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Belo Horizonte 2015 MARCÍLIO DA SILVA FERREIRA FILHO RODRIGO MEDEIROS DE LIMA Coordenadores Prefácio Maurício Zockun EXECUÇÃO FISCAL TEORIA, PRÁTICA E ATUAÇÃO FAZENDÁRIA (Redigido considerando o Novo Código de Processo Civil) RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 3 31/03/2015 09:50:48 © 2015 Editora Fórum Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio eletrônico, inclusive por processos xerográficos, sem autorização expressa do Editor. Conselho Editorial Adilson Abreu Dallari Alécia Paolucci Nogueira Bicalho Alexandre Coutinho Pagliarini André Ramos Tavares Carlos Ayres Britto Carlos Mário da Silva Velloso Cármen Lúcia Antunes Rocha Cesar Augusto Guimarães Pereira Clovis Beznos Cristiana Fortini Dinorá Adelaide Musetti Grotti Diogo de Figueiredo Moreira Neto Egon Bockmann Moreira Emerson Gabardo Fabrício Motta Fernando Rossi Flávio Henrique Unes Pereira Floriano de Azevedo Marques Neto Gustavo Justino de Oliveira Inês Virgínia Prado Soares Jorge Ulisses Jacoby Fernandes Juarez Freitas Luciano Ferraz Lúcio Delfino Marcia Carla Pereira Ribeiro Márcio Cammarosano Marcos Ehrhardt Jr. Maria Sylvia Zanella Di Pietro Ney José de Freitas Oswaldo Othon de Pontes Saraiva Filho Paulo Modesto Romeu Felipe Bacellar Filho Sérgio Guerra Luís Cláudio Rodrigues Ferreira Presidente e Editor Coordenação editorial: Leonardo Eustáquio Siqueira Araújo Av. Afonso Pena, 2770 – 16º andar – Funcionários – CEP 30130-007 Belo Horizonte – Minas Gerais – Tel.: (31) 2121.4900 / 2121.4949 www.editoraforum.com.br – editoraforum@editoraforum.com.br M383e Ferreira Filho, Marcílio da Silva. Execução fiscal: teoria, prática e atuação fazendária. Coordenação: Marcílio da Silva Ferreira Filho; Rodrigo Medeiros de Lima – 1 ed. – Belo Horizonte: Fórum, 2015. 310p. ISBN 978-85-450-0058-7 1. Direito Processual Civil. 2. Direito Público. I. Título. II. Ferreira Filho, Marcílio da Silva. CDD: 347.05 CDU: 347.9 Informação bibliográfica deste livro, conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT): FERREIRA FILHO, Marcílio da Silva; LIMA, Rodrigo Medeiros de (Coords.). Execução fiscal: Teoria, prática e atuação fazendária. 1. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2015. 310p. RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 4 31/03/2015 09:50:48 Os que disseram que uma cega fatalidade produziu todos os efeitos que vemos no mundo disseram um grande absurdo; pois que maior absurdo há do que uma fatalidade cega que tivesse produzido seres inteligentes? Há, pois, uma razão primitiva; e as leis são as relações que se encontram entre essa razão e os diversos seres, e as relações desses diversos seres entre si. (MONTESQUIEU, Charles de Secondat. Do espírito das leis. São Paulo: Martin Claret, 2010) RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 5 31/03/2015 09:50:48 LISTA DE ABREVIATURAS ADI – Ação Direta de Inconstitucionalidade AgRg – Agravo Regimental AI – Agravo de Instrumento BACEN – Banco Central CC – Código Civil CDA – Certidão de Dívida Ativa CJF – Conselho da Justiça Federal CF – Constituição Federal CPC – Código de Processo Civil CTN – Código Tributário Nacional DCFT – Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais DF – Distrito Federal EC – Emenda Constitucional EPP – Empresa de Pequeno Porte FGTS – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço GIA/ICMS – Guia de Informação e Apuração do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços de Transporte Interestadual, Intermunicipal e de Comunicação LC – Lei Complementar LEF – Lei de Execuções Fiscais ME – Microempresa MS – Mandado de Segurança NCPC – Novo Código de Processo Civil ORTN – Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional PLS – Projeto de Lei do Senado RE – Recurso Extraordinário RESP – Recurso Especial RMS – Recurso Ordinário em Mandado de Segurança SELIC – Sistema Especial de Liquidação e de Custódia STF – Supremo Tribunal Federal STJ – Superior Tribunal de Justiça TCU – Tribunal de Contas da União TFR – Tribunal Federal de Recursos TRF – Tribunal Regional Federal RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 7 31/03/2015 09:50:49 SUMÁRIO PREFÁCIO Maurício Zockun ...............................................................................................15 NOTA DOS COORDENADORES Marcílio da Silva Ferreira Filho, Rodrigo Medeiros de Lima ...........17 CAPÍTULO 01 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À EXECUÇÃO FISCAL LEANDRO EDUARDO DA SILVA ...................................................................19 1.1 Considerações .........................................................................................19 1.2 Princípio do contraditório.....................................................................20 1.3 Princípio da efetividade ou do resultado ...........................................22 1.4 Princípio da menor onerosidade..........................................................26 1.5 Princípio da responsabilidade patrimonial ........................................27 1.6 Princípio da boa-fé ................................................................................28 1.7 Princípio do desfecho único .................................................................31 1.8 Princípio da disponibilidade ................................................................32 1.9 Princípio da autonomia .........................................................................33 1.10 Princípio da cooperação ........................................................................34 Referências ..............................................................................................35 CAPÍTULO 02 COMPETÊNCIA E LEGITIMIDADE ALEXANDRE PEREIRA PINHEIRO ................................................................37 2.1 Competência jurisdicional para processar e julgar a execução fiscal .........................................................................................................37 2.1.1 Regra geral ..............................................................................................38 2.1.2 Tópicos específicos sobre competência em execução fiscal .............43 2.1.2.1 Execução contra entes federados .........................................................43 2.1.2.2 Execução fiscal e juízo universal ..........................................................46 2.1.2.3 Execução de conselhos profissionais ...................................................47 2.1.2.4 Execução de multas trabalhistas ..........................................................48 2.1.2.5 Execução de FGTS ..................................................................................49 2.1.2.6 Execução de multas eleitorais e criminais ..........................................50 2.1.2.7 A questão da competência delegada ...................................................52 2.2 Legitimidade na execução fiscal ..........................................................53 RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 9 31/03/2015 09:50:49 2.2.1 Legitimidade ativa .................................................................................54 2.2.1.1 Disposições da LEF ................................................................................54 2.2.1.2 O caso da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) ........55 2.2.1.3 Execução de decisão proferida por Tribunal de Contas ...................56 2.2.1.4 Execução fiscal promovida por conselhos profissionais ..................58 2.2.1.5 O caso do SIMPLES Nacional ...............................................................60 2.2.2 Legitimidade passiva .............................................................................61 2.2.2.1 Regra geral ..............................................................................................612.2.2.2 Redirecionamento da execução fiscal ..................................................64 2.2.2.3 A Fazenda Pública como ré na execução fiscal ..................................70 Referências ..............................................................................................71 CAPÍTULO 03 GARANTIAS E PRIVILÉGIOS DA FAZENDA PÚBLICA NA EXECUÇÃO FISCAL MARCELLA PARPINELLI MOLITERNO .......................................................73 3.1 Explicações iniciais.................................................................................73 3.2 Garantias e privilégios do crédito público .........................................74 3.2.1 Aspectos materiais .................................................................................76 3.2.1.1 Responsabilidade pessoal .....................................................................76 3.2.1.2 Preferência de pagamento sobre quaisquer créditos ........................78 3.2.1.3 Autonomia do executivo fiscal .............................................................81 3.2.1.4 Presunção de fraude ..............................................................................85 3.2.1.5 Art. 185-A: a indisponibilidade de bens e direitos ............................85 3.2.1.6 Exigência de prova de quitação de tributos – garantias indiretas ..89 3.2.1.7 Ação cautelar fiscal – indisponibilidade de bens ..............................91 3.2.1.8 Arrolamento administrativo de bens ..................................................91 3.2.2 Aspectos processuais .............................................................................92 3.2.2.1 Constituição unilateral do título executivo ........................................92 3.2.2.2 Emenda e substituição da CDA ...........................................................93 3.2.2.3 Cancelamento da inscrição em dívida ativa .......................................95 3.2.2.4 Suspensão do prazo prescricional com a inscrição em dívida ativa ..........................................................................................................97 3.2.2.5 Interrupção da prescrição .....................................................................98 3.2.2.6 Independência do executivo fiscal e impossibilidade de discussão concomitante em instância administrativa e judicial ......98 3.2.2.7 Exigência de garantia para oposição de embargos à execução .......99 3.3 Prerrogativas judiciais dos procuradores públicos na execução fiscal .......................................................................................................100 3.3.1 Intimação pessoal .................................................................................100 3.3.2 Isenção de custas ..................................................................................102 3.3.3 Responsabilidade dos auxiliares da justiça e prazos peremptórios para a prática de atos pelo oficial de justiça ............103 Referências ............................................................................................103 RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 10 31/03/2015 09:50:49 CAPÍTULO 04 ASPECTOS INICIAIS DA EXECUÇÃO FISCAL LÁZARO REIS PINHEIRO SILVA ..................................................................105 4.1 A tutela executiva, o crédito e o título executivo que lastreia a execução fiscal ...................................................................................105 4.2 A presunção de liquidez, certeza e exigibilidade da CDA ............111 4.3 Cumulação e reunião de execuções fiscais contra um mesmo devedor ..................................................................................................114 4.4 Extinção da execução fiscal em decorrência do pequeno valor inscrito em dívida ativa .......................................................................117 4.5 Protesto da CDA e mecanismos alternativos de cobrança do crédito nela consubstanciado .............................................................117 4.6 Posturas do juiz diante da petição inicial de execução fiscal. Efeitos do despacho inicial. Reconhecimento ex officio da prescrição ..............................................................................................119 4.7 Isenção de custas ..................................................................................127 4.8 Modalidades de citação do executado ..............................................128 4.9 Substituição ou emenda da CDA durante o curso da execução fiscal .......................................................................................................133 Referências ............................................................................................137 CAPÍTULO 05 MOTIVOS SUSPENSIVOS DA EXECUÇÃO FISCAL ANA CAROLINA ANDRADE CARNEIRO ..................................................139 5.1 Colocações iniciais ...............................................................................139 5.2 Causas materiais de suspensão da execução fiscal .........................142 5.2.1 Moratória ...............................................................................................142 5.2.2 Parcelamento do crédito tributário ....................................................144 5.2.3 Depósito do montante integral do crédito tributário .....................147 5.2.4 As reclamações e os recursos nos termos das leis reguladoras do processo administrativo tributário ..............................................149 5.2.5 Concessão de medida liminar em mandado de segurança e a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada em outras espécies de ação judicial..........................................................151 5.3 Causas processuais de suspensão da execução fiscal .....................153 5.3.1 Recebimento dos embargos do devedor com efeito suspensivo ...153 5.3.2 Suspensão da execução fiscal nos termos do art. 40 da LEF ..........155 5.3.3 Baixo valor do crédito exequendo .....................................................158 Referências ............................................................................................158 CAPÍTULO 06 MOTIVOS EXTINTIVOS DA EXECUÇÃO FISCAL MARCELO BORGES PROTO DE OLIVEIRA ..............................................161 6.1 Pontos iniciais .......................................................................................161 RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 11 31/03/2015 09:50:49 6.2 Pagamento .............................................................................................166 6.3 Compensação ........................................................................................167 6.4 Transação...............................................................................................170 6.5 Remissão ................................................................................................172 6.6 Decadência e prescrição ......................................................................174 6.6.1 Prescrição intercorrente .......................................................................178 6.7 Conversão do depósito em renda ......................................................180 6.8 Pagamento antecipado e homologação do lançamento .................181 6.9 Consignação em pagamento julgada procedente............................181 6.10 Decisão administrativa irreformável .................................................183 6.11 Decisão judicial passada em julgado .................................................183 6.12 Dação em pagamento ..........................................................................184 6.13 Cancelamento da inscrição em dívida ativa .....................................184 6.14 Abandono ..............................................................................................185Referências ............................................................................................187 CAPÍTULO 07 A DEFESA DO EXECUTADO E PECULIARIDADES RECURSAIS MARCÍLIO DA SILVA FERREIRA FILHO ...................................................189 7.1 Separação didática introdutória .........................................................189 7.2 Instrumentos de defesa do executado ...............................................189 7.2.1 Defesas endoprocessuais.....................................................................192 7.2.1.1 Embargos à execução ...........................................................................192 7.2.1.1.1 Cabimento, exigência de garantia e aspectos processuais .............194 7.2.1.1.2 Os efeitos dos embargos......................................................................202 7.2.1.2 Exceção de pré-executividade ............................................................205 7.2.1.2.1 Caracterização no direito nacional, cabimento e aspectos processuais ............................................................................................205 7.2.1.2.2 Efeitos da exceção ................................................................................209 7.2.2 Defesas heterotópicas e suas peculiaridades no executivo fiscal .......................................................................................................211 7.2.2.1 A ação anulatória .................................................................................212 7.2.2.2 O mandado de segurança ...................................................................216 7.3 Peculiaridades recursais em sede de execução fiscal ......................219 Referências ............................................................................................222 CAPÍTULO 08 PROCEDIMENTOS EXPROPRIATÓRIOS DE BENS DO EXECUTADO GUSTAVO ROBERTO CARMINATTI COELHO ........................................225 8.1 Premissas iniciais .................................................................................225 8.2 Da execução fiscal perante o sistema processual civil ....................226 8.3 Das fases anteriores à expropriação patrimonial do devedor .......227 8.3.1 Da penhora ............................................................................................227 8.3.2 Da avaliação de bens ...........................................................................229 8.4 Das modalidades e procedimentos da expropriação de bens .......231 RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 12 31/03/2015 09:50:49 8.4.1 Da adjudicação .....................................................................................233 8.4.2 Da alienação por iniciativa particular ...............................................235 8.4.3 Da alienação em hasta pública ...........................................................238 8.4.4 O usufruto de bens móveis e imóveis ...............................................239 8.5 Algumas considerações finais ............................................................242 Referências ............................................................................................243 CAPÍTULO 09 PROCEDIMENTOS FRAUDULENTOS E CONTORNOS JURÍDICOS GUILHERME RESENDE CHRISTIANO .......................................................245 9.1 Considerações introdutórias ..............................................................245 9.2 Instituição, pelo devedor, de cláusula de inalienabilidade ou impenhorabilidade ...............................................................................246 9.3 Depósitos em poupança no valor de até quarenta salários-mínimos em momento posterior à inadimplência, desvirtuamento da conta poupança e existência de mais de uma conta com esta natureza .............................................................247 9.4 Depósitos em cooperativas de crédito com a finalidade de se esquivar da utilização da penhora online via sistema Bacen Jud ...251 9.5 Bem de família ofertado ......................................................................253 9.6 Alienação fraudulenta .........................................................................259 9.6.1 Fraude contra credores ........................................................................260 9.6.2 Fraude à execução ................................................................................264 9.6.3 Atos de disposição de bem penhorado .............................................268 Referências ............................................................................................269 CAPÍTULO 10 A EXECUÇÃO FISCAL E OS PROCEDIMENTOS DE FALÊNCIA, RECUPERAÇÃO JUDICIAL E INVENTÁRIO RODRIGO MEDEIROS DE LIMA ..................................................................271 10.1 Considerações introdutórias ..............................................................271 10.2 Execução fiscal e falência ....................................................................273 10.2.1 A falência ...............................................................................................273 10.2.2 Legitimidade da massa falida para figurar no polo passivo da execução fiscal .................................................................................274 10.2.3 Impossibilidade do redirecionamento da execução fiscal em face do sócio-gerente pelo só fato da decretação da falência da sociedade empresária devedora ...................................................278 10.2.4 Subordinação da satisfação do crédito exequendo ao procedimento da falência ....................................................................279 10.2.5 Impossibilidade da arrematação pela Fazenda Pública de bem do falido penhorado em execução fiscal ...........................................281 10.2.6 Habilitação do crédito da Fazenda Pública em falência .................281 10.2.7 Questão correlata: ilegitimidade da Fazenda Pública para o requerimento da falência ....................................................................282 RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 13 31/03/2015 09:50:49 10.3 Execução fiscal e recuperação judicial ..............................................287 10.3.1 A recuperação judicial e a exigência da regularidade fiscal do empresário .......................................................................................287 10.3.2 Dispensa da exigência de regularidade fiscal ..................................288 10.3.3 Restrição à adoção de atos de constrição e alienação de bens em face do devedor em recuperação judicial ...................................292 10.4 Execução fiscal e inventário ................................................................296 10.4.1 O inventário ..........................................................................................296 10.4.2 Legitimidade do espólio para figurar no polo passivo da execução fiscal ......................................................................................297 10.4.3 Impossibilidade do redirecionamento da execução fiscal ao espólio quando não aperfeiçoada a citação antes da morte do devedor ............................................................................................299 10.4.4 Penhora de bens do espólio x penhora no rosto dos autos do inventário ..............................................................................................303 10.4.5 Habilitação do crédito da Fazenda Pública em inventário ............304 10.4.6 Insolvência do espólio .........................................................................305 Referências ............................................................................................306 SOBRE OS AUTORES ..........................................................................................309RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 14 31/03/2015 09:50:49 PREFÁCIO A tutela do interesse público impregna todas as ações estatais, pois não pode haver um agir estatal dessincronizado da fidalga perse- cução do bem comum. A execução fiscal se perfila dentre os instrumentos contempla- dos pela ordem jurídica tendente a, forçadamente, obrigar sujeitos de direito ao cumprimento de certas obrigações pecuniárias em prol de entidades cujos créditos, porque volvidos à consecução de finalidades públicas, merecem singular tratamento jurídico-positivo. Passados mais de três décadas da sua edição, a Lei de execução fiscal continua despertando a merecida atenção dos operadores do di- reito. Aliás, enquanto permanecer em vigor, sempre merecerá a atenção da comunidade jurídica. Isso porque a passagem do tempo não petrificou o sentido, con- teúdo e alcance de suas disposições. Diversamente, como suas prescri- ções normativas integram o sistema jurídico-positivo, cujos princípios norteadores são reinterpretados e redimensionados pela evolução da sociedade e pela mutação da ordem jurídica, a parte não pode ser exa- minada descolada do todo normativo ao qual se encontra associada. Esta é a invulgar virtude da obra em apreço: assinala ao leitor o reenquadramento de temas capilares da Lei de Execução Fiscal aos atuais paradigmas jurídico-positivos. E como é muito próprio aos juristas talentosos e jovens de alma, categoria na qual estão inseridos todos os autores desta obra coletiva, o espírito contestador lhes serve de norte, o que torna o exame dos temas abordados ainda mais atraente e palpitante. Não sem razão, é marca constante em todos os textos o cotejo entre os institutos próprios da execução fiscal e os princípios constitu- cionais que lhe servem norte e suporte normativo. Daí porque a aurora da obra se inicia, justamente, com um texto que se dedica aos princípios aplicáveis à execução fiscal. Sem embargo, há invulgar preocupação com a coordenação dos preceitos da Lei de Execução Fiscal aos novos e sedimentados preceitos normativos que, reinterpretados, dão à obra enfoque moderno e atual contribuindo, por isto mesmo, para grande ilustração dos seus leitores. RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 15 31/03/2015 09:50:49 16 MARCÍLIO DA SILVA FERREIRA FILHO, RODRIGO MEDEIROS DE LIMAEXECUÇÃO FISCAL – TEORIA, PRÁTICA E ATUAÇÃO FAZENDÁRIA É esta obra que tive o prazer de ler e que, agora, é apresentada aos afortunados leitores. Tenham todos uma leitura enriquecedora e esclarecedora. Maurício Zockun Professor de direito administrativo da PUC-SP. Doutor em direito administrativo da PUC-SP. Mestre em direito tributário pela PUC-SP. RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 16 31/03/2015 09:50:49 NOTA DOS COORDENADORES É com grande satisfação que finalizamos os trabalhos deste livro, objeto de uma atividade conjunta entre os Procuradores de Estado de Goiás, que atuam especificamente com execução fiscal. O escopo prin- cipal foi permitir a colheita de experiências profissionais, bem como o aprofundamento teórico individual de cada escritor, considerando os capítulos específicos que lhes foram atribuídos. No que concerne ao caro leitor, nossa intenção foi formar uma obra que permita uma consolidação dos conhecimentos jurídicos no âmbito da execução fiscal, possibilitando a leitura por profissionais, ju- ristas, pessoas que buscam aprovação em concursos, processos seletivos, OAB, entre outros. De certo, o estudo não foi direcionado a um leitor específico, mas, sim, para permitir o acesso universal aos conhecimentos transferidos, independentemente do objetivo do nosso destinatário. Sem dúvidas, a execução fiscal é tema que, na contemporaneida- de, vem sofrendo cada vez mais controvérsias, seja pela desatualização de sua legislação, seja pelos inovadores posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais diante do intensificado fenômeno da constituciona- lização do direito. Por isso, dispensam-se maiores aprofundamentos relativos à importância do objeto de estudo. Neste livro, contamos com a participação de procuradores que passaram por experiências em Procuradorias Regionais da Procuradoria Geral do Estado de Goiás (PGE-GO), atuando especificamente com a execução fiscal de determinadas regiões do Estado. Também contamos com a participação de dois procuradores lotados em especializadas em Goiânia: Leandro Eduardo da Silva e Guilherme Resende Christiano. No contexto geral, é importante registrar que os Procuradores lotados nas Regionais detinham a responsabilidade de condução de todos os processos concentrados em sua abrangência, numa espécie de verdadeira gestão jurídica e administrativa. Não por menos, as experiências profissionais e, principalmente, teóricas advindas desta designação foram relevantíssimas para a formação do presente livro. Na estrutura da obra, contamos com dez capítulos, excluída a introdução, os quais foram divididos exatamente entre dez Procu- ra dores. Tentou-se abranger o assunto de maneira mais completa RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 17 31/03/2015 09:50:49 18 MARCÍLIO DA SILVA FERREIRA FILHO, RODRIGO MEDEIROS DE LIMAEXECUÇÃO FISCAL – TEORIA, PRÁTICA E ATUAÇÃO FAZENDÁRIA possível, passando, especialmente, por questões que focam na atuação da Fazenda Pública em juízo. É de se ressaltar que, independentemente da função desempe- nhada pelos autores como advogados públicos, os posicionamentos e estudos elencados no presente livro foram desenvolvidos com impar- cialidade acadêmica. Nesse sentido, cada autor foi orientado pela liber- dade do seu posicionamento, independentemente da função relativa ao seu cargo, até porque boa parte dos autores, além de Procuradores, são também advogados, dada a permissividade do estatuto jurídico aplicável à categoria. Assim sendo, inobstante o posicionamento se mostre favorável ou desfavorável à Fazenda Pública, os pontos de vistas foram expostos com isenção, de maneira a permitir o aprofundamento do leitor sobre o tema sem quaisquer desvios. Por óbvio, a atuação do Estado nos executivos fiscais foi ponto fundamental do estudo, de maneira que a observação de suas posturas no processo teve pontuações especiais, inclusive com perspectivas das atuações dos autores. Atentamos ao leitor ainda que, por vezes, é possível perceber que os capítulos e as explicações se voltam à execução fiscal de créditos tributários. Apesar de cediço que o referido procedimento também abrange a execução de créditos não tributários, a importância e as peculiaridades que a execução daqueles remonta gera necessidade de atenção especial, até porque o maior quantitativo deles advém. Na totalidade, a obra permite o enfrentamento das questões doutrinárias e jurisprudenciais mais contundentes da execução fiscal, focando na atuação fazendária, o que nos permite concluir o trabalho com bastante satisfação e orgulho. Desejamos a todos uma ótima leitura. Marcílio da Silva Ferreira Filho Rodrigo Medeiros de Lima Coordenadores RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 18 31/03/2015 09:50:49 CAPÍTULO 01 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À EXECUÇÃO FISCAL LEANDRO EDUARDO DA SILVA 1.1 Considerações A execução fiscal, disciplinada pela Lei nº 6.830 (LEF), de 22 de setembro de 1980, e, subsidiariamente, pelo CPC, naquilo que é com- patível com as regras gerais dos demais modelos executivos (art. 1º, da LEF),1 é espécie de execução de título extrajudicial, representada por certidão de dívida ativa (CDA). Como em qualquer arcabouço legislativo, possui princípios que orientam as notas características de seus procedimentos e institutos. Tanto que Araken de Assis afirma que: “no processo de execução [...], itinerários exteriores também revelam princípios, evidentemente cali- brados à natureza da respectivafunção judicial”.2 Contudo, isso não autoriza dizer que os princípios que discipli- nam os processos de conhecimento e cautelar não se aplicam ao pro- cesso de execução, mas tão somente que o módulo executivo detém princípios típicos.3 1 Art. 1º - A execução judicial para cobrança da Dívida Ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e respectivas autarquias será regida por esta Lei e, subsidiariamente, pelo Código de Processo Civil. 2 ASSIS, Araken. Manual do Processo de Execução. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 104. 3 A execução forçada está regulada pelos mesmos princípios que o módulo processual de conhecimento. Assim, por exemplo, os princípios do devido processo legal, da isonomia e do contraditório. Surgem, aqui, porém, alguns princípios novos, próprios deste tipo de RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 19 31/03/2015 09:50:49 20 MARCÍLIO DA SILVA FERREIRA FILHO, RODRIGO MEDEIROS DE LIMAEXECUÇÃO FISCAL – TEORIA, PRÁTICA E ATUAÇÃO FAZENDÁRIA É preciso esclarecer desde logo que o presente capítulo não pretende um aprofundamento minucioso dos princípios, adentrando, por exemplo, em sua origem, sua matriz constitucional e seus aspectos formal e material. O escopo será o delineamento dos aspectos jurídicos principais para o fim de permitir uma visualização preliminar do tema. Feito esse registro, voltamos os olhos ao objetivo deste capítu- lo, que consiste, sinteticamente, na tratativa dos seguintes princípios do processo executivo: i) contraditório; ii) efetividade ou resultado; iii) menor onerosidade; iv) responsabilidade patrimonial; v) boa-fé; vi) desfecho único; vii) disponibilidade; viii) autonomia; ix) cooperação. 1.2 Princípio do contraditório Existem autores que negam a existência do contraditório no pro cesso executivo, a exemplo de Alfredo Buzaid e Theodoro Júnior;4 outros, como Amaral Santos, consignam que sua aplicabilidade é ate- nuada. Porquanto, em linhas gerais, defendem que o direito no módulo executivo já estaria pré-certificado, não havendo, por isso, qualquer atividade cognitiva por parte do juiz. Entretanto, referendar tais posicionamentos equivaleria a ape- quenar o significado do contraditório ou mesmo limitar sua aplicação aos processos de conhecimento e cautelar. A propósito, a amplitude interpretativa que deve ser alocada em tal princípio é bem retratada por Aroldo Plínio Gonçalves: O contraditório não é o ‘dizer’ e o ‘contra dizer’ sobre matéria controver- tida, não é a discussão que se trava no processo sobre a relação de direito material, não é a polêmica que se desenvolve em torno dos interesses divergentes sobre o conteúdo do ato final. Essa será a sua matéria, ou seu conteúdo possível. O contraditório é a igualdade de oportunidade no processo, é a igual oportunidade de igual tratamento, que se funda na liberdade de todos perante a lei.5 É por isso que dissentimos do posicionamento que nega a exis- tência do contraditório. Deve prevalecer, neste ponto, a maior parcela atividade jurisdicional. Além disso, alguns dos princípios gerais recebem aqui caracte- rísticas novas [...]. (CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2008. v. 2. p. 144). 4 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2008. v. 2. p. 146. 5 GONÇALVES, Aroldo Plínio. Técnica Processual e Teoria do Processo. Rio de Janeiro: AIDE, 2001. p. 127. RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 20 31/03/2015 09:50:49 21CAPÍTULO 01PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À EXECUÇÃO FISCAL da doutrina,6 para quem o contraditório se aplica em sua plenitude ao módulo executivo.7 Como se percebe, o contraditório, no processo de execução fiscal, não se limita ao manejo de objeção de pré-executividade ou à oposição de embargos à execução, instrumentos de defesa por excelência neste procedimento. Atualmente, é muito recorrente a utilização de defesas heterotópicas, configuradas pela sua autonomia em face da execução fiscal, como é o caso da ação anulatória e do mandado de segurança. O contraditório também está inserido no que concerne ao diálogo entre as partes e o magistrado, constituindo uma relação direta com o princípio da cooperação. O contraditório, que alguns preferem, de forma mais geral, deno- minar de “direito de defesa”, é considerado como direito fundamental consagrado na CF, nos termos do art. 5º, inciso LV, ao prever que, “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. Deriva ainda do princípio do devido processo legal, o qual se divide em processual (procedural due process – relacionado às garantias processuais) e substancial (substantive due process – rela- cionado à razoabilidade do direito material). Este princípio, do qual decorre o contraditório, também possui sede constitucional, agora no art. 5º, inciso LIV, ao dispor que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. Tais dispositivos têm aplicação plena no processo executivo.8 Apesar disto, a falta de atualização normativa enseja ainda debates polêmicos quanto à constitucionalidade de institutos da execução fiscal. 6 Confira, por todos, DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução Civil, p. 168-170. 7 É inegável a presença de contraditório no processo executivo [...]. Basta pensar, por exemplo, na execução por quantia certa contra devedor solvente, em que o bem penhorado é levado à avaliação judicial. Elaborado o laudo, deve-se comunicar as partes de seu teor (informação necessária) para que possam, querendo, impugná-lo pelo meio próprio (reação possível). Outro exemplo que pode ser aduzido é o da necessidade de citação do executado na execução por quantia certa contra devedor solvente fundada em título extrajudicial para, em três dias, pagar a dívida [...]. (CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2008. v. 2. p. 147). 8 Isto, contudo, não significa dizer que a cognição necessariamente precisa ser sempre ampla e ilimitada. Como todo direito fundamental, o contraditório (direito de defesa) também pode sofrer limitações, como, por exemplo, a imposição de cognição parcial em procedimentos especiais. Como esclarece Marinoni: “se um procedimento pode restringir o direito de alegação e prova para dar efetividade à tutela do direito material, isso não quer dizer que o direito de defesa, considerado em relação a esse procedimento, tenha sido violado, desde que se permita ao réu invocar tal questão por meio de ação inversa posterior”. (MARIONIN, Luiz Guilherme. Curso de processo civil: teoria geral do processo. 7. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. v. 1. p. 387). RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 21 31/03/2015 09:50:49 22 MARCÍLIO DA SILVA FERREIRA FILHO, RODRIGO MEDEIROS DE LIMAEXECUÇÃO FISCAL – TEORIA, PRÁTICA E ATUAÇÃO FAZENDÁRIA A LEF e o ordenamento jurídico processual e constitucional possibi- litam ao executado a utilização de meios de defesa endoprocessuais e heterotópicos; porém, ainda remanescem dúvidas quanto a determi- nadas limitações processuais (v.g. exigência de garantia do juízo para embargar), as quais serão tratadas em capítulos seguintes desta obra. Também se verifica ainda resistência quanto à adoção direta do procedimento executivo, já que, segundo alguns defendem, o título que lastreia o petitório é constituído de forma unilateral. Esta questão também será aprofundada em capítulos posteriores. Servem estas considerações para fazer referência ao fato de que a limitação normativa vem ocasionando um fenômeno de abertura cognitiva cada vez maior pela jurisprudência através de meios proces- suais alternativos, como aação anulatória, tão amplamente utilizada na atualidade em substituição aos embargos à execução. Isto, por certo, está entrelaçado ao próprio fenômeno de constitucionalização do direito, a ensejar releitura de institutos jurídicos para garantia e concretização dos direitos fundamentais. Entretanto, é preciso advertir que a garantia do contraditório no processo de execução não impõe a existência de discussão de mérito quanto à juridicidade do título. Na execução, o mérito é a satisfatividade do crédito exequendo. A suscitação de dúvida quanto à sua constitui- ção regular é apenas permitida pelos meios de defesa do executado, quando, então, o magistrado promoverá o juízo de cognição cabível. 1.3 Princípio da efetividade ou do resultado O processo de executivo tem por finalidade satisfazer o crédito do exequente em decorrência do inadimplemento do devedor. Ele pres- supõe a existência de um crédito líquido, certo, exigível e provado por meio de um título executivo. Pressupõe, portanto, a certeza e liquidez do direito do credor, além da sua exigibilidade, o que justifica que a execução deva se realizar no interesse do credor, com fins à célere e eficaz satisfação do seu direito. Com a execução fiscal não é diferente. Esta, como meio coercitivo de cobrança de obrigação de pagar, só se efetivará acaso seja capaz de assegurar à Fazenda Pública a soma em dinheiro a que faz jus.9 9 Conforme ensina Assis, a execução se circunscreve ao necessário e suficiente para solver a dívida. Corrobora, por exemplo, com tal afirmação, a dicção do art. 692, parágrafo único, do CPC (“Será suspensa a arrematação logo que o produto da alienação dos bens bastar para o pagamento do credor”) e do artigo 24, parágrafo único, da LEF (“Se o preço da RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 22 31/03/2015 09:50:50 23CAPÍTULO 01PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À EXECUÇÃO FISCAL Da finalidade do processo executivo, ora exposta, extrai-se o conteúdo do princípio da efetividade ou do resultado, que, em sede de obrigação de pagar, tem sua aplicação plena.10 Conforme Didier Jr., os fins do processo informam a interpre- tação da cláusula geral do devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF) e do princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV, da CF). Segundo o autor, só há processo devido se este for efetivo. O acesso à jurisdição, por sua vez, não pode se limitar à “garantia de pura e sim- plesmente ‘bater às portas do Poder Judiciário’”, devendo o processo judicial mostrar-se capaz de realizar o direito material em causa.11 Não se intenciona dizer, contudo, que, se o processo de execução não alcançar seu desiderato – como sói acontecer no executivo fiscal –, não terá havido devido processo legal, nem uma substancial prestação jurisdicional. Contudo, o processo executivo precisa mostrar-se, ao menos, potencialmente adequado a alcançar o seu desiderato, ante o seu reconhecido caráter instrumental na satisfação do direito material.12 Nesse sentido, além de um arcabouço legislativo adequado aos fins do processo, o princípio da efetividade exige, ainda, uma postura interpretativa do juiz voltada à consecução de tais fins. Mais concretamente, significa: a) A interpretação das normas que re- gulamentam a tutela executiva tem de ser feita no sentido de extrair a maior efetividade possível; b) O juiz tem o dever-poder de deixar de avaliação ou o valor da melhor oferta for superior ao dos créditos da Fazenda Pública, a adjudicação somente será deferida pelo Juiz se a diferença for depositada, pela exequente, à ordem do Juízo, no prazo de 30 (trinta) dias”). (ASSIS, Araken. Manual do Processo de Execução. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 108). 10 É que, em se tratando de obrigação de fazer e de não fazer, por vezes, não se terá o resultado prático com o cumprimento da obrigação. Isso porque, conforme Câmara, incide na espécie o brocado nemo ad factum praecise cogi potest (ninguém pode ser coagido a prestar um fato). (CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2008. v. 2. p. 145). No mesmo sentido, porém, tratando de obrigação de dar coisa certa, assevera Assis (2001, p. 108): “na execução para entrega de coisa certa, faculta não se reclamar ao terceiro adquirente a res litigiosa alienada [...]”. (ASSIS, Araken. Manual do Processo de Execução. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 108). 11 DIDIER JR., Fredie et al. Curso de direito processual civil. 4. ed. Salvador: JusPodivm, 2012. v. 5. p. 47. 12 A respeito da instrumentalidade do processo, convém transcrever ressalva feita por Fredie Didier Jr.: “Quando se fala em instrumentalidade do processo, não se quer minimizar o papel do processo na construção do direito, visto que é absolutamente indispensável, porque método de controle do exercício do poder. Trata-se, em verdade, de dar-lhe a sua exata função, que é de co-protagonista. Forçar o operador jurídico a perceber que as regras processuais hão de ser interpretadas e aplicadas de acordo com a sua função, que é de emprestar efetividade às normas materiais”. (DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. 14. ed. Salvador: JusPodivm, 2012. v. 5. p. 26). RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 23 31/03/2015 09:50:50 24 MARCÍLIO DA SILVA FERREIRA FILHO, RODRIGO MEDEIROS DE LIMAEXECUÇÃO FISCAL – TEORIA, PRÁTICA E ATUAÇÃO FAZENDÁRIA aplicar uma norma que imponha uma restrição a um meio executivo, sempre que essa restrição não se justificar à luz da proporcionalidade, como forma de proteção a outro direito fundamental; c) O juiz tem o poder-dever de adotar os meios executivos que se revelem necessários à prestação integral de tutela executiva.13 O princípio da efetividade está estampado nos arts. 612 e 646 do CPC.14 Conquanto a LEF não contenha referência expressa ao princípio, pode-se concluir por sua aplicação à execução fiscal, uma vez que a finalidade da execução fiscal não difere da finalidade do processo de execução em geral. Importa mencionar, contudo, que o art. 612 do CPC (“Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o concurso universal (art. 751, III), realiza-se a execução no interesse do credor, que adquire, pela penhora, o direito de preferência sobre os bens penhorados”), é aplicável com temperamentos ao executivo fiscal. É preciso ter em mente que a execução fiscal se processa tanto contra devedor solvente quanto insolvente, não submetendo a cobran- ça do crédito fazendário à eventual execução concursal, em caso de insolvência. É o que se extrai dos arts. 29, da LEF, e 187, do CTN, que excluem a cobrança judicial da dívida ativa do concurso de credores. A disposição, contudo, não está livre de questionamentos, conforme se esclarece no capítulo 10. Além disso, a questão do direito de preferência sobre os bens penhorados (art. 612 do CPC, parte final) é controvertida no âmbito da execução fiscal. Primeiramente, em razão da regra do art. 29, parágrafo único, da LEF (e art. 187, parágrafo único, do CTN), que estabelece uma ordem legal de preferência entre os créditos da União, dos Estados, do DF, dos Municípios e de suas respectivas autarquias: Art. 29 - A cobrança judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública não é sujeita a concurso de credores ou habilitação em falência, concordata, liquidação, inventário ou arrolamento. Parágrafo Único - O concurso de preferência somente se verifica entre pessoas jurídicas de direito público, na seguinte ordem: 13 DIDIER JR., Fredie et al. Curso de direito processual civil. 4. ed. Salvador: JusPodivm, 2012. v. 5. p. 47. 14 Art. 612. Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o concurso universal (art. 751, III) realiza-se a execução no interesse do credor, que adquire, pela penhora, o direito de preferência sobre os bens penhorados.Art. 646. A execução por quantia certa tem por objeto expropriar bens do devedor, a fim de satisfazer o direito do credor (art. 591). RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 24 31/03/2015 09:50:50 25CAPÍTULO 01PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À EXECUÇÃO FISCAL I - União e suas autarquias; II - Estados, Distrito Federal e Territórios e suas autarquias, conjunta- mente e pro rata; III - Municípios e suas autarquias, conjuntamente e pro rata. Tal ordem de preferência tem previsão legal, se sobrepondo, assim, ao princípio da anterioridade da penhora (prior in tempore, potior in iure). Nesse sentido, havendo pluralidade de penhoras sobre um mesmo bem, em diferentes execuções fiscais, ajuizadas por distintas pessoas jurídicas de direito público, terá preferência não o ente que primeiramente levou a registro sua penhora, mas aquele que tiver a maior preferência, nos termos do art. 29, parágrafo único, da LEF.15 Há, ainda, corrente doutrinária e jurisprudencial que entende ser plenamente inaplicável à execução fiscal o princípio da anteriori- dade da penhora, e não apenas na hipótese em que o concurso sobre um mesmo bem se der entre pessoas jurídicas de direito público, de- vendo se observar não a anterioridade do registro da penhora, mas a preferência do crédito fazendário, estabelecida no art. 186 do CTN (c/c art. 4º, §4º, da LEF).16 15 A esse respeito, foi o que decidiu a Primeira Seção do STJ, no julgamento do REsp 957.836/ SP, sob a sistemática dos recursos especiais repetitivos (art. 543-C do CPC). 16 Nesse sentido: “RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. ARREMATAÇÃO EM EXECUÇÃO ALHEIA POR CRÉDITO TRABALHISTA. POSSIBILIDADE. ART. 186 DO CTN. PREVALÊNCIA DO CRÉDITO TRABALHISTA MESMO QUE GARANTIDO POR PENHORA POSTERIOR À DO CRÉDITO HIPOTECÁRIO. 1 - Em homenagem ao Princípio da Efetividade, é pacífico na doutrina a possibilidade de se arrematar bem em execução alheia, conforme inúmeros precedentes que envolvem credores hipotecários. 2 - O art. 186 do CTN proclama que o crédito de natureza fiscal não está sujeito a concurso de credores, razão por que os créditos de natureza trabalhista, que sobressaem em relação àqueles, por lógica, não estarão. Precedentes. 3 - Em que pese a previsão legal insculpida no art. 711 do CPC, segundo a qual a primeira penhora no tempo tem preferência no direito - prior in tempore, potior in iure, havendo a existência de título privilegiado, fundada em direito material, este prevalecerá. Precedentes. 4 - O credor que possui bem penhorado para garantir a execução trabalhista, pode arrematar este mesmo bem, em execução movida por terceiros contra o mesmo executado, por gozar de crédito privilegiado, incidindo, assim, o art. 690, §2º. 5 - Ordem concedida”. (STJ, RMS 20.386/PR, Rel. Ministro PAULO FURTADO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/BA), TERCEIRA TURMA, julgado em 19.05.2009, DJe 03.06.2009). “AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO FISCAL - PENHORA - IMÓVEL ARREMATADO EM EXECUÇÃO CIVIL - ART. 186, CTN - PREFERÊNCIA - ART. 711, CPC - RECURSO PROVIDO. 1. Dispõe o Código Tributário Nacional: “Art. 186. O crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual for a natureza ou o tempo da constituição deste, ressalvados os créditos decorrentes da legislação do trabalho”, e o Código de Processo Civil: “Art. 711. Concorrendo vários credores, o dinheiro ser-lhes-á distribuído e entregue consoante a ordem das respectivas prelações; não havendo título legal à RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 25 31/03/2015 09:50:50 26 MARCÍLIO DA SILVA FERREIRA FILHO, RODRIGO MEDEIROS DE LIMAEXECUÇÃO FISCAL – TEORIA, PRÁTICA E ATUAÇÃO FAZENDÁRIA 1.4 Princípio da menor onerosidade O princípio da menor onerosidade está inserto no art. 620 do CPC.17 Entendemos que tal princípio é verdadeira extensão do prin- cípio da proporcionalidade, pois assegura ao executado o direito de cumprir a sua obrigação da maneira menos onerosa possível. Este é um dos fundamentos para que não se permita a alienação de bem do devedor por preço vil em hasta pública (art. 692 do CPC), como bem exemplifica Daniel Amorim Assumpção Neves.18 Com a mesma percepção, Cássio Scarpinella Bueno destaca que, na busca da satisfação do direito do credor, “a atuação do Estado-juiz não pode ser produzida ao arrepio dos limites que também encontram assento expresso no ‘modelo constitucional do processo civil’”.19 Questão tormentosa é buscar o equilíbrio do princípio em exa- me com o princípio da efetividade ou do resultado outrora analisado, de forma a não frustrar o direito do exequente, tampouco sacrificar o patrimônio do executado além do estritamente necessário. De modo a solucionar a questão, é preciso recorrer à máxima de que os princípios não se excluem reciprocamente, mas devem ser compatibilizados, no que se intitula, no âmbito da hermenêutica cons- titucional, princípio da harmonização ou concordância prática.20 Nessa senda, é que a jurisprudência do STJ, ratificada em julga- mento submetido ao regime do art. 543-C do CPC (Resp nº 1.337.790/PR), consigna inexistir preponderância, em abstrato, do princípio da menor onerosidade para o devedor sobre o da efetividade da tutela executiva. preferência, receberá em primeiro lugar o credor que promoveu a execução, cabendo aos demais concorrentes direito sobre a importância restante, observada a anterioridade de cada penhora”. 2. Na presença de credores de mesma natureza, tem preferência aquele que antes efetuou a constrição sobre o bem. 3. Há de se privilegiar a preferência, garantida por direito material (na hipótese o crédito fazendário - art. 186, CTN), ainda que a penhora tenha sido posterior às demais. [...]. 8. Agravo de instrumento provido”. (TRF-3 - AI: 9636 SP 0009636-87.2008.4.03.0000, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL NERY JUNIOR, Data de Julgamento: 04.04.2013, TERCEIRA TURMA). 17 Art. 620. Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor. 18 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 6. ed. São Paulo: Método, 2014. p. 937. 19 BUENO, Cássio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 2008. v. 3. p. 24. 20 [...] o aplicador das normas constitucionais, em se deparando com situações de concorrência entre bens constitucionalmente protegidos, adote a solução que otimize a realização de todos eles, mas ao mesmo tempo não acarrete a negação de nenhum. (MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Martins; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 114). RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 26 31/03/2015 09:50:50 27CAPÍTULO 01PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À EXECUÇÃO FISCAL É também a partir de tal premissa que a jurisprudência da Corte Superior21 se sedimentou no sentido de que, para a superação da ordem prevista nos arts. 655, do CPC, e 11, da LEF, é preciso que estejam presentes circunstâncias fáticas especiais que denotem a pre- valência do princípio da menor onerosidade (art. 620 do CPC) sobre o que prescreve que a execução deve ser realizada no interesse do credor (art. 612 do CPC). 1.5 Princípio da responsabilidade patrimonial O princípio da responsabilidade patrimonial, estatuído pelos arts. 591, do CPC, e 30, da LEF,22 consagra a ideia de que o executado responde por suas dívidas tão somente com seus bens, sejam eles pre- sentes ou futuros, ressalvadas as restrições estabelecidas por lei.23 Esse também é o conceito abalizado de Araken de Assis, segundo o qual, “de ordinário, à execução contemporânea se atribui exclusivo caráter real. Visa a execução, segundo muitos, só o patrimônio do executado”.24 Importante observar que, apesar de muito do estudo acadêmico ser destinado à análise da defesa do executado, a execução tem por escopo a satisfação docrédito exequendo por meio do patrimônio do executado, seja de forma voluntária (pagamento dentro do prazo le- galmente previsto), seja de maneira compulsória (através da constrição de bens do executado). Não há, por ser repugnado no ordenamento jurídico pátrio, a possibilidade de cobrança do crédito diretamente por meio da própria pessoa do executado (ex.: serviços forçados), devendo se restringir ao patrimônio do executado. 21 Dentre outros, são os seguintes julgados: AgRg no AREsp nº 436961/PR, Relator(a) Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 05.02.2014; AgRg no AREsp nº 540498/PR, Relator(a) Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 29.09.2014; AgRg no AREsp nº 415120/PR, Relator(a) Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 29.04.2014 e AgRg no AREsp nº 519581/SC, Relator(a) Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 02.10.2014. 22 Art. 591. O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei. Art. 30 - Sem prejuízo dos privilégios especiais sobre determinados bens, que sejam pre- vistos em lei, responde pelo pagamento da Divida Ativa da Fazenda Pública a totalidade dos bens e das rendas, de qualquer origem ou natureza, do sujeito passivo, seu espólio ou sua massa, inclusive os gravados por ônus real ou cláusula de inalienabilidade ou im- penho rabilidade, seja qual for a data da constituição do ônus ou da cláusula, excetuados unicamente os bens e rendas que a lei declara absolutamente impenhoráveis. 23 É, por exemplo, o que determina o artigo 649 do CPC, o art. 10 da LEF e a Lei nº 8.009, de 29 de março de 1990. 24 ASSIS, Araken. Manual do Processo de Execução. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 107. RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 27 31/03/2015 09:50:50 28 MARCÍLIO DA SILVA FERREIRA FILHO, RODRIGO MEDEIROS DE LIMAEXECUÇÃO FISCAL – TEORIA, PRÁTICA E ATUAÇÃO FAZENDÁRIA Esse patrimônio, por outro lado, não se restringe ao meramente material, mas, também, a bens imateriais, desde que demonstrado o caráter de patrimônio econômico e não afete os direitos fundamen- tais do executado (v.g., constrição do direito à marca). Além disso, a responsabilidade patrimonial abrange os bens presentes e futuros à propositura do executivo, nos termos do art. 591 do CPC. A execução se rege, dessa forma, na busca e no interesse do exequente. Tanto é assim que se entende que “a regra do art. 620 do Código de Processo Civil, segundo a qual a execução deverá ser feita do modo menos gravoso ao devedor, deve ser conciliada com o obje- tivo da execução, qual seja, a satisfação do credor”.25 A satisfação do crédito exequendo, portanto, não pode esbarrar em abuso do direito do executado. O princípio da responsabilidade patrimonial, assim, tem relação direta com o intuito de constrição dos bens do executado, no que faz relação direta com institutos jurídicos, como a impenhorabilidade, dis- cussões referentes à possibilidade e viabilidade da cobrança de valores ínfimos,26 responsabilidade patrimonial de terceiros27 e assim por diante. 1.6 Princípio da boa-fé O princípio da boa-fé é mais um dos princípios que vem ga- nhando força no contexto do direito processual.28 Isso porque a exi- gência de comportamento das partes em consonância com o seus res pec tivos direitos material e processual, evitando-se o abuso, é im po sição que se faz a partir do próprio texto constitucional diante 25 AgRg no Ag 1150919/RS, 2009/0016553-6, Relator(a): Ministro BENEDITO GONÇALVES (1142), Órgão Julgador: T1 - PRIMEIRA TURMA, Data do Julgamento: 17.11.2009, Data da Publicação/Fonte: DJe 25.11.2009. 26 Súmula nº 452 do STJ: “a extinção das ações de pequeno valor é faculdade da Administração Federal, vedada a atuação judicial de ofício”. 27 Art. 592. Ficam sujeitos à execução os bens: I - do sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação reipersecutória (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006); II - do sócio, nos termos da lei; III - do devedor, quando em poder de terceiros; IV - do cônjuge, nos casos em que os seus bens próprios, reservados ou de sua meação respondem pela dívida; V - alienados ou gravados com ônus real em fraude de execução. 28 Daniel Amorim Assumpção Neves salienta que, “como ocorre no processo de conhe- cimento e cautelar, também na execução, é exigido das partes o respeito de lealdade e boa- fé processual, sendo aplicáveis as sanções previstas nos arts. 14, 17 e 18 do CPC. De maior interesse, porque se trata de normas específicas à execução, os arts. 600 e 601 do CPC, com previsão dos chamados atos atentatórios à dignidade da justiça”. (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 6. ed. São Paulo: Método, 2014. p. 937). RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 28 31/03/2015 09:50:50 29CAPÍTULO 01PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À EXECUÇÃO FISCAL dos diversos princípios fundamentais, a exemplo da garantia de igualdade, razoabilidade, proporcionalidade, devido processo legal, etc. Cada vez mais, o direito vem sendo compreendido a partir das diretrizes constitucionais (fenômeno de constitucionalização do direito), donde a boa-fé deve também buscar seu fundamento, interpretação e delineamento. Tradicionalmente, tal princípio é dividido a partir do seu aspecto intersubjetivo, ou seja, entre a boa-fé objetiva e subjetiva, considerando ou não a intenção do agente, cada qual com seus respectivos efeitos jurídicos no direito brasileiro. Enquanto a boa-fé subjetiva está relacionada à intenção das partes, a boa-fé objetiva diz respeito ao comportamento exterior, in- dependentemente da vontade interna do interlocutor. Apesar de tal diferenciação, é preciso destacar que, para o processo civil, tem-se considerado apenas a boa-fé objetiva para a definição dos efeitos jurí- dicos. É que o comportamento das partes no âmbito processual deve ser analisado apenas a partir de sua exteriorização, dada a dificuldade de se perscrutar a intenção final dos envolvidos. Contudo, algumas hipóteses normativas exigem a boa-fé subje- tiva como pressuposto fático da configuração de ilícito processual, a exemplo da intenção protelatória prevista como autorizadora da anteci- pação dos efeitos da tutela (CPC, art. 273, II), a atribuição do pagamento de despesas por atos protelatórios, impertinentes ou supérfluos (CPC, art. 31), o indeferimento de provas com o mesmo objetivo (CPC, art. 130) e assim por diante.29 Essas hipóteses, contudo, não se confundem com a exigência principiológica de boa-fé processual (que se restringe ao caráter objetivo), pois dizem respeito especificamente à hipótese nor- mativa de ilícito. 29 Veja-se que Fredie Didier Jr. bem diferencia a questão afirmando, primeiramente, que “o inciso II do art. 14 do CPC brasileiro não está relacionado à boa-fé subjetiva, à intenção do sujeito processual: trata-se de norma que impõe condutas em conformidade com a boa-fé objetivamente considerada, independentemente da existência de boas ou más intenções”. Com plementa o mesmo autor, em seguida, que “não se pode confundir o princípio (norma) da boa-fé com a exigência de boa-fé (elemento subjetivo) para a configuração de alguns atos ilícitos processuais, como o manifesto propósito protelatório, apto a permitir a ante cipação dos efeitos da tutela prevista no inciso II do art. 273 do CPC. A boa-fé subjetiva é ele mento do suporte fático de alguns fatos jurídicos; é fato, portanto. A boa-fé objetiva é uma norma de conduta: impõe e proíbe condutas, além de criar situações jurídicas ativas e pas sivas. Não existe princípio da boa-fé subjetiva. O inciso II do art. 14 do CPC brasileiro não está relacionado à boa-fé subjetiva, à intenção do sujeito do processo: trata-se de norma que impõe condutas em conformidade com a boa-fé objetivamenteconsiderada, inde pen dentemente da existência de boas ou más intenções”. (DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. 16. ed. rev., atual. e amp. Salvador: Juspodivum, 2014. v. 1. p. 75-77). RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 29 31/03/2015 09:50:50 30 MARCÍLIO DA SILVA FERREIRA FILHO, RODRIGO MEDEIROS DE LIMAEXECUÇÃO FISCAL – TEORIA, PRÁTICA E ATUAÇÃO FAZENDÁRIA Especificamente do ponto de vista processual, o princípio da boa- -fé vem encartado no art. 14, II, do CPC.30 Trata-se de uma cláusula geral que objetiva disciplinar o comportamento de todos os envolvidos no processo, não apenas as partes. O referido princípio, ademais, permite inferir a proibição de condutas que contrariam a expectativa normal de boa-fé, como venire contra factum proprium, que configura adoção de posturas contraditórias e desleais no processo. Entretanto, não se descura da dificuldade de efetivar a boa-fé nos litígios, tendo em vista que as partes de um processo detêm pleitos ou interesses antagônicos. Tal circunstância, por certo, não auxilia na busca da verdade real, como também do próprio termo do processo, vez que ausente o interesse em cooperar. Todavia, a cooperação processual vem sendo entendida, cada vez mais, como um dever dos envolvidos no processo, devendo haver uma harmônica atuação para consecução da tutela jurisdicional correta. No processo executivo, especialmente no executivo fiscal, tam- bém é possível verificar marcas normativas da exigência de boa-fé pro- cessual, especialmente no que concerne aos mecanismos fraudatórios e suas repercussões. A propósito, é o que se extrai, exemplificativamente, dos seguintes dispositivos legais: arts. 135 e 185, ambos do CTN,31 e arts. 593, 600 e 615-A, §3º, todos do CPC.32 30 Art. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo: [...] II - proceder com lealdade e boa-fé; 31 Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos: I - as pessoas referidas no artigo anterior; II - os mandatários, prepostos e empregados; III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado. Art. 185. Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo, por sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente inscrito como dívida ativa. Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica na hipótese de terem sido reservados, pelo devedor, bens ou rendas suficientes ao total pagamento da dívida inscrita. 32 Art. 593. Considera-se em fraude de execução a alienação ou oneração de bens: I - quando sobre eles pender ação fundada em direito real; II - quando, ao tempo da alienação ou oneração, corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo à insolvência; III - nos demais casos expressos em lei. Art. 600. Considera-se atentatório à dignidade da Justiça o ato do executado que: I - frauda a exe cução; II - se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e meios artificiosos; III - re siste injustificadamente às ordens judiciais; IV - intimado, não indica ao juiz, em 5 (cin co) dias, quais são e onde se encontram os bens sujeitos à penhora e seus respectivos valores. Art. 615-A. O exequente poderá, no ato da distribuição, obter certidão comprobatória do ajuizamento da execução, com identificação das partes e valor da causa, para fins de averbação no registro de imóveis, registro de veículos ou registro de outros bens sujeitos à penhora ou arresto. [...] §3º Presume-se em fraude à execução a alienação ou oneração de bens efetuada após a averbação (art. 593). RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 30 31/03/2015 09:50:50 31CAPÍTULO 01PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À EXECUÇÃO FISCAL Todavia, a existência de disposição normativa não é pressuposto para aplicação do princípio da boa-fé. Pelo contrário, trata-se de cláusula geral a ser levada em consideração pelo magistrado, considerando as peculiaridades do caso concreto e a solução mais justa a cada espécie. 1.7 Princípio do desfecho único É cediço que a execução tem por finalidade a busca pela satis- fação do crédito exequendo. Daí que doutrinadores, como Alexandre Freitas Câmara e Daniel Amorim Assumpção Neves, sustentam que o único fim normal do processo executivo seria a satisfação do débito, de modo que qualquer outro desfecho seria anômalo. Eis o conceito do princípio do desfecho único do módulo executivo que objetiva, portanto, a realização concreta do direito substancial. Entretanto, isso não autoriza a conclusão de que o processo executivo dependeria da existência do direito material vindicado pelo exequente. Em verdade, a ação executiva é tão abstrata quanto às demais modalidades de ação. É este também o posicionamento de Câmara: Sua existência independe da existência do direito substancial. Pode ocor- rer a instauração legítima da atividade executiva sem que o demandante seja titular do direito material afirmado. Demonstrada a inexistência de tal direito, deve ser extinta a execução. Sem que haja tal acertamento, porém, a execução chegará até seu desfecho normal, que é a satisfação do crédito exequendo.33 Assim, caso a execução seja extinta por qualquer outro motivo que não o pagamento da dívida pelo executado, estar-se-á diante de desfecho anômalo do processo. O mesmo se diga em outras situações em que o resultado final favoreça o devedor. Por último, registre-se que o princípio do desfecho único gera consequências no processo executivo, porquanto permite ao exequente desistir da execução sem o consentimento do executado,34 dando azo, 33 Sua existência independe da existência do direito substancial. Pode ocorrer a instauração legítima da atividade executiva sem que o demandante seja titular do direito material afirmado. Demonstrada a inexistência de tal direito, deve ser extinta a execução. Sem que haja tal acertamento, porém, a execução chegará até seu desfecho normal, que é a satisfação do crédito exequendo. (CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2008. v. 2. p. 150). 34 A propósito, é o que se extrai do artigo 569 do CPC: “O credor tem a faculdade de desistir de toda a execução ou de apenas algumas medidas executivas”. RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 31 31/03/2015 09:50:50 32 MARCÍLIO DA SILVA FERREIRA FILHO, RODRIGO MEDEIROS DE LIMAEXECUÇÃO FISCAL – TEORIA, PRÁTICA E ATUAÇÃO FAZENDÁRIA por isso, ao surgimento de um novo princípio no módulo executivo intitulado de disponibilidade. 1.8 Princípio da disponibilidade O princípio da disponibilidade encontra fundamento no art. 569 do CPC, segundo o qual a desistência da execução poderá se operar independentemente do consentimento do executado. Como se vê, tal princípio é específico do módulo executivo, tendo em vista que, no processo de conhecimento, a desistência manifestada após a contestação só se aperfeiçoará com o consentimento do réu, nos termos do art. 264, §4º, do estatuto processual.35 É de se registrar que o princípio ora em exame tem aplicação mesmo após a oposição dos embargos à execução. Contudo, os efei- tos da desistência do exequente irão variar de acordo com a matéria versada nos embargos. Sobre o assunto, Daniel Amorim Assumpção Neves destaca que: Caso os embargos versem sobre matéria meramente processual, [...] a extinção dos embargos à execução é uma conclusão lógica da desistência da ação de execução, considerando-se que no eventual acolhimento da matéria aduzida o embargante conseguiria uma sentença terminativa do processo de execução, exatamente aquilo que já obteve com a ho- mologação da desistência de tal processo. Por outro lado, caso osembargos versem sobre matéria de mérito, [...] a extinção dos embargos está condicionada à concordância do embargan- te. A razão para condicionar a extinção dos embargos à concordância do embargante é nítida: tratando-se de matérias de mérito é possível vislumbrar interesse na continuação dos embargos, com a obtenção de sentença de mérito a seu favor, que demonstraria a inexistência do direito material do embargado.36 Em arremate, é de se sublinhar que a desistência37 da execução fiscal após o oferecimento dos embargos não eximirá a Fazenda Pública 35 Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: [...] §4º Depois de decorrido o prazo para a resposta, o autor não poderá, sem o consentimento do réu, desistir da ação. 36 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 6. ed. São Paulo: Método, 2014. p. 935. 37 Caso a desistência se opere antes do oferecimento dos embargos à execução, não ha- verá pagamento de honorários pela Fazenda Pública. Nesse sentido, já decidiu o TRF da 1ª Região, através da Apelação Cível (AC) nº 2006.38.13.000783-5, relatada pelo Desembargador Carlos Fernando Mathias, da Oitava Turma, publicada em 19.10.2007: “o art. 26 da Lei 6.830/80 somente se aplica aos casos em que o cancelamento da CDA se dá antes do oferecimento dos embargos à execução”. RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 32 31/03/2015 09:50:50 33CAPÍTULO 01PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À EXECUÇÃO FISCAL do pagamento dos honorários advocatícios, conforme Súmula 153 do STJ.38 Tal conclusão também é extensível à objeção de pré-executividade, conforme pacífica jurisprudência do STJ.39 1.9 Princípio da autonomia A Lei nº 11.232, de 22 de dezembro de 2005, inaugurou nova siste- mática na execução de decisões judiciais, que passou a ser disciplinada pelos arts. 475-I a 475-R do CPC. A mais incisiva delas é a exclusão da autonomia da execução de sentença condenatória, inaugurando o que se intitulou de processo sincrético. Assim, não mais haveria processo de execução autônomo, mas mera fase de cumprimento de sentença.40 Ao comentar as alterações, Alexandre Freitas Câmara ponde- rou que: O novo modelo, porém, não extingue (nem poderia fazê-lo) o processo de execução. Este continua a existir como figura autônoma em pelo menos dois casos: quando o título executivo é extrajudicial, caso em que a execução se desenvolve sem que tenha havido prévia atividade jurisdicional cognitiva e quando o título executivo é judicial mas a execução não pode ser mero prolongamento da atividade cognitiva, como se dá, por exemplo, no caso de execução de sentença arbitral.41 Como se depreende, as alterações introduzidas pela Lei nº 11.232 de 2005 não retiraram a autonomia da execução fiscal. É que, como 38 Súmula 153 ‒ STJ: “A desistência da execução fiscal, após o oferecimento dos embargos, não exime o exequente dos encargos da sucumbência”. 39 O entendimento desta Corte é no sentido de que, ‘em face do princípio da especialidade, o art. 19, §1º, da Lei 10.522/02, o qual dispensa o ente público do pagamento de honorários advocatícios, não se aplica para os casos em que a Fazenda Pública reconhece a pretensão do contribuinte no âmbito dos embargos à execução fiscal, uma vez que a Lei 6.830/80 já contém regra própria a esse respeito (art. 26) e cuja interpretação já foi sedimentada pela edição da Súmula 153/STJ: ‘A desistência da execução fiscal, após o oferecimento dos embargos, não exime o exequente dos Encargos da sucumbência’.’ O mesmo raciocínio se utiliza para possibilitar a condenação da Fazenda Pública exequente em honorários advocatícios, a despeito do teor do art. 19, §1º da Lei n. 10.522/02, quando a extinção da execução ocorrer após a contratação de advogado pelo executado, ainda que para oferecer exceção de pré-executividade. (STJ, AgRg no AREsp nº 349184/RS, Relatora Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 14.11.2013). 40 Há exceções a esta sistemática, como, por exemplo, no caso em que a sentença condenatória impõe uma obrigação de pagar à Fazenda Pública. Nessa situação, o processo de execução continua a ser autônomo em virtude da sujeição dos entes políticos à regra do precatório inserta no art. 100 da CF. 41 CÂMARA, Alexandre Freitas. A nova execução de sentença. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2006. p. 8. RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 33 31/03/2015 09:50:50 34 MARCÍLIO DA SILVA FERREIRA FILHO, RODRIGO MEDEIROS DE LIMAEXECUÇÃO FISCAL – TEORIA, PRÁTICA E ATUAÇÃO FAZENDÁRIA salientado outrora, a execução fiscal é espécie de execução de título extrajudicial, representada por CDA, cuja regulamentação se dá pela LEF e, subsidiariamente, pelo CPC. Diante disso, é lídimo concluir que o princípio da autonomia, o qual determina a separação das atividades jurisdicionais em momentos processuais distintos, continua plenamente aplicável à execução fiscal. 1.10 Princípio da cooperação O princípio da cooperação vincula a ideia de que os agentes do processo (juiz e partes) devem atuar de maneira colaborativa, com vis- tas a assegurar a isonomia. Nesse passo, a atuação do Estado-Juiz não se resumiria a de mero fiscal de regras. Fala-se agora em uma atuação ativa capaz de efetivar, dentre outros, os princípios do contraditório e da boa-fé. No caso das partes, reforça-se o dever de lealdade e ética processual, de modo a aprimorar o diálogo e assegurar um termo justo a lide.42 Tal princípio incide em diversas situações no processo executivo. Sobre o assunto, Didier Jr. cita ao menos dois exemplos interessantes, vejamos: O executado tem o dever de indicar bens à penhora (art. 600, IV, CPC). [...] deve o juiz advertir ao executado, antes de puni-lo, de que seu ato pode vir a caracterizar-se como atentatório à dignidade da jurisdição (art. 599, II, do CPC); perceba que se trata de uma conduta compatível com o dever de prevenção.43 No mesmo sentido, chancelando a aplicação do princípio da co- operação em sede de execução fiscal é a jurisprudência do STJ,44 verbis: TRIBUTÁRIO. APLICAÇÃO DOS ARTS. 652, §3º, 600, IV, E 601 DO CPC À EXECUÇÃO FISCAL. POSSIBILIDADE. ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA. [...] 42 Não é demais ressaltar que a concepção acerca do princípio da cooperação se afina com a moderna compreensão processual, segundo a qual o processo é um meio de interesse público que tem por escopo assegurar a aplicação justa do Direito ao caso concreto. 43 DIDIER JR. Fredie et al. Curso de Direito Processual Civil. 4. ed. Salvador: JusPodivm, 2012. v. 5. p. 58. 44 AgRg no REsp nº 1191653/MG, Relator(a) Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 12.11.2010. RodrigoMedeiros_ExecucaoFiscal_MIOLO.indd 34 31/03/2015 09:50:50 35CAPÍTULO 01PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À EXECUÇÃO FISCAL 5. Justifica-se a previsão de intimação específica para o executado indicar os bens penhoráveis, sob pena de, omitindo-se injustificadamente, ser punido por ato atentatório à dignidade da Justiça, com base nos arts. 600, IV e 601 do CPC. 6. A intimação para indicar bens à penhora advém do princípio da cooperação coadjuvado pelo princípio da boa-fé processual. Dessa forma o magistrado tem o dever de provocar as partes a noticiarem complementos indispensáveis à solução da lide, na busca da efetiva prestação da tutela jurisdicional. 7. Agravo regimental provido para dar provimento ao recurso especial. (Sem destaques no original). Como se vê, o princípio em análise incute no exegeta a ideia de que não basta para legitimar o processo e o procedimento a observância formal de suas regras. Em verdade, o que se busca é uma efetivação material capaz de atender a finalidade social do processo moderno. Nessa diretriz, é lídimo concluir que o processo deve permitir um diálogo entre as partes e o juiz, afastando, pois, a ideia de uma concepção individualista, segundo
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