Buscar

LIVRO: Provas Atipicas - Darci Guimarães Ribeiro

Prévia do material em texto

Darci Guimarães Ribeiro
 
PQOVA0 ATÍPICA0 
R484p Ribeiro, Darci Guimarães 
Provas atípicas / Darci Guimarães Ribeiro. 
Alegre: Livraria do Advogado, 1998. 
150p.; 16x23cm. 
ISBN 85-7348-092-0 
- Porto 
., 
1. Prova. L Título. 
CDU 347.94 
índice para catálogo sistemático 
Prova 
(Bibliotecária responsável: Marta Roberto, eRB 10/652) 
I, 
o  
livrar~ia 
DOA0 O~AOO 
edItora 
Porto Alegre 1998 
l 
© Darci Guimarães Ribeiro, 1998. 
Projeto gráfico e diagramação 
Livraria do Advogado / Valmor Bortoloti 
Capa 
A Lógica e a Dialética, 
Relevo de Luca Della Robbia, 
(foto Aisa) 
Revisão 
Rosane Marques Borba
 
Direitos desta edição reservados por
 
Livraria do Advogado LIda.
 
Rua Riachuelo, 1338
 
90010-273 Porto Alegre R5
 
Fone/fax: (051) 225-3311
 
E-mail: Jivadv@vanet.com.br
 
Internet: www.liv-advogado.com.br
 
In memoriam 
Wolni Henrique Beckel Ribeiro 
Fanny Guimarães Ribeiro, 
exemplos de dedicação e amor, 
o meu eterno agradecimento. 
À Alessandra, minha querida esposa, 
pelas horas furtadas do 
nosso convívio. 
Impresso no Brasil / Printed in Brazil 
~
 
...
 
Prefácio 
o Direito tem a pretensão de associar-se à Justica, mas em 
verdade ele é servo dos fatos, conseqüentemente servo da prova, 
que se relaciona com a Verdade. Tudo que é falso é necessariamen­
te injusto. Por conseguinte, o menor erro na instrução de um pro­
cesso ou má valoração da prova pelo magistrado põe em 
questionamento todo o Direito como compromisso com a Justiça. 
Darci Guimarães Ribeiro deixou-se sensibilizar por isso e ele­
geu a prova como tema para sua dissertação de Mestrado na pue 
do Rio Grande do Sul. Pretendeu delimitar nesse universo o que 
denomina de provas atípicas. O título engana, entretanto. O que fez 
foi, com técnica louvável e respaldo doutrinário de mérito, versar 
todos os grandes temas da prova. Antes de monografia sobre pro­
vas atípicas, seu trabalho é um minitratado sobre ela, pois todos 
os grandes temas que lhe dizem respeito foram abordados. 
A leitura de sua obra serviu para comprovar o juízo que já 
fazia a seu respeito. Darci é um lídimo representante dos jovens 
que vêm o:upar espaço destacado em nossas letras jurídicas. Es­
tudioso e ap.lÍxonado pelo ensino do Direito, profissional comba­
tivo, sempre particularmente empenhado na defesa dos interesses 
que patrocina, é vibrante, mas sensato, guerreiro, porém leal, in­
quieto, contudo construtivo. Pertence à geração que amadureceu 
no contexto tecnicista e politicamente repressivo do pós-1964, que 
se fez quartelada em 1968. Está amadurecendo num mundo com 
numerosos desafios, todos de matriz prioritariamente política, re­
clamando soluções também de natureza política. Inadvertida dis­
so, contudo, atônita - como todos estamos - ela ou idealiza o 
resgate do Direito via magistratura, esquecida do inelutável de 
que os magistrados são, necessariamente, agent~s políticos inseri­
dos num sistema de poder, ou buscam fazê-lo mediante formula­
ção de princípios e valores dotados de validade que viria de um 
"transcendente racional", ou de um "transcendente passional", de 
algo, portanto, situado não se sabe onde e com conteúdo que não 
~
 '$ 
, 
se sabe qual. Disso decorre o grave risco de simplesmente estar­
mos pretendendo substituir servidão por servidão, o que significa 
nada mudar, ou talvez mudar para pior. Mais uma vez corremos 
o risco de colhermos apenas sonhos, porque dessa natureza é tudo 
que se colhe do que não foi semeado no solo das duras e determi­
nantes realidades sociopolítico-econômicas sobre que opera o ju­
rídico. 
Acredito seja a hora de amadurecermos e começarmos a abrir 
e a pavimentar o caminho da alternativa que se revela mais pro­
missora - a recuperação das matrizes políticas do jurídico. Repen­
sá-lo sem a embriaguez da crença em um Direito Natural dado aos 
homens como dádiva dos deuses ou por eles intuído racionalmen­
te, sim assumindo sua historicidade e ineliminável dimensão po­
lítica, buscando produzi-lo intersubjetivamente, mediante um 
dialogo veraz que permita defini-lo com um mínimo de arbítrio e 
um máximo de participação. Se isso não nos levará ao t:den nem 
a Xangrilá, irá permitir-nos, com segurança, pensar um justo rela­
tivo ;na~ revr:stido de efetividade, de uma vez por todas renun­
ciando à F.densão de nos julgarmos deuses, nós os juristas, e 
principalmente livrarmo-nos do mal de induzirmos os ingênuos à 
crença no Deus-Magistrado, num mundo cada vez mais satânico. 
O tema da prova é particularmente sensível a esta provoca­
ção. Darci cumpriu magnificamente a primeira etapa. Confio em 
que sua mocidade, élan e inquietação intelectual o levarão a pros­
seguir na segunda. Repensar a prova na sua dimensão crítica e na 
sua vinculação política, na moldura do alto risco que a tudo isso 
empresta a precariedade humana dos operadores jurídicos, que 
pode, mal disciplinada, torná-los agentes de alta periculosidade 
social. 
J. J. Calmon de Passos 
~umário 
Introd ução ,.,""',.,.............. . . 13
 
1. Princípios inrorrnadorcs do Lcoria da prova ..... . . . . . 17 
1.1. Teoria geral dos princípios . 17 
1.2. Princípios informativos do processo 19 
1.2.1. Princípio da imparcialidade .. 19 
1.2.2. Princípio dispositivo . 22 
1.2.2.1. Sentido material, substancial ou eleição dispositiva 25 
1.2.2.2. Sentido processual, impróprio ou impulso processual. 28 
1.2.3. Princípio do contraditório ..... 30 
1.3. Princípio informativo do procedimento 35 
1.3.1. Princípio da oralidade .... 35 
1.3.1.1. A oralidade e o direito antigo . 35 
1.3.1.2. Bentham, F. Klein e a oralidade 37 
1.3.1.3. Os valores da oralidade e a prova 40 
1.3.1.4. Audiência preliminar e oralidade 44 
1.3.1.4.1. Conciliação . 50 
1.3.1.4.2. Saneamento do processo . 53 
1.3.1.4.3. Fixação dos pontos controvertidos 56 
1.3.1.4.4. Determinação das provas a serem produzidas 57 
2. fundamentos da prova . . . . . . . . . . . . . . . . .
 
2.1. Prolegômenos . . . . . . . . . . . . . .
 
2.2. O problema da verdade na prova. 
2.3. Conceito de prova .... 
2.4. Classificação das provas 
2.5. Objeto das provas .... 
2.6. Princípio iurn lJovil cllrin ... ... 
3. Classificação dos roLos . . . . . .. 
3.1. Fatos controvertidos 
3.2. Fatos relevantes .. , . 
3.3. Fatos determinados . 
3.4. Fatos incontroversos. 
3.5. Fatos confessados ..... 
4. Provas aLípicas .. 
4.1. Noções gerais 
. . . . .. . .. 
59 
59 
60 
63 
70 
74 
78 
. . 83 
83 
85 
87 
87 
89 
. 
.. 
. 
93 
93 
~
 
" <'~"."'~.,. 
4.2. Fatos notórios . 93 
4.3. Presunções . 99 
4.4. Regras de experiência . 105 
4.5. Prova emprestada .. . . 110 
4.5.1. Prova emprestada e processo nulo. 115 
4.5.2. Prova emprestada e processo penal 117 
4.5.3. Prova emprestada e juízo incompetente 117 
4.5.4. O valor da prova emprestada . 118 
4.6. Comportamento processual da parte corno meio de prova 119 
4.6.1. Obrigação, dever, ou ônus de lealdade processual .. 119 
4.6.2. A lealdade processual no direito estrangeiro e brasileiro 121 
4.6.3. A valoração do comportamento processual das partes 124 
4.7. Documento eletrônico corno meio de prova. 130 
4.7.1. Noções gerais e conceito . 130 
4.7.2. Espécies de documento eletrônico 132 
4.7.3. O valor do documento eletrônico 133 
Conclusão . 137 
Referências bibliográficas 141 
Introdução 
Existem determinados temas que nos marcam profundamen­
te, pois apresentam uma relação muito estreita com a realidade na 
qual estamos inseridos, e um destes temas é, indubitavelmente, a 
prova. A prova é tão importante que, segundo Carnelutti, "el hom­
bre no juzga nunca sin constatar el juicio con las pruebas".! 
No capítulo primeiro, apresentamos a prova e sua relação 
muito estreita com os princípios processuais, na medida em que 
estes traduzemos valores latentes da sociedade; são estes valores 
dinâmicos, enquanto as leis são estáticas; eles evoluem, enquanto 
as leis estagnam. São eles os responsáveis diretos pelas reformas 
processuais, porque, variando no tempo e no espaço, exigem um 
aprimoramento dos instrumentos postos pelo Estado à disposição 
dos cidadãos. Não são eles perceptíveis a olho nu e só podem ser 
visualizados sob a lente aguda da filosofia, da sociologia, da his­
tória e da psicologia, sob pena de, em assim não se fazendo, redu­
zi-los à simples descrição da realidade. 
Estudei o princípio da imparcialidade a partir da natureza do 
homem, porque, segundo Protágoras (c. 487-420), "O homem é a 
medida de todas as coisas". 
e princípio dispositivo foi visto como uma relação dialética 
de atividades, em que o juiz é parte fundamental e atuante, e deve 
sempre, segundo VICe, "cultivar a arte dos melhores advogados 
para poder e, sempre que puderem, para obter, que também nas 
causas privadas, de interesse dos particulares, seja associado um 
interesse público."2, pois modernamente o processo é visto mais 
como um instrumento de realização da justiça, do que uma série 
de atos praticados pelas partes. 
e princípio do contraditório foi visualizado como condição 
essencial de validade da prova, necessitando, quando da sua co­
1 Derecho y Proceso, EJEA, 1971, nO 73, p. 143. 
2 De Nostri Temporis Studiorum Ratione, contido no livro Textos Clássicos de Filosofia do Direito, 
RT, 1981, p. 79. 
DOOVM ATIPICM 
5· 
13 
lheita, a presença tanto do juiz quanto das partes, sob pena de 
viciar a prova. 
O princípio da oralidade foi estudado em todos os sentidos, 
histórico, filosófico, psicológico e sociológico, e apresenta o seu 
campo mais fecundo na prova, porque o processo é a tentativa de 
se reproduzir uma realidade ocorrida sob a ótica do autor e a do 
réu. Foi vista também a audiência preliminar, que representa um 
avanço significativo na marcha do processo, pois será ela a respon­
sável direta pelo aceleramento da prestação jurisdicional e não 
seria exagero dizer, consoante Proto Pisani, que "Il successo o il 
fallimento della riforma sono indissolubilmente lega ti ai funziona­
mento o no di questa udienza".3 
No capítulo segunào, foram vistos os fundamentos da prova, 
em que se procurou destruir o conceito de verdade nas ciências 
humanas e, em especial, na ciência jurídica, tudo isto analisado 
desde a Grécia Antiga, passando-se por Descartes, que, segundo 
penso, representou um atraso par" a ciência processual, à medida 
que, escrevendo para a razão, tentou evitar o prejuízo, dizendo 
que era preciso "evitar cuidadosamente a precipitação e a preven­
ção" e explicava que por precipitação deveria ser entendido que 
não se poderia "julgar antes de se ter chegado à evidência".' Con­
seqüentemente, o autor só poderia "encostar" as mãos nos bens do 
devedor após uma sentença, não permitindo, assim, uma liminar. 
Após, tentamos recuperar o conceito de prova, entendendo-a, fun­
damentalmente, como técllica de argulJlellto, ou, como bem explica 
Alessandro Giuliani, "L'attenziont sull'esistenza di una concezio­
ne classica della prova come argUnteHtulH, e sulla esistenza di una 
logica dei probabile e dei verosimile, legata alie tecniche di una 
ratio dialectica, ed all'idea di UlW veritií probabile, construi ta in rela­
zione alie tecniche ed alia problematica dei processo".5 Em razão 
disto, justificamos ser ônus da parte tanto a prova que é feita sobre 
uma alegação de fato, quanto aquela feita sobre uma questão de 
direito. 
Buscou-se, no capítulo terceiro, um aprofundamento sobre os 
fatos apresentados em uma causa e que são fundamentais para um 
bom desempenho processual. Mostrou-se a importância, por 
exemplo, da diferença entre fatos controvertidos e fatos discutidos. 
Na primeira hipótese, temos o gênero, enquanto na segunda, a 
3 LII NlIova Disciplil/a dei Processo Civile, Nilpoli, 1991, p. 130.
 
4 Discllrso do Método, contido na coleção Os Perrsadorcs, v. I, p. 37.
 
511 Cal/celta di Prova·Cal/tributo alia Logica GillridiclI, Giuffre, 1961, p. 253.
 
espéCie, razão pela qual o fato pode não ser discutido e, ainda 
assim, permanecer controvertido. Vimos também que só há fato 
incontroverso quando ocorrer o silêncio de quem tinha o ônus de 
não silenciar. 
No capítulo quarto, reside o cerne do trabalho, é o estudo das 
provas atípicas, ou seja, aqueles meios não tipificados pelo legis­
lador, mas que, pela sua importância, são vitais para auxiliar na 
formação do convencimento do juiz. A literatura a respeito das 
provas atípicas é rarefeita e muito esparsa, não sendo possível, 
senão mediante um esforço muito grande, se alinhavar diretrizes 
fundamentais que sejam capazes de auxiliar aqueles que enfren­
tam diuturna mente os problemas das lides forenses. 
O fato notório, apesar de sua complexidade, mereceu estudo 
sério, pois, segundo posição dou trinária maciça, ele está dispensa­
do da prova, principalmente, por se ter um entendimento errôneo 
do art. 334, inc. I, do CPc, que confunde, nas palavras de AlIorio, 
o notório com el efecto de la IlOtoriedad. 6 
Também as presunções foram revisitadas, pois tivemos a 
preocupação de demonstrar que todas elas dependem de prova, 
quer sejam absolutas, quer sejam relativas ou simplesmente co­
muns, porque a dispensa da prova reside só no fato desconhecido 
e no nexo de causalidade, sendo necessário provar, caso se queira 
utilizar a presunção como benefício, o fato conhecido, mostrando­
se com isto como deve ser feita a interpretação do art. 334, inc. IV, 
do CPC. 
As regras de experiência foram analisadas e classificadas, di­
ferenciando-as dos fatos notórios e do conhecimento privado do 
juiz. Chegou-se à constatação que pertencem à premissa maior do 
silogismo jurídico, e, portanto, são passíveis de desafiarem recurso 
especial. 
Atel'ção especial mereceu a prova emprestada, em razão da 
pouca literatura a respeito e da sua grande importância prática, 
tendo sido traçados requisitos para que a prova pudesse ser tras­
ladada de um processo para outro com segurança. Sustentou-se 
como requisito fundamental, e.g., que a parte contra quem a prova 
é produzida deverá ter participado do contraditório na sua cons­
trução. Com isto, diz-se que a prova pode ser utilizada por quem 
não participou do processo orig;nário, uma vez que ela não se 
dirige a ele, mas por ele é utilizada contra quem, obviamente, 
6 Obscrvaciol/es sobrc el Hccho Notorio, contido nos Problellllls de DerecllO Procesal, EJEA, 1963, 
t. 11, p. 392. 
14 Darci Guimarães Ribeiro PROVt\~ A'IÍPICt\dl 15 
'O; 6 
, 
tenha participado do contraditório. Justificou-se, ainda, a licitude 
da prova obtida através de escuta telefônica em processo penal e 
transportada para o processo civil. 
Também mereceu muita atenção, quiçá, a maior, o comporta­
mento processual das partes como meio de prova, pois se buscou 
uma classificação inovadora, e, portantu, sujeita a críticas futuras, 
das diversas espécies de comportamento processual das partes, em 
face das normas contidas no nosso ordenamento processual, po­
dendo o comportamento gerar uma obrigação, um dever ou um 
ônus processual. Tudo isto, em virtude de uma exaustiva análise 
do princípio da lealdade processual, tanto em países, como a Áus­
tria, a Alemanha, a Itália, a Espanha e a Argentina, como no direito 
brasileiro. 
O documento eletrônico traz consigo uma série de situações 
novas, não previstas, diante das quais o jurista não deverá ficar 
inerte. Não se consegue encaixá-lo nem dentro dos documentos 
públicos, pela ausência de oficial público, nem dentro dos docu­
mentos particulares, em virtude de não possuírem firma, na me­
dida em que a caracterização desta espécie de documento se faz 
pela firma. Sustenta-se a possibilidade da utilização do documento 
eletrônico como meio de prova,em virtude de o sistema jurídico 
brasileiro não excluir esta espécie de prova, segundo se depreende 
do art. 332; inc. III do art. 371 e art. 131, todos do CPC. 
Tudo isto deve ser apreendido conforme as brilhantes pala­
vras de Denti quando nos diz: "No Campo do processo não há 
outra matéria que reflita melhor o movimento político, social e 
cultural do mundo contemporâneo com maior intensidade que o 
direito das provas".7 
1. Princípios informadores da teoria da prova 
1.1. Teoria geral dos princípios 
Cada sociedade tem o seu processo e, à medida que ela evolui, 
o seu processo também deve evoluir, sob pena de causar injustiças, 
pois a evolução dos fatos sociais exige instrumento adequado e 
eficaz capaz de regulá-los satisfatoriamente. O Direito é essencial­
mente uma ciência de valores que a civilização humana estabelece 
como padrões necessários à convivência social e à realização dos 
anseios superiores do homem. 
Cada sistema processual se calca em princípios erigidos pela 
sociedade, que se estendem a todos os ordenamentos, e em outros 
que lhe são próprios e específicos.8 
Os princípios são, na lição de D. Barbero, "antecedentes ao 
ordenamento positivo, mas nos quais se inspirou o próprio legis­
lador e que, através da legislação concreta, penetram no ordena­
mento jurídico tal como pilares fundamentais de sua estrutura, 
ainda que não expressos formalmente".9 
O estudo dos princípios é fundamental para uma boa percep­
ção do Direito processual, pois é através deles que se percebe o 
grau de desenvolvimento de uma sociedade, a proteção que seus 
indivíduos possuem frente ao Estado. E é sob essa perspectiva que 
visualizaremos os princípios, com o intuito de amoldá-los frente 
ao estudo do direito probatório e à nossa realidade sociocultural, 
já que nesse instituto avulta o poder discricionário do juiz. 
Os valores contidos nos princípios são considerados o espírito 
da lei, a alma que faz com que a lei caminhe neste ou naquele 
sentido, de acordo com o andar da sociedade, pois a lei s6 'é mu­
8 Já salienlava o inolvidâvel meslre F. Carnelulti "para quien lrala de subir ad apices, que 
los principias no son olra cosa que los fines." E continua, mais adiante: "EI fin se encuenlra 
ai principio de las cosas. No se lIega sin saber a dónde se va. La finalidad domina a la 
causalidad ", ob. cil., p. XXV e XXVIl (prefácio). 
9 Derecho Privado, vaI. I, n" 38, p. 128. 7 Esludios de Derecho Probtltorio. Buenos Aires, EJEA, 1974, p. 155. 
Darci Guimarães Ribeiro PROVA0 i\TlplOO16 
., 17 
oraue--llnL..l1r.ÍllcíD~foi reintemretado L1eléls continl!ências 
. ~.g" J~O que diz respeito à lu1CTc-i antecipéltória, esta 
· ~Q;:m:;llé"'l.li'l'ttFi'e;=._'F.t§;I!'.~~P~9::::'sitivuda porque, no mundo moderno, vigoru u reél­
~~~.ade_da aparência. 1O Conseqüentemente, o direito, como proces­
so de adaptação social, não poderia ficar éllheio a essa reaJidtlde, 
razão pela qual houve uma.vn]oriznç50 do princípio da verossimi. 
Ihanç'a em detrimento do princípio dn certezn, critlndo; por conse­
guinte, a tutela nntecipntórin, que está insculpidtl ·noarl. 273 do 
C~C . 
En unto ns leis são estáticns, os vnlores contidos nos princí­
· pios são dinãn:l.l&QL nqutlnto aquelas, por serem cstátl.ctls, neces­
sitam da jurisprudêncin, pún diminuir fi dicotomin existente entre 
elas e a realidade socinl, estes, por serem dinfimicos, se cmconlrtl!11 
dentro da próprin sociednde e ncompanhnm o seu evolliir. 5.;0 os 
'vnlores contidos nos princípios que dilo ti clasticidtldc 11ecessMitl 
para a interpretaç50 de umn]ei. Sem eles, n lei fictlritl pr'<);á ntl lcitl 
social da época em que foi crindn. . 
. É comum dizer-se que o poder constituinte é sobertlno e ili­
mitado,H não se vinculando n regras jurídicns preexisten~.és, inc1u­
sive à própria Constituição Federal. Mns esse podcrcoDstituinte 
não está imune às influêncins determinnntes de certos princípios 
já conquistndos c consngrudos pelo P.ovo. Por mais sobernno que 
seja tal p.oder, ainda nssim nilo poderá se desvencilhar dessél I/c­
rança genética cu/tural; pois, se isso fosse possível, j<ll1l<lis Ul1lêl /lova 
Constituição seriil aceita pelo povo. 
Segundo as lições dos mnis <l8-I<l!iz<ldos e <lbnliZildOs mestres 
contemporâneos, os princípios fundjlIDcntilis em que se inspir<1 <1 
legislação processuill ae nossos dins sjo de .c.Was Or.d.Cl1S: ti) QL 
rel<ltivo~_ao_proccssoe b) os relêltivos no JroccdiJllc!llo. O sentido dii 
pa .. process, n orme e eg<l <l neste tra tllho, tem U111t1 
conotação um pouco diversa dn hnbitu<ll, pois processo dever~, 
10 D\z a brilhanle filósofa Hannah Arcnl: "O poder é scmprc. como dirlamos h"ic, \11\\ 
pOlcnclal de podcr, não uma cnlidnde illlUtável, mellSurá\'cl e confi.1vcl C0l110 (orçól". ti 
17olldifll~ /11I11I0110, Ed. Forcnse Universilárln, 1989, p. 212. 
I1 Islo significa dizcr, lias palólvr~s de I\'s~ A(ol1so da Silv~. q\IC "o cOl1ccitu de I'"dcr 
constiluinle, en' prineipi", sc lem por juridichl11cnte i1imil.ldo" Curso rIr Oircito COII~lil"ci(1' 
uni Positivo, 3., 1985, RT, 1'.129. T"l1lbém piU" llec,lsén~ Siche~, ",I produç.'ll origin.\ri" do 
direilo implica o quc se chama podcr consliluintc", AJ'ud I'inlo l:crreir,l, /'rillcí/lio.ç Grrl/is 
d~ DirtilO COllsliruciollnl Moritfllo, 1" v, S"raiva, 6. ed., 19113, p. 49. V"le aqui ICl1lbrólr " 
adverlênciR de Dcnj"min CC'nstólnt: ~Qu~ndo sc ~fjrm,' quc " sobcrólniól do po\'o é ilil11ilól,lól 
·	 se eslá criRndo e introduzindo j"rcli7.menlc n" socicdade hum"na UI11 f;rau de pndcr ,k. 
mRlliado grande quc, por si IllCSnlo, cOl1slilui um mal, il1dl'l~endcnlcmel1lede quem o 
exerça. Nlo imporIa que sc atribu" a um, a vários, a lodos; sCl11prc SCriól UI11 l11al", /'lÍllci/,ios 
P~/flicos Ctl/lSlilllcíOIlOis, cd. Liber )uris, 1989, p. 62. 
18 . Dnrci C:"illlO,.ik,~ Ribeiro 
\ i. 
tl1lui, ser' el}tendido em sentido Into ou, em sé'lIti~o soçinl, ~mo um 
instrumehto que o Estado colocou à di~posição dos i~ivíduos 
pilr<l que, <lt.~nvés dele, pudesse distribuir mais justiça. As~im, pro­
curur-se-á, p.or meio destn visão, e, principalmente, destes princi­
pias, busc<lr soluções concrctns pélTa o intrincado problema dn 
prov<l. 
1.2. Princípios informalivos do processo 
1.2.1. Prillcípio da illlparcialidade 
A in . 'tlli I a 'urisdi ilO,12 isto é, SUêI 
ci'\r<lcterísticil essencial, I erenciêl dns emnis funções do 
Est<1do, como ti ê1dministr<lç50 e a legislnçnoY Umn vez que o 
~sttldº. !OllJ.Q..u. p<1rtl si o monopólio dtl jurisdiçno, este deve, tiO 
solver 'o~ conflitos que a ele siío submetidos, cncnrreg<lr <llguém 
11 Ncs~c scnildo, já semal1i(CSlnraWach.l1o ano dc 1885, quando di(erenciClu jurlsdiçllo dc 
ndllllnlslr.oçilô, dlzcndo: ·~sto lillhllo se cxpllcn Jobre lodo rorque los (nllos de la jusliclõl 
"dlllfnlslrnllvn no cucnlal1 conln5 ncccsarlas garnntlas dc Inlrardnlldad", Mallual ri~ Dtrtclm 
r'oreMI Citoil, v. I. 1977,,,.167. U, noulro p"nngell1, quando cRraclerizou o juiz, disse: "(... ) 
la 'õ1rcn dei jucz, dc In vocaclón dc apllcnr d dcrecho enlendidn como preJcrvnclól1 de.! la 
ril1nlid"d objclivadel proccso. En esa vocõlción rcsidc cI poslulóldo dc la j"'l'nrcia/i,/ori, cn 
olr"s palnvr"s, 101 cxigenci" dc 'luc d jucz no sirvc n la linalidad subjeliva dc alguna.de las 
parlcs." (grilo nosso) ill O.C., I'. li, p. 35. Estc lóllllbC!nl p"rccc scr CI scnlido de AUredo ~(X'co, 
'lunndo, cm 1906, nfirlllou como csscnda da função jurisdicional um órgão espClci~1 (um 
juiz) quc ~c <1i-$lInguia dns d"lllais (\lIlçl'>cspor a/'rescnlnr "unól cOllllición <$c indepcn~cllclõl, 
,\".' ", Iwrll1itc ~i"'c~r srr~na c impólrriõlllllenlc ~u Illisión", lA Stll/tllci,' Civil, Cõlrdenõl5 Ed., 
I'JII~. 1'.27. Tóllllh~Il1'Cóll"'"ólllllrt'i diz: "O juiz. c~~c ,Icvc ~cr imr"'cinl, ror'luc C!'IA .acima 
d.1s conlingênci.,s.", F.lr~, (1; iu(:rs, l'is/o; Imr lUIs, Il$ nrll'"sn.tM, 3. cd., Liv. C1l1s5ica Edil(lfa. 
Lisboól, 1960, p. 1120.Ncssc 5~(1ljdo, E. Licbnl,'", F""rinl//(/Iln "ri (',illci/,;o r/;s/,tJs;lil!l1Í.i1l Riv. 
dir. prtlc., XV (1960), pp. 551·565.	 \ 
I) Este n;\o é o senlióo dc G. Chiovelllla ao a(irlllõlr: "( ... ) pClrquanlCl n "t1lllinislrador I"mbém 
podc defronl"r·sc COIll ullln norma precisõl dc lei n apllcnr c d~\'c cm qunlqucr CRSO agir 
imparcinllncnle, no scnlido dc quc n;\o colillla n ulilida~e d.o ESlado a qllõl\quer prcço, mas 
o hem do Eslnllo 1101 jll~liçn", III$/i/lI;r<1(5 ..., 2" v., Snrnivn, 1969, p. 10. Pnro este nulClr, a
 
imparclalldndc não c! alribulo dn jurlsdiçllo, nn Illedidn elll que C' juiz lenl por ,'scopo "a
 
ólluação dóI \'onlnde conereln da lei pllf Illclo dn SUb5Iilulçllo", III$/;/II;(/lr5..., oh. cll., ". 03.
 
Cr,lç ns n cssc conccito dc jurisdiçllo, Chíovcndn ;Iniqulla a Clinllllngi" d" r"lnvrn scnlença,
 
poi~ "a sCl11cnçn dcixa de scr OI declólrõlção daquilo quc o juiz scnle par" lornar-sc a dcclõl'
 
r~ç;'o ó.'quilo que o juiz dc\'c "plicar ainda que nllo o sil1la". 1\1'"r1 Nilo Bairros de Urum,
 
/{c'lu;s;/os Rrltl,irr>s .tn 5'"/(//(11 I'(//nl, In, 1980, p. 17. 155<> é rcnc.o dos idc"is "OI Hc\'oluçllo
 
Fmncesól COIll o ~eu IllcnOSCólho 010 Podcr )udicillrio. pois. ~cgundolohn Ilcnry Mcrrymall,
 
cOIl~cqiiénci" d" Re\'"ll1ç~o Fr~IlC~~,l ("í 'luC a "~cpnr;'ri61l llc podcres prC'd\.jo un si51cma
 
scp"rndo de ·lribul1"les ndlllilliMr~lh'o~, illhibió la óldopción dc la rC\'isi(," judlclnl dc 13
 
legi~lacióll y'lirn.it6 a 111S jucccs a IIn papcl rclõllivalllCllle sCClllldllrio cn cI rroccso ll!g~I·,
 
I., r""liri(lll IlIrl,firo ROllltlllo·Cnllollirn, Ilrevi;\rill~, Ed, Fondo de CII\lurõl Ecollónlica·México,
 
1994, p. 46.
 
~iROVM NrlDICM ~aJ ~ 
imparcial. É uma gnrantia de justiçn pua ns pnrtes. 1f Essa é llmn 
das características da atividade jurisdicional, pois não se concebe 
que o Estado atribua a alguém pnrcial o poder para resolver os 
conflitos hllvidos em sociedade. E aqui chegnmos a umn encruzi­
Ihada:~.aber se·o juiz é ou não imparcinl. 
Adverte F. Carnelutti: "De ordinnrio, los estudiosos deI pro­
ceso, bajo el tema de la impnrcialidad, Iimifan el discurso nl instí­
tuto de la abstención y. de la recusación".ls Modcrnamente vemos 
estas idéias expandidas na corrente que se originou no Rio Grande 
do Sul, denominnda Direito Altemativo. Dizem os adeptos dessn 
corrente ue o 'uiz não é im nrcial, nn medidn em ue o nto de 
'ul ar de decidir é um ato íf nto areia. 
Discordamos de tnl conclusão, pois há. p recisn!1lente nw 
uma confusno conceitlln!, II medidn que se podc distinguir n9uí1o 
que chamamos de illlpnrcinlidnde filosóficn dn illlpnrcinlidnde IUl/llnl/n. 
Do onto de vista filosófico, o juiz nno é impnrcial,' assim 
como n s tam m não o somos, o n CIl)1cnto I6; o 
juiz é umn pessoa, tem suas preferências, suns inclinnções ideoló­
gicas, prefere o azul ao vermelho, o brnnco no preto ou vice-versn. 
Sob essa ótica, querer a impnrcinlidade do juiz é, segund.o F, CM­
nelutti, "como buscnr In cundrnturn dei círculo. Serín necesnrio 
hacer vivir ai juez dentro de unil cnmpnnn de vidrio"Y E, se isso 
fosse possível, pouca utilidnde teria esse juiz pnrn o Direito, pois 
a palavra sentençn, que trnduz o cerne d~ ntividnde jurisdicionnl, 
vem do latim sClltelltin, ne e significn dizer, segundo E. Couture, 
"expresar.,n sentimiento (... )".18 ti dn mesma fnmília dn pn!nvr.1 
u ~ ill'crc~!oall'c noliH (l que rCl"lrescnltl\'" i\ in'l'.ud.,lid.,dc 1'.H., (l Direito Prc.l(e~s\lI,1 
Hebreu, n\ais especilic:amenle no '(n/mll,I. <]unl1<lo 'lOS .1;7. Mnleo GoldSlc;n: "l:I IHl'p6~il(\ 
de asegur:ar l:a impnrcinlidnd de los juece~, en lodos los lueros. prolllovió In insliluci61l drl 
recurso de las recusncioncs, en lsrnel. Uno de los pleili~t:as declnr:a q\le él '1uierc ~cr jUI.I,;"do 
por lal personn - dice In jurisprudencin -; el olro pleili~lil, p\lr ("I otr.' personn. A C~II1~ dos 
jueces se agregn un lercero. Pero c:ado p:arle liene el derecho de recus:ar n \,' personil dq;id" 
por su conlendienle. (...)" Derec/lo Hebreo. Cap. VI, n' 14, p. 92. 
15 Ob. cil., p. 84. 
16 Essa é a lese cenlr:a\ do livro de HilbernM~, no ~:alientnr que lodo conhecimelllo é pll~lo
 
em movimenlo por interesses que dever,~o oricnt,\.lo. com:and~-Io. t nes~cs inlere~ses, e
 
não nll suposla in'pnrci:alidade do chnlll:ado mélodo cienlílico que n pretens';o d., IIniver­
snlldade do saber pode ser nvnlíndn. COlllreeimelllo e lllleres.'c. el!. Gunnnb",n, 19M1. 1'",.,
 
Couture, NNo hny nclos jurldlcos "Clllros. Los :aclos son jurlt\icnl11ellh! permilidos (\ Jurldi.
 
cimente prohibidos", F'II/tftllllelllos ..., n' 314, p. 481.
 
17 Ob. dt., p. 84. •
 
18 ,Vocnbu/nrio IlIrftfico, Oepnll11:a, 1991, p. 538. Nc~~e sentido t:al11bélll o Diciilll,frio r.r"/,,r 
In/ill(l-/l(lrIIlK"!S que deline selllelllitl. ne pM "1) Mnlleirn de ver, opi"i~o (Cle. ReI" 1. U}.... 
FAE,1988. 
'20 ()Of\:Í CuilllOriiC.~ Uibciro 
r . 
/'t' 
t
-5Cl/t;r,19 pois vem do verbo latino Sei/tio, ;re. Isso quer d&er que o 
juiz deve perceber, tcr contnto com a próva apresentnda"os alllos 
paro, só então, decidir, o que parn Célrnelutti significél dizer que 
"pnrn decidir es necesnrio dccidirsc",2o ou seja, deverél o magistrado 
\
....optnr, escolher, o quc pressupõe, quando da escolha, uma perdél. 
N~ssa perspectivn, jnmais um computndor podertí substituir él élti­
vidnde intelectiva do magistrado, pois él sentençn é um nto indivi­
dunl e pessonl dO' processo. Filosoficnmente féllando, n1\o htí 
'mparcialidnde - o que nlguns nutores chamam de IIc/ltraUdadc!.! ­
,no ser humnno. Mas, como o Direito é illgo <::onstrurdo pelo homem 
e pnrél o homem, lemos que discutir o problemn da imparcialidade 
a 'partir da natureza do homem, pois, como disse Prottígoras (c. 
487-420 a.c.), "O homem é a medida de todas as coisi'ls". 
O que del1ominamos ;"'p(lrcialidndc lll/I/Inl/n pnrte dil premissil 
inafasJéÍvel da natureza do homem, como ser social e individual; 
POiS, se. linpilrdal é IIno deixar ns sI/as I/vic ics as sI/as "cdilc eles 
sol~:cI'I/JnrcIII 05 c C"'cllt(l~.~~~stn"tcs "o~·n/l~os. Isso é ~er J",IIInnalllcll­
ú:JJllp.arGH'iI~I!SS.lS·tOlWlcçoes e predlleçoes pessoills devem pcsilr 
no jutgnmento, como foi visto ncima, mas isso l1ão equivale ti dizer 
que o péso seja tão forte a ponto de inviabilizar os critérios obje­
tivos e subjetivos constnntes nos autos. Nilo pode pesélr mais do 
. que o necessário pari! interpretar ambos os critérios. E onde vamos 
encontrar os limites para o IIecessário? Os limites pilril o neceSSário 
deverão ser obrigatoriamente encontmdos na flll/dnlllClltaçiJb do 
juiz, conforme i'lrt. 93, inc. IX, da CF, que, para Perdmnn, h "A 
mnneira de Lustific"r, de fundnl))entnr sel11clhnntc interpretilçiio, 
n.;o consistira nUI11il rlcl//(l/lSlrnÇtio coercitivil, que "i.,licn regra~ enu­
ll1er"dns prev,i<lmente, m<lS numa nrgll",clllnçiio de maior ou menor 
cficáci<l. Os argumcntos utilizados ni'io scriio qunlificados d~ cor­
retos ou de incorretos, mas fortes ou fracos".22 Por conseguinte,
eréÍ mais im 1ilrcial o juiz, uanto mais' fundamentnda for a sua 
~Ç.i~Q. porg~.un,l1to mais e e un ilmen ar, mélls e e o JC Ivmá 
ns suas convicções íntimas, que siio subjet!vas, adentmndo, com 
isso, nos cntêrios objetivos que ele s6 podertí encontrar nos autos. 
t
~ 
17/11"11' Diciml/lrio MtlrfolóSico ,I" L!"Kfltl T'orlllgllcM, v. IV, 1984, U\li~Í1\o~, p. 3.ni (n' 63). 
10 Oll. ci!., n'131. p. 251. 
11 CI. Jorge Pe)·rono. [I I''''cr~o ril,;I, /,r;"C;,,;05 y /,,"tf"'"CIIIM. A~lre., 1918, p. 162 e C. 
ArArrn!;.,n)·, fI IIr;,,(;I';O ti, ;f"""C11/t1rirlll (/I rll'rO(e~o, Abcledo·rcrrOl, 1959, p. 218, ~ In te­
res~.nle nol:ar-se fl eonccpçAo de O"ldio O:aplisl:a, qunndo \lOS diz: "Na "erd:ade, n ncutrn­
lid:ade do juiz ~ mni~ lI111n con~cqii~nci:a. 011 UI11 reflexo. dn nelllrnlidnde do Estado~, 
Jllristfiplo C EWCIIÇ,lo, RT. 1996. p. 111. 
" ~Iic" e Direilo, M.ulins Fonles, 1996.p. 583. 
DRQVM ATIPICIJ 
'21(J) 
Predomina ainda o mito concebido pelo Direito Romano e 
fortalecido pela Escola Exegética Francesa23 de que magistrado 
imparcial é aquele que é /lcutro, aquele que assegura as regras do 
jogo, tal como o árbitro numa partida de futebol. Esse entendimen­
to é responsável pela distorção do princípio do dispositivo, asse­
gurando ao juiz um papel secundário na instruç1io do processo. 
Imparcialidade nada tem a ver com neutralidade, sendo equivoca· 
do dizer-se que, quanto maior a sua neutralidade, maior será a SUil 
imparcialidade. Juiz neutro, inerte, pode ser um juiz parcial, injus' 
to, na medida em que sua neutralidade favorecerá" parte que, v.g., 
sabendo se utilizar do tempo, poderá auferir injustamente vanta­
gens; é, de outro lado, " parte que tiver razão ficariÍ fi mercê de 
dilaçõés indevidas feitas pela parte contrária. Ou como demonstra 
Couture, de forma brilhante: "Por nucstra parte, hemos creído dei 
caso sostener que no es admisible tal neutralidad, en su sentido de 
indiferencia hasta el momento de la sentencia. EI juez sin inlerés 
por ellitig:o es algo tan inconcebible como el médico sin interés 
por el enfermo".24 Podemos concluir, então, que a ausência de 
~:utralidade é requisi~o essencial à imparcialidade. 
.\E2.2. _~~i~~i;~~i~~~~~.i~o. J 
Não nos compete fazer aqui umo distinção pormenorizada 
entre o princípio dã demanda e o princípi9 di.spositiyo,25 pois não 
é este o nosso intuito. O presente sstudo niio tem por escopo os 
2.) Escreve Nilo l3airros de I3rum: "O Código de Napole~o surge. pois. como um siSICllM 
jurldico completo, claro. preciso e (echado. Tal codi(ic:lção. ~ semelhança da geomelria 
euclidiana. não era para ser inlerprelad:l, mas aplicada mecanicamenle. Para islo. a Escola 
Francesa da Exegese haveria de reafirmar O anligo milo da nculralidade judicial (... )". ob. 
clt., p. 17. 
24 E.I Dtbtr de IlIs Par/es de dteir In Verdnd, contido nos Esludíos de Derecho Procesal Civil, 
Depalma,'1979, I. 111, p. 246. 
15 ~ certo que o pril/cfpio dn dtmnrrdn. contido no arl. 2' do Cl'C, dil que o juiz não podcr,~ 
prestar a tutela judsdlCionai senao-quando a p~rte n requerer. Enconlra-se o magislrado 
vinculado, atrelado ao que foi pedido pcla parlt aulora. nAo podendo. segundo o arl. 128 
do CPC, preslar a luteia jurisdicional Cora dos limilcs cslabelecidos pel:l lide exposta na 
Inicial. Ji o prirrcl ;0 di, os;/Ívo diz rl!speito. mais ro riamente, 11 Corma. aos meios de 
prestaçlo e a uris I mo I se pres ar eSla li e uns ICI • o o 
r n ao ue O I se un e ere-se 00 m o e se presl.r 
lçlo(lncide com relação ao ireito probaIOrio). O primeirO rfnclplo-é:quase-3b~ó;' 
~lutO';'"ttiiãõComo exceçOcs o Irrl. 162 do Decrcto-Lei 7661/45 - Lei de ral~ncias. a ação 
monitória, noscasos do arl. 1.102c e seu § 3' do CPC, bem como o arl. 989 do CPC e 878 
da CLT; jA o segundo principio é relativo. arl. 130 do Cpc. Nessc .<el1tldo, Ov{dio O"ptisla, 
Cllrso ...~ SAFE. 1987, v. I, p. 49. . 
~'2 Darci Gu\moniCl> Ribeiro 
. ,, 'l
. ., . b'b ··iLprmClplos processuais, em ora sal amos, como Visto aC\II)a, que 
os institutos.fund<!mentais do processo começam por aqut 
Partindo-~e da premissa de que o processo é uma relação dia­
lética dc alividalfcs,'l6 ou, conforme Calamandrei, 11111 jogo,27 em que
., . 
existe lima tese, lima antítese, e uma síntese, é necessário examinar 
a relação· existente entre a atividade das partes e a atividade do 
órgão julgador, ou seia, saber quais siio os limites da atividade das 
partes e os limitesua atividade do julgador no processo. Os limites 
tI atuação: das p-aÚes.enco.llttalllQ:hJ.s..noupr.illcfpio di$f1osil ivc!"'-c_os. 
n.mites da atuação do julgador encontral1~noP,.illc!J!0_i~/ql!i. 
srf{inE..:.-. ~ 
•.._-- O princípio dispositivo logrou obter êxito a partir da segunda 
metade do século XIX, tendo em vista a extraordinária expansão 
do liberalismo que aportou no processo civil, trazendo, por conse­
guinte, os ventos do pensamento individualista e liberaP8 
. O fundãmeilto histórico do princípio dispositivo é o de prc­
servil/o a i/llparcialidade do jl/iZ29, na medida em que"aumentando-se 
os poderes dns ~rte~~...!:~A~.Iz~.~~:~~~.P5~.~ers._Lºº.iuiz, principal­
mente no que diZ respeito ao ônus da prova, pois, no processo, 
que é tido como uma relaç50 dialética de atividades, avulta a 
necessidade de se ter que alegar e provar pora ganhar: i/ldex SCClIII­
dum allegnla cl probala n parliblls illriicarc riebel.:lo 
26 E'pre55~0 ulilizada por 1'. Calal1\andrci, IIISIilllciClllt5 ...• EmA, 1986, v. I. p. 356. : 
27 Ell'r.,<t5., 'O/lUI /IItgo. contido nos \;.<tudios sobre el Proceso Civil. EIEA, 1986, I. 111. pp" ~9s. 
2~ I'; Interessanle nol" a ohservaç~o de E. Coulure: "Se podrra reducir la '4rmula de (oelo 
cI derecho procesal individualisla y liberal A los siguienles conceplos: el juicio es un:l 
relaci6n de dcrecho:priv.do en la cual la volunl:ld de los parliculares se sirve deI Es.ado 
(orllO instru"'ento de dis(ernimiento de la justiçla y de coacci6n rara cUlllplir el (~1I0,.si es 
nc(esario", ill CO/lalllos drl Pr.,rr~o Civil d,"lro drl f'tIlSd/lliell/o 1",lividutlli</1I Uberlll dtlpiglo 
XIX. conlido nos Esltldios.... Depalma, 1979. v. I. p. 309. , 
2? Nesse equl\·ocp. incidiu Cala",,,.,,lrel. quando disse: "Pela ohrigação (undamenl:ll que 
lhe d,~ a sua "';5530, :> juiz de\'(' conservar. no decorrer do pro.esso. uma atitude esl~lica. 
c~l'eran"o 5el1\ I",paciência e se", curiosidade qlle 05 oulros o procurem I! lhe pr('lponhnm 
05 problemns 'Iue h~ n resolver. A in~rcla é, pnrR o juiz, gArantin de I!quillbrio. islo é: de 
Itllparclalldade. Agir slgnllicaria lomnr pArtido". Eles, os jlllus...• 1'.50. 
:lO O (undamenlO hislórlco desse princIpio s.. rglu com n Itl!vohlçfto I'rRncesa. pois. nnrra-no 
lonh H. Merr)'man: "L, aristocracia judicial era uno de 105 blancos de la RevoluclOn, no 
s610 por 'su lendencia a Idenli(icarse con la nrislocracin terrolenlenll!. sino lnmbém por ,u 
incal'acidad pam distinguir nHlY c1ar.,menle enlre In :lplicación y la elaboraciOn de la ley. 
(... ) Los trlbunales se negaban n nplicar las le)'es nuevas, I~s Inlerpretnb~n I!n (orma cc"'· 
lrarla n 511 Intendón o (ruslraban .Ios es(uerlOS de los (unclonnrlos por ndmlnlslClrlas. 
Monlcs'luleu' y olros dulores desnrrollnron IR' leorla dI! qUI! In dnka forma sl!gura dc 
Impedir los nbu50S de esla clase era In separaclón (nlelRI dei poder leglslallvo y el poder 
ejecullvo frenle aI poder judicial", ob.cit., 1'1" 41 e 42. EsSR foi a razflo hislórica pela qual o 
p~pel dos juIzes pas'sou ~ ser I\lcramenle vontade declaratOria dn lelra da lei ou, como quer 
Chiovel\da• .'I/bslil,,'ivn. preservando-se a imparcialidade do juiz, pois. declara Ovldio tia1'­
lisla: "Dificilmente leria o julgador condições de manter-SI! compll!lamente isenlo c Impar. 
POOVM "11PICM '23 fi 
E o que é o princípio dispositivo? Predomin<l, na doutrinn, o 
entendimento que o identifica como~~ojs~lb~'l1Je-<lS-pM-tes 
têm, a partir da ·sua própria vontade, - c - iill aro-conheclIDeiÜõ 
~o fiz: Ou, nas palavras de J. I'eyrano, ''Sdlor-ío ilinÚtildo de las 
par es tanto sobre el derecho sllstancíêllmotivo dei proccso litigioso, 
como sobre todos los aspectos vinculndos con la iniciación, mnrchn 
y culminación de éste·'.31 Ou, aindn, nas palnvrns de W. Millêlr, "Iêls 
partes tienen el pleno dominio de sus derechos mêlterinles )' proce­
sales involucrados en lêl causa, y reconoce Sll potcst"d de libre deci­
sión respecto deI ejercicio ono ejerciciode estos derechos".32 
É imperioso, par" mclhor se entender esse prindpio, conhecer 
a distinção entre a rclaç50 jurídicêl materi<li, deduzid~ emOjllízo, e 
a relação jurídica processuaV~, pois, a partir c\<lí, tentnremos iden­
tificar dois sentidos pêlra princípio em telêl.3~ 
Para W. Millar, o princípio dispositivo pode ser cnt~ndic\o 
como: a) elecciólI dispositiua e, b) il/lplI/sojlldicinps 
Já, para M. C"ppelletti, o mesmo princípio pode ser consic\er"do 
no sentido: a)~lIcinl 0'-!..lJr~rio. blproccssllnl
-----
ou ilI/Jlról)/~{1.~(, 
~ 
cial. se a lei lhe conferisse ple"os poderes de inicioli\"; I'rol"'l<'>ri." pois. na medida el\l <]1'" 
o magislrado abandonassc a condiç.~o de ncutralidnde que a h"'ç~o jurisdicionalprcs~urôl', 
para envolver-sc na busca e delerminaç30 dos falos da cau~a, de cuja rrova'o parte ~e haja 
!1esinleressado, ccrtamenle ele poderia correr o risco de compromelcr a própria il\lporci.,­
lidade c iscnçiiow, Cllrso ... , v. I, p. 49. Vis~o essa défcndida plll E. liebma", (olld'l/lIrlllr> ,/rl 
prillcipio díSJX'sililJO, i" Riv. dir. proc., Xv (1960). pp. 551-565. 
31 Em cxcelenle livro, inlilulado EI Prr>rcsr> Civil. Astrea. 1978, r. 52. Nesse diopasiiu 1'. 
CaJamandrci. I"slilllcio"r~ .... EJEA. 1986, v.l, p. 357; M. Zon:l.IIcchi, Diri/lo Prr>crSS/lnlr (íl.i/r. 
Giurrrl!. 19~7. \;.1, p. 363.; G. Chio\·enda. I'r;IIcil'il'~"" Reus, § ~7, 1'1'.181$. c 11I~lirllinJrs ... , 
SaraiVA, 1969; 2' v .• pp. 346s; Ugo Roceo. Trnl'''''' ... r Ocpaln",. 1'1113, v. 11, p. 171; R.IV.Mill.u, 
L~ pri"eil'ill~ /orrnnlit'(lS drl,'rpcrdilllirllll1 ril·i!. Edi.u, 1'1.15,1'1" HI S.; 1'. (arnelulli. Drrrrl", 11 
I'roceso, EJEA. 1971. p. 106,; 11. Alsi"n. '('n/,,,'r>.... Ediar. 1'J56. \'.1. 1'1" 10Is.; E. (outllTe, 
Fundamentos .... Dcpalma, 1988. p. 185, e principalmcnle EI Dr"rr dc Ins I'nrlcs ,Ic Dreir In 
Vcrdnd. n' 5, EsI"di05 ..., v.lIl. 1'1'. 246s.; E. Liebman. Fm,dlll"wlll IlrI I'r;IIcíl'ío disl'r>siI'I'O, ;11 
Riv. dir. proc., XV (1960). p. 551. 
32 Ob. cil.. p. 65. • 
33 Enquanto a relação imidic" material tem como sujcilos: os lilulares alivo e possivo do 
direito subjetivo; como objelo medinto: r> /'(11' dn vidll; e como pressuposlos dessa relação: 
agenle capaz. objelo Iícilo e lorma I'rescril~ 011 n,~o clclesa em Id. orl. 82 do Cc. A relaçiiu 
jurfdicll proccssual lem como sujeitos: aulor, juiz e r~u; como objeto imccli.ltO: o prestaçãu 
da lulela jurisdicional (sentcnça); c comó pressuposlos: os de e~islência c os dc \'olidadc. 
segundo a.l. 267, IV, do crc. , 
J4 ~ Interessanlc notar que j~ em 1895, 'luando réalizou o seu projelo de Códibo de rrucesso 
Civll Auslrfaco. um excepcional juri.sla. chamado ('ranz Klein, dividia o rrinclpio displIsí· 
livo, delimitando a alividadc das partes e a atividade do juiz no proce,so. \ 
J5 Ob.cit•• pp. 65 c 79.
 
J6 /lIicinlivns PrIlbntorin, dei Jllez !I Ilnses I'rrjrlrldic,lS rir 111 E51rlllllrtl ,lei I'rpreso. no lI!>r"
 
inlitulada I.n Ornlidnd .'I'ns Plllclms CII rll'rr>crso CÍl·il. EjE,\, 1972. 1'1'. 112s. E nos Prr>I'''',"ns
 
de Reformn do Procrssr> Civil,,"s Sr>círd"drs Cnlllrll/l'r>rAII"'~. conler"ncio de nberlura do Con­
gresso DrllSileiro de Direito Processual Civil. Curiliba, 18.11.\11.
 
'24 Darci CllimonicJ Rilx:iro 
f 
, 
. III' 
1.2.2,1. SCI/lidolllnlerinl, slI/JstnllCinl 011 c1ciçiio disposi[l~n 
Define o dispositivo, neste sentido; Fr<lnz Klein, ql~ndo diz: 
"Qlled<l confiado n Ins pnrtes el derecho sobre el ClI<l1 hnn 'de nt<lcar 
y dCfenderse, y sobre cuyn pretensión solicitan un pronunciamien­
to judicial; en tanto qlle se trate de derechos privados. son ins 
partes las que resuciven sobre la extensión y conlenido de sus 
peticiones, no plldiendo êlctuar sobre las mismas el poder de 
dirccciól/ dei p/'OCCSCl dei fllcz"F E também Ca~"'pclletti nos diz que 
Cllmpre "cl.eixar exclusivamente às partes n iniciativa de começnr I 
l
o processo e e crmll1nr os· o, a rcs jl/dicnlldn, o que 
111 11 "s a cgaçães 'dos fatos essencinis à determinação da cal~sn 
llclCl/di'?8 Aqui as pi'lrtes têm êl livre dis oni . ·dad5:...sl.iu:e!açiio 
~rfdicil dedireito maler~~i; pOss!}uu.:llilLpOLdaLOlI.I~1~Y)I)ício_!._ 
rel"ç50 JlII'idícãp.~~!:es.~.~!~(..ç,Qo.didomll1do.pOL consçg~I:iJ;ll.e, Diltí:._ 
vidi'ldc' ji.i0sp..!..éional ~ua vontade. É o que prescreve ÓI~(clO 
C'rC:-"Nenfll11l1 juiz. prestara n lute!a jurisdicional senno qUi'lndo a 
parte ou o interessado a requerer, nos casos e formas legais," 
corroborado pela primeira pi'lrtc do art. 262 do Cpc. Decorrem, 
di'lí, as máximns latinas IICIIIO illdcx sillc nC/(lfc19 e dn IlIil,i fnCIII/II,~ da/I{l 1i/li ills. 
O princípio dispositivo, em sentido substnncial, lraz em si três 
cOQ.se~iiêllcias: a rímeira é a obri 'atoriec\adc do 'uiz em ana . iH 
t~l-'!i1S_~W~i)çõcs.. que ns-p-nrtes 1e submeteram; a....s.egUl'Ic\n. ~ a 
imp'ossibilidadc do juiz de analisar questões mie nno lhe. t!oram 
iiprcselllaélas; ·~-~~-rccir.lé a aa~Ç~2 do ôn~~~_~I~i.e.~!y~_~aJ~r~.0í~,,-~t.]3J'oõ-crc -.-- . ­
.-'~
 
.\7 ÁI'I/II Vlclor F.irt!n GlIiilt!ll, [I I'I~yr(/~ "r I/I Ordrllnll;", I'r~(r~nl Cit';1 ÁII~rr;nrn J.·íslt> /,or
 
Fnlllz Klrill, rOli~do nos r.~IIId;(l~ ,Ir Drrrrho I'ro(r~nl, Ed. Hcvisl0 dc Ocrccho t>rh'odo, 
f\1.1drid, 1955, r. 313. 1 
." I'rn/ll"rlIIS dr ... , nO 2. 
.'? t: Int~ressanle nolM 'lUl·. no pcrlodo c1~s~ico (ccrcR dc 150 o.c. a 28~ d.C.I. Gaio. quc 
Icria vivido nessc s~culo 11. j~ salicntavn a necessidadc do Eslado, atraY~s da pesson do 
prelor. pMO rcsolver os conflHos. Era o inicio do monopólio dn jurisdição. poís, segundo 
~Ie. "quem 'lucir., .,sir conlra· oulrcm dc\'c chaml\·lo a juIzo" (InslHlllo5 4.183). ~ inlcres· 
snnle nolaT. 'lue no direilo romano anli~o se conlundia n ddcsa privnda com a dclesa 
1'1Iblica, i510 ~,I' próprio lilulnr nliv" do direHo c~('(cia·o I'rivndnmcntc, c C'IHular passivo 
d" direilo, cnSQ n~t' ct'n«'rcla~se com Ongir I'ril'ntlC', dcverio ~l' <lirigir aOlllagíslrado rnra 
l.l7.l'r ces'nr a viol~ncia. E~le ngir rrivndo tio lilulnr só loi pr\,ibi<lo. segundo Ulpinno: L. 
12, § 2', n pnrlir dn ky I"'i,,, c al'erfciçoado com o decreto elc Marco Aur~lio, o ehnmndo 
Drc'l(I"", '/i(l; Mnrei, <]uc cstabelecia li ~el;uinle; ~r crrrrll kr ~IR"'" rlircilr>. r> rurrilrm ro'" 
"f,ll'~, I'r>is rir> (r>II/"lrio firllr/ll! "ril"I'/OS dr/r. 11C'llicrnnmentc, com n prllil'iç~o da nuloluleln 
pclo E~lado. O \ilular nli\'o do direilo nccessito da nç~o l'ro(r~~lInl rara e~crcllA·lo. c$tn 
ITon~posiç~o do delesa privado para a dcleso rlíblicn se rcrlcle em I'Arins ~ren~ do dlrcllo, 
lai~ como: no co"ceito de OÇ;'ll, lanlo ,"alcriol qunnto processual, no enll'ndimcnlo do ônus 
do prova. clc. . 
PQOVMi A,1Ploo '2~ 
I 
40 Nesse senlldo, Moacyr(A, Santos, COl/lm/rf,ios "o CcldigCl de PrCl,cssrt Civil, forense. J994. 
7' ed., v.IV, n' 323, p. ~03; Arruda Alvim, M"",,,,I 111' DIrei/o P,oreHllnl Civil, .RT. 1991. v. 2. 
n' 300, p. 376. 
. 41 wa nulidade p~ra Arruda Alvill1 ~ relaliva. ob. cil.. p. 377. 
n Elc",cIllos p"'. 11"''' Teo,i" Gcml do P,ocesso, S~,~i"~, 1993. pp. 53·54. 
Q Conlorme Celso A. l3arbi. COII/CII/rfríOS no CPC. r:o'en~e, 1992,7. ed., v. I, n' 689. p. 320; c 
Arr~da Alvim. Código dc Processo Civil Comell/"do. RT. 1979, p. 152. 
/'
. t; 
. <1rL535 do_CPC. Este é o sentido da jurisprudência nos fribun<1is 
-Slíperiores.H :- '. ~ 
A segundn conseqüência estabelece a impossibilid,,-~~_de-o._ \j~iZ <1nnlisnr ~estõ.cs....q.ue....nn.QJhuar<u:n apresentéld-,~s, pois é o nutor quem ftxiLQsJimlt!!s da lide e da cnusa de pedir, islo é, da 1:I!.U7 i'fl) I,. -- n/criai cOllirõvemaii.~5 Segundo se deduz dn verda­
deirn intcligibilidn c o ~:.rt.1 .~o CPc, é o cnrlÍler privado do 
objeto Iitirioso do processo, ou, como dizem os alemães, Streitge­
gCl/stmlCV tornnndo defeso para o juiz qualqúer manifestação de 
ofício nesse sentidoY Decorrem daí <1S máximas Ne procedat illde:r 
ex officio, Ne eat i/ldcx II/lrn pelitn pnrtilllll, llldex ;/ldicet seclI/ldllll/ 
al/egtlln ct provata pnrtillll/ e Q/lod 11011 cst ;11 nctis 110/1 csl ;11 ""/11 rio. 
C"so o mo istrado desres eite o a.rt. 2 do CPc, a sentença será 
cle natureza diversa da pe ida. esse caso, estas são chamadéls de 
c.\~r~_ e /111m pctit(J,~A isto é, a senten li orn do . nlém u­~~eala 110 bem esclarece o ar . Em qualquer dos 
casos, a sentençil é eivada devício, sendo, na decisão cxtrtl pClitflc~'I, 
nula. a'senten numa 'e.z...q.ue o céu nã.o..lcye oporhlDidade para se 
<.'I n er. egundoa doutrina e a jurisprlldênci<l, eSSíl nulidade 
C <Iêcrêt3ve l de ofício, em virtude de as normas contidas nos refe­
ricTõs-artig~s serem de interesse público; já na decisão ultra pctita: 
u RE~I' 30.nO-S-Me, ,('I. M;I1. E"\I~rdo Rib('iro. 3' Turl11~ cio ST), D)U 8.3.93. r. 3.118. 2' 
col., ('111. No qlle dil r('~r('lIu h 1('l;ilimÔlln,((' rMn ell1b~rgM. 'lunl1\lo h~ punlo o1l11'~(l, v. 
1"'11'·6' TI!,;n." As S7.702.Jl), r('1. Mln Edll."uo Itlbl'lrl', "111I'/ 1101. do Til r: 1(,0/21. I 
4~ Nesse scntldo. Ar~k('1I cI(' Assis. CII","I"ç,lo de AÇlk~, ItT. 19R9. n' 35. 1'. 132. 
'.~ Sobre ('~Ie I('rn~. cOlIsullM obriSolorio"'ellle Knrl llrinl. Sch",~b. fI 01';410 I.i/;~it:~~ (11 rI 
1"0((50 Cil.i1. EIEi\. 1968.
 
U i\ I\('cessidnde ,10: o juiz 'csl'eiloH os Iil11il('s ,lo lide lix.d,,~ 1'"1,, oul,'r ~ be'" ~I1lig~.
 
EI1coulramo·l~ nas I"slilll/lls de C.,io. q(l~ndo nos diz: "Se"do ~ condenação pcdi?a em
 
'l\lill\tin ccr\i't, o j\~l n;\o de\'e C'onllcnar o r~\I 1:111 in'porti;nt"ia n,.,ior ncom mcnor. da
 
,('c1~",odn 1'('10 nulor; do conlr~rio. lu sua o lide" (~.52). Tall1b/!m quando s~lienI3: "llorrO'.
 
pedindo nn cOllden~ç~o ",('nos do a que lem clireito, o aulor só obl~m o pedido. pois.
 
ell1bor~ 10da n quesl.,o ~('ja dl'dul.ida 1'111 jllllO. c1~ se ,estringe no li",ite d~ condenação e
 
esle o juiln~o no podc Irnnspor" (~.57). I
 
l~ i\ d('cis~o ""'" ,'cli/" jA er~ p'oibida no lempo d:ls orden~ções, conlornle Orrlrll"\'&-~ 
Fi/il'i",,~. lilJrO "',Tllll/os LX'" r LXVI. Ed. C:lloul,e Culbenki:lll. 1985. 
49 Tnmb~m os Tribul1~ís 5up('riores n~ ESI'~nhn nssinl se mnnHcslnl1l. "L:I íncongruencia 
cx/", prlil" sc rclí('re a que no puede cI juel O Tribuna' ~lter:lf ol1l0dillc:lf 105 lérminosdl'1 
d('b~le Judlclnl (SS.T.C. 29/R7 .Ir 6·3 y IH/87 de 23-7), es decir. nO puedc decidir sobre 
cosn dls\lnln. dcrlvnda de la l1lodHicnclón, nllcraclón o lusli!uclón dei I'resupUl!SIO de 
h('cho. b~síco pMn ,'""5,, ,,"'r"tU. f('Sr('clo de lo cunlelluel 110 \Iene poder de disposlción 
(S.T.C. 125/89. dc 12-7), dcbiendo .,;uSI:lfsC .. , objchl dell'rllct'50." Ley de I!n/ulcia""<'lIlo 
Civil y L ('yes Con'plemcI\IMi~s (co",el\l~rios y jurI5pr\ltlt'lIci~). Cole)!, 1995. p. 160. 
50 Em igualsel\lido N. Trocker, qualldo nos diz: "uno pronllllci~ 14/1,n I'rliln viola la ~~rnlltla 
cll cliresn sollnnlo se conslÍ\uisce un~ 'pronuncia n sorpres~' (Ol..rr.sclJl"'8$CIlIsc/.tltl/ll,g). e 
c1o~, se le p~,1l nOI1 hnnno nvulo I~ I'0ssibililll di incidere s.. lI:. sun lorll1~zione. e nOI1 g/lI 
di P(" sé pe, 11 1.\10 chc il gilldice nOl1 dovev~ a"d:lr(' ollr(' 11 chieslo d('lI~ pMle". P,ocr.<$(I 
Cilli/r e COlIs/Ílllzioll(. Giurr,~, 197~. p. 386. 
26 Oorci Cllimnriia Rilxiro POOVM A11PICM . 
.-
.~7. 
I~ 
j. 
Foi Frnnz Klein que, em 1895, recuperou n importí\~cin da 
direçiio dopr'ocesso por parle do juiz, afirmando: "Cunnd~ varias 
personas se ponen en contacto para discutir sobre sus intercses, 
1.2.2.2. Sentido processual, ill/próprio 011 ;"'pl/lso jlldicinl 
O princípio dispositivo, nesse sentido, identific<l-se com o que 
OS alemães costumam chilmílr de OffizinlbctriélJ (impulso de ofício), 
isto é, o princípio inquisitório. O embrião desse princípio encon­
tra-se localizado nílS úllimns instituições do Império ROIllnno, 111"5, 
segundo H. Alsinél, "fué en renlidéld lél Iglesin n comienzos dei 
siglo XlI, la que preparó y completó la subslítución por aquél dei 
procedimiento élCUSutorio en nlnlerin penéll, y no hélY m~s que 
recordar el papel desempeiiéldo en la histori" por los tribunales de 
la Inquisición".51 
Anles do início dn Id"de Contempor5neél, o processo civil niio 
havia sofrido us influênciils do Liberéllismo e do individllnlismo, 
que tanto priorizar"m n <ltivid"de dns pnrle~ no processo. A ntivi­
délde do juiz, no processo, er<l nbsolutél, ha\,ji\ plenn líberdnde de 
iniciativa do mélgistrado, quer pnm inici"r a relnç:io p.rocessunl, 
quer para promover o seu desenvolvimento. O julgildor, inde­
pendentemente d" iniciativa ou dél colnboraç:io dns pnrles, procu­
rava descobrir a verdade real. 
. Esse princípio, chamndo por W. Millélr de principio de illucsli­
gaci611 judicial,s2 é, nas pnlnvl"éls de Heilfron y Pick, "el que oblig<l 
éll jliez n averiguar de oficio (illC/"ircI'e) In verdnd mnteri.d O nbso­
lutél;le impone élsí cl deber de escudrii'Hll' y de considernr hechos 
que no le han presentado Ins pnrtcs. Poi 011'0 indo, 1.10 puede 
admitir con~o ciertos, sin in~uisiciorl'lis, los hechos cn Cll)!n verdnd 
convinieron los litigantes".s. E, consoilnte J. Peyrano, é "un procc­
dimiento en Cuai se incrementan considerélblcmente 1"5 fíicultndcs 
dei pretorio, disminuyendo Ins correspondicntes il Inspnrtes".5~ 
Esse princípio niio vige mnis isol"d<lmente desele, rnnis Oll menos, 
1789, quando iI Revolução Frilnée~n colocou o m<lgistrndo, na ex­
pressão clássica de Montesquieu, como "n bocn da lei".55 
SI TrnlndCl .., v. I, p. J04.
 
52 Ob. cil., p. 63.
 
S3 Aplld W. Mlllar, ob. cil. , p. 63. T.'mb~", lIe~$é' ~elllido r. Calõllllandrei, 'lu~ndo nos diz: 
wLa Iniciativa oficial, en el que el "'rgano judicial lenga en lodo ",,'menlll cI poder de 
proceder 'de oficio', a\1Il sin ~er requerido ror lo~ olr(l~ ~lIjellls dei I'ruce~()··. ·lmlilllri"/lr~. 
V. I, p. 357; M. Zanzllcchi, ob. cil., v. /, p. JID; J I. ,\lsin,I, oh. cil., I'. I, I'p. 102s.
 
~ Ob. cit., p. 134.
 
5S Pois OS revolllcion~rios Iinham o temor ele u,,' gOl/vrrllrlllflll ,"'s jIlS"s c. segundo John
 
Henry Merrymlln, ~Ia experir.ncia de los Iril>u"a1cs prerrevolllcionarios habfa hedHI que
 
los franceses lemierall ai poder legislativo de los jlleces dis(razado de illlerpretaci6n de las 
leyesW , ob. cil., p. 64. 
','28 Darci .CllilllnniCl> Qil:x:íro 
como ocurre en el proceso, ha de haber alguien que dirijn esa 
discusi6n, I" haga progresar y "vanZ<1r, delermine sus Iímiles y 
cngnrce 16gicall1ente sus actos sucesivos unos con otros, yn que de 
ello depende 1<1 solución dei conflicto".51\ 
O princípio dispositivo, nesse sentido, re(ere-se fl n:.It1cão ju­
rídica processual. q"e é de ordem pllbliea, e não à relação jurídica
 
llateri.n.L.C).J.I..C-lkia.ouicm..privíldíl Nn primeira, o juiz está habili­
tado a ngir de ofício;....lliL'icgl!nda não. A direção ~o procedimento,
 ~ 
n conduçiio da cai.\sa, diladn pela expressão "Iemii fJI'()zl!~slciIIlI/X' 
pertence (lO ll1ilgislrildo, como se const<lta l1a p<lrle fil1al d(l al'I. 262 . 
cio CPC, CJue diz Irl0.\"illmenlc: "O processo civil co~':ss" POE.inici"i/ ) ~'II 
tiva da parte, mas se c1esenvol ve por im pu Is,o'-pJ,:OCQB5 tlf'l 1''":'1- Pica J 
. claro esse poskioi1nmenlo ndotndo pelo Código dê Pi:<icl!sSO Civil,
 
l<lnlo no § 4° dQ urt.]QO, que permite ao juiz cClnl1('cer de ofício <I
 
l11illéria cnuincrndil nesse ilrligo, sillvo o compromisso, lluilnlo no
 
§ 3\1 do art. 267,'nmbos do Cpc. Mesmo <lqui perl11nnece <I imp<lr­
.ci<llidacle cóffiõ atribulo dn jurisdiçiio, segundo nos diz Cnppellctti;
 
"L'imparcialitll dei giudice deve manífest<lrsi nccessari<lmente ris­
petto élll'oggello deI processo sul qUélle egli li tenulo n provvedcrc,
 
mil non nn.che rispetlo nl processo stesso ossia nUn tecnicil inler.nil
 
dei procçsso, mentre il giudice nssollltnmente deve non ess~rc
 
pnrte rispetto ill rélpporto o <1110 Sliltus dedotto in gilldizio, q\lo~to
 
invecenl cO.5icldeHo rnl'l'"r/o IJr()Ce~sllulc il gilldice slessb e tilolbrc
 
di poler.i e di dt.weri ossin cpnrte di rnpporli gillridici proces511nli,
 
oncl'egli non puo consiclernrsi illll'urcill1c nli esell1pio rispettCf. nl
 
polere eal dovNc di provvedere ed éllln giustiziél <}uindi dei pr,ov­
vcd imcn to ",57 .(~;;c)
 
O l'lI"o~llemíl m<lior consisle em combinõlr o princípio disposi­
tivo, em nlúb0s os sentidos, Com él provn,delimitélndo-sc o cnmpn
 
de alunçi\o dns pnrtes e do juiz.
 
S~ tI}"1/1 Vlclllr Fair~n Guilli'lI, oh. cil., 1'. J\~. Ta'lIh~1ll I'erdlllan.;lo afirmar: ",\ e\'llluç~o 
<Iv f")r\X'('~so (h·H .•npõc tll\l"lu1l'nll' i'H') jUi7, qUl' ~c \)ul'r nl'ulrtJ. n-'n rir,H p,U~i\,(ll' urden"r 
Illedidas lIcccssMias ali e~lahcleci"'I'nlo da \·'·nladc.... 11\1. ri 1.. p. ~9~. 
S7 1.11 Trsli/l/(l"jrll,zn ",/ln (',,,'r. /lrI Si""."", ,ferrOr,,',.,,), Gill((r~, 1%2. pari\' I. ~ez.II, tapo V. § 
~., )'. J7~, lIola 9. Em ~ellliclll <!iI'ers(I, l.iehmal1, '1\11\ a I'arllr da ""hi",a romana ;u.lrx 
;11,/;(,,,, "d,,'1 ;I/xl" rlllr~rlM rI pro/l,'lrI I'"r/illlll, adcre 10 I,·uria \la'1\1cll'~ '1'1(' arir"'~11I "li 
I'rin(Ípio dl~I"'$ilil'" c"n,,· ~1"'IIó1nH'nl\' dipl'lldcnle daI prinl"Ípll' t1('II~ t1"I1\.ll1lla, ceml\' \111 
principio nS~lllllln. chll1e 1111 d'l\'cro~lI'''''am;i" alia "1''''11110 t1dlc pMli. (lH"l' il dirilln ~I("~s(l
"""I' rarli "11,, di~p,)~i2i."lt' dei "irilln I'ríl'lll(l. rHlI'~~" Ill'lI"allll.Il11'·llhl dei gilldí7.il'~. r",,· 
,I,""rll'" "rlp'illri,,;ro ,/j~/'''s;/il'o. j" Hh·. "ir. p,,'c, xv (1%01, 1'. 55:1. 
PI..)()VM 1111\)/00 
'29 fi) 
·, 
Em qualquer dos sentidos em que se nos apresente o referido 
princípio, a responsabilidade que dele deriva é automiltica, pois, 
se as partes podem dispor dn relação de direito materi<ll e o juiz 
da relação processual, não seria lícito imaginar que, por detrás desse 
poder, que lhes é concedido pcl<l lei, não hajn nenhuma forma de 
controle, pois tanto as partes qunnto o juiz são responsáveis, isto 
~, devem suportar tudo aquilo que sustentam em juízo.58 
11.2.3. Pri"cípj~ d~' c~l1tr~~~~6"io l 
Este princípio também é conhecido como princípio da bilnlt'­
\ rnlidndc da oudiêllcin59 ou, como dizem os alemães, Wn//cIIFJcf'êT" 
lleit,t,() ou simplesmente igllnlrlnd,fol traduzido no brbcardo latino 
por nudintllr cl allqrÍ: pnrs. Ele é U\11a garanli" fundnnlenla! da 
justiça, erigido em dogma constitucionnl n" maiorin dos países, 
e.g., na Itálin, art. 24 da COlIstitllziollc dclln Rcp/IIMicn;62 na Espéll1ha, 
art. 24 da COIIStitllCi61l Espanola; n<l Argentina, <lrt.18 da COIIStitllCiólI 
Nacionnl; no Brasil, encontra gunrid<l no inc. LV do a~: 5~ CF. 
a referido princípio caracteriza-se pelo f<lto de ojuiz, tendo \ 
o dever de ser imparcial, não oder \11 <Ir a "Iiloda sem gue) 
\ tenha ouvido n\ltor C [&1, ou sej<l, even\ conceder ns partes li 
possibilidade de exporem suas raz'ões, mediante a prova e confor­
me o seu direito, pois, doutrin<l Chiovenda: "Como quem reclõmõ 
justiça, devem ns pnrtes colOC<lr-se no processo em <lbsolutõ p<lri­
dade de condições".6J Isso tm3 C0\110 conseqüêncin necessiÍrill il 
igualdade de tmt<lmento entre ns pnrtes, em todo o curso elo pro­
cesso, não se limitando somenle ti formaçno d<l lilis c(JI/I(~slnlio.('~ t 
o que se depreende do 'cnp"t do nrt. 5° da CF, bem como do inc. I 
-	 ~, 
58 Conforme Carlo Furno. COI//ribl//o ,,/In TrMin ,Ir/ln PrOl'n Lrsn/r. Ced~l11, 1940, nO 17,1'. (,4. 
S9 Wyness Millar. op.cil.. p. 47. 
60 /lpud Nelson Nery Junior, Pril/clJlio5 do Prncc$$n Ciui/l/n Cnl/s/i/I/içdo Frclrrnl, In, 1992, n'
 
22, p, 136. . .
 
61 Couture, FIII/dnnrrl//ns ...• p. 183.
 
610 pr6prio Codicr cli I'rorrdurn ciuilr Iltllinl/o, 110 seu ar I. 101, defille 0l'rit\dl'io d" COll\ro,
 
dil6rio, qUill1dô diz e~rre~~~",ellle; "11 gilldice, s~lvo che la leJ;~e dj~I'0l1b~ "llrilllCll1i (".
 
c. 633, 697, 700. 703, 712). 11011 r"ú ~1~llIire ~opra alcun~ dOl11al1lla, ~e 1., I'Mle c0l11rol.1
 
qUille ~ proposta non ~ slal~ regol~r",el1le cil~l~ (I" c. 16~) e nOI1 C COI11I'M~O (I" C. 1HI,
 
291)". Esse principio ~ \;10 inllllenle l1a legi~l~ç~o lInlinn~ 'l"t', 110 I'nlce~~l' de CXCC\lÇ;'"
 
(orçadll, o juiz d~ e~ectl';~o, regra ser~l, n,lo p(>de I:I11~nM l1ellhlll11~ medido jlldici,,1 ~l'Ill
 
ouvir as pllrtes, r.g., Mls. 530, 552. 5(,9. 590, 596,600,612 c 624.
 
", rl/s/I/lliç/lts .... 1° v .• nO 29, p. 100.
 
.	 14 Nes~e senlido. J. Peyral1o. il/ o.c.. p. 146; Ei~l1er. rri"(ÍI'iM I'rnr...<"lr~·, i" I~rui~/" oi .. [~II/{Iill.' 
PrortSnlrs, nO 4. p. 53. . 
Dnrci Cllimoriic~ l)ilx:iro30 
!
 
f
, 
90 lIrt. 125 do CPc. Mas ess<l iguald<lde entre as partes, :b dizer 
de Couture, "no es una iguald<ld numérica, sino un<l ra onable 
igu<lldnd de posibilielõdes en el ejercicio de la <lcción y de la de­
fensa".65 
Esse princípio é tfio essencial que a prõprin Constituiç50 Fe­
derlll procur<l ig.u,alat. <I condição de acesso (lO processo às partes, 
dando àqueles qtie não disponham de recursos parn os gastos d<l 
demllnda, os favores d!'Jl~5istêl/cin illd;cirfrin grntuiln,66 inc. LXXIV, 
do art. 5° da CF, quer através d<l defensori<l pública, art. 134 da CF, 
ou n50.	 --,,, .' -- ­
A importiincia desse princípio está diretamente rc1acion<lda à \ 
dialética do processo e ao conceito de lide. QU<lnto à dialética, é 
sõbido q.uc o processo contemporâneo é um processo de partes,67 
onde há uma tese (nfirmação do (luto.r), uma antítese (negnção do 
réu) e, [jl~almentc, uma síntese (sentença do juiz). DnS a impor­
tftnciéldl),s pnrtes; quer p<lJ'a inicim\ c fixnr os limites da controvér­
sin, quer p'H<I desenvolvê-I<l, <I ponto de Carnelutli s<llientnr que 
"es un hech~~.que'l<ls partes no son juzgad<lS si no <lyudan <I 
juzgar"',68 :tni,lo pellls prov<ls que apresentem qU<lnto peJo com­
port<lmenti·que desenvolv<lm; é por iS!lo que se diz que "s pllrtcs, 
em rel~ç5õ.:nQ juiz, nfio têm põpel de <lntagonistas, mns, sim, ele 
colllborndor()s.~9 E, no que diz respeito li lide/O o principio do COIl-\ 
trlldil6rio s6 'tem rilziio de ser, se houver um conflito de interesses.
 
Por isso, plIrlI Chiovenda, "õ elemanda judicial exisle no momel1to }
 
em que se comunicn regulMmenle ti outm pMle; nesse momellto.
 
existü n relõçiio proccssual"/I pois, do contrário, como·ocorre ,<1
 
.- _.._.~ .. - .. "-" ­
,.~ rlllltl"Hlf''''(I~ .'" 11'.' 16, p. lR5. 
/0(, 1\ ~$sisl~llci~ judiciflri3 graluil~ ~ l~o imporlanle Il~ Espanha, qlle hfl norm~ exprl'!'~ na 
C. E., arl. 119. e ~ Lt'u,dr F.lljlliri"IIIirll/(l Cir'il dedica lod~ a ~e~~(> ~esulld~ illlilul~da Oi- 1,/
 
j,,~/icitl srn/lli/n, q\le ~ cOlllposl~ pelos § 1° DrI rrcollnrillltll/o "ri rirrrcf,n que englllbll o~ Arls.
 
13 ~ 19; § 2° DrI prnwlilllm/n, arl~. 20 ~ 29 e § 3° Dr Ins rf«(/ns rir In jlls/ici,' xrn/lli/n. arl~. 30
 
o 50. O 'lue pedaz ulll 101~1 dl' lrin\~ e ~l'le (37) Mligo~ tle~ic~tlos ilO lem~.
 
'7 Es~a C(lncepç~o leve (lrigl'm n~ Hev(lluç~(l Francc~~, na ml'\lítl~ em que o~ poderes do~
 
mogistr~tlos lornm reduzido~ c, por ron~eguinle, aumenlar~m'se (>5 podere~ d3~ p.nles.
 
Conlorll'e Merry",~n. oh. ci!. .. ". 78. Vide nol~ 18 e 34.
 
&~ Ob. cil., nO 53. p. 104.
 
h9 IMi~ essa l~o lorle, que I\d~ Pellegrilli idenlilicn (> procedil11elllo com ~um processo
 
iurl~dlcionnl de eslrulum CoorC!T~16ria", NC1{lns Tr",III"il/~ ,lo Direi/o /'rnrrssllnl. Forense
 
Universilflri~, 1990. p. 2.
 
70 1\0 'Iue p;crece. a lide ~ o conceilo qul' mnior inlhu:'Ilria ~I'rt'~elll~ Ilt'~ iIl5lilul(>~ pr(>ce~·
 
~lI~ls, I'. 11" 110 cClI1reil(l de luri5\1í~,'o, no wncl'ilo <te rc1~.;;l(> jurhlicn, 11(> cllllceil(> de l'arle5.
 
no Ctlllcl'ilt' dl' ~(!I\ICIIÇ~, IIn CIlIlCl'i11l dI! coi~~ julg~dn, elc., I~IlIIl que C~rnelu\li diz, ~en el
 
("ndo, Illd(l~. más <, Illl'lHlS, 1<'1I1an I~ inluici61l dl' <lue ~i IIl1 Cxi5li~e I~ lilis 110 exislirla el
 
I'ron.'~n l'ivil u • ol". ôl'., nY JJ, p. 6J.
 
71 Oh. ri!., 2° v., n' 2H, I' 293. E~~t' I'(l~iri(lni""t'nhl e'1"i\'tl(~d(l de Chio\'l'lldn 'lue <'ol<>(n
 
., cil~';,'o <'omll I'rC~S"l'o~l(l procc~~u,,1 de ..xi~li·nci~, vidt,. oulrt>~~im, I" v., 1'. 59, illlhl\'Il'
 
DOOYM i\'liplCM 31~ 
1$, 
j~cisdição_v.oluntár-ia, segundo doutrina dominante, l'IãO.J.1áJide,72\ 
nem há partes,7J visto que a relaçiio processuill apresenta somente 
um pólo, o que logicamente faz com que inexista um tratamentoigualitário, porquanto a igualdade de tratamento pressupõe partes 
antagônicas. Tanto é isso verdadeiro que os alemiies têm um provér­
bio que diz: "Eines mannes red ist keine red, der richter 5011 dic dell 
verhoeren beed" (A alegaçiio de um só homem niio é alcgaçiio; o jlliz 
deve ouvir ambas as partes).7~ 
ciou alguns aulores br~~ilciros, el\l.re eles Arrud~ A'vim, oI>. cil.. ". I. nO 153. p. 302; Tere~.,
 
Alvim Pinto, N,,/i"n"es dn Se,,/ellçn, RT. 191\7, p. 15. ~ <I1:~con~i<lerMel\l Cf ~rl. 263 <I" CPC,
 
que só· exige rM~ ~ cxi~lcnci~ c1~ rel.'ç~(l I'rocc~~u~1 IIm~ c1l:m.lIHI~ propo~l~ per.mlc UI\I
 
órgão dolado de jurisdiçào; conso~nle J,'q;e 1.. D~II' 1\61111I, I'rr.<.'''l'o;/(,:, I'rnn'~.<""i" l.,·jur.
 
1988, especialmenle o ilcm 2.2, p. 33; n cI"'/rI"in 5rn5". C"len,' I.~(I:'<I~, D"$l'tIC/1f1 5,11",'''",.
 
ed. Sergio F~bris, 1985. p. 60; Ar~kcn A~si~, C""'''/1I(l1'' Ilc Arl1rs. In. \989. n· 5.6.1'.37.
 
11 A lide como c~r~cle;lslic~ d~ jllri~diçào foi cri~c1~ por c., "1l'11I lti. qll~n;lo ti n'C~lllo disse 
que "L1~mo liligio ~I confliclo dc inlcrcscs c~lific..do por 1.1 I'relcn~i(lIl dc uno dc los 
inleresados y por I~ resislenci~ dei olro". Sis/e",n "e Drrrc"" I'r"cesnl Civil. \\IH; Uleh~, ".1. 
nO H, p. H. Ne~sa f~sc, a que denomin~l\Io~ de 1', C~rnellllli cnh'\llli~ Cl1l110 jllrisdkÍlll,,,1 
somenle o proce~so de cOllhedmenlo. 11.\0 o procl:~so de cxecllç.io. p"is n;\" 1I,"'i,1 prele"s~" 
resislidft. nem ~ jurisdiç~o vululll.\ri~. I'ois IIC~t~ 11.\" 1I,,,,i,, lide. 1't'$leri\lrn\~lIle, n~ ~\ .., 2' 
fase. quando escreveu ~s l!Ji/llzi""i. cm 1942, o ~lItt" "Itcro\l o ~eu rOllceílo de'lidc pM., 
inlroduzlr o processo de exccução 11.1 jurisdicioll~1id~de.l'l1is, ~cf;ulldo ele, ~diferenç" elltre 
essas duns espécies era "l~ cua1id~d de I~ lilis: de I'rr/r,,~i(lll d;~CI/lilln o dc 1Jr(lrllsi,11I 
;/lSII/;sfeclln", ;11 Inslíl\.ciones dcl Pro(eso Civil. EIEA, v.I, 197:1. li· 37. p. 77. E. so,"cnl,- n.' 
s'u~ 3' fase, é. que veio ~ jllri5d;cion~liz~r o proce~so volunl"rio. qll~nd(1 cscrcvcu ~ ~\la 
mngnllica obra intllul~da Diril/o r Procr$$". cm 1958, dizelldo liter~lnll'nle: "I.n iurisdicci~n 
voluntária es vrrdndrrnmrll/e jllrisdiceit!1I rl'S\l't~ lanlo dei fill como dei mcdio: dei lin.p""lue 
ell~ con~liluye, lo misOlO que I~ jurisdícci~II cOlllellcl"s~. UII rl:n\l:dit' (tIlIlra i~ dC~(1bcdÍl'II' 
da. aun cuando en potellcla m.is I>ien qlle ell,*l!'; c1e1medi,'. porqlle 1.1 r('~cci~II ~e (111"1"'­
medianle I~ declM~ci6n de Cl:rlcz~, n;~I'erlo de 1.1 cu~1 l'" s.,bl:lll"~ que cllnsislL' '-li li'''' 
eleccl6n oficial que se suslílllYC ~ \.. c1ecdúII dclparlindM; l' pn,,·i~.'lllenle ~Il 'li'" d"rd{1I1 
hechft sllvrr I'nr/ts y por cso i"'I',,,einl". D",rc1ro y I'r"crs". EIEA. 1971,,,· :17.1" 7~. COIII isso, 
se quer \lel11onslr~r. contrari~lIle"te~o qlle escrevem 05 ~1I1'''e$. qUI: ~ jurisdiç"o ""Iunl,iria
 
~ atividade jurisdicion~1 pM~ Carneh,tti. ""0 o em somenle n" " e II~ 2' fa~e. III~S II~ :I'. I:
 
mais.iOlport~IIte, é. II~ medid~ cm qUI: o ~ut\" f"i e,·oh.illdo l\ll cOllceito tia 1i,1c. Quc,,'r
 
justHici1r ., iUls':nci" da jurisdiciolli'lli(l.ulc Iln jurisdiç~(\ VOhllll.\rii'l. "r);llnlCll'''lu.ln rnlll II
 
cOllcêilo de lide descllvolvido pelo ~1I'or n~ I' e n~ 2' fascs. é descOllhecer ~ f~~,' m.,is
 
iOlporl~nle do rells"Olclllo c~rnelutiallo.
 
73 Nesse senlido, 110 IIra~il, teOlos Ar""I.' ""'im, ob. cil., n· 57. 1'. 111; F,,-derico M~"l"es,
 
MlIIl/lnl dr Direi/" Pr"crssllnl Civil. SM;,iv". \9')U, n' 62. 1'. 119; Lope~ da C,'~l~. Dirri/o I'ro",'~'
 
Sllnl Civil Brnsilcir", I. Konfino. 19~6, nOs 116 e 117, pp. IClO·I; I\.to~cyr 1\. 5.,II'''s. /"imr;r"
 
UIII,ns dt Direi/n ProcrsSllnl Civil, S~raiva. 1990, I" V., n" 53. p. 79; Iluml>crlo Theodoro limior.
 
Cllrso de Direi/n Procr$SlInl Cil'iI, Forensc. 1995. ,,0 010, p. 010; Emane Fi,lélis, Mnll,,,,1 lle Dirál"
 
ProcesSllnl Civil, SMaiv~, 1996, nO 21. pilg. 16; r:d~on Pr~I~,I"ris(lirllo 1'Cl/"II/,lrin, I.c\lIl. 1979.
 
principalmente Ululo 11I, PI" 855. (; inleres~allle 1101'" II po~idoll~l\\enlo de Chi("'clH'~.
 
quando crilica os ~ulores que dcfendem ~ ~usênci~ de c(lnlrovl!r~i~,c(ln\ellcio~id~de((11111'
 
caraclerfslíca d~ jurisdição volulllárin, dizcndo: "Podc h~ver I'r!'ceS~(1 ~e111 conlro"ér~i~ (~
 
o que aconlecc ~eOlprc no processo ~ rC"cli~)" p. IR. c ",~i~ .llliallle ~aliclll.I, .llribuindo 
como caracteríslica da jurisdiçi\o vOll1l1l,\ria ~ "~lIs"nci.' de du~s "Mies" 1" 19.01>. cil.. 2· v. 
7~ AI",d Wyness Mill"" ob. dI.. p. 017. 
Durei CuinlOnic~ h!ibciro3'2 
11 '<".1 l11<11or proxtml"dade . í' d- d o contrad' J.o pnnc p~o !toro com o 
prindpiodispositivo,75 e niio o dispensa naqueles processos com 
acentuada carga inquisitória,16 Nesse sentido já se manifestou a 
Corfe di Cnssnziolle da Itália, ao reconhecer que "la procedibilitn ex 
officio (... ) non esclude l'esigenza della tutela deI diritto di difesa 
dei soggetti interessati e, como mezzo a fine, dell'attuazione dei 
contradd ittorio".77 
Apesar de certos princípios processuai9' poderem, em certas 
circunstâncias, admitir exceções, o dolcontraditório é absoluto, niio 
admite exceção, devendo sempre ser respeitado, sob pena de nU1 
lJdade do processo. Por ser inseparável da administração da jusil-\ 
ça, 'constitucionillmente organizada, Winess Millar considera esse 
princíp'io como "el más destacado de los principios cucstiona­
dos",78 enquanto Calamandrei o define como "o mais precioso e 
típico do processo moderno",19 
.• Esse princípio confere o direito subjetivo ns partes de serem ~ 
ouvidas.E;m juízo. Se,Ror negligência da parte ela nful..l:om~rIl 
a juízo, em hipótese íllgUJ))a fica violado Q dito princípio, pois...,.Q... 
contraditório se estabelece ela o ori' eresa. e não pela
. . 
a..c:Jn..&1 
O contrêlditório é como uma moeda que apresenta, nUl11a das \
 
faces, a IIccessidnde de illforlllnr e, na outra face, a I'0ssibilídndc de
 
)nrficil'i1çtlo. A,soma desse binômio designa, para Couture, a~ ga­
rnntias do dl/C I'roc(~ss of Inw, pois, segundo ele, é necessiÍriolque:
 
"a) el demandado haya tcnido dcbida Ilolicin, la qqe pue'd~ ser
 
ilctUíll o implícita; b) que se le haya dado una razonable oporhll1i­
dad de comp'arecer y exponer sus derechos".l\\
 
O contr.adit6rio é çondicãQ de validade das proya~, p~rque \
 
toda e qualqlrer atividade instrutória há de ser produzida em con­
tradit6rio, razão pela qual sobreleva o princípio da imedinçi'lo,
 ~ 
,~ Con('lrme l'e)'ral1o. ob. cit.. p. 1~8 c lost! M. R. Tcsheiller, ob. cil., p. 011.
 
,~ f'nclu~m COIl1 es~e cnleIHlíll1el110 V. Denli, Prrizir, IIIfl/ift) I'rpcrssllnli r (O"'rnd.Jil/,,rio. in
 
Riv. dir. proc., 1967. PI'. 395s; Cappellelli, UI Irslil/lPII;nllZn ...• v. I. r. 352. 110la 30 e N.
 
Trocker, ob. cil.. r. 387.
 
77 AI''''/ N. Trockcr, 01>. cit., r. :187, 110t~ 38.
 
18 Oh. dI.. p. 47.
 
7'/ I'rorrsso r Dr",,,crnzin. Opcrc Ciuridichc, 1965. v.1, p. 6111.
 
~o Tall1b~1ll l1e~~c di,'pa~ão Uno I""~cio, p~r~ quem (l contradit~rio "no exige I~ efeclividad
 
,Irl ejNcido de Inl derccho. rn,ón por la cual éslc 110 pllede illVOCMSC cual1do la pMle inlere­
snda nu I" h/lO valer por umi~i~n o ncsllgend.. '· ill M"""nl dr dcrrrl.n I'ro((~,,' eivil. Abeledo­
PenOl, 2. ed .• 1961\. LI. p. 76. Vide Ad~ I'cllcgril1i. N"l'n~ IClld'"cin~ ... p. 19.
 
81 F'",,/nl/ltll/llS .... p. 150. Tnllll>ém l1estc selllido e com muil~ profundid~de C. Dil1amnrco.
 
1'IIII"""'CIl/05 dol'rocrss" Cit'il M",/c",,,, In. 2. ed., 1987. noln~ 49 " ~O, pp. 94 e 95: Nelson
 
Ncry Junior. ob. cit., PI'. 122·3 e IJO~.
 
POOVM ATIPIOO 33'1) 
, 
pois, segundo Isidoro Eisner, a imediação é: "el principio en virtud 
deI cual se procura asegurar que el juez o tribunal se halle en 
permanente e íntimél vinculación personal con los sujetos y ele­
mentos que intervienen en cI proceso, recibicndo directélOlente lils 
alegaciones de las partes y lils aportaciones probiltorifls;il fin de 
que pueda conocer en toda su significación cl material de lél Célusa, 
desde el principio de ella, quicn il su término hél de pronunciilr la 
sentencia que la resuelva".82 E essa imediélçiio se dá, tilnto déls 
partes em relação ao juiz, como do juiz em relaçiio às partes. No 
primeiro caso, a. prova é i~ílida sem il pr~él délS partes; é o 
que os alemães chaméH11 de Pnrtciõffelltlicllkcit,~J poi5,~ õímgis­
trado, mesmo de ofíd.QI-C~lUovél e niio cOlmmicélr élS pélrles 
.emprazo hábil, essa p-rQY.a.-cs!,Lmanchílda, isto é, invímail parà' 
. produzir ef~itos objetivos sobre a scntençél,8~ c. g., a inspcçiio judi­
cial. Na segunda hipótese, esclarece N. Trocker que "Ia nssunzione 
dclle prove deve avvenire davanti all'organo giudica.ntc",~5 sob 
pena de ser consideréldél ilwíllidél, na medida em que o mil'gistréldo 
é o destinatário direto dn provél; e, pelo critério subjetivo, é ele 
quem deverá formar a sua convicçiio interior, que só poderá ser 
.adquirida mediante a percepçiio,~6 conforme él:..t.-~do Cpc. Oní 
:conc1uir Ada Pcllegrini que. "tanto será viciélciél' él provél que fOi 
~, colhida sem a presença do juiz, como o sere, n provél qlic'fõr-cõll'lidn 
pel.Q:j,uiz...s_ero_<Lp.JJ~sença..d as_pnr..tes ".~7 . . '-
Cllmpre destnc~r neste momento n distinç50 entre contrildi· 
tório e amplil dcfcs~~. que flpróprii\ Constituiç50 fflZ, pois, entre 
um princípio e ou~ro, utíliza il c&junç50 élditivil c, que sug\:rc 
soma, acréscimo.,No Rrocesso civil, niio existe élmpln dcfesn, 56 no] 
processo penal páis peste temos n defesn cClI;siderêldn ttC/licn c il 
defesa considerada pe·~sQaL. A defesêl técnicn é êlquela feitêl por 
prtJfissional legalmentehabilitéldo, segundo o élrt.d!6)'.do CPP, e, \ 
mesmo que o acusado 050 a q!lcic.u... o Estéldo está obrigélclo él J 
n IA jll"'ediaci61' til c/.PrOCC50, 6er~lm~. I96J, nO 32. p. JJ.
 
&3 Ap"d N. Trocker, ob. ci!., p. 553.
 
Sol Nesse sentido, citando jurisprudênci~ dos Iribunais ale",~es. N. Trocker,'ob. cil., p. 536.
 
nota 40. e Ada Pellegrini Grino,:er, ob. cil..:p. 24. O Código de Processo Çlvll EspRnhol
 
eslabelece regra expressa a respeito no art. 570 que diz IItcralmcnte: "Toda dlllgencin de
 
prueb., incluso la de tesligos, se prnticar6 en alldlencln p\íbllcn y previacilaclón de Ins
 
. pArles con veinticunlro horas de nnlelnci6n por lo menos, plldiendo cOllcllrrir los litig~nles 
ysus dcfenspres". Também o C6digo de Processo Civil y Comercial d~ Argenlill~. il\lS -'rIs. 
479 e 480. 
a5 Oh. cil., p. 548. Neste sentido, Ada Pellegrini, ob. cil.. rI" 22s.
 
16 V. nola nO ]72.
 
B7 Ob. cil., p. 22.
 
34 Dnrci C\lil\IOI1iCb Qibcim 
tt. 
r 
_._.~­--_ - _-_ -_ _ ... 
1.3. Princípio informativo do procedimento 
r1'.:3.1 :P~illcfl'io dn ol'lllidndc ( 
. -.- . __ .----, ......_.~­
1.3.1.1. A ornlidnde e o direito nlltígo 
A vllntllgemdél péllavrêl falêldn sobre n p"lêlvrêl escritêl não foi 
umél preocupêlçiio exclusivll dos romllnos. O próprio Pléltilo, nn 
Grécill, em um de seus diéllogos, disse: "(...) n escritêl é mortêl e s6 
rnln por umêl pêlrte, isto é, por meio daquelêls idéins que com os 
sinnis desp'ertêlm o espírito. Nilo satisfaz plenélmente à nossa FU­
riosidêlde, n50 responde às nossns dúvidêls, n50 apresento os i~ú­
meros nspectos possíveis dél própriêl cousn. Na pêllnvrél vivêl, ritl.nm 
tnmbém o rosto, os olhos, n cor, o movimento, o tom dêl voz, o 
modo de dizer, e tnntélS oulréls pequenlls circunstiincias, que mo­
c1ificélll1 e desenvolvem o sentido dns péllêlvras, e subministtnm 
till1toS indícios'êI félvor ou contrél a própriêl êlfirmnção deléls".9h 
Segundo Chiovendn, "0 processo romnno foi eminentemente 
oril1: na plenitude dél significêlçilo dêsse termo e pela raziio rntimn 
e pr'ofundn de Cjue "ssim o exigia n funçiio d" provn".92 O processo 
civil romano se divide bélsicflmente em três perfodos: lcgis nctiollcs, 
I 
RR Ncsse sentido, lunl', Monlero Awca, dil'.eml(1 que ela é "In \'erdndern dcfclan, I~ técnicn,
 
In renlludn por nbollndo C~, CI1 gCl1ernl, IrrclHlI1c1nblc", //Ilrorlllrrltl/l a/ Derecllo Protesa/.
 
Temos, 1976, r. 241. ,
 
~9 Ob. cil.. ". 241. 
90 I.~ decidiu o Supremo Trihullnl Federal. no RECrim 91.838, Rc'l. Min. Soares MlIi\OS, i"
 
In 540/414 c 415..
 
91 Citnç~o de MMio Pagnno, al'"'/ Chio"cnda j" ProcedimenlO Oral. na Colet~nea de Estudos
 
tle Jurisl~s· rrocessoOrnl. Forense, 1940, p. 41.
 
92 Ob. cil., 1° v, nO 32, r. 126.
 
PlX)\',\..." ArllJlCM 35(1; 
# 
\~ 
per formulas e cxtrnordinnrinc cognitioncs.9J No período d<1s lcgi;; nc· 
tiones, O processo era eminentemente ornl, não obstnnte ser extre­
mamente formal e rígido, pois as pnrtes deverinl11 obedecer ns 
formas legais que não eram escritas, e o menor desrespeito à formn 
processual gerava a perda da cnusn.94 No período pcr fOl'lIIl1lns,?5 
surgido, segundo Gaio, devido à Lcx AclJlltin e Lcx JlIlin",96 os edilos 
dos pretores apresentavam esquemas abstrntos, i. é, a instrução erél 
escrita (jomll/la) e servia de paradigma no mngistrado que, no re­
digir o iudicilllll, deveria observn-la; mesmo Clssim, o processo 
apresentava cunho predominal)temente oral, pois as partes deve­
fiam comparecer na frente do magistrado, identificando a litis 
colttestntio.97 O perrodo da cxlmordi/lnrin cogl/itio é cnracterizado 
pela ruptura que apresenta em relação ao sistemô anterior, em qtle 
o julgamento era composto de duas fnses, sendo Cl primeira ill jl/I't! 
e a segunda npud judicclI/. Nesse sistema, há um único julgCldor 
(magistrado-funcionário) que inicin, instrui e decide.?8 Mesmo ns­
sim, predominava o princípio da oralidade, segundo nos informa 
José R. Cruz e T\Icci: "Embora alguns atos processunis fossem 
documentados, a oralidade se sobrepunhCl à escrilurél no procedi­
mento da exlrnordinnrin cogl1i1io: ClS pnrtes debCltiam Cl CClUSCl, em 
.contraditório, na presença do mngistrndo".99 Constntn-se que, mes­
mo durante todos os séculos de desenvolvimenlo do processo civil 
romano, o princípio da orCllidClde jCln1élis foi esquccido como elc· 
mento de aperfeiçoilmenlo das instituições judici<Íríns. 
.' 
.; 
93 Para um ml!lhor aprohll1damenlo sobre o lem~, ~c(lIlselh~",os ~ leil",~ de Vill",io
 
Selaloja, Proctdi/llitlllo Cillil'RoIIIOIIO, EJEA, 1954. I!speci~lmenle §§ 145: Chiovend~, Instilll;­
çOes ..... l' v, n' 32; Jos\! R. Cruz e Tucci I! Luiz C. Azevedo. Liçvrs .k Hisl6rio rio Procr<so
 
C/vII ROII,nllo, RT, 1996, Capo 3' e ss; I! Nello Andreolli Nelo. Novn Ellcic/0I'Min /"rlrlirn Civil
 
Brnsiltirn, Ed. Rideel, v. I. Título IX, p. 2295.
 
94 Gaio, ll1sli/l,lns 4.30.
 
9S A express~o formulário Significa. sl!gundo AlIr~lio, "modelo impresso de IÓro",la. no
 
qual apenas se preenchem os dados pessoais ou parlicul~res", E. seg\lIlclo DiciOlI~rio Mor­
ft116gico dn Lfllglln PO'/lIgllcso, Ed. Unisinos,19BB. v. 11, p. IBI5. fo,mo significa "'igura ou
 
aspecto eKterior; maneira; modelo". R~z~o pl!la qu~1 se deduz que o nome adveio d~
 
necessidade dI! Se respeílarl!m,os modelos estabelecidos pe!o\ediIOs dos pretores.
 
96 l'ls';/I,'as 4.30. • .
 
97 ~ interl!ssante notar a mudança de um perlodo para outro que o pr6prio jurisla Gaio nos
 
menciona, dizendo: "Mas lodas esl~s açf.>es da lei torn~ram'se ., PO\ICO e pouco (,dios~s.
 
Pois dada a I!xtrema sutileza dos antigos fundadores do direilo, chegou-se h silu~çho de,
 
quem' cometesse o menor erro, pcrdl!r a C.'IIS". ror isso. abolir~I"-Sc ~s aç,;cs c1~ lei pela Lei
 
Eb~ci. e pl!lns duas Leis Júlias, Il!vando os processos ., se re~li·l.nrem p('r p~l~vras 11. as,
 
I.é., por fórmulas" fIlSli/lllos, 4.30.
 
9' NI!S51! sentido, Villorio Scialoja, P1Ilwfi/lli""O ..., § 50, p. 365; J(\S~ H, Crll1. e T\lcci e l.uil.
 
C. AzeVedo, Liçllts ..., Capo 10, p. 138; Ncl10 Anclreolli Nela, Nol'o EllcicloJ'Mio ... , rI" 244s .. 
99 Ob. cil., p. 141. 
36 Dorci Cuimnnicl> Ribeiro 
·l 
. . I: 
A ornlidnde

Continue navegando