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O que é Transferência?

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TRANSFERÊNCIA, AFINAL, O QUE É ISTO? 
 
TRANSFER, AFTER ALL, WHAT IS THIS? 
 
 
 
 
 
 
 
Márcia Alves de Pinho1 
 
Artigo apresentado em cumprimento parcial às 
exigências do Curso de Especialização em 
Psicanálise – Teoria, Interfaces e Aplicações – 
Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. 
 
Orientador: Robson Campos 
 
 
 
 
 
 
Universidade Vale do Rio Doce – Univale 
Curso de Especialização em Psicanálise – Teoria, Interfaces e Aplicações 
 
 
1
 Psicóloga Clínica. Especialista em Psicanálise – Teoria, Interfaces e Aplicações. E-mail: malves_psi@hotmail.com 
 
 
 1 
RESUMO: O tema transferência reveste-se de importância fundamental para a prática psicanalítica. 
Desde os primórdios da Psicanálise Freud já discorria sobre o assunto, apontando suas dificuldades 
e revelando a íntima relação entre a transferência e o sucesso ou insucesso da análise. Este artigo 
busca compreender os mecanismos de manejo da transferência no tratamento analítico e teve como 
âncora a obra de Freud e Lacan. Para tal, seguiu-se a indicação freudiana de que esse acesso se faz 
pela via do amor, amor transferencial, confiança depositada no analista. Por este caminho, o analista 
se encontra na posição de saber suposto. Isso permite àquele que fala se interessar por saber. 
Verificamos que ao final da análise a demanda endereçada ao analista retorna ao analisaste como 
questão que o põe a trabalho, a saber, seu desejo, uma vez que o analista devolve ao analisante o 
que é dele, fazendo semblant do lugar onde foi colocado durante o processo analítico. 
 
Palavras-chave: Tratamento Analítico; Transferência; Amor; Sujeito Suposto Saber. 
 
ABSTRACT: The transfer theme is covered by fudamental importance to the psychoanalisys. 
Since the beginning of psychoanalisys Freud already talked about this, pointing out his difficulties 
and revealing the intimate relation between transfer and the success or failure of the analisys. This 
article tries to learn the mechanisms of handling transfer on the analitic treatment and has Lacan and 
Freud’s work as an anchor. To do such, thefreudian indication was followed, indicating that this 
access was made through love, transfer love, trust on the analyst. By this way, the analyst finds 
himself on the position of supposed knowledge. This allows those who speak to get interested on 
knowledge. We find that the final analysis the demand addressed to the analyst returns to examine 
the question as put to work, namely, his desire, since the analyst returns to analisante what is it, 
doing semblant of the place where it was placed during the analytical process. 
 
Key-words: Analytic Treatment; Transfer; Love; Supposed Knowledge. 
 
 A teoria freudiana reconhece na transferência um elemento fundamental no transcorrer 
do processo de análise. Entretanto, não é um termo específico da Psicanálise. Trata-se de um 
fenômeno psíquico presente em todas as relações humanas: médico e paciente, professor e aluno, 
mestre e discípulo, entre outros. Esse é tema recorrente na literatura, nos cenários cinematográficos, 
nos relatos de pacientes, consultório, instituição, na vida. 
Na sua essência, a transferência eficaz de que se trata é simplesmente o ato da 
palavra. Cada vez que um homem fala a outro de maneira autêntica e plena, há, no 
sentido próprio, transferência, transferência simbólica – passa-se alguma coisa que 
muda a natureza dos dois seres envolvidos (DOR, 1996, p. 14). 
 
 
 2 
Contudo, Freud (1912/1996) relata no texto “A Dinâmica da Transferência” que essas 
características da transferência não devem ser atribuídas à psicanálise, mas sim à própria neurose. 
Vejamos: 
Deve-se compreender que cada indivíduo, através da ação combinada de sua 
disposição inata e das influências sofridas durante os primeiros anos, conseguiu um 
método específico próprio de conduzir-se na vida erótica – isto é, nas precondições 
para enamorar-se que estabelece nos instintos que satisfaz e nos objetivos que 
determina a si mesmo no decurso daquela. Isso produz o que se poderia descrever 
como um clichê estereotipado (ou diversos deles), constantemente reimpresso – no 
decorrer da vida da pessoa [...] (1912/1996, p. 133). 
 
 
 Segundo Quinet (1991), o processo psicanalítico tem seu eixo na transferência. 
Entretanto, ressalta que a busca pela análise está vinculada à hipótese de que há um saber em jogo 
no sintoma do qual o indivíduo quer se desvencilhar, uma pré-interpretação, feita pelo sujeito de seu 
sintoma. Assim, para que uma análise se inicie é necessário que haja o estabelecimento da 
transferência, muito embora não seja motivada pelo analista e sim por graça do analisante. Não é, 
portanto, uma função do analista, mas, do analisante. O desafio para o analista é saber manejá-la. 
Dessa forma, o sustentáculo da transferência é o psicanalista: “O desejo do psicanalista para além 
do narcisismo e ao contrário de qualquer posição de mestria é uma função que opera e não uma 
modalidade de pulsão que renuncia a usar o poder imaginário que lhe é dado” (1991, p. 31). 
 Dor (1996) concorda que a transferência é o agente do processo psicanalítico e não o 
psicanalista, pois este somente é designado como tal porque um analisante, que lhe dirige um 
discurso, sob efeito de mecanismos inconscientes postos em atos na transferência e pelas demandas 
que lhe são endereçadas, designa-o a assumir diversos papéis identificatórios. De acordo com o 
autor é verificando o jogo transferencial, identificando o que opera da história do sujeito, assim 
como favorecendo seu processo, mas sem se deixar levar por ele, que o analista ocupa sua posição 
legítima, ou seja, o único lugar no qual ele pode assegurar a condução do tratamento de um modo 
operatório. 
 Desta forma, a demanda em análise, afirma Quinet (1991) não deve ser aceita em estado 
bruto, e sim questionada: 
 3 
 
Esse sujeito pode se apresentar ao analista para se queixar de seu sintoma e até 
pedir para dele se desvencilhar, mas isso não basta. É preciso que essa queixa se 
transforme numa demanda endereçada àquele analista e que o sintoma passe do 
estatuto de resposta ao estatuto de questão para o sujeito, para que este seja 
instigado a decifrá-lo (1991, p. 16). 
 
Segundo Lacan (apud QUINET, 1991) a alguém que chega com um desejo explícito de 
análise a resposta do analista não pode ser a de agendar horário e propor um contrato. Lacan 
considera que existe apenas uma demanda que pode ser considerada verdadeira para se dar início a 
uma análise: a de se desvencilhar de um sintoma. 
 “A analisabilidade do sintoma não é um atributo ou um qualificativo deste, como algo 
que lhe seria próprio: ela deve ser buscada para que a análise se inicie, transformando o sintoma do 
qual o sujeito se queixa em sintoma analítico” (QUINET, 1991, p. 20). 
Dessa forma, a constituição do sintoma analítico é correlata ao estabelecimento da 
transferência que fará emergir o sujeito suposto saber. Nesse momento, quando o sintoma encontra 
endereçamento certo – o analista - se torna propriamente um sintoma analítico. Entretanto pensar 
que o analista já conhece sua verdade é um “erro subjetivo” do sujeito, que permitirá sua entrada em 
trabalho, o que não significa que a transferência já esteja estabelecida. 
A base da estratégia na direção da análise se refere à transferência, uma vez que o 
profissional será convocado a ocupar na transferência o lugar do Outro do sujeito a quem dirigirá 
suas demandas. Sendo assim, o surgimento do sujeito sob transferência é o que dá sinal de entrada 
em análise, e esse sujeito é vinculado ao saber (QUINET, 1991). 
Assim a Psicanálise vai se valer dessa suposição de saber ao‘Outro’ para, a partir da 
transferência e do manejo desta, acompanhar o estabelecimento de uma situação artificial que é a 
neurose de transferência, campo no qual está incluído o analista. Dessa forma, a neurose do sujeito 
será dirigida “àquele” analista. Segundo Godino (1988, p. 46): “[...] a ele compete o dever de 
exercê-la e um dos primeiros princípios deste dever, requer que ele saiba manejar a transferência... 
adendo: sem perder-se nela!”. 
 4 
Freud introduziu a noção de transferência a partir de seus estudos sobre o inconsciente. 
Antes dele Breuer já sofrera os efeitos deste fenômeno , quando, durante um processo analítico, 
teria se deixado afetar por uma paciente, Bertha Pappenheim (Ana O), tendo sido obrigado a 
interrompê-lo, encaminhando a Freud por não sustentar o que esses encontros acarretavam para 
ambos. 
Garcia-Roza (1997) relata este caso em seu texto “Estudos sobre a histeria” no intuito de 
esclarecer como esta situação transferencial retardou o desenvolvimento da terapia psicanalítica 
durante sua primeira década. 
 
Após a paciente ter se enamorado de seu médico eles se separam; o tratamento é 
abandonado. Mas logo o estado da paciente obriga-a a fazer uma segunda tentativa 
de análise, com outro médico. O que acontece a seguir é que ela sente ter se 
enamorado deste segundo médico também; e, se romper com ele e começar outra 
vez, o mesmo acontecerá com o terceiro médico, e assim por diante. Este 
fenômeno, que ocorre constantemente e que é, como sabemos, um dos 
fundamentos da teoria psicanalítica, pode ser avaliado de dois pontos de vista, o 
do médico e o da paciente que dele necessita (GARCIA-ROZA, 1997, p. 210). 
 
Segundo Freud o fenômeno serve de advertência aos psicanalistas diante de uma 
possível contratransferência que pode estar presente em sua mente: “Ele deve reconhecer que o 
enamoramento da paciente é induzido pela situação analítica e não deve ser atribuído à sua própria 
pessoa; [...] e é sempre bom lembrar-se disto” (1914/1974, p.210). 
Garcia-Roza (1997) explica que nesse caso, o interesse de Breuer pela sua paciente era 
vivenciado como puramente clínico apesar de falar nela constantemente, o que não lhe parecia da 
ordem do envolvimento emocional, mas sim do interesse “neutro” que deve existir entre médico-
paciente muito embora essa não seja a forma como a mulher de Breuer vivia a situação: 
 
Cansada de ouvir o marido falar apenas em sua paciente, ela se tornou triste e 
ciumenta. Quando Breuer percebeu o que estava se passando, ficou extremamente 
embaraçado e resolveu encerrar rapidamente o tratamento. A decisão foi 
comunicada a Anna O., que se encontrava em uma de suas piores crises. A 
paciente apresentava contrações abdominais de uma contração de parto histérica e 
nesse momento teria dito a Breuer: “Agora chega o filho de Breuer”. Muito 
chocado com o fato, Breuer hipnotizou-a e ela saiu da crise. No dia seguinte 
Breuer e sua mulher viajaram de férias para Veneza [...] o que havia escapado a 
Breuer, até então, era esse componente sexual que havia estado presente o tempo 
 5 
todo na sua relação com Ana O., mas que era rejeitado por ambos (GARCIA-
ROZA, 1997, p. 39). 
 
Os casos em Psicanálise se apóiam em um efeito de “amor de transferência” que 
constitui a prova mais aguda para o desejo do analista (GODINHO, 1988). Mesmo assim, Freud não 
cede. Assim, o analista “deve manter um firme domínio do amor transferencial, mas tratá-lo como 
algo irreal, como uma situação que se deve atravessar no tratamento” (1914/1974, p. 216). 
Assim, para Freud a ligação emocional que o paciente desenvolvia em relação ao 
analista representava a transferência do relacionamento que aquele havia tido com seus pais e que 
inconscientemente projetava no analista. De acordo com Laplanche & Pontalis (1992, p. 514), "[...] 
a transferência é entendida como uma repetição de protótipos infantis vividos com uma sensação de 
atualidade acentuada". 
Em seu texto “Sobre o início do tratamento” (1912/1913), Freud entende a transferência 
no processo psicanalítico como uma relação amorosa e artificial que contraria as normas sociais. 
Esse amor aí manifesto é uma repetição, assim como todo amor, e reproduz protótipos infantis. A 
forma de resposta a tal amor, pelo analista, deve ser não respondendo diretamente a ele, mas 
deixando que ele se manifeste para que seja analisado e isto é o que permite o restabelecimento do 
paciente. A base do amor são as transferências e as transferências geram demandas. Como afirma 
Lacan (1997, p. 71), "[...] alguma coisa que se assemelha ao amor, é assim que se pode, numa 
primeira aproximação, definir a transferência". 
Dessa forma, se o conceito de transferência em psicanálise está atrelado à expressão 
"amor de transferência" trata-se de uma transcrição da observação clínica, em que o amor enquanto 
repetição significante fixa-se na figura do analista e este, serve-se deste ocorrido como instrumento 
motor da direção da análise. Uma vez que a transferência implica indubitavelmente o analista, a 
questão é saber de que maneira e como este responde ao apelo do dito amor. 
Entretanto, a expressão "amor de transferência" não significa apenas a presença do afeto 
amor em relação ao analista, trata-se da manifestação de um conjunto de fenômenos produzidos 
 6 
pela tarefa do analisante, pelo trabalho do mesmo em associação livre, que, juntamente com o 
silêncio do analista, determinarão uma estrutura para a transferência (GODINHO, 1998). 
Com a inclusão do analista no sintoma surge o amor de transferência e esta se torna a 
maior resistência ao tratamento, pois o analisando passa a não querer se analisar, mas a ser amado 
pelo analista. É por isto que a transferência, sendo o próprio fundamento da possibilidade do 
trabalho de análise, o seu motor básico, passa a ser também a sua maior resistência fechando o 
inconsciente, surgindo a partir daí um paradoxo. De acordo com Godinho: 
 
Nesta travessia o analista emerge como ponto de mira da compulsão repetitiva. E 
este alvo, este encontro visado pela pulsão, porém evitado no movimento da 
transferência , aponta um termo em que repetição e transferência se distanciam. O 
encontro com o real é evitado. O inconsciente se fecha (1988, p. 47). 
 
 
Segundo o autor, o paradoxo da transferência está regido pela tendência do sujeito a 
comprovar o poder de seus atrativos e sua faculdade de quebrantar a autoridade do analista o que 
requer que ele dê uma justa resposta sem gratificá-la ou frustrá-la. De acordo com Freud “[...] são 
os esforços da paciente em certificar-se de sua irresistibilidade, em destruir a autoridade do médico 
rebaixando-o ao nível de amante e em conquistar todas as outras vantagens prometidas, que são 
incidentais à satisfação do amor” (1914/1974, p. 212). 
Para Godinho (1998) cabe ao analista apenas reconhecer seus direitos, sem deixá-la 
proceder, para decifrar sua significação. Afinal, ele é aquele que suporta a demanda sem frustrar o 
sujeito para permitir que reapareçam os significantes em que sua frustração é retirada. 
O indivíduo tem em sua história de vida pontos enigmáticos de tal forma condensados, 
que apontam para um determinado gozo, o que faz com que esse ponto sempre volte em seu 
discurso. Um ponto enigmático que retorna em forma de compulsão à repetição emergindo na fala 
que dirige ao analista. Esse ponto que não faz sentido para ele é um enigma, e todo enigma é pleno 
de sentido. Dessa forma, o sujeito passa a conferir ao enigma um sentido, para mais adiante atribuir-
lhe outro sentido e assim por diante. A análise como experiência de ressignificação, irá permitir 
diversas interpretações do mesmo evento. 
 7 
De acordo com Quinet: “[...] todo paciente novo implicaa constituição da própria 
psicanálise: o saber que se tem sobre outros casos não vale de nada, não pode ser transposto para 
aquele caso. Cada caso é, portanto, um caso novo e como tal, deve ser abordado” (1991, p. 28). 
 Segundo Miller, o analista faz uso de um saber, que se reconstrói a cada caso como 
inteiramente novo, indicando que não se tratava de um saber a priori. A esse respeito, temos a 
seguinte afirmação: 
 
[...] essa é a reserva que Freud formula ao aconselhar o analista a recomeçar, com cada 
caso, como se fosse o primeiro. Segundo esse ponto de vista, há um desvanecimento do 
saber já constituído, necessário para que comece de modo autêntico, a experiência analítica 
(MILLER, 1987, p. 74-75). 
 
Diante disso, afirma Quinet (1991) que identificar-se com essa posição de saber é uma 
equivocação, um erro, pois a posição do analista não é a de saber, nem mesmo a de compreender o 
paciente, pois o que deve saber é que a comunicação é baseada no mal entendido. Nesse sentido, 
sua posição é de ignorância, não a ignorância simples, mas a ignorância “douta” – saber mais 
elevado e que consiste em conhecer seus limites. O sujeito suposto saber fundando os fenômenos da 
transferência não traz nenhuma certeza de que o analista saiba muito, ao contrário, é perfeitamente 
concebível para pensar que o saber seja bem duvidoso, pois no inicio o analista nada sabe a respeito 
do inconsciente do analisante. 
Podemos constatar um deslocamento de registro realizado por Lacan no seu retorno a 
Freud. Lacan dará um novo sentido à abordagem da transferência, partindo da categoria do 
simbólico (o amor de transferência como conseqüência de representações fixadas no analista), 
quando visará à categoria lacaniana do Real (o amor de transferência endereçado ao saber do 
analista). É preciso lembrar que Lacan considera o Real como aquilo que é da ordem do impossível. 
Com essa precisão entende-se que o amor de transferência visa um lugar de impossível, onde situa-
se o saber do analista. Por conseqüência, tem-se o saber como impossível. Isto significa que existe 
um ponto onde não se pode saber, onde o saber não sabe. Esse desenvolvimento indica-nos o 
conceito de saber visado por Lacan: trata-se de um saber que não tem objeto. Evidentemente que da 
 8 
perspectiva do analisante o saber tem objeto, o saber sabe sobre tudo. Assim, indicando o vetor no 
sentido do Real (do impossível), Lacan espera eliminar a infinita repetição do simbólico como 
barreira ao desejo. Dar o sentido do Real significa indicar ao analisante que o amor dito 
transferencial endereçado ao saber do analista, engana-se. Esse logro do amor transferencial é o 
responsável pela instituição, pelo analisante, do analista como um sujeito suposto saber, o analista 
como detentor do saber derradeiro (GODINHO, 1998). 
Mas qual seria o efeito do estabelecimento desse sujeito suposto saber? É o amor. A 
transformação da demanda surge através do amor. A demanda de livrar-se de seu sintoma torna-se 
uma demanda de amor, de presença. O amor demanda amor. 
 Entretanto, o amor é o efeito da transferência sob aspecto de resistência ao desejo como 
desejo do Outro. Quando surge o desejo o analisante responde com amor, nesse momento cabe ao 
analista fazer surgir nessa demanda a dimensão do desejo que está também conectado ao 
estabelecimento do sujeito suposto saber fazendo aparecer o sujeito suposto desejar. Assim, “fazer 
aparecer a dimensão do desejo é fazê-lo surgir como desejo do Outro, levando o sintoma à categoria 
de enigma pela ligação implícita do desejo com o saber” (QUINET, 1991, p. 29). 
Para Lacan, o conceito não é simples de se compreender dado que a transferência não é 
uma virtude presente no campo das relações humanas que são regidas pelo simbólico e pelo 
imaginário, que tentam dar conta do real da existência. A transferência é condição para se pensar 
um tratamento, ou a possibilidade de um tratamento. "No começo da psicanálise é a transferência" 
(LACAN, 1967, p.252). Cada encontro – dentro do campo psicanalítico – é o encontro feito sob 
transferência. 
Dessa forma, a via do amor, num tratamento psicanalítico, pode ter um encaminhamento 
através do conceito de sujeito suposto saber, formulado por Lacan. A suposição de saber, por aquele 
que o apresenta é, na psicanálise, devolvido a seu autor para que ele produza um saber sobre seu 
sofrimento. "Trata-se de uma ilusão na qual o sujeito acredita que sua verdade encontra-se já dada 
ao analista e que este a conhece de antemão” (QUINET, 1991, p. 30). 
 9 
Contudo, devolver ao autor, o sujeito, o que é dele, é tarefa do psicanalista. Nesse 
sentido, Lacan adverte: 
 
[...] apesar de que o analista deva reconhecer os movimentos de amor e de ódio em 
si, é justamente de suas armadilhas que o analista deve fugir, sendo a análise: [...] 
a única práxis na qual o encanto é um inconveniente. Quebraria o encanto. Quem 
já ouviu falar de um analista encantador? (1997, p. 21). 
 
Sendo assim, desde Freud, observa-se que a transferência é condição sine qua non para o 
tratamento. Como motor do tratamento analítico, a transferência, considerada como sujeito suposto 
saber por Lacan, conecta algo do inconsciente (MILLER, 1987, p. 64). Logo, devido à 
transferência, o analista se encontra na posição de saber suposto, o que permite àquele que fala se 
interessar pelo saber, próprio ao inconsciente. Segundo Dor (1996, p. 20): “Não há outra condição 
que permita, ao psicanalisando descobrir a fogueira de ilusões que ele alimenta na transferência, 
assim como o que o introduz às estratégias de seu próprio inconsciente, isto é, o que o abre à 
dimensão de ‘fazer’ sua análise”. 
Assim, enquanto Freud acredita que a transferência é, por um lado, repetição, Lacan 
estuda estes conceitos, alegando serem estes conceitos fundamentais da psicanálise, e, portanto, 
merecem destaque. Para tanto, ele introduz no estudo da transferência as noções de agalma, sujeito 
suposto saber e desejo do analista. Lacan dedica um seminário inteiro de seu ensino ao tema da 
transferência e introduz esse estudo com a retomada de um texto filosófico: O Banquete, de Platão. 
Este texto refere-se a um banquete entre filósofos onde o tema central era o amor. 
A questão do amor ocupa grande parte do Seminário 8 “ A Transferência”onde Lacan 
não está preocupado com a natureza do amor, mas como este pode estruturar o fenômeno da 
transferência. O Banquete (PLATÃO, 1950) consiste numa reunião de elite, de intelectuais, uma 
espécie de jogo de sociedade que se especifica em um discurso regrado sobre um assunto. 
Entretanto, esses encontros de discursos são submetidos a uma lei, que orienta a conduta dos 
participantes: todo aquele que se manifestar deverá fazê-lo sóbrio, não se deve beber em demasia. A 
reunião do Banquete ocorre na casa de Agaton, onde só se apresentam convidados, exceção feita a 
 10 
Aristodemo, que vem a convite de Sócrates, e Alcebíades e seu grupo, que não vêm a convite de 
ninguém e usurpam um espaço na reunião. O texto daí egresso é resultado de transmissão oral: 
Aristodemo passou a Apolodoro que passou a Platão, e este faz dizer cada um dos convidados: 
Fedra, Pusanias, Aristodemo, Sócrates, Eryximaque, Agaton, Aristofano, Diotima e Alcebíades. 
Lacan utiliza-se de O banquete, de Platão, para falar do objeto, agalma, que reflete algo 
indefinível e atraente ao mesmo tempo. O psicanalista sabe que o sujeito visualiza agalma e é esse 
que vislumbra seu alvo. A respeito do pedido de Alcebíades a Sócrates, Lacan diz "Não é a ascese, 
nem a identificação a Deus que deseja Alcibíades, mas esse objeto único, esse algo que ele viu em 
Sócrates e do qual Sócrates o desvia, porque Sócrates sabe que não o tem"(LACAN, 1960/1961, p. 
161). 
No Seminário VIII, Lacan fez do Banquete de Platão o texto central sobre a 
transferência. Sócrates aparecendo como aquele que nunca pretendeu saber 
nada, além do que diz respeito a Eros. É por estar no lugar de sujeito suposto 
saber sobre o desejo que o discurso de Alcebíades se dirige a ele. [...] Diz 
Alcebíades: “Afirmo eu então que ele é muito semelhante a esses silenos 
colocados nas oficinas dos estatuários, que os artistas representam como um 
pifre ou uma flauta, os quais abertos ao meio, vê-se que tem em seu interior 
estatuetas de deuses (agalmata theon) (QUINET, 1991, p. 30). 
 
 Alcebíades compara Sócrates com um sileno o que revela que a suposição de saber é 
correlativa à atribuição ao Outro da transferência do objeto precioso que causa o desejo. Assim, o 
discurso de amor dirigido a Sócrates por Alcebíades, como aquele que contem o objeto precioso de 
seu desejo tem como resposta a saída de Sócrates dessa posição de desejável, pois sabe que não tem 
esse objeto e sim que detêm sua significação (QUINET, 1991). 
Segundo o autor, o agalma introduzido por Lacan no estudo da transferência diz respeito 
ao objeto que nos captura, a esse algo do outro que nos apreende e nos fascina, nos deixando 
enamorados. Entretanto, isso que o outro tem não é o que o sujeito busca. Desta forma, não há 
sintonia no amor e o mesmo é uma ilusão. Com relação ao par amoroso, Lacan (1960/1961) aponta 
dois termos para falar da posição dos mesmos numa relação amorosa: erómenos - amado, aquele 
que tem alguma coisa; e erastes – amante, aquele que vai em busca daquilo que lhe falta. 
 11 
Sabe-se que o analista, no início de uma análise, é colocado, pelo analisante na posição 
de amado, daquele que tem um saber, uma resposta para o sofrimento do sujeito. No entanto, o 
analista deve direcionar o tratamento não ocupando esse lugar de sujeito suposto saber que o 
analisando o coloca. O analista sabe que quem tem o saber sobre seu sofrimento, sobre seu 
inconsciente é o analisante e, assim, não pode conduzir o tratamento nem do lugar de amado nem 
do lugar de amante. 
Frente a esse amor do paciente, o analista deve saber que o mesmo não se direciona a ele 
como pessoa, que ele não tem o agalma. Somente não dando resposta para seu paciente, colocando-
o para falar sobre suas questões e seu sofrimento é que o analista permite que o analisando caminhe 
do amor ao desejo numa análise, saindo do lugar de amado, passando para o lugar de amante, 
daquele que está em busca do que lhe falta, e nessa busca, permitir, então, que surja o desejo do 
sujeito. Desejo que, para Lacan (1960/1961) surge no deslizamento significante, no deslocamento 
de um objeto a outro, já que não há nenhum objeto que complete o sujeito. 
E para permitir que se dê essa passagem do amor ao desejo, o analista precisa estar 
regido sob seu desejo, desejo de analista, que não é o desejo do analista X ou Y, mas simplesmente 
– se é que podemos dizer que isso é simples – desejo de analisar, desejo de fazer surgir o desejo do 
sujeito, desejo de colocar o paciente para associar livremente. Somente sob a égide do desejo do 
analista é que o mesmo pode conduzir a cura não ocupando o lugar de sujeito suposto saber e 
permitindo que, ao final do tratamento, ele se torne para seu paciente, um resto, algo sem 
importância e sem função. 
Sendo assim, conduzir a cura do amor ao desejo, saindo do lugar de ideal para virar um 
resto é a tarefa do analista, tarefa árdua, sempre singular e muito próxima daquilo que Freud (1912) 
nos fala no texto “Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise”: Um cirurgião dos 
tempos antigos tomou como divisa as palavras: “Fiz-lhe os curativos: Deus o curou. O analista deve 
contentar-se com algo semelhante” (p. 129). 
 12 
 Ao propor o conceito de sujeito suposto saber, Lacan marca que a transferência não é 
apenas afeto, indicando que o fenômeno não se resume apenas a isso. Lacan retomou os textos 
freudianos e, a partir deles, indica que a transferência positiva foi erroneamente interpretada como 
amor. Pois, Freud já nos indicava, que quando a transferência é positiva, há confiança no 
tratamento, permitindo o progresso, e quando a mesma falta, temos a transferência negativa. 
 A relação entre a confiança e transferência seria então, a base para o sujeito suposto 
saber. Podemos pensar que Lacan retoma, de alguma forma, a confiança que Freud já havia 
destacado, pois, mesmo antes de formular o termo sujeito suposto saber para se pensar a 
transferência, Lacan analisa a crença do sujeito no analista. Para o autor, é essa crença que leva o 
sujeito a considerar este último como portador de uma verdade sobre seu sofrimento. E é justamente 
a partir desta crença que está a possibilidade de instauração da transferência. 
 Sendo assim, ao assumir a posição de sujeito suposto saber, o analista não impõe um 
saber. Ao contrário, é a partir do lugar conferido pela transferência que ele assume uma posição de 
autoridade que permite o sujeito se interessar pela construção de um saber. Nesse sentido, temos a 
afirmação de Miller quanto ao sujeito suposto saber: “o psicanalista não deve identificar-se com o 
sujeito suposto saber. O sujeito suposto saber é um efeito da estrutura da situação analítica, o qual é 
muito diferente de se identificar com essa posição” (MILLER, 1987, p. 75). Trata-se, então, de uma 
posição da qual o analista faz uso sem estar colado a ela. 
 A partir da leitura do texto “Acerca del sujeto supuesto saber”, de Miller, é possível 
compreender que o sujeito suposto saber é, acima de tudo, uma função, como resume o autor: 
 
Quién es este sujeto supuesto saber? Es el analista? Es el analizante? Lacan dijo 
las dos cosas: es el analista que sabe que puede dar el saber interpretativo y es el 
analizante em tanto que de su boca se espera el material significante del que se 
desprenderá el saber inconsciente. Lacan utilizó según los momentos uma versión 
o la outra. La tercera versión recubre todo: es uma función, el sujeto supuesto 
saber es uma función que se desprende de uma articulación significante2 
(MILLER, 2000, p. 15). 
 
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 Quem é o sujeito que deve saber? É o psicólogo? É o psicanalista?Lacan disse duas coisas:é o psicólogo que sabe que 
pode dar o saber interpretativo e é da boca do psicanalista, entretanto, que se espera o material significante do qual se 
desprenderá o saber inconsciente. Lacan utilizou de acordo com o momento uma versão ou outra. A terceira versão 
abrange tudo:é uma função, o sujeito que deve saber é uma função que se desprende de uma articulação 
significante.(MILLER, 2000, p. 15) (Traduzido pela autora) 
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 A partir dessas considerações, temos indícios de que tanto Freud quanto Lacan ressaltam 
a importância do analista fazer uso da confiança, mas também a relevância da autoridade que sua 
posição lhe confere. 
 Assim, deve-se supor o analista como aquele que deve estar descolado desse lugar do 
suposto saber, de um saber absoluto, o que corresponde dizer que deve assumir uma postura distinta 
daquele que não sabe nada. Para Miller, é preciso que o analista faça um ar de enfatuação: “La 
infatuación califica exactamente la posición del psicoanalista que se cubre con el sujeto supuesto 
saber” (MILLER, 2000, p. 48). 
 Trata-se do semblante próprio ao psicanalista, esclarece o autor, ao afirmar que se trata 
de fazer o ar de conhecedor, de quem já sabe. Esse ‘fazer como se’ seria a condição, diz Miller 
(2000), para a produção de saber. Lançando mão desse ar de enfatuação, o analista pode abrir a 
possibilidade de se instaurar, do ladodo sujeito, uma demanda de saber sobre o sofrimento daquele 
que busca um analista. Porém, cabe ressaltar que ocupar o lugar de sujeito suposto saber é ocupar 
um lugar de autoridade pela via do amor de transferência, sem estar colado a essa posição daquele 
que sabe. No fundo, para o que nos interessa pouco importa no que crê Sócrates, o fato é que com 
sua interpretação, ele indica a Alcebíades um engano no saber que se reveste com a manta do amor. 
Justamente porque o analista sabe da inexistência do objeto de desejo do analisante que ele pode 
sustentar o lugar de se fazer semblante deste objeto, como único meio de conduzir a análise a um 
termo possível. É importante ressaltar a diferença, o analista não é semblante, mas ele se faz de 
semblante. O analista faz de conta que se deixa enganar, de maneira a dirigir a análise no sentido de 
fazer que neste lugar do amor como significação revele-se o desejo. 
 Diante disto é possível tecer algumas considerações acerca do lugar do analista. Ocupar 
neste dispositivo o lugar do objeto causa do desejo implica também um trabalho que não se faz a 
um só tempo, e sim no decorrer de uma formação, onde se decide um desejo de análise. Implica em 
praticar a psicanálise em si mesmo, e desta prática recolher e decidir um desejo, de análise. É o que 
sustenta uma direção de tratamento. 
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 Para aqueles que aspiram a ocupar este lugar é dada a sentença: Ao analista des-ser. Des-
ser que inicialmente pode assumir dois sentidos, tanto como des-identificação, como des-
idealização, trabalhos preliminares para se ocupar o lugar de causa, de semblante para um 
sujeito. Talvez um dos passos que levam a este lugar, esteja em notar, e até mesmo em acentuar no 
analista uma divisão na escuta. Uma escuta dividida entre escutar o analisante e escutar a si mesmo, 
entre o que é de si e o que é do outro, não para que esta divisão deixe de existir, mas para que possa 
ser trabalhada na contramão da identificação. Caso contrário pode ocorrer de o analista diante 
destas passagens difíceis, associar livremente e dirigir o tratamento a partir de sua própria história, o 
que é desastroso para uma psicanálise, ou mesmo não escutar, deixando que o ponto passe sem ser 
devidamente interrogado. 
 Mas afinal, como o analista responde à transferência, a esta demanda de análise 
representada pela trilogia enigma/amor/saber? 
 Para Godinho (1998), o analista responde com vazio/desejo do analista/não-saber/meia 
verdade. Toda contratransferência deve ser reduzida ao desejo do analista que nada mais é que este 
saber que produz como significação a verdade do sujeito. Nessa trilogia do analista 
desejo/saber/verdade sustenta-se seu semblante, é por ele saber que não se pode tudo saber, que ele 
pode fazer de conta que o sujeito suposto saber sabe. 
 Trata-se aqui da direção da análise. A aparente impostura do analista tem como 
finalidade conduzir o analisando à sua significação derradeira, à sua verdade, aquela em que o saber 
não sabe. O analisante reconhece seu logro: aquele em que ele supôs um saber sempre ocupou na 
direção da análise o lugar do não-saber, do silêncio, da meia verdade. O lugar ocupado pelo analista 
reduz-se ao lugar do objeto causa do desejo do analisante, não como objeto imaginariamente 
consistente que lhe atribui o analisante, mas como aquilo que ele é fundamentalmente: nada. 
Encontro com a castração, diria Freud, onde o Pai não pode significar mais nada para o sujeito, 
onde o pai revela-se tão castrado quanto o próprio sujeito. Nesse momento o gozo cede lugar ao 
desejo e este, manifesta-se por aquilo que ele é: um buraco sem fundo, um descompasso, uma 
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infinita defasagem com o mundo objetal. O sujeito se dá conta de quanto o sintoma, o sofrimento 
que o levou a procurar análise, era mais fácil de suportar que o saber do qual ele agora é possuidor: 
saber que aniquila a fantasia e a consistência do Outro (GODINHO, 1998). 
 Qual não é a surpresa do sujeito ao desvelar-se que não há nada, apenas vazio, no lugar 
onde ele endereça o dom do seu amor. Revela-se ao sujeito o seu equívoco, o engano que sustentou 
até então uma suposta relação analista/analisante deixando cair o analista como sujeito suposto 
saber e emergindo no seu lugar o que ele sempre foi: nada. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 Pode-se afirmar que a transferência deve ser entendida como fundamental no processo 
terapêutico psicanalítico, entretanto, não é facilmente manejada. 
 O analisante, durante o processo de análise, reconhece que houve um engano quando 
endereça sua demanda ao Outro (analista) a quem supõe que sabe, uma vez que o analista responde 
com meia verdade, fazendo semblant desse lugar onde foi colocado. É necessário compreender que 
tal procedimento só pode ser entendido senão na prática da psicanálise. 
 
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 16 
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