é esclarecedor quando alega que
“quando se trata de simples erros materiais que à primeira vista aparecem como incorreções
tipográficas, ou porque a palavra inserida no texto não faz sentido ou tem um significado
absolutamente estranho ao pensamento que o texto exprime enquanto a palavra, que
foneticamente se lhe assemelha, se encastra exatamente na conexão lógica do discurso, ou
porque estamos em face de omissões ou transposições, é fácil integrar ou corrigir pelo contexto
da proposição, deve admitir-se que o juiz pode exercer a sua crítica, chegando, na aplicação
da lei, até a emendar-lhe o texto” 2 .
 
Quando se tratar de erros substanciais, que podem alterar total ou parcialmente o sentido legal,
a nova publicação será imprescindível. Nesse caso, observar-se-ão as seguintes situações:
 
– correção da norma em seu texto, por conter erros substanciais, durante a vacatio legisenseja
ndo nova publicação: nova 
vacatio
será iniciada a partir da data da correção, anulando-se o tempo decorrido;
 
– várias publicações diferentes de uma mesma lei, motivadas por erro: a data da publicação
será uma só e deverá ser a da publicação definitiva, ou seja, a última (RF, 24:480).
 
Assim, nos casos em que se fizer necessária republicação de lei ainda não publicada ou
publicada mas ainda não vigente, por conter incorreções e erros materiais que lhe desfigurem o
texto, a Casa de onde a mesma se originou publicará nova lei corrigida, e o seu período de
vigência deverá ser contado a partir da nova publicação.
 
§ 4º. As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.
 4 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
 
As emendas ou correções em lei que já esteja em vigor são consideradas leis novas, ou seja,
para corrigi-la é preciso passar por todo o processo de criação de uma lei, devendo para isso
obedecer aos requisitos essenciais e indispensáveis para a sua existência e validade.
 
Importante ressaltar que se a correção for feita dentro da vigência legal, a lei vigorará até a
data do novo diploma legal publicado para corrigi-la, e se apenas parte da lei for corrigida, o
prazo fluirá somente para a parte retificada; em ambos os casos respeitando-se os direitos e
deveres decorrentes de norma publicada com incorreções e ainda não corrigida.
 
Assim, é preciso respeitar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada, mesmo
que advindos de uma publicaçãoerrônea, levando-se em conta a boa-fé daquele que a aplicou.
Em se tratando de meros erros de ortografia, facilmente identificáveis, nada impede que o
prazo da vacatio legis decorra da data da publicação errada, não aproveitando a quem possa
invocar tais erros.
 
Art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a
modifique ou revogue.
 
A lei pode trazer seu período de vigência de forma expressa, como por exemplo, a Lei
Orçamentária, assim como pode ter seu período de vigência indeterminado, ou seja, uma vez
vigente ela é válida até que outra lei posterior, de superior ou mesma hierarquia, a modifique ou
revogue, não podendo revogá-la a jurisprudência, costume, regulamento, decreto, portaria e
avisos, não prevalecendo nem mesmo na parte em que com ela conflitarem 3 .
 
De acordo com Maria Helena Diniz 4 , no primeiro caso, ter-se-à cessação da lei por causas
intrínsecas, como por exemplo:
 
a) decurso do tempo para o qual a lei foi promulgada, por se tratar de lei temporária, salvo se a
sua vigência for expressamente protraída por meio de outra norma (ex.: lei orçamentária);
 
 5 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
b) consecução do fim a que a lei se propõe (p. ex., lei que manda pagar uma subvenção ou
suspende a realização de um concurso para preencher vagas com os contratados, a fim de que
se efetivem; com o aproveitamento do último funcionário contratado, a norma cessará de
existir; é o que sucede também com as disposições transitórias, que se encontram no final dos
Códigos ou certas leis);
 
c) cessação do estado de coisas não permanente (p. ex., lei emanada para atender estado de
sítio ou guerra, ou para prover situação de emergência oriunda de calamidade pública), ou do
instituto jurídico pressuposto pela lei, pois finda a anormalidade, extinguir-se-á a lei que a ela
se refere.
 
Alguns doutrinadores 5 entendem que há uma auto-revogação tácita da lei (revogação interna)
quando faltarem as razões pelas quais foi ditada e pela ocorrência do termo final nela
prefixado, alegando que, com o desaparecimento das circunstâncias fático-temporais que lhes
originaram, a mesma deixará de vigorar por ter perdido seu objeto.
 
Entretanto, outros autores 6 entendem que não há, em regra, auto-revogação tácita da lei pela
cessação dos motivos que lhe deram origem, pois a mesma permanecerá vigente e válida
apesar de não mais poder incidir, perdendo assim sua eficácia. Por este entendimento, o
brocardo cessante ratione legis, cessat lex ipsa não representa
meio indireto para revogar a norma, mas sim base para interpretá-la restritivamente, através de
suas disposições excepcionais.
 
Já no segundo caso, em que as leis cujo período de vigência sejam indeterminados, as
mesmas serão permanentes, vigorando indefinidamente e produzirão seus efeitos até que
outra lei as revogue (revogação externa).
 
§ 1º. A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com
ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
 
A revogação é um termo genérico, indicando a idéia da cessação da existência da norma
obrigatória, e contém 2 espécies: a ab-rogação, que se dá pela supressão total da norma
anterior, através da nova regulação pela lei posterior ou mesmo por haver entre ambas total
incompatibilidade; e a derrogação, que ocorre quando uma parte da norma torna-se sem efeito,
 6 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
tornando inválidos somente os dispositivos atingidos.
 
A revogação poderá ser expressa, quando a 2ª lei declarar a 1ª lei extinta expressamente ou
apontar os dispositivos que pretende retirar; ou ser tácita quando esta trouxer disposições
incompatíveis com a 1ª lei, mesmo que nela não conste a expressão “revogam-se as
disposições em contrário”.
 
§ 2º. A lei nova que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes,
não revoga nem modifica a lei anterior.
 
A norma geral não revoga a especial, assim como a nova especial não revoga a geral,
podendo ambas coexistir pacificamente, exceto se disciplinarem de maneira distinta a mesma
matéria ou se a revogarem expressamente.
 
Sendo assim, a mera justaposição de normas, sejam gerais ou especiais, às normas já
existentes, não é motivo para afetá-las, podendo ambas reger paralelamente as hipóteses por
elas disciplinadas, desde que não haja contradição entre ambas.
 
§ 3º. Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei
revogadora perdido a vigência.
 
O dispositivo acima trata da repristinação, que é o instituto através do qual se restabelece a
vigência de uma lei revogada pela revogação da lei que a tinha revogado, como por exemplo:
norma “B” revoga a norma “A”; posteriormente uma norma “C” revoga a norma “B”; a norma “A”
volta a valer.
 
Etimologicamente, repristinação é palavra formada do prefixo latino re (fazer de novo,
restaurar) e  pristinus
(anterior, antigo, vigência), o que significa restauração do antigo.
 
 7 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
A repristinação não ocorre automaticamente, ou seja, só se dá por dispositivo expresso da
norma; caso contrário, não se restaura a lei revogada, como no seguinte exemplo: norma “A”
só volta a valer se isso estiver explicito na norma “C”, ou seja, não há repristinação automática
(implícita), esta somente ocorre se for expressamente prevista.
 
Maria Helena Diniz 7 conclui que “como se vê, a lei revocatória não voltará ipso facto ao seu
antigo vigor, a não ser que haja firme propósito de sua restauração, mediante declaração
expressa de lei nova que a restabeleça, restaurando-a 
ex nunc
, sendo denominada por isso
respristinatória
. Faltando menção expressa, a lei revogadora ou repristinatória é lei nova que adota o
conteúdo da norma primeiramente revogada. Logo, sem que haja outra lei que, explicitamente,
a revigore, será a norma revogada tida como inexistente. Daí, se a norma revogadora deixar de
existir, a revogada não se convalesce, a não ser que contenha dispositivo dizendo que a lei
primeiramente revogada passará a ter vigência. Todavia, aquela lei revogada não ressuscitará,
pois a norma que a restabelece não a faz reviver, por ser uma nova lei, cujo teor é idêntico ao
daquela. A lei restauradora nada mais é do que uma nova norma com conteúdo igual ao da lei
anterior revogada”.
 
Art. 3º. Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.
 
O conhecimento da lei decorre de sua publicação, ou seja, uma vez promulgada, a norma só
passa vigorar com sua publicação no Diário Oficial, que é o marco para que se repute
conhecida por todos.
 
Assim, depois de publicada e uma vez decorrido o prazo da vacatio legis (se houver), a lei
passa a ser obrigatória para todos, sendo inescusável o erro e a ignorância sobre a mesma.
 
De acordo com Coviello 8 , “do princípio de que – é necessidade social se torne obrigatória
para todos, a lei publicada – decorre, necessariamente, a conseqüência de que os seus efeitos
abrangem a todos, independentemente do conhecimento ou da ignorância subjetiva... essa
conseqüência, tão evidente, que se admitiria ainda sem disposição legislativa expressa, é
absoluta: uma só exceção destruir-lhe-ia o fundamento racional”.
 
 8 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
Sendo assim, o artigo supra contém o rigoroso princípio da inescusabilidade da ignorância da
lei, preconizando que as leis sejam conhecidas, pelo menos potencialmente.
 
Maria Helena Diniz 9 , ao versar sobre o tema, faz o seguinte questionamento: “Como a
publicação oficialtem por escopo tornar a lei conhecida, embora empiricamente, ante a
complexidade e dificuldade técnica de apreensão, possa uma norma permanecer ignorada de
fato, pois se nem mesmo cultores do direito têm pleno conhecimento de todas as normas
jurídicas, como se poderia dizer que qualquer pessoa pode ter perfeita ciência da ordem
jurídica para observá-la no momento de agir?”
 
De acordo com Tércio Sampaio Ferraz Júnior 10 , o ato da publicação tem como escopo
apenas neutralizar a ignorância, sem contudo eliminá-la, “fazendo com que ela não seja levada
em conta, não obstante possa existir”. Desta forma, a norma é conhecida, obrigatória e apta a
produzir efeitos jurídicos através da publicação, protegendo a autoridade contra a
desagregação que o desconhecimento da mesma possa lhe trazer, já que uma autoridade
ignorada é como se inexistisse.
 
Ainda em relação ao artigo 3º, é preciso levar-se em conta que o mesmo versa sobre a
ignorância da lei ou a ausência de seu conhecimento e também o erro no seu conhecimento. A
ignorância de direito se dá quando não o conhecimento do previsto na lei sobre o fato que se
trata. Já o erro de direito ocorre pelo desconhecimento do fato previsto na norma em função de
falso juízo sobre o que ela dispõe, ou seja, o agente emite uma declaração de vontade
baseado no falso pressuposto de que está procedendo de acordo com a lei.
 
A doutrina e jurisprudência têm entendido que o erro de direito e a ignorância da lei não se
confundem, sustentando que o primeiro vicia o consentimento, nas hipóteses em que afete a
manifestação da vontade na sua essência.
 
O novo Código Civil, em seu art. 139, admite o erro de direito como motivo único ou principal
do negócio jurídico, desde que não implique recusa à aplicação da lei. Assim, não é levado em
conta o erro de direito nas hipóteses em que o mesmo seja alegado visando à suspensão da
eficácia legal por conta de sua inobservância; enquanto que nada impede que o seja alegado
nos casos em que vise a evitar efeito de ato negocial, cuja formação teve interferência de
vontade viciada por aquele erro.
 
 9 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
Art. 4º. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito.
 
Nos casos em que a lei for omissa, cabe ao magistrado utilizar-se das fontes integradoras do
direito, que incluem a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
 
A utilização da analogia se dá quando o juiz busca em outra lei, que tenha suportes fáticos
semelhantes, disposições que a própria lei não apresenta. Já o uso dos costumes, que tratam
da prática reiterada de um hábito coletivo, público e notório, pode ter reflexos jurídicos na falta
de outra disposição. Finalmente, também pode o magistrado socorrer-se dos princípios gerais
de direito, que nada mais são do que regras orais que se transmitem através dos tempos,
séculos às vezes, e que pontificam critérios morais e éticos como subsídios do direito.
 
Art. 5º. Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum.
 
A ciência do direito, como atividade interpretativa, surge como uma teoria hermenêutica, por ter
dentre outras funções, as de:
 
a) interpretação das normas, que compreende múltiplas possibilidades técnicas interpretativas,
dando ao intérprete a liberdade jurídica na escolha destas vias, buscando sempre condições
para uma decisão possível, baseada em uma interpretação e um sentido preponderante dentre
às várias possibilidades interpretativas;
 
b) verificar a existência da lacuna jurídica, identificando a mesma e apontando os instrumentos
integradores que possibilitem uma decisão possível mais favorável, com base no direito;
 
c) afastar contradições normativas através da indicação de critérios para solucioná-las.
 
De acordo com Maria Helena Diniz, a ciência jurídica exerce funções relevantes, não só para o
 10 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
estudo do direito, mas também para a aplicação jurídica, viabilizando-o como elemento de
controle do comportamento humano ao permitir a flexibilidade interpretativa das normas,
autorizada pelo art. 5º da Lei de Introdução, e ao propiciar, por suas criações teóricas, a
adequação das normas no momento de sua aplicação 11 .
 
Assim, ao interpretar a norma, o intérprete deve levar em conta o coeficiente axiológico e social
nela contido, baseado no momento histórico que está vivendo, já que a norma geral em si
deixa em aberto várias possibilidades, deixando esta decisão a um ato de produção normativa,
sem esquecer que, ao aplicar a norma ao caso concreto, deve fazê-lo atendendo à sua
finalidade social e ao bem comum.
 
Em relação ao fim social, a mesma autora afirma que: “pode se dizer que não há norma jurídica
que não deva sua origem a um fim, um propósito ou um motivo prático, que consistem em
produzir, na realidade social, determinados efeitos que são desejados por serem valiosos,
justos, convenientes, adequados à subsistência de uma sociedade, oportunos, etc” 12 .
 
Tércio Sampaio Ferraz Júnior 13 , observa que os fins sociais são do direito, já que a ordem
jurídica como um todo, é um conjunto de normas para tornar possível a sociabilidade humana;
logo dever-se-á encontrar nas normas o seu fim ( telos), que
não poderá ser anti-social.
 
Na prática, o intérprete-aplicador deverá, em cada caso sub judice, verificar se a norma atende
à finalidade social, devendo ser interpretada inserida no próprio meio social em que está
presente, já que imersa nele e conseqüentemente sob constante simbiose com o mesmo,
adaptando-a às necessidades sociais existentes no momento de sua aplicação.
 
Dessa forma, recebendo continuamente vida e inspiração do meio ambiente, a aplicação da lei
seguirá a marcha dos fenômenos sociais, estando apta a produzir a maior soma possível de
energia jurídica 14 .
 
No que tange ao bem comum, sua noção é bastante complexa e composta de inúmeros
elementos ou fatores. De qualquer forma, são reconhecidos comumente como elementos do
bem comum a liberdade, a paz, a justiça, a utilidade social, a solidariedade ou cooperação, não
resultando o bem comum da simples justaposição destes elementos, mas de sua
 11 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
harmonização face à realidade sociológica 15 .
 
Não há consonância na doutrina sobre a importância atribuída a esses elementos, mas de
qualquer forma entende-se que ao aplicar norma, decidindo o fato, é dever de seu
intérprete-aplicador estar atento ao fato de que as exigências do bem comum estejam ligadas
ao respeito dos direitos individuais garantidos pela Constituição.
 
Sendo assim, percebe-se que todo o ato interpretativo deve estar baseado na concreção de
determinado valor positivo ou objetivo, objetivo este fundado no bem comum, respeitando
assim o indivíduo e a coletividade.
 
Art. 6º. A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o
direito adquirido e a coisa julgada.
 
O art. 6º da LICC declara a inaplicabilidade da lei revogada aos processos que estão em curso,
com base na intangibilidade do ato jurídico perfeito e do direito adquirido, consagrados
constitucionalmente.
 
Desta forma, a lei nova só incidirá sobre os fatos ocorridos durante seu período de vigência,
não podendo a mesma alcançar efeitos produzidos por relações jurídicas anteriores à sua
entrada em vigor, ou seja, alcançando apenas situações futuras.
 
No que diz respeito aos processos pendentes, em matéria processual vigora o princípio do
isolamento dos atos processuais, que determina que a novel norma atingirá o processo noponto em que está, não podendo a mesma retroagir aos atos processuais já realizados durante
a vigência de lei anterior, visto que seus efeitos ficarão intocáveis e insuscetíveis de alteração
pela lei retrooperante, pois sobre eles a nova lei não terá efeito algum.
 
§ 1º. Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo que
se efetuou.
 
 12 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
Entende-se como ato jurídico perfeito o que já se tornou apto a produzir seus efeitos, pois já
consumado, segundo a norma vigente, ao tempo em que se efetuou.
 
O ato jurídico perfeito é um dos elementos do direito adquirido e desta forma é um meio de
garantir o mesmo, uma vez que, se a nova lei desconsiderasse o ato jurídico já consumado sob
a vigência de lei precedente, o direito adquirindo decorrente do mesmo também desapareceria,
já que sem fundamento.
 
Assim, a segurança do ato jurídico perfeito, que é resguardada pelo art. 6º, § 1º, da Lei de
Introdução, preconiza que o ato jurídico válido, consumado durante a vigência da lei que
contempla aquele direito, não poderá ser alcançado por lei posterior, sendo inclusive imunizado
contra quaisquer requisitos formais exigidos pela nova lei.
 
Em relação aos contratos em curso de formação, aplicar-se-á a nova norma, por ter efeito
imediato, na fase pré-contratual. Nos casos de os contratos terem sido legitimamente
celebrados, os mesmos serão cumpridos e terão seus efeitos regulados pela lei vigente à
época de seu nascimento. Carlos Maximiliano ressalva que não se confundem os contratos em
curso e os contratos em curso de constituição, pois a norma hodierna só alcançará os últimos,
já que os primeiros são atos jurídicos perfeitos 16 .
 
Ainda em relação aos contratos em curso de constituição, Maria Helena Diniz 17 preconiza
que: “Pelo art. 2.035 do Código Civil, o ato ou negócio jurídico em curso de constituição,
validade celebrado antes vigência do novo diploma legal, em sua formalidade extrínseca
seguirá o disposto no regime anterior, mas como não pôde irradiar quaisquer efeitos legais, que
se produzirão somente por ocasião da entrada em vigor da Lei nº 10.406/2002, os contratantes
terão o direito de vê-lo cumprido, nos termos da novel lei, que, então, regulará seus efeitos, a
não ser que as partes tenham previsto, na convenção, determinada forma de execução, desde
que não contrariem preceito de ordem pública, como o estabelecido para assegurar a função
social da propriedade e do contrato, visto que são resguardados constitucionalmente e pelo art.
5º da Lei de Introdução do Código Civil. Os efeitos estabelecidos em cláusulas contratuais
regem-se pela lei vigente ao tempo de sua celebração”.
 
É importante ressaltar que juízes e tribunais têm admitido a aplicação da lei nova aos atos e
fatos que se encontra, quando estas forem de ordem pública, sem ofensa ao ato jurídico
perfeito 18 .
 13 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
 
De qualquer forma, pode-se concluir que uma vez protegido o ato jurídico perfeito, são
resguardados os direitos subjetivos formados sob a égide da norma anterior, preservando
assim os direitos legítimos de seus titulares.
 
§ 2º. Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele,
possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou
condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
 
Direito adquirido é aquele que já se integrou ao patrimônio e à personalidade de seu titular, de
modo que nem norma ou fato posterior possam alterar situação jurídica já consolidada sob sua
égide.
 
Necessária se faz aqui a distinção entre direito adquirido, que é aquele que já integrou ao
patrimônio e não pode ser atingido pela lei nova, e a expectativa de direito, que é a mera
possibilidade ou esperança de adquirir um direito, portanto dependente de acontecimento
futuro para a concreção da efetiva constituição do mesmo. Assim, preconiza Reynaldo Porchat
19
quando afirma que “Não se pode admitir direito adquirido a adquirir um direito”.
 
A situação de ser titular de um direito é regida por norma de competência, enquanto que a
situação de exercer as permissões e autorizações correspondentes àquele direito subjetivo
dependerá de normas de conduta. O princípio do direito adquirido não protegerá o titular do
direito contra certos efeitos retroativos de uma norma no que disser respeito à incidência de
nova norma de conduta. Um exemplo prático e elucidativo se dá na venda de um imóvel, em
que é preciso ser titular do direito de propriedade (norma de competência) e a realização da
referida venda se dá segundo os ditames da norma de conduta que disciplina o ato de vender.
Assim, a lei nova tem condão de mudar a norma de competência que rege a situação de ser
titular, mas não atingirá o ato de vender se a propriedade já foi adquirida sob a égide da lei
anterior; também o tem de modificar a norma de conduta que disciplina o ato de alienar, mas
não o fará se a venda já se consumou, sendo um ato jurídico perfeito 20 .
 
Carvalho Santos 21 afirma que a novel norma não retroage no que atina ao direito em si, mas
tem o condão de ser aplicada no que tange ao uso ou exercício desse direito, mesmo em
relação às situações já existentes antes de sua publicação.
 14 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
 
§ 3º. Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba
recurso.
 
A coisa julgada é um fenômeno processual que consiste na imutabilidade e indiscutibilidade da
sentença, visto que posta ao abrigo dos recursos e de seus efeitos, consolidando os mesmos e
promovendo a segurança jurídica das partes.
 
Tércio Sampaio Ferraz Júnior, assevera que “a coisa julgada protege a relação controvertida e
decidida contra a incidência da nova norma. Alterando-se por esta quer as condições de ser
titular, quer as de exercer atos correspondentes, o que foi fixado perante o tribunal não pode
ser mais atingido retroativamente” 22 .
 
A coisa julgada é formal quando a sentença não mais estiver sujeita a recurso ordinário ou
extraordinário, ou porque dela não se recorreu ou nas hipóteses em que dela tenha recorrido
sem atender aos princípios fundamentais dos recursos ou aos seus requisitos de
admissibilidade, ou mesmo pelo esgotamento de todos os meios recursais (CPC, art. 467). Um
exemplo de coisa julgada formal são as sentenças de extinção do processo sem resolução do
mérito, atingidas pela preclusão.
 
Já a coisa julgada material é a que torna imutável e indiscutível o preceito contido na sentença
de mérito, não mais sujeitando-a a recurso ordinário e extraordinário, como as sentenças de
mérito proferidas com fundamento no art. 269 do CPC.
 
O Supremo Tribunal Federal, através da Súmula 541, dispôs que a ação rescisória é admitida
contra sentença transitada em julgado, ainda que contra ela não tenham se esgotado todos os
recursos. Importante diferenciar, no que diz respeito à rescisória, a sentença passada em
julgado da coisa julgada, pois a primeira é suscetível de reforma por algum recurso enquanto a
segunda não pode ser alterada nem mesmo por ação rescisória. A sentença transitada em
julgada poderá ser passível de ação rescisória, pois mesmo inadmitindo recurso, não há coisa
julgada quando a decisão é nula 23 .
 
Importante salientar que a ação rescisória não é um recurso, mas sim uma ação de
 15 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
impugnação, que pode ser proposta nas hipóteses previstas em lei de forma taxativa (CPC, art.
485, I a IX), com o escopo de desconstituir uma decisão demérito, elidindo coisa julgada, se
proposta dentro do prazo decadencial de dois anos (CPC, 495). Uma vez tendo sido proposta,
a ação rescisória não tem o condão de suspender a execução da decisão rescindenda, não
impedindo seu cumprimento, ressaltando a hipótese de concessão de medida cautelar ou
antecipatória de tutela, recompondo-se a lesão causada no caso de a rescisória ter sido
julgada procedente.
 
Maria Helena Diniz, ao tratar do tema, afirma que “a coisa julgada é uma qualidade da
sentença, declaratória ou constitutiva, e de seus efeitos, consistente na imutabilidade, que
poderá existir: a) fora do processo, para impedir que a lei a prejudique, ou que o juiz volte a
julgar o que já foi decidido (coisa julgada material); b) dentro do processo, em razão de uma
preclusão máxima, de uma decisão colocada ao abrigo dos recursos definitivamente preclusos
(coisa julgada formal)”.
 
Assim, a coisa julgada traz a presunção absoluta (jure et de jure) de que o direito foi aplicado
de forma correta ao caso concreto, prestigiando o órgão judicante que a prolatou e garantindo
a impossibilidade de sua reforma e sua executoriedade (CPC, art. 489), tendo força vinculante
para as partes litigantes, funcionando como instrumento de controle ante o dinamismo jurídico.
 
Art. 7º. A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e
o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
 
O art. 7º da LICC preconiza a lex domicilii como critério fundamental do estatuto pessoal,
introduzindo o princípio domiciliar como elemento de conexão para determinar a lei aplicável,
ao contrário do princípio nacionalístico, adotado pela antiga lei.
 
O princípio domiciliar é o que mais atende à conveniência nacional, visto ser o Brasil um país
onde o fluxo de estrangeiros é considerável, eliminando o inconveniente da dupla
nacionalidade ou da falta de nacionalidade.
 
O começo e o fim da personalidade (as presunções de morte, o nome, a capacidade e os
direitos de família, que constituem o estado civil, ou seja, o conjunto de qualidades que
constituem a individualidade jurídica de uma pessoa, terão suas questões resolvidas através do
 16 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
direito domiciliar, de acordo com o que determina o art. 7º da LICC.
 
A lex domicilii, para ser aplicada, deverá ser precedida da análise do aplicador acerca da lei do
país onde estiver domiciliada a pessoa para, a partir daí, obter a qualificação jurídica do
estatuto pessoal e dos direitos de família a ela pertinentes. Assim, o juiz brasileiro deverá
qualificar o domicílio de acordo com o lugar no qual a pessoa estabeleceu seu domicílio com
ânimo definitivo (CC, art. 70), qualificando-o segundo o direito nacional e não de conformidade
com o direito estrangeiro, estabelecendo a ligação entre a pessoa e o país onde está
domiciliado, aplicando a partir daí as normas de direito cabíveis.
 
§ 1º. Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos
impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.
 
O § 1º do art. 7º da LICC versa a respeito dos impedimentos dirimentes e das formalidades da
celebração do casamento, quando o mesmo for realizado no Brasil.
 
Há quem entenda que seja admissível a aplicação da lei pessoal dos interessados no que diz
respeito às formalidades intrínsecas; mas em relação às formalidades extrínsecas do ato,
dever-se-á levar em conta a lex loci actus, ou seja, a lei do local da realização do ato.
 
A lex loci celebrationis impõe que o casamento seja celebrado de acordo com a solenidade
imposta pela lei do local onde o mesmo se realizou, não importando se a forma ordenada pela
lei pessoal dos nubentes seja diversa. Isso significa que, em relação às núpcias contraídas no
Brasil, no que diz respeito à habilitação matrimonial e às formalidades do casamento, a lei a ser
observada é a brasileira, devendo seguir-se o disposto nos arts. 1.525 a 1.542 do Código Civil,
mesmo que os nubentes sejam estrangeiros.
 
As causas suspensivas da celebração do casamento, que estão dispostas no art. 1.523, I a IV,
não interessam à ordem pública internacional, e desta forma, regerão os casamentos
realizados no Brasil por pessoas não domiciliadas no exterior, mesmo que lei alienígena os
contrarie.
 
 17 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
No que diz respeito aos casamentos celebrados no exterior, quando de acordo com as
formalidades legais do Estado onde foi celebrado, serão reconhecidos como válidos no Brasil,
ressalvados os casos de ofensa à ordem pública brasileira e de fraude à lei nacional, se não se
observarem os impedimentos matrimoniais fixados pela lei 24 .
 
Importante ressaltar que, no que tange à capacidade matrimonial e aos direitos de família, os
mesmos serão regidos pela lei pessoal dos nubentes, ou seja, a lei do seu domicílio e desta
forma, uma vez o casamento tendo sido consumado, seus efeitos e limitações serão
submetidos à lei domiciliar.
 
§ 2º. O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas
ou consulares do país de ambos os nubentes.
 
O disposto no art. 7º, § 2º, da LICC, permite que os estrangeiros, ao contraírem casamento fora
de seu país, possam fazê-lo perante o agente consular ou diplomático de seu país, no
consulado ou fora dele.
 
O cônsul estrangeiro é competente para realizar casamento quando a lei nacional o atribuir tal
competência e somente quando os nubentes forem co-nacionais e ele mesmo (o cônsul) tenha
a mesma nacionalidade. Acerca do tema, Kahn 25 afirma que “quanto aos limites, nos quais
esses Estados reconhecerão os casamentos, celebrados pelos agentes diplomáticos e
consulares estrangeiros, no seu território, serão determinados pela extensão normal que a
doutrina e a legislação interna conferem à instituição do casamento diplomático ou consular.
Assim, todos os Estados que atribuem aos seus agentes, no estrangeiro, competência para
celebrar um casamento sob a condição de serem seus súditos os dois contraentes, só
reconhecerão, como válidos, os casamentos contratados, por estrangeiros, no seu território,
diante dos agentes diplomáticos e consulares, no caso em que ambos os esposos serão do
Estado a que pertence o agente, que procedeu à celebração”.
 
Importante ressaltar que o casamento de estrangeiros, domiciliados ou não no Brasil, somente
é celebrado conforme o direito alienígena no que diz respeito à forma do ato, pois seus efeitos
materiais serão apreciados conforme a lei brasileira (
RT, 200:
653), não sendo possível a transcrição de assento de casamento de estrangeiro, realizado no
Brasil, em consulado de seu país, no cartório do Registro Civil do respectivo domicílio (
RT, 185:
 18 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
285).
 
No que tange ao casamento de brasileiros no exterior, mesmo que domiciliados fora do Brasil e
quando ambos nubentes sejam brasileiros, poderá ser celebrado perante a autoridade consular
brasileira, verificando-se a impossibilidade de um casamento diplomático entre uma brasileira e
um estrangeiro ou apátrida.
 
O matrimônio contraído perante agente consular, será provado por certidão do assento no
registro do consulado (RT, 207:386), que faz as vezes do cartório do Registro Civil. Na hipótese
de ambos os nubentes virem para o Brasil, o assento de casamento para surtir efeito em nosso
país, deverá ser trasladado dentro de 180 dias contados na volta ao nosso país, no cartório do
respectivo domicílio ou, na sua, falta, no 1º Ofício da Capital do Estado em que passarem a
residir (art. 1.544 do CC) 26 .
 
§ 3º. Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidadedo matrimônio
a lei do primeiro domicílio conjugal.
 
O § 3º da LICC dispõe que a invalidade do casamento será apurada pela lei do domicílio
comum dos nubentes ou pela lei de seu primeiro domicílio conjugal.
 
No caso de os nubentes terem domicílio internacional, a lei do primeiro domicílio conjugal
estabelecido após o casamento é que prevalecerá para os requisitos intrínsecos do ato nupcial
e para as causas de sua nulidade, absoluta ou relativas, inclusive no que diz respeito aos
vícios de consentimento.
 
Desta forma, é a lex domicilii quem vai esclarecer se determinado casamento é válido ou não,
mesmo que estrangeira e de conteúdo diverso da norma brasileira, e não a norma de direito
internacional privado.
 
Maria Helena Diniz 27 , ao tratar sobre o tema, salienta que a lex domicilii, quando for
repugnante à ordem pública, não deverá ser aplicada e indica os meios para facilitar sua
aplicabilidade, sendo necessário: a) a indicação pelos nubentes, no processo do casamento,
 19 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
de onde será o domicílio conjugal (no caso dos casamentos realizados no Brasil em que os
nubentes tiverem domicílio internacional diverso, os mesmos deverão declarar onde pretendem
estabelecer o primeiro domicílio conjugal, pois na falta desta declaração, presume-se que o
mesmo se dará no Brasil); e b) reajuste da situação jurídica da capacidade matrimonial, de
acordo com a lei daquele primeiro domicílio conjugal, que é o estabelecido pelo marido, salvo
exceções especiais de acordo com os dados contidos na lei territorial. Nas relações pessoais
dos cônjuges e nas entre pais e filhos prevalecerá a lei domiciliar.
 
Assim, o § 3º do art. 7º da LICC dispõe apenas sobre os requisitos intrínsecos ou substanciais
do casamento regidos pela lei domiciliar comum aos nubentes, ou, no caso de terem os os
mesmos domicílio internacional diverso, pela lei do primeiro domicílio conjugal 28 .
 
§ 4º. O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os
nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal.
 
O presente parágrafo visa a regular as relações patrimoniais entre os cônjuges, impondo como
elemento de conexão a lex domicilii dos nubentes à época do ato nupcial ou do primeiro
domicílio conjugal, tendo em vista os efeitos econômicos admitidos legalmente ao casamento e
aos pactos antenupciais.
 
Assim, observar-se-á o direito brasileiro no caso de ter sido aqui estabelecido o primeiro
domicílio conjugal, se os nubentes tiverem domicílios internacionais diferentes; ou o direito
estrangeiro, no caso de ambos tiverem, por ocasião do ato nupcial, domicílio comum fora do
Brasil.
 
Em relação à capacidade para celebração de pacto antenupcial, cada um dos interessados fica
submetido à sua lei pessoal ao tempo da celebração do contrato (lex domicilii), observando a
existência de preceito de ordem pública internacional vedando a celebração ou modificação de
pactos antenupciais na constância do casamento ou alteração do regime de bens por mudança
de nacionalidade ou de domicílio posterior ao casamento, de nada importando que o domicílio
se transfira de um país a outro. No que tange ao regime matrimonial de bens, prevalece a lei do
domicílio que ambos os nubentes tiverem no momento do casamento ou a do primeiro
domicílio conjugal, na falta daquele comum, salientando que de nada adianta a mudança
domiciliar com intuito de subtrair o regime matrimonial submetido anteriormente.
 
 20 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
Ainda sobre o tema, é importante ressaltar que na hipótese de regime ou casamento
convencionados no Brasil, ou mesmo casamento aqui realizado mas sem convenção de
regime, o mesmo deverá ser apreciado pelo direito brasileiro. No caso de os cônjuges
pretenderem fixar seu primeiro domicílio fora do Brasil, a jurisdição brasileira não será
competente, pois o regime nesse caso será apreciado pela jurisdição internacional.
 
No caso de duas pessoas casarem aqui, domiciliadas no Brasil, e possuírem bens em diversos
países, a lei brasileira não poderá se aplicar em relação a estes, em Estados onde impera a lex
rei sitae
, por respeito à mesma.
 
§ 5º O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa
anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de
naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens,
respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente registro.
 
O novo Código Civil, em seu artigo 1.639, § 2º, dispõe que qualquer modificação após a
celebração do ato nupcial é permitida, desde que haja autorização judicial atendendo a um
pedido motivado de ambos os cônjuges, verificadas as razões por eles invocadas e a certeza
de que tal mudança não venha a causar qualquer gravame a direitos de terceiros, obedecendo
ao princípio da mutabilidade justificada do regime adotado.
 
O § 5º do art. 7º da LICC permite ao estrangeiro naturalizado brasileiro, com a expressa
anuência de seu cônjuge, a adoção da comunhão parcial de bens, que é o regime matrimonial
comum no Brasil, resguardados os direitos de terceiros anteriores à concessão da
naturalização, ficando os mesmos inalterados, como se o regime não tivesse sofrido qualquer
alteração. De acordo com o princípio da mutabilidade justificada do regime adotado, disposto
no Código Civil, que visa a garantir terceiro de qualquer surpresa que advenha de um regime
matrimonial de bens mutável, é exigido o registro da adoção do regime da comunhão parcial de
bens, funcionando como meio de publicidade da alteração feita pelo brasileiro naturalizado 29 .
 
§ 6º O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros,
só será reconhecido no Brasil depois de três anos da data da sentença, salvo se houver
sido antecedida de separarão judicial por igual prazo, caso em que a homologação
produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das
sentenças estrangeiras no País. O Supremo Tribunal Federal, na forma de seu regimento
 21 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas em
pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de
que passem a produzir todos os efeitos legais.
 
O divórcio de cônjuges estrangeiros domiciliados no Brasil é reconhecido em nosso país, mas
tratando-se de divórcio realizado no estrangeiro, quando um ou ambos os cônjuges forem
brasileiros, só será aqui admitido após um ano (art. 226, § 6º, da CF/88) da data da sentença,
salvo se houver sido antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em que a
homologação terá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das
sentenças estrangeiras no país (art. 49 da Lei 6.515/77).
 
Maria Helena Diniz verifica que a lei brasileira constitui um obstáculo invencível ao
reconhecimento do divórcio antes do prazo de um ano, contado da sentença, se um ou ambos
os cônjuges forem brasileiros, excetuando-se o fato de que já exista concessão da medida
cautelar de separação de corpos, cuja data constitui marco inicial para a contagem daquele
prazo legal, embora a separação de cama e mesa possa ter significação na contagem do prazo
da conversão da separação judicial em divórcio 30 .
 
Uma vez homologado o divórcio obtido no estrangeiro, é permitido novo casamento no Brasil,
exigindo-se para isso a prova da sentença do divórcio na habilitação matrimonial, que é a
certidão da sentença de divórcio proferida no estrangeiro, devidamente homologada pelo
Superior Tribunal de Justiça (EC45/2004).
 
O estrangeiro ou apátrida, cuja sentença de divórcio ainda não tenha sido homologada, e que
deseje contrair novas núpcias no Brasil, está sujeito à anulação de casamento caso sua
sentença de divórcio seja negada pelo STJ. Washington de Barros Monteiro esclarece ainda
que a homologação de sentença pode ser negada quando estrangeiros aqui domiciliados se
dirigem à justiça de outro país para obter a sentença de divórcio, burlando a soberania
nacional, sendo isso apenas tolerado se o divórcio foi pronunciado no foro dos cônjuges. No
caso de a sentença for proferida em país onde jamais os cônjuges residiram ou de onde não
são naturais, a homologação tem sido denegada, podendo ser apenas concedida, com
restrições, para fins patrimoniais 31 .
 
§ 7º. Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro
cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua
guarda.
 22 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
 
De acordo com o critério da unidade domiciliar, mantido § 7º do art. 7º da LICC, no que diz
respeito às relações pessoais entre os cônjuges, seus direitos e deveres recíprocos, e aos
direitos e obrigações decorrentes da filiação, aplicar-se-á a lei do domicílio familiar, que se
estende aos cônjuges e aos filhos menores não emancipados.
 
Maria Helena Diniz salienta que “Preciso será esclarecer que não mais se considera a pessoa
do marido em si, mas o domicílio da família, ou seja, de ambos os consortes, ou melhor, o do
País onde o casal fixou domicílio logo após as núpcias, com intenção de constituir família e o
seu centro negocial”, respeitando assim o princípio da igualdade jurídica dos cônjuges,
representando um sistema familiar em que as decisões devem ser tomadas de comum acordo
entre marido e mulher (arts. 1.567 e 1.569 do CC) 32 .
 
No que tange aos tutelados e curatelados, depois de assumido o encargo tutelar, em em
virtude de estarem sob sua guarda, submeter-se-ão à lei domiciliar de seus tutores e
curadores.
 
Assim, o § 7º do art. 7º trata do caso de domicílio internacional legal quando dispõe que, exceto
na hipótese de abandono, o domicílio familiar, eleito pelo casal ou em alguns países pelo
marido, estende-se ao outro cônjuge, quando for o caso, e aos filhos menores não
emancipados, e o do tutor ou curador, aos incapazes sob sua guarda (Código Bustamante, art.
24).
 
§ 8º. Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua
residência ou naquele em que se encontre.
 
O Código Bustamante, em seu artigo 26, preleciona que aquele que não tiver domicílio
conhecido, considerar-se-á domiciliado no local de sua residência acidental ou naquele em que
se encontrar, impossibilitando a hipótese de dupla residência.
 
Na falta do critério do domicílio, que é a conexão principal, a lei indica critérios de conexão
subsidiários, ou seja, o lugar da residência ou daquele em que a pessoa se achar, aplicados
sucessivamente na medida em que o anterior não possa preencher sua função, não se
 23 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
tratando de concurso cumulativo, mas sim sucessivo.
 
Art. 8º. Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a
lei do país em que estiverem situados.
 
A lei territorial é a que se aplica somente no território nacional, atendendo a interesses internos
relativos à nação de origem, obrigando unicamente dentro do território, ou seja, o órgão
judicante somente poderá aplicar no território nacional aquela norma. A lei é extraterritorial
quando permite que o magistrado possa aplicar lei diversa de seu ordenamento jurídico, em
relação a fatos ocorridos no seu território ou no estrangeiro, como por exemplo nas hipóteses
em que o próprio art. 8º, §§ 1º e 2º da LICC dispõem.
 
O artigo 8º da LICC define a qualificação dos bens como territorial, já que a eles se aplicam as
leis do país onde estiverem situados.
 
Sendo assim, o critério jurídico que visa a regular coisas móveis de situação permanente,
incluindo as de uso pessoal ou imóveis (ius in re) é o da lex rei sitae, que importa na
determinação do território, que é o espaço limitado no qual o Estado exerce competência. No
que diz respeito ao regime da posse, da propriedade e dos direitos reais sobre coisa alheia,
nenhuma lei poderá ter competência maior do que a do território onde se encontrarem os bens
que constituem seu objeto
33
.
 
É importante ressaltar que a lex rei sitae regulará apenas os bens móveis ou imóveis
considerados individualmente ( uti singuli), pertencentes
a nacionais ou estrangeiros, domiciliados no país ou não; enquanto que os bens 
uti universitas,
como p. ex. o espólio e o patrimônio conjugal, são regidos pela lei reguladora da sucessão (
lex domicilii
do autor da herança), excetuando-se as hipóteses de desapropriação de imóvel de tutelado ou
da massa falida, ocasiões em que os bens 
uti universitas
também poderão ser disciplinados pela 
lex rei sitae
.
 24 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
 
Nas hipóteses de mudança de situação de um bem móvel, a lei que disciplina a nova situação
deverá ser aplicada, respeitados os direitos adquiridos. Acerca do tema, Pillet e Neboyet
afirmam que “todo o direito adquirido sobre um móvel corpóreo, na conformidade das
disposições da lei do lugar da sua situação, deve ser respeitado no segundo país, para o qual
tenha sido transportado, até que nasça um direito diferente, segundo a lei deste último país” 34
.
 
Em relação aos navios e aeronaves, os mesmos serão regidos pela lei do pavilhão, ou seja,
pela lei do país em que estiverem matriculados e cuja competência só será afastada nos casos
em que a ordem pública o exigir.
 
§ 1º. Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens
moveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares.
 
O § 1º do art. 8º da LICC prevê a aplicação da lex domicilii do proprietário no que tange aos
bens móveis que o mesmo trouxer consigo, para uso pessoal ou em razão de negócio
mercantil, que podem transitar por vários lugares até chegar ao local de destino.
 
Em função da instabilidade de localização ou mesmo da mudança transitória de tais bens,
afasta-se aqui a aplicação da lex rei sitae, aplicada aos bens localizados permanentemente, e
aplica-se a  lex domicilii de seu proprietário, ou seja,
o direito de Estado no qual o mesmo tem domicílio, visando a atender interesses econômicos,
políticos e práticos.
 
§ 2º. O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se
encontre a coisa apenhada.
 
No que tange ao penhor, a LICC dispõe que a lei do domicílio do possuidor da coisa
empenhada é que será aplicada, tanto no que diz respeito ao objeto sobre o qual recairá o
direito real e quais seus efeitos, quanto nas questões atinentes à publicidade, à necessidade
ou dispensa de tradição real para sua validade.
 25 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
 
Importante salientar que pouco importará a localização do bem dado em penhor, pois pela lei
este estará situado no domicílio do possuidor (fictio iuris) no momento de ser constituído o
direito real de garantia, resguardando assim a segurança negocial, e garantindo direitos de
terceiros.
 
Art. 9º. Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se
constituirem.
 
No que diz respeito às obrigações, o art. 9º da LICC dispõe que a lei do país onde se
constituírem as mesmas é que serão aplicadas para qualificá-las e regê-las.
 
Em se tratando de obrigações ex lege, o art.165 do Código Bustamante afirma que as mesmas
serão regidas pelo direito que as estiver estabelecido, já que são conseqüência de uma relação
jurídica principal, da qual são acessórias. Devido ao fato de não serem autônomas, acabam
reguladas pela mesma lei que disciplina a relação principal.
 
As obrigações ex delicto, que são as decorrentes da prática de um ato ilícito, são regidas pela
lei do lugar onde o delito foi cometido ( lex loci delicti commissi),
solucionando questões sobre causas justificativas e dirimentes, culpabilidade, qualificação do
ato como ilícito, etc. No caso de o ilícito ter sido praticado em vários lugares, levar-se-á em
conta o local onde ocorreu o último fato necessário para a caracterização da responsabilidade
do lesante.
 
Em relação às obrigações convencionais (civis e comerciais) e as decorrentes de atos
unilaterais, as mesmas se regerão a) quanto à forma ad probationem tantum (simplesmente
para provar) e ad solemnitatem (para a solenidade) pela lei
do local onde se originaram, ou seja, deve ser apreciada a forma da manifestação volitiva pelo
direito vigente no local onde o ato for realizado. Importante ressaltar que essa norma somente
vigorará no fórum que aceitar que o ato seja realizado no exterior, pela forma estabelecida no 
ius loci actus
; 
b
) quanto à capacidade, pela lei pessoal das partes (art. 7º) que é a lei domiciliar, observando-se
a ressalva em relação à ordem pública, uma vez que a 
 26 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
lex fori
não admitirá que produza efeito o ato que tiver conteúdo contrário à lei, à moral e ordem
pública do país. Na hipótese de as partes estiverem domiciliadas em Estados diferentes, a
capacidade de cada uma obedecerá à sua lei domiciliar
35
.
 
Necessária se faz a delimitação da norma que disciplina as condições intrínsecas dos atos
jurídicos decorrentes da declaração de vontade, antes de analisar qual a lei competente para
reger os efeitos das obrigações deles resultantes. Quando se tratar de ato unilateral,
prevalecerá a lei pessoal do declarante, enquanto que nos atos bilaterais, como nos contratos,
p. exemplo, existem cinco correntes doutrinárias: a) competência da lei pessoal dos
contratantes, através da qual as declarações de vontade devem ser examinadas
separadamente, cada uma de acordo com a lei do declarante (Frankenstein, Dreyfus, J. Aubry
e Audinet); b) competência da lei do local da celebração negocial (Pillet e Neboyet); c)
competência da lei que rege a relação constituída pelo ato jurídico (Machado Villela); d)
competência da lei escolhida internacionalmente pelos contratantes para reger o acordo (prope
r law of the contractI 
ou
applicable law
dos ingleses) e e) competência da 
lex fori 
nos conflitos de lei que surjam entre o Brasil e os países signatários do Código Bustamante
(art. 177) e a da lei do local da constituição da obrigação entre os demais Estados que não o
ratificaram
36
.
 
Em se tratando da forma extrínseca do ato, é a locus regis actum, norma de direito
internacional privado, que é aceita pelos juristas para indicar a lei aplicável. Através dessa
norma, o ato, revestido de forma externa prevista pela lei do lugar e do tempo onde foi
celebrado, será válido e poderá servir de como prova em qualquer local onde tiver que produzir
efeitos.
 
Em se tratando de contratos internacionais, o princípio da autonomia da vontade não é
acolhido como elemento de conexão para reger contratos na seara do direito internacional,
preconizando a liberdade contratual dentro das limitações fixadas em lei, ou seja, a mesma só
prevalecerá quando não for conflitante com norma imperativa ou ordem pública, ressaltando-se
a previsão que a própria LICC faz em seu artigo 17 quando considera ineficaz qualquer ato que
ofenda a ordem pública interna, a soberania nacional e os bons costumes. Isso não significa
 27 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
que o art. 9º afasta a autonomia da vontade, pois a manifestação da livre vontade dos
contratantes é admitida pela LICC quando o for pela lei do contrato local, desde que observada
a norma imperativa.
 
Nos casos em que a intenção do agente for de burlar a lei nacional, praticando negócio em
país estrangeiro com o intuito de fugir às exigências da lei pátria, ou seja, tal ato não subsistirá,
por tratar-se de fraude.
 
Obeservar-se-ão algumas exceções ao disposto no art. 9º da LICC, nas seguintes hipóteses 3
7 :
 
a) quando se tratar de contrato de trabalho, o mesmo deverá obedecer à lei do local da
execução do serviço ou trabalho. O art. 6º da Convenção de Roma, de 1980, afirma que em se
tratando de contrato individual de trabalho, a aplicação da lei escolhida não poderá privar o
trabalhador da proteção que lhe for conferida pela lei: a) do país onde o trabalhador, ao
executar o trabalho, habitualmente exerce seu ofício; b) do Estado em cujo território se
encontra situada a empresa que contratou o empregado, que não realiza de modo habitual seu
trabalho no mesmo país.
 
b) nas hipóteses dos contratos de transferência de tecnologia, pois nesses casos verificar-se-á
competência absoluta do direito pátrio interno, em consonância com o art. 17 da LICC e com os
princípios de direito internacional econômico defendidos pelo Brasil, por tratar-se de normas de
ordem pública, garantindo interesses nacionais.
 
c) nos atos relativos à economia dirigida ou aos regimes de Bolsa e Mercados, que serão
subordinados à lex loci solutionis (place of performance), filiando-se à lei do país de sua
execução.
 
§ 1º. Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma
essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto
aos requisitos extrínsecos do ato.
 
 28 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
De acordo com o disposto no § 1º do art. 9º da LICC, a obrigação contraída no exterior e
executada no Brasil será observada segundo a lei brasileira, atendendo as peculiaridades da
lei alienígena em relação à forma extrínseca.
 
Isto significa que a lei da constituição do local da obrigação mantém-se, pois admitidas serão
suas peculiaridades, como a validade e a produção de seus efeitos, enquanto a lei brasileira
será competente para disciplinar os atos e medidas necessárias para a execução da mesma
em território nacional, tais como a tradição da coisa, forma de pagamento ou quitação,
indenização nos casos de inadimplemento, etc.
 
Em relação aos contratos não exeqüíveis no Brasil, mas aqui acionáveis, não se aplicará o
disposto no art. 9º, § 1º, da LICC, mas sim o locus regis actum, ou seja, a lei local é que regerá
o ato.
 
§ 2º. A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o
proponente.
 
O lugar onde se tem por concluído o contrato é de fundamental importância para o direito
internacional privado, já que através dele emanará qual a lei deverá ser aplicada para a
disciplinar a relação contratual e também a apuração do foro competente.
 
O art. 9º, § 2º da LICC afirma que a obrigação resultante do contrato se constitui no lugar em
que residir o proponente, sendo aplicável quando os contratantes estiverem em Estados
diversos, enquanto que o art. 435 do Código Civil reputa celebrado o contrato no lugar em que
foi proposto.
 
Maria Helena Diniz 38 afirma que o verbo “residir” significa “estabelecer morada” ou “achar-se
em”, “estar”, e é nessa última acepção que vem sendo empregado o disposto no § 2º, do art. 9º
da LICC, significando que o lugar em que residir o proponente seja o lugar onde estiver o
proponente, afastando assim o critério domiciliar por entender que a adoção do elemento
“residência” daria mais mobilidadeaos negócios, já que não raro os mesmos se efetivam fora
do domicílio dos contratantes.
 
 29 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
Assim, de acordo com a LICC, a obrigação contratada entre ausentes será regida pela lei do
país onde residir o proponente, não importando o momento ou local da celebração contratual,
aplicando-se a lei do lugar onde foi feita a proposta. Em relação aos contratos entre presentes,
no que diz respeito ao direito internacional, serão regidos pela lei do lugar em que foram
contraídos, desconsiderando-se a nacionalidade, domicílio ou residência dos contratantes.
 
Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado
o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.
 
O art. 10 da LICC abrange tanto a sucessão causa mortis (seja ela legítima ou testamentária)
como também a sucessão por ausência.
 
Perante a teoria da unidade sucessória, que é a adotada pela LICC, a sucessão causa mortisd
everá ser regida pelo lei do domicílio do 
de cujus
, desprezando-se a nacionalidade do autor da herança e a de seu sucessor e a natureza e a
situação dos bens, unificando a jurisdição do último domicílio do 
de cujus
para apreciação de todas as questões relativas à sucessão e, desta forma, simplificando as
questões oriundas da mesma.
 
Mesmo nos casos em que o finado tiver mais de uma residência (CC, art. 71), competente será
o foro onde o inventário foi requerido primeiro.
 
Maria Helena Diniz 39 , ao tratar sobre o tema, afirma que a lei do domicílio do de cujus, no
momento de sua morte, determinará: a) a instituição e a substituição da pessoa sucessível; b) a
ordem de vocação hereditária, quando se tratar de sucessão legítima; c) a medida dos direitos
sucessórios dos herdeiros ou legatários, sejam eles nacionais ou estrangeiros; d) os limites da
capacidade de testar; e) a existência e a proporção da legítima do herdeiro necessário; f) a
causa da deserdação; g) a colação; h) a redução das disposições testamentárias; i) a partilha
dos bens do acervo hereditário; j) o pagamento das dívidas do espólio.
 
O art. 10 da LICC não faz menção expressa à comoriência ou morte simultânea, e nesses
casos, observar-se-ão as leis de domicílio de cada um dos finados relativas à sucessão, de
 30 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
acordo com o disposto no art. 29 do Código Bustamante que dispõe que nos casos de
presunções de sobrevivência ou de morte simultânea, quando não houver prova, as mesmas
serão reguladas pela lei pessoal de cada um dos falecidos em relação à sua respectiva
sucessão. Desta forma, tendo os comorientes domicílios diversos, a sua sucessão será regida
pela lei pessoal de cada um.
 
Nos casos de morte presumida ou ausência, a lei domiciliar do ausente será aplicada, seja qual
for a natureza e a localização dos bens que compõem seu patrimônio, no que diz respeito às
condições da declaração de ausência e seus efeitos e aos direitos eventuais do ausente
(Código Bustamante, arts. 73-83). Sendo assim, não é possível que a pessoa seja declarada
ausente por juiz brasileiro quando a mesma não tiver tido seu domicílio em nosso país, assim
como não será possível proceder à sucessão provisória, processar inventário e partilha e
declarar presunção de morte, nos casos de sucessão definitiva.
 
§ 1º. A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei
brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente,
sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.
 
Nos casos aventados pelo § 1º, em relação à sucessão de bens de estrangeiro situados no
País, observa-se exceção à variação da ordem de vocação hereditária determinada pelo art.
1829 do Código Civil 40 , não se aplicando o princípio de que a existência de herdeiro de uma
classe exclui da sucessão os herdeiros da classe subseqüente.
 
A própria Constituição Federal, em seu art. 5º, XXXI, também prevê que “a sucessão de bens
de estrangeiro situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou
dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus”.
 
A exceção se dá em relação à possibilidade de alteração da ordem da vocação hereditária
pois, nos casos em que, se tratando de bens existentes no Brasil, de propriedade de
estrangeiro falecido e casado com brasileira ou com filhos brasileiros, é aplicada a lei nacional
do de cujusquando for mais vantajosa aos sucessores do que a lei brasileira.
 
Assim, estará a sucessão sujeita à aplicação da lei brasileira quando: a) os bens estiverem no
Brasil; b) houverem cônjuge ou filhos brasileiros, ou quem os represente e c) quando a lei
 31 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
pessoal do de cujus não lhes for mais favorável.
 
Importante lembrar que anteriormente vigorava no Brasil o instituto do usufruto vidual, que
admitia, nos casos de casamento entre brasileiro com estrangeira, a sucessão no usufruto de
cônjuge supérstite. Hoje admite-se a sucessão no direito real de habitação, de acordo com o
art. 1.831 do CC, no imóvel destinado à residência, quando este for o único do gênero a ser
inventariado, em qualquer dos regimes de bens e sem prejuízo da participação que lhe caiba
na herança.
 
§ 2º. A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder.
 
A interpretação do § 2º, do art. 10 da LICC, deve ser feita com cuidado no que diz respeito à
capacidade para suceder.
 
Maria Helena Diniz 41 , ao versar sobre o tema, ressalva que “se deve repelir toda e qualquer
interpretação extensiva a esse dispositivo legal, devido à ambigüidade do termo ‘capacidade
para suceder’”. De acordo com a autora, é necessário que se distinga: a) a capacidade para ter
direito à sucessão, que se sujeita à lei do domicílio do auctor sucessionis; b) da capacidade de
agir em relação aos direitos sucessórios, ou seja, que tem a ver com a aptidão para suceder,
para aceitar ou para exercer direitos do sucessor, que se subordina à lei pessoal do herdeiro ou
sucessível.
 
Assim, importante reconhecer que o § 2º do art. 10 da LICC diz respeito à capacidade de
exercer o direito de suceder, que é reconhecido pela lei domiciliar do autor da herança e regido
pela lei pessoal do sucessor, enquanto que a capacidade para suceder é disciplinada pela lei
do domicílio do falecido.
 
Art. 11. As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e
as fundações, obedecem à lei do Estado em que se constituírem.
 
O artigo 11 da LICC impõe que a lei do Estado em que as pessoas jurídicas de direito privado
se constituírem é que irá determinar as condições de sua existência ou do reconhecimento de
 32 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
sua personalidade jurídica, sendo o seu fórum competente para versar sobre sua criação,
funcionamento e dissolução, pouco importando o lugar onde se dá o exercício de sua atividade.
 
A nacionalidade das pessoas jurídicas não é mencionada expressamente pela LICC, mas
entende-se prevista implicitamente no art. 11 da LICC e expressamente nos arts. 1.126 a 1.141
do Código Civil, quando é determinada pela lei na qual tem sua origem, pelo princípio locus
regit actum
.
 
§ 1º. Não poderão, entretanto. ter no Brasil filiais, agências ou estabelecimentos antes de
serem os atos constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei
brasileira.
 
O § 1º do art. 11 da LICC condiciona a abertura de filiais, agências ou estabelecimentos de
pessoa jurídica estrangeira no Brasil à aprovaçãode seu estatuto social ou ato constitutivo pelo
governo brasileiro, com o intuito de evitar fraudes à lei e fazendo com que a mesma se sujeite à
lei brasileira, uma vez que adquirirá domicílio no Brasil (CC, arts. 1.134 a 1.141).
 
Não será necessária a autorização governamental nos casos em que a pessoa jurídica
estrangeira não pretenda fixar no Brasil agência ou filial, pois obedecerá à lei do país de sua
constituição, sendo possível exercer atividade no Brasil desde que não contrária à nossa ordem
social.
 
A competência para decidir e praticar os atos de funcionamento no Brasil de organizações
estrangeiras destinadas a fins de interesse coletivo, incluindo-se aqui alterações de estatuto e
cassação de autorização de funcionamento, ficou delegada ao Ministro de Estado de
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, sendo vedada a subdelegação.
 
§ 2º. Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer natureza, que
eles tenham constituído, dirijam ou hajam investido de funções públicas, não poderão
adquirir no Brasil bens imóveis ou susceptiveis de desapropriação.
 
 33 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
O § 2º do art. 11 da LICC versa sobre as restrições submetidas às pessoas jurídicas de direito
público em relação à aquisição, gozo e exercício de direito real no território brasileiro.
 
Tal posição se justifica pelo entendimento que a ausência de tais restrições representariam um
perigo à soberania nacional, através da possível ocorrência de problemas diplomáticos. Maria
Helena Diniz, ao tratar do tema, afirma que “as pessoas jurídicas de direito público externo,
serão, por lei, absolutamente incapazes para adquirir a posse e a propriedade de imóvel
situado no Brasil ou de bens suscetíveis de desapropriação, como direitos autorais, patentes
de invenção, direitos reais sobre coisa alheia de fruição, ações de sociedade anônima, etc” 42 .
 
Tal impedimento dar-se-á não somente via testamento, como também através de qualquer
título, como compra e venda, doação, permuta, etc.
 
§ 3º. Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos prédios necessários à
sede dos representantes diplomáticos ou dos agentes consulares.
 
O § 3º do art. 11 da LICC trata de exceção ao disposto no parágrafo anterior quando permite
que as pessoas jurídicas de direito público possam adquirir prédios para sede de
representantes diplomáticos ou agentes consulares, assegurando o livre exercício de funções
diplomáticas e de atividades consulares.
 
Assim, o direito de propriedade imobiliária de um Estado estrangeiro ficará restrito ao edifício
de sua embaixada, consulado e legações, necessários à prestação de serviços diplomáticos, e
aos prédio residenciais dos agentes consulares e diplomáticos, mesmo que neles não se
encontre a chancelaria.
 
Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no
Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.
 
O art. 12 da LICC fixa a competência da autoridade judicial brasileira nos casos em que o réu,
seja ele brasileiro ou estrangeiro, tenha domicílio no Brasil, podendo aqui ser intentada
qualquer ação que lhes diga respeito. Nas hipóteses em que dois sejam réus e apenas um
 34 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
deles esteja aqui domiciliado, admite-se a competência do juiz que vier a tomar conhecimento
da causa em primeiro lugar, de acordo com o princípio da prevenção.
 
Admite-se assim que o estrangeiro, aqui domiciliado ou não, possa comparecer, como autor ou
réu, perante o tribunal brasileiro quando haja alguma controvérsia de seu interesse, desde que
sua capacidade para estar em juízo obedeça à lex domicilii e com a ressalva da lex fori no que
diz respeito a preceito de ordem pública (art. 7º da LICC).
 
Nos casos em que a obrigação for exeqüível no Brasil, competente será a autoridade brasileira,
visto tratar-se de competência especial, prevalecendo sobre a competência do local onde a
obrigação foi constituída e sobre a competência da lei domiciliar.
 
Alguns entendem que tal competência é obrigatória, enquanto parte da doutrina entende
apenas que o seja em relação ao § 1º do art. 12, nas hipóteses de ações concernentes aos
bens imóveis situados no Brasil, afirmando que o art. 12 da LICC c.c. os arts. 314 e 316 do
Código Bustamante, contém norma supletiva, na medida que entende permitida a competência
estrangeira nos casos em que o réu não for domiciliado no Brasil, se a obrigação não tiver que
ser aqui executada e nos casos em que a ação não verse sobre imóveis situados no território
brasileiro 43 .
 
§ 1º. Só à .autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações, relativas a
imóveis situados no Brasil.
 
O § 1º do art. 12 da LICC diz respeito não só às ações reais imobiliárias mas sim a todas as
ações que tratem de imóveis situados no Brasil e trata-se de norma compulsória, na medida
que impõe a competência judiciária brasileira para processar e julgar ações que versem sobre
imóveis situados no território brasileiro, competindo a nossa justiça fazer a qualificação do bem
e a natureza da ação intentada.
 
Nas hipóteses de o imóvel estar localizado em países diversos, cada Estado será competente
para julgar ação relativa à parcela do bem que se encontrar em seu território.
 
 35 / 50
LICC Comentada
Escrito por Fernanda Piva e Mariângela Guerreiro Milhoranza
Qui, 28 de Fevereiro de 2008 00:00
No que diz respeito às ações que versem sobre bens móveis, as mesmas deverão ser
propostas no foro do domicílio do réu (CPC, art. 94) e quando tratarem sobre bens móveis que
venham a se deslocar após proposta a demanda, será competente o foro do domicílio das
partes no momento em que a ação foi proposta (CPC, art. 87).
 
§ 2º. A autoridade judiciária brasileira cumprirá, concedido o exequatur e segundo a
forma estabelecida pele lei brasileira, as diligências deprecadas por autoridade
estrangeira competente, observando a lei desta, quanto ao objeto das diligências.
 
A previsão do § 2º do art. 12 da LICC diz respeito ao cumprimento, pela autoridade judiciária
brasileira, das cartas e comissões rogatórias com a finalidade de investigação, e das diligências
deprecadas pelas autoridades locais competentes, satisfazendo o que lhes foi requerido pela
autoridade estrangeira.
 
As cartas rogatórias são pedidos feitos pelo juiz de um país ao de outro solicitando a prática de
atos processuais, sem caráter executório, e subordinam-se à lei do país rogante, no que tange
ao conteúdo ou matéria de que são objeto e, em relação ao procedimento, são disciplinadas
conforme a lei do país do rogado. As diligências de caráter executório, como por exemplo
arresto e seqüestro, não poderão ser objeto de carta rogatória (RTJ, 72:659, 93:517 e103:536).
 
Mesmo se referindo apenas à competência em sentido estrito, poderá o juiz levantar o conflito
de jurisdição a ser decidido na forma da lei brasileira, pois o próprio art. 17 da LICC impede o
cumprimento de rogatória quando a mesma for ofensiva à ordem pública e aos bons costumes,
já que os atos processuais estão sujeitos à lex fori, sendo inadmitidos os que atentem contra a
legislação brasileira.
 
A carta rogatória é remetida através da via diplomática e ao Procurador-Geral da República é
dado vista da mesma para que possa impugná-la nos casos de contrariedade da ordem
pública, soberania nacional ou falta de autenticidade. Uma vez concedido o exequatur ou
“cumpra-se”, a rogatória é enviada ao juiz da comarca onde deverá ser cumprida a diligência,
observado o direito estrangeiro quanto ao seu objeto. Tendo sido cumprida, a rogatória é
devolvida à justiça rogante através do Ministério da Justiça.
 
No que diz respeito ao tema, Maria Helena Diniz afirma que o exequatur

Outros materiais