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Fund_Jurid_1oPeriod.indb 1 13/1/2008 14:57:49 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 179 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ 1ª versão Aline Salles Jair Maldaner 2ª versão Ana Patrícia R. Pimentel Marcelo Rythowem Aspectos Históricos e Filosóficos do Direito 1° Período Fund_Jurid_1oPeriod.indb 2 13/1/2008 14:57:49 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 180 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ 1ª versão Aline Salles Jair Maldaner 2ª versão Ana Patrícia R. Pimentel Marcelo Rythowem Aspectos Históricos e Filosóficos do Direito 1° Período Fund_Jurid_1oPeriod.indb 3 13/1/2008 14:57:50 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 181 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ EMPRESA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA LTDA Diretor Presidente Luiz Carlos Borges da Silveira Diretor Executivo Luiz Carlos Borges da Silveira Filho Diretor de Desenvolvimento de Produto Márcio Yamawaki Diretor Administrativo e Financeiro Júlio César Algeri FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO TOCANTINS Reitor Humberto Luiz Falcão Coelho Vice-Reitor Lívio William Reis de Carvalho Pró-Reitor de Graduação Galileu Marcos Guarenghi Pró-Reitor de Pós-Graduação e Extensão Claudemir Andreaci Pró-Reitora de Pesquisa Antônia Custódia Pedreira Pró-Reitora de Administração e Finanças Maria Valdênia Rodrigues Noleto Diretor de EaD e Tecnologias Educacionais Marcelo Liberato Coordenador Pedagógico Geraldo da Silva Gomes Coordenador do Curso José Kasuo Otsuka MATERIAL DIDÁTICO – EQUIPE UNITINS Organização de Conteúdos Acadêmicos 1ª versão: Aline Salles Jair Maldaner 2ª versão: Ana Patrícia R. Pimentel Marcelo Rythowem Coordenação Editorial Maria Lourdes F. G. Aires Assessoria Editorial Darlene Teixeira Castro Assessoria Produção Gráfica Katia Gomes da Silva Revisão Didático-Pedagógica Marilda Piccolo Revisão Lingüístico-Textual Ivan Cupertino Dutra Revisão Digital Douglas Donizeti Soares Projeto Gráfico Douglas Donizeti Soares Irenides Teixeira Katia Gomes da Silva Ilustração Geuvar S. de Oliveira Capa Edglei Dias Rodrigues MATERIAL DIDÁTICO – EQUIPE FAEL Coordenação Editorial Leociléa Aparecida Vieira Assessoria Editorial William Marlos da Costa Revisão Juliana Camargo Horning Lisiane Marcele dos Santos Programação Visual e Diagramação Denise Pires Pierin Kátia Cristina Oliveira dos Santos Rodrigo Santos Sandro Niemicz William Marlos da Costa Fund_Jurid_1oPeriod.indb 4 13/1/2008 14:57:50 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 182 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ A pr es en ta çã o Vamos estudar juntos os “Aspectos históricos e filosóficos do Direito”. Ora, pelo próprio nome é muito fácil compreender o que vamos trabalhar. Mas quando lhe apontamos as duas facetas de nossa disciplina o que lhe vem à cabeça é: História? Não gosto. Filosofia? Não entendo. Nós convidamos você a deixar de lado antigos preconceitos e embarcar conosco nessa viagem histórica e filosófica pelo Direito. Afinal, essa apostila foi feita com o objetivo de fazê-lo se aproximar desses dois temas pelo ponto de vista do Direito e da Justiça, temas que você deve gostar, já que escolheu fazer esse curso de Fundamentos e Práticas Judiciárias. E olhar a história e conhecer a filosofia sob um ângulo que nos interessa, esteja certo, é outra coisa... Este material poderá auxiliá-lo em todas as outras disciplinas, na medida em que pretende despertar em você, estudante, uma aproximação crítica do Direito, para conhecê-lo com profundidade e não aceitar respostas fáceis ou prontas para questões a ele relacionadas. A apostila tem uma proposta ousada: partimos da Pré-história, que termina cerca de 3500 a.C., e vamos até meados da década de 1980, com o fim da ditadura militar brasileira. Ou seja, mais de 5000 anos de história em cerca de 100 páginas. Ela seguiu uma ordem cronológica na organização dos temas, que buscou mesclar os aspectos históricos e filosóficos nas aulas, como pres- supõe a disciplina. Esta apostila é apenas uma base, um roteiro para seu estudo; você deverá recorrer à bibliografia básica e complementar, participação nas aulas, resolução das atividades, contatos com o web-tutor, além de pesquisas individuais e em grupo, para as quais a Internet é uma ferramenta inestimável. Procuramos sugerir sítios, filmes e livros, para que você possa se aprofundar nos temas que lhe chamarem mais atenção. Esperamos que esse material possa auxiliá-lo na trilha do conhecimento jurídico, que é sua a partir de agora. Bons estudos. Prof. Marcelo Rythowem Profª. Ana Patrícia R. Pimentel Fund_Jurid_1oPeriod.indb 5 13/1/2008 14:57:50 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 183 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ Pl an o de E ns in o EMENTA Introdução aos conhecimentos básicos da História e pressupostos lógicos para o estudo da Filosofia do Direito. Definição, visão histórica e moderna. Teorias jusfilosóficas (Naturalismo e Positivismo). Axiologia: Sociedade. Ordem. Poder. Origem e Legitimidade do Poder. História das Instituições Jurídicas: Civilizações não-ocidentais. Formação do Direito Ocidental: Grécia, Roma. Direito Econômico. Evolução do Direito Ocidental: Codificação. Direito Luso Brasileiro – Colônia, Império, República. OBJETIVOS Compreender as contribuições da Filosofia para o desenvolvimento • do Direito. Conhecer os aspectos históricos mais relevantes da trajetória jurídica • da humanidade, com ênfase no Direito brasileiro e suas raízes. Despertar um olhar crítico e questionador sobre o fenômeno jurídico.• CONTEÚDO PROGRAMÁTICO O Direito na antiguidade com seus fundamentos históricos e • filosóficos O Direito e a Filosofia na antiguidade grega• Pressupostos históricos e filosóficos do Direito Romano• Pressupostos históricos e filosóficos do Direito na Idade Média• Pressupostos históricos e filosóficos do Direito na Idade Moderna• Pressupostos históricos e filosóficos do Direito na Idade Contemporânea• Aspectos históricos do Direito no Brasil• Fund_Jurid_1oPeriod.indb 6 13/1/2008 14:57:50 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 184 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ UNITINS • fUNdameNToS jUrídIcoS • 1º Período 7 BIBLIOGRAFIA BÁSICA BITTAR, Eduardo C. B.; ALMEIDA, Guilherme de Assis. Curso de Filosofia do Direito. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2005. CRETELLA JR., José. Curso de Filosofia do Direito. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. MASCARO, Alysson Leandro Barbate. Introdução à Filosofia do Direito: dos Modernos aos Contemporâneos. São Paulo: Atlas, 2002. NADER, Paulo. Filosofia do Direito. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. NUNES, Rizzatto. Manual de Filosofia do Direito. São Paulo: Saraiva, 2004. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à Filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1993. CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito: geral e do Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2005. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 6. ed. São Paulo: Ática, 1997. COTRIM, Gilberto. História Global. São Paulo: Saraiva, 1997. FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Estudos de filosofia do direito: reflexões sobre o poder, a liberdade, a justiça e o direito. São Paulo: Atlas, 2002. GILISSEN, John. Introdução histórica ao Direito. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. LOPES, José Reinaldo de Lima. O Direito na História. São Paulo: Max Limonad, 2000. MALDANER, Jair José; RYTHOWEM, Marcelo. Filosofia, ética e cidadania. In: Caderno deConteúdos e Atividades do Curso de Administração do Sistema EaD/ Unitins Interativo. Palmas, TO: Unitins, 2005. MONDIN, Battista. Curso de Filosofia. 9. ed. São Paulo: Paulus, 1981. v. 2. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 5. ed. São Paulo: Paulus, 1990. v. 1. SHIRLEY, Robert. Antropologia Jurídica. São Paulo: Saraiva, 1987. VEYNE, Paul. Como se escreve a História. 4. ed. Brasília: UnB, 1998. WOLKMER, Antonio Carlos. História do Direito no Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. ______ (Org.). Fundamentos de História do Direito. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. Fund_Jurid_1oPeriod.indb 7 13/1/2008 14:57:50 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 185 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ Su m ár io Aula 1 – O Direito na antiguidade com seus fundamentos históricos e filosóficos ............................................................................9 Aula 2 – O Direito e a Filosofia na antiguidade grega ..........................23 Aula 3 – Pressupostos históricos e filosóficos do Direito Romano ............37 Aula 4 – Pressupostos históricos e filosóficos do Direito na Idade Média ...47 Aula 5 – Pressupostos históricos e filosóficos do Direito na Idade Moderna .............................................................61 Aula 6 – Pressupostos históricos e filosóficos do Direito na Idade Contemporânea .................................................................75 Aula 7 – Aspectos históricos e filosóficos do Direito no Brasil .................91 Fund_Jurid_1oPeriod.indb 8 13/1/2008 14:57:50 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 186 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 1 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo UNITINS • fUNdameNToS jUrídIcoS • 1º Período 9 Objetivos Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de: compreender a relação existente entre o Direito, a Filosofia e a História;• analisar o papel dos costumes e da religião na formação do Direito • em seus primórdios. Pré-requisitos Para esta aula, é importante que você tenha espírito aberto e curiosidade para familiarizar-se com a temática e os conceitos do Direito, da Filosofia e da História. Como você já deve ter percebido ao ler o sumário de nosso caderno de conteúdo e atividades, esta disciplina deve acompanhar a linha do tempo da história, trabalhando os aspectos jurídicos e jusfilosóficos mais importantes na trajetória humana. Assim, você deve recordar os principais períodos da História, que você aprendeu no Ensino Médio. Lembrou? Se não, nós damos uma ajuda. Jusfilosofia – jus (Direito) + filosofia = Filosofia do Direito Introdução Você pensa que a Filosofia, a História e o Direito são coisas distantes do seu dia-a-dia? Pois bem, neste nosso primeiro encontro, vamos abordar estes temas e mostrar que essas três áreas do conhecimento estão intrinsecamente relacionadas e fazem parte do nosso cotidiano. Por isso queremos convidá-lo para refletir essa relação. Veremos também os primórdios do Direito. Aula 1 O Direito na antiguidade com seus fundamentos históricos e filosóficos Fund_Jurid_1oPeriod.indb 9 13/1/2008 14:57:50 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 187 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 1 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo 10 1º Período • fUNdameNToS jUrídIcoS • UNITINS 1.1 Investigando os conceitos de filosofia, história e Direito 1.1.1 A Filosofia Uma pergunta comum, que se faz muito quando se estuda Filosofia é: para que Filosofia? Fazer essa pergunta é natural. Mas não é natural perguntar: Por que Matemática? Por que História? Por que Direito? No fundo, é porque, em nossa sociedade, uma coisa só tem direito a existir se tiver alguma utilidade prática imediata, o que, para a maioria das pessoas, parece não ser o caso da filosofia. É muito provável, no entanto, que você já tenha ouvido as seguintes expressões: “A filosofia de nossa Instituição é....” ou, “A nossa empresa têm a seguinte filosofia...” ou ainda, “A minha filosofia é essa...”. Percebam que a palavra filosofia é empregada muitas vezes e em diversos sentidos. Mas, vamos às origens! A palavra filosofia tem sua origem e significado nos termos gregos philo (que significa amor, amizade) e shopia (que significa sabedoria). Significa, portanto, amor à sabedoria, amor e respeito ao saber. Dessa forma, filosofia é um estado de espírito, o da pessoa que ama, deseja, estima, procura e respeita o conhecimento, o saber. Atribui-se ao filósofo grego Pitágoras a invenção da palavra filosofia. Mas, o que é a atividade filosófica, qual é a atividade própria dos filósofos? Há praticamente tantas respostas quantos são os autores. Não há uma defi- nição única. Cada filósofo contribui e, juntos, eles produzem o que chamamos filosofia. Filosofia não é teoria distante da Vida. Ela é uma forma de vida. Não é algo que se contempla, mas algo que se vive. Fala do sentido profundo de nossa existência. Uma das maiores dificuldades para um filósofo é definir Filosofia. Vamos expor agora algumas definições possíveis, e sua crítica (CHAUÍ, 1997 p. 16-17). 1. Visão de mundo: de um povo, de uma civilização ou de uma cultura. É uma definição muito ampla e genérica que não permite, por exemplo, distinguir a filosofia da religião. 2. Sabedoria de vida: a filosofia seria uma contemplação do mundo e dos homens, para nos conduzir a uma vida justa, sábia e feliz. Essa definição nos diz somente o que se espera da filosofia (a sabedoria interior), mas não o que é e o que faz a filosofia. Fund_Jurid_1oPeriod.indb 10 13/1/2008 14:57:50 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 188 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 1 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo UNITINS • fUNdameNToS jUrídIcoS • 1º Período 11 3. Esforço racional para conceber o universo como uma totalidade orde- nada e dotada de sentido: essa definição dá à Filosofia a tarefa de explicar e compreender a totalidade das coisas, o que é impossível. 4. Fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas: a filosofia se interessa por aquele instante em que a realidade natural e histórica tornam-se estranhas, espantosas, incompreensíveis. Quando o senso comum já não sabe o que pensar e dizer, e as ciências ainda não sabem o que pensar e dizer. Segundo Chauí (1997, p. 16-17), essa última definição é completa, pois abarca a filosofia como análise das condições das ciências, da religião, da moral, como reflexão sobre si mesma, e como crítica das ilusões e precon- ceitos individuais e coletivos das teorias científicas, políticas. A Filosofia é a busca do fundamento e do sentido da realidade em suas múltiplas formas. Mas quais as atitudes e características que a filosofia possui? A admiração, a indagação, a atitude crítica e a reflexão. A origem do filosofar, o impulso para o filosofar emana da admiração, espanto e inquietação. A única coisa de que precisamos para nos tornar bons filósofos é a capacidade de nos admirarmos com as coisas. A admiração inicia, carrega e sustenta a filosofia. Ela nos aproxima do espetáculo da vida, no dia-a-dia da nossa existência, e nos deixa constan- temente surpresos, nos deixa em dúvida, nos induz ao perguntar, ao ques- tionar. O espanto mantém a filosofia, é sua alma e inspiração. A indagação, o questionamento filosófico surge, pois, de um sentimento de surpresa, de estupefação e de susto diante do devir das coisas. Diante da realidade que aparece, o filósofo é tomado de espanto e pergunta: Que é isto? Por que é assim e não diferente? A atitude filosófica do indagar, na qual nos dirigimos ao mundo que nosrodeia, perguntando o porquê das coisas, é central para a filosofia. A capacidade da admiração aliada à indagação cria a terceira característica da filosofia: a atitude crítica. Ter uma atitude filosófica é, acima de tudo, ter uma atitude crítica, diante de todas as coisas, não se contentar com respostas prontas. Algumas perguntas básicas da filosofia em sua atitude crítica são: o quê? por quê? como? Admiração, inda- gação e atitude crítica proporcionam, finalmente, a característica da reflexão. Fund_Jurid_1oPeriod.indb 11 13/1/2008 14:57:51 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 189 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 1 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo 12 1º Período • fUNdameNToS jUrídIcoS • UNITINS A reflexão, movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, interrogando a si mesmo, também é atitude básica da filosofia. Assim, temos o caminho/ciclo percorrido por aqueles que buscam o conhecimento: a observação da realidade suscita espanto que leva à indagação sobre o mundo. Essas perguntas não podem se contentar com respostas fáceis, mas devem se submeter à reflexão para se construir o conhecimento. 1.1.2 A História A História não é uma sucessão de fatos que naturalmente se encadeiam entre si. As histórias contadas pela História são apenas uma leitura, dentre outras tantas que se pode(ria)m fazer sobre os mesmos fatos. Disto, conforme Veyne (1998) afirma, decorrem verdades incontestáveis: a história é uma narra- tiva de eventos acontecidos (ela não revive estes eventos e tampouco pode trabalhar com fatos fantasiosos) e é lacunar e parcial (sempre será uma pers- pectiva do evento, pois é impossível reunir todas as visões sobre o mesmo). História é a ciência que estuda, de maneira crítica, o conjunto das transformações, continuidades, rupturas, revoluções e transições pelas quais passou a humanidade, desde sua existência. A análise do Direito, através da História, deve-se revestir de cuidado, para que não se caia no erro de ver o direito atual como a expressão final (melhor, absoluta, imutável) do Direito. José Reinaldo de Lima Lopes (2001, p. 19-22) coloca algumas suspeitas que devem nortear o trabalho com a História: suspeita do poder• : a História sempre conta com um elemento de poder; sua narrativa baseia-se em ideologias; suspeita do romantismo• : a História não é determinista e nada é decor- rência natural quando se trata de sociedade humana; suspeita das continuidades• : as coisas são diferentes do que foram e serão, ainda que sejam nominadas da mesma forma. Ademais, deve-se ter em mente que as continuidades temporal e espacial nem sempre andam juntas, ainda que a História, muitas vezes, faça um recorte que aparente este sentido; suspeita da idéia de progresso e evolução• : o presente não é um mero desenvolvimento do passado, assim como o futuro não será expressão do progresso dos dias atuais. O mundo (físico e social) traz inovações Fund_Jurid_1oPeriod.indb 12 13/1/2008 14:57:51 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 190 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 1 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo UNITINS • fUNdameNToS jUrídIcoS • 1º Período 13 imprevisíveis que podem mudar o rumo da História, trazendo um grande avanço em alguma área e retrocedendo ou paralisando alguma outra. A História pode, assim como o Direito ou a Filosofia, desempenhar, em momentos de mudanças, um papel legitimador da situação vigente, pode, também, ter um papel restaurador ou reacionário, mas pode, ainda, ter um papel crítico diante da realidade. Para fazer a história, não podemos consi- derar somente as estruturas, os episódios e os grandes feitos; há que consi- derar também o cotidiano das pessoas, a vida material, ou seja, vestimentas, alimentação, medicação, diversão, os hábitos mais cotidianos das pessoas de uma determinada época. Levando em consideração esta vida material, coti- diana das pessoas, descobre-se um elemento indispensável no historiador que o identifica com o filósofo: a estranheza, a curiosidade. Dessa forma, o histo- riador se aproxima das coisas com a surpresa e o assombro da diferença. Completando nosso tripé, neste momento, falaremos da relação da Filosofia e da História com o Direito. 1.1.3 O Direito “Direito” é uma palavra que traz em si uma grande margem de impre- cisão. Ferraz Jr. nos ensina que ele é denotativamente vago porque tem muitos significados (extensão). [...] Ele é conotativamente ambíguo porque, no uso comum, é impossível enunciar uniformemente as propriedades que devem estar presentes em todos os casos em que a palavra se usa (FERRAZ JR., 1988, p. 37). A definição de Direito pode adquirir vários significados e ser entendida sob diversos ângulos, dependendo daquele que a estuda e seus objetivos. Segundo André Franco Montoro (2000), o Direito pode assumir até cinco sentidos dife- rentes: norma, faculdade, justiça (valor), ciência e fato social. Você irá tratar disso com mais profundidade em Introdução ao Estudo do Direito. Para nós, agora, basta saber que ele, o Direito, vai aparecer como uma expressão das sociedades em que se inserem, sendo, ao mesmo tempo, fruto e causa de suas manifestações, ou seja, o Direito ao mesmo tempo que influencia um grupo social, também é influenciado por ele. Qualquer que seja a acepção ou conceito adotado, será sempre objeto de reflexão tanto da História quanto da Filosofia, devido à sua importância para a organização e sobrevivência da espécie humana. Como fato social e norma, aparece desde a formação dos grupos sociais; como faculdade e justiça, é Fund_Jurid_1oPeriod.indb 13 13/1/2008 14:57:51 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 191 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 1 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo 14 1º Período • fUNdameNToS jUrídIcoS • UNITINS base no nascimento da filosofia, além da história e da filosofia serem facetas do estudo da ciência do Direito. Quanto aos desdobramentos dessa aula, você deve aplicar as noções trabalhadas de filosofia e história a toda a matéria dessa apostila. Pesquise, critique, desconfie, admire-se, reflita, assuma uma posição, mude de posição, não pare... Só assim o conhecimento pode se desenvolver. Não esqueça que a atitude filosófica é para todos e pode mudar o mundo, e que você é sujeito da história, que está sendo construída agora. Iniciar esse curso é só o primeiro passo nessa nova etapa da sua história. Boa caminhada. 1.2 O Direito da Pré-história aos impérios orientais da antiguidade Quando nasce o Direito? Os “homens das cavernas” já o conheciam? Como era esse Direito, ou que tipos de regras apresentava? A partir dessa aula, você poderá perceber que o Direito é uma manifestação que acompanha toda a trajetória humana, desde antes da invenção da escrita. Também notará uma contínua mudança do Direito, que vai variar conforme a época e a sociedade na qual ele se insere. Por fim, vamos conhecer as legislações primitivas desenvolvidas pelos povos orientais da Antiguidade e compreender sua importância em seu contexto social. 1.2.1 As sociedades e seus Direitos Diferentes tipos de sociedades humanas se desenvolveram no decorrer do tempo e do espaço global: sociedades nômades e sedentárias, agrárias e urbanas, simples e complexas, entre tantos outros tipos. Cada uma delas, a seu modo, desenvolveu seu próprio Direito. Mas que Direito é esse? Em que ele se parece com o atual? Você irá estudar, durante a nossa disciplina e em Introdução ao Direito, que há um longo e fecundo debate sobre o que é o Direito e as facetas que ele apresenta, mas, para esse momento do nosso estudo, vamos encarar o Direito apenas no seu sentido mais aparente: denormas de conduta social, normal- mente associada a alguma noção de justiça. Todas as sociedades têm algum tipo de cultura jurídica, uma vez que desenvolveram mecanismos de controle social e aplicação de sanções, muitos dos quais se mantêm até os dias atuais. Fund_Jurid_1oPeriod.indb 14 13/1/2008 14:57:51 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 192 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 1 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo UNITINS • fUNdameNToS jUrídIcoS • 1º Período 15 Vale ressaltar que “as regras são feitas a partir de bases sociais e econô- micas e precisam ser vistas em seu conteúdo social” (SHIRLEY, 1987, p. 12). Isso significa que cada sociedade desenvolve seu próprio direito, de acordo com seu nível de intercâmbio social com outros povos, suas características e necessidades, que são únicas e se modificam com o tempo. 1.2.2 O Direito primitivo dos povos pré-históricos Desde o surgimento do homem no mundo, ele precisa do “outro” para sobre- viver e perpetuar a espécie. Nasce daí a necessidade, que nos acompanha desde então, de formar agrupamentos humanos e estabelecer regras sociais. Uma vez que a Pré-história se refere a um longo período de tempo, que vai até a invenção da escrita (cerca de 3500 a.C.), encontramos aí muitos e variados povos, em diversos estágios das forças produtivas e econômicas, desenvolvendo diferentes atividades de sobrevivência. Nesse momento, o Direito não é um sistema autônomo, mas se estabelece junto com a religião e a moral. As principais áreas regulamentadas por esse direito primitivo são a criminal e a de família. A característica principal que une sociedades assim tão díspares é a ausência de escrita, fazendo com que sua maior fonte de direito sejam os costumes. Outra fonte importante do Direito arcaico são as normas postas pelas auto- ridades locais, sejam em caráter geral, seja na decisão de casos particulares. O poder dessas autoridades na aceitação de suas regras também é variável conforme o tipo de sociedade a que se destina e seu grau de legitimação (obedi- ência e oposição). Para cada tipo de atividade desenvolvida (caça, pesca, coleta, agricultura, comércio, artesanato, etc.), corresponde um tipo de organização social (bando, comunidade primitiva ou Estado) (SHIRLEY, 1987, p. 25). Observe as imagens a seguir. A imagem nos mostra uma cena de uma caçada pré-histórica, com um grupo composto basicamente por homens. Após o abatimento da presa, não há realmente a neces- sidade de o grupo continuar a existir. Caso ele se mantenha, até que ponto seus membros estariam dispostos a se submeter às regras do coletivo, caso algo viesse a lhe desagradar? Situação muito diferente é o caso de uma comunidade agrícola, na qual o resultado do trabalho não é imediato (antes de colher, é Fund_Jurid_1oPeriod.indb 15 13/1/2008 14:57:51 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 193 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 1 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo 16 1º Período • fUNdameNToS jUrídIcoS • UNITINS necessário plantar e esperar a planta se desenvolver). Numa organização assim, o indivíduo insatisfeito tem muito a perder se abandonar ou for expulso do grupo. Entre algumas sociedades sem escrita mais desenvol- vidas, já se pode notar a formação de um Estado, ainda em estágio primário, com forte influência religiosa, de caráter teocrático. Aqui a presença de leis gerais postas pelas autoridades já se faz sentir com mais intensidade, baseada na força da fé e no sobrenatural. Esse Direito primitivo, próprio das socie- dades apócrifas (sem escrita), refere-se tanto aos povos pré-históricos, que existiam antes da invenção da escrita no mundo, quanto aos povos altamente desenvolvidos que viviam na América pré-colombiana, e outros que sobrevivem até hoje isolados, como certas tribos da Amazônia brasileira. O surgimento da escrita vai fazer com que o Direito deixe de ser apenas costumeiro e oral, viabilizando maior segurança e estabilidades às relações sociais e ao poder do Estado. 1.2.3 O aparecimento da escrita e o Código de Hamurábi Os mais antigos documentos jurídicos de que se tem notícia datam do terceiro milênio a.C., das regiões do Egito e da Mesopotâmia. Essas socie- dades, de poder teocrático, desenvolveram a escrita e deixaram documentos que explicitam ou se referem às leis e costumes da época. Ambas as civilizações, a egípcia e a mesopotâmica, eram politeístas (acredi- tavam em vários deuses) e teocêntricas (governo chefiado por um deus ou sacer- dote, conforme a vontade divina). O Egito deixou um imenso legado cultural para a humanidade, mas pouco se sabe a respeito do seu sistema de Direito. Enquanto o Egito não apresenta um legado jurídico importante, a Mesopotâmia nos deixou vários códigos de leis escritas, como o de Ur-Nammu, de Eshnunna, de Lipt-Ishtar. Nenhum deles se compara com uma das mais importantes fontes legis- lativas já conhecidas e que se tem preservada (no museu do Louvre, em Paris) até os dias atuais: o Código de Hamurábi. Fruto do governo de um rei que expandiu e fortaleceu o império babilônico, contém 282 artigos e foi redigido em um bloco de pedra em escrita cuneiforme, por volta de 1750 a.C. Inicia com a proclamação Fund_Jurid_1oPeriod.indb 16 13/1/2008 14:57:51 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 194 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 1 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo UNITINS • fUNdameNToS jUrídIcoS • 1º Período 17 da origem divina do Rei e daquelas normas, sendo que as disposições ali contidas expressavam “um regulamento de paz”, no qual o rei aparece como um justiceiro, um protetor dos oprimidos e um guardião da liberdade de seu povo (GILISSEN, 2001, p. 62). Essa legislação apresenta aspectos sociais interessantes, ao prever regras de proteção a órfãos e viúvas e regulamentar questões trabalhistas. A Lei de Talião (“olho por olho, dente por dente”) ali expressa, apesar de hoje nos parecer cruel, trazia em si os princípios de pessoalidade de pena e proporcionalidade na sua aplicação. Sem esses princípios de justiça, o que prevalecia era a vingança grupal, que impossibilita qualquer equilíbrio entre ofensa e reparação. A Lei de Talião não é exclusiva do Código de Hamurábi, mas um preceito de justiça presente em vários Direitos antigos. Esses Códigos, na verdade, consolidavam os costumes que já eram viven- ciados pela população da região naquela época, e não se confundem com nossos Códigos atuais, pela forma como eram redigidos e elaborados. 1.2.4 O Direito e as religiões no mundo antigo Mais do que pertencer a um território, um forte fator de coesão social, desde a Antiguidade, é a religião. Desses agrupamentos, nasceram impor- tantes leis e sistemas jurídicos. Por volta de 1500 a.C., os judeus, que se encontravam escravizados, fogem do Egito, sob a liderança de Moisés. Esse foi o primeiro povo monoteísta do mundo, e na sua caminhada pelo deserto rumo à Terra Prometida, origina-se o Pentatêuco, ou Torah, que corresponde aos livros de Gênesis, Números, Levídico e Deuteronômio do antigo testamento da Bíblia. Por ser um povo que vai sofrer grandes perseguições ao longo de sua história, a evolução do seu direito vai depender da tradição oral, e vai se desenvolver, a partir do sec. VI a.C., por meio de compilações e comentários de costumes e leis que regem o grupo. Esses ensinamentos vão compor o Talmud, que forma o verdadeiro corpo de leis hebreu. Dessa religião, vão surgir o cristianismo e o islamismo. Uma lei que vale a pena conhecer é o Código de Manu, que tinha vigência entre os seguidores do Hinduísmo (Índia). Apesar de ter sido escrito entre os anos 200 a.C. e 200 d.C., é consensoque suas disposições já existiam em Fund_Jurid_1oPeriod.indb 17 13/1/2008 14:57:52 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 195 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 1 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo 18 1º Período • fUNdameNToS jUrídIcoS • UNITINS forma de costume, de direito oral. O hinduísmo se baseia num sistema de castas, no qual cada pessoa pertence, por nascimento, a um determinado estrato social, sem a possibilidade de haver mobilidade ou cruzamento entre eles, e o Código de Manu, estabelecido pelos brâmanes (a casta mais elevada, que representa os sacerdotes) confirma essa organização. Essa legislação, no entanto, nunca alcançou a mesma legitimidade do Torah ou do Código de Hamurábi. Também vale a referência ao Direito Chinês, por ser essa uma das civiliza- ções mais antigas do mundo. Surgida há cerca de 4000 atrás, desenvolveu-se isolada de outros povos, sendo o Direito muito influenciado pelo confuncionismo, sistema religioso e filosófico que representa a base cultural desse povo, a partir do sec. V a.C. É um direito ritual que prega a harmonia entre homem e natureza, reservando ao Direito uma função menor, valorizando a busca do consenso. Com exceção da China, não é possível falarmos na filosofia que permeia esses sistemas jurídicos nesse momento histórico, uma vez que ela ainda não se fazia presente na sociedade humana. O mundo, até então, era explicado apenas pelos mitos e deuses, e não havia se desenvolvido, ainda, o questionamento racional. Essa reviravolta do conhecimento humano vai se dar ainda na Idade Antiga, no contexto da civilização grega, que veremos a partir da próxima aula. Como você percebeu, há uma estreita relação entre a História a Filosofia e o Direito. Ambas as formas de conhecimento se relacionam e se influenciam reciprocamente. Mesmo que não haja uma reflexão explicita e sistematizada, como vimos nos primórdios da civilização, tratam a humanidade como um processo em que há constante transformação. Síntese da aula Nesta aula, apresentamos a você os conceitos da Filosofia, Direito e História e a relação que eles têm entre si. A curiosidade, a reflexão, a crítica e o entedimento dos fatos históricos são essenciais para as abordagens na área do Direito. Você pode perceber que o Direito, como regra de organização social, é uma manifestação que acompanha o homem desde suas origens. Na Pré-história, encontramos uma variedade de direitos, conforme o grupo em que ele se desen- volve. Em comum, encontramos a não-autonomia do Direito, que se expressa mesclado com regras morais e religiosas, e a ausência de escrita, que faz com E a filosofia do Direito nos Impérios Orientais? Fund_Jurid_1oPeriod.indb 18 13/1/2008 14:57:52 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 196 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 1 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo UNITINS • fUNdameNToS jUrídIcoS • 1º Período 19 que sejam todos eles baseados nos costumes e na autoridade. Com o surgimento da escrita, civilizações como a babilônica, a hebraica e a hindu vão criar códigos de leis para reger seus povos. Desses, sem dúvida, a mais conhecida fonte do Direito Antigo é o Código de Hamurábi que regeu o povo mesopotâmico, a partir do séc. XVIII a.C. Com exceção do Direito Chinês, nenhum sofreu influência filosó- fica especificamente, haja vista ela ainda não ter se desenvolvido. Não se pode desprezar, no entanto, a importância da religião na elaboração dessas leis. Atividades 1. Todas as sociedades têm algum tipo de cultura jurídica, uma vez que desen- volveram mecanismos de controle social e aplicação de sanções, muitos dos quais se mantêm até os dias atuais, isto é, possuem, de alguma forma, um corpo de direito. Nesse sentido, é correto afirmar que: a) na Pré-história, o Direito é um sistema autônomo, que se estabelece sem vínculos com a religião e a moral; b) a Lei de Talião trazia em si os princípios em que prevalecia a vingança grupal, que possibilitava equilíbrio entre ofensa e reparação; c) na China, o Direito se desenvolve de forma autônoma, sem uma base filosófica; d) por meio de compilações e comentários de costumes e leis que regem o povo hebreu, o Talmud forma seu corpo de leis. 2. Explique a importância da autoridade local na formulação das normas das comunidades primitivas. Para isso, elabore um texto dissertativo de 20 linhas com suas percepções. 3. A partir das discussões apresentadas nesta aula, analise a importância da filosofia e da história no estudo do Direito. 4. Diferentes tipos de sociedades humanas se desenvolveram no decorrer do tempo e do espaço global: sociedades nômades e sedentárias, agrárias e urbanas, simples e complexas, entre tantos outros tipos. Cada uma delas, a seu modo, desenvolveu seu próprio Direito. Nesse sentido, é correto afirmar que: a) o Direito é superior à sociedade; b) o Direito determina, de forma exclusiva o comportamento social; c) Direito e sociedade se influenciam mutuamente; d) há entre o Direito e a sociedade uma relação de indiferença. Fund_Jurid_1oPeriod.indb 19 13/1/2008 14:57:52 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 197 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 1 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo 20 1º Período • fUNdameNToS jUrídIcoS • UNITINS Comentário das atividades Na atividade 1, você deverá perceber que cada código de Direito está vinculado à sua cultura. A alternativa correta é a (d), pois o povo hebreu vincula seu Código de Direito à vida religiosa. A alternativa (a) está incorreta porque, nesse período, o Direito está atrelado aos códigos morais e religiosos, a (b) porque a Lei de Talião trazia em si os princípios de pessoalidade de pena e proporcionalidade na sua aplicação e não a vingança pura e simples; a (c) está incorreta porque na China o Direito foi muito influenciado pelo confuncionismo, sistema religioso e filosófico que representa a base cultural desse povo, a partir do séc. V a.C. Na atividade 2, você deverá perceber que o direito recebe influências da cultura e do modo de vida do povo em que está inserido. Você deve ter claro que o período que abarca a Pré-história e parte da história antiga é rico no surgi- mento de vários sistemas de Direito, cada qual com características bem peculiares. Apesar de nos parecerem muitas vezes cruéis, insensíveis ou mesmo insensatos, é importante ter em conta que eles respondem às necessidades de seu tempo e sua sociedade, sendo que algumas características atravessaram os tempos até nós. Para as atividades 3 e 4, leve em conta que o Direito recebe influências da cultura e do modo de vida do povo em que está inserido. Você deve ter claro que o período que abarca a Pré-história e parte da história antiga é rico no surgimento de vários sistemas de Direito, cada qual com características bem peculiares. Apesar de nos parecerem muitas vezes cruéis, insensíveis ou mesmo insensatos, é importante ter em conta que eles respondem às necessidades de seu tempo e sua sociedade, sendo que algumas características atravessaram os tempos até nós. De modo específico, na atividade 4 está correta a alterna- tiva (c), porque há uma influência mútua entre ambos. As demais alternativas estão incorretas porque tratam o Direito e a sociedade de forma separada (d) ou porque criam um grau hierárquico entre ambos (a) e (b). Referências FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do Direito: técnica, decisão, dominação. São Paulo: Atlas, 1988. GILISSEN, John. Introdução histórica ao Direito. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. _______. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 5. ed. São Paulo: Paulus, 1990. v. 1. Fund_Jurid_1oPeriod.indb 20 13/1/200814:57:52 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 198 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 1 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo UNITINS • fUNdameNToS jUrídIcoS • 1º Período 21 MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do Direito. 25. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. SHIRLEY, Robert. Antropologia jurídica. São Paulo: Saraiva, 1987. Na próxima aula Como afirmamos, a Filosofia só irá se desenvolver na Grécia, a partir da realidade construída por aquele povo. E foi uma revolução... Depois do surgi- mento da Filosofia, o mundo nunca mais será o mesmo. Novas idéias e visões de mundo irão “contaminar” definitivamente o pensamento ocidental e, por conseguinte, o Direito. É isso que veremos a partir da próxima aula. Anotações Fund_Jurid_1oPeriod.indb 21 13/1/2008 14:57:52 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 199 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 1 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo 22 1º Período • fUNdameNToS jUrídIcoS • UNITINS Fund_Jurid_1oPeriod.indb 22 13/1/2008 14:57:52 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 200 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 2 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo UNITINS • fUNdameNToS jUrídIcoS • 1º Período 23 Objetivos Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de: interpretar como o desenvolvimento histórico e filosófico na Grécia • influenciou a construção das normas jurídicas; analisar o desenvolvimento da Filosofia no período clássico.• Pré-requisitos Para a compreensão do tema desta aula, é importante que você tenha presente a inter-relação entre a Filosofia, a História e o Direito, conforme estudado na primeira aula, além das características predominantes dos outros povos e direitos que se desenvolveram na Antiguidade. Essa revisão será importante para que você estabeleça a relação entre as instituições gregas e a filosofia inerente. Introdução A Grécia é uma civilização que se desenvolveu às margens do Mar Mediterrâneo, o que explica sua vocação comercial, que vai acabar por reper- cutir em várias inovações sociais, como se verá. Partindo de uma análise histó- rica da Grécia, logo após entraremos na questão da mitologia e nas condições que permitiram o nascimento da filosofia entre os gregos. Daremos especial atenção aos fatos que marcam a passagem da administração da lei e da justiça das mãos de uma organização familiar para as mãos do Estado, bem como a influência dos pensadores gregos para a construção de normas jurídicas. 2.1 Períodos da história grega A civilização grega contou com quase dois mil anos de história na Antiguidade. Sua formação se inicia quando povos indo-europeus, como Aula 2 O Direito e a Filosofia na antiguidade grega Fund_Jurid_1oPeriod.indb 23 13/1/2008 14:57:52 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 201 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 2 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo 24 1º Período • fUNdameNToS jUrídIcoS • UNITINS jônios, aqueus, dórios, chegam à Península de Peloponeso. Nesse período, conhecido como o das Sociedades pré-helênicas (2000-1100 a.C.), aconteceu a Guerra de Tróia. Após essa fase, encontramos os Tempos Homéricos (1100-800 a.C.), marcados pelo aparecimento de dois clássicos da literatura, a Ilíada e a Odisséia, ambos de autoria de Homero (por isso o nome dessa etapa histórica grega), que narram os acontecimentos da Guerra de Tróia. O Período Arcaico (800-500 a.C.) vai ser marcado pela formação das cida- des-Estado (pólis) e suas leis, enquanto a Época Clássica (500-336 a.C.) vai ser o período áureo da filosofia grega e de sua expansão territorial com Alexandre, o Grande, que se dará a partir da conquista da Grécia pela Macedônia. Por fim, temos o Período Helenístico (336-146 a.C.) que se refere ao que aconteceu após o domínio macedônio, com a expansão da cultura grega para além das fronteiras do antigo Império, que termina definitivamente com a domi- nação romana. 2.1.1 A formação da sociedade e do direito grego Os Legisladores construíram o Direito grego por meio de Constituições, cujas disposições ficavam expressas nos muros das pólis. Em 621 a.C., Drácon recebeu a missão de preparar uma legislação escrita. Até essa época, a legis- lação era oral. Drácon promoveu a diferenciação entre homicídios voluntários e involuntários, e impôs a pena de morte para a maioria dos crimes. A impor- tância desse período está no fato da administração da justiça passar das mãos dos eupátridas (justiça familiar) para o Estado (pólis). O problema é que poli- ticamente nada mudou, pois os eupátridas mantiveram o monopólio do poder, antes apoiados no costume, agora na lei escrita. A crise permaneceu, e Drácon foi substituído por Sólon, em 594 a.C., como legislador. Sólon aboliu a escravidão por dívida e promoveu mudanças na legislação, com o objetivo principal de estabelecer uma justiça baseada na igualdade de todos perante a lei. Sólon lançou as bases do futuro regime político de Atenas, a Democracia, implantado por Clístenes em 507 a.C. Clístenes reformou a estrutura política grega. Os princípios básicos eram: direitos políticos para todos os cidadãos e participação direta deles no governo por meio de assembléias. É nesse período que surge a democracia grega. O sistema de tribos, base da democracia grega, era formado por elementos de todas as camadas sociais, quebrando o sistema de Sólon que Fund_Jurid_1oPeriod.indb 24 13/1/2008 14:57:52 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 202 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 2 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo UNITINS • fUNdameNToS jUrídIcoS • 1º Período 25 ainda era baseado na origem regional e familiar. Para participar das assem- bléias, todo cidadão devia se inscrever numa tritie, perdendo com isto o nome de família. Esse sistema foi chamado de democracia, porque o demos era o elemento principal. “Costuma-se dizer que da Grécia veio pouca coisa na tradição jurídica e que a rigor o Ocidente deve mais a Roma nesta área. Trata-se de meia verdade [...]” (LOPES, 2000, p. 35). A própria filosofia trouxe muita influência, na medida em que se preocupou com temas como a liberdade, a justiça, a política e a ética, e com isso ajudou o centro do debate jurídico a se deslocar da tradição e da revelação divina, para um direito feito por e para a socie- dade humana. Ou seja, o Direito se torna laico e passível de modificações, conforme a necessidade da pólis. Aliás, essa mesma pólis também traz uma influência significativa para o Direito, já que as leis da cidade são universais, atingem a todos os habitantes, limitando o poder familiar. Percebe-se que as contribuições do Direito grego se deram mais na esfera não-institucional, mas há uma exceção importante: os contratos consensuais. Os gregos determinaram que a principal característica dos contratos era o acordo entre as partes (como é até hoje, conforme vocês verão em Direito Civil I), e não a forma como ele se reveste. 2.2 A formação filosófica da Grécia: Sofistas e Sócrates O nascimento da filosofia da Grécia se deu com uma série de pensadores que tinham como principal objeto de reflexão o surgimento do universo. Aqueles que compunham esse período da filosofia grega, conhecido como Cosmológico, eram os pré-socráticos, como Tales de Mileto, Heráclito, Anaximandro, Pitágoras, entre outros. Os Sofistas inauguram o período Humanístico dessafilosofia, que busca estudar o homem em profundidade. Foram importantes na formação dos cidadãos na arte da argumentação e da retórica, essenciais para participar efetivamente nas assembléias da democracia grega. Sócrates vai introduzir a temática da ética e da justiça na questão dos valores universais. 2.2.1 Os Sofistas No século V a.C., auge da democracia, Atenas tornou-se o centro da vida cultural e política da Grécia. O ideal de educação aristocrática, baseada em Homero e Hesíodo, do guerreiro belo e bom nos quais a virtude maior era a coragem, é substituído pela educação do cidadão, a formação do bom orador, que participa das decisões da pólis, argumentando e persuadindo os outros. Fund_Jurid_1oPeriod.indb 25 13/1/2008 14:57:52 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 203 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 2 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo 26 1º Período • fUNdameNToS jUrídIcoS • UNITINS Para educar os jovens desse novo período, surgem os Sofistas (sábios, especia- listas do saber), que eram cidadãos da Hélade (toda Grécia), não só de uma cidade-estado. Dentre os mais importantes pensadores sofistas, podemos citar Protágoras, Pródicos, Hípias e Górgias. Para os sofistas, o pensamento dos pré-socráticos estava cheio de erros, era contraditório e não tinha utilidade para a vida da pólis (cidades). É inútil procurar as causas primeiras das coisas, a metafísica, sem antes estudar o homem em profundidade e determinar com exatidão o valor e o alcance de sua capacidade de conhecer. O interesse dos Sofistas era essencialmente humanístico. A realidade e a lei moral, para os Sofistas, ultrapassam a capacidade cognitiva do homem: ele não pode conhecê-las. Tudo o que o homem conhece é arquitetado por ele mesmo: “O homem é a medida de todas as coisas” (Protágoras). Não pode haver conhecimento verdadeiro, absoluto, mas somente conhecimento provável. O fim supremo da vida para os sofistas é o prazer. Nesse contexto, como exemplificação, podemos destacar os seguintes méritos dos sofistas: iniciaram uma reflexão sistemática sobre os problemas humanos, ao invés das questões naturais e cosmológicas dos filósofos pré-socráticos; aperfei- çoaram a dialética e a discussão crítica sobre as limitações e o valor do conheci- mento; destacaram o caráter diverso e relativo das leis, próprias de cada cidade, enfatizando a contraposição entre natureza (physis), lei (nómos) e pacto (thésis), em que se baseiam o direito natural e o direito positivo; defenderam o conceito de natureza comum a todos os homens, o que serviu para fundamentar a lei de modo mais igualitário e universalista; desenvolveram princípios educativos para o ensino de gramática e retórica; Protágoras considerava-se um mestre da sabe- doria e da virtude política (politiké areté), formando os jovens para o debate público e o governo do Estado. O ideal sofístico de uma natureza humana que pode ser educada e constantemente aperfeiçoada deu início à ciência pedagó- gica e à formação humanista na antiguidade. O movimento sofístico tinha como pilar de sustentação a opinião, a argumentação e a retórica. A técnica da oratória definia o homem público. E foi com essa idéia de formação dos jovens na técnica de instrumentos de oratória e retórica que se basearam os sofistas, respondendo às necessidades da democracia grega. E, no contexto histórico que se sustentava, cada vez mais o homem buscava, pelas palavras e dentro de contradições sobre política, planos de guerra, Fund_Jurid_1oPeriod.indb 26 13/1/2008 14:57:52 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 204 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 2 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo UNITINS • fUNdameNToS jUrídIcoS • 1º Período 27 deliberações legislativas, definir o que era justo e injusto. Construindo, os Sofistas, na prática política e jurídica, a idéia de um discurso persuasivo e respeitável. Como os Sofistas se destacavam no campo do Direito e da justiça? Eles romperam com a convicção de que os deuses criavam as leis humanas, pois somente os homens podem fazer regras para o convívio social; as leis são atos humanos e racionais que se forjam no seio das necessidades sociais, o que só é possível por meio de discussão comum, da deliberação consensual, da comunicação participativa e do discurso. E de fato, o que há de comum entre os sofistas é o fato de, em sua generalidade, apontarem para os conceitos de legalidade e justiça, de modo a favorecer o desenvolvimento de idéias que se associavam à inconstância da lei a inconstância do justo (BITTAR; ALMEIDA, 2005, p. 63). 2.2.2 Sócrates Sócrates viveu em Atenas entre 469 e 399 a.C. Na sua própria inter- pretação de si próprio, concluiu que era o mais sábio porque tinha cons- ciência da sua própria ignorância. Sua vocação era ajudar os homens a procurar a verdade, sendo, dessa forma, um ferrenho opositor do relativismo dos sofistas. Seu objetivo era incitar os homens a se preocuparem, antes de tudo, com os interesses da própria alma, procurando adquirir sabedoria e virtude. Antes de conhecer as causas primeiras, princípios metafísicos, é preciso conhecer-se a si mesmo, saber qual é a essência do Homem. O homem é a sua alma. Ela é claramente superior ao corpo, que a aprisiona. A alma é a razão, o lugar sede de nossa atividade pensante e eticamente operante; é o eu consciente. É preciso educar os homens para cuidarem de sua alma mais do que do corpo. Sócrates compara a construção do conhecimento ao trabalho de uma parteira: ela pode ajudar a trazer ao mundo uma criança, mas o parto só ocorrerá com a vontade e ação da mulher para dar a luz. Essa comparação sofria forte influência de seu ambiente doméstico, pois sua mãe era parteira e seu pai, escultor. Disso decorre sua certeza de que o conhecimento é indivi- dual, só pode ser produzido de dentro para fora. Os métodos utilizados por ele eram o da ironia e o da maiêutica: parte de uma simulação (um caso hipotético ou real) estabelecendo um diálogo com perguntas desconcertantes. Sócrates deixa embaraçado e perplexo aquele que está seguro de si mesmo, faz com que o homem veja os seus Fund_Jurid_1oPeriod.indb 27 13/1/2008 14:57:52 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 205 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 2 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo 28 1º Período • fUNdameNToS jUrídIcoS • UNITINS problemas, desperta curiosidade e o estimula a refletir. Não ensina a verdade, mas ajuda a cada um descobri-la em si mesmo. Para ele, aprender não é coisa fácil, só lenta e progressivamente se chega ao conhecimento da verdade. Há, para Sócrates, conhecimentos universais. Enquanto a opinião varia de pessoa para pessoa, o conceito universal é o mesmo para todos. Sócrates se preocupou mais com os conceitos de bem, justiça, felicidade e virtude. A moralidade identifica-se com o conhecimento, pois se o homem peca é por ignorância, porque não é admissível que, conhecendo o bem e o mal, escolha o mal e não o bem. Quem faz o mal, ou ignora o bem, ou não sabe o que escolheu, é mau. A felicidade consiste na consciência reta, seguir os ditames da razão prática, da virtude. O pensamento socrático era profundamente preocupado com as questões éticas. A ética socrática dedicou-se à ética de respeito às leis e, portanto, à coletividade. Entendia o Direito como um instrumento de coesão em favor do bem-comum. Vislumbrava nas leis um conjunto de preceitos de obediência incontornável, independente de essas serem justas ou injustas. No entanto, as leis que havia ensinado a obedecer contra ele se voltaram. Foi condenado à morte por negar as divindades da cidade. E aceitou essa morte como prova do que ele defendia:o valor da lei como elemento de ordem do todo. Por fim, Sócrates entendia que é pela submissão às leis que a ética da cidade se organiza, já que a ética do coletivo está sempre acima da ética do individual. 2.2.3 Platão (427–347 a.C.) Seu nome era Aristócles, mas pelo vigor físico e extensão de sua testa recebe o apelido de Platão (platôs em grego significa amplitude, largueza, extensão). Platão foi discípulo de Sócrates por cerca de dez anos. Por causa da morte de seu mestre, deixa Atenas por um período. Quando volta àquela cidade, funda a Academia. A Academia é por muitos considerada a primeira universidade que existiu. A estrutura do programa era a geometria e a matemática. Durante séculos, a academia foi o centro de atração para todos os estudiosos. Platão pôs-se à procura da verdadeira causa das coisas. Para encontrá-la, julgou que devia refugiar-se nas idéias e considerar nelas a realidade das coisas existentes. Uma coisa é bela porque participa da Beleza (idéia, conceito de Fund_Jurid_1oPeriod.indb 28 13/1/2008 14:57:52 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 206 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 2 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo UNITINS • fUNdameNToS jUrídIcoS • 1º Período 29 beleza, que está no mundo ideal); é verdadeira porque participa da verdade. A causa do mundo sensível é a sua participação no mundo inteligível. A doutrina das idéias é a intuição fundamental de Platão. Delas derivam todos os outros conhecimentos. Platão demonstra a existência do mundo das idéias da seguinte forma: a) reminiscência: não tiramos as idéias universais da experiência, mas sim da recordação de uma intuição que se deu em outra vida; b) o verdadeiro conhecimento: a ciência só é possível se trabalhando com conceitos universais. Para isso, deve existir o mundo inteli- gível, universal; c) contingência: idéia necessária e estática para que se explique o nascer e o perecer das coisas. As idéias, segundo Platão, são incorpóreas, imateriais, não sensíveis, incorruptíveis, eternas, divinas, imutáveis, auto-suficientes, transcendentes. E como Platão entendia a Ética? A ética platônica ensina a desprezar os prazeres, as riquezas, honras, a renunciar aos bens do corpo, as coisas deste mundo e a praticar a Virtude. A vida aqui na terra é passageira, é uma prova. A verdadeira vida está no além, no Hades (o invisível), onde a alma é julgada. Para ele, a virtude consiste no conhecimento, e o mal, na ignorância. A virtude é uma só: a conquista da verdade. O ensinamento moral de Platão entra em choque com os valores tradicionais baseados nos poetas Homero e Hesíodo e codificados na religião pública. Os valores de beleza do corpo, saúde física são desprezados por Platão. O verdadeiro e autêntico fim da vida moral é a alma. Procurando purificá-la, libertá-la dos laços que a prendem ao corpo e ao mundo material elevando-a ao supremo conhecimento do inteli- gível, ou seja, a contemplação das idéias. E a Política? Platão sentia forte atração pela política e se empenhou nela. A política tradicional tinha como instrumento a retórica típica dos sofistas. Para Platão, o instrumento da política é a Filosofia, pois só ela é via segura de acesso aos valores de justiça e bem, os quais são as bases autênticas de um Estado autên- tico. Suas obras políticas são: República e As Leis. Fund_Jurid_1oPeriod.indb 29 13/1/2008 14:57:52 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 207 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 2 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo 30 1º Período • fUNdameNToS jUrídIcoS • UNITINS Na República, Platão defende que o Estado se origina porque os homens não se bastam a si mesmos. Estado ideal é o que quer viver no bem, na justiça e na verdade. No estado ideal há três classes. Veja o quadro a seguir: TRABALHADORES (LAVRADORES, COMERCIANTES E ARTESÃOS) GUERREIROS GOVERNANTES Prevalece o aspecto concupiscível da alma, o mais elementar, sua virtude principal é a temperança que consiste na ordem, domínio e disciplina dos prazeres e desejos. Pressupõe-se também, desta classe, a submissão às ordens das classes superiores. Sobressai a força volitiva da alma. A característica destes deve ser, ao mesmo tempo, a mansidão e a fero- cidade. A virtude dos guerreiros deve ser a fortaleza ou a coragem. Esta classe é responsável pela vigi- lância, deve cuidar dos perigos externos e internos da Cidade. Devem observar também para que as tarefas sejam confiadas aos cidadãos, conforme a índole de cada um. Estes deverão amar a cidade como ninguém. Tem de cumprir com zelo sua missão e, acima de tudo, tenham aprendido a conhecer e a contemplar o Bem e a Justiça. Nos governantes domina a alma racional e sua virtude principal é a sabedoria. A justiça, portanto, nada mais é do que a harmonia que se estabelece entre essas três virtudes. Quando cada cidadão e cada classe social desempenham as funções que lhes são próprias da melhor forma e fazem aquilo que por natu- reza e por lei são convocados a fazer, então se realiza a justiça perfeita (REALE; ANTISERI, 1990, p. 163). O conceito de justiça em Platão é, segundo a natu- reza, cada um fazer aquilo que lhe compete fazer. A justiça só existe exterior- mente, nas suas manifestações, enquanto existir interiormente, na sua raiz, ou seja, na alma. O regime ideal para Platão é o do filósofo-rei, pois o filósofo governa pela sabedoria e sabe discernir melhor do que ninguém o que é justo ou injusto para a pólis. Bom governo é o que realiza o bem do homem (da alma). Para entendermos melhor estes conceitos, deve-se conhecer o Mito de Er narrado por Platão, no final do Livro X da República, que conta a história de alguém que retornou do Hades. Platão nos sugere que o homem encontra-se de passagem na terra e que a vida terrena constitui uma prova como mostra o mito de Er. Segundo esse mito, a vida verdadeira está no Hades (Além). No Hades, a alma é julgada com base exclusivamente no critério da justiça e da injustiça, da virtude e do vício, podendo receber prêmios, castigo eterno ou castigo temporário. Os juízes do Além somente se preocupam com isso, não importa se a alma foi de um imperador, de um sapateiro, de um legislador ou de um agricultor. Fund_Jurid_1oPeriod.indb 30 13/1/2008 14:57:52 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 208 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 2 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo UNITINS • fUNdameNToS jUrídIcoS • 1º Período 31 O que conta são os sinais de justiça ou injustiça que a alma traz em si. Para Platão, existe uma justiça divina, para além da realidade humana. Essa justiça é infalível, impecável, absoluta, da qual nenhum infrator pode furtar-se. A justiça humana é relativa e ineficaz (condenou Sócrates à morte, por exemplo). 2.2.4 Aristóteles (384–322 a.C.) Aristóteles nasceu em Estagira, na fronteira com a Macedônia. Seu pai era médico e serviu a Corte Macedônica. Aos 17 anos, vai a Atenas e entra para a Academia de Platão, na qual permanece por 20 anos, até a morte de Platão. Com isso, volta à Macedônia e torna-se preceptor de Alexandre Magno, retornando depois novamente a Atenas, onde abriu uma escola chamada Peripatética, pois dava suas lições num corredor do Liceu (Perípatos). O interesse da Escola de Aristóteles está nas ciências naturais. Enquanto Platão, mestre de Aristóteles, escrevera suas obras em forma de diálogo, Aristóteles preferiu o Tratado, pois permitia mais clareza, ordem e objetividade. Aristóteles também rejeitou a teoria das idéias de seu mestre, privi- legiando o mundo concreto. A observação da realidade, segundo Aristóteles, leva-nos à constatação da existênciade inúmeros seres individuais concretos e mutáveis que são captados por nossos sentidos. Para isso, ele elege a expe- riência como fonte de conhecimento, mostrando que as formas são a essência das coisas, que não há separação entre os objetos e as formas: estas são imanentes àqueles. As idéias não existem fora das coisas: dependem da exis- tência individual dos objetos. É da observação das coisas concretas que se chega ao conceito por meio da abstração. 2.2.4.1 Ética e política O Homem é um ser racional e sua felicidade consiste na atuação da razão, não em riquezas e honrarias. Felicidade é a plena realização das próprias capacidades. A atuação da razão está na contemplação. Mas os sentidos devem ser satisfeitos. É preciso haver harmonia entre razão e sentidos. Prazer e razão. O caminho para conseguir a felicidade é a virtude, hábito de escolher o justo meio. Aristóteles não identifica virtude com saber (como Platão), mas dá importância à escolha, que depende mais da vontade que da razão. Para Aristóteles, o Homem é, por natureza, um animal político. A origem do Estado se dá de maneira instintiva, natural. O Estado deve tornar possível a Fund_Jurid_1oPeriod.indb 31 13/1/2008 14:57:52 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 209 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 2 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo 32 1º Período • fUNdameNToS jUrídIcoS • UNITINS vida feliz, pois só ele torna possível a completa realização de todas as capaci- dades humanas. A finalidade do Estado é o Bem Comum. Segundo Aristóteles, quem vive fora do Estado ou não precisa dele, ou é Deus, ou um animal. O que irá tornar possível a relação entre o homem e a política é a justiça. Para a realização da justiça, é preciso que haja vontade: o sujeito irá praticar determi- nado ato não porque foi condicionado a isso, mas sim porque ele próprio optou. Para que você possa compreender a formas de justiça, apresentaremos agora a Tipologia do Justo, segundo Aristóteles, a partir de Bittar e Almeida (2005). Observe, a seguir, essa tipologia. JUSTO TOTAL É a justiça universal ou integral. A abrangência de sua aplicação • é a mais extensa possível: as leis valem para o bem de todos, para o bem comum. Consiste na virtude de observância da lei, no respeito àquilo • que é legítimo e que vige para o bem da comunidade. JUSTO PARTICULAR Refere-se ao outro singularmente no relacionamento direto • entre as partes. É a justiça aplicada na relação entre particulares.• Pode ser dividido em: distributivo e corretivo. • JUSTO PARTICULAR DISTRIBUTIVO Refere-se a todo tipo de distribuição feita pelo Estado, seja de • dinheiro, honras, cargos, etc. Leva em consideração aspectos subjetivos, méritos, qualifica-• ções, desigualdades, etc. Confere a cada um o que lhe é devido, dentro de uma razão de • proporcionalidade participativa, evitando os extremos tanto do excesso como da falta. O atendimento às demandas da comunidade deve ser feito da • maneira mais eqüitativa possível. JUSTO PARTICULAR CORRETIVO Consiste no estabelecimento e aplicação de um juízo corretivo • nas transações entre os indivíduos em paridade de direitos e obrigações diante da legislação. Refere-se à reparação nas relações e na igualdade nas trocas.• É objetiva, não se observa a condição dos indivíduos para • averiguação do que é justo ou injusto. É exercido por meio do retorno das partes a situação ante-• rior vigente. Entre o mais e o menos, entre o ganho e a perda, o justo. Novamente Aristóteles retorna à justa medida (Mesotés). JUSTO POLÍTICO Consiste na aplicação da justiça na cidade, na pólis.• Tem como objeto a criação de uma situação de convivência • estável e organizada. Fund_Jurid_1oPeriod.indb 32 13/1/2008 14:57:53 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 210 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 2 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo UNITINS • fUNdameNToS jUrídIcoS • 1º Período 33 JUSTO DOMÉSTICO É a justiça que se exerce na casa, na família. Justiça para • com a mulher, justiça para com os filhos e justiça para com os escravos. JUSTO NATURAL São as leis fundamentadas não na vontade humana, mas na • própria natureza (physis). Decorrem da essência e da estrutura das coisas sem que • para isso sejam necessárias a intervenção ou a vontade legislativas. Não depende, para existir, de qualquer decisão, de qualquer • opinião ou conceito. A justiça natural é o princípio e a causa de todo movimento • realizado pela justiça legal. JUSTO LEGAL Corresponde à parte das prescrições vigentes entre os cidadãos • de determinada pólis. Surgida da lei, tem sua existência definida pelo legislador.• A lei possui força não natural, apenas fundada na convenção, • podendo ser a lei de várias maneiras que uma vez definida deve ser obedecida. O justo legal deve ser construído com base no justo natural.• A idéia de lei natural traz em si a idéia da eqüidade, equiparação, igual- dade. Isto equivale aos conceitos de justiça distributiva de Aristóteles, conforme o direito natural. Outro conceito essencial desenvolvido por Aristóteles é o da Eqüidade. Na aplicação de uma lei, pode ocorrer uma injustiça. Daí nasce o conceito da eqüidade. Uma lei, quando feita, tem sua aplicação generalizada. O fato é que a lei é para todos, mas nem todos os casos devem ser punidos com o máximo de justiça. A eqüidade indica um direito que, embora não formulado pelos legisladores, se acha difundido na consciência das pessoas. A eqüidade nasce do fato de que se deve tratar de maneira desigual os desiguais. Segundo Bittar e Almeida (2005, p. 115-119), há casos para os quais se aplicada a lei em sua generalidade, será causada uma injustiça por meio do próprio justo legal. Assim como a necessidade de aplicação da equidade surge a partir da singularidade dos casos concretos, é exatamente no julga- mento desses casos que dela deve lançar mão o julgador. Nas relações privadas, a equidade representa a excelência do homem altruísta que, ao ter de recorrer ao império coativo da lei, prefere valer-se de técnicas de civilidade e virtuosismo que seguem os princípios da moral, que permearam a escola socrática. Fund_Jurid_1oPeriod.indb 33 13/1/2008 14:57:53 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 211 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 2 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo 34 1º Período • fUNdameNToS jUrídIcoS • UNITINS Síntese da aula Nesta aula, trabalhamos o contexto histórico, político e cultural que criou as condições para o surgimento da Filosofia na Grécia, bem como a passagem da mitologia à Filosofia. Vimos também como as características da sociedade grega influenciaram a formação do Direito nesse período. Os Sofistas introduziram a argumentação e a retórica como elementos essencias para a participação na democracia grega. Sócrates fundamentou a ética em valores universais e não em opiniões. Foi exemplo de coerência e levou ao extremo o respeito às leis e à coletividade, sendo por isso julgado e conde- nado à morte. Vimos também que Platão e Aristóteles influenciaram decisi- vamente a formação do pensamento filosófico, histórico e jurídico ocidental, contribuindo para que a justiça andasse sempre de mãos dadas com a ética e os valores morais. Atividades 1. Elabore uma análise de 15 linhas dos principais elementos da história grega. Procure refletir sobre as instituições e a cultura gregas na formação de seu sistema de direitos. 2. O período clássico foi rico em termos de discussão filosófica. Analise as afirmações abaixo classificando-as em verdadeiras ou falsas. I. Para ensinar, Sócratesusava o método expositivo, no qual só ele falava, posto que era o detentor da verdade. II. Platão desenvolveu uma filosofia de cunha materialista Estão corretas pois fora desse mundo não há nada que mereça ser refletido. III. Os sofistas buscavam, pelas palavras e dentro de contradições sobre política, planos de guerra, deliberações legislativas, definir o que era justo e injusto. IV. Aristóteles compreendia que a eqüidade nasce do fato de que se deve tratar de maneira desigual os desiguais. São assertivas verdadeiras: a) apenas I e II b) todas c) apenas II, III e IV d) apenas III e IV Fund_Jurid_1oPeriod.indb 34 13/1/2008 14:57:53 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 212 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 2 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo UNITINS • fUNdameNToS jUrídIcoS • 1º Período 35 3. No quadro A Escola de Atenas, o pintor renascentista Rafael diferencia Aristóteles e Platão mostrando que o primeiro aponta com a mão para o solo e o segundo aponta o céu. Explique como ambos concebem a filo- sofia em um texto dissertativo de 10 linhas. 4. Costuma-se dizer que da Grécia veio pouca coisa na tradição jurídica e que, a rigor, o Ocidente deve mais a Roma nesta área. Trata-se de meia verdade [...]” (LOPES, p. 35). Essa afirmação se justifica porque: a) não há uma formulação típica do Direito na Grécia; b) para os gregos as leis tinham pouco valor; c) entre os gregos não havia um interesse prático em discutir as normas; d) a filosofia ajudou a deslocar o debate jurídico da tradição e da reve- lação divina, para um Direito feito por e para a sociedade humana. Comentário das atividades Você deve considerar que a sociedade grega é, no período de sua formação, caracterizada pelo patriarcalismo e pelo poder exercido, em termos de justiça, pelas famílias tradicionais. Isso se modifica ao longo de sua história, pois com a pólis o espaço público passa a se sobrepor ao poder familiar, para responder a atividade 1. Na atividade 2, estão corretas as assertivas II e IV, pois os Sofistas baseavam sua atividade na retórica e na argumentação a Aristóteles compre- endia que os casos devem ser tratados de forma particular, para que não se aplique de forma genérica e se cause alguma injustiça. Estão incorretas as assertivas I e II, porque Sócrates se julgava um parteiro de idéias que, por meio do diálogo, fazia com que seus interlocutores chegassem à verdade. Platão desenvolveu uma filosofia idealista, pois a verdade estava além desse mundo sensível em que vivemos. Lembre-se, para responder a atividade 3, de que, enquanto Platão, mestre de Aristóteles, escrevera suas obras em forma de diálogo, Aristóteles preferiu o Tratado, pois permitia mais clareza, ordem e objetividade. Aristóteles também rejeitou a teoria das idéias de seu mestre, privilegiando o mundo concreto. A observação da realidade, segundo Aristóteles, leva-nos à constatação da exis- tência de inúmeros seres individuais concretos e mutáveis, que são captados Fund_Jurid_1oPeriod.indb 35 13/1/2008 14:57:53 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 213 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 2 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo 36 1º Período • fUNdameNToS jUrídIcoS • UNITINS por nossos sentidos. Platão defendia que a verdade se fazia presente no mundo das idéias e não na realidade empírica. Na atividade 4, atente para o fato de que a alternativa (a) está incor- reta, pois, para os gregos, o Direito foi colocado de forma escrita nos muros da cidade. Isso torna incorretas também as alternativas (b) e (c). A alterna- tiva correta é a letra (d), porque a filosofia cumpriu um importante papel na discussão sobre o justo e o injusto de forma racional. Referências BITTAR, Eduardo C. B.; ALMEIDA, Guilherme de Assis. Curso de Filosofia do Direito. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2005. LOPES, José Reinaldo de Lima. O Direito na História. São Paulo: Max Limonad, 2000. Na próxima aula O Direito, como o conhecemos hoje, é tributário de muitas das idéias que foram desenvolvidas pelos romanos. Veremos, a seguir, os principais elementos do Direito Romano, com suas instituições e idéias, bem como faremos uma incursão por sua história. Anotações Fund_Jurid_1oPeriod.indb 36 13/1/2008 14:57:53 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 214 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 3 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo UNITINS • fUNdameNToS jUrídIcoS • 1º Período 37 Objetivos Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de: compreender os períodos do Direito Romano, as características de cada • um deles, e a importância atribuída até hoje ao Direito Romano; entender as principais correntes filosóficas do Império Romano.• Pré-requisitos Roma foi uma civilização que sofreu grande influência helênica, por isso, para compreendê-la, e ao seu Direito, é necessário conhecer um pouco sobre a cultura grega, conforme você viu na aula anterior. Introdução Roma foi uma civilização que se formou a partir de povos etruscos, sabinos e latinos, que ocupavam a península itálica. Para entendermos a cultura romana e o Direito que ali se desenvolve, é necessário que possamos partir de duas premissas: a primeira é que o Direito de um povo é expressão de sua cultura e suas neces- sidades; a segunda se refere a uma constatação histórica que toda civilização segue uma trajetória que, ao alcançar seu ápice, parte para a decadência. Dessas premissas, é possível auferir que o Direito Romano também vai, acompanhando a marcha de seu povo, conhecer um período de formação, o auge e o declínio. 3.1 A história de Roma Ao longo de sua história de mais de mil anos, podemos apontar cinco etapas políticas romanas (LOPES, 2000, p. 43). Aponta o autor que da formação da cidade (em 753 a.C.) até o início da República (em 509 a.C.) temos o período da Realeza (ou Monarquia), em Aula 3 Pressupostos históricos e filosóficos do Direito Romano Fund_Jurid_1oPeriod.indb 37 13/1/2008 14:57:53 01 - FUND. JURÍDICOS - 1º P. - 4ª PROVA - 13/01/2008 - Page 215 of 612 APROVADA? NÃO ( ) / SIM ( ) VISTO ______________ aUla 3 • aSPecToS HISTórIcoS e fIloSófIcoS do dIreITo 38 1º Período • fUNdameNToS jUrídIcoS • UNITINS que os reis, não hereditários, mas eleitos pelo Senado, têm poder absoluto. A classe dominante até então eram os patrícios, representantes das famílias que formaram Roma. Afirma ainda que o próximo período foi o da República abarca quase cinco séculos (de 509 a 27 a.C.) e torna a administração romana mais complexa com a criação de várias magistraturas que vão ser responsáveis pela justiça (pretores, que veremos a seguir), pelas finanças (questões), pelos costumes (censores) e pela própria gestão do Império (cônsules). É nesse período que começa a conquista romana dos territórios. Também é aqui que plebeus, traba- lhadores livres mas sem direitos até então, adquirem o poder de participar dos negócios públicos. Também é aqui que se desenrola a escravidão romana, a partir da prisão dos povos conquistados (LOPES, 2000, p. 43-47). A próxima fase é a do Império, que se subdivide em duas: Alto (Principado, de 27 a.C. a 284 d.C.) e Baixo Império (Dominato, até 476). Essa fase, que chega até o fim do Império Romano Ocidental, que cai sob a força das invasões bárbaras, caracteriza-se pela maior concentração de poder nas mãos do Imperador. Antonio Carlos Wolkemer reconhece o Principado como o momento de maior expansão e estabilidade do Império, enquanto o Dominato, que vai fazer do Imperador senhor absoluto e assistir à divisão do Império em
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