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SÍTIO COITÉ Apontamentos a partir de fontes documentais primárias do século XIX e fontes orais da atualidade. UNEAL

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS – UNEAL 
CAMPUS III – PALMEIRA DOS ÍNDIOS 
LICENCIATURA EM HISTÓRIA 
 
 
 
 
ADEMIR DA SILVA SANTOS 
 
 
 
 
 
SÍTIO COITÉ: Apontamentos a partir de fontes documentais primárias 
do século XIX e fontes orais da atualidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PALMEIRA DOS ÍNDIOS, 2014 
 
 
 
 
ADEMIR DA SILVA SANTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÍTIO COITÉ: Apontamentos a partir de fontes documentais primárias 
do século XIX e fontes orais da atualidade. 
 
 
 
Trabalho de conclusão do curso de 
História da Universidade Estadual de 
Alagoas (UNEAL), apresentado como 
requisito para obtenção do grau de 
Licenciado em História, sob a orientação 
do Prof. Tiago Barbosa da Silva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PALMEIRA DOS ÍNDIOS, 2014 
 
 
 
 
ADEMIR DA SILVA SANTOS 
 
 
 
 
 
 
SÍTIO COITÉ: Apontamentos a partir de fontes documentais primárias 
do século XIX e fontes orais da atualidade. 
 
 
 
 Monografia de Graduação aprovada em 
______/_______/ 2014. 
 
ORIENTADOR: 
_____________________________________________ 
Prof. Tiago Barbosa da Silva 
 
 
EXAMINADORES: 
 
_____________________________________________ 
Prof. MsC. José Adelson Lopes Peixoto. 
 
_____________________________________________ 
Profª.Esp. Francisca Maria Neta 
 
 
 
 
 
 
 
 
PALMEIRA DOS ÍNDIOS, 2014 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico especialmente esse trabalho ao meu irmão 
Claudemir Rodrigues “Carrema” in memória, a quem 
dedico todos os frutos de minha pesquisa sobre 
Coité do Nóia. Dedico a minha mãe, aos meus 
queridos irmãos, ao meu tio Zé Cezário, a minha 
namorada Josivanea. Dedico também aos meus 
avôs Dona Maria Cezário e Cícero Rodrigues, João 
Florêncio “João Fulor” e Dona Gerdulina “Gê” todos 
in memória. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A função do Historiador é 
lembrar a sociedade daquilo 
que ela quer esquecer”. (Peter 
Burke) 
 
 
 
 
AGRADECIMENTO 
 
 Agradeço a Deus primeiramente e a todos que me apoiaram e acreditando no 
meu sonho e assim contribuíram com este trabalho. Ao Professor Tiago Barbosa 
que aceitou o convite para orientação do qual sou grato pela paciência e dedicação. 
Aos demais professores do curso de História por compartilhar o saber, 
principalmente aos professores Adelson Lopes, Cristiano Cesar e Wellington 
Albuquerque pelo incentivo durante todo o curso. Aos meus amigos da UNEAL 
minha turma de História, em especial: Analia Carolina, Antenora Anselmo, Dakson 
Ulisses, Edileide Palmeira, Elaine Cristina, Ronaldo Alves, Marxteine Pedro, Marcos 
Menezes in memória, William Costa, José Edson, José Dionisio, Sheyla Salustiano, 
Tatiana Costa, Taciana Costa, Isvaneide Alves, Itamara Rodrigues, Larissa Costa, 
Mary Hellen, Michelle Albuquerque, Vera Lúcia e Vitória Paixão. 
 Agradeço aos parceiros de pesquisa Carlos Emanuel Varela e ao Historiador 
Gilberto Barbosa Filho. Agradeço ao senhor Valdomiro Oliveira, responsável pelo 
Cartório de Único Ofício de Limoeiro de Anadia como também Andressa Souza e 
Edivania Ferreira. A meus irmãos e minha mãe por financiar minha pesquisa, aos 
amigos Carlos Alberto “Kikikil”, Eudes Fogo, Analia Carolina, Norma Suelly e Bueno 
Higino pelo apoio material. Agradeço as professoras Valdecir Silva e Rosângela 
Maria. Aos entrevistados por revelar os segredos de suas memórias, pois as 
informações conseguidas terão grande importância para a historiografia de Coité do 
Nóia em trabalhos subsequentes. 
 Agradeço a minha primeira professora a Sra. Lenilda de Oliveira Silva, aos meus 
professores de História do Ensino Fundamental e Ensino Médio, Gorete Porto e 
Telmo Bastos. Agradeço aos diretores, professores, servidores da Escola Municipal 
de Coité do Nóia José de Sena Filho e da Escola Estadual Álvaro Paes por contribuir 
no meu desenvolvimento como estudante e como ser humano. Sou grato à Uneal 
por tudo, pois cheguei sonhador e ela me fez realizar os sonhos e está me ajudando 
a criar novos sonhos... Muito obrigado UNEAL! 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Esse trabalho procura analisar o processo de povoação, os aspectos sociais e 
econômicos do sítio Coité no século XIX. Fazendo uso de inventários e outros 
documentos, como também, da história oral. Os documentos escritos entre outros 
tipos de registros auxiliam na elucidação dos fatos do passado, contribuindo para o 
entendimento da História local. Dedicaremos especial atenção nas oralidades acerca 
da presença indígena na região, dos achados nas localidades Areias, Angico, 
Mumbuca e Boqueirão dos Custódios, no detalhamento do Dote aos bens dos 
moradores do sítio Coité e nas composições familiares. Informações e problemáticas 
em torno da escravidão serão apresentadas ao decorrer do trabalho, pois o estudo 
sobre a presença africana dará a oportunidade para evidenciar traços e elementos 
da cultura e religião de matriz africana existente no município de Coité do Nóia. A 
região em estudo abrange a parte urbana da atual cidade de Coité do Nóia, 
município localizado no Agreste de Alagoas. A metodológica adotada parte das 
informações coletadas durante as pesquisas de campo, onde foram entrevistadas 30 
pessoas, sendo as mais velhas do município, pois sem elas muitos documentos 
passariam despercebidos, pois foi o primeiro meio utilizado para resgatar de seus 
habitantes traços da História local. As fontes escritas do Cartório do Único Ofício de 
Limoeiro apresentadas a seguir, foram pesquisadas, escaneadas, transcritas, 
digitadas e analisadas. Acredita-se que ao buscar os fatos históricos ocorridas no 
passado, o historiador deve se inserir, de certa forma, na época visando interpretá-
los. Esse trabalho traz para atualidade elementos desde então desconhecidos sobre 
a historiografia de Coité do Nóia. 
 
Palavras - chave: Documentos. Província de Alagoas. Sítio Coité. Inventários. 
Coité do Nóia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This paper analyzes the process of settlement, social and economic aspects of Coité 
site in the nineteenth century. Making use of inventories and other documents, but 
also of oral history. Written documents and other types of records assist in 
elucidating the facts of the past, contributing to the understanding of local history. We 
will devote special attention to orality about the indigenous presence in the region, 
the findings in the localities Sands, Angico, Mumbuca and Boqueirão Trustee, in 
detailing the Endowment to the property of residents of the site Coité and family 
compositions. Information and issues around slavery will be presented over the 
course of the work, for the study of African presence will give the opportunity to 
highlight features and elements of culture and religion of African origin existing in the 
municipality of Coité Nóia. The study area covers the urban part of the present city of 
Coité Nóia, a municipality located in the arid zone of Alagoas. The adopted 
methodological part of the information collected during the field surveys, where 30 
people were interviewed; being the oldest of the city, for without them many 
documents go unnoticed because it was the first instrument used to rescue its 
inhabitants traces of local history. The writings of the Single Registry Office of Limon 
presented below, sources were searched, scanned, transcribed, typed and analyzed. 
It is believed that the search for the historical facts that occurredin the past, the 
historian must fit somehow, at the time seeking to interpret them. This work brings to 
actuality since then unknown elements on the historiography of the Coité Nóia. 
 
Keywords - Keywords: Documents. Province of Alagoas. Coité Site. Inventories. 
Coité the Nóia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
 
Figura 1 – Localização do Município de Coité do Nóia no mapa de Alagoas ............ 16 
Figura 2 – Localização do Sítio Coité na Província de Alagoas ................................ 17 
Figura 3 – Aspectos das regiões do Sítio Areia e Minador ........................................ 20 
Figura 4 – Cachimbos encontrados no Sítio Areias ................................................. 21 
Figura 5 – Aspectos das regiões Angico e Mumbuca ............................................... 22 
Figura 6 – Artefatos encontrados no Povoado Boqueirão dos Custódios ................. 24 
Figura 7 – Dote dado a Basílio Estevão da Costa ..................................................... 28 
Figura 8 – Verso do Dote .......................................................................................... 29 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 1 - Relação de escravos de Basílio Estevão da Costa ................................. 37 
Tabela 2 - Relação de escravos de Anna d’Annunciação e Silva ............................ 47 
Tabela 3 - Relação de escravos de Antonio da Exaltação Maia .............................. 52 
Tabela 4 - Relação de escravos do Major Antonio Thomas da Silva ....................... 58 
Tabela 5 - Relação de escravos do Capitão Manoel Sebastião da Silva ................. 63 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE SÍMBOLOS 
 
 
P.P (Por Procuração) ............................................................................................... 43 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 13 
CAPITULO I – 
DOS ACHADOS ARQUEOLÓGICOS AO DOTE DE BASÍLIO ESTEVÃO DA 
COSTA. ..................................................................................................................... 16 
CAPITULO II - 
DO INVENTÁRIO DE BASÍLIO ESTEVÃO DA COSTA A AÇÃO DE FORÇA NOVA 
Nº05 DE 1859 ........................................................................................................... 31 
CAPITULO III – 
DOS INVENTÁRIOS DE OUTRAS FAMÍLIAS DO SÍTIO COITÉ NO SÉCULO XIX À 
AUDIÊNCIA CIVIL Nº. 27 DE 1877. .......................................................................... 49 
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 65 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ......................................................................... 67 
APÊNDICES ............................................................................................................. 69 
APÊNDICE I – OUTROS ARTEFATOS ENCONTRADOS NO POVOADO 
BOQUEIRÃO DOS CUSTÓDIOS ............................................................................. 70 
APÊNDICE II – VESTIGIOS DE UM ORATÓRIO DO SÉC. XIX NO POVOADO 
MANOEL GOMES ..................................................................................................... 71 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Este trabalho analisa o processo de ocupação, social, político e econômico do 
sítio Coité no século XIX, a partir de inventários e outros documentos do Cartório do 
Único Ofício de Limoeiro de Anadia. Como também a partir da oralidade dos 
moradores mais velhos do município e achados arqueológico, enfatizaremos o 
detalhamento dos bens dos povoadores, relação de escravos e conjuntura familiar 
das famílias patriarcais. Estudar a formação e as relações familiares nesse período 
será fundamental para entendermos as relações de poderes entre elas. Ressaltando 
que o objetivo desse trabalho está na apresentação das fontes e análise. A região 
pesquisada atualmente abrange a parte urbana da cidade de Coité do Nóia, no 
interior do Estado de Alagoas. 
Através desse trabalho veremos fatos ligados a Família Noia, a mão de obra 
escrava, a influência do sítio Coité na economia e na política da região. No entanto, 
este trabalho, explicita uma introdução sobre a história do município de Coité do 
Nóia. Pois é importante contextualizar as informações obtidas com a realidade 
política, econômica e social em que se encontrava a Província de Alagoas e o 
Império do Brasil, dentre várias problemáticas e hipóteses. 
Esta pesquisa nasceu da vontade de obter respostas sobre questões que até 
então ainda não tinham sido respondidas. Nossa história vai além do processo de 
Emancipação Política de 1963. O passado tem que ser investigado, pesquisado 
porque só assim conheceremos as culturas existentes no referido município, que 
muitas vezes são discriminadas, principalmente as de raízes africanas. Esse estudo 
será o início de uma reformulação não só da história local, como também do ser 
humano Coitenense. Pois ao trazer para a história local elementos da presença 
indígena, africana e ter informações sobre a família Nóia, abre-se um campo vasto 
de possibilidades e de questionamentos. Assim, seria impossível de expor e 
problematizar todas as fontes em um trabalho de conclusão de curso. 
Nesta pesquisa foram realizadas entrevistas com 30 pessoas escolhidas entre 
os moradores mais velhos da cidade de Coité do Nóia e dos povoados que formam 
o seu município. As entrevistas foram gravadas em gravador mp3 e algumas falas 
14 
 
 
 
foram transcritas para este trabalho, pois serviram de suporte para levantamento do 
inventário que é o objeto de estudo. 
Durante as pesquisas de campo que duraram 5 anos “entre os anos de 2009-
2014”, porém foi ampliada há 6 meses, foram feitas imagens fotográficas, fílmicas, 
além de ter encontrado artefatos líticos como cachimbos, objetos como porcelana, 
talher, baús, vestígios de casa grande, senzala e igreja. Tais achados, assim como 
as entrevistas e imagens serão discutidas neste trabalho. 
Alguns recursos instrumentais durante a pesquisa, como: câmera fotográfica, 
gravador de áudio, impressora, notebook, diário de anotações; caneta e lápis. 
Subsidiarão esse trabalho, obras de autores da região entre eles: Nicodemo Jobim, 
Gilberto Barbosa, Cícero Rafael e João Ribeiro. 
Visando concretizar os objetivos expostos, este trabalho encontra-se 
configurado em 3 capítulos contendo, imagens fotográficas, tabelas, mapas, cópias 
de documentos primários do século XIX. 
No primeiro capitulo, enfatizaremos a observação nas oralidades de alguns 
moradores de Coité do Nóia sobre a presença indígena e escrava na região, nos 
achados arqueológicos e aspectos das regiões em estudos, a localização da região 
na Província de Alagoas e suas limitações pertencentes à Vila de Anadia e 
posteriormente sendo policiada por Limoeiro. Observaremos a transcrição do dote e 
posses de Joaquim de Santa Anna Noia. 
No segundo capítulo, veremos o detalhamento dos bens do casal, formação 
familiar e relação de escravos e como se procedeu à partilha dos bens de Basílio 
Estevão da Costa, especificando o que cada herdeiro recebeu e seus valores. 
Observaremos a ação judicial movida pela viúva Anna da Annunciação e Silva 
contra seu genro o Capitão Pedro Dias da Silva Reis, documento esse que mostra 
ambição pela posse das terras, aspectos da regiãoe dimensão das terras em 
questão. A partilha amigavelmente aconteceu depois de 23 anos do falecimento de 
Basílio Estevão da Costa e 16 anos depois da ação judicial movida contra Pedro 
Dias da Silva Reis. 
15 
 
 
 
No terceiro capítulo, analisaremos inventários de outros moradores do sítio 
Coité no século XIX, formação familiar, detalhamento dos bens, partilha e relação 
de escravos. Como também, a venda de terras realizada por outro patriarca da 
Família Noia. E finalizaremos com dados da ação cível de n. 27 de 1877, onde 
evidencia que o Capitão Manoel Sebastião da Silva era mais um morador no sítio 
Coité e constatará o pagamento de 7:500$000 (sete contos, quinhentos mil reis) ao 
seu genro Gertulino Agripino da Silva, dando 14 escravos para tal quitação. Que 
assim, essas famílias aqui já citadas foram as que iniciaram o processo de formação 
e povoação da atual cidade de Coité do Nóia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO I 
DOS ACHADOS ARQUEOLÓGICOS AO DOTE DE BASÍLIO ESTEVÃO DA 
COSTA. 
O município de Coité do Nóia está localizado na região central do Estado de 
Alagoas, inserida na meso-região do Agreste Alagoano e na micro-região de 
Arapiraca. Limitando-se a norte com o município de Igaci, a sul com Limoeiro de 
Anadia e Arapiraca, a leste com Taquarana e a oeste com Arapiraca e Igaci. A sede 
do município tem uma altitude aproximada de 280 m e coordenadas geográficas de 
9°37’56,0’’ de latitude sul e 36°34’43,0’’ de longitude oeste, segundo CPRM 
(Serviços Geológicos do Brasil). O referido município tem cerca de 10.926 
habitantes, desse total 3.737 vivem na zona urbana e 7.189 vivem na área rural; 
constata-se que a maior parte da população vive na zona rural, com uma área de 
aproximadamente 88 km², segundo os dados do último senso do IBGE (Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2010. 
 
 FIGURA I – LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE COITÉ DO NÓIA NO MAPA 
DE ALAGOAS. 
 
ESTADO DE ALAGOAS
0 12 24 km
N
PERNAMBUCO
SERGIPE
PE
RN
AM
BU
CO
BAHIA
OC
EA
NO
 AT
LÂ
NT
IC
O
Rio São Francisco
 
Fonte: LIMA, I. F. Geografia de Alagoas. São Paulo: Editora do Brasil S/A, 1965 (Coleção didática 
do Brasil, vol. 14). 
17 
 
 
 
FIGURA II - LOCALIZAÇÃO DO SÍTIO COITÉ NA PROVÍNCIA DAS ALAGOAS 
Fonte: ALMEIDA, Candido Mendes de. PROVÍNCIA DE ALAGOAS, Atlas do Império do Brasil, 1868, 
Arte e História, Livros e Edições; Rio de Janeiro – 2000. 
 
O Sítio Coité desde o início do séc. XIX pertencia a Alagoas (Marechal 
Deodoro) somente a partir de 1838 ficou na Jurisdição da Comarca e Vila de Anadia, 
sobre os limites da Vila descreve Jobim (1881, 34): 
Ao Sudeste e Oeste com as frequezias de Penedo, Colégio e Traipú, da 
cabiceira do rio Piauhy ao campo do Gaspar pela mesma linha acima à 
lagoa dos veados, e d’ahi pela parte do norte em rumo direito à lagoa do 
algodão até encontrar com o termo de Palmeira dos Índios (1) e por este 
rumo extremendo-se com o termo de Traipú pelo sítio Lagoa do Algodão, 
Palanquêta, Poço d’Abelha, pertecentes ao termo de Traipú (2) irá à barra 
do rio Lunga, no rio Coruripe, o qual até a sua nascença serve de limites 
com o termo de Palmeira, que fica entre Oeste e Noroeste (3). 
Através do decreto nº. 26, de 12 de março de 1838, a Assembléia Provincial 
substituiu de forma efetiva a Assembleia Geral, que legislava leis para todo o Brasil. 
 
__________________________ 
1
 Lei provincial n.321 de 1 de maio de 1857. 
2
 Lei provincial n.359 de 11 de julho de 1859. 
3
 Resolução n. 7 de 11 de julho de 1839, que pela resolução n.66 de 27 de maio de 1847 foi 
revogada. 
18 
 
 
 
 Pelo mesmo decreto foram criadas cinco prefeituras, com prefeitos e 
subprefeitos para as cinco comarcas existentes na Província de Alagoas: Comarca 
de Alagoas (Marechal Deodoro), que compreendia Alagoas e São Miguel dos 
Campos; Comarca de Maceió formada pelos termos de Maceió e Santa Luzia do 
Norte (Viçosa); Comarca de Penedo, formada pelos termos de Penedo e Porto da 
Folha; e pela Comarca de Anadia, formada pelos termos de Anadia, Palmeira dos 
Índios e Coruripe: 
Transformações e criações políticas como essas favoreceram a inclusão 
ativa da povoação de Limoeiro na vida política da Vila de Anadia e fez com 
que os representantes da localidade almejassem vôos mais altos para 
participar cada vez mais dos destinos da vila na qual estava inserido. 
(BARBOSA FILHO, 2010, 87) 
A Câmara de Anadia criou o Distrito Policial e Civil de Limoeiro, em 23 de 
novembro de 1842, José Gregório da Silva natural do sítio Brejo era o representante 
político de Limoeiro na Câmara da Vila de Anadia. No mesmo dia da criação do 
Distrito Policial foi instalada a subdelegacia de Limoeiro, sendo o “1º subdelegado o 
Major Antônio Tomaz da Silva, nomeado em 22 de agosto de 1844” (RAFAEL, 
1994,70). A subdelegacia já havia sido criada dois anos antes da criação do distrito, 
mas não foi instalada efetivamente. Salientando que o Major Antonio Thomas da 
Silva era morador do Sítio Coité. A subdelegacia de Limoeiro policiava uma: 
area de 12 leguas quadradas com 23 quarteirões, conhecidos por: Limoeiro, 
Ribeira, Laranjeira, Gequia de Cima, Peripiri, Canabrava, Tapauna, Arvore 
Comprida, Canudos, Lagôa Grande, Passagem do Vigário, Cruzes, 
Gulandim, Coité, Oitizeiro, Volta da Telha, Poço da Pedra de Cima, Poço da 
Pedra de Baixo, Lagoa do Pé Leve, Rio dos Bichus, Mangabeira, Lagôa do 
Rancho. (JOBIM, 1881, 37-38) 
 
A divisão territorial somente foi definida em sessão extraordinária no dia 22 de 
agosto de 1844, reunião na Câmara de Anadia composta por seus vereadores: José 
Teixeira Leite, Vicente de Paula Carvalho, Joaquim Vieira de Araujo, João Antônio 
da Fonseca e Silva, Manoel Joaquim Pereira, João Cavalcante da Mota Nunes e 
José Gregório da Silva. Divisão essa que fez o território do sítio Coité ser policiada 
por Limoeiro. 
Sobre a história de seus moradores o que restou foram às lacunas sem 
respostas e sem informações. Tais lacunas podem ser preenchidas a partir da 
metodologia inaugurada com a escola dos Annales, pois a memória popular coletiva 
19 
 
 
 
e individual, achados arqueológicos, como documentos de diversos órgãos públicos 
ajuda o historiador a contribuir com a nova história. Segundo Montenegro (1994): 
O material produzido por essas diversas instâncias é que se constituirá em 
uma das fontes predominantes do historiador. Entretanto, à medida que o 
historiador passa a trabalhar, não mais apenas com documentos que 
retratam um passado longínquo, o resgate da memória coletiva e individual 
se projeta como uma possibilidade de trazer para o plano do historiador o 
registro da própria reação vivida dos acontecimentos e fatos históricos. 
(MONTENEGRO, 1994, 20) 
 
O registro da memória popular traz elementos privilegiados que auxiliam o 
historiador a desmistificar o passado estabelecido pela classe dominadora, onde o 
lembrar se torna desfavorável para a mesma. Os documentos e a memória coletiva 
fazem reviver, refazer e repensar os acontecimentos do passado por várias 
vertentes. “O documento não é o feliz instrumento de uma história que seria em si 
mesma, e de pleno direito, memória; a história é, para uma sociedade, certa maneira 
de dar status e elaboração à massa documental de que ela não se separa” 
(FOUCAULT, 2008, p.08). Assim, o entrelaço entre memória, documentos e achados 
arqueológicos amplia o estudo historiográfico de Coité do Nóia, fazendo com que 
seu estudo seja mais abrangente com vários problemas e hipóteses. 
O historiador não pode se resignar diante de lacunas na informação e deve 
procurarpreenchê-las. Para isto, usará os documentos não só de arquivos, 
mas também um poema, um quadro, um drama, estatísticas, materiais 
arqueológicos. O historiador tem como tarefa vencer o esquecimento, 
preencher os silêncios, recuperar as palavras, a expressão vencida pelo 
tempo. (FEBVRE, 1965,15) 
 As fontes apresentadas nesse trabalho permitem compreender o 
desdobramento histórico de Coité do Nóia por vários ângulos, buscando o 
conhecimento do homem comum, deixando de vê-lo como prisioneiro de certas 
estruturas opressoras e enxergá-los de forma participativa na formação social. Para 
Michelet, a partir dos métodos dos Annales hoje se pode escrever “a história 
daqueles que sofreram, trabalharam, definharam e morreram sem ter a possibilidade 
de descrever seus sofrimentos” (Michelet, 1842, p.8 Apud Peter Burke, 1991, 13). 
Durante a pesquisa de campo iniciada em 2009 foi possível coletar informações 
importantes sobre a história de Coité do Nóia, partindo do imaginário criado sobre o 
Sítio Areias e Minador, região esta que faz parte da zona urbana da cidade de Coité 
do Nóia, do qual foi cenário de muitas lendas e assombrações. 
20 
 
 
 
No século XX, foi encontrado um pote com ossadas, dentes de animais e 
outros objetos no terreno que atualmente pertence ao Senhor Manoel Sebastião, 
artefatos esses que chamaram a atenção de muitos curiosos, o que levou o 
proprietário a destruir tais artefatos; várias outras igaçabas foram encontradas nas 
terras do Sr. Arlindo Satiro da Silva, 73 anos, conhecido por seu Didi. Segundo ele: 
No meu terreno foi achado de 2 a 3 ainda. Lá no Seu Noel acharam uma 
também, mas foi tanta gente olhar que ele quebrou a jarra... O Guedson 
meu filho cavando o terreno para construir a casa dele, encontrou uma jarra, 
a jarra tinha um cachimbo, uma pedra verde, tinha uns dentes de gente, 
veio até reportagem... Virou tumulto. Essas jarras os índios usavam para 
enterrar, não era índio eram os flamengos que viviam nas matas... No 
tempo do meu avô tinha essa gente que eram pego no mato, para 
acostumar a trabalhar nas roças, em Palmeira ainda tem, quando morria um 
eles colocavam nessas jarras e enterrava, essa região tem muito mistério e 
não é pouco.
 4
 
 
 
A região da qual o entrevistado se refere é próxima as nascentes do Minador, 
região rica em água doce, o mesmo afirma que as ditas terras pertenciam ao seu 
avô Alexandrina, conhecido por seu Caê. 
FIGURA III - ASPECTOS DA REGIÃO DO SÍTIO AREIAS E MINADOR 
 
 
Fonte: Autor, 2009. 
_____________________ 
4
 Entrevista realizada com o Sr. Arlindo Satiro da Silva em 10 de Agosto de 2013. 
21 
 
 
 
Localizado em uma região serrana, protegida por serras entre elas as serras 
cova do negro e do Cruzeiro com vista estratégica da região, inclusive de Arapiraca, 
Limoeiro de Anadia, Taquarana, Igací e de Palmeira dos Índios, ambiente propício 
para aldeamento indígena com muitas nascentes, próxima do riacho do coité, dos 
cabaços e do rio Coruripe. 
Durante a pesquisa de campo o Sr. Didi revelou que seu filho mais velho 
conhecido por Carlinhos estava em posse de um cachimbo de uma das igaçabas 
encontradas no terreno do seu filho Guedson. Segundo Carlinhos - “esse cachimbo 
meu não foi o único encontrado, tinha outro, acho que tá com o pessoal do Olavo 
Bé.”5 
 Ao entrevistar o Senhor Olavo Gomes, conhecido por Olavo Bé morador do 
sítio Areias e vizinho do local dos achados, ele confessa: “vi os potes e as coisas 
dentro, tinha dois cachimbos, um está com a minha irmã Margarida, você pode ir lá 
que ela mostra, ela até fuma nele ainda, esse dela é mais preto que o outro, o outro 
não sei onde ta.”6 
FIGURA IV - CACHIMBOS ENCONTRADOS NO SÍTIO AREIAS 
 
 
 Fonte: Autor, 2009. 
_____________________ 
5
 Entrevista realizada com o Senhor José Carlos da Silva em 14 de Setembro de 2009. 
6
 Entrevista realizada com o Senhor Olavo Gomes em 10 de Agosto de 2013. 
22 
 
 
 
O cachimbo que pertencia ao senhor Carlinhos encontra-se em posse do 
pesquisador, o outro depois de ser fotografado por diversos ângulos foi entregue à 
senhora Margarida. 
Em 2009, no mesmo terreno que pertencia ao Sr. Didi no Sítio Areias, uma 
parte foi vendida ao Sr. José Hênio Porto, em escavação para a construção de 
muros foram encontradas 06 igaçabas, as quais foram destruídas pelas máquinas. 
Foi preciso realizar trabalho de conscientização com algumas famílias da localidade 
para que não destruíssem objetos encontrados, pois os mesmos eram de grande 
valor histórico e cultural, que os mesmos serviam de base para a formulação da 
nova história. Foi encontrado mais de nove igaçabas nas terras do Senhor Arlindo 
Satiro da Silva, com vários objetos dentro como ossos, dentes, pedra de corisco, 
cachimbos e machadinhas. A região precisa ser reconhecida pelo IHGAL – Instituto 
Histórico e Geográfico de Alagoas para que os estudos na região venham ser 
pesquisados por arqueólogos. 
Outros relatos sobre achados foram registrados, inclusive nas regiões 
conhecidas por Angico e Mumbuca. O Sítio Angico está situado entre os sítios Baixio 
e Boqueirão dos Custódios. 
FIGURA V - ASPECTOS DAS REGIÕES ANGICO E MUMBUCA 
 
 
Fonte: Autor, 2013. 
23 
 
 
 
Segundo Domingos Eugenio Mello filho de um proprietário de terra da 
localidade, diz: 
A gente achava pedaços de pratos, de potes, tijolos, cachimbos... ossos de 
bois e muitos caramujos... Dos cachimbos lembro pouco, pois achávamos 
só o pedaço onde colocava o fumo, mas uma vez achamos um que tinha o 
cabo bonito preto. 
7 
 
No dia 24 de Agosto de 2013 foi entrevistado pelo o autor, o Sr. José João da 
Silva, 78 anos, antigo morador do sítio Angico, atualmente mora na Rua Pedro 
Custódio em frente ao Ginásio de Esporte do Município. Segundo ele, “no Sítio 
Angico cansei de encontrar pratos, frigideira, panela de barro, encontrei cachimbos 
de barro.”8 
Houve semelhança na oralidade do senhor Miguel Martins Sobrinho, 83 anos 
morador do Povoado Mumbuca quando disse - “no meu terreno foi encontrado potes 
e bacia de barro e umas moedas. O pessoal mais velho dizia que era os caboclos 
que ficaram nessa serra, quem expulsou foi até o capitão Antonio Custódio, era o 
que meus avós diziam.”9 Vale ressaltar que o Povoado Cruzes teve forte influência 
indígena em tempos remotos, região essa próxima ao Boqueirão dos Custódios e 
Angico, desde 1827 ou anterior já era povoado, como observaremos a seguir. 
Alguns pesquisadores defendem que o povoado Cruzes pode ser um dos povoados 
mais antigos da região. Sobre a presença indígena na região do sítio Cruzes 
(CASTRO NETO, 2007; 43-44) diz que: 
Talvez o mais antigo povoado do Município, foi habitado por remanescentes 
dos índios Xucurus, vindo de Palmeira dos Índios, segundo o relato dos 
moradores mais idosos. Alguns de seus antepassados foram pegos nas 
matas da região e trazidos ainda jovens para esta localidade, onde se 
casaram, tiveram filhos e ainda hoje os habitantes do povoado apresentam 
fortes características dos povos indígenas: cabelos pretos e lisos, 
acaboclados, amante da caça e da pesca, com um sotaque distinto, 
dedicam-se ao artesanato de objetos feitos com tabocas, palha de ouricuri e 
cipó. (CASTRO NETO, 2007, 43-44) 
 
 
 
 
 
__________________________ 
7
 Entrevista realizada com o Senhor Domingos Eugênio Mello em 21 de Agosto de 2013. 
8
 Entrevista realizada com o Senhor José João da Silva 15 de Agosto de 2013. 
9 
Entrevista realizada com o Senhor Miguel Martins 20 de Agosto de 2013. 
24 
 
 
 
Na fala da senhora Otília Duda da Silva, 83 anos diz: - “A minha vó, mãe de 
minha mãe foi pega a cachorro na mata, ela era índia, meu avô estavacaçando e 
viu uma menina ele mandou os cachorros pegar ela e trouxe... ela dizia que era pras 
bandas do Jacaré dos homens ou Palmeira.”10 Dona Joana Pereira da Silva, 84 anos 
acrescenta dizendo “a minha bisavó foi pega a dente de cachorro nas serras de 
Palmeira dos Índios. Minha bisavó era índia, minha mãe contava isso.”11A partir 
dessas informações podemos questionar como se procedeu a chegada e presença 
indígena na região. A memória de pessoas de várias classes sociais do município 
traz traços até então desconhecidos da história local e do imaginário social, pois 
será necessário ampliar a pesquisa sobre a questão indígena em Coité do Nóia. 
A memória na qual cresce a História, por sua vez a alimenta, procura salvar 
o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma 
que a memória coletiva sirva de libertação e não de servidão dos homes. 
(LE GOFF, 1996, p. 41). 
A memória estabelece transformação histórica e social, pois é reivindicadora 
da própria existência não só na pessoa humana quanto de sua cultura e crença. 
Durante as entrevistas orais foi possível localizar traços da presença escrava na 
região do Boqueirão dos Custódios. 
 
FIGURA VI - ARTEFATOS DO SÍTIO BOQUEIRÃO DOS CUSTÓDIOS 
1. 2. 
3. 4. 
Fonte: Autor. 2013 
__________________________ 
10
 Entrevista realizada com a Srª. Otília Duda da Silva em 20 de Agosto de 2013. 
11
 Entrevista realizada com a Srª. Joana Pereira da Silva em 10 de Agosto de 2013. 
25 
 
 
 
A imagem 1. Mostra os aspectos da região, terra macia, tendo o riacho do 
coité cortando as terras, e várias nascentes, região vizinha à localidade Angico já 
mencionada e próximo ao povoado Mumbuca, tendo as serras do Baixio, Retiro e 
Cruzes as mais próximas. A imagem 2. Trás à localização da senzala a partir da 
oralidade dos entrevistados, vale ressaltar que existe nas aproximações bases de 
construções com tijolos pregados no chão em sequência. A imagem 3. Refere-se ao 
baú pertencente ao Capitão Antonio Custódio, que permanece em posse do Sr. 
Pedro Custódio Porto Neto. A imagem 4. Mostra à localização da casa grande, 
depois que a casa foi derrubada seus descendentes plantaram um pé de umbuzeiro, 
vestígios da casa grande como madeira, caco de telha e tijolos se encontram 
enfincada no chão entre as raízes. 
Segundo o relato do bisneto do Capitão Antonio Custódio da Silva Porto, o 
senhor Nivaldo Custódio, 76 anos diz: 
O cativeiro... Eu não conheci, meu avô dizia o cativo... Eu sei onde era a 
senzala, onde eles dormiam “as casinhas deles”, o cemitério. Aquele pé de 
umbu perto da casa do Neto era a casa do Capitão Antônio Custódio. Meu 
avô falava sentado em um banco, no peitoril da casa... Ele fala que o velho 
era o rei daqui de terra, ia pra Lagoa Grande, eu sei é o rumo. Tinha um 
bocado de escravo, quando casava um filho ou filha, dava meia dúzia de 
nego, pra trabalhar pra ele. Nego cativo trabalhava de graça, só tinha o dia 
de sábado pra eles. A filha dele Lolô foi morar no mosquito onde hoje é o 
Campo Alegre, não tinha carro nesse tempo ...e um bocado de nego e nega 
acompanhando.
12 
 
Sobre a quantidade de escravos o Sr. Pedro Custódio Porto Neto, 75 anos 
irmão do Sr. Nivaldo Custódio diz que “o velho tinha de 30 a 40 negos aqui.”13 A 
existência de casa grande, senzala e cemitério de escravos abre um vasto campo de 
pesquisa sobre a escravidão no séc. XIX na região de Coité do Nóia, fontes essas 
riquíssimas para a historia local, outros artefatos registrados consta no (APÊNDICE 
I, p. 70). A região do Boqueirão dos Custódios precisa ser estudada amplamente, 
pois será preciso revisar os documentos dos Cartórios do Único Ofício de Limoeiro 
de Anadia, analisar inventários, livros de notas e cartas de alforrias. 
O Capitão Antônio Custódio da Silva Porto era avô do ex-prefeito de Coité do 
Nóia José Custódio da Silva. 
__________________________ 
12
 Entrevista realizada com o Sr. Nivaldo Custódio em 09 de Agosto de 2013. 
13 
Entrevista realizada em o Sr. Pedro Custódio Porto Neto em 13 de Agosto de 2013. 
26 
 
 
 
Em janeiro de 2013 foi localizado vestígio de um oratório no povoado Manoel 
Gomes, vestígios registrados constam na (APÊNDICE II, p. 71). Durante as 
pesquisas realizadas no Cartório do Único Oficio de Limoeiro foi possível obter 
informações sobre o proprietário e herdeiros. No Inventário de nº. 129 de 1874 de 
Antonio Rodrigues Nobre, consta que ele era o dono da propriedade e suas 
benfeitorias. No dito inventário, o oratório já era mencionado o que caracteriza que a 
edificação do mesmo ocorreu no século XIX. Consta no inventário que além do 
oratório existiam várias imagens de santos, do qual os avaliadores deram o valor de 
25#000 (vinte e cinco mil réis). Antonio Rodrigues Nobre possuía um escravo por 
nome de Francisco. Será de grande importância pesquisar sobre as características 
arquitetônicas do oratório, influência do catolicismo na região, sua organização, 
como acontecia às cerimônias no interior do oratório, as famílias que frequentavam. 
De acordo com Robinson (1912): 
História inclui qualquer traço ou vestígio das coisas que o homem fez ou 
pensou, desde o seu surgimento sobre a terra”. Por método, “A Nova 
História deverá utilizar-se de todas as descobertas sobre a humanidade, 
que estão sendo feitas por antropólogos, economistas, psicólogos e 
sociólogos. (ROBINSON, 1912 Apud BURKE, 1991,13) 
 
Os elementos encontrados e informações obtidas contribuem para a 
reformulação no que se refere à historiografia de Coité do Nóia como também dos 
aspectos sociais e culturais. Partindo das análises sobre a colonização da Província 
de Alagoas, da Vila de Anadia, dos poderes estabelecidos no sítio Brejo no âmbito 
político, econômico e religioso, na oralidade dos moradores mais velhos do 
município e nas fontes primárias do cartório do Único Ofício de Limoeiro, foi possível 
encontrar documentos referente à família Nóia e outras famílias existentes no sítio 
Coité e demais localidades no séc. XIX. Sobre as primeiras famílias que se 
estabeleceram em Coité do Nóia (SILVA, 2011,22) relata que: 
Segundo os relatos de alguns dos mais antigos moradores do município, 
por volta dos anos 1900, ou antes, disto, sendo as famílias Higino, Miguel, 
Dionizio, Costa e Virgem, e anteriores a estes, os Nóias, tidos como os 
primeiros povoadores destas terras. A povoação inicial era formada por 
poucas casas na região próxima, onde hoje se localiza, na cidade, a 
lavanderia comunitária. Esta região é descrita pela população como o lugar 
onde Joana e Francisco Nóia e outras famílias iniciaram a fixação de 
residência na região. 
14 
(SILVA, 2011,22) 
 
__________________________ 
14 SILVA, Nadjane da Rocha. Da história oral nasce a memória coletiva: Reflexões sobre o município 
de Coité do Nóia. UNEAL, Palmeira dos Índios, 2011 (Trabalho de Conclusão de Curso). 
27 
 
 
 
 
Antes da pesquisa de campo, o que sabíamos sobre a família Nóia era a 
partir da oralidade dos moradores mais antigos da cidade, mas só diziam que ela 
existiu. O que levou durante muitos anos várias gerações se perguntarem “por que 
Coité do Nóia, e não do índio, do escravo ou de todos?” Foram muitos porquês. 
Segundo o pesquisador de Limoeiro de Anadia, Barbosa Filho (2010): 
por volta de 1880 existiam quatro casas pertencentes à família de Antônio 
de Nóia de Souza (...). Em 1886, procedente da Vila de Limoeiro, Manoel 
Joaquim (Jô) da Costa, bisneto de Antônio Rodrigues da Silva, fixou-se na 
região dedicando-se a criação de gado e agricultura. (BARBOSA FILHO, 
2010, 278). 
 
A partir do dote que discutiremos a seguir demonstra que a Família Noia era 
rica, possuidora de muitas terras e escravose que se fixou no sítio Coité no início do 
século XIX. Manoel Joaquim da Costa Zow era neto dos povoadores e diante das 
informações há evidências que seus descendentes moram até hoje na região, porém 
com outros sobrenomes como é o caso das famílias Costa e Mello. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
 
FIGURA VII – DOTE DADO A BÁSILIO ESTEVÃO DA COSTA 
 
TRANSCRIÇÃO DO DOTE 
 
Fica lida no l.
o
 “sic” a 243 Nº 10 
Anadia 28 de 7bro 1838 
Motta Morici 
Dizemos Nós, eu e minha Mulher abaixo a 
signado q conferimos em dote ao S. Basílio 
Estevão da Costa, pª em cargo do 
Matrimonio q temos contratado contrair 
com minha filha Anna d’Anunciação; os 
bens seguintis; Em terras no Sítio do Coité 
cem mil r cujas terras pegará do Sítio Coité 
pª a parte das Crusis; hua escrava de 
nome Maria gentio d’Angola no valor de 
dusentos, e oito mil r, hum escravo de 
nome Martinho criolo no valor de cento e 
noventa e cinco mil r, desaseis cabeças de 
gado vacum no valor de nove mil r cada um 
em porta em cento e quarenta e quatro mil 
r em ouro,e prata o valor de setenta e nove 
mil r, hum taixo no valor de oito mil r, hum 
candieiro de latão no valor de quatro mil r, 
em dinheiro noventa e cinco mil r, hum 
cavalo selado e enfreiado no valor de vinte 
e quatro mil r, cujos bens são do nosso 
casal livres, e desembargados, e d’elhes 
faremos duação causa dotis a ditta nossa 
filha, e genro; pª os possuírem como seus; 
e p
r
 nossos falecimentos entrarão a 
collação com os outros seus cunhados, e 
irmãos na forma da lei, ficando nossas 
terças obrigados a preenxer dª q 
ta
 de 
todos no caso de exceder as suas 
legitimas. E pª seu titulo lhes passamos o 
pres
te
 p
r
 nossas livres vontadis, o q vai tão 
somente p
r
 mim a signado, e p
r 
 mª mulher 
não saber escrever o fis o seu rogo Antonio 
Gomis da Silva a saber da vendo tudo 
presentis as testemunhas abaixo com 
nosco a signados. Sitio do Coite 5 de 
Junho de 1827. 
Joaquim de Sta Anna Noia 
Rogo da Senr
a
 Anna Roza 
Antônio G
mes
.da Silva 
Como testª q este fiz a rogo dos passadoris 
Joze Francisco Virª Samp
o
 
Joze Bsª de Castro 
Fonte: Ação de força nova, nº 5, p.7, de 1859, Cartório do Único Oficio de Limoeiro de Anadia. 
 
29 
 
 
 
FIGURA VIII – VERSO DO DOTE 
 
Fonte: Ação de força nova, nº 5, p. 7 verso, de 1859, Cartório do Único Oficio de Limoeiro de Anadia. 
TRANSCRIÇÃO DO VERSO 
 Reconheço as firmas serem as proprias de Joaqm de Santa Anna Noia, e 
dos mais asignados e dou fé Anadia 28 de 7bro 1838. 
J F M M 
[incompreensível] 
José Felippe da Motta Morici 
 
Joaquim de Santa Anna Noia e sua esposa Anna Rosa deram um dote a 
Basílio Estevão da Costa no dia 05 de junho de 1827 no sítio Coité para que o 
mesmo casasse com sua filha Anna D’Anunciação e Silva, o valor do dote configura 
o poder e a posição social da família Nóia na região. 
em cargo do Matrimonio q temos contratado contrair com minha filha Anna 
d’Anunciação; os bens seguintis; Em terras no Sítio do Coité cem mil r cujas 
terras pegará do Sítio Coité pª a parte das Crusis; hua escrava de nome 
Maria gentio d’Angola no valor de dusentos, e oito mil r, hum escravo de 
nome Martinho criolo no valor de cento e noventa e cinco mil r, desaseis 
cabeças de gado vacum no valor de nove mil r cada um em prata em cento 
e quarenta e quatro mil r em ouro,e prata o valor de setenta e nove mil r, 
hum taixo no valor de oito mil r, hum candieiro de latão no valor de quatro 
mil r, em dinheiro noventa e cinco mil r, hum cavalo selado e enfreiado no 
valor de vinte e quatro mil r, cujos bens são do nosso casal livres.
15
 
__________________________ 
15
 Ação de Força Nova nº. 05 de 1859, fl. 07. Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia. 
30 
 
 
 
Basílio Estevão da Costa recebeu uma parte de terras no sítio Coité partindo 
para o sítio Cruzes, dois escravos, dezesseis vacas, um cavalo selado, um tacho, 
um candeeiro de latão, quantia em dinheiro, ouro e prata, totalizando um montante 
de 1:0001$000 (um conto e um mil réis). Manoel Joaquim da Costa Zow que 
aparece na história como o primeiro colonizador, era neto de Joaquim de Santa 
Anna Noia e de Dona Anna Roza do lado materno e neto do Capitão Manoel 
Francisco da Silva e de Maria da Conceição Silva do lado paterno, foi um dos oitos 
filhos de Anna D’Annunciação e Silva com Basílio Estevão da Costa. Assim, todos 
os filhos do casal eram bisnetos do Capitão Antônio Rodrigues da Silva. Segundo o 
pesquisador Gilberto Barbosa Filho cita-o como fundador de Limoeiro de Anadia. 
Para a realização do matrimônio de Basílio Estevão da Costa e Anna 
D’Annunciação e Silva foi nomeado para ser rogo da mesma, Antonio Gomes da 
Silva e como testemunhas José Francisco Vieira Sampaio e José Barbosa de 
Castro. Uma aliança de interesses baseada na permanência do status que a família 
principalmente dela possuía. Segundo (FERREIRA; ABRANTES, 01) 
O dote foi um costume praticado por milênios no Ocidente, sendo uma 
herança de origem portuguesa em virtude do processo de colonização. 
Tradicionalmente se constituía a partir dos bens materiais que a noiva 
levava para a vida conjugal, permeando a vida familiar e sendo o meio 
necessário para se efetuar o pacto matrimonial. Como meio viabilizador dos 
casamentos entre as famílias de posse, ele era o grande responsável pelos 
acordos e estratégias familiares envolvendo interesses políticos e 
econômicos.
16 
(FERREIRA; ABRANTES, 2013,01) 
O pai da noiva Joaquim de Santa Anna Noia com base em suas posses 
demonstra ter sido uma grande liderança na região, pois o mesmo possuía além das 
terras do sítio Coité, um sítio de terras denominadas Boqueirão com benfeitorias e 
lavras, o qual foi vendido no valor de 1:000$000 (um conto de réis) a Manoel 
Barbosa Rego e sua esposa Dona Maria da Conceição.17 A partir do surgimento do 
Dote e das descobertas anteriormente mencionadas, amplia-se o campo de 
pesquisa sobre a história do Município de Coité do Nóia. 
__________________________ 
16 
 Disponível em: 
<http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364956503_ARQUIVO_ArtigoAdrianaAnpuh201
3doc.pdf/ >. Acesso em: 29 de Janeiro de 2014. 
17
 Inventário nº. 41 de 1855 de Manoel Barbosa Rego, Cartório do Único Oficio de Limoeiro de 
Anadia.
 
 
 
 
CAPITULO II 
DO INVENTÁRIO DE BASÍLIO ESTEVÃO DA COSTA À AÇÃO DE FORÇA 
NOVA Nº05 DE 1859. 
 
O povoamento pela população branca e escrava, na região do Sítio Coité, 
possivelmente deve ter ocorrido devido ao processo de desenvolvimento da 
província de Alagoas, tendo em vista a criação e ampliação de engenhos, 
notadamente, concentrados no litoral alagoano, mas, principalmente pela 
necessidade de abastecimento com carne bovina e demais culturas de subsistência, 
necessárias à alimentação, especialmente, de homens e mulheres brancos. Assim, 
no final do século XVIII, o Capitão Antônio Rodrigues da Silva, avô de Basílio 
Estevão da Costa, procedente de Taperaguá, povoação da Vila de Alagoas 
(atualmente Marechal Deodoro) comprou a Amaro Alves Bezerra de Castro as 
propriedades Cruzes e Oitizeiro, estabeleceu às margens do rio Coruripe, dando 
início à criação de gado na região. Seus netos e bisnetos povoaram as localidades 
de Cana-Brava (atualmente Taquarana) e Sítio Brejo, Boqueirão, Oitizeiro e Sítio 
Coité (atualmente Coité do Nóia). 
Depois que Basílio Estevão da Costa casou com Anna D’anunciação e Silva 
ele recebeu de herança de seu pai alguns bens, conforme o inventário de nº. 35 de 
1840 do Capitão Manoel Francisco da Silva18 o mesmo era possuidor de terras napovoação de Limoeiro, Goitizeiro e Pastos Secos, soma do monte deste inventario a 
quantia de 12:983$990 (doze contos, novecentos e oitenta e três mil e novecentos e 
noventa réis), o que caracteriza seu status na Vila de Anadia e na Província de 
Alagoas. Consta no inventário já citado de nº. 35 de 1840 do Cartório do Único 
Ofício de Limoeiro de Anadia, que Basílio Estevão da Costa recebeu de herança de 
seu pai; da terça parte dos bens a quantia de 171$856 (cento setenta e um mil 
oitocentos e cinqüenta e seis réis) classificados da seguinte forma, do remanescente 
da terça 37$631 (trinta e sete mil seiscentos e trinta e um réis). 
_____________________ 
18
 Inventário de nº. 35 de 1840 do Capitão Manoel Francisco da Silva. Cartório do Único Ofício de 
Limoeiro de Anadia. 
32 
 
 
 
O mesmo recebeu 209$487 (duzentos e nove mil, quatrocentos e oitenta e 
sete mil réis), recebeu o valor da escrava Izabel 99$830 (noventa e nove mil 
oitocentos e trinta réis), recebeu do valor da casa nesta Vila de Limoeiro 26$857 
(vinte e seis mil oitocentos e cinquenta e sete réis), recebeu de uma mesa da dita 
casa por $800 (oitocentos réis), recebeu das terras dos Pastos Secos 39$320 (trinta 
e nove mil trezentos e vinte réis), recebeu das terras do Goitizeiro 26$857 (vinte e 
seis mil oitocentos centos e cinquenta e sete réis). 
Basílio Estevão da Costa e Anna D’Annunciação e Silva constituíram uma 
família de 08 filhos, do qual veremos os nomes dos mesmos a seguir. 1º - Manoel 
Joaquim da Costa Zow; 2º - Alferes José Joaquim da Costa e Silva; 3º - Antônio 
Estevão da Costa; 4º - Maria da Conceição do Patrocínio; 5º - Ana Izabel da Costa, 
6º - Francisco Basílio da Costa; 7º - Raymundo Estevão da Costa e 8º - Josefa Maria 
da Conceição. 
 O processo de povoamento e de exploração das terras do sítio Coité partiu da 
formação desse casamento, onde um documento intitulado Ação de Força Nova que 
posteriormente será apresentado nas páginas 43-45, refere-se às derrubas das 
matas para a introdução da agricultura e para a criação de animais tanto cavalares 
como de corte. Existindo problemática entorno da família Nóia, se ela antes do 
casamento de Basílio com Anna já morava na região, de quem comprou ou recebeu 
as terras. Informações essas difíceis de desvendar pelo o abandono e destruição 
dos documentos seculares existentes nos cartórios e igrejas. Segundo o historiador 
francês e fundador dos Analles, Lucien Febvre: 
A história faz-se com documentos escritos, sem dúvida. Quando eles 
existem. Mas ela pode fazer-se, ela deve fazer-se sem documentos 
escritos, se os não houver. Com tudo o que o engenho do historiador pode 
permitir-lhe utilizar para fabricar o seu mel, à falta das flores habituais. 
Portanto, com palavras. Com signos. Com paisagens e telhas. Com formas 
de cultivo e ervas daninhas. Com eclipses da lua e cangas de bois. Com 
exames de pedras por geólogos e análises de espadas de metal por 
químicos. Numa palavra, com tudo aquilo que, pertence ao homem, serve o 
homem, exprime o homem, significa a presença, a actividade, os gostos e 
as maneiras de ser do homem. (FEBVRE: 1949, p. 249). 
Nessa perspectiva, o historiador tem que fazer uso de fontes diversas, não 
deixando se conformar com o documento contundente, mas tem que entrar no 
33 
 
 
 
mundo das possibilidades e da crítica documental, pois no processo historiográfico o 
documento é associado como fonte da memória coletiva, um rastro do passado no 
presente, cujo sentido é paradoxal, visto que seus anunciados científicos estarão 
abertos a questionamentos, pois pertencem ao campo da probabilidade. Assim, 
analisando o inventário de Basílio Estevão da Costa, estamos trilhando o rastro do 
passado e suas marcas e práticas. Após o falecimento de Basílio Estevão da Costa 
no dia 06 de junho de 1852 houve a partilha de uma parte dos bens, como veremos 
a seguir. No inventário de nº 32 do ano de 1852 de Basílio Estevão da Costa19, o 
Coronel João Cavalcante da Matta Nunes Primeiro Suplente do Juiz Municipal e 
Órfãos da Vila de Anadia, no dia 25 de Junho de 1852 mandou o oficial de Justiça 
Antonio Pedro da Silva, intimar no sítio Coité a viúva Anna D’anunciação e Silva 
para prestar juramento e dar a descrição aos bens deixados por seu finado marido 
sob pena da Lei. Quem escreveu o referido mandato foi o Escrivão Martiniano José 
Leite da Silva: 
Aos vinte e oito dias do mês de Junho do anno de mil oito centos e 
cincoenta e dois neste Sitio de Coite Termo da Villa de São João de Anadia 
Comarca de mesmo nome Provincia das Alagoas em casa da Viuva Anna 
da Anunciação Silva onde foi sendo o Primeiro Supplente de Juis Municipal 
e Orghaos o Coronel João Cavalcante da Matta Munes comigo Escrivão de 
seu cargo a baixo o asignado, e sendo a li presente a Viuva Anna da 
Anunciação e Silva que ficou de Basilio Esteves da Costa por elle juis lhe foi 
deferido o Juramento dos Santos Evangelhos em hum Livro delles em que 
tocou sua mão direita de baixo do qual ele encarregou que bem fielmente 
sendo ele, maliciava na sencao declarase o dia mês e anno que tinha 
falicido seu finado marido se tinha feito alguma desposeçam ventamentaria, 
quais seus erdeiros que lhe havião ficado que idade tinhao, e que dise a 
carregação todos os bens, sem ocultar alguns de baixo da pena de perder o 
direito que belles tiver pagar a dobro de sua valia, e sendo mesmo crime de 
perjura. E sendo por Ella aseito seu Juramento declarou que o direito seu 
Marido Basilio Esteves da Costa tinha falicido no dia seis do corrente mês e 
anno sem testamento algum deixando oito filhos. 
20 
 
No mesmo dia no Sítio Coité foi nomeado para ser o Curador da mesma o 
Major Antonio Thomas da Silva e Luis Carlos de Souza Barbosa para ser Curador 
dos filhos herdeiros de menores e José Francisco Vieira de Sampaio para assinar 
por aqueles que não sabiam ler. 
__________________________ 
19
 Inventário de nº 32 de 1852 de Basílio Estevão da Costa. Cartório do Único Ofício de Limoeiro de 
Anadia. 
20
 Inventário de nº 32 de 1852, p. 4-5 de Basílio Estevão da Costa. Cartório do Único Ofício de 
Limoeiro de Anadia. 
34 
 
 
 
Entre os bens deixados por Basílio Estevão da Costa consta no inventário de 
nº. 32 de 1852 do Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia, dinheiro: nada. 
Ouro: sendo 03 chapas, 12 varas de cordão de ouro e 02 redomas, 02 pares de 
brincos, 03 pares de argolas, prata: 01 par de argolas, 03 pentes, 16 colheres, 
5garfos e 01 par de estribos, cobre: 02 tachos, Ferro: 11 enxadas, 15 chocalhos, 08 
foices e 02 machados, Móveis: 03 engenhos de descaroçar algodão, 01 prensa de 
sacar lã, 01 aviamento de fazer farinha e 01 mesa grande com duas gavetas, Gado 
Vacum: 76 vacas, 09 novilhas, 27 garrotes, 17 bezerras, 03 novilhas e 11 bezerros, 
Animais Cavalares: 05 cavalos, 02 poltros, 04 animais fêmeas e 01 poltra, Escravos: 
42, Bens de Raízes: 02 casas de telha e taipa no sítio Coité,01 casa de telha e taipa 
no mesmo sítio que servia para prensa, 01 casa de telha e taipa no mesmo sítio que 
servia para aviamento de fazer farinha, 05 senzalas de telha e taipa, 01 casa de 
telha e taipa na Povoação de Limoeiro, 01 casa de telha e taipa na Vila de Anadia, 
01 sítio denominado Coité, 02 parte de terra no sítio Riacho do Sertão, 01 parte de 
terra na Povoação de Limoeiro, 01 parte de terras nas partes secas, 01 sítio 
denominado Recreio, 36 pares de Coqueiros. Vale ressaltar que na folha de nº. 48 
versos do dito inventário, consta 07 senzalas invés de 05. 
Os dados citados não podem servir para demonstração de fontes ou 
simplesmente para acumular, elas precisam ser questionadas e problematizadas, 
interligá-las com a memória de seus moradores, costumes e traçospresentes. 
Segundo Reis (2011): 
O acúmulo de fatos não acrescenta nada à ciência social. O historiador 
colecionador deve ser superado, pois não é cientista. Era preciso libertar a 
história do historiador tradicional e fazer uma história que interessasse o 
presente, uma “história teorizante”, problemática e não uma “história 
historiozante”, automática (SIMIAND,2003 Apud REIS, 2011,13.)
23
 
Os documentos e detalhamentos dos inventários contidos nesse trabalho 
serão objetos de análise na página 35 para melhor aprofundamento, pois não 
estamos discutindo apenas dados, e sim, traços de um passado, de um contexto 
social, que não pode ser questionado de forma passiva. 
 
__________________________ 
21
 Disponível em: 
<http://revistadeteoria.historia.ufg.br/uploads/114/original_Artigo%201,%20REIS.pdf?1325192313.> 
Acesso em: 29 de janeiro de 2014. 
35 
 
 
 
Para Febvre (1989) a “História ciência do Homem, e então os factos. Sim: 
mas são factos humanos; tarefa do historiador: encontrar os homens que os viveram 
e deles os que mais tarde aí se instalaram com suas ideias, para os interpretar”. 
(FEBVRE, 1989,24). 
O detalhamento dos bens de Basílio Estevão da Costa antes de ser fonte 
primária, surge de forma oculta e não escrita as ações humanas, mão de obra 
escrava, possivelmente a mão de obra indígena na obtenção dos mesmos. A 
quantidade de bens das famílias patriarcais caracteriza sua posição social, política, 
econômica, como também elementos para o entendimento socio-cultural de Coité do 
Nóia. 
A partilha dos bens de Basílio Estevão da Costa foi dividida a partir do 
juramento da inventariante, a viúva Anna da Anunciação e Silva, e entendimento do 
Juiz Municipal, o Coronel João Cavalcante da Matta Munes e dos partidores 
Domingos da Silva Dias e José Francisco Vieira de Sampaio. 
Acharão o Juis os Partidores que domadas estas nove quantias todas 
reunidas emportavão na quantia de quatorze contos oito centos e setenta e 
sete mil reis que sai fira a margem. Acharão que dividida esta quantia por 
duas partes e quais vinha caber cada hum a quantia de digo vinha a caber a 
Macão da Viuva inventariante cabeça de casal a quantia de sete contos 
quatro centos e trinta e oito mil reis que sai fira amargem digo e trinta e oito 
mil e quinhentos reis que daí amargem Acharão Juis e os Partidores que 
dividido so a outra metade em outra parte iquais por serem dito filhos vinha 
a pertencer a cada hum de sua legitima a quantia de nove contos vinte e 
nove mil oito centos e dose reis que daí fera a amargem. 
22 
 
Conforme se observa no detalhamento dos bens deixado pelo falecido, no 
inventário de nº. 32 de 1852 do Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia, 
evidencia o destaque que Basílio tinha no seio das elites agrárias e sua posição 
social. O mesmo possuía em prata a quantia de 54$600 (cinquenta e quatro mil e 
seiscentos réis) em obras de cobre a quantia de 16$000 (dezesseis mil réis) em 
obras de ferro a quantia de 16$200 (dezesseis mil e duzentos réis) em bens móveis 
a quantia de 49#000 (quarenta e nove mil réis) em Gado a quantia de 1:663$000 
(um conto seiscentos e sessenta e três mil réis). 
 
______________________________________ 
22
 Inventário de nº. 32 de 1852 – Basílio Estevão da Costa, p.45 Cartório do Único Oficio de Limoeiro 
de Anadia. 
36 
 
 
 
Em Animais Cavalares a quantia de 250$000 (duzentos e cinquenta mil réis), 
Bens de Raízes a quantia de 1:466$000 (um conto quatrocentos e sessenta e seis 
mil réis). O total dos valores dos escravos descritos neste Inventário foi de 
11:530$000 (onze contos quinhentos e trinta mil réis). Para a sustentação de um 
patrimônio desse tamanho era preciso possuir muita mão de obra, o que fica 
evidente na quantidade de escravos do mesmo. 
Podemos analisar o tamanho da importância da mão de obra escrava, quanto 
mais animais e produção, mais escravos era preciso para derrubar as matas abrindo 
espaço para a preparação da terra e plantação de pastagens para alimentação dos 
mesmos, cuidados rotineiros dos roçados de mandioca e algodão, como nos 
trabalhos internos dentro das casas de farinha e nos engenhos de descaroçar 
algodão. 
No Sítio Coité além das 7 senzalas pertencente a Basílio Estevão da Costa 
existia mais 04 casas de telha e taipa do mesmo proprietário. Ao analisarmos 
inventários de outros moradores do Sítio Coité não foi mencionada a existência de 
outras senzalas, o que evidencia que os escravos que trabalhavam nos roçados de 
Antonio da Exaltação Maia, do Capitão Antonio Sebastião da Silva e do Major 
Antonio Thomas da Silva dormiam nas senzalas de Basílio ou nas casas de farinha 
e nos engenhos de descaroçar algodão dos mesmos proprietários, juntos eles 
tinham 88 escravos. Algo que aproxima esses moradores era o grau de parentesco, 
pois Antonio da Exaltação Maia era irmão de Basílio e os demais eram primos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
 
 
TABELA I – RELAÇÃO DE ESCRAVOS DE BASÍLIO ESTEVÃO DA COSTA 
 
 
 Fonte: Inventário de nº 32 de 1852 – Basílio Estevão da Costa. Cartório do Único Ofício de Limoeiro 
de Anadia. 
 
Nº. NOMES COR IDADE VALOR NAÇÃO FILIAÇÃO 
1 Alexandre - 50 anos 400$000 - - 
2 Antonio Joaquim - 40 anos 400$000 Angola - 
3 Luiz - 40 anos 400$000 Angola - 
4 Joaquim - - 400$000 Angola - 
5 Pedro - - 400$000 Angola - 
6 José - - 400$000 Angola - 
7 Francisco - 40 anos 400$000 Angola - 
8 Martinho Criolo 40 anos 400$000 - - 
9 Raimundo - 15 anos 400$000 - - 
10 João Beirada - 60 anos 150$000 - - 
11 Domingos Criolo 10 anos 300$000 - Luiza 
12 João - 9 anos 300$000 - Luiza 
13 Miguel Criolo 8 anos 250$000 - Luiza 
14 Vicente - 5 anos 150$000 - Luiza 
15 Jacinto Criolo 3 anos 100$000 - Luiza 
16 Francisca - 8 anos 250$000 - Luiza 
17 Manoel Criolo 9 anos 300$000 - Thereza 
18 André Criolo 9 anos 300$000 - Thereza 
19 Estevão Criolo 5 anos 150$000 - Thereza 
20 Benedito Criolo 5 anos 150$000 - Thereza 
21 Antonio - 2 anos 80$000 - Thereza 
22 Matilde - 8 anos 250$000 - Thereza 
23 Luiza - 12 anos 400$000 - Thereza 
24 José - 10 anos 300$000 - Alexandrina 
25 Bernardino Mulato 16 anos 200$000 - Alexandrina 
26 Adeadato Criolo 6 anos 200$000 - Cartarina 
27 Sebastião Criolo 5 anos 200$000 - Cartarina 
28 Gonçalo Criolo 5 anos 150$000 - Cartarina 
29 Antonio Criolo 3 anos 100$000 - Cartarina 
30 Cacimiro - 2 anos 60$000 - Cartarina 
31 Madalena - 4 meses 50$000 - Cartarina 
32 Manoel Criolo 5 anos 150$000 - Pastora 
33 Martinho - 1 ano 60$000 - Pastora 
34 Marina Luiza - 50 anos 200$000 Angola - 
35 Thereza Criola 40 anos 280$000 - - 
36 Pastora Criola 28 anos 400$000 - - 
37 Cartarina - 25 anos 400$000 Angola - 
38 Alexandrina - 28 anos 400$000 - - 
39 Izabel Criola 16 anos 400$000 - - 
40 Luiza - 30 anos 400$000 Angola - 
41 Antonia - 36 anos 250$000 - - 
42 Joanna - 6 anos 200$000 - - 
38 
 
 
 
A tabela traz algumas informações que merecem destaque. A primeira é 
quantidade de escravos do Sr. Basílio Estevão da Costa. A segunda é a quantidade 
de filhos que tiveram as escravas Pastora, Cartarina, Alexandrina, Thereza e Luiza. 
As cinco mais os filhos somam 28 escravos dos 42 tabelados. O que caracteriza o 
estímulo à procriação para, na visão do senhor, aumentar seu “rebanho”. Todos os 
escravos eram solteiros. A relação de escravos do casal constitui como parte 
integrada a sua posição social na Província de Alagoas, pois quanto mais escravos 
o senhor possuía mais privilégios ele detinha. Precisa ser pesquisado sobre sua 
participação na política local, quanto à participação de seus filhos na povoação de 
Limoeiro, do qual o Sítio Coité estava policiadoe na Vila de Anadia. 
Consta no inventário de nº. 32 de 1852 do Cartório do Único Ofício de 
Limoeiro de Anadia, que depois do falecimento de Basílio a Inventariante e viúva 
Dona Anna D’Anunciação e Silva ficou com um montante de 7:438#500 (sete 
contos, quatrocentos e trinta e oito mil e quinhentos réis) dos 42 escravos ela ficou 
com 17 são eles: Alexandre, Antonio Joaquim, Luis, Joaquim, José, Martinho criolo, 
João Beirada, João, Moleque Martinho, Maria Luisa, Thereza, Pastora, Catharina, 
Alexandrina, Luisa, Antonia e Madalena. Entre os bens de raízes: 03 casas de telha 
e taipa no sítio Coité, sendo uma de morada, uma para servir para prensa e a outra 
onde se acha depositado o aviamento de farinha. Deram-lhe mais as partilhas para 
este pagamento, 07 (sete) senzalas de telhas e taipa no mesmo sítio. Deram-lhe 
mais as partilhas para este pagamento no valor do sitio Coité a quantia de 558#000 
(quinhentos e cinquenta e oito mil réis) uma parte no sítio denominado Riacho do 
sertão com casa de telha e taipa, uma parte de terras na Povoação de Limoeiro e 
outra parte das terras Pastos Secos. 
Consta no inventário de nº. 32 de 1852 do Cartório do Único Ofício de 
Limoeiro de Anadia, que o herdeiro Manoel Joaquim da Costa recebeu a quantia 
929$750 (novecentos e vinte e nove mil setecentos e cinquenta réis). Deram-lhe os 
Partidores para este pagamento 03 escravos: André, com idade de nove anos filho 
da escrava Thereza, Joanna, com idade de seis anos e Miguel, com idade de oito 
anos, filho da escrava Luiza, recebeu das terras do sítio Coité a quantia de 60$250 
39 
 
 
 
(sessenta mil duzentos e cinquenta réis) das terras parte seca a quantia de 3$500 
(três mil e quinhentos réis) e uma novilha. 
Consta no inventário de nº. 32 de 1852 do Cartório do Único Ofício de 
Limoeiro de Anadia que o herdeiro José Joaquim da Costa e Silva recebeu a quantia 
de 929$750 (novecentos e vinte e nove mil setecentos e cinquenta réis). Deram-lhe 
mais os Partidores para este pagamento no sítio Recreio 36 (trinta e seis) pés de 
Coqueiros. O Poldro alazão, duas vacas parideiras, uma novilha, terras do Limoeiro, 
uma bezerra, uma novilha e partes das terras da parte seca. 
A herdeira Maria da Conceição do Patrocínio recebeu a quantia de 929$750 
(novecentos e vinte e nove mil setecentos e cinquenta réis). Deram-lhe mais os 
Partidores para este pagamento, 03 escravos: Luiza com idade de 12 anos, filha de 
Thereza, Moleque Adeodato, com idade de 06 anos filho de Catharina, Moleque 
Jacinto, com idade de 03 anos, filho de Luiza. Deram mais os Partidores para este 
pagamento das terras do sítio Coité a quantia de 60#250 (sessenta mil duzentos e 
cinquenta réis), das terras pastos seco, terras da povoação de Limoeiro, duas varas 
de cordão de ouro, onze oitavas e meia, um par de brincos com duas oitavas, uma 
moeda de 6$400 (seis mil e quatro centos réis), quinhão da casa da Vila de Anadia, 
06 vacas parideiras, conforme o inventário de nº. 32 de 1852 do Cartório do Único 
Ofício de Limoeiro de Anadia. 
Conforme o mesmo inventário, a herdeira Anna Izabel da Costa recebeu a 
quantia de 929$750 (novecentos e vinte e nove mil setecentos e cinquenta réis). 
Deram-lhe os Partidores para este pagamento os escravos: Moleque Domingos com 
idade de 10 anos, filho de Luisa, Izabel com idade de 16 anos e o Moleque Gonçalo, 
com idade de 05 anos, filho Catharina. Recebeu das terras do sítio Coité a quantia 
de 10$250 (dez mil duzentos e cinquenta réis), terras na Povoação de Limoeiro, 
terras Pastos Seco, quatro vacas parideiras e um bezerro. 
O herdeiro Raimundo Esteves da Costa recebeu a quantia de 929$750 
(novecentos e vinte e nove mil setecentos e cinquenta réis). Deram-lhe os Partidores 
para este pagamento os escravos: Francisco de Angola, com idade de 40 anos, 
Moleque Vicente, com idade de 05 anos, filho de Luisa e o Moleque Cacimiro, com 
40 
 
 
 
idade de 02 anos, filho da escrava Catharina. Deram-lhe mais os Partidores para 
este pagamento na terra do sítio Coité, terras da Povoação de Limoeiro, uma casa 
de telha e taipa no sítio Coité, uma égua castanha, 06 vacas parideiras, 05 garrotas, 
uma novilha, quatro garrotes, uma novilha, 01 poltro castanho e 04 bezerros, 
informações contidas no inventário de nº. 32 de 1852 do Cartório do Único Ofício de 
Limoeiro de Anadia. 
No mesmo inventário consta que a herdeira Josefa Maria da Conceição 
recebeu a quantia de 929$750 (novecentos e vinte e nove mil setecentos e 
cinquenta réis). Deram-lhe os Partidores para este pagamento os escravos: Moleque 
Manoel, com idade de 09 anos, filho de Thereza, Moleca Francisca, com idade de 08 
anos, filha de Luisa e o Moleque Sebastião com idade de 05 anos, filho de 
Catharina. Deram-lhe mais os Partidores para este pagamento nas terras de Coité, 
terras na Povoação de Limoeiro, duas varas de cordão de ouro com doze oitavas, 
uma redoma de ouro fechada, um par de argolas de ouro, 03 vacas parideiras e 
partes das terras no Sítio Pastos Seco. 
O herdeiro Antonio recebeu a quantia de 929$750 (novecentos e vinte e nove 
mil setecentos e cinquenta réis). Deram-lhe os Partidores para este pagamento os 
escravos: Bernardino com idade de 05 anos, filho da escrava Alexandrina, Estevão 
com idade de 05 anos, filho de Thereza e Pedro de Angola, com idade de 22 anos. 
Deram-lhe mais os Partidores para este pagamento nas terras do sítio Coité, terras 
na Povoação de Limoeiro, terras dos Pastos Seco, 04 vacas parideiras, uma poldra 
castanha, quatro bezerras, duas novilhas e um bezerro. Conforme o inventário de nº. 
32 de 1852 do Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia. 
No mesmo inventário consta que o herdeiro Francisco recebeu a quantia de 
929$750 (novecentos e vinte e nove mil setecentos e cinquenta réis). Deram-lhe os 
Partidores para este pagamento os escravos: José, com idade de dez anos, filho de 
Alexandrina, Manoel com idade de cinco anos, filho de Pastora, Benedito com idade 
de cinco anos, filho de Thereza e Antonio, com idade de dois anos, filho da escrava 
Thereza. Deram-lhe mais os Partidores para este pagamento partes das terras do 
Sitio Coité, terras na Povoação de Limoeiro, casa da povoação de Limoeiro, e terras 
dos Pastos secos, seis vacas parideiras, uma égua, quatro bezerros e uma bezerra. 
41 
 
 
 
Mesmo tendo acontecido essa partilha em 1852, 07 anos depois existiu uma 
divergência da qual foi dado entrada em uma ação judicial tendo a viúva Anna 
D’Anunciação e Silva como requerente contra seu genro Pedro Dias da Silva Reis, 
Antonio Thomas da Silva e suas mulheres e o Antonio Thomaz da Silva, filho do 
mesmo. No dia 29 de novembro de 1859 foi nomeado o Doutor Serapião Euzebio 
d’Asumpção para ser procurador da viúva e o Professor Ignacio da Silva Moraes 
nomeado procurador de Pedro Dias da Silva Reis e de sua mulher Josefa Francisca 
da Costa. Podemos compreender melhor o andamento desse processo de nome 
Ação Força Nova nº 05 do ano de 1859, ação essa realizada na Vila de Anadia a 
seguir: 
Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo de mil oito centos e 
cincoenta e nove, aos seis dias do mez de Dezembro do dito anno nesta 
Villa de Anadia Comarca de mesmo nome Provincia das Alagõas em 
audiencia publica que fazia o Juis Municipal suplente o Capitão Manoel 
Teixeira Leite com a sistencia de mim escrivão Castro Jatubá i o Porteiro 
interino Carvalho, nella depois de haberta com as formalidades do estilo 
compareceu o Doutor Serapião Euzebio d’Asumpção na qualidade de 
procurador bastante de Dona Anna d’Anunciação Silva pediu a palavra e 
disse, que como parte de sua constituinte trazia citados, para a presente 
audiencia a [sic] Pedro Dias da Silva Reis e sua mulher, AntonioThomas da 
Silva e sua mulher, e Antonio Thomas da Silva Filho afim de falarem a 
acção de força nova, que lhe move e accuzava a citação e embargo feito 
contra os mesmos réos, e requeria que fossem apresados, e não 
comparecendo por si ou procurador, se tivesse a acção nova por proposta 
e a Embargo por acuzado arevelia dos mesmos, assim como que se 
concedese aos réos um termo para deduzirem a sua defeza e satisfazendo 
o porteiro de sua fé detem comparecido os réos por seu procurador o 
Professor Ignacio da Silva Moraes, e por este foi dito nada requeria por ter 
alcançada vista da mesma citação e embargo, o que visto e ouvido pelo dito 
Juis e informado dos termos da cauza de mim escrivão deferio o 
requerimento do autor. E para constar fis Ester Termo por te tomada no 
Protocolo das audiencias, ao qual me reposto em meu puder e cartório. Eu 
José Vicente de Castro Jatubá escrivão descrevi digo e cartorio, no qual 
junto a petição inicial, mandado, Procuração bastante de compra de terras 
que adiante seve. Eu José Vicente de Castro Jatubá escrivão escrevi.
23
 
 
 Anna D’anunciação e Silva ficou com a parte norte região denominada 
Mumbuca24 e os filhos e genros com a parte sul, seu genro Pedro Dias da Silva Reis 
concedeu uma parte de terra do sítio Coité ao seu cunhando o Major Antonio 
Thomaz da Silva e ao seu filho. 
 
__________________________ 
23 
Ação
 
Força Nova, nº. 05 de 1859, p.1. Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia. 
24 Idem, p.34 
42 
 
 
 
Segundo Anna d’Anunciação e Silva complementa “moradores no mmo citio 
Coité, e comessarão a brocar um pedaço de matta virgem, que fica dentro da 
comprenhensão da posse da suppe. por ficar sua estrema do lado do norte.”25 
A mesma ainda diz que era possuidora da meação do dito sítio há mais de 20 
anos sem interrupção, desde o falecimento de Basílio Estevão da Costa. Como 
veremos a seguir: 
Dis D.Anna d’Anunciação Silva, moradora no citio Coite deste Termo, e que 
ella é senhora e possuidora da meiação deste m
esmo 
citio por fallecimen
to
 de 
seo marido Basilio Estevão da Costa, e da qual está de posse ha mais de 
vinte annos sem interrupção, ou constrangemento de pessoa alguma; a qual 
posse fica no lado do Norte do referido “sic” Coité, como todos os herdeiros 
são sabedores, tanto que a te o prezente e tem respeitado, e são concordes 
em affimar esta verdade; agora porem acontece que em principio do corr
te 
 
mez, seo genro Pedro Dias da S
a
 Reis, por odio que vota a supp.
e
, e pelo 
seu genro ambiciozo e turbulento, e com o fim de esbulhar a supp.
e 
da sua 
já refferida posse tractou de faser uma broca em uma matta virgem, que fica 
dentro da comprehenção da posse da supp.e não satisfeito com este 
procedimento injusto, e violento concedeo faculd.
e
 a seo cunhado Antonio 
Thomas da S
a
, e a um f
o
 deste do mesmo nome, isto Antonio Thomas da S
a
, 
p
a
. trabalharem em dita matta de manr
a
. que estes de no.
me 
modo abrirão 
dous grande rossados reunidos ao do seo citado genro, vindo assim a ficar 
as rossas e serviços da supp
e
. rodeados pelos dos supplicados, e dentro 
d’um circulo, donde não pode mais [sic] fazendo-lhe assim uma verdadeira 
força, e estu lhe, e perturbando-a, sem [sic] de que a suppe. sempre esteve 
na posse deste logar: ora, como a sppe. Tenha certeza do amparo, que as 
lei dão ao possuidor.
 26 
Na fala da viúva o motivo de tal acontecimento partiu do sentimento de ódio 
de Pedro Dias, do qual a chama de ambicioso e turbulento, complementa que a 
atitude de conceder terras ao Major Antonio Thomas era injusta e violenta. Pois os 
mesmos já tinham feitos dois grandes roçados. Mas, podemos analisar que a briga 
não se resumia em sentimento de ódio, mas, no interesse de posse das terras por 
ela ser boa para agricultura, dentre outros fatores, como pela existência de várias 
nascentes e dos riachos do Coité e Cabaços. 
No dia 29 de Novembro de 1859, o Capitão Manoel Teixeira Leite, Juiz 
Municipal e Delegado de Policia da Vila de Anadia, mandou o escrivão José Vicente 
de Castro Jatubá escrever uma petição e por ele rubricado para que a mesma fosse 
entregue a qualquer oficial de Justiça daquela jurisdição para ir até o sítio Coité inti- 
_____________________ 
25 
Ação
 
de Força Nova, nº. 05 de 1859, p.05. Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia. 
26
 Idem, p.02. 
43 
 
 
 
mar Pedro Dias da Silva Reis, e sua mulher, Antonio Thomas da Silva e sua mulher 
e Antonio Thomas da Silva, filho, afim de que abrissem mão das terras em que se 
achavam brocando no sítio Coité. O genro Pedro Dias contesta dizendo que “todo o 
danno q possa receber q tal procedimto, visto q já na da. derruba tem empregado 
quatrocentos dias de serviços – em q tem gasto 400#000 rs quatrocentos mil reis.” 27 
Pedro Dias da Silva Reis anexou ao processo uma contestação contra Anna 
d’Anunciação Silva, contendo cinco alegações defendidas pelo Procurador dos 
contestantes Ignacio da Silva Moraes. Como observa-se. 
 P.P q é menos exacto q as terras do sitio Coité [...] fossem em tempo 
algum divididas, e maximo depois da morte e partilhas dos bens d’este, e q
r 
cuja demarcação ficasse a A. contestada [...] ficando ella p
a
 o lado do norte, 
e os demais herdeiros q a do sul; q
r
 q
to
. sempre nas m
mas
 terras 
intestinctam
e
. roçarão e trabalharam não só os Constestantes como os 
demais herdeiros e seus filhos e genros.
 28
 
Assim, configura-se que não apenas o casal trabalhava nas terras do sítio 
Coité como vários outros filhos da viúva e genros, a alegação caracteriza a não 
divisão das terras mesmo depois da morte de Basílio Estevão da Costa. 
P.P. q não tendo a contestada posse distincta em d
as 
 terras (imbora d’ellas 
meeira) q
r
 se achava em commum com todos os herdr
os 
seos f
os
. e genros 
[...] com igual dir
to
 ao de seu pai e sogro o d
o
 finado, a q
m
. representão 
como se vivo fosse, e de q
m
. houverão q
r
 legitima, nas m
mas
 terras a q
ta
 de 
60#250 reis, como se prova q
ta
 cert
am
 de partilhas junta [sic] em uma de 
suas verbas – é claro q. nenhuma força e nem esbulho commetterão os 
Constestantes com a roçajem q estão fasendo na propriedade de seu pai e 
sogro, na parte q q
e
 legitima lhes tocou, e onde tem todo direito e posso 
cível e natural –e trabalhão desde 1857. 29 
 
O procurador alega que todos os filhos e genros têm direitos comuns a 
respeito das ditas terras, conforme a certidão de partilha, referindo-se as partilhas do 
inventário de n.132/185230 onde sua cliente Josefa Francisca da Costa ficou com 
partes do sítio Coité avaliado em 60$250 (sessenta mil, duzentos e cinquenta réis), e 
o mesmo procurador garante que o casal não perderá a posse de um bem que 
conseguiu e valorizou. 
 
__________________________ 
27 
Ação de Força Nova nº. 05 de 1859, p. 09. Cartório de Único Ofício de Limoeiro de Anadia.
 
28 
Idem, p.14 
29 
Idem, p.14
 
30
 Inventário nº. 132 de 1852, Anna d’Annunciação e Silva, Cartório do Único Oficio de Limoeiro de 
Anadia. 
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P.P q sendo o solo das terras em questão bastantem
e
. extenso – os 
constestantes escolherão, ha dous annos, uma parte d’este, ao lado do 
poente, que se achava effectivam
e
. desocupado, na distancia de quase uma 
legoa da casa de sua mãi e sogra a m
ma 
constestada, e ahi principiarão a 
trabalhar, sem contradicção de ninguém; e só este anno, foi q a contestada, 
se duvidas q
ta
. ambição e máos conselhos de seus filhos, os próprios irmãos 
e Cunhados dos contestantes, lembrou-se de, com falsas e frívolas 
allegações, embargar a roça q estão fasendo,

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