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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE EDUCAÇÃO COORDENAÇÃO DOE INTEGRAÇÃO DE POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA MAGISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA Autor: Maria Augusta Bolsanello CURITIBA 2010 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Luiz Inácio Lula da Silva MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Fernando Haddad UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL Diretor Celso José da Costa UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ Reitor Zaki Akel Sobrinho Vice-Reitor Rogério Andrade Mulinari Pró-Reitora de Graduação - PROGRAD Maria Amélia Sabbag Zainko Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação - PRPPG Sérgio Scheer Pró-Reitora de Extensão e Cultura - PROEC Elenice Mara Matos Novak Pró-Reitora de Gestão de Pessoas - PROGEPE Laryssa Martins Born Pró-Reitor de Administração - PRA Paulo Roberto Rocha Krüger Pró-Reitora de Planejamento, Orçamento e Finanças - PROPLAN Lucia Regina Assumpção Montanhini Pró-Reitora de Assuntos Estudantis - PRAE Rita de Cássia Lopes Contatos CIPEAD Fone: (41) 3310.2761 e-mail: cipead@ufpr.br www.cipead.ufpr.br Coordenação do Curso de Pedagogia Fone: (41) 3360.5141 3360.5139 e-mail: pedagogiaead@ufpr.br www.educacao.ufpr.br SETOR DE EDUCAÇÃO Diretora Andrea do Rocio Caldas Vice-Diretora Deise Cristina de Lima Picanço Coordenação do Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental Sonia Maria Chaves Haracemiv Veronica Branco Coordenação de Integração de Políticas de Educação a Distância - CIPEAD Coordenadora EaD - UFPR e UAB Marinelli Joaquim Meier Coordenadora Adjunta UAB Gláucia da Silva Brito Coordenadora de Recursos Tecnológicos Sandramara Scandelari Kusano de Paula Soares Equipe CIPEAD Carlos A. Roballo, Inês Azevedo, José Eduardo K. Ribeiro, Maria Elvira M. Santos, Melissa R. Formigoni, Rosangela L. Silva, Silvia Teresa S. Reich, Vanessa R. Belão. Revisão Didático-Pedagógica Sonia Maria Chaves Haracemiv Veronica Branco Revisão Textual Prof. Altair Pivovar Produção de Material Didático Rosangela Luiz da Silva Inês Azevedo Julia de Mello Abdul-Hak APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Prezado(a) acadêmico(a)! Este material constitui um importante instrumento para que cumpramos com nossos propósitos em relação à disciplina Educação Especial e Inclusiva. Por se tratar de um curso a distância, você encontra aqui um texto que pretende dialogar com você. Ele o orientará e o auxiliará em seus estudos. O conteúdo da disciplina está dividido em sete unidades. Em cada parte você encontrará, de forma sucinta, aspectos centrais e de contexto mais significativos do conteúdo sugerido para o estudo. As sete unidades foram pensadas de forma sequencial e lógica, considerando tanto a discussão/reflexão sobre a Educação Especial e inclusiva quanto as características pessoais, afetivas e sociais dos alunos. A Unidade 1 visa esclarecer o significado de expressões como necessidades educacionais especiais, educação especial, educação inclusiva e adaptações curriculares, entre outros. Nas Unidades 2, 3, 4 e 5, abordam-se sucessivamente as diferentes deficiências: intelectual, auditiva, visual e física. A Unidade 6 é dedicada ao estudo de algumas características gerais dos Transtornos Globais do Desenvolvimento. Finalizando, a Unidade 7 versa sobre o alunado com Altas Habilidades/Superdotação. Esperamos que esta disciplina seja também um processo de experimentação, investigação, formação. Ao se apropriar dos conteúdos da disciplina, esperamos que você o faça de modo progressivo, com postura interativa. Você deve proceder à leitura Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR compreensiva dos textos, isto é, refletindo sobre as possibilidades de aplicação dos conhecimentos adquiridos na sua própria realidade. Aproveite ao máximo esta oportunidade: consulte as fontes complementares indicadas, elabore sínteses e esquemas, realize as atividades propostas. Desejamos a você um excelente estudo! Professora Maria Augusta Bolsanello PEDAGOGIA Conteúdo, Metodologia E Avaliação Do Ensino Das Artes PLANO DE ENSINO 1 DISCIPLINA EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA 2 CÓDIGO EDP-041 3 CARGA HORÁRIA TOTAL 60 HORAS 3.1 CARGA HORÁRIA PRESENCIAL 3.1.1 Com professor formador: 6 horas. 3.1.2 Com o tutor presencial no polo: 6 horas. 3.2 CARGA HORÁRIA A DISTÂNCIA Quarenta e oito (48) horas de estudos com orientação presencial e a distância dos tutores do polo presencial e/ou tutores da UFPR. Esses estudos incluem a participação em fóruns, chats e outros espaços virtuais. 4 EMENTA História da Educação Especial. Fundamentos filosóficos, teóricos e legais que norteiam o funcionamento da Educação Especial. Princípios da Educação Inclusiva. Áreas das deficiências: visual, mental, auditiva, múltipla, física, condutas típicas, altas habilidades, autismo, surdo-cegueira. Planejamento e metodologias diferenciadas com ênfase no atendimento às necessidades e especificidades. Adaptações curriculares. 5 OBJETIVOS 5.1 OBJETIVO GERAL Estudar as especificidades do alunado da Educação Especial, relacionadas ao atendimento educacional de alunos com necessidades educacionais especiais, na proposta da Educação Inclusiva. 5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Ÿ Apresentar as principais características do alunado da Educação Especial. Ÿ Discutir noções fundamentais sobre métodos, técnicas e estratégias utilizadas pelo Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR professor na perspectiva da Educação Inclusiva. Ÿ Compreender a importância das adaptações curriculares no processo ensino- aprendizagem de alunos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Ÿ Refletir sobre a importância da Educação Inclusiva no combate a atitudes discriminatórias e preconceituosas, na criação de comunidades acolhedoras e no desenvolvimento de uma sociedade inclusiva. 6 PROGRAMA UNIDADE 1 UNIDADE 5 ALUNOS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA/NEUROMOTORA UNIDADE 6 ALUNOS COM TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO UNIDADE 7 ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO 7 ORIENTAÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA O presente material está organizado em sete unidades. Essas unidades estão divididas em subunidades, que visam detalhar melhor alguns dos tópicos apresentados. Em cada uma das subunidades, o aluno encontrará uma apresentação básica da temática, sugestões de textos de leitura complementares, bem como recomendações de acesso a sites especializados. As unidades didáticas apresentam os seguintes elementos: Texto de base – O texto de base procura introduzir o suporte conceitual que auxiliará na realização das demais atividades de leitura e de produção de texto, apresentando uma exposição teórica dos principais conceitos e concepções a serem tratados na respectiva unidade. Leitura Complementar – Compreende sugestões de textos complementares e serve como aprofundamento do que foi discutido no texto de base. O aluno poderá aprofundar sua análise do texto de leitura complementar, identificando novas possibilidades de interpretação e outros mecanismos ali presentes, e também indicar novos textos para a leitura que também oferecem exemplos sobre os assuntos em EDUCAÇÃO ESPECIAL E EDUCAÇÃO INCLUSIVA UNIDADE 2 ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL UNIDADE 3 ALUNOS COM SURDEZ UNIDADE 4 ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL PEDAGOGIA Conteúdo, Metodologia E Avaliação Do Ensino Das Artes Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantile Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR questão. Atividades práticas e de pesquisa – Destina-se a promover a reflexão criativa e a aplicação dos conceitos discutidos nas unidades. O aluno poderá propor novos textos de seu interesse e variações das atividades realizadas nessa seção, de forma a ampliar seu repertório de ferramentas conceituais. Atividades de produção de texto – Destina-se a produzir pequenos textos, com a finalidade de aprofundamento e aplicação criativa dos mecanismos textuais estudados na unidade. Atividades de avaliação – É muito importante que elas sejam realizadas, para garantir a melhor compreensão e aprofundamento dos temas abordados. 8 AVALIAÇÃO 8.1 Atividades nos encontros presenciais com 100% de frequência (aula na UFPR e tutoria no polo), desenvolvidas e fundamentadas nos textos e materiais de apoio. 8.2 Atividades a distância na Plataforma Moodle, como leituras, fóruns, pesquisa, produção de textos e outras necessárias ao entendimento e encaminhamentos, com registro de análise crítica. 8.3 Avaliação escrita ao término da disciplina, na modalidade presencial e sem consulta, na UFPR. SUMÁRIO 1 EDUCAÇÃO ESPECIAL E EDUCAÇÃO INCLUSIVA ..................................... 2 ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ............................................ 3 ALUNOS COM SURDEZ .......................................................................... 4 ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL ...................................................... 5 ALUNOS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA/NEUROMOTORA ............................ 6 ALUNOS COM TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO ............ 7 ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO ........................... REFERÊNCIAS ........................................................................................ 17 31 45 59 73 87 99 109 Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR UNIDADE Maria Augusta Bolsanello 1 EDUCAÇÃO ESPECIAL E EDUCAÇÃO INCLUSIVA 17 Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR 1 EDUCAÇÃO ESPECIAL E EDUCAÇÃO INCLUSIVA Esta unidade trata de questões básicas sobre a especificidade de alunos com necessidades especiais na Educação Especial, na proposta da Educação Inclusiva, e sua implicação na aprendizagem escolar. Visa conceituar expressões como necessidades educacionais especiais, educação especial e educação inclusiva. Discute os benefícios da Educação Inclusiva e a importância das adaptações diferenciadas no currículo, nas metodologias e nos critérios e procedimentos de avaliação. Reflete também sobre alguns encaminhamentos possíveis de serem adotados na escola, bem como oferece subsídios para auxiliar na construção de uma escola inclusiva de qualidade. O que significa alunos com necessidades educacionais especiais (NEE)? Antes de se falar sobre alunos com necessidades educacionais especiais, é importante saber que: TODOS os alunos têm necessidades educacionais COMUNS, que são atendidas pelos professores e se relacionam às aprendizagens dos conteúdos escolares. TODOS os alunos têm necessidades educacionais INDIVIDUAIS, uma vez que possuem diferentes capacidades, interesses, níveis, ritmos e estilos de aprendizagem. ALGUNS alunos tem necessidades educacionais especiais, exigindo tanto uma atenção diferenciada quanto recursos e metodologias educacionais adicionais. 18 PEDAGOGIA Educação Especial e Inclusiva Quem seriam esses alunos com necessidades educacionais especiais? Muitos professores definem esses alunos como aqueles que possuem deficiências. No entanto a conceituação atual é muito mais ampla: ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS são aqueles que apresentam dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento, decorrentes de circunstâncias que podem ser de ordem biológica, psicológica, social e cultural, exigindo uma atenção mais específica e maiores recursos sociais e educacionais para o desenvolvimento de suas potencialidades. Na Educação Especial, os alunos com necessidades especiais seriam aqueles que apresentam: · Deficiências. · Transtornos globais do desenvolvimento (antes denominados de condutas típicas). · Altas Habilidades/Superdotação. Alunos com DEFICIÊNCIAS são aqueles que têm impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental ou sensorial, podendo ter restringida sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade. São alunos que apresentam deficiência intelectual, visual, física ou surdez. Alunos com TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO são aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse grupo alunos com síndromes do espectro do autismo e psicose infantil. Alunos com ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de apresentar grande criatividade, envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse. 19 Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR O que é educação especial? A Educação Especial pode ser definida como: uma modalidade de educação escolar que visa promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades próprias e diferentes dos demais alunos no domínio das aprendizagens curriculares correspondentes à idade, necessitando de recursos pedagógicos e metodologias educacionais específicas (BRASIL, 2007). A Educação Especial deixa de centrar-se nos déficits de aprendizagem e dificuldades dos alunos, como em décadas passadas, para centrar-se no desenvolvimento de suas potencialidades. Cabe à Educação Especial oferecer um conjunto de recursos educativos que devem ser colocados à disposição dos alunos, a fim de facilitar ao máximo sua participação nas situações educativas, objetivando a busca de um ambiente o menos restritivo possível para dar respostas às suas necessidades educacionais. Essas respostas devem estar o mais próximo possível de cada situação individual de aprendizagem, convertendo-se assim a escola em um marco educativo no que condiz ao respeito à diversidade, visando uma escola inclusiva. O que é educação inclusiva? O conceito de escola inclusiva advém de um consenso emergente de que alunos com necessidades educacionais especiais devem ser incluídos em arranjos educacionais na escola regular. Inserir tais arranjos nas escolas é um passo crucial no sentido de modificar atitudes preconceituosas e discriminatórias, de criar comunidades acolhedoras e desenvolver uma sociedade inclusiva, fazendo com que as diferenças entre as pessoas não se transformem em desigualdades. De acordo com o artigo 8º da Declaração de Salamanca: Dentro das escolas inclusivas, crianças com necessidades educacionais especiais deveriam receber qualquer suporte extra requerido para assegurar uma educação afetiva. Educação inclusiva é o modo mais eficaz para a construção de solidariedade entre crianças com necessidades educacionais e seus colegas. O encaminhamento da criança a escolas especiais ou a classes especiais ou a seções especiais dentro da escola em caráter permanente deveriam constituir exceções, a ser recomendado somente naqueles casos infrequentes onde fique claramente demonstrado que a educação na classe regular seja incapaz deatender às necessidades educacionais ou sociais da criança ou quando sejam requisitados em nome do bem-estar da criança ou de outras crianças. 20 Você conhece a Declaração de Salamanca? Já ouviu falar nela? A Declaração de Salamanca foi proclamada em assembleia durante a Conferência Mundial de Educação Especial, pelos delegados representantes de 88 governos, entre eles o Brasil, e 25 organizações internacionais. Essa conferência ocorreu na cidade de Salamanca, na Espanha, entre 7 e 10 de junho de 1994, tornando-se um importante referencial para a Educação Inclusiva. Na perspectiva da Educação Inclusiva, a Educação Especial passa a integrar a proposta pedagógica da escola regular, promovendo o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Nesses casos e outros, que implicam transtornos funcionais específicos, a Educação Especial atua de forma articulada com o ensino comum, orientando para o atendimento às necessidades educacionais especiais desses alunos. A Educação Especial direciona suas ações para o atendimento às especificidades desses alunos no processo educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na escola, orienta a organização de redes de apoio, a formação continuada, a identificação de recursos e serviços e o desenvolvimento de práticas colaborativas. Quando tem início a educação inclusiva? O acesso à educação tem início na Educação Infantil, na qual se desenvolvem as bases necessárias para a construção do conhecimento e desenvolvimento global do aluno. Nessa etapa, o lúdico, o acesso às formas diferenciadas de comunicação, a riqueza de estímulos nos aspectos físicos, emocionais, cognitivos, psicomotores e sociais e a convivência com as diferenças favorecem as relações interpessoais, o respeito e a valorização da criança. Conheça a Declaração de Salamanca, sobre princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais, na sua íntegra, no endereço: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf. PEDAGOGIA Educação Especial e Inclusiva 21 Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR Na Educação Superior, a Educação Especial se efetiva por meio de ações que promovam o acesso, a permanência e a participação dos alunos. Essas ações envolvem o planejamento e a organização de recursos e serviços para a promoção da acessibilidade arquitetônica, nas comunicações, nos sistemas de informação, nos materiais didáticos e pedagógicos, que devem ser disponibilizados nos processos seletivos e no desenvolvimento de todas as atividades que envolvam o ensino, a pesquisa e a extensão. Quais os benefícios da escola inclusiva? TODOS são BENEFICIADOS quando se incluem alunos com necessidades especiais na escola regular. Conheça a política nacional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva no endereço abaixo: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/politica.pdf. Esse documento, elaborado pelo grupo de trabalho nomeado pela Portaria Ministerial nº 555, de 5 de junho de 2007, prorrogada pela Portaria nº 948, de 09 de outubro de 2007, apresenta as concepções sobre a Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva e orienta a organização dos sistemas de ensino para o atendimento ao aluno com necessidades educacionais. (BRASIL, Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008.) § Agrupamentos heterogêneos: todos os alunos com e sem necessidades educacionais especiais (NEE) são educados juntos. Os estudos mostram que os alunos se desenvolvem melhor, em uma proporção natural, em presença física, social, emocional e intelectual. Por sua vez, alunos sem NEE perdem o medo e o preconceito em relação ao colega e desenvolvem a cooperação. Desde cedo aprendem a conviver com as diferenças. § Sentimentos de pertencer a um grupo. Todos os alunos devem se considerar membros do grupo. Dentro do grupo, o aluno com NEE deve sentir-se bem recebido e assim desenvolver o sentimento de pertença a esse grupo. § Planejamento de atividades de distinto nível de dificuldade. Os alunos recebem experiências educativas diferenciadas (aulas, 22 Como promover a aprendizagem do aluno com necessidades especiais? Fazendo adaptações diferenciadas no currículo, nas metodologias e nos critérios e procedimentos de avaliação. Para atender o aluno com necessidades especiais, é preciso ter objetivos diferentes. Adaptações curriculares Para que o sistema educacional favoreça a todos os alunos, e, dentre eles, os que apresentam necessidades educacionais especiais, deverá fornecer respostas educativas que tanto facilitem o acesso ao currículo, a participação integral, efetiva e bem sucedida em um programa da escola regular quanto levem em consideração as peculiaridades e necessidades especiais dos alunos no processo de elaboração do planejamento escolar. Essas respostas educativas são chamadas ADAPTAÇÕES CURRICULARES (BRASIL, 2002b). Adaptações curriculares consistem em qualquer ajuste ou modificação que se faça no currículo (nos objetivos, conteúdos, metodologias ou critérios e procedimentos de avaliação), para atender aos alunos com necessidades educacionais especiais. Elas podem ser de grande porte e de pequeno porte. Ÿ As adaptações curriculares de grande porte são aquelas que extrapolam a área específica do professor e que são da competência formal dos órgãos superiores Adaptações de grande porte grupos de trabalho, grupos de aprendizagem) ao mesmo tempo. Alunos com NEE demonstram crescente responsabilidade e melhor aprendizagem por meio de trabalhos em grupos. § Uso de ambientes compartilhados. Ambientes frequentados igualmente por alunos com e sem NEE favorecem o entrosamento social e o combate a atitudes discriminatórias. Ÿ Experiências educativas compartilhadas. A educação inclusiva deve estabelecer um equi l íbrio entre os aspectos acadêmicos/funcionais e os componentes sociais/pessoais dos alunos com e sem NEE. PEDAGOGIA Educação Especial e Inclusiva 23 Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR da política e da administração educacional. Muitas são as modalidades de adaptações curriculares de grande porte. Exemplos: · aquisição de equipamentos específicos para alunos cegos, que favorecerão a sua comunicação escrita e sua participação nas diversas atividades escolares; · construção de rampas, barras de apoio, banheiros adaptados para o aluno com deficiência física; · aquisição de computadores, softwares específicos, para o aluno com altas habilidades/superdotação; · provisão do ensino de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) para professores e alunos, que contribuirá para a comunicação do aluno surdo; · adequações nos objetivos, conteúdos, metodologia e organização didática, avaliação e temporalidade no nível do projeto pedagógico (currículo escolar). Ÿ Adaptações de pequeno porte As adaptações de pequeno porte são modificações promovidas no currículo, pelo professor, a fim de que seus alunos com necessidades especiais participem produtivamente do processo ensino-aprendizagem, na escola regular, junto aos demais colegas de turma. São chamadas de pequeno porte porque sua implementação decorre da responsabilidade e ação exclusivas dos professores, independendo de autorização ou ação de qualquer outra instância superior. O professor pode implementar adaptações curriculares de pequeno porte em várias áreas e em váriosmomentos de sua atuação: Ø na promoção do acesso ao currículo; Ø nos objetivos de ensino; Ø no método de ensino; Ø no processo de avaliação; Ø na temporalidade. 24 Ajustes que cabem ao professor realizar: · criar condições físicas, ambientais e materiais para a participação do aluno com necessidades especiais na sala de aula; · favorecer os melhores níveis de comunicação e de interação do aluno com as pessoas com as quais convive na comunidade escolar; · favorecer a participação do aluno nas atividades escolares; · atuar para a aquisição dos equipamentos e recursos materiais específicos necessários; · adaptar materiais de uso comum em sala de aula; · adotar sistemas alternativos de comunicação, para os alunos impedidos de comunicação oral, tanto no processo de ensino e aprendizagem quanto no processo de avaliação; · favorecer a eliminação de sentimentos de inferioridade, de menos valia ou de fracasso. Há alunos que podem necessitar somente de adaptações curriculares de grande porte. Outros podem necessitar somente de adaptações de pequeno porte. E outros podem necessitar das duas formas de adaptações curriculares. Avaliação pedagógica na educação inclusiva A avaliação pedagógica como processo dinâmico considera tanto o conhecimento prévio e o nível atual de desenvolvimento do aluno quanto as possibilidades de aprendizagem futura, configurando uma ação pedagógica processual e formativa que analisa o desempenho do aluno em relação ao seu progresso individual, prevalecendo na avaliação os aspectos qualitativos que indiquem as intervenções pedagógicas do professor. No processo de avaliação, o professor deve criar estratégias considerando que alguns alunos podem demandar ampliação do tempo para a realização dos trabalhos e o uso da língua de sinais, de textos em Braille, de informática ou de tecnologia assistiva como uma prática cotidiana. Cabe aos sistemas de ensino, ao organizar a Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, disponibilizar as funções de instrutor, tradutor/intérprete de LIBRAS e guia-intérprete, bem como de monitor ou cuidador dos alunos com necessidades de apoio nas atividades de higiene, alimentação e locomoção, entre outras que exijam auxílio constante no cotidiano escolar. PEDAGOGIA Educação Especial e Inclusiva 25 Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR Características do professor na escola inclusiva Para atuar na Educação Especial, o professor deve ter como base da sua formação, inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da docência e conhecimentos específicos da área. Essa formação possibilita a sua atuação no atendimento educacional especializado e aprofunda o caráter interativo e interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino regular, nas salas de recursos, nos centros de atendimento educacional especializado, nos núcleos de acessibilidade das instituições de Educação Superior, nas classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos de Educação Especial. Atitudes preconceituosas O maior obstáculo à educação de alunos com necessidades educacionais especiais são as atitudes preconceituosas. ALEIJADO, EXCEPCIONAL, DEFICIENTE... PROFESSOR, saiba que uma atitude positiva de sua parte é um primeiro passo para uma educação inclusiva: § A inclusão depende das atitudes dos professores em face dos alunos com necessidades especiais, da sua capacidade para melhorar as relações sociais, das suas formas de perceber as diferenças na sala de aula e da sua capacidade para gerir eficazmente essas diferenças. § Para responder eficazmente a essa diversidade no seio das salas de aula, os professores precisam dispor de um conjunto de competências, de conhecimentos, de abordagens psicológicas e pedagógicas, de métodos, de materiais e de tempo. § Os professores têm necessidade de apoio tanto dentro quanto fora da escola. A liderança do diretor da escola, da comunidade e dos governos é crucial. A cooperação regional entre serviços e pais constitui um pré-requisito para uma efetiva inclusão. § Os governos devem expressar, claramente, o seu ponto de vista sobre a inclusão e facultar condições adequadas, que permitam uma utilização flexível dos recursos. Apesar das conquistas, as pessoas com deficiências ainda se deparam com termos que são quase sempre pejorativos e carregados de preconceitos. Por exemplo, pessoas com deficiência intelectual muitas vezes são designadas como burras, idiotas, imbecis, loucas, mongoloides. Pessoas com deficiência física ainda são chamadas de aleijadinhas. Ceguinho, mudinho, surdinho também são termos usados para alunos surdos ou cegos. Essas designações geram exclusões de pessoas com necessidades especiais das atividades, privilégios e facilidades da sociedade. Expressões como portadores de deficiências estão sendo substituídos na nomenclatura atual por PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS. A importância da parceria família, escola e comunidade Não se pode esquecer a importância da família, da escola e da comunidade para o sucesso do processo ensino-aprendizagem. A Declaração de Salamanca, em seus artigos 57, 58 e 59, preconiza: Ø Art. 57. A educação de crianças com necessidades educacionais especiais é uma tarefa a ser dividida entre pais e profissionais. Uma atitude positiva da parte dos pais favorece a integração escolar e social. Pais necessitam de apoio para que possam assumir seus papéis de pais de uma criança com necessidades especiais. O papel das famílias e dos pais deveria ser aprimorado através da provisão de informação necessária em linguagem clara e simples. O enfoque na urgência de informação e de treinamento em habilidades paternas constitui uma tarefa importante em culturas onde a tradição de escolarização seja pouca. Ø Art. 58. Pais constituem parceiros privilegiados no que concerne às necessidades especiais de suas crianças e, dessa maneira, eles deveriam, o máximo possível, ter a chance de poder escolher o tipo de provisão educacional que eles desejam para suas crianças. Ø Art. 59. Uma parceria cooperativa e de apoio entre administradores escolares, professores e pais deveria ser desenvolvida, e pais deveriam ser considerados enquanto parceiros ativos nos processos de tomada de decisão. Pais deveriam ser encorajados a participar em atividades educacionais em casa e na escola (onde eles poderiam observar técnicas efetivas e aprender como organizar atividades extracurriculares), bem como na supervisão e apoio à aprendizagem de suas crianças. PEDAGOGIA Educação Especial e Inclusiva 26 Atendimento educacional especializado De acordo com o Decreto nº 6.571, de 17 de setembro de 2008, considera-se atendimento educacional especializado o conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, prestado de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular. O atendimento educacional especializado deve integrar a proposta pedagógica da escola, envolver a participação da família e ser realizado em articulação com as demais políticas públicas. São objetivos do atendimento educacional especializado: prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular aos alunos com necessidades especiais; garantir a transversalidade das ações da Educação Especial no ensino regular; fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem; e assegurar condições para a continuidade de estudos nos demais níveis de ensino. O atendimentoeducacional especializado tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas. As atividades desenvolvidas no atendimento educacional especializado diferenciam-se daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela. Entre as atividades de atendimento educacional especializado, são disponibilizados programas de enriquecimento curricular, o ensino de linguagens e códigos específicos de comunicação e sinalização e tecnologia assistiva. Ao longo de todo o processo de escolarização, esse atendimento deve estar articulado com a proposta pedagógica do ensino comum. O atendimento educacional especializado é acompanhado por meio de instrumentos que possibilitem monitoramento e avaliação da oferta realizada nas escolas da rede pública e nos centros de atendimento educacional especializado públicos ou conveniados. Do nascimento aos três anos, o atendimento educacional especializado se expressa por meio de serviços de estimulação precoce, que objetiva otimizar o processo de desenvolvimento e aprendizagem em interface com os serviços de saúde e assistência social. Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR 27 Em todas as etapas e modalidades da educação básica, o atendimento educacional especializado é organizado para apoiar o desenvolvimento dos alunos, constituindo oferta obrigatória dos sistemas de ensino. Deve ser realizado no turno inverso ao da classe comum, na própria escola ou centro especializado que realize esse serviço educacional. Na modalidade de Educação de Jovens e Adultos e Educação Profissional, as ações da Educação Especial possibilitam a ampliação de oportunidades de escolarização, formação para ingresso no mundo do trabalho e efetiva participação social. A interface da Educação Especial na Educação Indígena, do Campo e Quilombola deve assegurar que os recursos, serviços e atendimento educacional especializado estejam presentes nos projetos pedagógicos construídos com base nas diferenças socioculturais desses grupos. Acesse o endereço: http://www.mec.gov.br/seesp Nele você terá acesso aos dados sobre Educação Especial, legislação específica nacional e documentos internacionais e também a um catálogo de publicações importantes para o trabalho pedagógico do professor, como, por exemplo, saberes e práticas da inclusão (Educação Infantil e Ensino Fundamental) e portal de ajudas técnicas. Acesse o SciELO (Biblioteca Científica Eletrônica on Line) no endereço: http://www.scielo.org/php/index.php Em “Pesquisa de artigos”, digite: “educação inclusiva”. Selecione um dos artigos elencados, à sua escolha, e após leitura cuidadosa elabore um texto de até duas páginas, contendo: Ø Síntese principal das ideias, dos resultados e das conclusões feitas pelo autor do artigo. Ø Uma conclusão sua sobre o artigo lido. Não esqueça de incluir a referência completa do artigo. PEDAGOGIA Educação Especial e Inclusiva 28 UNIDADE 2 ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Maria Augusta Bolsanello 31 Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR 2 ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL A deficiência intelectual se manifesta em diferentes graus, desde aqueles indivíduos que possuem condições de desenvolver-se sem grandes dificuldades para responder às exigências da vida atual até os que têm uma autonomia limitada e precisam de apoios mais ou menos permanentes. Esta unidade trata de questões básicas sobre a deficiência intelectual, como a evolução da terminologia, as diferenças entre deficiência intelectual/doença mental/problemas de aprendizagem, suas causas, seu conceito atual. Também são fornecidos indicadores para a prática profissional do professor, levando-o a compreender o processo ensino-aprendizagem de seu aluno com deficiência intelectual e oferecer subsídios para auxiliar na construção de uma escola inclusiva de qualidade. Deficiência intelectual ou deficiência mental? Antes de 1980, muitos termos foram utilizados para designar o aluno com deficiência intelectual: idiota, imbecil, oligofrênico, débil mental, mongoloide, excepcional. Gradativamente, por conta dos estereótipos que geravam, esses termos foram substituídos por “deficiência mental”. Atualmente, a Association on Intellectual and Developmental Disabilities – AAIDD (2010) recomenda a utilização do termo deficiência intelectual. O principal motivo dessa modificação decorre do caráter pejorativo que o significado de deficiência mental foi ganhando com o tempo e também porque esse termo fica reduzido ao diagnóstico na perspectiva psicopatológica. Outra razão é a semelhança que tem com a expressão doença mental. Por conta de trazerem o adjetivo mental, essas expressões foram e ainda são consideradas, muitas vezes, como sendo sinônimos, o que é um grave engano. Deficiência intelectual não é o mesmo que doença mental? É importante não confundir deficiência intelectual com doença mental. A pessoa com deficiência intelectual mantém a percepção de si mesma e da realidade que a cerca, interessa-se pelo meio, relaciona-se afetivamente e seu desenvolvimento é persistente, lento, mas harmônico. Já na doença mental a pessoa perde o senso da realidade, costuma apresentar delírios e alucinações, o desenvolvimento é cíclico, com 32 presença de surtos, ocorrendo desinteresse pelo ambiente e embotamento afetivo. Todo aluno com dificuldades de aprendizagem tem deficiência intelectual? Embora se possa afirmar que alunos com deficiência intelectual possuem dificuldades de aprendizagem, não é verdadeiro afirmar que aqueles com dificuldades de aprendizagem possuam deficiência intelectual. Entretanto, essa diferença algumas vezes não é muito clara entre os educadores. Basta ver o número de alunos classificados como “deficientes” pelos seus professores, porque não apresentam bom aproveitamento escolar e/ou não seguem as normas disciplinares da escola. É necessário compreender que existem alunos que, embora apresentem inteligência, visão, audição, capacidade motora e equilíbrio neuropsicológico adequados, manifestam dificuldades para aprender conteúdos escolares. Isso significa que esses alunos aprendem muitas coisas no cotidiano, na sua vida diária. Suas dificuldades de aprendizagem situam-se no âmbito escolar. Esses alunos geralmente podem ser denominados “alunos com dificuldades de aprendizagem” (DELVAL, 2001). Por outro lado, existem alunos que apresentam dificuldades de aprender não só conteúdos escolares, mas também um desenvolvimento lento e tardio na aquisição de conhecimentos e habilidades sociais e da vida diária, apresentando um ritmo de aprendizagem mais lento, maior dificuldade em abstrair e generalizar e uma adaptação mais lenta a novas situações. Esses alunos podem ser denominados “alunos com deficiência intelectual”. Quais são as causas da deficiência intelectual? As causas e os fatores de risco que podem ocasionar a deficiência intelectual são muitos e complexos, sendo que em 40 a 50% dos casos ela não chega a ser identificada. Dentre as alterações cromossômicas de maior ocorrência, destaca-se a Síndrome de Down. Fatores pré, peri e pós-natais destacam-se como relevantes causadores de deficiência intelectual, na realidade brasileira, como infecções e intoxicações na gravidez, problemas no parto, prematuridade e infecçõese traumatismos após o nascimento. Dentre os fatores sociais e educacionais, destacam- se o abuso e a negligência infantil, falta de estimulação adequada e indisponibilidade dos apoios educativos que possam promover o desenvolvimento mental e maior capacidade adaptativa. PEDAGOGIA Educação Especial e Inclusiva 33 Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR Acesse os endereços: Ÿ http://www.down21.org/latinoamerica/brasil/marco.htm Ÿ http://sindromedownpuc.blogspot.com/ Elabore um texto básico contendo as informações principais sobre a pessoa com Síndrome de Down (causas, características físicas e psicológicas, necessidades educativas). Como a deficiência intelectual é diagnosticada? Por muito tempo (e ainda hoje isso ocorre), o diagnóstico de deficiência intelectual era baseado fundamentalmente em resultados de testes de QI (quociente de inteligência), focalizando a deficiência como um traço absoluto, invariável, de uma pessoa, o que contribuiu para rotular o aluno e levar o professor a ter poucas ou nenhuma expectativa em relação ao progresso de seu desenvolvimento. Atualmente se preconiza uma avaliação psicológica assistida, dinâmica ou interativa, com o objetivo de conhecer o potencial de aprendizagem do aluno com deficiência intelectual, sua capacidade de tirar proveito da instrução oferecida, saber o tipo de ajuda que lhe é útil, indicando o papel e a atuação do professor (TZURIEL; HAYWOOD, 1992). Conheça mais sobre a avaliação assistida! Leia o texto “Avaliação assistida para crianças com necessidades educacionais especiais: um recurso auxiliar na inclusão escolar”, da professora Sônia Regina Fiorim Enumo. Você pode acessá-lo na Internet: http://www.scielo.br/pdf/rbee/v11n3/v11n3a03.pdf (ENUMO, S. R. F. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 11, n. 3, março/setembro, 2005.) Mas o que é deficiência intelectual? Historicamente, o conceito de deficiência intelectual tem sofrido inúmeras mudanças no que concerne à terminologia, às pontuações de QI (quociente de inteligência) e ao papel relacionado à conduta adaptativa. Essas mudanças resultam da necessidade de se compreender melhor essa deficiência e de se criarem métodos de 34 classificação, investigação, educação e reabilitação mais confiáveis e eficazes. A conceituação da deficiência intelectual evoluiu nos últimos anos e hoje representa uma mudança significativa do paradigma tradicional. Segundo a nova conceituação, a deficiência intelectual é definida por limitações significativas tanto no funcionamento intelectual (raciocínio, aprendizagem, resolução de problemas) quanto no comportamento adaptativo do indivíduo, que se expressam nas habilidades conceituais, práticas e sociais e ocorrem antes dos 18 anos de idade (AAIDD, 2010). A importância desse novo conceito é que ele deixa de identificar a deficiência intelectual como um atributo exclusivo do indivíduo, para entendê-la como um estado de funcionamento da pessoa na sua interação com o contexto social em que vive. Cinco dimensões essenciais para a efetiva aplicação desse conceito são preconizadas pela AAIDD (American Association on Intellectual and Developmental Disabilities): Como se pode observar, as dimensões propostas envolvem aspectos diferenciados da pessoa e do ambiente, com vistas a melhorar os apoios que permitam, por sua vez, um melhor funcionamento individual. A avaliação do funcionamento intelectual é um aspecto crucial para diagnosticar a deficiência intelectual e deve ser feita por um psicólogo especializado e a) As limitações do funcionamento intelectual devem ser consideradas nos contextos ambientais da comunidade típicos dos indivíduos iguais em idade e cultura. b) A avaliação deve considerar a diversidade cultural e linguística, assim como as diferenças na comunicação e nos aspectos sensoriais, motores e comportamentais. c) Em um indivíduo, as limitações coexistem com as potencialidades. d) Ao se levantarem as limitações do indivíduo, é muito importante traçar um perfil de apoios necessários. e) Com apoios apropriados e personalizados durante um período prolongado, o desenvolvimento (pessoal, social, educacional) da pessoa com deficiência intelectual será beneficiado. PEDAGOGIA Educação Especial e Inclusiva 35 Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR suficientemente qualificado. Deve levar em conta as dimensões descritas acima e considerar que, em alguns casos, vai requerer a colaboração de outros profissionais. Essa avaliação tem a intenção de eliminar o reducionismo e a excessiva confiança no diagnóstico feito pelo uso de testes psicométricos, como, por exemplo, os testes de QI. Por sua vez, a conduta adaptativa pode ser entendida como o conjunto de habilidades conceituais, sociais e práticas que as pessoas aprendem para seu desempenho na vida diária. Limitações significativas no comportamento adaptativo afetam tanto as atividades da vida diária quanto as habilidades para responder às situações particulares, educacionais e ambientais (AAIDD, 2010). Alguns exemplos dessas habilidades: A conceituação de deficiência intelectual da AAIDD também enfatiza a importância de se avaliarem as interações com as demais pessoas e o papel social desempenhado pela pessoa com deficiência mental. De acordo com Navas, Verdugo e Gómez (2008), a participação se avalia por meio da observação direta das interações do indivíduo com seu mundo material e social nas atividades de vida diária. Os papéis sociais se referem a um conjunto de atividades consideradas como normais para um grupo específico de idade e podem orientar-se para os aspectos pessoais, escolares, laborais, comunitários, de lazer e outros. Vale lembrar que a falta de recursos e serviços comunitários, assim como a existência de barreiras físicas e sociais, podem limitar significativamente a participação e interações das pessoas com deficiência intelectual. Essa falta de oportunidades terá um impacto decisivo no desempenho de um papel social valorizado. Ÿ Habilidades conceituais: linguagem (receptiva e expressiva); leitura e escrita; conceitos de dinheiro, tempo e número. Ÿ Habi l idades soc ia is: re lac ionamento interpessoa l; responsabilidade; autoestima; certa desconfiança; seguimento de regras; obediência das leis; evitar de ser enganado ou manipulado. Ÿ Habilidades práticas: atividades de vida diária e cuidados pessoais (comer, vestir-se, fazer a higiene, preparação de comida, limpeza da casa); uso de dinheiro, remédios, transporte, viagens; rotinas, horários, uso do telefone. Ÿ Habilidades ocupacionais (qualificação profissional). 36 Os suportes ou apoios são definidos como os recursos e estratégias individuais necessários para promover o desenvolvimento, educação, interesses e bem-estar da pessoa com deficiência intelectual. Esses apoios podem ser providenciados pela família, pelos professores, por outros profissionais envolvidos ou por instituição apropriada. São importantes na promoção do desenvolvimento pessoal, da autodeterminação e da qualidade de vida. Constituem-se no caminho para o acesso à educação, ao emprego, à recreação, entre outros, e, sobretudo, para a inclusão escolar e social. Com essa nova compreensão, já não é suficiente classificar a deficiência intelectual em leve, moderada, severa ou profunda, mas sim especificar o grau de comprometimento funcional adaptativo. É importante determinar, por exemplo, em que áreas (habilidades sociais ou de comunicação, entre outras) a pessoa com deficiência intelectual necessita de mais apoios. Essasconsiderações não esgotam o assunto, mas podem auxiliar professores e profissionais a discernir características da conceituação da deficiência intelectual e seu diagnóstico. A escola e o aluno com deficiência intelectual Os primeiros anos de vida da criança são determinantes para um desenvolvimento físico e psicológico harmonioso, bem como para a formação das faculdades intelectuais e o desenvolvimento da personalidade. Pesquisas atuais sobre a plasticidade do sistema nervoso central demonstram que um ambiente estimulador, nos três primeiros anos de vida, é capaz de modificar a função e a estrutura cerebral de forma muito positiva (DIERSSEN, 1994). Dessa maneira, prevenir e detectar possíveis atrasos já na Educação Infantil e a pronta intervenção são algumas das funções dos professores em colaboração com equipes psicopedagógicas. A estimulação da criança pequena que já apresenta atrasos no desenvolvimento é de fundamental importância, e se deve levar em consideração que: (a) esta criança necessita de estimulação maior e/ou diferente das outras crianças; (b) além da escola, é necessário que ela conte com atendimento especializado (estimulação precoce), com envolvimento familiar. PEDAGOGIA Educação Especial e Inclusiva 37 Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR Programas educacionais direcionados à criança de zero a seis anos centrados na participação da família e da comunidade podem: a) promover ganhos de desenvolvimento; b) reduzir sentimentos de isolamento, estresse e frustração vivenciados pelos familiares; c) reduzir custos futuros com Educação Especial. Leia o documento publicado pela Secretaria de Educação Especial do MEC sobre temas específicos da Educação Infantil, que contribui para a formação docente e elaboração de projetos pedagógicos. Acesse o endereço: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/dificuldadesdeaprendizagem.pdf (BRASIL. Ministério da Educação. Educação Infantil: Saberes e Práticas da Inclusão. Dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento. Brasília: MEC/SEESP, 2006c.) Atitudes do professor em relação ao aluno com deficiência intelectual As percepções dos professores podem condicionar sua atuação e levar a comportamentos como a superproteção ou expectativas limitadas sobre o aluno com deficiência intelectual. Quando o professor pensa que as dificuldades de aprendizagem são de responsabilidade exclusiva do aluno, isso pode influenciar negativamente seu trabalho na sala de aula. Nesse sentido, a etiqueta de “retardado” pode se traduzir em menor empenho do professor no progresso do aluno e consequentemente resultará em um pobre rendimento. Esse modo de pensar, bastante frequente, mostra a importância de o professor refletir sobre sua atuação e rever suas percepções e preconceitos sobre as necessidades especiais dos alunos, suas capacidades para aprender e a importância de sua mediação na aprendizagem deles. Docentes também podem, assim como os pais, superproteger o aluno com deficiência intelectual, propondo-lhe tarefas repetitivas ou pouco relevantes para sua aprendizagem ou então lhe dando atividades muito diferenciadas das realizadas pelos 38 demais alunos, a fim de “poupá-los”. Professor, a sua atuação na sala de aula, seu modo de gerenciar a classe, de orientar a comunicação e as interações que nela se produzem geram um clima social que pode ou não comprometer a aprendizagem que nela se desenvolve! Ø Se o professor estimula a participação na aula, melhora o interesse dos alunos em aprender e eleva o autoconceito deles. Ø As tarefas, quando estão claramente planejadas, com objetivos concretos, melhoram o rendimento dos alunos. Ø A criatividade e o interesse dos alunos são prejudicados quando o clima da aula é competitivo e controlador. Ø Alunos com deficiência intelectual levam mais tempo para aprender, mas podem desenvolver muitas habilidades, além de revelar potencialidades; Ø Podem ter comprometimentos em sua saúde com a utilização de medicamentos, o que pode influenciar o seu processo de aprendizagem; Ø Deficiência intelectual não é uma doença! Não é contagiosa! A convivência com o aluno não provoca nenhum prejuízo nas pessoas sem deficiências! O planejamento da aula A adaptação do currículo tem uma importância fundamental e vale a pena que professores dediquem um tempo a se perguntar: A partir do conhecimento que agora tenho sobre as necessidades de meus alunos, incluindo os que possuem deficiência intelectual, quais mudanças tenho de fazer em minha classe para que todos possam ter suas necessidades atendidas? O tempo dedicado a essa reflexão levará o professor a tomar decisões mais adequadas, sobretudo no Ensino Infantil e séries iniciais. PEDAGOGIA Educação Especial e Inclusiva Priorizar determinados objetivos e conteúdos O professor deve priorizar os objetivos e conteúdos que, sendo importantes para todos os alunos, resultem especialmente relevantes para aqueles que apresentem deficiência intelectual. Por exemplo, nas séries iniciais, é interessante ressaltar os objetivos ou conteúdos relacionados com: a) desenvolvimento da comunicação como elemento facilitador da interação com os demais e a adaptação social do aluno; b) desenvolvimento da leitura e da escrita, levando em conta que os alunos com deficiência intelectual não somente apresentam dificuldades no processo de decodificação como também na compreensão do texto e na expressão escrita; c) habilidade para usar os números e as operações básicas, nas diferentes situações da vida cotidiana; d) desenvolvimento das relações interpessoais e adaptação social dos alunos. Muitas vezes, esses objetivos e conteúdos podem exigir decisões no âmbito das adaptações curriculares individuais, como, por exemplo, na questão da temporalidade. Metodologia A metodologia implica a organização do trabalho pedagógico em torno dos conteúdos selecionados, para que os alunos atinjam os objetivos propostos. Andrés; Vilar (s.d.) propõem algumas sugestões para adequar a metodologia para os alunos com deficiência intelectual: · Ao planejar uma nova unidade didática, determinar e atualizar os conhecimentos prévios dos alunos. Assim, será possível determinar com mais precisão se as tarefas previstas são adequadas ou se é necessário incluir ou excluir uma ou outra. · Globalizar os conteúdos em torno de centros de interesse que se conectem com experiências ou interesses dos alunos. · Usar estratégias que incluam experiências diretas e a reflexão sobre elas. · Utilizar técnicas que permitam a colaboração entre os alunos e a adoção da aprendizagem cooperativa ou do ensino tutelado. Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR 39 · Adequar a linguagem ao nível de compreensão dos alunos, utilizando sempre perguntas para verificar se o aluno com deficiência intelectual é capaz de entender o que lhes é dito e para ter segurança de que sabe o que tem que fazer e como vai realizá-lo. Outras sugestões que podem ser de grande ajuda ao professor em relação às atividades a serem desenvolvidas na aula consistem em planejar atividades que possam ser trabalhadas em distintos graus de dificuldade sobre um mesmo conteúdo. Quase sempre livros de texto e cadernos de trabalho iniciam as atividades com menor dificuldade, que vão aos poucos se tornando mais complexas. Porém, em muitas ocasiões, é necessário modificar esse repertório de tarefas para facilitar a aprendizagem do aluno com deficiência intelectual, sendo necessário: (a) Incorporar algumasatividades prévias às propostas pelo livro de texto; (b) substituir algumas das atividades do texto por outras mais adequadas ao aluno; (c) modificar algumas atividades propostas (por exemplo, na proposição de um problema que exija o uso de duas operações combinadas, cabem várias modificações: simplificar e reduzir o texto, substituir as quantidades por outras mais familiares, propor, sobre o mesmo conteúdo, atividades individuais ou em grupo); (d) prever atividades de livre execução, de interesse dos alunos, a serem feitas na aula, em casa, no bairro. Avaliação da aprendizagem A avaliação dos alunos com deficiência intelectual visa conhecer os seus avanços no entendimento dos conteúdos curriculares durante o ano letivo de trabalho, seja ele organizado por série ou ciclos. O mesmo é válido para os demais alunos, para que não sejam feridos os princípios da inclusão escolar. O que é importante para que um novo ano de estudos se inicie é o quanto o aluno com ou sem deficiência intelectual aprendeu no ano anterior, pois nenhum conhecimento é aprendido sem base no que se conheceu anteriormente. Pode ser que o aluno com deficiência intelectual não atinja todos os conteúdos propostos pela grade curricular do ensino regular, por ter apresentado outras necessidades no decorrer da escolaridade. Assim, é importante que, ao final dos estudos concluídos, ele saia da escola com um termo de terminalidade específico, no qual serão relatadas as suas condições atuais de aprendizagem, nele constando ainda os possíveis encaminhamentos. Esse processo só é possível quando se realizou a adaptação curricular e uma avaliação responsável em toda a sua vida escolar. PEDAGOGIA Educação Especial e Inclusiva 40 41 Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR Alunos com severas limitações intelectuais devem ter garantido o direito à convivência na escola, entendida como espaço privilegiado de formação das novas gerações. Acesse o endereço: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/defmental.pdf. Leia o capítulo “A escola comum diante da deficiência mental: o que era/o que precisa ser”, no documento publicado pela Secretaria de Educação Especial do MEC sobre Educação Inclusiva e Deficiência Intelectual. Organize um esquema com as principais ideias do texto. (BRASIL. Ministério da Educação. Educação Inclusiva: Atendimento Educacional Especializado para a Deficiência Mental. Brasília: MEC/SEESP, 2006m.) O aluno com deficiência intelectual e os colegas da escola Os demais alunos sem deficiência devem receber orientações dos professores sobre como acolher e tratar adequadamente o colega com deficiência mental em suas necessidades. Pesquisas mostram que o aluno com deficiência intelectual tem benefícios no seu desenvolvimento quanto convive com alunos sem deficiências. Por sua vez, alunos sem necessidades especiais perdem o medo e o preconceito em relação ao diferente e desenvolvem a cooperação. Incentive cada aluno a construir um recorte de sua história pessoal (utilizando fotografias e desenhos para atrair o interesse), onde todos deverão identificar uma característica que fazem bem e outra na qual tenham dificuldade. Ressaltar que todos têm diferenças e, cada um com sua história, é importante para a família, para os amigos, para a sociedade. 42 A parceria da escola com a família O professor deve explicar aos pais a importância da participação deles na aprendizagem do filho, pois é no ambiente familiar que a criança tem maior liberdade de se expressar. Deve, também, criar o caderno pedagógico (ou portfólio), para se comunicar com a família, onde, por exemplo, poderão ser colocadas fotografias das aulas e os pais poderão relatar experiências com os filhos em casa ou como foi realizada a tarefa solicitada pelo professor. É muito importante que os pais tenham a oportunidade de se reunirem frequentemente com o professor, participando de modo ativo no desenvolvimento do programa e compartilhando responsabilidades. A parceria da escola com outros profissionais Crianças com deficiência intelectual necessitam, na maioria das vezes, de atendimento especializado, com equipe interdisciplinar (fisioterapia, fonoaudiologia, medicina, psicologia e terapia ocupacional, entre outros). É extremamente relevante a parceria entre essa equipe interdisciplinar e a escola, em um trabalho conjunto com o professor, informando e auxiliando de forma prática nas dificuldades motoras, de linguagem, sociais e cognitivas que influenciam o desenvolvimento global do educando. Elabore um texto acadêmico de duas páginas, respondendo à seguinte questão: Em que medida eu posso contribuir para uma escola inclusiva, na promoção do desenvolvimento do aluno com deficiência intelectual? PEDAGOGIA Educação Especial e Inclusiva UNIDADE Maria Augusta Bolsanello 3 ALUNOS COM SURDEZ 45 Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR 3 ALUNOS COM SURDEZ Esta unidade trata de questões básicas sobre a surdez e suas implicações na aprendizagem escolar. Visa conhecer as necessidades linguísticas diferenciadas de alunos surdos e refletir sobre alguns encaminhamentos possíveis de serem adotados em sala de aula, bem como oferecer subsídios para auxiliar na construção de uma escola inclusiva de qualidade. Pessoas e vários animais percebem sons com o sentido da audição, o que permite saber a distância e a posição da fonte sonora. Os sons são usados de várias maneiras, muito especialmente para comunicação por meio da fala ou da música, por exemplo. A percepção do som também pode ser usada para adquirir informações sobre o ambiente. Uma pessoa ouve quando é capaz de captar estímulos vibratórios, arquivá-los e interpretá-los. Para que a pessoa entenda a mensagem veiculada ao estímulo auditivo, necessita de uma aprendizagem prévia (ouvimos um inglês falar, porém não entendemos nada se previamente não estudamos esse idioma). Por último, uma pessoa escuta quando dirige sua atenção de modo voluntário para a fonte emissora do som (podemos estar ouvindo o rádio, porém não escutamos se estamos imersos na leitura de um livro). No ser humano, a audição é normalmente limitada por frequências entre 20 Hz (hertz) e 20.000 Hz (20 kHz), embora esses limites não sejam absolutos. Frequência é o número de vibrações por segundo que a onda provoca no meio gasoso, líquido ou sólido. Quando uma onda sonora é emitida em baixa frequência, o som é mais grave; sons de alta frequência são mais agudos. O decibel (dB) é a unidade usada para medir a intensidade de um som. O ouvido humano é capaz de ouvir sons entre 0 e 120 dB. Alguns sons e seus índices de decibéis: Ÿ 0 dB: limiar da sensação sonora; Ÿ 20 dB: conversa em voz baixa, cochicho; Ÿ 40 dB: tom de voz normal, som rádio; Ÿ 65 dB: voz muito alta. Ÿ 80 dB: tráfego intenso. 46 Ÿ Ÿ 120 dB: limiar sensação dolorosa. Qual exame avalia a audição? A audiometria é um exame que avalia a audição. Ao detectar qualquer anormalidade, permite medir o grau e tipo de alteração e orientar as medidas preventivas ou curativas a serem tomadas. É realizada pelo fonoaudiólogo ou pelo otorrinolaringologista. A audiometria é feita com a pessoa dentro de uma cabine acústica (sem ruído) e utiliza um equipamento chamado audiômetro. Quais são os tipos de surdez? Não há consenso entre os estudiosos, muitas vezes, quanto à utilização de termos como deficiência auditiva, surdez, hipoacusia. Muitos consideram os três termos como sinônimos (ALONSO et al., 1991). Transcrevemos a seguir a classificação adotada pelaSecretaria de Educação Especial/MEC (BRASIL, 2006f), com suas principais características. 110 dB: show de rock ou motor de avião a jato. 1 – PARCIALMENTE SURDO: compreende a surdez leve e moderada n Surdez leve – perda auditiva entre 20 e 40 dB A pessoa tem dificuldade em ouvir voz baixa ou distante e em perceber igualmente todos os fonemas das palavras. Exige frequentemente a repetição do que lhe falam e parece ser desatenta. Aprende a linguagem oral, com bom domínio do português, mas pode apresentar problema articulatório na leitura e/ou escrita. n Surdez moderada: perda auditiva entre 40 e 70 dB A pessoa desenvolve a linguagem oral, mas apresenta dificuldades frente à fala normal, sendo comum o atraso na linguagem e dificuldades articulatórias. Na criança pequena, é necessário o uso de prótese e apoio fonoaudiológico precoce, para que possa adquirir a linguagem e evitar discordâncias fonoarticulatórias e sintáticas, com dislalias frequentes. 2 – SURDO: compreende a surdez severa e a profunda n Surdez severa: perda auditiva entre 70 e 90 dB A pessoa percebe palavras amplificadas e não adquire a linguagem de forma natural. A criança pequena vai necessitar de ajuda técnica e intervenção fonoaudiológica, podendo apresentar dificuldades na construção da linguagem oral. Geralmente, nesse grau se incluem alunos com implante coclear, com possibilidade de desenvolver uma audição de até 30 ou 40 dB. n Surdez profunda: perda auditiva superior a 90 dB A pessoa não percebe nem identifica a voz humana, o que a impede de adquirir a linguagem oral. Geralmente utiliza uma linguagem gestual e pode ter pleno desenvolvimento linguístico por meio da língua de sinais. Um bebê que nasce surdo balbucia como um de audição normal, mas suas emissões logo desaparecem, à medida que não tem acesso à estimulação auditiva externa, fator da máxima importância para a aquisição da linguagem oral. PEDAGOGIA Educação Especial e Inclusiva 47 Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR É surdo ou surdo-mudo? A expressão surdo-mudo é denominação incorreta para pessoas surdas. A pessoa surda não fala porque não ouve os sons que a circundam, tanto que há surdos que falam quando recebem treinamento específico. São muito poucos os surdos que também apresentam mudez (incapacidade fonoarticulatória de produzir a fala). Quais são as causas da surdez? Conhecer as causas da surdez pode ser importante para prevenir dificuldades, prever possibilidades evolutivas e planejar estratégias de intervenção e educação. As principais causas da surdez são: genéticas, pré-natais (como, por exemplo, rubéola, toxoplasmose, sífilis, medicamentos, incompatibilidade Rh), perinatais (como traumatismos de parto, falta de oxigênio), pós-natais (como traumatismos, infecções, medicamentos). Implante coclear: o que é isso? É um tipo de prótese que transforma sons e ruídos do meio ambiente, desencadeando uma sensação auditiva na pessoa. O implante coclear requer intervenção cirúrgica para substituir a cóclea prejudicada, e a reabilitação é necessária, pois a criança necessita aprender a decodificar os sons. Veja o que é implante coclear, seu funcionamento, para quais pessoas é recomendado, acessando: http://www.implantecoclear.com.br/index.php?pagina=oquee Comportamentos do aluno que podem evidenciar perda auditiva: v Falta evidente e crônica de atenção; v Falta frequente de resposta em situação de comunicação; v Acentuado atraso ao iniciar a fala ou articulação muito defeituosa; v Atraso escolar evidente; v Queixas de dores de ouvido, desconforto ou assobios, zumbido; v Secreção\acúmulo de cera; v Má articulação, sobretudo de sons consonantais; v Aumentar exageradamente o som para ouvir; 48 v Colocar as mãos em concha nos ouvidos para ouvir ou virar a cabeça em direção aos sons. v Pedir frequentemente para repetir o que acabou de ser dito; v Não responder ou ser desatento ao se falar com ele; v Relutar em participar de atividades orais, parecendo não entender as instruções verbais das atividades. Para saber mais, acesse o endereço da FENEIS (Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos): http://www.feneis.com.br/page/ Métodos e abordagens de ensino para alunos surdos No decorrer dos séculos, muitas abordagens e métodos foram propostos para a educação de alunos surdos. Na realidade, não existe um único método para todas as crianças com surdez. Crianças que possuem resíduos auditivos podem ter acesso ao código da fala dentro de uma abordagem oral. Já para as que têm pouco resíduo ou dificuldades em desenvolver a oralidade, a educação bilíngue pode ser a mais indicada. Na atualidade, os métodos de ensino dividem-se em três abordagens principais: oralismo, comunicação total e bilinguismo. O oralismo tem por objetivo integrar a criança surda na comunidade de ouvintes, e para tanto preconiza o desenvolvimento da linguagem oral, leitura orofacial e amplificação sonora, enquanto se expressa por meio da fala. Gestos, língua de sinais e alfabeto digital não são permitidos (GOLDFELD, 1997). Essa abordagem exige intensa dedicação por parte da criança e da família, a participação de profissionais especializados e requer o uso de aparelhos específicos, como a amplificação sonora individual. A comunicação total defende o uso de qualquer recurso linguístico, seja a língua de sinais, seja a linguagem oral ou códigos manuais para propiciar a comunicação com as pessoas surdas. Já o bilinguismo é a abordagem que vem ganhando força na última década no Brasil. PEDAGOGIA Educação Especial e Inclusiva 49 Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR Bilinguismo – educação bilíngue Defende que o surdo deve adquirir a língua de sinais como a sua primeira língua (língua materna), a fim de facilitar o desenvolvimento de conceitos e sua relação com o mundo. A língua portuguesa é ensinada como segunda língua, na modalidade escrita e, quando possível, na modalidade oral. A educação bilíngue tem como maior função dar suporte ao pensamento e estimular o desenvolvimento cognitivo e social da pessoa surda (FERNANDES, 2003). Por outro lado, pesquisas evidenciam que essa educação é a mais adequada, sobretudo, para o ensino de alunos surdos profundos. É muito importante que a criança já tenha contato com a LIBRAS desde o nascimento e também conviva com pessoas que dominem a língua de sinais. Se os pais forem ouvintes, há necessidade de que eles aprendam também a LIBRAS, a fim de garantir um ambiente linguístico adequado à criança surda nos diferentes contextos onde ela vive. Pesquisas mostram que bebês e crianças pequenas com surdez, filhos de pais surdos, que estiveram desde cedo expostos à língua de sinais, têm um desenvolvimento linguístico, cognitivo, afetivo e social adequados, demonstrando melhores resultados acadêmicos, em relação àquelas que não tiveram acesso à língua de sinais na infância. Crianças surdas, cujos pais são ouvintes, mas submetem os filhos à língua de sinais precocemente, também demonstram desenvolvimento simbólico- cognitivo satisfatório. As etapas de aquisição da língua de sinais são semelhantes àquelas apresentadas por crianças ouvintes com a língua oral, demonstrando que para o cérebro não importa se a língua é oral-auditiva ou visual-espacial para o desenvolvimento da linguagem. Ou seja, a capacidade de representação, a simbolização e a formação de conceitos ocorrem tanto em alunos ouvintes quanto em alunos surdos expostos à língua de sinais (MARCHESI, 1995). A proposta bilíngue visa assegurar o acesso dos surdosàs duas línguas no contexto escolar, e é dever da escola oferecer à criança surda oportunidade de adquirir a sua primeira língua e de se constituir como sujeito linguístico, da mesma maneira como essa oportunidade é oferecida à criança ouvinte (LODI; HARRISON, 1998). 50 Acesse o endereço: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/port_surdos.pdf Elabore um texto básico de duas páginas contendo as informações principais sobre a educação bilíngue, sua importância e suas principais características. (QUADROS, R. M.; SCHMIEDT, M. L. P. Ideias para ensinar português para alunos surdos. Brasília: MEC/SEESP, 2006. Você conhece as diferentes línguas de sinais? As línguas de sinais são línguas de modalidade visual-espacial utilizadas pelas comunidades surdas e apresentam um conjunto de regras fonológicas, morfológicas e sintáticas, isto é, uma gramática própria. Cada país tem a sua própria língua de sinais, que decorre das variações linguísticas da cultura e das tradições de cada povo. Conheça algumas delas: LIBRAS Língua Brasileira de Sinais LGP Língua Gestual Portuguesa ASL Língua Americana de Sinais LSF Língua Francesa de Sinais HSE Hausa Sian Language (Nigéria) LIS Língua Italiana dei Segni LSA Lengua de Senas Argentina JSL JSL – Japanese Sign Language Você conhece a língua brasileira de sinais – LIBRAS? A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é uma língua visual-espacial articulada por meio das mãos, das expressões faciais e do corpo. PEDAGOGIA Educação Especial e Inclusiva FONTE: http://aprendoLIBRAS.blogspot.com/2009/02/por-onde-comecar- alfabeto-manual-e.html 51 Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR Possui regras gramaticais próprias, como por exemplo: Ÿ Grafia: sempre em letra maiúscula: CASA, AMOR, BRASIL. Ÿ Verbos: representados no infinitivo: GOSTAR, USAR, FALAR. Ÿ Frases: EU GOSTAR MORANGO. EU QUERER AJUDA. Ÿ Pronomes pessoais: representados pelo sistema de apontação. DICIONÁRIO DE LIBRAS DIGITAL Para conhecer melhor os sinais e as palavras correspondentes, consulte o dicionário digital de LIBRAS, acessando: http://www.acessobrasil.org.br/LIBRAS/ Alfabeto manual como recurso da LIBRAS O alfabeto manual (ou dactilologia) é a representação, por meio das mãos, das letras das línguas orais e dos seus principais caracteres. É um recurso para o aluno surdo soletrar nomes próprios ou empréstimos da língua portuguesa. 52 É muito importante que o professor e os alunos tenham o apoio de um intérprete de LIBRAS em sala de aula, auxiliando na mediação da comunicação em todas as situações em que estejam envolvidos surdos e ouvintes. Quem é o intérprete de língua de sinais? É o profissional que traduz e interpreta a língua de sinais para a língua falada e vice-versa na modalidade oral e escrita. No Brasil, o intérprete deve dominar a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) e a língua portuguesa. Precisa também ter qualificação específica em tradução e interpretação e formação específica na área onde atua (por exemplo, na Educação). A atuação do intérprete está prevista na legislação federal, já disponível para muitos surdos da rede pública de ensino. Muito recentemente, a Lei o o Federal de n 12.319, de 1 de setembro de 2010, regulamentou a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Porque o intérprete de língua de sinais é importante? Porque, na sua ausência, a interação entre surdos e pessoas que não dominam a LIBRAS fica prejudicada. Assim, os surdos acabam não participando de várias atividades sociais, culturais, educacionais; não conseguem avançar em termos educacionais; ficam desmotivados para participarem de situações sociais; não tendo acesso aos veículos de língua falada, ficam excluídos das interações sociais e da própria cidadania. O professor e o aluno surdo Ø Estratégias organizativas Algumas das principais adaptações para o desenvolvimento da comunicação relacionadas com o planejamento das aprendizagens são as estratégias organizativas que o professor deve providenciar. § O aluno deve sentar onde melhor possa perceber, por meio de seus resíduos auditivos, leitura labial e ter acesso visual à informação (perto do professor e com uma visão geral da classe). § Ministrar a aula de forma flexível, de modo que nas situações interativas grupais todos os alunos possam ver-se entre si. § Situar o aluno surdo longe de áreas ruidosas. § Evitar reflexos no quadro-negro. § Seguir um horário fixo de rotinas e informar o aluno das modificações PEDAGOGIA Educação Especial e Inclusiva 53 Curso de Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental UFPR que se realizam. Ø Favorecendo as relações entre alunos surdos e ouvintes Ÿ Informar aos alunos as características dos colegas surdos, a maneira como devem chamá-los, porque possuem dificuldades para falar, o que são próteses e sua utilidade etc. Ÿ Tentar evitar qualquer comportamento de superproteção. Ÿ Mostrar a inadequação em zombar do colega surdo pelo uso de prótese auditiva, pela sua maneira de falar ou de sua não compreensão em situações comunicativas. Ÿ Ensinar estratégias comunicativas aos alunos surdos e ouvintes. Ÿ Ensinar aos demais alunos um sistema de comunicação alternativo ou complementar. Ÿ Ensinar aos alunos surdos normas de jogos comuns, como futebol, voleibol, entre outros, e realizar jogos de socialização na escola. Ÿ Trabalhar com as famílias para que favoreçam as relações entre os alunos surdos e ouvintes fora da escola (convites de aniversário, saírem juntos ao parque etc.). Ø Facilitando regras e normas Para facilitar a assimilação de regras e normas pelo aluno surdo, o professor pode adotar as seguintes medidas: a) as regras devem ser poucas, formuladas positivamente e serem escritas, desenhadas e sublinhadas; b) devem ser colocadas em cartazes à vista de todos; c) regras cumpridas devem ter um efeito positivo. Ø Estratégias para o desenvolvimento da comunicação Ÿ O professor deve utilizar uma linguagem clara e fácil de compreender (articular de forma pronunciada e com velocidade moderada). Ÿ Não deve ficar de costas para a luz e nunca falar de costas para a classe. O uso de barba espessa, bigodes, mascar chicletes ou falar com objetos diante da boca podem prejudicar a leitura labial pelo aluno surdo. Ÿ Diante de explicações que necessitam do código escrito, escrever primeiro no quadro-negro e logo continuar a explicação olhando para os alunos. 54 Ÿ ilustrações ou diagramas sempre que possível. Atividades complementares em salas de recurso A criança surda que frequenta a escola regular provavelmente vai necessitar de atendimento em outro turno, em salas de recursos, para o desenvolvimento da LIBRAS, da língua portuguesa e para complementar as informações obtidas na classe comum. Poderá também necessitar de atendimento especializado para sua reabilitação, com fonoaudiólogo, pedagogo, professor especializado e psicólogo. Muitas vezes é preciso reforço escolar para acompanhar os conteúdos escolares. A parceria da escola com a família A parceria da escola com a família tem um papel essencial no processo educativo do aluno surdo, uma vez que são os pais que deverão ir tomando decisões sobre os filhos. Os pais, quando apoiados, percebem a importância do ensino em LIBRAS, empenham-se em aprender a língua de sinais e engajam-se na busca de melhor qualidade de ensino. A parceria da escola com outros profissionais Muitas vezes o aluno surdo deve contar com apoio de profissionais como fonoaudiólogo, apoio pedagógico ou intérprete de
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