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ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA AULA 1 – COMUNICAÇÃO, ÉTICA E DEONTOLOGIA O que é ética e o que é moral? Para começar essa disciplina precisamos conhecer a origem e o significado das palavras moral e ética. O que é ética? O que é moral? A palavra ética vem do grego ethos, que virou ethica em latim e, em grego, significa costume. O termo moral vem do latim moralis, moris e ambas as expressões também querem dizer costume. Alguns filósofos entendem como sinônimos (Hegel), mas outros, como Kant, julgam que a ética seria superior à moralidade. “Com o passar do tempo, com a vulgarização operada pelo entendimento comum, é possível entender em que medida a ética se diferencia da moral. A primeira se amalgamou à questão particular, privada, e a segunda à questão pública, universal. Ambos os conce itos andam juntos e um não vive sem o outro”. Mandamentos para solucionar os problemas Agora que já sabemos o significado das palavras moral e ética, vamos começar a refletir sobre de que maneira esses conceitos podem ser aplicados no dia a dia... Circula na internet, há algum tempo, um material supostamente atribuído a um prefeito de Nova York que teria utilizado alguns conceitos na administração da cidade algumas décadas atrás. Não se tem certeza de que o material é realmente do ex-Prefeito Rudolph Giuliani. O fato é que o prefeito teria estabelecido onze mandamentos que, cumpridos pelos moradores, ajudariam a solucionar os principais problemas da chamada "capital do mundo". Mandamentos para solucionar problemas 1 - Nunca suborne nem aceite suborno; 2 - Exija a nota fiscal em todas as compras; 3 - Nunca compre nada dos camelôs, pois a maior parte das mercadorias é roubada, falsificada ou sonegada; 4 - Não compre, nem consuma drogas; 5 - Denuncie à Receita Federal se você conhece alguém que está enriquecendo repentina e ilicitamente. Não o admire, repudie-o; 6 - Nunca dê esmolas; 7 - Só jogue o lixo no lixo; 8 - Não compre ingressos de cambistas, nem que você fique sem assistir ao evento; 9 - Nunca feche o cruzamento para não atrapalhar o trânsito; 10 - Prestigie a indústria nacional dentro do que lhe seja possível; 11 - Nunca mais vote no político que teve um péssimo desempenho e espalhe o seu descontentamento com aqueles administradores públicos que te decepcionaram. Ética: A busca suprema da felicidade A ética trata da busca da suprema felicidade humana (ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco). No entanto, vale lembrar que o homem é um ser social, daí a necessidade de se juntar a outros, o que implica numa vida coletiva. ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA LEITURA O professor Rogério Christofoletti, no seu livro Ética no Jornalismo, diz que “a ética não é uma dimensão que toca apenas o lado individual das pessoas”. Para viver em grupo de forma harmoniosa, o homem criou determinadas regras de conduta e normas que pudessem orientar o comportamento e contribuir para o equilíbrio coletivo. Ética x Moral Mas, afinal, qual a diferença entre Ética e Moral? E o que elas têm em comum? MORAL – A moral coloca normas, padroniza, é dura e sinalizadora. Ela é como uma tábua de mandamentos. Enquanto a moral são as regras, a ética, em contrapartida, é o pensamento sobre essas regras e nossas relações com o mundo. ÉTICA – A ética é a reflexão constante da conduta humana. Ela é reflexiva, maleável, praticamente questionadora. Segundo o professor Christofoletti, “é o pensamento sobre as regras e nossas relações com o mundo: se vamos ou não acatar as normas, e por que fazemos uma coisa e não oura”. Aquilo que os homens fazem com a moral, isto é, como fazem os valores funcionarem, é o que se convencionou chamar de ética”. Trocando em miúdos, segundo o professor Caio Túlio Costa, podemos dizer que a ética guia sua vida privada e moral, sua vida coletiva. Mas as duas andam juntas. O professor utiliza características estabelecidas pelo pensador belga Luc de Branbandere, sintetizando as diferenças entre elas. Busca da verdade Quando falamos de ética, não podemos deixar de estudar a verdade. A filósofa e professora Marilena Chauí explica que afirmar que verdade é um valor significa: “o verdadeiro confere às coisas, aos seres humanos, ao mundo um sentido que não teriam se fossem considerados indiferentes à verdade e à falsidade”. Quando perguntamos se algo é “de verdade” ou “de mentira”, estamos buscando a verdade. A professora Marilena Chauí nos lembra também que, em nossa sociedade, é muito difícil despertar nas pessoas o desejo de buscar a verdade: “Pode parecer paradoxal que assim seja, pois vivemos numa sociedade que acredita nas ciências, que recebe 24 horas diárias de informações vindas de jornais, rádios, televisões, que possui editoras, livrarias, bibliotecas, museus, salas de cinema e de teatro, vídeos, fotografias e computadores”. Mas é exatamente esse excesso que torna a busca da verdade tão difícil. Num mesmo dia, através de diferentes meios, podemos receber informações e descobrir “que elas não batem umas com as outras, que há vários mundos e várias sociedades diferentes, dependendo da fonte de informação” (CHAUÍ, 2002, p 90/91/92). E essa busca da verdade é também o sentido maior do Jornalismo. Como distinguir a verdade? ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA Quando se busca a verdade, procura-se sair do estado de ignorância – que muitas vezes pode ser tão profundo que sequer percebemos ou sentimos: não sabemos que ignoramos. Quando recebemos um volume massivo de informações e encontramos diferentes possibilidades, ficamos perplexos, cheios de dúvidas e incertezas. Imagine que você tenha um familiar ou amigo que pegue o ônibus da linha 111 na parte da tarde...Será que deve se preocupar? Ou será que o acidente foi na linha 121 e não há motivo para preocupação? O acidente foi na parte da manhã ou na parte da tarde? No cotidiano de qualquer pessoa, esse número massivo de informações geraria inúmeros problemas. Por isso, a maioria tende a acreditar como verdadeiro naquilo em que estão acostumados e, sem se darem conta, acabam mais desinformados ainda. O jornalista tem um papel fundamental nesse vendaval de informações que seu público recebe. Por isso, sua busca da verdade e a verificabilidade dos resultados devem ser seus princípios fundamentais no exercício de sua atividade. Leia mais sobre o papel do jornalista nesta difícil tarefa de distinguir a verdade e também a síntese de síntese de Chauí e sobre as diferentes concepções de verdade. O jornalismo é necessariamente ético A busca da verdade é, em última instância, a tarefa fundamental dos jornalistas. Se ele trabalha com essa perspectiva, ele certamente será ético. Por isso, o jornalista e professor Eugênio Bucci afirma que o Jornalismo é necessariamente ético. Nas concepções de verdade sintetizadas, destacamos aqueles que podem ser compreendidos também como tarefas fundamentais dos jornalistas. Ele precisa sempre separar aquilo que “parece ser” daquilo que “realmente é”. Deve estar despido de qualquer preconceito e hábitos comuns, sob pena de transfo rmar seu trabalho em algo estereotipado. Sempre deve explicitar em detalhes os procedimentos da apuração da informação. Seu trabalho deve guiar-se pela liberdade de pensamento e, por fim, deve ter comunicabilidade, transmissibilidade e veracidade. Essa verdade, por fim, deve ser objetiva. “Refletir sobre ética em uma atividade é, além de um tormento pessoal, um exercício de afastamento da prática imediata, de complexificação da moral profissional e de inscrição da profissão na contemporaneidade, com previsíveis complicações de tal tentativa” (Francisco José Karam). Referencias ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA BEAUJON, Andrew. Americanos confiam cada vez menos na mídia. Observatório da Imprensa, set. 2012. Disponível em:http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed713_americanos_confiam_cada_vez_meno s_na_midia. Acesso em: 17 out. 2012. HAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2002. CHRISTOFOLETTI, Rogério. Ética no Jornalismo. São Paulo: Contexto, 2008. COSTA, Caio Túlio. Ética, jornalismo e nova mídia: uma moral provisória. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. AULA 2 – ÉTICA NA CONTEMPORANEIDADE Estruturação do treinamento individual izado Se você acompanhou a última aula com atenção, já tem conhecimento sufic iente para dar sentido à ética. Isto, no entanto, não significa que as dúvidas deixaram de existir. Pelo contrário, as questões da ética nos aparecem a cada dia e sempre estamos nos perguntando: isso é certo/errado? A Ética no dia a dia A ética se desenrola na prática, no dia a dia, através da moral. E à medida que as sociedades se modificam, a ética e a moral começam a acompanhar este processo. “Por um lado, consideraremos que o debate ético não funciona em torno de ideias eternas, mas em torno de conceitos historicamente construídos e, por outro lado, que o próprio debate evolui ao longo da história” (FOUREZ, 1995). Isso significa que, ao longo da história, algumas condutas, antes consideradas moralmente incorretas e prejudiciais ao relacionamento coletivo, se modificaram e hoje são vistas como situações comuns. Não é difícil prever que, no futuro, poderão emergir novas pretensões que no momento nem sequer podemos imaginar, como o direito a n ão portar armas contra a própria vontade, ou o direito de respeitar a vida também dos animais, e não só dos homens. ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA O que prova que não existem direitos fundamentais por natureza. O que parece fundamental numa época histórica e numa determinada civilização não é fundamental em outras épocas e em outras culturas. Em artigo publicado na internet, Ética e contemporaneidade: um convite, o professor Nilo Reis diz que o século XX realmente trouxe uma onda de reflexão sobre a ética; prova disso são as publicaçõe s e os diversos estudos sobre o assunto. “Talvez caiba perguntar: por que a ética se tornou um assunto tão importante na contemporaneidade? Uma coisa é certa: é uma peculiaridade do homem a não indiferença. Segundo, a possibilidade do discurso ético se mostra como uma possível realidade de fuga, na medida em que procuramos escapar às ilusões da modernidade que não se concretizaram na práxis social” (BOBBIO, 1992). Ética universalizada Como vimos nas telas anteriores, por conta da diversidade cultural e das mudanças que ocorrem ao longo do tempo, não é possível ter uma ética universalizada. No decorrer de nossas vidas, temos sim regras de conduta comuns aos vários grupos sociais. Com elas nos defendemos e buscamos sobreviver cotidianamente. Em qualquer soc iedade existem regras válidas para todos os grupos: não matar e não roubar, por exemplo. Essas regras se configuram como inquestionáveis na maioria das organizações sociais, mas, no entanto, podem ser repensadas em outros grupos sociais. Determinadas culturas aceitam matar pessoas em nome de uma regra maior: como, por exemplo, as culturas que não aceitam o adultério cometido por mulheres e as sentenciam com a pena de morte. No vídeo ao lado, assistimos a uma cena da minissérie Gabriela, em que o Coronel Jesuíno mata sua esposa após pegá-la em adultério e se espanta ao descobrir que será julgado, já que, de acordo com a sua ética, matar a mulher e o amante nessas condições seria não somente aceitável, como a melhor atitude a se tomar, afim de lavar a sua honra. Nesse período do crime cometido por Coronel Jesuíno, a sociedade estava mudando seus conceitos éticos e o assassinato não foi bem aceito, resultando na condenação do Coronel. Você sabia que o nosso Código Penal admite que roubar para sua sobrevivência não é crime? Poucos sabem disso e certamente muitas vezes a própria Justiça não consegue absolver aquele que roubou para manter sua família. A sociedade na qual o indivíduo está inserido também o ajudará a construir valores, pois todas as sociedades são regidas por normas – inclusive num regime anárquico –, e estas exigem que os indivíduos envolvidos nas mesmas tenham atitudes referentes ao esperado pelo senso social. ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA Estes padrões normalmente brotam do próprio seio popular ou podem ser exigidos pelas regras de etiqueta ou ainda transmitidos pelos formadores de opinião. Esta é uma maneira de se universalizar a ética através do gosto popular. A grande questão é que as populações de culturas diferentes possuem gostos diferentes e reagem aos estímulos de padrão de maneira diferente. Portanto, poderia haver uma universalização da ética dentro de cada cultura, separadamente (Mariana Seixas Cumming, meio digital). A ética e as profissões – Jornalismo Já podemos de alguma forma concluir que o embate ético vai ser uma constante na nossa vida e que, por isso, não podemos e não devemos fugir dessa incômoda situação, seja em qual área profissional estivermos atuando. No jornalismo, por estarmos lidando com informações que serão repassadas para milhões de pessoas, temos que refletir ainda mais sobre a ética e a moral. Eugênio Bucci, no seu livro Sobre Ética e Imprensa, fala do que chama os pecados cometidos diariamente pelos jornalistas e cria uma lista do que considera os sete pecados capitais: Este são alguns itens que abrangem problemas graves no jornalismo de hoje, mas não podemos esquecer outros como: ● A relação com a fonte (que pode se tornar extremamente comprometida); ● A dificuldade em ouvir os dois lados da história; ● O uso de ferramentas que podem distorcer a realidade. Enfim, um sem-número de outras fragilidades da atividade jornalística. Ajudando ou alimentando estereótipos? Uma charge com esta que vimos ao lado, publicada em um jornal de grande circulação ajudaria a população a refletir sobre a consciência do voto ou alimentaria a ideia de que todo o político e corrupto não possui ética? Essas são dúvidas que certamente nos perseguem... ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA ATIVIDADE PROPOSTA Faça uma análise de um veículo jornalístico qualquer (jornal, revista, rádio) e de acordo com o conteúdo visto nesta aula, selecione uma matéria que tenha cometido algum dos “pecados capitais”, listados por Eugênio Bucci, diga qual foi o erro cometido e, como seria possível evitá-lo. R: Independente do meio escolhido e/ou da matéria selecionada é importante que a matéria escolhida tenha cometido um dos seguintes “pecados”... 1 – Distorção deliberada ou inadvertida; 2 – Culto das falsas imagens; 3 – Invasão de privacidade; 4 – Assassinato da reputação; 5 – Superexploração do sexo; 6 – Envenenamento das mentes das crianças; 7 – Abuso do poder. É importante que, enquanto jornalista, estejamos sempre atentos para não cometermos esses “pecados éticos”. REFERENCIAS BUCCI, Eugenio. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Cia das letras, 2000. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Trad. Carlos Nelson. Rio de Janeiro: Campus, 1992. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2002. CHRISTOFOLETTI, Rogério. Ética no Jornalismo. São Paulo: Contexto, 2008. CUMING, Mariana. A ética no nosso cotidiano (meio digital). FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra; Anca/MST, 2004. REIS, Nilo. Ética e Contemporaneidade: um convite. (meio digital) ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA AULA 3 – ÉTICA NA COMUNICAÇÃO SOCIAL Responsabilidadedo jornalista O que se pretende nesta aula é discutir a responsabilidade de cada profissional no exercício do Jornalismo. Não podemos culpar este ou aquele veículo sem antes assumirmos que estamos de alguma maneira contribuindo para que erros e mentiras se propaguem como informações verdadeiras. A reflexão sobre o tipo de Jornalismo que queremos e que acreditamos ser possíve l deve acompanhar o cotidiano de todos os profissionais. Afinal, trabalha-se para garantir ao cidadão um direito constitucional: o direito à informação. Leitura A jornalista norte-americana Janet Malcom escreveu, em seu livro “O jornalista e o assassino: uma questão de ética”, que o Jornalismo é “moralmente indefensável”. Neste livro, a autora fala sobre a confiança que uma fonte ou entrevistado deposita em um jornalista, acreditando que este, ao final de seu trabalho, vai publicar uma história favorável. Assassinato da mulher e duas filhas à prisão perpétua) no jornalista Joe McGinnis, que se aproximou do assassino para ouvir e publicar sua história. O jornalista conviveu com a fonte por vários anos e, ao final, ao contrário do que esperava o médico condenado, McGinnis escreveu uma história que o denegria ainda mais. “Acontece que o conteúdo de uma história, um fato, uma versão não podem estar submetidos exclusivamente à fonte ou entrevistado ou ao jornalista, porque o grau de manipulação deliberada já estaria dado de antemão, tanto quanto o imprevisível, das revelações feitas”, explica o professor Francisco Karam (2004, p. 65). Karam conta que a história rendeu um processo judicial do médico contra o jornalista, e é essa complexa relação em seus aspectos profissionais, morais e éticos o tema do livro de Janet Malcom. Aspectos profissionais, morais e éticos ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA Malcom (1990, p.11) afirma que “qualquer jornalista que não seja demasiado obtuso ou cheio de si para perceber o que está acontecendo sabe que o que ele faz é moralmente indefensável. Ele é uma espécie de confidente, que se nutre da vaidade, da ignorância ou da solidão das pessoas”. As afirmativas de Malcom são duras, mas não são totalmente corretas. Fazem-nos refletir, mas deixam de lado aspectos importantes da realidade profissional, como reconstruir “cotidiana e pluralmente o mundo no qual todos nós nos envolvemos e do qual participamos ao nos apropriar-nos do movimento diário da humanidade” (KARAM, p 38). Uma certeza é clara: o Jornalismo é indispensável para a sociedade. Existem problemas e deficiências no nosso Jornalismo, mas eles não podem ser generalizados. Devemos então pensar em como reduzir esses problemas e essas deficiências de modo a que os jornalistas sejam vistos com mais credibilidade. Credibilidade do jornalismo A credibilidade do jornalismo é um ponto sobre o qual precisamos refletir... Em outubro de 2012, a revista Imprensa, na comemoração dos seus 25 anos de atividade, decidiu rever uma pesquisa que publicou em seu primeiro número com o título de “Credibilidade em xeque”. CRIME DA IMPRENSA “A reportagem apresentava os dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup e mostrava que, em São Paulo, a maioria não acreditava no que era veiculado pelos meios de comunicação. Os resultados da época apontavam que a maioria das pessoas acreditava que a imprensa estava mais preocupada em defender interesses de pessoas e grupos do que em informar e que, consequentemente, alterava dados e notícias na hora da publicação” (meio digital). A revista acreditava que o cenário seria outro em 2012, já que em 1987 o país estava passando pelo processo de redemocratização, depois de amargar uma ditadura de 21 anos, e a democracia retomava a passos lentos o seu lugar. Panorama atual No ano de 1987 era possível supor a dúvida à imprensa, já que era um momento em que todas as instituições nacionais passavam por descrédito. No entanto, passados 25 anos, “A revista Imprensa refez a pesquisa da sua primeira edição, desta vez com o Instituto Ibope.” E então, será que no ano de 2012, a credibilidade na imprensa melhorou? O resultado aponta que o cenário não melhorou quando o assunto é credibilidade da imprensa. Eis o resultado: “É possível observar que, com exceção do jornal impresso, todas as mídias tiveram qued a na credibilidade. De modo geral, o estudo mostra que o leitor tem a percepção de que as notícias publicadas são distorcidas”. Deslizes éticos Por que a população não acredita nos veículos de comunicação? Neste ponto, podemos destacar o que o professor Ciro Marcondes Filho, em seu livro “A saga dos cães perdidos”, lista como aqueles que considera os “principais deslizes éticos da prática jornalística” 1. apresentar um suspeito como culpado; 2. vasculhar a vida privada das pessoas, publicar detalhes insignificantes de personalidades e de autoridades para desacreditá-las; 3. construir uma história falsa, seja em apoio a versões oficiais, seja para justificar uma suspeita; 4. publicar um provisório e o não confirmado para obter o furo. Transformar o rumor em noticia; ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA 5. filmar ou transmitir suicídio ao vivo; 6. expor pessoas para provar um flagrante; 7. aceitar chantagem de terroristas; 8.incitar “rachas”; 9.maquiar uma entrevista coletiva ou exclusiva; 10. comprar ou roubar documentos; 11. gravar algo à revelia; instalar microfones escondidos; 12. omitir que se é jornalista para obter confidencias. Negócio como qualquer outro Noblat defende que “jornal é um negócio como qualquer outro. Se não der lucro, morrer. Por isso deve estar sempre atento às necessidades dos leitores”. No entanto, o mesmo autor contrapõe: “Mas jornal também é um negócio diferente de qualquer outro. Existe para servir de tudo ao conjunto de valores mais ou menos consensuais que orientam o aperfeiçoamento de uma determinada sociedade. Valores como a liberdade, a igualdade social e o respeito aos direitos fundamentais do ser humano” (2004, p. 26). Um jornal é ou deveria ser um espelho da consciência crítica de uma comunidade em determinado espaço de tempo. Um espelho que reflita com nitidez a dimensão aproximada ou real dessa consciência. E que não tema jamais ampliá- la. Pois se não lhe faltarem talento e coragem, refletirá tão-somente uma consciência que de todo ainda não amanheceu. Mas que acabará por amanhecer. Jornalismo não é obra exclusiva de jornalistas. Tanto quanto nós, os leitores são também responsáveis pelo bom ou mau jornalismo que fazemos. Porque eles têm o poder, e todo o poder. Podem comprar um jornal se quiserem. E se quiserem, podem deixar de comprá-lo (NOBLAT, 2004, p. 21). Papel da sociedade Outras reflexões As dúvidas éticas e as incertezas morais devem acompanhar o cotidiano do profissional e, a esta lista do professor Christofoletti, podem ser acrescentadas outras tantas questões, também elaboradas pelo professor Karam... Como fazer respeitar a privacidade do cidadão? ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA Como revelar a verdade de um acontecimento, quando ele próprio possui várias fragmentações e interpretações, e as versões são diferentes, complexas e não há espaço para todas elas, nem para todas as fontes? Como selecionar, no mar diário de acontecimentos, aqueles que possuem relevância social? Enfim, há perguntas a fazer e responder. As respostas exigem profundos debates e reflexões, antes de apressadas conclusões ou autoritárias certezas. Elas também não cabem nas generalizações que comparam a ética jornalística com a ética de qualquer outra atividade, sem levar em conta, profundamente, a relação específica da atividade com a sociedade (KARAM, 1987, p. 47). Vale lembrar a frase do próprio professor Karam:“O Jornalismo não pode deixar de ser crítico, de traduzir a diversidade e conflitos”. ATIVIDADE PROPOSTA Veja a imagem a seguir e analise, com base em todos os questionamentos feitos na aula, que atitude deverá tomar o jornalista. R: Com base nos argumentos apresentados na aula, você deverá responder a questão expressando o relacionamento entre o jornalista e sua fonte; os perigos de uma relação promíscua que pode afastá-lo das verdades do fato. O uso que a fonte faz de seus contatos com jornalistas. A possibilidade de troca de favores entre as partes. REFERENCIAS CHRISTOFOLETTI, Rogério. Ética no Jornalismo. São Paulo: Contexto, 2008. KARAM, F. J. Jornalismo, ética e liberdade. São Paulo: Summus, 1997. MALCOM, Janet. O jornalista e o assassino: uma questão de ética. São Paulo. Companhia das Letras, 1990. MARCONDES FILHO, Ciro. Comunicação e jornalismo: saga dos cães perdidos. São Paulo: Harcker Editores, 2000. NOBLAT, Ricardo. A arte de fazer um jornal diário. São Paulo: Contexto. 5. Ed., 2004. ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA AULA 4 – O JORNALISMO E A NECESSIDADE ÉTICA Informação é um direito Quando olhamos uma imagem como esta, temos a impressão de estarmos observando o óbvio. Claro que sabemos que todos têm direito à informação, mas você sabia que esse é um direito garantindo pela Constituição Federal, assim como moradia, saúde, educação e tantos outros? O direito à informação faz parte dos direitos assegurados a todos os cidadãos na Constituição. Mas o que nós jornalistas fazemos para garantir esse direito? E qual a relação com a cidadania? São exatamente estes os tópicos de reflexão e discussão desta aula. Escolha da informação Quem tem a informação tem a capacidade de escolher. Esta é, em linhas gerais, a relação da informação com a cidadania. Mas a cidadania não representa apenas um conjunto de direitos formais; significa também a capacidade de inserir o cidadão no seu contexto social como um agente. Ou seja, como alguém que pode, além de tomar decisões, modificar situações que possam prejudicar a todos. Qual das três manchetes você escolheria? O jornalista tem o papel social de informar ao cidadão o que se passa para que ele possa, de forma consciente, tomar sua própria decisão. Este é um dos atributos conferidos ao Jornalismo no Estado democrático: informar e delegar ao cidadão a escolha. O jornalista tem o papel social de informar ao cidadão o que se passa para que ele possa, de forma consciente, tomar sua própria decisão. Este é um dos atributos conferidos ao Jornalismo no Estado democrático: informar e delegar ao cidadão a escolha. O jornalista tem o papel social de informar ao cidadão o que se passa para que ele possa, de forma consciente, tomar sua própria decisão. Este é um dos atributos conferidos ao Jornalismo no Estado democrático: informar e delegar ao cidadão a escolha. Cidadania e Informação Conceituar cidadania é simples: é o próprio direito à vida, no sentido pleno. Mas, por outro lado, sabemos também que atender às necessidades básicas de uma pessoa não a torna cidadã. Isso é algo que se constrói, a part ir da informação. “A informação como direito social é, portanto, toda aquela informação, de sentido social, indispensável para a vida em sociedade. Toda aquela informação concebida à semelhança de educação, como repasse de informação indispensável para o uso coletivo das conquistas humanas no campo social. O direito à informação na perspectiva social deve ser concebido como uma extensão do direito à educação e do direito à saúde, necessárias e úteis para a manutenção da vida humana em sua dignidade.” (Ge ntilli, 2005, p. 131). O que Gentilli diz nessa citação é o que adiantamos na abertura desta aula: o direito à informação deve ser entendido como uma extensão dos demais direitos, como educação, saúde, moradia, alimentação, segurança. Direitos que são necessários para que todos tenham uma vida digna. ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA O direito à informação na Constituição O artigo 220 da Constituição Brasileira garante a liberdade de informação e também proíbe a censura. Já o artigo 221 diz que os veículos de comunicação devem respeitar os valores éticos e sociais da família. A construção de uma ética humanista e universal é fundamental para resolver o impasse que o direito à informação cria quando colocado frente às demandas criadas pelos veículos de informação. Aqui entra uma questão bem simples: a Lei diz que os veículos devem respeitar valores éticos e sociais da família. Então, por que não são cumpridos? Vale dizer que esse é um país onde se ouve com frequência uma expressão, no mínimo, curiosa: “essa lei não vai pegar”. Qualquer país democrata se pauta por leis e regras que devem ser cumpridas por todos. Portanto, lei não é criada “para não pegar”, e sim para ser cumprida. Podemos discutir o fundamento da lei, seu caráter ético, mas quando colocada em vigor, para que a democracia funcione, é preciso cumpri-la. Os jornais não precisam estampar em suas primeiras páginas os direitos do cidadão. É possível assegurar este direito realizando um trabalho que reflita a preocupação constante com quem vai ler, ver e/ou ouvir uma notícia. O papel do jornalista no direito à informação São necessárias reflexões que tornem o trabalho do jornalista mais próximo do cumprimento desses direitos, como: ● Para quem estou escrevendo essa notícia? ● Quem é o meu público? ● O que ele precisa saber para melhor decidir? ● Como ajudá-lo a melhorar a vida em seu bairro, sua cidade? Falta ou excesso de informação? Os veículos de comunicação em geral e, em particular, os jornalistas exercem papel fundamental para auxiliar na construção de espaços sociais de cidadania. O acesso à informação, bem como seu uso e compartilhamento, apresentam-se como alternativas para a inserção do indivíduo (ou de grupos de indivíduos) na sociedade. Contraditoriamente, vivemos em uma sociedade inundada por informações de todos os tipos diariamente. Função da imprensa ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA Francisco Karam, professor de Ética do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina, conta em um de seus livros que o filósofo francês Cornelius Castoriádis, antes de morrer, alertou que surgia um n ovo tipo de indivíduo na sociedade. Esse indivíduo nada tinha a ver com o ideal de uma sociedade democrática ou que luta por mais liberdade, mas “um tipo de indivíduo que está privatizado, que se encerrou em seu pequeno âmbito pessoal e se converteu em um cínico em relação à política”. A essa afirmativa, o professor Karam refuta, afirmando que o Jornalismo tem farta munição no cotidiano para orientar suas pautas de acordo com a universalidade humana, “em seus aspectos mais singulares ou particulares. Fatos e interpretações não faltam” (2004, p. 235). Neste ponto, vamos fazer uma pequena reflexão: 1 – Qual a função da imprensa? 2 – Na seleção da notícia, já está inserida de alguma forma a opinião do veículo? 3 – Como identificar, ao longo da notícia, o “fato” e a “versão do fato”? Essas indagações podem levar a conclusões que afastam ainda mais o cidadão da informação correta, do fato real. Ética na elaboração da notícia Já ficou bastante claro qual a relação entre informação e cidadania. Não há dúvida, portanto, da importância da informação na construção da cidadania. Mas como realizar essa atividade tão importante? Não é fácil e não existe uma receita pronta. Voltamos aqui a alguns preceitos éticos já citados em aulas anteriores. Quanto mais nos ativermos a estes princípios, dentre outros pontos importantes,menos riscos correremos na elaboração de uma notícia... Segundo o World Information Report da UNESCO, “há uma grande diferença entre ter um direito e poder exercê-lo. Pessoas pouco informadas se veem frequentemente privadas dos seus direitos porque lhes falta o poder para o seu exercício. O acesso à informação é um direito que temos, como o acesso à justiça, e deveria ser assegurado gratuitamente como outros serviços públicos”. A informação nas mãos de todos Hoje em dia, uma pessoa que possui um celular com capacidade de fotografar e filmar e com acesso à internet pode atuar como repórter. Portanto, quem vai garantir o acesso à informação de qualidade é o jornalista. Essas novas tecnologias – hoje já se pode dizer que há mais celulares que pessoas no Brasil – incorporaram novas maneiras de disseminar o conhecimento, antes restrito. Como lidar com isso é tarefa do profissional da Comunicação. Entendendo essa nova tendência da sociedade, várias empre sas de comunicação criaram formas de fazer a participação do cidadão uma constante em seus veículos. Por isso, hoje existem vários sites que convidam o internauta a participar do Jornalismo cidadão. “Envie sua notícia, foto ou vídeo, que vamos divulgar”. Este é, sem dúvida, um caminho sem volta, ou seja, dar espaço para que o cidadão conte sua história. E já que o jornalista não pode estar em todos os lugares, essa é uma forma de dar voz àqueles que não estão sendo ouvidos. ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA No entanto, isto aumenta ainda mais a responsabilidade social do profissional: como separar aquilo que é realmente um fato que merece ser noticiado daquilo que pode ser inventado? ATIVIDADE PROPOSTA Analise esta charge e explique: estes são direitos constitucionais? Como o direito à informação se enquadra na Constituição Federal? Assegurar o cumprimento destes deveres é uma questão de cidadania? É responsabilidade do jornalista? Responda às questões e explique-as com base no que você entendeu da aula. Faça ainda uma análise da charge. Com base nos argumentos apresentados na aula, você deverá responder a questão expressando o relacionamento entre o jornalista e sua fonte; os perigos de uma relação promíscua que pode afastá-lo das verdades do fato. O uso que a fonte faz de seus contatos com jornalistas. A possibilidade de troca de favores entre as partes. REFERENCIAS GENTILLI, V. Democracia de massas: Jornalismo e cidadania: estudo sobre as sociedades contemporâneas e o direito dos cidadãos à informação. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005. KARAM, Francisco José. Jornalismo, ética e liberdade. São Paulo: Summus, 2000. ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA AULA 5 – MEIO DE ASSEGURAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL Importância da lei para o jornalista A Constituição Federal tem o Capítulo V denominado Da Comunicação Social ( tema da aula 7) e nele estão contidos apenas cinco artigos – 220, 221, 222, 223 e 224. O artigo 224 diz que todas as determinações anteriores terão como órgão auxiliar o Conselho de Comunicação Social. Para o cumprimento dessa decisão, o Congresso Nacional aprovou em 1991, três anos após a promulgação da Constituição, a Lei que instituiu o Conselho (Lei nº 8.389). ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO Como dissemos no início da aula, o Conselho não pode decidir nada. Ele pode apenas realizar estudos, pareceres, recomendações e outras solicitações encaminhadas pelo Congresso Nacional, referentes à Comunicação Social. Liberdade de manifestação do pensamento, da criação, da expressão e da informação. Propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias nos meios de comunicação social. Diversões e espetáculos públicos. Produção e programação das emissoras de rádio e televisão. Monopólio ou oligopólio dos meios de comunicação. Finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas da programação das emissoras de rádio e televisão. Promoção da cultura nacional e regional, e estímulo à produção independente e à regionalização da produção cultural, artística e jornalística. Complementariedade dos sistemas privado, público e estatal de radiodifusão. Defesa da pessoa e da família de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto na Constituição Federal. Defesa da pessoa e da família de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto na Constituição Federal. Propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens. Outorga e renovação de concessão, permissão e autorização de serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens. Legislação complementar quanto aos dispositivos constitucionais que se referem à comunicação social. Atribuições do Conselho Já que não pode deliberar, o que faz o Conselho? Um dos seus últimos pareceres foi divulgado no dia 3 de dezembro de 2012: O Conselho de Comunicação Social (CCS) do Congresso Nacional aprovou dia 3 entendimentos de que não deve ser necessária autorização de pessoas públicas e notórias para que escritores produzam biografias sobre elas. ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA O que não significa que qualquer pessoa pode publicar biografias sem autorização. Vamos refletir... Vale aqui uma reflexão: Por que a sociedade precisa de um órgão que analise a conduta dos meios de comunicação?] A reflexão é pertinente, pois o órgão existe e, apesar de seu período de inatividade, agora parece ser uma realidade. No Brasil, ainda não se configurou uma prática de analisar, criticar, observar, discutir o comportamento da mídia e, em especial, do Jornalismo. A existência de ouvidorias ou a figura do ombudsman não é comum. Apenas dois jornais mantêm esse cargo: Folha de São Paulo (23 anos de existência) e o jornal cearense O Povo (18 anos de existência). O Ombudsman O ombudsman vem contribuir no dia a dia do jornal, permitindo que os principais anseios dos leitores tornem-se presentes na redação, fazendo com que o veículo esteja mais presente na rotina do seu público. A intenção desse profissional é aprimorar, de forma isenta e técnica, as maneiras de defender os interesses dos leitores. A isenção é uma das qualidades necessárias para esta função. ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA Discutindo o papel da mídia A existência do Conselho de Comunicação Social, dos Conselhos Estaduais e da figura do ouvidor ou do ombudsman nos veículos de comunicação levanta a questão da importância de se discutir diariamente o papel da mídia na sociedade. O professor Eugênio Bucci, em palestra proferida no programa “Jornalismo Sitiado”, realizado pela TV Cultura em 2006, fez uma declaração que merece ser refletida: “Os erros, as falhas, o mau gosto da imprensa só serão resolvidos se forem discutidos pela própria imprensa, e não em outras esferas”. Este é um papel que vem sido exercido pelo Observatório da Imprensa, com canais na internet, na TV e na rádio web. Observatório da imprensa O objetivo do observatório da imprensa é fazer com que o leitor passe a ler jornal de forma crítica. No próprio site é possível saber um pouco de sua história. O objetivo do observatório da imprensa é fazer com que o leitor passe a ler jornal de forma crítica. No próprio site é possível saber um pouco de sua história. O Observatório da Imprensa é uma iniciativa do Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo e projeto original do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É um veículo jornalístico focado na crítica damídia, com presença regular na internet desde abril de 1996. Nascido como site na web, em maio de 1998, o Observatório da Imprensa ganhou uma versão televisiva, produzida pela TVE do Rio de Janeiro e TV Cultura de São Paulo, e transmitida semanalmente pela Rede Pública de Televisão. Em maio de 2005, o Observatório da Imprensa chegou ao rádio, com um programa diário transmitido pela rádio Cultura FM de São Paulo, rádios MEC AM e FM do Rio de Janeiro, e rádios Nacional AM e FM de Brasília. Os áudios dos programas, na forma de um blog, estão disponíveis no site do OI. Sistema de resposta social O professor José Luiz Braga, em seu livro A sociedade enfrenta a sua mídia, apresenta a hipótese do sistema de resposta social e nos mostra como este já está presente na sociedade. Ele expõe diversas maneiras de esse subsistema se fazer presente: observatórios de imprensa, Ombudsman, carta de leitores, livros sobre jornalismo, entre outros. A sociedade se organiza para tratar a própria mídia, desenvolvendo dispositivos soci ais, com diferentes graus de institucionalização, que dão consistência, perfil e continuidade a determinados modos de tratamento, disponibilizando e fazendo circular estes modos no contexto social. A própria interação com o produto circula, faz rever, gera processos interpretativos (BRAGA, 2006, p. 13). Braga estabelece que o sistema de resposta social se refere à crítica da mídia no seio da sociedade, ou seja, como se dá o processo de circulação daquilo que é consumido, que não é o mesmo que falar sobre a mídia. A sociedade está preocupada com o que consume e, por isso, está mais propensa a aceitar esses mecanismos de crítica, de observação e de ouvidoria. ATIVIDADE PROPOSTA Ao longo dessa aula fizemos uma reflexão: Por que a sociedade precisa de um órgão que analise a conduta dos meios de comunicação? Você concorda que haja a necessidade desse órgão? Responda justificando com um exemplo. Vimos nessa aula que a presença de um órgão que que analise a conduta dos órgãos de comunicação é importante, sim. Evitando erros, falta de ética, etc. Uma solução encontrada por alguns jornais foi a presença do ombudsman nas ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA redações, para fazer esse papel crítico dentro do próprio jornal, porém, muitos jornalistas ainda não aceitam bem essa função. Encontramos vários exemplos em nosso dia a dia de erros éticos jornalísticos que podem até causar danos na vida de inocentes: Acusação sem devida pesquisa e provas, culpando inocentes perante a sociedade, etc. Esse órgão ajudaria a diminuir tais problemas. REFERENCIAS BRAGA, José Luiz. A sociedade enfrenta sua mídia: dispositivos sociais de crítica midiática. São Leopoldo, Paulus, 2006. Site do Senado Federal. Disponível aqui. Acesso em 14 dez. 2012 Site do Observatório da Imprensa. Disponível aqui. Acesso em 14 dez. 2012. ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA AULA 6 – CÓDIGO DE ÉTICA DOS JORNALISTAS BRASILEIROS Introdução Vivemos em sociedade, e para que ela funcione de forma organizada, precisamos cumprir regras e leis. Do contrário, viveríamos em conflito sobre as nossas vontades e as dos outros. Para evitar esse caos, definimos códigos de conduta que devem ser respeitados por todos, para que possamos viver em harmonia. Em todas as atividades profissionais, existem códigos de ética, com os princípios, normas e preceitos concretos, apresentados de forma lógica e sistematizada. O Jornalismo também possui um Código de Ética. Mas, ao contrário de outras profissões, onde a conduta pode ser regulada por comissões dos diversos Conselhos, o jornalista está livre dessa obrigatoriedade. Isto porque não há nenhuma situação que obrigue o profissional a ter uma conduta correta que signifique o fim de seu trabalho caso não a cumpra. Nosso Código de Ética foi elaborado pelos próprios jornalistas. Boa aula! Código de ética dos jornalistas brasileiros Nesta aula conheceremos o código de ética dos jornalistas brasileiros e refletiremos sobre a sua aplicação. Para isso, precisamos conhecê-lo. O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros (2007) começa, em seu primeiro artigo, defendo o direito fundamental do cidadão à informação – direito de informar, de ser informado e de ter acesso à informação. Já na sua abertura, deixa claro que todos podem informar. Uma clara diferença em relação ao código anterior, que vigorou durante 20 anos. A mudança foi necessária porque vivemos uma época em que qualquer pessoa pode ser um emissor de informação, através das várias ferramentas tecnológicas disponíveis. Refletindo sobre o jornalismo brasileiro atual Todos os Códigos de Ética da profissão incluem como valores e preceitos fundamentais do Jornalismo a busca da verdade, a veracidade e a precisão das informações. O código brasileiro não é diferente. Ele estabelece, no art. 2º, I, que "a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de comunicação e deve ser cumprida independentemente da linha política de seus proprietários". No art. 2º, II, acrescenta que "a produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos fatos". A imagem ilustra o cotidiano dos jornalistas de maneira irônica, mas próxima da realidade. Todos os dias o profissional enfrenta o dilema de agir corretamente ou não. Aqui começam nossas reflexões. Com base nos artigos do código de ética do jornalismo brasileiro que lemos: o Jornalismo brasileiro tem se pautado pela divulgação “precisa e correta, independentemente da linha polícia dos veículos”? A divulgação da informação tem se pautado pela “veracidade dos fatos”? Quem está ganhando essa briga, o anjinho ou o diabinho? Ética ou etiqueta? Alguns jornais possuem um manual de redação e estilo, que pode sofrer alterações sempre que o diretor julgar necessário. Será que esses manuais abordam a ética jornalística? Ou apenas a Etiqueta? O ESTADO DE SÃO PAULO (MANUAL DE REDAÇÃO E ESTILO): ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA Se o jornalista estiver trabalhando no jornal O Estado de São Paulo, ou Estadão, como também é conhecido, ele pode – e deve – consultar o Manual de Redação e Estilo (2007), que tem alguns tópicos sobre a conduta do profissional, em um item intitulado Ética Interna. Mas a primeira regra não fala sobre a veracidade dos fatos: “Pense que o jornal tem leitores de todas as tendências, raças, credos e religiões. Por i sso, procure sempre ser isento no noticiário, especialmente naquele que envolve questões delicadas, e evite utilizar frases, alusões ou conceitos que possam melindrar as pessoas”. Esta é mais uma “regra de etiqueta” do que propriamente uma regra ética. O que o Estadão expõe em seu manual é bem próximo da regra da boa convivência, mas passa de forma superficial pela postura ética. O jornal elabora este Manual desde 1939 e faz alterações sempre que os diretores julgam necessário. Mas o capítulo da ética se mantém com pequenos itens, em apenas duas páginas. FOLHA DE SÃO PAULO (MANUAL DE REDAÇÃO E ESTILO): O Manual de Redação da Folha de São Paulo tem apenas um tópico de meia página sobre ética, e começa de forma bastante subjetiva: “O jornalista da Folha deve pautar sua conduta pela preocupação de seguir os mais altos princípios éticos da profissão, que incluem nunca usar sua condição de jornalista para obter vantagens pessoais e não escrever sobre assuntos pessoais diretos”. (2006, p. 42). Duas regras de conduta, no entanto, são claras: não poder usar sua condição de jornalista para obter qualquer tipo de vantagem e não escrever sobre assuntos com os quais estiver diretamente envolvido. O tópico continua com limitações da conduta profissional que podem ser facilmente desmentidos ao seler o jornal. Especialmente esse: “O jornalista da Folha não pode solicitar cortesia de empresas ou governos para viagens, produtos e utilização de serviços” (p. 42). Outro item interessante diz que o jornalista não deve aceitar presente de nenhuma espécie ou valor, incluídos itens materiais ou eventuais descontos especiais em estabelecimentos comerciais ou industriais. Dessa regra estão excluídos os produtos destinados à divulgação e avaliação crítica, como discos, CDs, livros, softwares, convites para shows, peças de teatro ou filmes. O GLOBO (MANUAL DE REDAÇÃO E ESTILO): O Manual de Redação e Estilo de O Globo tem um capítulo destinado ao que chama de “questões éticas”. Em sua abertura, afirma que as exigências éticas não prejudicam a prática do Jornalismo; ao contrário, elevam a qualidade da informação (1998, p. 111). Levando em conta que alguns teóricos classificam a conduta ética como condição para o bom Jornalismo, é interessante ver como o jornal se justifica ao abrir seu capítulo sobre a questão. Sua descrição sobre ética é também um olhar diferente e peculiar: “A atividade jornalística – além da obrigação de cumprir as leis do país – tem critérios éticos próprios. É a própria imprensa que, por sentimento de dever e interesse próprio (uma vez que desapareceria sem a estima e o respeito da coletividade), escolhe suas regras específicas de conduta”. Uma clara defesa da ética utilitarista, onde “os fins justificam os meios”. Ou seja, de acordo com a situação, criamos nossas próprias regras do que é certo e do que errado, daquilo que será ou não publicado. O Manual deixa o profissional na posição de saber que algo pode não ser o correto, mas naquele momento deve ser feito. Um dilema que, se fosse observado o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, não aconteceria. Código de ética dos jornalistas brasileiros x Manual de redação e estilo Do lado oposto dos manuais de redação, temos o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, que pode ser seguido ou não, por qualquer jornal. Vejamos os itens mais importantes abordados pelo código de ética dos jornalistas brasileiros... 1. Seu artigo 4º afirma que "o compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, deve pautar seu trabalho na precisa apuração dos acontecimentos e na sua correta divulgação". ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA 2. O artigo 7º diz que "o jornalista não pode (...) II - submeter-se a diretrizes contrárias à precisa apuração dos acontecimentos e à correta divulgação da informação". 3. No capítulo II – Da conduta profissional dos jornalistas –, está especificado o que jornalista pode e o que não pode fazer no exercício da profissão. 4. Devemos lembrar que o compromisso fundamental é com a verdade no relato dos fatos, razão pela qual “deve pautar seu trabalho pela precisa apuração e pela sua correta divulgação” (artigo 4). E QUAL É O COMPROMISSOFUNDAMENTAL DOS MANUAIS DE REDAÇÃO E ESTILO? Apesar de figurar em praticamente todos os códigos de ética da profissão pelo mundo, a busca da verdade na descrição dos fatos não é a primeira preocupação dos manuais de redação dos veículos. Ética na verificação da informação Marília Scalzo, em seu livro “Jornalismo de Revista” (2003), tem uma definição simples e interessante sobe a ética no jornalismo. A informação torna-se ética quando ela é bem apurada, por meios lícitos, com boas fontes, checada, confrontada e analisada. Continuando a análise de Marília Scalzo, entramos no ponto mais polêmico atualmente da conduta ética jornalística: “por meios lícitos”. Veja o que diz o artigo 11 do código de ética dos jornalistas brasileiros. Apesar de condenar o uso de métodos ilícitos, o próprio código é vago ao sustentar seu uso em casos de incontestável interesse público e quando “esgotadas as outras possibilidades”. Afinal, quem define o que é de interesse público? Quem classifica que as outras possibilidades estão definitivamente esgotadas? Os jornalistas não estão preparados para atuar como detetives, policiais ou qualquer atividade parecida. O uso destes equipamentos é sem dúvida uma das maiores polêmicas no jornalismo de hoje em dia. Banalizando o uso destes recursos, corremos o risco de transformar a informação em um espetáculo. Surgimento do código de ética jornalística Vejamos como aconteceu o surgimento do código de ética jornalística em todo mundo... 1910: Alguns autores indicam que o primeiro código de natureza da ética jornalística pertenceu à Associação Editorial de Kansas (EUA) e teria sido criado em 1910 por Wills E. Miller. 1918: Há estudiosos, no entanto, que atribuem o surgimento do primeiro código deontológico ao ano de 1918, criado pelo Sindicato dos Jornalistas Franceses. 1950: É fato que o surgimento de muitos desses códigos tiveram início após a II Guerra Mundial e, especialmente, a partir da iniciativa das Nações Unidas que, em 1950, criou um conjunto de normas sobre a liberdade de informação e de imprensa para profissionais e organizações em geral que trabalhassem com a informação. 1978: Em 1978, a UNESCO criou a sua Declaração sobre os meios de comunicação. 1983: ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA Somente em 1983, através da própria UNESCO, foi criado um código mais específico para jornalistas, intitulado Os princípios internacionais da ética profissional dos jornalistas. Esse código serviu de inspiração e base para os diversos códigos nacionais nessa área. Códigos de ética de outros países E como são os códigos de ética jornalística em outros países? Francisco José Karam (2000) afirma que, até o final da década de 1990, existiam, na ocasião, mais de 70 países nos quais os jornalistas possuíam seu próprio código de ética, além de normas e legislações (nacionais e de organizações supranacionais, como a ONU e UNESCO). Conheça a federação internacional dos jornalistas. CHILE (1999) O dever dos jornalistas Primero: Os jornalistas estão a serviço da verdade, dos princípios democráticos e dos direitos humanos. Em seu trabalho, o jornalista se pautará pelo princípio da verdade, entendida como uma informação responsável de todos. O exercício do Jornalismo não fará discriminação ideológica, religiosa, de classe, raça, sexo, incapacidade de nenhum outro tipo que leve a ofensa de pessoas físicas ou jurídicas. EL SALVADOR (1999) Art. 2. O jornalismo e os jornalistas devem estar sempre a serviço da verdade, da justiça, da dignidade humana, do estado democrático, da cultura da tolerância, do aperfeiçoamento da sociedade e da fraternidade entre os povos. Art. 4. O jornalista é um servidor social dos interesses da coletividade e deve proceder com responsabilidade frente às empresas e aos poderes públicos ou privados. ITÁLIA Informatici Senza Frontiere (informação sem fronteira): Suas atividades são basicamente três: o desenvolvimento, a informação e a formação. CUBA Deveres e direitos: Artigo 2 – O jornalista tem o dever de informar e expressar os fatos com verdade, agi lidade e precisão. Artigo 3 - O jornalista tem o direito de obter toda informação de utilidade pública, assim como realizar ações necessárias para este fim. CANADÁ Canadian Journalists for Free Expression (Jornalistas Canadenses pela Liberdade de Expressão) Missão: O CJFE é uma organização não governamental do Canadá mantida por jornalistas canadenses e defensores da liberdade de expressão. O propósito da organização é defender os direitos dos jornalistas e contribuir para o desenvolvimento da liberdade da mídia no mundo. O CJFE reconhece que esses direitos não estão limitadosaos jornalistas e suportam e defendem fortemente os vastos objetivos da liberdade de expressão no Canadá e no mundo. ATIVIDADE PROPOSTA Há vários casos de condutas inapropriadas dos jornalistas em coberturas. Mas há alguns que se tornam famosos, sendo amplamente discutidos. Um deles é a cobertura do que ficou conhecido como “Caso Eloá”. No vídeo abaixo, o apresentador Datena critica a jornalista Sônia Abrão por sua atuação na cobertura do caso. ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA Após criticar a colega de trabalho, Em 28 de novembro de 2012, o próprio Datena negocia ao vivo um sequestro. Após assistir aos dois vídeos e com base nessa aula analise a conduta destes profissionais na cobertura dos casos. Reflita sobre os pontos mais importantes não observados do Código de Ética dos Jornalistas e aponte as contradições. R: Em sua resposta, você deverá citar o Art. 7º: O jornalista não pode: IV - expor pessoas ameaçadas, exploradas ou sob risco de vida, sendo vedada a sua identificação, mesmo que parcial, pela voz, traços físicos, indicação de locais de trabalho ou residência, ou quaisquer outros sinais; V - usar o Jornalismo para incitar a violência, a intolerância, o arbítrio e o crime. Além do Art. 11. O jornalista não pode divulgar informações: II - de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos, especialmente em cobertura de crimes e acidentes. REFERENCIAS BUCCI, Eugenio. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Cia das letras, 2000. FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS. Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. Disponível aqui. Acesso em 14 jan. 2013. KARAM, Francisco José. Jornalismo, ética e liberdade. São Paulo: Summus, 2000. FOLHA DE SÃO PAULO. Manual de Redação. São Paulo: Publifolha, 2006. O ESTADO DE SÃO PAULO. Manual de Redação e Estilo. São Paulo: Moderna, 2007. O GLOBO. Manual de Redação e Estilo. Rio de Janeiro: O Globo, 1998. SCALZO, Marília. Jornalismo de revista. 2. Ed. São Paulo: Contexto, 2004. ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA AULA 7 – NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO Introdução Nesta aula, vamos iniciar a abordagem das leis que regem a atividade profissional. Vamos também analisar a Constituição Federal, em seus artigos referentes aos direitos individuais e coletivos e, especificamente, o Artigo V, que trata da Comunicação Social. Discutiremos, por fim, as implicações na atividade com o fim da Lei de Imprensa. Bons estudos! Resultado das mudanças Com essas alterações, é preciso entender a que leis os jornalistas estão subordinados e o que podem ou não fazer do ponto de vista jurídico. Já abordamos a questão ética nas aulas anteriores; a partir de agora, vamos nos ater às questões legais que envolvem a atividade profissional. O denuncismo nos noticiários Homem acusado e julgado pela mídia de matar esposa é inocentado após 5 anos. Considerado um dos muitos erros do Jornalismo atual, o denuncismo vem transformando a informação nos noticiários em entretenimento. Es sa prática atinge a todos, do público ao privado. A reputação de homens públicos ou cidadãos comuns, muitas vezes, é destruída em função de suspeitas d e práticas ilegais ou imorais. O Jornalismo, porém, não pode desconsiderar ou desconhecer as leis que re gem o país e protegem os cidadãos. Conhecendo a Constituição A Constituição Brasileira já inicia garantindo que: ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA Para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacifica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil. MATERIAL DE APOIO Diferencias entre moral e ética (aula 1) ÉTICA MORAL Distingue o bom e o mau Bem e mal Supõe julgamento Máximas e princípios Abordagem sistemática Analítica Dirige-se a inteligência Dirige-se à vontade Vem do eu, do interior de cada um Vem do exterior, dos outros A pessoa se responsabiliza Ela interpreta É individual É compartilhada Pode levar a sabedoria Levar a santidade É razoável É racional Nela, se encontra a contradição Coerência Persegue o amor Persegue a justiça O tempo é o aqui e agora Todo lugar e o tempo sempre Precedida pelo anseio e pelo erro Fundada na certeza No mundo contemporâneo, é um self-service Moral integração O filosofo de referência é Spinoza Kant Descrédito do Jornalismo (aula 1) Exatamente por não estarem cumprindo bem esse papel, os jornalistas hoje enfrentam um grande descrédito. Em artigo publicado no site do Observatório da Imprensa, são apontados resultados de uma pesquisa divulgada pelo Instituto Gallup no dia 25 de setembro de 2001. Nela, 60% dos americanos disseram que “não confiam muito” ou “nem um pouco” nos meios de comunicação de massa. Segundo o instituto, essa é a mais alta percentagem desde que o Gallup começou a fazer regularmente a pesquisa, na década de 90. O público é outro, mas a realidade é bem próxima da que observamos no Brasil. Algo está errado no universo da busca da verdade dos jornalistas brasileiros. ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA Fonte: Zé das Charges Atitudes do cotidiano (aula 2) Podemos entender que cada decisão ou desejo nosso, no nosso cotidiano, pode tornar-se algo de extrema responsabilidade e periculosidade e colocar em risco a nossa Ética. Lembra Cumming: Sabemos que no nosso cotidiano precisamos agir de maneira cautelosa e segura, sem invadir o espaço do outro. É necessário refletir sobre as nossas atitudes para podermos agir corretamente. E podemos reconhecer também que esta deve ser uma ação coletiva. Portanto, só através de uma discussão de valores poderemos chegar a uma atitude legitimamente ética e construir uma sociedade futura com princípios firmes e embasados na ética para uma convivência moralizada (meio digital). Visão de Paulo Freire O educador Paulo Freire tem uma visão bastante otimista. A liberdade, pela qual o ser humano se move no mundo, e lhe permite escolher, decidir, intervir, romper, entre tantas outras possibilidades, faz dele um sujeito ético. Categoricamente, afirma Paulo Freire (2004, p. 40): “Não é possível pensar os seres humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela. Estar longe, ou pior, fora da ética, entre nós, mulheres e homens, é uma transgressão”. “A ética é característica intrínseca dos humanos, impossível nos animais” (FREIRE, 2004, 56-57). “Ela existe em conformidade com a nossa liberdade; quanto mais formos livres, maior é nossa eticidade, apesar de termos também maior possibilidade de transgressão dessa ética. Porém, a transgressão é apenas uma possibilidade, não um direito” (2004, p. 101). ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA Só não seremos éticos se escolhermos não ser. Outros deslizes éticos (aula 3) Alguns destes deslizes, ou pecados, como alguns classificam, muitas vezes são justificados pelos profissionais como um meio não ético necessário para se obter uma informação que o jornalista julga relevante para a sociedade como um todo. Relativiza-se a ética ou os fins justificam os meios? O jornalista Ricardo Noblat acrescenta outras “armadilhas” a essa lista: 1. Sentir-se poderoso (“O poder do jornalista é relativo, ocas ional e temporário); 2. Aceitar presentes, convites e favores (“A maioria das empresas jornalísticas não definiu ainda uma política sobre presentes, convites e favores que seus jornalistas devam ou possam aceitar”.Para Noblat, “é aconselhável aceitar os que não comprometam a obrigação de exercer o jornalismo crítico, livre e, se necessário, impiedoso”, além dos que “não possam ser usados depois para produzir danos à imagem” do profissional); 3. Tornar-se amigo das fontes de informação (“Não dá certo fazer amizade com fontes de informação”, principalmente com as aquelas sobre as quais poderão escrever um dia. Nesse caso, se não forem poupadas, estas se sentirão traídas e acumularão mágoas); 4.Achar que já sabe tudo (“O mais inteligente é achar que tudo que sabem é que nada sabem”) (NOBLAT, p. 24). Tente responder essas questões (aula 3): 1 – É possível fazer colunismo social sem promiscuidade com as fontes? 2 – O que pensar de jornalistas que combinam manchetes, após as entrevistas coletivas? 3 – Até que ponto a tecnologia é uma aliada de repórteres e editores? 4 – Jornalistas de cadernos de veículos conseguem manter independência editorial após viajar à custa de uma montadora para uma feira internacional? 5 – É certo fazer reportagens sobre determinados assuntos apenas para disputar prêmios de Jornalismo? 6 – Quando o jornalista pode entrevistar parentes e amigos? 7 – Como relatar casos de violência, discriminação, sequestros e suicídios sem contribuir para a estigmatização das pessoas envolvidas? 8 – O jornalista pode acumular funções, sendo assessor de imprensa de manhã e repórter à tarde? 9 – Onde está o centro de gravidade moral do jornalista? 10 – Até onde se pode ir para conseguir a manchete do dia? (CHRISTOFOLETTI, 2008, p. 111). ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA Importante função da imprensa e do jornalista na sociedade (aula 4) É inquestionável o fato de que a informação é uma necessidade social. Em uma sociedade onde o acesso à realidade ocorre através dos meios de comunicação, vale lembrar o papel importante do Jornalismo como um processo de reconstrução da realidade concreta. É fundamental e indispensável para a vida do homem moderno: para que ele se localize no mundo, em seu país, em sua cidade, situe-se diante do conjunto de circunstâncias que o cerca, organize sua vida a partir do conhecimento do volume de oportunidades que lhe são oferecidas, tome suas decisões e faça suas escolhas a respeito dos assuntos que lhe interesse (GENTILLI, 2005, p. 199). O jornalista precisa compreender a importância de sua responsabilidade social e a relevância de seu trabalho, já que ele acaba exercendo um papel tanto de mediador como de representante do cidadão. O resultado do seu trabalho pode conferir visibilidade ao mundo. Uma vez que os meios de comunicação não podem registrar tudo, é necessário selecionar. A questão é saber o que vai chamar a atenção do público, quais temas serão priorizados e quais as formas de retratar essa realidade. Por isso as reflexões sugeridas. Já antecipando algumas leis que veremos mais adiante, lembramos que o Brasil aprovou, em maio deste ano, a Lei de Acesso à Informação (nº 12.527/2012), que modifica a forma como o poder público deve se relacionar com a sociedade. De acordo com ela, qualquer cidadão deve ter acesso aos gastos públicos. Cada centavo e os mínimos detalhes da administração pública devem estar disponíveis para qualquer pessoa. Isso ajuda no trabalho do jornalista em mostrar ao seu público o que ocorre com as administrações e como o seu dinheiro é gasto. Essa é uma tarefa que deve fazer parte do cotidiano da profissão: fiscalizar o poder público. Só assim será possível contribuir para um Estado democrático. 1 Denúncia x Notícia Vale lembrar uma fala do jornalista Ricardo Noblat: “Denúncia não é notícia. Notícia é a denúncia com fundamento”. Se o cidadão faz a denúncia, cabe ao jornalista buscar as provas e as fundamentações. Esse é o seu trabalho. Considerado um dos “maiores pecados” do Jornalismo, o denuncismo tem-se configurado como uma prática comum e que atinge a todos, do público ao privado. Essa prática consiste no uso da imprensa para destruir a reputação de homens públicos ou mesmo cidadãos comuns devido a suspeitas de práticas ilegais ou imorais. Suspeita não é prova. E aqui lembramos outro preceito importante: a presunção da inocência, princípio que afirma: “até que se prove o contrário, todos são inocentes”. A pressa, a necessidade de ser o primeiro a divulgar aquela informação faz com que muitos jornalistas se precipitem e não apurem os fatos com o devido cuidado. Exemplo de erros na apuração da notícia (aula 4) No Brasil, existem vários casos de erros grosseiros de apuração de notícias. Um deles é o caso da Escola Base – escola de São Paulo fechada em 1994 quando os proprietários foram acusados erroneamente pela imprensa de abuso sexual contra um aluno. ÉTICA E LEGISLAÇÃO JORNALÍSTICA Os veículos que cobriram o caso de forma equivocada, ouvindo apenas o delegado responsável pelo caso, foram condenados a pagar indenizações aos acusados. A manchete de um jornal da época ilustra bem como foi a cobertura do caso. E este não foi um erro com etido apenas pelos jornais populares. As grandes emissoras de TV cometeram o mesmo erro. Por que o ombudsman é tão incomum? (aula 5) A pouca presença na mídia brasileira vem desde a falta de recursos para a contratação desse profissional até as represálias que eles podem vir a sofrer pelos companheiros de redação. O cargo é comum nos principais veículos de comunicação do mundo. O ombudsman mais popular na mídia brasileira é do jornal Folha de São Paulo, que tem contrato de um ano, podendo ser renovado por mais dois. “Depois do segundo ano de críticas, ou o ombudsman já conseguiu convencer a redação de algumas coisas ou dificilmente o fará, não importa quantas vezes mais volte a bater na mesma tecla. Discurso e reação começam a ser previsíveis e se tornam inúteis”, escreveu Carlos Eduardo Lins da Silva, ombudsman da Folha, que deixou o cargo após dois anos. Segundo ele, nunca recebeu ordens para que evitasse comentários ou abordasse um tema em detrimento a outro, mesmo “nos episódios mais delicados”. Veja a análise de Marília Scalzo (aula 6) Marília Scalzo, em seu livro “Jornalismo de Revista” (2003), tem uma definição simples e interessante sobe a ética no jornalismo. A informação torna-se ética quando ela é bem apurada, por meios lícitos, com boas fontes, checada, confrontada e analisada. A primeira afirmativa – informação bem apurada – remete ao chamado “Jornalismo de verificação”. Aqui, uma breve pausa para contar uma pequena história – extraída do livro Os elementos do Jornalismo – o que os jornalistas devem saber e o público exigir – dos americanos Bill Kovach e Tom Rossenstiel (2004). Contam eles a metodologia da verdade que Tulcídides elaborou no século V a.C., na introdução do seu relato da Guerra do Peloponeso: Em relação à minha narrativa factual dos eventos, adotei como princípio não escrever a primeira história que me aparecia na frente, nem deixar me guiar pelas primeiras impressões; ou estava presente nos eventos que descrevia ou deles tinha ouvido relatos de testemunhas oculares cujas informações chequei o máximo possível. Não que isso tenha facilitado a descoberta da verdade: diferentes testemunhas dão versões diferentes dos mesmos eventos, falando de forma parcial para um lado e outro, ou então com base em lembranças imperfeitas.
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