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Resenha do livro Cultura da Convergência

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Ano VI, n. 10 – Outubro/2010 
Resenha 
 
Cultura da Convergência 
(JENKINS, Henry. São Paulo: Aleph, 2008. 379 p.) 
 
Vítor NICOLAU
1
 
 
 
Compreender a forma como as mídias estão estruturadas na atualidade é a principal 
proposta de Henry Jenkins, no seu livro Cultura da Convergência. Fundador do 
programa de Estudos de Mídia Comparada do MIT (Massachusetts Institute of 
Technology), Jenkins está no “olho do furacão” das mudanças culturais e da revolução 
do conhecimento causadas pela convergência midiática. Na obra aqui resenhada, o autor 
aborda a convergência não apenas como fluxo de conteúdo através de múltiplos 
suportes, mas como uma transformação cultural, tendo em vista que os consumidores 
agora são incentivados a procurar novas formas de obter a informação e fazer conexões 
em meio a conteúdos midiáticos, além de criar comunidades de conhecimento e uma 
inteligência coletiva, através de uma cultura participativa onde produtores midiáticos e 
consumidores participam e interagem do processo de criação. 
 A introdução do livro é dedicada ao emergente paradigma da convergência 
trazido por Jenkins presume que novas e antigas mídias estão interagindo e de forma 
cada vez mais complexa. A convergência opera como uma força pela unificação, mas 
está longe de uma estabilidade perfeita entre os meios de comunicação. Ela é um 
processo, uma mudança nos padrões de propriedade dos meios e impacta principalmente 
o modo como consumimos estes meios, uma transformação, tanto na forma de produzir 
quanto na forma de consumir. Este processo não envolve apenas materiais e serviços 
produzidos comercialmente, mas ocorre quando as pessoas começam a assumir o 
controle das mídias. Se os antigos consumidores eram passivos, hoje eles são 
extremamente ativos, migratórios, conectados socialmente e barulhentos, de grande 
expressividade pública. 
A convergência vai representar uma mudança no modo como encaramos nossas 
relações com as mídias. O público ganhou espaço com as novas tecnologias e agora está 
exigindo o direito de participar intensamente desta nova cultura. 
 
1
 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPB. 
 
 
 
Ano VI, n. 10 – Outubro/2010 
 O primeiro capítulo do livro traz os conceitos de inteligência coletiva e cultura 
do conhecimento expostos por Pierre Levy. Compreendemos a inteligência coletiva 
como a capacidade dos membros de uma determinada comunidade em combinar as 
informações que estão disponíveis para eles. Aqui o autor traz como exemplo as 
comunidades de spoliers do reality show americano Survivor, semelhante ao “No 
Limite” brasileiro. Estas comunidades, que surgem com a afiliação de voluntários, 
procuram evidências, através de pesquisas, boatos e da própria edição técnica do 
programa, para desvendar os segredos do reality show antes mesmo deste ir ao ar, e 
estão criando uma nova cultura do conhecimento, que não é mais partilhado e sim 
coletivo. As suposições tradicionais, trazidas por Jenkins, sobre expertises (experts) 
estão se tranformando, graças a processos mais abertos da troca de informações no 
ciberespaço. As questões que são desenvolvidas em uma inteligência coletiva são 
ilimitadas e interdisciplinares, induzindo um conhecimento combinado entre os 
membros de uma comunidade. 
 No segundo capítulo, Jenkins demonstra a importância dos consumidores fiéis, 
os fãs, como uma nova estratégia de marketing que procura expandir os investimentos 
emocionais, sociais e intelectuais do consumidor, com o intuito de moldar padrões de 
consumo. Aqui ele traz o exemplo do American Idols, conhecido como “Ídolos” no 
Brasil, e a interrelação do programa com os patrocinadores e fãs do mesmo. Os 
anunciantes estão procurando compreender a eficácia dos diferentes meios de 
comunicação e da sua convergência, já que não existe mais um bloco fixo de 
espectadores e sim um mosaico de microssegmentos, em constante transformação. O 
foco agora é menos no conteúdo e mais na conciliação entre os diversos entretenimentos 
midiáticos, para que haja um relacionamento mais profundo e contínuo. O futuro das 
relações com os consumidores está nos lovemakers (fãs), pois estes tipos de 
consumidores defendem as marcas que são fiéis, além de promovê-la. Estes tipos de 
consumidores, segundo Jenkins, são muito mais valiosos hoje, já que eles prestam mais 
a atenção nos anúncios, produtos e patrocinadores. 
 No terceiro capítulo, é abordada a questão do entretenimento na era da 
convergência como uma interação entre múltiplos textos para a criação de uma narrativa 
tão ampla que não pode ser contida em uma só mídia, ou seja, uma narrativa 
transmidiática. A distinção entre autores e leitores, produtores e espectadores, criadores 
 
 
 
Ano VI, n. 10 – Outubro/2010 
e interpretes irão se dissolver e formar assim um círculo de expressão, com todos 
trabalhando para sustentar a atividade dos outros. O exemplo aqui abordado é a franquia 
Matrix, como um ativador cultural, impulsionando o público a buscar uma maior 
elaboração da narrativa, sua decifração e especulação. Uma história transmidiática se 
desenrola através de múltiplos suportes midiáticos, com cada novo texto contribuindo 
para um todo. Para Jenkins, o acesso também deve ser autônomo, para que seja 
necessária uma dependência, oferecendo sempre novos níveis para renovar a franquia e 
sustentar a fidelidade. As narrativas estão se tornando uma arte de construção de um 
universo e as mídias digitais, que possuem uma “capacidade enciclopédica”, conduzem 
as novas formas de narrativas, à medida que o público busca informações. 
 Um crescente número de consumidores talvez esteja escolhendo sua cultura 
popular pela oportunidade de explorar mundos complexos e comprar suas observações. 
Cada vez mais consumidores estão participando de culturas de conhecimento on-line, é 
o que sugere Jenkins no seu quarto capítulo ao trazer o exemplo de Star Wars (Guerra 
nas Estrelas) e a participação dos fãs na criação de novas narrativas. A nova cultura 
vernácula incentiva a ampla participação, a criatividade alternativa e a economia 
baseada na troca e com a convergência, todos podem participar. A web tem sido a peça 
fundamental de ligação entre os fãs e o seu principal ponto de participação, mas à 
medida que as suas produções tornaram-se públicas, elas não puderam mais ser 
ignoradas pela indústria midiática, que muitas vezes toma uma posição proibicionista, 
procurando proibir ou limitar o fan fiction (nome dado as narrativas produzidas por fãs 
nos Estados Unidos). O autor considera que o aumento do leque de opções midiáticas, 
chamada de economia da plenitude por Grant McCracken, irá forçar as empresas a abrir 
mais espaço para a participação dos consumidores. 
 No quinto capítulo, Jenkins, através do exemplo das comunidades que 
constroem narrativas sobre Harry Potter, aborda o letramento midiático. Os papéis 
fornecidos pelos produtores midiáticos podem ser entendidos, pelas afirmações de Anne 
Haas Dyson, como uma “licença para brincar” e é através desta brincadeira que crianças 
estão desenvolvendo uma compreensão mais rica de si e da cultura a sua volta. Cada vez 
mais os educadores estão valorizando os espaços recreativos informacionais, frutos da 
cultura da convergência e criando locais de aprendizado conhecido como espaço de 
afinidades, e motivando crianças a aprender e expandir seus conhecimentos. Mas nem 
 
 
 
Ano VI, n. 10 – Outubro/2010 
este tipo de construção de comunidade está livre da posição proibicionista da indústria 
midiática, que tenta controlar as narrativas em torno dos seus produtos, mesmo que 
estes fãs sejam apenas criançasdesenvolvendo habilidades de escrita, leitura e análise 
textual. 
As discussões em torno de Harry Potter, sobre os fan fiction e sua temática, tem 
se apresentado de grande relevância, principalmente devido ao envolvimento direto de 
crianças inseridas dentro de comunidades de conhecimento, discutindo ativamente sobre 
liberdade de leitura e expressão. 
 O sexto e último capitulo do livro aborda a edição de imagens e vídeos dos 
meios de comunicação, muitas vezes sem autorização, utilizados durante a campanha 
presidencial norte-americana de 2004. Durante este período, segundo o autor, houve 
uma série de inovações e experimentações no uso das novas tecnologias e de estratégias 
baseadas na cultura popular. Percebe-se também a constituição de uma nova cultura 
política, que reflete o jogo entre os dois sistemas de mídia: o tradicional e o alternativo. 
Os candidatos podem formar suas bases e militâncias na internet, mas vão precisar da 
televisão para chegar aos indecisos e ganhar as eleições. Jenkins percebeu que as 
comunidades on-line estão sendo de grande importância para a discussão e reflexão 
durantes o processo de eleição de um candidato, principalmente analisando aquilo que é 
veiculado na mídia, como as notícias, pesquisas etc. Já os blogs alternativos também 
estão ganhando visibilidade durante o processo, facilitando o fluxo de ideias e 
assegurando um debate político. 
 A conclusão do livro retoma todos os aspectos abordados até agora sobre a ótica 
do jornalismo participativo, explorando os jornalistas cidadãos que se proliferam pela 
internet, mas não possui a mesma visibilidade nos meios de comunicação tradicionais, 
como a televisão. Aqui, Jenkins cita o exemplo do canal Current, onde os próprios 
internautas produzem as notícias e as que mais recebem apoio no website do canal, são 
exibidas na televisão. 
 O livro Cultura da Convergência procurou documentar o processo de 
transição vivido por todos nós, em nosso dia-a-dia, graças às constantes inovações 
tecnológicas que permitem a participação cada vez maior do público no processo de 
comunicação. Jenkins propõe, durante toda a sua obra, discutir esta nova cultura, 
trazendo bons exemplos e nos preparando para o futuro. Apesar de o livro ter sido 
 
 
 
Ano VI, n. 10 – Outubro/2010 
escrito em 2006 e, de lá para cá muita coisa surgiu, como o YouTube e o Twitter, 
continua bastante atualizado. 
Em alguns pontos a obra é bastante repetitiva, retomando e explicando conceitos 
já bem definidos em capítulos anteriores. A visão sempre otimista em relação à 
convergência também é um ponto chave da obra, com o autor sempre rebatendo as 
críticas a essa nova cultura. Os estudos de casos selecionados como exemplo são 
pertinentes ao encaminhamento da obra, mas em casos como Matrix e StarWars tratam 
de assuntos muito próximo e que poderiam ser abordados em capítulos únicos, 
principalmente devido a sua proximidade temática. 
 Com certeza é uma obra histórica, que aborda o início da cultura da 
convergência, com o autor nos preparando para um processo muito maior do que 
podemos imaginar.

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