Buscar

Fluidoterapia em pequenos animais

Prévia do material em texto

21/08 – Fluidoterapia
Lidamos com fluido na grande maioria das pacientes hospitalizados, mesmo quando eventualmente não desidratado, é bom manter acesso venoso para manter a hidratação em níveis satisfatórios. É importante entender as diretrizes da fluidoterapia em níveis hospitalares para manejar bem o estafo hidroeletrolítico do paciente.
	Entender a importância da agua e eletrólitos no organismo: no cão e gato, cerca de 60% do peso do adulto, e 80% do peso do neonato é água. É muito importante que se reconheça os distúrbios hidroeletrolíticos do paciente. Desse percentual, +- 40% está no compartimento intracelular (dentro da célula) e 20% é extracelular (fora da célula). O extracelular ainda pode ser subdividido: parte desse líquido no plasma, que corresponde ao volume circulante do paciente (5%), 14% no interstício (entre as células) e 1% se movimentando de um compartimento a outro (transcelular). 
	O que dita o equilíbrio eletrolítico é o movimento da agua entre os compartimentos. Há os compartimentos intracelular e extracelular e o extracelular pode se subdividir entre o que está dentro do leito circulante (vasos), o que está fora do leito circulante (interstício) e o que está efetivamente se movimentando.
	O que faz o líquido se movimentar é o gradiente osmótico. O liquido se move de uma região de menor osmolaridade para uma região de maior osmolaridade. Onde tem maior gradiente osmótico, atrai o liquido com o objetivo de tentar manter os dois lados da membrana semipermeável equilibrados, sendo que membrana semi permeável pode ser membrana da célula, parede do vaso, qualquer coisa que divida um compartimento do outros. Tudo isso é permeável à agua, mas até o momento que os dois lados estejam relativamente iguais em relação à osmolaridade. Quando começarem a se equalizar, essa força que dita o movimento, desaparece, não há mais estímulo.
	Principais íons envolvidos no contexto de equilíbrio eletrolítico:
No meio intracelular, principalmente potássio e fósforo.
No meio extracelular, principalmente sódio e cloro. 
O que dita o movimento da água, na verdade, são substâncias que tem afinidade pela água, que tem potencial osmótico. 
Macromoléculas: proteínas (mto importantes) – plasma é rico em proteínas e tem grande afinidade pela água; glicose, ureia – moléculas osmoticamente ativas; sódio (eletrólito) – também tem afinidade pela água.
Por que ocorre desequilíbrio hídrico entre compartimentos se fisiologicamente a água tende a se equilibrar, devido ao gradiente osmótico? Alguma razão que de alguma forma favoreça o desequilíbrio, tal como, paciente que diminui a ingestão hídrica, alguma alteração neurológica que impede o consumo de água (locomoção diminuída, deglutição diminuída, etc) ou ainda situação que aumentam a perda de água (mesmo que haja ingestão, há maior perda), como ocorre na poliúria (produção urinária normal seria entre 1 e 2 ml/kg/hora, estando normohidratado) e se não compensar a maior perda de água na urina entra em desequilíbrio, vômito, diarreia, febre, estado hiperdinâmico circulatório, aumento da taxa de filtração glomerular (maior perda renal); sudorese (cães e gatos não); queimadura extensa (a pele tem importante papel em prevenir a exsudação de líquidos, desidratação do tecido subcutâneo e quando a pele perde a integridade por queimadura, a perda hídrica por exsudação e ressecamento é muito maior, difícil de manejar quanto ao equilíbrio eletrolítico), efusão – “perda para o terceiro espaço” (ascite, abdominal, pleural). Sabendo que o paciente pode entrar em estado de desequilíbrio eletrolítico, ele vai entrar num quadro de desidratação.
É necessário saber o “tipo” de desidratação que o paciente tem, pois na hora que vai corrigir essa desidratação, o principio mais primordial será que se deve corrigir repondo um fluido que seja semelhante ao que foi perdido. Sabendo que se tem um equilíbrio fisiológico entre agua e eletrólitos, quando ele perde, pode perder de 3 formas distintas: mantendo a proporção de agua e eletrólitos, ou com as proporções alteradas – mais água que eletrólitos, ou mais eletrólitos do que água. 
Desidratação hipotônica: quando pensa na quantidade de agua e na quantidade de eletrólitos do paciente, perdem-se mais eletrólitos do que agua. Sobra água, proporcionalmente aos eletrólitos (mesmo tendo-se perdido ambos). Ex.: Sódio – perde mais sódio que água, desenvolve quadro de hiponatremia. Se for reposto com liquido pobre em eletrólitos, não vai resolver o problema dele, e sim modificando o problema. Com sódio baixo no leito vascular, água vai para meio intracelular (“atrás” do sódio), ‘deixando’ hematócrito e proteínas totais altas, pois fica “mais concentrado”. 
Desidratação isotônica: quando pensa na concentração de íons no organismo, a perda é proporcional. O total de água e o total de eletrólitos diminuídos, mas a concentração de eletrólitos é exatamente a mesma – perda proporcional (concentração = quanto de soluto tem em relação ao solvente). Forma mais comum de desidratação no dia a dia e isso é bom porque a maior parte dos fluidos utilizados é isotônico. Como a alteração de íons não é alterada, não ocorre alteração no gradiente osmótico. 
Desidratação hipertônica: contrario da desidratação hipotônica. Se imaginar concentração de agua e eletrólitos, paciente perde muito mais água do que eletrólitos. Sobram eletrólitos, proporcionalmente à água. Ex.: hipernatremia (sódio) – se sobra sódio no organismo, a água do leito intracelular vai querer sair da célula e ir para o leito vascular do paciente, atraída pelo excesso de sódio sobrando na circulação, resultando em desidratação da célula, prejudicando a função celular e deixando de funcionar adequadamente. Quando pensa em volume vascular do indivíduo, demora muito mais para baixar. A perfusão demora muito mais para ser prejudicada, pois o volume de água aumenta no leito vascular, mantendo a volemia do paciente estável, apesar da perda hídrica. Também tem maior demora na alteração de hematócrito e proteína total. Quando corrige essa desidratação, deve repor água, pois eletrólito já tá sobrando (mto provavelmente utiliza sol. glicosada que é desprovida de eletrólitos). 
A desidratação hipotônica vai ocorrer quando há perda de fluido hipertônico, ou seja, perda de fluido rico em eletrólitos. Ex: diurese forçada com fármacos (muitos diuréticos são saluréticos, que trabalham inibindo a reabsorção do sódio, como a furosemida, levando a perda intensa de sódio); peritonite por exsudação; pancreatite; iatrogenia (se o paciente perdeu fluido isotônico e erroneamente se corrige dando água pura, solução glicosada – apenas altera o problema para uma des. hipotônica). 
Desidratação isotônica ocorre quando há perda de fluido isotônico: vomito; diarreia; hemorragia; hipoadrenocorticismo (caracterizada por alteração na produção e secreção de aldosterona, que nos rins reabsorve o sódio e traz a água junto – falta de sódio e água, mas excesso de potássio).
A desidratação hipertônica ocorre quando há perda de líquido hipotônico (perda de água proporcionalmente maior que a de eletrólito): Vômito (maior parte é iso, mas pode ser hipertônico); diarreia (mesma situação que o vomito); diabetes mellitus (excesso de glicose na circulação e a água segue a glicose. A glicose se difunde pelos rins e os glomérulos não conseguem reabsorver toda a glicose, pela ultrapassagem do limiar de reabsorção, a glicose vai para urina e “leva” a água junto.); insuficiência renal (não reabsorve a água por fibrose renal), queimaduras (exsudação da água), febre persistente, stress calórico (nos animais que fazem sudorese, perda excessiva de água).
Dependendo da etiologia, a desidratação vai ser diferente, então é importante saber a fisiopatogenia da doença, para compreender que perda irá desencadear. Quando se entende o tipo de perda, tem passo para poder fazer a correção. 
Situações isoladas:
Perda de água pura: exemplo mais clássico, diabetes insipidus (deficiência na produção de ADH – vasopressina - que age nos rins, induzindoa reabsorção de água pura. Sem isso, a água não é reabsorvida e perdida.).
Febre: aumento da taxa de filtração glomerular, aumento da exsudação em indivíduos que tem glândulas sudoríparas. 
Diminuição da ingestão de água: Induzida (quando não tem água) ou pq o animal possui alguma condição que o impeça de ir atrás da água (não se locomove, está inconsciente, entre outras). 
Quantificar a magnitude da desidratação:
Transformar em números para tentar calcular quanto de reposição será realizada. Exame físico do paciente não é essencialmente matemático. Partir de conceitos subjetivos. 
Perda hídrica menor que 5%: não existe nenhuma característica clinica. Grau inaparente, com sinais clínicos inexistentes. É o paciente que apesar de não ter nada que aponte para desidratação, o proprietário fala que ele não bebe água, já é suficiente para acreditar que já há déficit hídrico.
Perda hídrica entre 5 e 7%: começa a ter quadro clínico. Redução de elasticidade cutânea (exsicose cutânea), mucosas começam a ressecar. Cuidar com fatores que alteram elasticidade cutânea, como gordura subcutânea, grau de fibrose cutânea e subcutânea (pacientes mais velhos). Clinicamente, desidratação leve, potencialmente não traz nenhum complicador ao paciente.
Perda hídrica entre 8 e 9%: começa a impactar mais no paciente. TPC aumenta (impacto na hemodinâmica, vasoconstrição periférica para direcionar o fluxo sanguíneo pra áreas de fluxo central), retração do globo ocular (enoftalmia), redução mais intensa da elasticidade cutânea, mucosas mais acentuadamente ressecadas. Clinicamente, grau moderado de desidratação.
Perda hídrica de 10 a 12%: Pele não retorna (perda drástica de elasticidade), TPC muito aumentado (no mínimo 3), mucosas ressecadas, possíveis sinais de choque. Já tem alteração de perfusão no SNC, já pode estar quase/ou inconsciente. Função neurológica alterada (obnubilado*). Alguns autores já consideram CHOQUE, outros não. Desidratação grave.
CHOQUE HIPOVOLÊMICO: perda hídrica de 12 a 15%. Choque tem duas fases (procurar fases do choque). Capacidade de perfundir comprometida devido ao grave déficit hídrico. Ao perceber a falta de volume, o organismo tenta compensar a redução do DC ativando o sistema simpático. Há descarga de catecolaminas, que faz taquicardia. Temporariamente, apesar da falta de volume, paciente consegue manter algum grau de perfusão tecidual, mas isso é transitório, pois falta volume. Pulso rápido e filiforme, vasoconstrição severa (catecolaminas), baixa temperatura devido à baixa perfusão (1ª fase do choque – compensatória). Se não for feita intervenção rapidamente, paciente vem a óbito. 
O que mais encontra na desidratação:
Elevação do hematócrito (Dependendo do tipo de desidratação e do momento. Ex: isotônica, num primeiro momento não ocorre). Se paciente já está severamente anêmico, apesar da hemoconcentração, pode-se ter hematócrito dentro de valores normais. O mesmo vale para pacientes hipoproteinêmicos - a elevação de concentração de proteína total levará a valores considerados normais, mesmo concentrada. Não se pode balizar apenas pelo numero para definir desidratação ou não.
Densidade urinária: quando se pensa em paciente com função renal prejudicada (não pensar em creatinina e ureia, que indicam falência renal já) o que se pode encontrar é perda da capacidade de concentração urinária (principais funções dos túbulos renais). O glomérulo é 100% permeável à agua e os túbulos reabsorvem a água novamente, quase toda. O que sai efetivamente na urina é muito pouco. Se paciente desidratado, precisa conservar água no organismo e os túbulos trabalham mais para isso e a densidade urinária sobe (aumenta). Se paciente desidratado e a densidade urinária não aumenta, significa que ele tem alguma coisa que está interferindo na função renal de concentração urinária. Se tiver distúrbio da adrenal, também pode interferir nesse processo (hipoadreno – falta da aldosterona; hiperadreno – excesso de cortisol). Ou ainda se paciente toma diuréticos (por exemplo, paciente cardiopata), corticosteroides (aumento do cortisol de modo iatrogênico), ou ainda paciente já em fluidoterapia e não se estiver respeitando a velocidade ideal de infusão do fluido (rápido demais, não dá tempo de sair do leito vascular e se redistribuir para outros compartimentos. O excesso de fluido no leito vascular é entendido pelo rim como sobra de água). 
Azotemia pré renal: aumento dos compostos nitrogenados no sangue, por redução da perfusão renal. Paciente desidratado, quando mais grave for a desidratação, menor é a perfusão dos órgãos e dos tecidos. Rim também será hipoperfundido. 
Dados hemogasométricos: análise de gases sanguíneos, como a periferia do paciente está hipoperfundida, a periferia é a primeira a ‘sofrer’. Esses tecidos continuam trabalhando num estado de anaerobiose e nesse estado, produzem substâncias que acidificam o meio, então o organismo começa a consumir o bicarbonato sanguíneo, levando a um estado de acidose metabólica. Vai aumentar o CO2 sanguíneo. 
Quando que se faz fluido? Para corrigir desidratação, para manter o estado de hidratação (melhor controle por via parenteral), para corrigir distúrbios eletrolíticos ou distúrbios ácido-base, para manter acesso vascular, para garantir a perfusão renal adequada em paciente anestesiado (rim hipoperfundido pode ter lesão). Sabendo de tudo isso, deve-se escolher o tipo de fluido que se quer fazer. Basicamente duas categorias de fluidos: cristaloide ou coloide. 
Cristaloide: fluido que tem ou não eletrólitos (eletrolítico ou não eletrolítico). O que define o cristaloide é a capacidade de se movimentar entre os compartimentos. Consegue sair de um compartimento e ir para outro. Move-se mediado pelo gradiente osmótico, enquanto este favorecer este movimento, saindo de área de menor osmolaridade para área d maior osmolaridade, com o objetivo de equilibrar os dois lados da membrana semipermeável. Normalmente são os fluidos mais utilizados. 
Solução fisiológica (cloreto de sódio 0,9%)
Solução meia salina (cloreto de sódio 0,45%)
Solução ringer
Solução ringer com lactato (mais próximo da composição plasmática – deveria se chamar solução fisiológica) 
Glicose 5% - cristaloide não eletrolítico, só tem glicose, em quantidade baixa, energeticamente desprezível. Está ai apenas para equalizar a osmolaridade do fluido, pois sem isso, o fluido vira ‘água pura’ que é hipotônica e se for infundida no vaso, causa hemólise. 
Coloide: fluido que tem atividade osmótica intensa e ao invés de sair do local que foi colocado, ele puxa agua para aquele local. Ou seja, se for colocado no leito vascular, ele puxa água para dentro do vaso. Não pode ser administrado no subcutâneo, senão puxa a água para lá. É um fluido de uso exclusivamente intravenoso. Normalmente são utilizadas em situação que precisam de rápida expansão volêmica, como nas emergências. Com quantidade relativamente pequena de fluido consegue trabalhar organismo ao seu favor, consegue mobilizar agua que ainda existe no organismo para dentro do leito vascular, ou ainda consegue segurar o cristaloide que está infundindo no paciente por mais tempo dentro do leito vascular, pq ele está tão desidratado, o interstício e células, também, que o fluido não para no leito vascular para outras áreas. Com o coloide, o cristaloide se mantem no leito venoso, ao menos até que o paciente saia do estado de choque e reestabeleça a perfusão tecidual. 
Pode-se utilizar também em alguns pacientes hipoproteinêmicos. Proteína é importante na manutenção da pressão coloidosmótica do paciente. Tenta usar coloide para tentar normalizar ou levar o mais próximo possível do normal a pressão coloidosmótica e evitar que o liquido saia do leito vascular. Não em todos os casos, pq dependendo da causa da hipoproteinemia, pode ser que essa substância osmoticamente ativa que está fazendo não consiga resolver. Maior parte das vezes utiliza substâncias produzidas, mas pode-se utilizar coloides naturais, como plasma. 
Plasma
Dextran, dextran-70.Quando maior a molécula, mais tempo ela fica circulante, e fica mais tempo segurando a água no vaso.
Hetastarch – outro tipo de amido, para manter pressão coloidosmótica do paciente elevada. 
Os fluidos têm composições específicas. Mas às vezes é preciso modificar, complementar a composição dos fluidos para atender a propósitos específicos. 
Há situações em que precisa usar alcalinizante no paciente. Quando não se pode usar os fluidos que já tem alcalinizante, uma substancia corriqueiramente empregada é o bicarbonato de sódio (ampolas) que são acrescentadas a fluidos específicos. Não deve ser acrescentado em fluidos que tem cálcio, pois reage com o cálcio e precipita (ex. solução de ringer). Poderia acrescentar, por exemplo, na solução fisiológica. 
 Cloreto de potássio: pode ser acrescentado para repor potássio. Paciente hipocalêmico ou tem condição que potencialmente cause perda intensa de potássio, precisa suplementar, porque os fluidos não tem quantidades satisfatórias de potássio para atender as necessidades do paciente.
Cloreto de cálcio: suplementar cálcio.
Cloro é difícil precisar suplementar. Fluidos tem quantidades satisfatórias. 
Quando se pensa em medicina transfusional, isso também é um tipo de fluidoterapia, mas com peculiaridades. Mas pode-se pensar no sangue, hemoderivados, substitutos como a oxiglobina, que é uma hemoglobina separada de estroma, capaz de carrear oxigênio livremente. Tudo isso entra num conceito macro de fluidoterapia, com peculiaridades. O mesmo vale para soluções de nutrição parenteral, soluções utilizadas para fornecer energia para o paciente e não para hidratação ou reposição eletrolítica. Assim como a medicina transfusional, também está nesse conceito macro de fluidoterapia, com peculiaridades.
ESCOLHO DO FLUIDO
Primeiro passo: pensar no que foi perdido, qual é a doença, qual a causa da perda. Uma vez que se sabe isso, já tem uma ideia do tipo de perda. Sabendo o tipo de perda, vai escolher fluido que seja semelhante ao fluido perdido. 
O fluido mais fisiológico que se tem é a solução de ringer com lactato. Grandes exceções são vomito agudo e insuficiência hepática. Solução de glicose 5%: tecnicamente igual a fornecer apenas água ao paciente. Máximo que consegue fornecer é 15% das necessidades calóricas, quando se pensa na glicose presente. De todos, é o menos utilizado. Em duas situações, basicamente: se o objetivo for corrigir desidratações hipertônicas ou se quiser corrigir estado hipoglicêmico (devido à glicose).
Vômito agudo: aquele que tem evolução de 24 horas, com apenas conteúdo estomacal. Mais do que isso, entende-se por vômito crônico. Mesmo que seja agudo, mas tenha conteúdo intestinal, ai não entra nesse conceito. Se perde agudamente apenas conteúdo estomacal, o estomago é rico em HCl. Dos íons do organismo, o cloro é um dos íons mais ácido e a perda excessiva do cloro (Cl) vai levar a perda excessiva de ácido no organismo, levando a alcalose. Então precisa de fluido acidificante (solução e ringer simples e cloreto de sódio 0,9% - líquidos isotônicos com características pouco acidificantes, não tem tampão).
Vômito crônico ou agudo com conteúdo intestinal (inclusive com característica amarelada, de bile, entende-se por intestinal também): está perdendo bicarbonato do intestino. Perda intensa de bicarbonato (íon alcalino) leva a excesso de ácido no organismo e leva a acidose. Precisa usar fluido que alcalinize o meio (solução ringer com lactato – fluido isotônico alcalinizante – lactato sofre biotransformação no organismo com metabolismo eritrocitário e hepático, e é convertido em bicarbonato, que é tampão. Acontece de acordo com a necessidade do paciente, ou seja, não transforma acidose em alcalose). 
Quando em insuficiência hepática o paciente não consegue fazer essa conversão adequada, e sem essa conversão, não se consegue fazer o lactato transformar em bicarbonato, ficando sem tampão. Nessa situação a alternativa é usar solução fisiológica agregada com tampão pronto (bicarbonato de sódio). Risco de transformar acidose em alcalose. Importante calcular quantidade exata de reposição.
Diarreia: perda de conteúdo intestinal, causa excesso de ácido (perdendo conteúdo básico). Quadro de acidose, fluido alcalinizante. 1ª escolha ringer lactato e se não puder receber, usa solução fisiológica com tampão. 
Vomito e diarreia: quadro comum. Avaliar quem tá trazendo a maior perda. Via de regra, a diarreia é mais ponderante, nortear-se por ela. Usar alcalinizante.
VIAS DE ADMINISTRAÇÃO
Via intravenosa: mais usual dentro do procedimento hospitalar. Propicia bom controle, com dose precisa, faz-se rápida expansão de volume, permite fazer fluidos mais complexos, como nutrição parenteral, que contem soluções lipídicas, que podem causar reações por outras vias. Mas quando se pensa num paciente fora do ambiente hospitalar, não é uma via usual, pois pode trazer série de complicadores (trombose, inflamação vascular, infecção, embolia, super-hidratação). Geralmente utilizada em pacientes doentes, desidratação severa, perda aguda de fluidos (obrigatória utilização). Não há uma veia exata para se fazer, depende da experiência do clinico (exs.:cefálica radial, safena), do individuo (ex.: coelho, faz-se na auricular) e do quadro clínico (ex.: se paciente tem diarreia não é bom por na safena, porque pode haver maior contaminação). Esses detalhes são pontos que se deve ponderar para decidir o que é melhor em cada situação.
	Via subcutânea: via simples, barata de fazer. Prática e qualquer pessoa consegue fazer, mesmo sem experiência, porém ela está reservada para pacientes minimamente desidratados. Para pacientes com desidratação expressiva, não é interessante, por motivos fisiológicos – quando desidratação é grave, ocorre vasoconstrição periférica, e demora muito tempo até que fluido seja absorvido do subcutâneo e seja redistribuído no organismo. Não usar quando desidratação grave, hipotérmico, vasoconstrição periférica e quando perda for muito aguda e grave (por que geralmente relacionada com intensa resposta simpatomimética). Não usar com soluções com muito potássio, solução hipertônica ou desprovida de eletrólito (puxa liquido para espaço subcutâneo, faz edema). Velocidade é a que consegue fazer. Forma umas bolsinhas, então precisa distribuir em alguns pontos do paciente, para melhorar redistribuição.
	Via oral: via mais fisiológica. Interessante para soluções de alto teor calórico. Quando pensa em alimento, é a melhor via, se puder ser utilizada. Diretamente relacionada com manutenção do equilíbrio da microbiota do paciente. Para função intestinal, nutrição oral é melhor, pensando na questão alimentar, que também envolve água. Contraindicações: paciente com vomito ou perda grave e aguda de líquidos. 
	Via intraperitoneal: jogar o fluido dentro do abdômen do paciente. O peritônio tem fenestras que possibilitam a absorção do fluido. Fácil de absorver e relativamente rápida. Permite grandes volumes pq o espaço comporta. Só pode solução isotônica. Contra-indição: possibilidade de infecção ou inflamação asséptica. Cuidado ao fazer. Não é interessante na desidratação severa. 
Via intraóssea: menos frequente no dia a dia, mas pode ser realizada. Geralmente em pacientes com déficits volêmicos graves e não tem acesso vascular. Se receber paciente muito pequeno, muito jovem e desidratado e não conseguir veia: alternativa – dissecar veia ou via intraóssea. Em termos de absorção é muito próxima à intravenosa. Pode ser alternativa quando não tiver leito venoso disponível e precisar de rápida expansão volêmica. Locais mais usuais: tuberosidade da tíbia, fossa trocantérica do fêmur, asa do ílio e tubérculo maior do úmero. Agulha específica, mas dá pra fazer de maneira improvisada – tecnicamente mais difícil. Desvantagem: possibilidade de osteomielite e dor devido ao periósteo. Usar em situações imprescindíveis apenas. Realizar assepticamente. Mesmo animal desacordado, é bom realizar bloqueio regional, pode ser com lidocaína.
CATETER
	Pode ser um cateteragulhado, que usualmente é chamado de escalpe (alguns de butterfly). Desvantagem é que mantem agulha dentro do vaso. Mais agressivo ao vaso, sai facilmente da veia, comumente envolve flebite, do ponto de vista técnico deve ficar no máximo 3 horas dentro do vaso. É mais barato que cateter de prolipropileno, mas custo benefício não vale a pena. 
	Mais utilizado é o cateter de veia periférica (alguns chamam pelos nomes comerciais), flexíveis ou de prolipropileno. Podem ficar até 3 dias dentro do vaso, sem nenhum problema, mas isso depende da limpeza, higiene e técnica de colocação. Se houver algum tipo de prejuízo, (ex.: vomito em cima) não deixar esses três dias, realizar troca senão pode levar a trombose e infecções (flebite). Desvantagem: como não tem agulha (retira mandril após colocação) podem sofrer fluxo posicional (se o paciente dobrar o local onde está o cateter pode estrangular e parar o fluxo). Importante manter distante de articulações para evitar o fluxo posicional. 
	Cateter venoso central: de veia central, para animais que precisam de infusão de grandes volumes, monitoração de pressão venosa central (fica parado dentro do átrio direito, na chegada das veias cavas, consegue acoplar um manômetro ou monitor de pressão invasiva e ter indicador de volemia) – vantagem, principalmente em animais de terapia intensiva, pois há controle melhor com indicadores numéricos do quão hidratado ou do quanto esse paciente já respondeu à reidratação, além de poder oferecer grandes volumes rapidamente. Outra vantagem é para pacientes hospitalizados que precisam de amostras sanguíneas frequentes, do cateter venoso central pode-se coletar. Também pode ser utilizado para soluções viscosas, como soluções de nutrição parenteral total (lipides). 
Cuidados com o cateter:
Deve-se realizar tricotomia e antissepsia SEMPRE. 
Mesmo que fique com cateter mais tempo, trocar as bandagens a cada 48 horas. Se inspecionar a bandagem e tiver perfeita, sem sinal de infecção, dá pra tentar manter, mas como se lida com animal, geralmente quando se olha, está sempre suja, com alteração. Então ideal é sempre trocar quando necessário, até mesmo antes das 48 horas. 
Mesmo com tudo aparentemente normal, não deve exceder as 72 horas, pois a chance de lesão e flebite no vaso é muito maior. Retirar, trocar o membro e deixar o vaso descansar e rapidamente ele voltará a sua condição normal. 
Devem ser inspecionados algumas vezes durante o dia e se não estiverem sendo utilizados (sem fluxo) deve-se irrigar o cateter com solução heparinizada para evitar formação de coágulo, obstruindo cateter.

Continue navegando