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CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO (ART. 297, CP) Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. Objeto material: documento público. Conceito de Documento: toda peça escrita que condensa graficamente o pensamento de alguém, podendo provar um fato ou a realização de algum ato dotado de relevância jurídica. Documento PÚBLICO: a) Documento formal e materialmente público: é aquele emanado de agente público no exercício de suas funções, e seu conteúdo diz respeito a questões de interesse público. Ex.: denúncia, autos do processo etc. b) Documento formalmente público, porém materialmente privado: é aquele emanado de agente público no exercício de suas funções, porém seu conteúdo diz respeito a questões de natureza privada. Ex.: atos praticados por Tabeliães. Cuidado: A falsificação deve ser apta a iludir, ou seja, a falsificação grosseira não é crime, podendo entretanto caracterizar estelionato. Por tal razão, é imprescindível a perícia atestando a aptidão ilusória. PERGUNTA DE CONCURSO: Cópias reprográficas, autenticadas ou não, podem ser objeto material do crime? Se a cópia está autenticada, merece ser considerada documento público, conforme atual artigo 425 (antigo art. 365), III, do CPC (conforme ensina Rogério Sanches). Todavia há corrente contrária, a qual afirma que as cópias reprográficas não são documentos, mesmo que autenticadas (Bitencourt). Art. 425. Fazem a mesma prova que os originais: III - as reproduções dos documentos públicos, desde que autenticadas por oficial público ou conferidas em cartório, com os respectivos originais. Sujeitos Ativo: Crime comum (pode ser praticado por qualquer pessoa). Cuidado: no caso do § 1º do art. 297, CP (pena aumenta 1/6) é necessário que o agente seja funcionário público, o qual irá se prevalecer de suas funções. Passivo: Primário o Estado. Secundário, o terceiro eventualmente prejudicado pela falsificação. Conduta FALSIFICAR: no todo (o documento é inteiramente criado) ou em parte (o agente aproveita-se dos espaços em branco da peça escrita). ALTERAR: modificar documento público existente, substituindo ou alterando dizeres (observar que abrange rasuras). Obs.: Substituição de fotografias em documento verdadeiro: 1ª corrente: Caracteriza o crime de falsa identidade (art. 307, CP), pois o documento permanece autêntico (não forjado). 2ª corrente: Como a fotografia é parte integrante do documento, a sua substituição caracteriza o crime do art. 297, CP (modalidade “alterar”) (prevalece). Documentos públicos por equiparação � Art. 297, § 2º, CP. Art. 297, § 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular. a) Emanado de entidade paraestatal b) Título ao portador ou transmissível por endosso: Ex.: cheque, nota promissória. OBS.: Enquanto o cheque puder ser transmitido por endosso, é documento público por equiparação. A partir do momento em que o cheque não pode mais ser transmitido por endosso, mas só por cessão civil, passa a ser documento particular. c) Ações de sociedade comercial: preferenciais ou não. d) Livros mercantis: Obrigatórios e facultativos. e) Testamento particular: não abrange o codicilo. Estelionato + falsidade documental 1ª corrente: Art. 171 (estelionato) + falsidade documental em concurso material (art. 69, CP), pois protegem bens jurídicos distintos. Exceto quando o falso se exaurir no estelionato, conforme Súmula 17 do STJ (“Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”. Ex.: A pessoa vai a uma loja fazer uma compra, adquire o produto com um cheque falsificado e vai embora (o cheque ficou na loja). Esse cheque falsificado se exauriu no estelionato. Diferente de quando a pessoa vai a uma loja fazer uma compra, adquire o produto com cartão de crédito falso e depois continua fazendo novas compras com aquele cartão. A falsidade não se exauriu no estelionato (há concurso material). 2ª corrente (STF): Art. 171 (estelionato) + falsidade documental em concurso formal (art. 70, CP), pois o agente age apenas com uma conduta, dividida em dois atos, que gera dois resultados. 3ª corrente: O crime de falso absorve o art. 171, se for documento público (pena mais grave) (não prevalece). Tipo subjetivo Dolo (sem exigir finalidade especial do agente). Dependendo da finalidade especial que anima o agente, será outro crime. Por exemplo, o do art. 348, Código Eleitoral (Lei 4.737/65). Art. 348. Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro, para fins eleitorais: Pena - reclusão de dois a seis anos e pagamento de 15 a 30 dias-multa. Consumação Quando praticada a falsificação ou alteração potencialmente lesivas (dispensa o efeito uso do documento). Obs.: E se ocorrer o efetivo uso? 1) Se quem usa é o próprio falsificador, responde pelo art. 297, CP (ficando o art. 304 do CP absorvido � post factum impunível). 2) Se quem usa é pessoa alheia à falsificação: � falsificador: art. 297, CP; � quem usa: art. 304, CP. Admite tentativa (tentar falsificar ou alterar). Atenção: Diferença Falsidade material e ideológica (art.299 CP): FALSIDADE MATERIAL - envolve a FORMA do documento (sua parte exterior). No falso material, o documento emana de pessoa incompetente para elaborá-lo, o falsário não tem atribuição para criar ou alterar o documento, a falsidade recai tanto sobre a forma como sobre o conteúdo do documento. A prova da falsidade é feita através de perícia, exemplo: particular cria uma certidão de nascimento falsa; Zé Ruela altera data do RG original para ir na “balada”. FALSIDADE IDEOLÓGICA - diz respeito ao seu CONTEÚDO. No falso ideológico, a falsidade recai apenas sobre o conteúdo do documento, este é formalmente perfeito, em seus requisitos extrínsecos, e emana da pessoa competente para elaborá-lo, mas o seu conteúdo é falso. Exemplo: oficial de registro civil atesta falsamente o óbito de alguém. Na falsidade ideológica a perícia é inócua, a prova do crime deverá ser feita por qualquer outro meio e versará sobre os fatos contidos no documento (um juízo inverídico). FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR (ART. 298) Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. Obs.: Enquanto o conceito de documento público é definido, o conceito de documento particular se extrai por exclusão, i.e., quando não é público, nem equiparado a público. Obs. 2: A perícia é imprescindível nos dois crimes, deve atestar a capacidade de iludir a vítima, nas circunstâncias do caso concreto. FALSIDADE IDEOLÓGICA (ART. 299) Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular. Ao contrário do que ocorre com os delitos de falsidade material (de documento público ou particular), na falsidade ideológica o documento, em si, é verdadeiro, entretanto, a idéia nele lançada é que é falsa. Por tal razão, o crime de falsidadeideológica é também conhecido como “falso ideal, falso intelectual ou falso moral”. 1. Bem jurídico Também é a fé pública, todavia no tocante ao juízo do documento, ao seu conteúdo, ou seja, aquilo que se quer provar. 2. Sujeito ativo Qualquer pessoa que tenha o dever jurídico de declarar a verdade. Atenção: Quando funcionário público prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena em 1/6 (o crime deixa de admitir suspensão condicional do processo). 3. Sujeito passivo Primário: Estado. Secundário: terceiro lesado pela ação do agente. 4. Conduta Omitir, Inserir ou Fazer Inserir declaração falsa ou diversa da exigida. Obs.: Na modalidade “omitir”, o crime é omissivo próprio. Nas demais modalidades, é crime comissivo. Obs. II: DECLARAÇÃO SUJEITA A VERIFICAÇÃO: No caso de declaração particular falsa não haverá crime se o documento estiver sujeito a verificação oficial, ou seja, se couber ao funcionário que a receber o dever de verificar a veracidade de seu conteúdo, pois para que haja o crime, a declaração deve valer por si só. Ex.: Declaração de inexistência de processo ou antecedentes paras fins de concurso público. Obs. III: ABUSO DE PAPEL EM BRANCO ASSINADO: Quando o sujeito arbitrariamente insere idéias nesse documento, duas hipóteses podem ocorrer: a) Se o papel foi obtido por meio ilegítimo (ex.: furto, roubo, etc), ou se foi confiado ao agente apenas para que ficasse sob sua guarda, o preenchimento abusivo configurará o crime de falsidade material; b) Se o agente detém a posse legitima do papel e está autorizado a preenchê-lo de acordo com as orientações do signatário, o preenchimento abusivo caracterizara falsidade ideológica, pois ele tinha o poder para preencher. 5. Tipo subjetivo Dolo + finalidade especial � fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. Pois se irrelevante, fato pode ser atípico. Ex.: Uma mulher que namorava um homem muito mais jovem, o qual queria saber a idade dela, movida pela vaidade, alterou a certidão de nascimento. O fato foi considerado atípico. 6. Consumação Consuma-se com a prática dos núcleos (conduta potencialmente lesiva), dispensando o efetivo uso. Nas modalidades comissivas, o crime admite tentativa. Na modalidade “omitir”, o crime não admite tentativa. Como a falsidade ideológica afeta o documento em sua ideação, e não a sua autenticidade ou inalterabilidade, é desnecessária perícia. 7. Majorante de pena: Pena aumente de 1/6 se: � Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo; � Falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil. Ex.: A pessoa declara que uma criança é seu filho, sabendo que ele não é. USO DE DOCUMENTO FALSO - ART. 304 DO CP Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302: Pena - a cominada à falsificação ou à alteração. Trata-se de crime remetido, o delito faz referência a outros que passam a integrá-lo. É pressuposto do crime, portanto, a existência de um crime falso anterior. Se não há falso anterior, como por exemplo, na hipótese de falsificação grosseira, não haverá, igualmente, uso de documento falso. Atenção: O crime, entretanto, é autônomo em relação ao falso. É possível a punição do uso, ainda que desconhecida a autoria do crime de falso. - Sujeitos do Crime: O crime é comum, pode ser praticado por qualquer pessoa. Se for o próprio falsário que se utiliza do documento, responderá apenas pela falsificação. Pelo princípio da consunção, é exaurimento do crime. Sujeito passivo é o Estado e a pessoa lesada pela conduta. - Tipo Objetivo: A conduta típica consiste em fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados a que se referem os artigos 297 a 302 do CP. Usar documento falso significa empregá-lo em sua específica finalidade probatória como se verdadeiro fosse. Atenção: Exige-se o uso efetivo, isto é, a apresentação do documento. Não há crime na simples posse de documento falsificado. Exemplo: Documento aprendido do mala em revista policial. Se ele não apresentou não há de se falar em “uso”, mas se apresentou o documento, já era, tá configurado o crime. Mas há exceção, por exemplo: Obs.: No caso de CNH, quem dirige, o porte equivale ao uso, logo é crime. Inúmeras decisões, entretanto, reconhecem o crime na posse de carteira de habilitação falsificada, por quem está dirigindo o veículo. Como se trata de documento de porte obrigatório, para a condução de veículos automotores, a mera posse do documento equivale ao seu uso efetivo. Obs.: Para Hungria, só haveria crime se a apresentação fosse espontânea. Segundo Hungria, só haveria crime com a apresentação espontânea do documento, este deveria sair da esfera pessoa do agente por sua própria iniciativa. Não haveria crime, portanto, quando o documento fosse apresentado por solicitação da autoridade. A jurisprudência não acolheu tal orientação, basta o uso voluntário, não se exigindo a espontaneidade. O agente é livre para decidir se deve apresentar o documento ou não, se optar por apresentá-lo responderá pelo crime. - Tipo subjetivo: crime é punido a título de dolo, não se exige elemento subjetivo específico. - Consumação e tentativa: O crime consuma-se com o primeiro ato de utilização do documento falsificado, independentemente da obtenção de alguma vantagem, ou da produção de algum dano. A doutrina majoritária entende inadmissível a tentativa, já que o crime estará consumado com o 1º ato de uso. Tentar usar já equivaleria ao uso efetivo. FRAUDE EM CERTAME DE INTERESSE PÚBLICO - ART. 311-A (Lei 12. 550/11) Fraudes em certames de interesse público (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de: (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) I - concurso público; (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) II - avaliação ou exame públicos; (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) III - processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) IV - exame ou processo seletivo previstos em lei: (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) § 1 o : Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas às informações mencionadas no caput. (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) § 2 o : Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública: (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) § 3 o : Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido por funcionário público. (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) 1. Bem jurídico Fé pública (tutela a credibilidade, lisura, transparência, legalidade, moralidade, isonomia e segurança dos certames de interesse público). 2. Sujeito ativo Crime comum: pode ser praticado por qualquer pessoa que participa do certame (seja como candidato, seja como integrante direto ou indireto da estrutura organizadora). Obs.: Se o agente for funcionário público: Pena aumenta de 1/3 Art. 311-A, § 3º (apesar do silêncio da lei, é imprescindível o agente agir prevalecendo-se do cargo). Ex.: Um funcionário público prestando outro concurso público consegue o gabarito da prova, do mesmo modo que um particular conseguiria. Ele não merece o aumento. Atenção: Não pratica o crime do art. 311-A quem não integraa estrutura de organização do certame e, tampouco, concorre ou participa deste. Também não comete o crime agente que propala por ouvir dizer, e sem que tenha contribuído de alguma forma para o seu vazamento. 3. Sujeito passivo Primário: Estado. Secundário: eventuais lesados pela ação delituosa do agente (abrangendo entidade organizadora e candidatos). 4. Conduta - Fraude em certames: I - Concurso público (instrumento de acesso a cargos e empregos públicos); II - Avaliação ou exames públicos (exame psicotécnico); III - Processo seletivo para o ingresso no ensino superior (englobando vestibulares e demais formas de avaliação seletiva, como o ENEM); IV - Exame ou processo seletivo previstos em lei (ex.: OAB). Cuidado: não estão abrangidas as avaliações ordinárias de desempenho dos alunos e demais provas periódicas em instituições de ensino, ainda que públicas. � “Cola eletrônica”: utilização de aparelho transmissor e receptor e prova. Lei 12.550/11 Antes Depois Cola eletrônica valendo-se de conteúdo sigiloso Cola eletrônica não se valendo de conteúdo sigiloso - Para STF e STJ, configurava fato atípico (pois não havia obtenção de vantagem econômica em prejuízo de outrem). Art. 311-A. Fato atípico. - § 1º: Incorre nas mesmas penas quem facilita o acesso de pessoas não autorizadas ao conteúdo que será cobrado no concurso. Art. 311-A, § 1o: Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas às informações mencionadas no caput. Ex.: A gráfica que imprime as provas facilita o acesso ao conteúdo da prova. 5. Tipo subjetivo Dolo. - Caput: exige finalidade especial: � com o fim de beneficiar a si; � com o fim de beneficiar a outrem; � com o fim de comprometer a credibilidade do certame. - § 1º: não exige finalidade especial. 6. Consumação Com a prática dos núcleos (dispensando a obtenção de vantagem ou lesão à credibilidade do certame). Atenção: se da conduta resulta lesão: pena de 2 a 6 anos (§ 2º). Art. 311-A, § 2o: Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública: (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) É possível a tentativa. OBS.: STF e STJ não admitem princípio da insignificância quando o delito é contra a fé pública.
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