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2a edição | Nead - UPE 2010 Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Núcleo de Educação à Distância - Universidade de Pernambuco - Recife Coêlho, Tereza Ascendina de Miranda Psicologia da aprendizagem / Tereza Ascendina de Miranda Coêlho. - Recife: UPE, 2010. 63 f. il. col. 1. Aprendizagem. 2. Psicologia da aprendizagem. 3. Psicologia educacional. I. Universidade de Pernambuco - UPE. II. Título. CDU 159.953.5 C672p U ni ve rs id ad e de P er na m bu co - U PE N EA D - N Ú CL EO D E ED U CA ÇÃ O A D IS TÂ N CI A REITOR Prof. Carlos Fernando de Araújo Calado VICE-REITOR Prof. Rivaldo Mendes de Albuquerque PRó-REITOR ADMINISTRATIVO Prof. José Thomaz Medeiros Correia PRó-REITOR DE PLANEJAMENTO Prof. Béda Barkokébas Jr. PRó-REITOR DE GRADUAÇÃO Profa. Izabel Christina de Avelar Silva PRó-REITORA DE PóS-GRADUAÇÃO E PESqUISA Profa. Viviane Colares Soares de Andrade Amorim PRó-REITOR DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL E ExTENSÃO Prof. Rivaldo Mendes de Albuquerque COORDENADOR GERAL Prof. Renato Medeiros de Moraes COORDENADOR ADJUNTO Prof. Walmir Soares da Silva Júnior ASSESSORA DA COORDENAÇÃO GERAL Profa. Waldete Arantes COORDENAÇÃO DE CURSO Profa. Giovanna Josefa de Miranda Coelho COORDENAÇÃO PEDAGóGICA Profa. Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima COORDENAÇÃO DE REVISÃO GRAMATICAL Profa. Angela Maria Borges Cavalcanti Profa. Eveline Mendes Costa Lopes Profa. Geruza Viana da Silva GERENTE DE PROJETOS Profa. Patrícia Lídia do Couto Soares Lopes ADMINISTRAÇÃO DO AMBIENTE Igor Souza Lopes de Almeida COORDENAÇÃO DE DESIGN E PRODUÇÃO Prof. Marcos Leite EqUIPE DE DESIGN Anita Sousa Gabriela Castro Rafael Efrem Renata Moraes Rodrigo Sotero COORDENAÇÃO DE SUPORTE Afonso Bione Prof. Jáuvaro Carneiro Leão EDIÇÃO 2010 Impresso no Brasil - Tiragem 180 exemplares Av. Agamenon Magalhães, s/n - Santo Amaro Recife / PE - CEP. 50103-010 Fone: (81) 3183.3691 - Fax: (81) 3183.3664 Psicologia da aPrendizagem Profa. Tereza Ascendina de Miranda Coêlho | 60 horas Objetivo geral Apresentação da disciplina Ementa Importância, conceito, características e tipos de aprendizagem. Perspectivas teóricas de aprendiza- gem. Processos psicológicos e contextos da apren- dizagem. Fatores que interferem na aprendizagem. Compreender os processos de aprendizagem e suas relações com as diferentes dimensões do fazer pedagógico, considerando a interpretação e apli- cação dos fenômenos relativos ao processo de de- senvolvimento da aprendizagem do ser humano. Traça a reta e a curva, quebrada e sinuosa. Tudo é preciso. De tudo viverás. (...) Traçarás perspectivas, projetarás es- truturas. Número, ritmo, distância, dimensão. Tem os teus olhos, o teu pulso, a tua memória. Construirás os labirin- tos impermanentes que sucessivamente habitarás. Todos os dias estarás refazendo o teu desenho. Não te fadigues logo. Tens trabalho para toda a vida. (Cecília Meireles) O trecho do poema de Cecília Meireles (1997) ilustra a característica humana de transformação, redesenhando permanentemente seu traçado na história, mostrando que a aprendizagem se pro- duz nos mais variados contextos, sejam em situa- ções formais ou informais, de forma planejada ou espontânea. Faz-nos ver que a aprendizagem é diversificada e contínua, isto é, estamos o tempo todo em situações que nos colocam como apren- dizes ao longo da vida, mediante as múltiplas aprendizagens que vão surgindo e sendo in- corporadas àquelas já existentes, permitindo a emergência de novas visões, comportamentos, sentimentos e ideias. A aprendizagem não se dá naturalmente,é um acontecimento que ocorre sob determinadas condições que podem ser observadas, altera- das e controladas, e isso conduz à possibilida- de de examinar o processo de aprendizagem por meio de métodos científicos, descrevê-la em linguagem objetiva; bem como descobrir as relações existentes entre ela e as mudanças que ocorrem no comportamento humano, podendo-se fazer inferências a respeito do que foi aprendido, elaborar teorias e modelos científicos que expliquem as mudanças obser- vadas. Um dos fatores mais importantes para a psico- logia e para o educador, seja ele pai, professor, orientador ou gestor de instituições educativas é o estudo da aprendizagem, sua natureza, suas características e fatores que nela influen- ciam. Teremos a oportunidade de, ao estudar a Psicologia da Aprendizagem, conhecer o modo como nossos alunos constroem, elabo- ram e dão significado aos seus conhecimentos, ajudando-nos, como professor, a orientarmos a nossa prática pedagógica, respeitando as subjetividades dos nossos alunos com seus ní- veis, ritmos e singularidades. capítulo 1 7 Profa. Tereza Ascendina de Miranda Coêlho Carga Horária | 15 horas OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Refletir sobre a importância da apren- dizagem na vida humana entendendo que ela está presente em todos os mo- mentos da nossa vida. • Conhecer as variadas conceituações da aprendizagem nos seus processos e contextos. • Compreender o fenômeno da apren- dizagem e os processos que a caracte- rizam. • Analisar os tipos de aprendizagem, suas diferentes naturezas e sua rele- vância para a prática docente. • Considerar as condições necessárias para que a aprendizagem seja efetiva- da. introdução ao estudo da Psicologia da aPrendizagem INTRODUÇÃO Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina. (Cora Coralina) Há muito tempo que a aprendizagem vem sendo estudada e, com certeza, será sempre palco de muitos diálogos e reflexões, como a forma que se dá e as transformações causadas por ela na vida dos seres humanos, dos animais e do nosso planeta. O ser humano nasce potencialmente inclinado a aprender, necessitando de estímulos externos e internos (motivação, necessidade) para que ocorra a aprendizagem. Há aprendizados que podem ser considerados natos, como o ato de aprender a falar, a andar, necessitando que ele passe pelo processo de maturação física, psi- cológica e social. Na maioria dos casos a aprendizagem se dá no meio social em que o indivíduo capítulo 18 convive; sua conduta muda, normalmente por esses fatores e por predisposições genéticas. Com base na abordagem de alguns psicólo- gos apresentaremos os variados conceitos de aprendizagem, como também, analisaremos suas características e seus tipos de diferentes naturezas (como a cognitiva, a psicomotora e a afetiva), enfatizando os fatores necessários para que a mesma se efetive. Destacaremos a importância de explicar o mecanismo da aprendizagem, para esclarecer a maneira pela qual o ser humano se desenvolve, toma conhe- cimento do mundo em que vive, organiza a sua conduta e se ajusta ao meio físico e social. É pela aprendizagem que o homem se afirma como ser racional, forma a sua personalidade e se prepara para o papel que lhe cabe no seio da sociedade. A contribuição da Psicologia da Aprendizagem não pode ser dispensada em nenhuma área do conhecimento, principalmente na área da teo- ria e da prática educativa, pois a possível solu- ção dos problemas desta vai depender, não só da escolha do método didático, como também da organização dos programas e currículos e até a formulação dos objetos da educação. 1. A IMPORTÂNCIA DA APRENDIZAGEM NA NOSSA VIDA A importância da aprendizagem na vida hu- mana varia muito de uma espécie para outra. De todos os animais, o homem possui o menor número de reações inatas, fixas e invariáveis, pois sua infância é mais longa, possibilitando- -lhe capacidadepara tirar proveito da experi- ência e seu repertório de reações é quase todo constituído de respostas adquiridas, isto é, aprendidas. A aprendizagem na vida humana se inicia com o, ou até antes, do nascimento e se prolonga até a morte. Várias experiências têm demons- trado que é possível obter reações condiciona- das em fetos. Assim que nasce, a criança começa aprender e continua a fazê-lo durante toda sua vida. Com poucos dias de vida, aprende a chamar sua mãe com seu choro. No fim do primeiro ano, familiarizou-se com muitos dos objetos que formam seu novo mundo, adquiriu cer- to controle sobre suas mãos e pés e, ainda, tornou-se perfeitamente iniciada no processo de aquisição da linguagem falada. Aos cinco ou seis anos, adquire os hábitos, as habilida- des, as informações, os conhecimentos e as atitudes que a sociedade considera essenciais ao bom cidadão. Hoje, já entendemos que a aprendizagem acompanha toda a vida de cada um de nós, e isso é comprovado quando levamos em consideração as habilidades, os interesses, as atitudes, os conhecimentos e as informações adquiridas dentro e fora da escola, e suas rela- ções com a conduta, a personalidade e a ma- neira de viver. É com a aprendizagem que o ser humano melhora suas realizações nas tarefas manuais, tira partido de seus erros, aprende a conhecer a natureza e a compreender seus companheiros, capacitando-o a ajustar-se ade- quadamente a seu ambiente físico e social. Po- demos afirmar que a aprendizagem leva o in- divíduo a viver melhor ou pior, ou seja, a viver de acordo com o que aprende. Concordamos com Campos (1991) quando afirma: Figura 01 Somos aprendizes no longo caminho da vida, pois a aprendizagem é diversificada e contínua. capítulo 1 9 O desenvolvimento humano em todas as suas manifestações depende de dois fatores: cresci- mento e aprendizagem (e de suas interações). O homem torna-se capaz de conduzir-se de modo conveniente dentro da sociedade. É na aprendizagem que se desenvolvem as habili- dades, apreciações, raciocínios, bem como as aspirações, atitudes e valores. Foi por meio da aprendizagem que, através dos tempos, cada geração tornou-se capaz de aproveitar-se de experiências e descobertas das gerações anteriores, como também, oferecer sua contribuição para o crescente patrimônio do conhecimento e das técnicas humanas. Os costumes, as leis, a religião, a linguagem e as instituições sociais têm-se desenvolvido e per- petrado, como um resultado da capacidade do homem para aprender. Isso é observado atra- vés dos produtos da aprendizagem nas hábeis descobertas dos cientistas e das realizações dos vários profissionais como dos engenheiros, dos cirurgiões, dos artistas, entre outros. São destacados nas espetaculares descobertas e invenções da ciência moderna, no pensamen- to do filósofo e nas decisões dos estadistas. O comportamento diário do homem do povo, suas crenças, seus receios e sua submissão às tradições são grandemente, determinados pe- las tendências e predisposições adquiridas pela aprendizagem. Algumas tarefas que os seres humanos são solicitados a aprender, como por exemplo, somar, multiplicar, ler, interpretar, digitar, de- monstrar atitudes sociais etc., não podem ser aprendidas naturalmente. Dessa forma, sendo a aprendizagem um processo muito importan- te para o sucesso da sobrevivência do homem, foram organizados meios educacionais e es- colas para tornarem a aprendizagem mais efi- ciente, pois algumas tarefas a serem aprendi- das são tão complexas e importantes que não podem ser deixadas para obra do acaso. Cada indivíduo é o que é, em grande extensão, pelo o que aprendeu e ainda pelos modos segundo os quais, em novas emergências de ajustamento, po- derá aprender, integrando seu comportamento e experiência em novos padrões. Aprendizagem é afinal, um processo fundamental da vida. Todo indivíduo aprende e, através da apre- ndizagem, desenvolve os comportamentos que o possibilitam viver. Todas as atividades e realizações humanas exibem os resultados da apren- dizagem. quando se considera a vida em termos do povo, da comunidade, ou do indivíduo, por todos os lados são encontrados os efeitos da aprendizagem. (CAMPOS, 1991, p. 14 e15, “grifos nossos”) Figura 02 A aprendizagem leva o indivíduo a viver melhor ou pior, ou seja, a viver de acordo com o que aprende. Figura 03 Figura 04 Figura 05 ACESSE: www.sosestudante.com/.../a-importancia-da- aprendizagem-na-vida.htm Saiba Mais: capítulo 110 É fundamental compreender o processo de aprendizagem para poder entender o com- portamento e as atividades, os interesses e as atitudes, os ideais e crenças, as habilidades e conhecimentos que caracterizam qualquer ser humano, pois a aprendizagem e a maturação constituem as duas maiores influências que afetam o comportamento humano. 1.2. OS VÁRIOS CONCEITOS DE APRENDIZAGEM Para compreender a aprendizagem e seus va- riados processos e contextos, iniciaremos pelo significado da palavra “aprender”, que deri- vada do latim aprehendere, significa agarrar, pegar, apoderar-se de algo e, partindo dessa definição, é possível conceber a aprendizagem como um processo no qual a pessoa “apro- pria-se de” ou torna seus determinados conhe- cimentos, habilidades, estratégias, atitudes, valores, crenças ou informações. Aprender, nesse sentido, está relacionado à mudança, à significação e à ampliação das vivências inter- nas do indivíduo. O estudo de Psicologia da Aprendizagem pre- cisa ser iniciado pela compreensão do fenôme- no da aprendizagem, e por isso indagamos: qual o seu conceito e quais são suas caracte- rísticas? Com o objetivo de responder a essas perguntas, estudos e pesquisas científicas, propostas pelos psicólogos, resultaram no sur- gimento de diferentes conceitos e definições de aprendizagem, conforme as diversas teorias que foram se organizando, baseados nos fatos investigados. Objetivando oferecer uma ideia inicial da complexidade do estudo, da necessidade de maiores investigações sobre os fatos da apren- dizagem que ainda estão a requerer muitas pesquisas, serão referidas algumas das formas pelas quais diversos psicólogos abordam o fe- nômeno da aprendizagem. Assim, a aprendi- zagem tem sido considerada como: • Na teoria conexionista da aprendizagem, é entendida como um processo de associa- ção entre uma situação estimuladora e a resposta; • De acordo com a teoria funcionalista, é o ajustamento ou adaptação do indivíduo ao ambiente; • Segundo a teoria baseada em um sistema dedutivo-hipotético, é um processo de re- forço do comportamento; • No condicionamento contíguo de Guthrie ou no condicionamento operante de Skin- ner, é um condicionamento de reações re- alizado por diversas formas; • De acordo com as proposições das teorias gestaltistas, é um processo perceptivo, em que se dá uma mudança na estrutura cog- nitiva. Diante dessas maneiras de considerar a apren- dizagem, pode-se perceber a dificuldade para conceituar a aprendizagem de forma inteira- mente satisfatória. Porém, analisando os es- tudos realizados pelos especialistas, pode-se conceituar a aprendizagem, de um ponto de vista funcional, como a modificação sistemá- tica do comportamento, em caso de repetição da mesma situação estimulante ou na depen- dência da experiência anterior com dada si- tuação. De acordo com Campos, (1991) essa noção implica o reconhecimento dos seguintes fatos: • Existência de fatores dinâmicos, como os da motivação, sem o que nenhum exercí- cio, treino ou prática se torna possível, pois se o indivíduo não for impulsionado a agir, não poderá exercitar-se; ACESSE: pt.shvoong.com › Ciências Sociais Saiba Mais: capítulo 1 11 De acordo com Campos,(1991) uma análi- se criteriosa das definições de aprendizagem dos diversos autores conduzirá à conclusão de que a mais geral das definições, abrangendo o pensamento da maioria deles, poderá resumir- -se no seguinte: “Aprendizagem é uma mo- dificação sistemática do comportamento ou da conduta, pelo exercício ou repetição, em função de condições ambientais e condições orgânicas”. Verifica-se, nessa definição, que a modificação do comportamento é uma variá- vel dependente das condições ambientais e or- gânicas, enquanto estas últimas constituem as variáveis independentes, isto é, que ocorrem com o nosso controle ou não. 1.3. CARACTERÍSTICAS DA APRENDIZAGEM As características básicas da aprendizagem que vamos estudar resultam da contribuição das várias teorias da aprendizagem. Destaca- remos, a seguir, as considerações de Campos (1991) em que são destacados os processos que caracterizam a aprendizagem. • Possibilidade de modificação funcional dos indivíduos, segundo certas características do ambiente, que se tornam seletivas para dirigir suas reações aos estímulos ambien- tais; • Aparecimento de resultados cumulativos ou continuados da prática. A aprendizagem pode ser definida como uma modificação sistemática do comportamento, por efeito da prática ou experiência, como um sentido de progressiva adaptação ou ajus- tamento. O termo “comportamento” não é tomado apenas no sentido de reações explíci- tas ou de ação direta sobre o ambiente físico, como manipular, locomover-se, juntar coisas, separá-las, construir; mas também no de rea- ções simbólicas, que tanto interessam à com- preensão da vida social, observadas em gestos, na fala, na escrita, como, ainda, no de com- portamentos implícitos, que as reações simbó- licas vêm a permitir, como perceber, compre- ender, imaginar e pensar de modo coerente. Por outro lado, o termo “prática” não signifi- ca a exata repetição de uma reação qualquer, mesmo porque repetições dessa espécie jamais ocorrem no transcurso da aprendizagem: prá- tica significa a reiteração dos esforços de quem aprende, no sentido de progressiva adaptação ou ajustamento de uma nova situação. É importante destacar que definir a aprendi- zagem como – uma mudança de comporta- mento – não significa definir qualquer tipo de mudança, porque, nesse caso, poderia con- fundi-la com outras mudanças resultantes de crescimento, maturação, fadiga etc., que se podem dar com a repetição e o progresso, ou não. Vejamos a seguinte definição de Hilgard que desperta a atenção sobre os problemas envol- vidos em qualquer definição de aprendizagem: Aprendizagem é o processo pelo qual uma ativida- de tem origem ou é modificada pela reação a uma situação encontrada, desde que as características de mudança de atividade não possam ser explicadas por tendências inatas de respostas, maturação ou esta- dos temporários do organismo, por exemplo, fadiga, drogas, etc.(HILGARD, 1966, apud CAMPOS, 1991, p.31 e 32) ACESSE: www.scribd.com › School Work › Essays & Theses Saiba Mais: capítulo 112 Pr oc es so d in âm ic o A aprendizagem não é um processo de ab- sorção passiva e a sua característica mais importante é a atividade daquele que apren- de. Portanto, a aprendizagem só se faz pela atividade do aprendiz. É evidente que não se trata apenas na atividade externa física, mas, também, de atividade interna, mental e emocional, porque a aprendizagem é um processo que envolve a participação total e global do indivíduo, em seus aspectos físico, intelectual, emocional e social. A aprendizagem é um processo dinâmico porque, na escola, o aluno aprende pela participação em atividades, tais como lei- tura, produção de textos, resoluções de problemas, ouvindo as explicações do pro- fessor, respondendo oralmente às questões, fazendo exames escritos, pesquisando, tra- balhando nas oficinas, fazendo experiências no laboratório, participando de atividades em grupo etc. Desse modo, a atividade escolar depende não só do conteúdo dos livros, nem só do que os professores ensi- nam, mas muito mais da reação dos alunos e fatores, tais como livro, mestres e ambien- te social da escola. Pr oc es so c on tín uo A aprendizagem está presente desde o iní- cio da vida, pois, a criança, ao sugar o leite materno, enfrenta o primeiro problema de aprendizagem: terá que coordenar movi- mentos de sucção, deglutição e respiração. Na idade escolar, na adolescência, na idade adulta e até na idade avançada, a aprendi- zagem está sempre presente. A família, a escola e, enfim, todos os agentes educacionais precisam selecionar os conteú- dos e comportamentos a serem exercitados, porque, sendo a aprendizagem um proces- so contínuo, o indivíduo poderá aprender algo que venha prejudicar tanto o seu ajus- tamento social como também, o bom de- senvolvimento de sua personalidade. Pr oc es so g lo ba l qualquer comportamento humano é glo- bal, pois inclui sempre aspectos motores, emocionais e ideativos ou mentais. Portan- to, a aprendizagem, envolvendo uma mu- dança de comportamento, terá que exigir a participação total e global do indivíduo, para que todos os aspectos constitutivos de sua personalidade entrem em atividade no ato de aprender, a fim de que seja restabele- cido o equilíbrio vital, rompido pelo apareci- mento de uma situação problemática. Pr oc es so p es so al A aprendizagem é intransferível porque nin- guém pode aprender pelo outro. As con- cepções antigas supunham que o professor, apresentando o conteúdo a ser aprendido, realizando os movimentos necessários, le- vava, obrigatoriamente, o aluno à aprendi- zagem. A maneira de aprender e o próprio ritmo da aprendizagem variam de indivíduo para indivíduo, face ao caráter pessoal da aprendizagem. Pr oc es so g ra da tiv o Por envolver um maior número de elemen- tos em cada nova situação, é que a aprendi- zagem é um processo que se realiza através de operações gradativamente complexas. A cada nova aprendizagem, novos elementos são acrescidos à experiência anterior, sem idas e vindas, mas numa série gradativa e ascendente. A aprendizagem demanda tanto a obser- vação “gradação do conteúdo” que se pre- tende ensinar, como o grau de maturação física, emocional e cognitiva do aprendiz. Dessa maneira, para que não sejam vistos como difíceis e desinteressantes, é que o material e as aulas devem ser organizados para atender a essa exigência. Pr oc es so c um ul at iv o Analisando-se o ato de aprender, com um sentido de progressiva adaptação e ajusta- mento social, verifica-se que, além da matu- ração, a aprendizagem resulta de atividade anterior, ou seja, da experiência individual. “Ninguém aprende senão por si e em si mesmo, pela automodificação. Dessa ma- neira, a aprendizagem constitui um proces- so cumulativo, em que a experiência atual aproveita-se das experiências anteriores.” (CAMPOS, 1991, p.36) As alterações de comportamento, origina- das da experiência, podem propiciar frustra- ções e perturbações emocionais, capazes de solucionar a situação problemática encon- trada, levando o aprendiz à adaptação, ou à integração de sua personalidade, ou ao ajustamento social. Pode-se afirmar que quem aprende modi- fica o seu comportamento, pois o acúmulo das experiências leva à organização de no- vos padrões de comportamento, que são incorporados, adquiridos pelo sujeito. capítulo 1 13 Tipos Caracterização Fatores determinantes Processos A pr en di za ge m co gn iti va É a aprendizagem que, no seu processamento, predominam os elementos de natureza intelectual, resultando no armazenamento or- ganizado de informações na men- tedo aprendiz. • a percepção, • a atenção, • os problemas de percepção, • a formação de conceitos • a memória. • o insight • o ensaio-e-erro. A pr en di za ge m a fe tiv a Compreende atitudes e valores sociais, traduzidos por gestos, preferências, simpatias, costumes, crenças, hábitos e ideais de ação, que constituem os princípios mais gerais do comportamento huma- no. Os sinais internos do indivíduo podem ser identificados através de experiências como prazer e dor, satisfação ou descontentamento, alegria ou ansiedade. A aprendi- zagem afetiva sempre acompanha as demais, isto é, é concomitante com outras aprendizagens. • aluno preparado, • ambiente motivador, • professor envolvido, • satisfação. • processo de condiciona- mento de reações • processo de imitação. A pr en di za ge m p si co m ot or a Envolve respostas musculares ad- quiridas mediante treino e prática. Os padrões de desenvolvimento motor, que vão possibilitar a for- mação desse tipo de aprendiza- gem, podem ser classificados em primários (andar, correr, saltar, etc.) e secundários (controle de músculos menores, como escrever, desenhar, etc.) • Compreensão da situação e percepção de seus elementos pelo aprendiz • Coordenação de movimentos • Automatização da aprendi- zagem • A prática ou experiência (treino) • A demonstração didática • A imitação • O ensaio e erro 1.4. CONHECENDO OS TIPOS DE APRENDIZAGEM Vimos que a aprendizagem resulta em alguma mu- dança ocorrida no comportamento daquele que aprende, e isso é comprovado quando observamos as mudanças na maneira de agir, de fazer as coisas, de pensar e ver o mundo em que vive. Desse modo, verifica-se que os tipos de aprendizagem são de naturezas diferentes, sendo possível sua classifica- ção, e, geralmente, não se encontra um tipo de aprendizagem puro, mas o predomínio de um dos tipos sobre os outros, em cada situação. Sendo o homem um organismo que pensa, sente e atua, todo o processo aprendido possui componentes cognitivos, psicomotores e afetivos, que se modifi- cam e se completam. capítulo 114 Outros teóricos também muito contribuíram para uma melhor compreensão da aprendiza- gem. David Ausubel , psicólogo e pedagogo norte- -americano, nascido em 1918, se destacou no estudo dos processos de aprendizagem. Considerado um cognitivista e construtivista, investigou os vários tipos de aprendizagem. Enfatizou a aprendizagem por descoberta em que a motivação e a possibilidade de escolha, por parte do aluno, desempenham um papel fundamental. Para ele, o professor deveria elaborar, antes de apresentar um assunto, os objetivos a atingir, relacionando-os com os sa- beres já adquiridos. Seriam como que “pontes cognitivas”, entre o que o aluno sabe e o que irá aprender. O seu conceito de “aprendiza- gem significativa” compreende que, o que se aprende deveria integrar-se no que o sujeito já conhece, que, por sua vez, poderá modificar e dar outras significações àquelas pré-existentes. 1.5. CONDIÇÕES NECESSÁRIAS PARA A APRENDIZAGEM Levando em consideração as variadas teorias de aprendizagem, existem, pelo menos sete fatores fundamentais para que a aprendiza- gem se efetive. Bruner, (1969, apud Drouet, 2006) chamou de prontidão para a aprendi- zagem o conjunto de todos esses elementos. Vejamos quais são. I. Saúde física e mental – Um bom estado fí- sico geral é o que a criança deve apresentar para que seja capaz de aprender, isto é, deve estar gozando de boa saúde, com seu sistema nervoso e todos os órgãos dos sentidos funcio- nando perfeitamente bem. II. Motivação – O fato de querer aprender ga- rante à criança um maior sucesso na aquisição de conhecimentos, habilidades ou técnicas. Os motivos que a criança tem para aprender situam-se nos vários níveis de desenvolvimento humano (biológico, psicológico e social). III. Prévio domínio – É o domínio de certos conhecimentos, habilidades e experiências an- teriores, que são chamados de pré-requisitos para a aprendizagem. Currículo oculto é um exemplo de domínio prévio que as crianças já trazem de casa, ou seja, a soma de conheci- mentos, experiências, noções e habilidades que já foram vivenciadas no lar, e que lhe dão uma grande vantagem em relação às outras crianças que não o possuem. IV. Maturação – É o processo de diferenciações estruturais e funcionais do organismo, levando a padrões específicos de comportamentos. A maturação ocorre por etapas que se sucedem sempre em uma mesma sequência, porém em tempos diferentes para cada indivíduo. Mes- mo sendo processos diferentes, a maturação e a aprendizagem estão intimamente ligadas, pois ela é que cria condições para que a apren- dizagem ocorra. Nelas não há o predomínio de hereditariedade ou do ambiente, pelo contrá- rio, existe uma interação perfeita entre ambos. V. Inteligência – A criança deve ter a capaci- dade de assimilar e compreender as informa- ções que recebe; de estabelecer relações entre várias dessas informações; de criar e inventar coisas novas, com base nas que já conhece; de raciocinar com lógica na resolução de proble- mas que lhe são apresentados. VI. Concentração – A capacidade de fixar-se em um assunto é um fator intelectual que interfere na aprendizagem. Da maior ou da menor capacidade que o indivíduo tem de concentrar-se no objeto do conhecimento, dependerá sua maior ou menor facilidade de aprender. ACESSE: www.famema.br/semanadeplanejamento/refe- renciais_teoricos_ausube.pdf Saiba Mais: capítulo 1 15 Conhecemos os variados conceitos de apren- dizagem e entendemos que ela é um processo inseparável do ser humano e ocorre quando há uma modificação no comportamento, me- diante a experiência ou a prática, que não po- dem ser atribuídas à maturação, a lesões ou alterações fisiológicas do organismo. Compreendemos os processos que caracteri- zam a aprendizagem, como também verifica- mos que os tipos de aprendizagem são de di- ferentes naturezas, e que não se encontra um tipo de aprendizagem puro, mas o predomí- nio, em cada situação, de um dos tipos sobre os outros. E, por fim, analisamos as condições necessárias para que a aprendizagem seja efe- tivada no ser humano. reFerÊncias CAMPOS, Dinah Martins de Souza. Psicologia da Aprendizagem. – 22 ed. – Petrópolis: Vo- zes, 1991. VII. Memória – É pela experiência concreta e de seus sistemas sensoriais que a criança aprende. Os seus sistemas se comunicam com o centro da aprendizagem por meio dos seus centros nervosos, localizados nos hemisférios cerebrais, pois tudo que é aprendido é trans- mitido a um outro centro nervoso: o da me- mória, em que será guardado até que a crian- ça tenha necessidade de utilizá-lo, em que ela usará também, os conhecimentos anteriores já memorizados. A memória não funciona isola- damente, e é um dos fatores da inteligência que evolui com o desenvolvimento das fun- ções intelectuais. Faz-se necessário que os educadores tenham conhecimentos que lhes possibilitem com- preender sua prática e os meios necessários para promoverem o progresso e o sucesso da aprendizagem dos seus alunos. que os edu- cadores sempre considerem os elementos ci- tados e busquem subsídios essenciais para o enriquecimento da sua prática educativa, pro- movendo orientações didático-metodológicas, de acordo com as características dos indivídu- os e grupos de trabalho. resumo Neste capítulo, refletimos sobre a importância da aprendizagem para o ser humano e vimos que ela se dá em todas as etapas da nossa vida e de forma gradativa. Isso é comprovado quando levamos em consideração todas as ha- bilidades, os interesses, as atitudes, os conhe- cimentos e as informaçõesadquiridas dentro e fora da escola, e suas relações com a conduta, a personalidade e a maneira de viver. Mediante o que estudamos neste 1º capítulo, responda: 1. Na sua prática pedagógica, qual a importância de compreender o processo de aprendizagem? 2. Para você, qual a definição que melhor explica o que é aprendizagem? 3. De acordo com as características da aprendizagem, explique porque ela é um processo pessoal. 4. Caracterize as aprendizagens cognitiva, afetiva e psicomotora. Atividades: capítulo 116 DROVEY, Ruth Caribé da R. Distúrbios da aprendizagem. –São Paulo: Ática. 2006. MEIRELES, Cecília. Melhores poemas. 10ª Ed. São Paulo:Global, 1997. NUNES, Ana Ignez Belém. Psicologia da apren- dizagem: processos, teorias e contextos. Brasí- lia: Liber Livro, 2009. SANTOS, Rosângela Pires dos. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem. Dispo- nível em: www.scribd.com/doc/2985957/Psi- cologia-Desenvolvimento. Acesso em: 20 ago 2010. SITES paolasi.blogspot.com/.../os-tipos-de-aprendizagem.html - www.monografias.brasilescola.com/psicologia/a-psicologia-aprendizagem.htm - www.psicologia.com.pt/artigos/ver_artigo.php?... FILME Escritores da liberdade - (Freedom Writers, EUA, 2007) Erin Gruwell é uma jovem professora que leciona em uma pequena escola de um bairro periférico nos EUA. Por meio de relatos de guerra, ela ensina seus alunos os valores da tolerância e da disciplina, realizando uma reforma educacional em toda a comunidade. Saiba Mais: capítulo 2 17 Profa. Tereza Ascendina de Miranda Coêlho Carga Horária | 15 horas INTRODUÇÃO Talvez seja este o aprendizado mais difícil: manter o movimento permanente, a renovação constante, a vida vivida como caminho e mudança. (Maria Helena Kuhner) OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Conhecer a Teoria Comportamental em que a aprendizagem é vista como a aqui- sição de comportamentos expressos, por meio de relações mais ou menos mecâni- cas entre um estímulo e uma resposta; • Compreender que, na Teoria Humanista, a aprendizagem se baseia essencialmente no caráter único e pessoal do sujeito que aprende, em função das suas experiências únicas e pessoais; • Analisar a Teoria Cognitivista, em que a aprendizagem é entendida como um pro- cesso dinâmico de codificação, processa- mento e recodificação da informação em que o indivíduo é visto como um ser que interage com o meio; • Entender que a Psicologia da Gestalt en- fatiza a percepção em vez da resposta, em que a resposta é considerada como o si- nal de que a aprendizagem ocorreu e não como parte integral do processo; • Compreender que, na Teoria de Piaget, as estruturas cognitivas mudam mediante os processos de adaptação (assimilação e acomodação) e na teoria de Vygotsky, a aprendizagem ocorre no relacionamento do aluno com o professor e com outros alunos. PersPectiVas teÓricas de aPrendizagem capítulo 218 Recordando o que já estudamos no capítulo anterior, ainda podemos nos perguntar: para que aprender? A resposta mais adequada se- ria: para nos construirmos como humanos e reconstruirmos a realidade, apontando-lhe significado; também para contemplarmos as várias dimensões da atividade humana, pois, mais que enxergar limites no aprender, é ne- cessário que percebamos ritmo, espaço e tem- po de cada sujeito aprendiz. Analisaremos, neste capítulo, as teorias psico- lógicas em sua relação com a educação, em especial com a aprendizagem, em que nos depararemos com diferentes concepções de sujeitos e formas de se compreender a consti- tuição do conhecimento humano. Tais teorias, direta ou indiretamente, têm influenciado nos objetivos de ensino, no planejamento pedagó- gico, bem como a práxis do professor em sala de aula, na sua relação com os alunos e com o próprio conhecimento. Abordaremos as teorias surgidas a partir do início do século xx, pertencentes às correntes da Psicologia Clássica, em que cada uma delas apresenta uma visão particular do fenômeno psíquico, do comportamento e do desenvol- vimento humano. Os postulados teóricos são abrangentes e complexos, em que destacare- mos os principais representantes de cada um deles para estudarmos suas ideias, ressaltan- do os aspectos relacionados à aprendizagem, foco desta disciplina. 1. TEORIA COMPORTAMENTAL Sendo a Psicologia a ciência do comportamen- to, tem por finalidade compreender o com- portamento para poder prevê-lo e até modi- ficá-lo, quando necessário. Os estudiosos do comportamento têm sido chamados de com- portamentalistas ou behavioristas. Derivado da palavra inglesa behavior (comportamento), o termo comportamentalismo refere-se a um movimento iniciado nos Estados Unidos no iní- cio do século xx. Por reunir uma variedade de autores que pre- cisam ser entendidos em suas especificidades conceituais, é necessário clarificar diferenças e semelhanças do comportamentalismo (ou Behaviorismo), quanto aos aspectos teóricos e metodológicos apresentados por cada um dos seus autores, assim como as raízes epis- temológicas que influenciaram seu surgimen- to. Explanaremos as contribuições teóricas e metodológicas de Watson e Skinner, dada a repercussão de suas obras nas áreas da Psico- logia e da Educação. 1.1. Watson e o comportamento Oficialmente, a fundação do behaviorismo ocorreu no ano de 1913, tendo John Broadus Watson (1878-1958) como pre- cursor. A sua teoria teve como ideia central rever posições mentalistas no estudo dos fenômenos psíquicos. Para ele, a Psi- cologia deveria ser uma área pertencente às ci- ências naturais; tratando objetivamente, e, por meio de procedimentos experimentais, o estudo da conduta humana. Nesta abordagem, o objeto de estudo da Psi- cologia é o comportamento (publicamente observável – a extrospecção), havendo uma refutação do estudo dos fenômenos mentais (a introspecção). Watson definiu o compor- tamento como as modificações percebidas no organismo, ocorridas em virtude de estí- mulos. Estes poderiam ser provenientes do Figura 01 Watson (1878-1958) A JB W .jp g 18 0 × 24 2 - a. k. a. J oh n Br oa du s W at so n. Au th or C od e: A JB W eb oo ks -li br ar y.c om ACESSE: reocities.com/CollegePark/quad/6905/behapsic. html Saiba Mais: capítulo 2 19 operam sobre o ambiente. Grande parte do comportamento humano é operante, como tomar uma refeição, conduzir um carro, escre- ver uma carta. De acordo com a influência que recebeu do movimento reflexologista russo (PENNA, 1982, apud NUNES, 2009), Watson considerava que os comportamentos eram aprendidos , mes- mo em se tratando de reações emocionais ou instintivas. Para ele, as reações instintivas eram representadas basicamente pelo medo, ódio e amor, os quais estariam, como outras formas de expressão, associados à ação de estímulos. Por conseguinte, todas as áreas do comporta- mento humano seriam compreendidas a partir da relação estímulo-resposta e todos os com- portamentos seriam considerados reflexos, uma vez que eles são considerados respostas provocadas por estímulos. Encontramos em Watson uma concepção me- canicista de aprendizagem cuja causa está, necessariamente, em um acontecimento an- terior, que produz um determinado efeito so- bre o indivíduo. Um aspecto questionado por opositores do behaviorismo metodológico (ou clássico) é a redução da explicação da ação humana a meras conexões entre estímulos e respostas. meio externo ou do próprio organismo, como palpitações, reações musculares, etc. Os com- portamentos seriam, então, as manifestações reflexas, as respostas que o organismo emitequando estimulado e a atividade do organis- mo como um todo. Para simbolizar a dependência entre reação e estimulação, muitas vezes tem sido em- pregado o seguinte esquema: E – R, no qual E significa estímulo ou conjunto de estímulos (situação) e R significa reação ou resposta. O comportamento é classificado: I. Comportamento inato ou natural (invariá- vel): reações que todos os seres da mesma es- pécie apresentam todas as vezes que recebem determinada estimulação. Exemplo: nossas pupilas se contraem sempre que aumenta a intensidade da luz no ambiente em que esta- mos, e se dilatam quando a luminosidade di- minui (reflexo pupilar). Esse tipo de reação não precisa ser aprendida, pois todos os seres hu- manos, em seu estado normal, a apresentam. II. Comportamento adquirido ou aprendido (variável): reações que alguns seres apresen- tam e outros, embora da mesma espécie, não apresentam ao receberem determinada esti- mulação. São reações que precisam de apren- dizagem para se processarem quando o orga- nismo recebe a estimulação. Exemplo: o gato de uma determinada casa entra na cozinha to- das as manhãs ao ouvir o barulho das panelas; outros gatos, ao ouvirem o mesmo som, não reagem desse modo. Essa reação foi aprendi- da, constituindo o comportamento variável ou adquirido. Observou-se que, no início de nos- sa vida, apresentamos aos estímulos reações que, em sua maioria, são inatas. À medida que amadurecemos, vai aumentando o número de nossas reações adquiridas ou aprendidas. III. Comportamento respondente: consiste nas relações eliciadas por estímulos conhecidos, como a contração pupilar diante da luz, o mo- vimento de perna a uma pancada no tendão. IV. Comportamento operante: consiste nas respostas emitidas pelo organismo sem que se possa relacioná-las com algum estímulo co- nhecido. Dizemos apenas que elas ocorrem, e estas reações são chamadas operantes porque os comportamento eram aprendidos: Sob essa perspectiva, o que impede um indivíduo a agir sobre o meio, o motivo que o mobiliza a aprender é um elemento externo. A aprendiza- gem é função desses elementos, isto é, da forma como os estímulos são dispostos. Comentário: capítulo 220 1.2. A análise comportamental de Skinner O psicólogo norte-ame- ricano Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), apresentou acréscimos ao behaviorismo clás- sico, também diferen- ciando-se do behavio- rismo mediacional de Tolman, introduzindo a ideia de condiciona- mento operante, em oposição ao condicio- namento respondente, enunciado por Pavlov e, de certo modo, pelo próprio Watson. De acordo com Skinner, eventos/comporta- mentos de caráter mental como o pensar, o sentir, o ouvir, dentre outros, não são úteis para explicar a conduta humana. Mesmo não negando a existência desses eventos mentais, sua teoria defende que o ser humano é contro- lado por influências externas (meio) e não por processos internos. A determinação da ação humana, a partir do ambiente, é explicada pela ideia de seleção por conseqência, ou seja, o ambiente seleciona, entre os tipos de rela- ção do indivíduo, qual delas é mais vantajosa para ele, mais adaptativa. Essa visão diferencia substancialmente as ideias de Skinner da visão de Watson. Analisemos um exemplo de seleção por conse- qência numa situação de ensino. Uma pessoa inscreve-se no curso e, já nos primeiros dias de aula, começa a sentir grande satisfação por estar na turma, pois, além de considerar as au- las prazerosas, percebe no curso um meio de qualificação profissional e de futura abertura para sua inserção no mercado de trabalho. Podemos dizer que o estar no curso lhe traz como conseqência a satisfação, o prazer, o que faz com que ele queira continuar no curso . Ao contrário, se as consequências de estar no curso não lhe gerarem satisfação, a tendência será diminuir a frequência de ir as aulas, che- gando à possível desistência. Pode-e dizer que, na abordagem de Skinner, o comportamento humano é influenciado por suas consequências, em três níveis: • filogenético (espécie) – o comportamento de um organismo é produto da seleção natu- ral, da evolução da espécie ao longo de milha- res de anos. • ontogenético (indivíduo) – o comportamen- to é determinado pelo condicionamento ope- rante, ou seja, ocorre em função das neces- sidades e das histórias de condicionamentos anteriores do indivíduo. • cultural (o indivíduo é membro de um gru- po) – como membro de uma cultura, o indi- víduo se comporta da forma que foi ensinado, ou seja, de acordo com as contingências de reforçamento mantidas pelo grupo do qual faz parte. O comportamento humano é, então, pas- sível de reforço, de previsão e de controle e, nessa abordagem, está ligado à explicação, à demonstração da funcionalidade das carac- terísticas e das condições em que ocorrem os comportamentos. Figura 02 Skinner (1904-1990) bf sk in ne r.jp g4 32 × 6 13 - c ul tb le nd er .w or dp re ss .c om ACESSE: www.scielo.br/scielo.php?pid=S1678...script.. www.psicologiacomanda.hpg.com.br/pavlov.htm Saiba Mais: Estar no curso gera satisfação (consequência) aumenta a frequência de querer estar no curso (mantém o comportamento). Comentário: capítulo 2 21 mas emergentes da história do indivíduo, isto é, aprendidos. Por conseguinte, é “a história de interações passadas entre um indivíduo e seu ambiente que permitirá entender por que certas conseqüências são reforçadoras para alguns, aversivas para outros e, finalmente, incapazes de manter comportamentos para outras ainda” (LUNA, 2002, p. 161). Segun- do Skinner, o ambiente se refere aos eventos físicos, sociais e culturais capazes de repercutir no organismo, envolvendo comportamentos abertos e encobertos, como sonhos, ideias, pensamentos, linguagem não-verbal. O reforço é o conceito central do condiciona- mento operante, que consiste em qualquer estímulo ou evento que aumenta a probabi- lidade de ocorrência de um comportamento. Por exemplo, quando o aluno cumpre as ativi- dades solicitadas (comportamento operante), essa ação traz como consequência em elogio da professora, que pode ser considerado um reforço. Progressivamente, o comportamento do aluno será condicionado a executar as ati- vidades da escola, em função dos elogios re- cebidos. Skinner definiu dois tipos de reforços: positivo e negativo. • No reforço positivo, após a ação do indiví- duo, um estímulo é apresentado (elogio) e esta apresentação aumenta a frequência do com- portamento (realizar as atividades escolares). • No reforço negativo, também haverá um aumento na frequência do comportamento, contudo, será pela retirada de um estímulo aversivo (ruim). Por exemplo: um professor de ciências deseja que os seus alunos se interes- sem e aprendam em suas aulas (comporta- mento a ser condicionado). Contudo, ele per- Em suas investigações, Skinner trabalhou com o método experimental, realizando vários es- tudos com animais, os quais nos ajudam a en- tender seus conceitos e suas proposições. Em um deles, um rato, privado de alimento, foi colocado em uma caixa, denominada câma- ra operante . Explorando o espaço da caixa, o rato, acidentalmente, acionou uma alavanca que liberou comida. Após a repetição dessa ação pelo animal, seguida de novas liberações de comida (reforço) pelo experimentador, o rato aprendeu a acionar a alavanca para obter o alimento. Podemos dizer, então, que o ani- mal agiu sobre o ambiente e tornou-se condi- cionado. Mesmo considerando a ação do indivíduo como fundamental na determinação do com- portamento, essa ação, na teoria de Skinner, é controlada pelo ambiente externo, que poderá manter, extinguir ou efetuar modificações es-pecíficas num dado comportamento. Na visão de Skinner, são minimizados, quando não negados, os efeitos dos estados motiva- cionais e a ação direta dos estímulos ambien- tais como fatores determinantes do comporta- mento. Sua concepção de funcionamento da conduta humana reside na ideia de condicio- namento operante. 1.2.1. O condicionamento operante A ação do indivíduo não responde à estimula- ção direta (mecânica) a estímulos, mas a asso- ciação entre o comportamento e sua repercus- são no ambiente, como acabamos de estudar. Assim, não há comportamentos operantes (ação do indivíduo) de caráter hereditário, Rato em privação (necessidade de alimen- to): aperta alavanca (comportamento) e recebe alimento (reforço)acionar a ala- vanca voluntariamente para obter comi- da (aprendizagem por condicionamento operante). 22 8 × 16 8 - Un a ca ja d e Sk in ne r e s un a cá m ar a de c on - di cio na m ie nt o el un iv er so .c om capítulo 222 cebe que, cada vez que utiliza o material didático preparado para as aulas, os alunos o consideram enfadonho e de difícil compreensão (estímulo aversivo), tornando-se desinteressados e com baixo rendimento. O professor retira, então, o material didático (retirada do estímulo aversivo), e com- prova que, cada vez que isso acontece, os alunos prestam mais atenção e se interessam mais pela aula, consequentemente, melhorando o rendimento escolar, ou seja, aumentam a frequência do comportamento desejado pelo professor. Estes reforços são apresentados ao indivíduo de acordo com diferentes esquemas de reforçamen- to que podem ser: Contínuo Em intervalo Em razão Intermitente O comportamento é reforçado toda vez que é emitido. Por exemplo, sempre que o aluno presta aten- ção às explicações do professor, recebe um elogio. Pode ser apresentado em: • Intervalo fixo: o profes- sor escolhe a sexta-feira (dia fixo) para observar quem participou ativa- mente da aula e premiar com “estrelinhas” ou pontos na média (reforço) os que cumpriram tal ob- jetivo. Nesse dia, a maio- ria dos alunos procurará participar das aulas. • Intervalo variável: o professor não tem um dia certo para fazer uma avaliação dos conteúdos e premiar os que obtive- rem as melhores notas. Desse modo, os alunos serão condicionados a estudar mais, visto que serão surpreendidos pela avaliação. O reforço em razão pode ser: • Em razão fixa: o refor- ço depende do número de vezes em que o com- portamento ocorre. Por exemplo, o professor pode determinar que a cada três atividades de casa entregues no prazo estipulado, o aluno rece- berá 25 décimos na mé- dia parcial. • Em razão variável: o número de ocorrências de comportamento, para que seja reforçado, vai ocorrer sem ser pré-de- terminado, ou seja, será irregular. É um reforço esporádico, sem tempo determinado ou intervalos mais regu- lares. Por exemplo, acon- tece quando professores e pais, no dia a dia, re- forçam comportamentos dos alunos e dos filhos, sem prestarem atenção ou controlarem o tempo com que atuam dessa maneira. Isso pode se re- ferir aos elogios diversos, prêmios, gestos de cari- nho, de ações violentas, etc., emitidos quando as crianças e os adolescentes se comportam de deter- minada maneira. A concepção Behaviorista de Skinner sobre o processo de ensino baseia-se na ênfase do mé- todo e na eficácia da estruturação dos recur- sos externos, como principais promotores da aprendizagem. Segundo ele, a aprendizagem ocorre em virtude da forma como esquemas de reforçamento são organizados, para gera- rem resultados. E ele ainda ressalta: A aplicação do condicionamento operante é simples e direta. O ensino é um arranjo de contingência sob as quais os alunos aprendem. Aprendem sem serem ensinados no seu ambiente natural, mas os profes- sores arranjam contingências especiais que acele- ram a aprendizagem facilitando o aparecimento do comportamento que de outro modo, seria adquirido vagarosamente, ou assegurando o aparecimento do comportamento que poderia de outro modo, não ocorrer nunca (SKINNER, 1975, p.62). capítulo 2 23 jetivos educacionais como autonomia, inde- pendência, autocontrole do aluno, solução de problemas. Portanto, os analistas do compor- tamento estudam a aprendizagem perguntan- do-se quem, o que, para que, quanto e como deve ser ensinado. Para o autor, de modo al- gum a teoria skinneriana defende a passividade do indivíduo, pois o comportamento é a ação que afetou o ambiente e foi afetada por ele. Para ele, Skinner, embora reconhecesse que a punição é capaz de eliminar comportamen- tos inadequados, não a considerou instrutiva por produzir efeitos indesejáveis nas respostas emocionais do indivíduo. 2. TEORIA HUMANISTA Em seu sentido histórico, o termo Humanismo refere-se a um movimento de cisão com os valores medievais, evidenciado no período do Renascimento. A ênfase passou a residir pro- gressivamente no reconhecimento do ser hu- mano como elemento central do mundo; o in- divíduo foi posto num lugar de possibilidades, de escolhas, de atuação e transformação da realidade. A tradição teocêntrica é substituída pela emergência de um novo modo de pensar e de explicar o próprio destino, frente às crises que acompanhavam as transformações na so- ciedade europeia da época. O Humanismo surgiu na segunda metade do século xx, nos Estados Unidos. O seu intuito era resgatar o estudo da subjetividade e, para tanto, pôs em questão investigações que prio- rizavam métodos objetivistas e quantificadores no estudo da compreensão dos processos psi- cológicos e que posicionavam o ser humano no lugar de objeto e não de sujeito. Enfatizou o estudo da consciência, da pessoa como do- tada de valores e de capacidade de autoconhe- Skinner elaborou a ideia de um ensino progra- mado, ou seja, de uma programação dos ob- jetivos e dos conteúdos da educação, expressa em algumas características específicas como: • Estudo por meio de unidades de ensino ou disciplina, avançando por etapas. • Organização de sequências de ensino de acordo com as dificuldades surgidas. • Manutenção do aluno em permanente ati- vidade. • Autoavaliação do aluno em situações espe- cíficas. • Feedback dado pelo professor. • Ênfase no ensino individualizado e na análi- se do comportamento do aluno, para identifi- car o que necessita aprender. As teorias comportamentais, com destaque para os trabalhos de Skinner, tiveram forte influência sobre a educação, principalmente pela sua predominância na psicologia norte- americana, em que muitos desses conceitos foram transpostos diretamente ao processo de ensino e aprendizagem nas escolas. A forma- ção dos professores também sofreu forte influ- ência dessa corrente, derivando a orientação conceitual tecnológica, como uma visão que norteou os cursos de formação do magistério, em nível médio e superior, destacando a pre- paração metodológica do professor. Algumas críticas têm sido apresentadas a essa abordagem. Certos autores afirmam, por exemplo, que o behaviorismo põe em xeque a noção de autonomia, de liberdade e de au- todeterminação do sujeito, ao enfatizar os arranjos de variáveis externas como fatores determinantes da conduta humana. Outros contestam, defendendo a “seleção por conse- quências” como fator característico da teoria do condicionamento operante, ou seja, a ideia de que o sujeito não responde passivamente às estimulações do ambiente, pois o reforço só é dado após a ação do indivíduo. Luna, (2002) referindo-se às críticas, lembra que Skinner reafirmou a importância de ob- capítulo 224 cimento e autonomia. Foi um movimento que almejava trazero indivíduo e suas formas de relação no mundo para o centro das investiga- ções psicológicas. A psicologia humanista apresenta um consi- derável número de autores, dentre eles os das vertentes humanistas da escola norte-america- na, representada pela psicoterapia humanista- existencial de Carl Ranson Rogers (1902-1987) e Abrahan Maslow (1908-1970) a Psicotera- pia Fenomenológica Existencial de Rollo May e a escola europeia, representada por Ludwig Biswanger e Medad Boss. Destacaremos, nesse nosso estudo, as contribuições de Carl Rogers em virtude da ênfase de sua teoria à área edu- cacional. 2.1. O humanismo de Carl Rogers A teoria humanista de Carl Rogers (1902 – 1987) traz uma con- cepção de ser humano como dotado de uma capacidade de cresci- mento constante, de atualização permanen- te de suas potencialida- des. O sujeito é passivo de constantes mudan- ças em seus processos subjetivos, que, em cada fase da vida pode conseguir certo nível de realização pessoal estruturando-se de manei- ra mais plena, mais integrada. Dessa maneira, Rogers afirma que, em todos os seres humanos e em todos os organismos, há uma tendência em direção à realização construtiva, há um de- senvolvimento cada vez mais complexo. Essa característica está presente em todo ser vivo, independentemente de um favorecimento de um ambiente, podendo ser desviada, mas, ja- mais destruída, como ele bem afirma: Os organismos estão sempre em busca de algo, sem- pre iniciando algo, sempre prontos para alguma coi- sa. Há uma fonte central de energia no organismo humano [...] é como uma tendência à plenitude, à auto-realização, mas também o crescimento do or- ganismo. (ROGERS, 1983, p. 44) Para o autor, o tipo de relação que se estabe- lece entre as pessoas, desde o início da vida, é fator crucial de estruturação psicológica e de constituição do self, ou seja, de si mesmo. Contudo, salienta que o indivíduo tem um po- der de autonomia intrínseca, sendo construtor de seu percurso pessoal. Acredita que o pró- prio sujeito é responsável por mudanças em sua vida; por existir um mecanismo de autor- regulação no desenvolvimento. Rogers, (2001) em sua experiência como pro- fessor, afirma que a atividade docente só pode ter consequências eficazes se esta tiver influ- ência sobre o comportamento do aluno, o que chama de aprendizado autodescoberto , auto- apropriado. Rogers (1983) teceu críticas ao modelo edu- cacional norte-americano de sua época e, se- gundo ele, tal contexto educacional se baseava na (o)(s) • concepção de professores como possuido- res de conhecimento e de alunos como supos- tos recipientes. • aulas expositivas (ou outros recursos de ins- trução verbal), como principal estratégia didá- tico-metodológica. • avaliações que mediam apenas a quantidade de conhecimento adquirido pelos alunos. • ideia de professores como detentores de po- der e de alunos passivos. • sala de aula como espaço marcado por uma relação de dominação, por meio de autoridade dos professores sobre os alunos. • falta de confiança entre professores e alunos. • alunos mantidos em um clima de medo Figura 04 Carl Rogers (1902 – 1987) im ag en s 2. jp g 13 9 × 18 8 - Ca rl Ro ge rs . po rt al sa of ra nc isc o. co m .b r capítulo 2 25 a aprender, a descobrir e a criar. O papel de facilitador do professor é decisivo no aprender, por barrar ou contribuir com o potencial reali- zador inerente a todo ser humano. 3. TEORIA COGNITIVISTA Diferentes abordagens teóricas, sob a denomi- nação de cognitivismo, têm em comum a con- cepção da aprendizagem como um processo de relação do sujeito com o mundo externo, incindindo na sua organização cognitiva. En- tende-se por cognição o processo pelo qual conhecemos e atribuímos significado à reali- dade, com base nas experiências sensoriais, re- presentações, pensamentos e lembranças. Nessa perspectiva, os elementos cognitivos e as formas representativas ocupam lugar de destaque, e a aprendizagem resulta da organi- zação da percepção ou da personalidade como um todo, sendo o indivíduo um ser ativo. O pensamento, a linguagem e a memória, vistos como processos cerebrais centrais, são consi- derados essenciais para aquisição e manuten- ção do comportamento aprendido, mostran- do, assim, a ênfase dada pelos cognitivistas ao modo como as informações, os conteúdos, os conhecimentos são assimilados, processados, significados nas estruturas mentais do sujeito. Apresentaremos as teorias de Albert Bandura, David Ausubel e Jerome Bruner que trazem contribuições para se pensar os processos de aprendizagem na educação, com base na Psi- cologia Cognitiva. 3.1. Teoria da Aprendizagem (constante ou intermitente). • um ambiente escolar não democrático, no qual os valores dos alunos eram desdenhados ou ignorados. • um sistema educacional que não considera a pessoa no seu todo, mas apenas no seu as- pecto intelectual. Rogers propõe uma educação humanista que tenha como condição prévia a existência de professores (facilitadores, líderes) seguros de si e de seus relacionamentos, e confiantes na autoaprendizagem e na capacidade dos alu- nos no que tange ao pensar e ao sentir. Profes- sores que incentivem a participação ativa do grupo no processo de planejamento das ativi- dades em sala, oferecendo recursos didáticos e solicitando dos alunos que tragam sua con- tribuição, ou seja, desenvolvam programas de aprendizagem em grupo, assumam seus inte- resses, suas escolhas e as suas consequências. No que tange à avaliação, ele propõe que seja realizada pelo próprio aluno, havendo a par- ticipação dos colegas. Todos podem ser enri- quecidos por um feedback cuidadoso de ou- tros membros do grupo ou do facilitador. A aprendizagem centrada na pessoa é concebi- da como um meio de autocrescimento, de de- senvolvimento de autonomia e da capacidade de criação e expressão. Acredita-se, com base na tendência autorrealizadora já mencionada em parágrafos anteriores, que o aluno possui uma potencialidade natural para aprender. À medida que o professor permitir ao aluno o contato com situações/problemas de vida em um clima de autonomia, de liberdade e de ex- pressão de sentimentos, ele se sente motivado Autodescoberto A atitude do professor para com os alunos é o foco para que a aprendizagem seja facilitada. Os recursos didáticos como técnicas, teorias e ma- teriais constituem importantes instrumentos no contexto da aprendizagem. Porém, nessa pers- pectiva teórica devem ser postos à disposição do aluno e, nunca impostos. Comentário: capítulo 226 Social de Albert Bandura O canadense Albert Bandura , nascido em 1925, compõe o gru- po de psicólogos de- nominados cogniti- vistas, embora tenha suas bases conceitu- ais e metodológicas numa linha compor- tamental, com sua abordagem teórica chamada inicialmente de sócio-behavioris- mo. Posteriormente, o próprio Brandura a chamou “abordagem cog- nitiva social”. Albert Bandura acredita na capacidade do ser humano, de uma autoativação para aprender e de uma resposta consciente para seu meio, pois, para ele, existem determinadas formas de aprendizagem que acontecem valendo-se da observação de comportamentos de outros indivíduos, não sendo necessário submeter o aprendiz a algum tipo de reforço. Isso denota a possibilidade de ocorrer um controle do pró- prio comportamento pelo indivíduo, partindo da observação do comportamento de uma ou- tra pessoa, assim como de suas consequências no ambiente. (NUNES, 2009) Nessa teoria, o termo imitação não está se re- ferindo a uma cópia fiel do modelo observado. Afinal, processos cognitivos estão intervindo nessa imitação ou modelação, mediandoas representações simbólicas que o sujeito vai fa- zendo do comportamento imitado. Para o au- tor, há uma reciprocidade permanente entre o comportamento do indivíduo, fatores pessoais (cognitivos, pessoais) e contextuais. Diverge do behaviorismo, notadamente no entendimento de que os processos cognitivos estão median- do a associação entre o estímulo e a resposta do indivíduo. Em alguns casos, a expectativa do reforço por parte do sujeito passará a ser mais forte que o próprio reforço em si. Por exemplo, o aluno que vai poder viajar com a turma do colégio, caso passe por média, se empenha mais para tirar boas notas por causa da expectativa, do desejo de viajar. A viagem em si (reforço) só virá depois. É a consciência, o aspecto emocional que vai mediar o compor- tamento do sujeito. A ideia central dessa abordagem é a de que o comportamento de um indivíduo se modifica em função da exposição ao comportamento do outro indivíduo, ou seja, a imitação, em que os sujeitos podem imitar comportamentos socialmente aceitáveis, ou não. A aprendiza- gem por imitação ou por observação pode ser descrita em quatro processos inter-relaciona- dos, como veremos a seguir: A te nç ão Consiste na observação atenta dos estí- mulos por parte do sujeito, o qual deverá selecionar os mais importantes, diferen- ciando aqueles traços distintivos da con- duta do modelo. Re te nç ão O comportamento do modelo é arma- zenado ativamente na memória, o que implica uma atividade simbólica. Assim, mesmo com a ausência do modelo, o su- jeito pode reproduzir um comportamen- to modelado. D es em pe nh o quando o sujeito aceita para si o com- portamento do modelo como adequa- do, de modo a poder reproduzi-lo. M ot iv aç ão e re fo rç o O comportamento do sujeito vai defron- tar-se com consequências que vão au- mentar ou reduzir sua frequência, isto é, reforçá-lo. O comportamento será con- trolado não apenas pelas conseqências externas, mas pelo autorreforço. Alguns fatores afetam a extensão da aprendi- zagem, tais como as propriedades do modelo a ser imitado, os tipos de comportamento ime- Figura 05 Albert Bandura (1925) ba nd ur a. jp g 30 0 × 34 8 - 51 22 ps yc ho lo gy / A l- be rt Ba nd ur a5 12 2p sy ch ol og y.p bw or ks .c om capítulo 2 27 • Aprendizagem significativa: processa-se quando um novo conteúdo relaciona-se com conceitos claros e disponíveis na estrutura cog- nitiva, sendo assimilado por ela. Esses concei- tos disponíveis são os pontos de ancoragem para a aprendizagem. A estabilidade e a cla- reza das ideias servirão de base para ancorar novos conhecimentos. A aprendizagem é fa- cilitada na medida em que se apoia no que o aprendiz já sabe. Esses elementos estão rela- cionados às subsunções ou ganchos cogniti- vos que funcionam como organização prévia dos conhecimentos a serem aprendidos. Por exemplo, para ensinar o aluno a ler o mapa do Brasil, é preciso que ele já tenha conceitos de espaço, distância, representação de símbolos, etc. para que o novo conhecimento tenha em que se ancorar, se sustentar. As duas aprendizagens apresentadas, memo- rística e significativa, não devem ser enten- didas de formas dicotômicas, mas como um continuum, na medida em que o grau de di- ferença entre ambas tem relação significativa com a conexão entre o conteúdo novo a ser aprendido e os conhecimentos que o aluno já possui. Ausubel destaca, com relação à forma de apre- sentação dos conteúdos para o aluno, outras duas dimensões de aprendizagem: por re- cepção (em que o conteúdo a ser aprendido chega pronto ao aluno) e a aprendizagem por descoberta (em que o conteúdo a ser apren- dido não é apresentado ao aluno em sua for- ma final, e sim descoberto por ele). Ambas as aprendizagens podem ser ou não significati- vas, dependendo da correlação que o profes- sor estabeleça entre o conhecimento novo e o conhecimento prévio do aluno. diato e as consequências da imitação. É impor- tante salientar que muitos modelos, embora adequados, necessitam de treino e de prática para serem reproduzidos. É importante que o professor ofereça, constantemente, diferentes modelos de observação para o aluno, conside- rando a adequação destes às capacidades dos alunos e à valência afetiva do professor, ou seja, a atratividade do professor como modelo para os alunos. 3.2. Teoria da Aprendizagem Significativa de David Ausubel Como um dos representantes do cognitivismo, David Paul Ausubel (1918 – 2008) opôs- -se ao behaviorismo e defendeu a ideia de uma teoria voltada para a aprendizagem escolar, isto é, aque- la que acontece em situações formais de ensino, de forma sis- temática, intencional e planejada. Para ele e seus colaboradores, era fundamental articular aprendizagem e ensino, levando em conta a complexidade da educação e a necessidade de desenvolvê-la. Nesse sentido, criou a teoria da aprendizagem significativa. Para ele, a aprendizagem é um processo de organização das informações e de integração dos conteúdos à estrutura cognitiva do aluno, podendo ser classificada segundo o grau de significado da informação para o aprendiz, em duas dimensões: • Aprendizagem memorística: também de- nominada mecânica ou automática, se refere às novas informações que chegam ao aluno, com pouca ou nenhuma associação com con- ceitos já existentes em sua estrutura cognitiva. Por exemplo, o professor apresenta o conceito de sistema solar, sem estabelecer relação com os outros conhecimentos que o aluno já tenha sobre o tema, preocupando-se mais na memo- rização dos nomes e da ordem dos planetas. Figura 06 David Ausubel (1918 – 2008) 29 8 × 39 2 - D av id P au l A us ub el ed uc ac ao di al og ica .b lo gs po t.c om capítulo 228 Essa teoria da aprendizagem significativa, de Ausubel, traz conceitos importantes para a escola refletir sobre a importância dos conhe- cimentos significativos para os alunos, respei- tando o seu desenvolvimento cognitivo. Uma reflexão crítica acerca dessa teoria tem sido a de que é muito centrada na figura do profes- sor e na compreensão do ensino e da aprendi- zagem focada nos processos cognitivos. 3.3. A Teoria de Jerome Bruner O psicólogo Jerome Bruner nasceu em Nova York, em 1915 e foi um dos principais res- ponsáveis pelo desenvolvimento da Psicologia cognitiva, participando ativamente da chama- da revolução cognitiva nos anos de 1950. Ele defendia que o foco da Psicologia deveria ser o estudo da mente, das atividades simbólicas do ser humano, em contraposição à excessiva ob- jetividade do positivismo e do behaviorismo, como também enfatizava que a Psicologia de- veria se ocupar dos significados que os indiví- duos produzem na cultura, na qual estão inse- ridos, e da ação desses significados no mundo. Bruner priorizava os elementos da cultura, não negando o papel dos aspectos biológi- cos no desenvolvimento humano e, nessa di- reção, sua teoria voltou-se para os problemas da educação, consequentemente, do ensino e da aprendizagem, enfatizando a relevância da ação do aluno, na troca de significados entre os sujeitos, na realização de atividades em gru- pos e na interação permanente entre mente e cultura na produção de conhecimentos. Para ele, a aprendizagem consiste no processo de elaboração de categorias por parte dos in- divíduos, por meio das quais eles selecionam, organizam e transformam as informações ob- tidas na interação com o meio. Dessa maneira, o aluno constrói o conhecimento, criando ca- tegorias ou modificando aquelas que já exis- tem em sua estrutura cognitiva. O ensino , por suavez, exige desafios que pres- supõem uma metodologia ativa e um professor que facilite a investigação, a experimentação e a descoberta por parte do aluno. Para isso, necessita respeitar o nível de desenvolvimento cognitivo de cada aluno, adequando os conte- údos e a sua linguagem à compreensão deste. Bruner defende que o currículo deve ser apre- sentado em espiral, ou seja, é importante que o professor esteja permanentemente avançan- do para conteúdos mais complexos, retoman- do, porém, os conhecimentos anteriores. Para aumentar a capacidade intelectual do alu- no, o professor deve transferir para a sala de aula a ideia de uma metodologia que prime pela descoberta, para que, assim, possa mu- dar a necessidade de recompensas extrínsecas para intrínsecas, ajudando o aluno a aprender por meio de estratégias investigativas. Desse modo, estará contribuindo também para re- ter os conteúdos na memória, tornar o ensino centrado no aluno, melhorar o autoconceito, aumentar seus níveis de aspiração e tomar consciência de que a aprendizagem por des- coberta permite tempo para assimilar e aco- modar a informação. 4. PSICOLOGIA DA GESTALT Representando um movimento de contraposi- ção à Psicologia Comportamental e à Intros- peccionista, essa teoria surgiu na Alemanha, no início do século xx, com os trabalhos ex- Aprendizagem Para Bruner, o ato de aprender exige participação ativa do aluno, que lhe permite aprofundar e con- textualizar os conhecimentos, construir e verificar hipóteses, bem como tomar decisões. O ensino A metodologia deve privilegiar a resolução de problemas por parte dos alunos, facilitando os desafios e descobertas cognitivas. Comentários: capítulo 2 29 atividades, os tipos de erros cometidos pelos sujeitos, as transformações operadas no plano do intelecto são mais evidenciadas que o resul- tado final, pois os gestaltistas se preocupam mais com o processo que com o “produto” da aprendizagem. As pesquisas sobre insight realizadas por Köhler, com animais, foram estendidas para o estudo de solução de problemas entre seres humanos, pelo seu aluno Karl Dunker (1903- 1940). Este desenvolveu investigações com es- tudantes universitários, colocando-os em dife- rentes situações-problema, realizando análise minuciosa sobre processos cognitivos. Wertheimer também estudou os processos cognitivos associados à resolução de proble- mas e à aprendizagem, especialmente, no campo da matemática. Valendo-se de seus experimentos, utilizando conceitos gestálticos, criticou a memorização de regras e de fórmu- las. Dessa maneira, sugeriu que os professores apresentassem os problemas aos alunos, par- tindo de exemplos concretos e permitindo que eles considerassem a situação em sua totali- dade, pois, assim, poderiam entender a solu- ção do problema para outras situações mais complexas. Em sua visão, para que os alunos compreendessem o problema, deveria haver uma reestruturação completa deste, levando ao desenvolvimento do que ele chamou de “pensamento produtivo”. perimentais dos cien- tistas Max Wertheimer e Wolfgang Köhler Ko- fka. Os gestaltistas pos- tulavam que a percep- ção humana apresenta um sentido de totalida- de, de conjuntos uni- ficados. Para eles, um dado essencial da in- vestigação psicológica é a experiência cotidia- na na sua forma natural, ou seja, quando o sujeito não foi submetido a algum treino ou situação de aprendizagem. A palavra Gestalt deriva do termo alemão Gestalten, que signifi- ca “dar forma, dar estrutura significante”. Em português, a palavra que mais se aproxima da expressão Gestalt é “forma”. Toda percepção é uma gestalt para os psicó- logos gestaltistas, pois um todo não pode ser compreen- dido pela separação em partes. O todo é mais que uma soma das partes. Uma pai- sagem não é apenas relva + céu + árvo- res + nuvens + ou- tros detalhes. É uma percepção única, que depende do re- lacionamento espe- cial existente entre as partes. Podemos notar partes no todo , mas as partes existem em relações definidas umas com as outras. Mudemos as relações e a qualidade do todo mudará completamente. (BARROS, 1997). Para a Gestalt, a aprendizagem representa uma reestruturação do campo da percepção para a superação de problemas. A relevância recai sobre a cognição em suas possibilidades, de reestruturação constante e de suas compre- ensões súbitas, ou seja, as soluções de impasse ocorrem com base numa experiência de com- preensão, por meio de produção de insights, embora não neguem a existência de respos- tas automáticas em determinadas situações de aprendizagem. O processo de realizações de Figura 07 Max Wertheimer (1880 - 1943) 14 3 × 20 0 - M ax W er th ei m er un iv er so da lib el ul a. bl og sp ot .c om Figura 08 Observando as figuras chama- das ambíguas, vemos quanto a percepção depende do relacio- namento figura-fundo. 31 2 × 4 00 - L a fig ur a am bi gu a de lla d on na d el le c as ca te ps ico ca fe .b lo go sf er e. it Insight Capacidade de compreensão súbita de uma situ- ação, no decurso da aprendizagem por ensaio e erro. Para saber mais: pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script. Comentário: capítulo 230 5. AS CONTRIBUIÇÕES PARA A APRENDIZAGEM DOS TEÓRICOS: JEAN PIAGET E LEV VYGOTSKY Abordaremos as excelentes contribuições dos psicólogos Jean Piaget e Lev Vygotsky para o processo de ensino e aprendizagem. Para Piaget, o ser humano, dotado de estru- turas biológicas, herda uma forma de funcio- namento intelectual, ou seja, uma maneira de interagir com o ambiente que o leva à constru- ção de um conjunto de significados. Por outro lado, Vygotsky enfatiza e destaca a importân- cia das relações sociais que ocorrem no proces- so, pois o contato com o outro, com o mundo já humanizado e cultural, é fator essencial. 5.1. A concepção construtivista de Jean Piaget e os processos de en- sino-aprendizagem Por meio da sua Psicologia Genética, Jean Piaget (1896 – 1980) não intencionava criar uma teoria da aprendizagem, e sim responder a questões epistemológicas, foco central de sua investigação. Ele desejava entender como o ser humano constrói seus conhecimentos, como passa de um nível cognitivo-afetivo mais elementar para um mais complexo. Foi com base na sua preocupação em estudar essa construção, em termos psicogenéti- cos, de busca de gênese dos conhecimentos, que ele criou condições para se pensar os processos de aprendizagens. Na educação, uma contribuição central de Pia- get diz respeito à ideia de que o ser humano constrói ativamente seu conhecimento acerca da realidade externa e de que as interações en- tre os sujeitos são um fator primordial para o seu desenvolvimento intelectual e afetivo. Isso significa que existe uma ênfase no aluno, em suas ações, seu modo de raciocínio, de como interpreta e soluciona situações-problema, co- locando-o num lugar de ativo em seu processo de aprendizagem. Ao mesmo tempo, dada a ênfase nas interações, nos intercâmbios en- tre os sujeitos, o professor, como também os próprios companheiros de classe, são peças fundamentais para a construção do conheci- mento. Segundo ele, quando ocorre uma necessida- de (intelectual, afetiva ou orgânica) que, por sua vez, é manifestação de um desequilíbrio, o sujeito reagirá por meio de uma tentativa de restabelecimento do equilíbrio. À medida que a ação do sujeito compensa a necessidade (soluciona um problema), o equilíbrio é recu- perado. E, nesse movimento permanente de reajustamento, o sujeito (suas estruturas men- tais), aciona dois mecanismos denominados assimilação
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