Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Direito Penal II – 1º Bimestre Dos crimes contra a pessoa Valor da vida. Critério de valoração: quanto maior o valor do bem jurídico protegido, maior é a sua sanção quando este for violado. A vida humana é protegida desde sua fecundação, e seus preceitos legais são encontrados nos artigos 121, 122, 123 e 124 do Código Penal. A proteção da vida, ainda, está elencada nos preceitos fundamentais do artigo 5º da Constituição Federal. O ordenamento jurídico protege a vida intrauterina – ou seja, aquela que se desenvolve entre a fecundação até a terceira semana; da terceira semana até o terceiro mês inicia-se a formação do feto. A violação da vida interuterina caracteriza-se crime de aborto, que será abordado em breve. Após a criança ganhar personalidade civil, a violação da vida do recém-nascido é considerada infanticídio. Muitas vezes, após o parto, a criança vem a falecer. O tratamento jurídico, nesse caso está ligado em saber, se houve respiração ou não da criança. A comprovação deve ser feita através da medicina legal. Um dos métodos é a Docimásia Hidrostática de Galeno, que consiste em colocar o pulmão do de cujus em uma bacia com água. Se boiar, cabe o infanticídio. Caso contrário, cabe o aborto. Outro método, é verificar a movimentação sanguínea. Através dela, é possível verificar a oxigenação no tecido adiposo ou se houve a presença de alimentos no aparelho digestivo. Então, juridicamente falando, a morte é atestada quando há parada respiratória, cardíaca ou morte encefálica. Essa morte deve ser atestada por dois médicos e deve haver um exame de necropsia. Homicídio – artigo 121 Destruição da vida extrauterina de outrem, diferente portanto, do aborto que está relacionado com a destruição da vida intrauterina. Não se confunde, também, com o suicídio, que é autodestruição da vida. Espécies: Doloso simples: “Art 121. Matar alguem: Pena - reclusão, de seis a vinte anos.” Doloso com causa de diminuição na pena: § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral (p.ex. eutanásia), ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Valor moral, o agente acredita estar cometendo o crime com absoluta convicção que está fazendo o bem para a vítima, como na eutanásia. Ou seja, quando se trata de moral, os valores concentram-se em interesse particular ou específico. Valor social o agente comete o crime para o seu próprio bem e da coletividade como um todo. Trata-se, portanto, de interesse de ordem geral ou coletiva. Domínio de violenta emoção logo em seguida a injusta provocação à vítima: relacionado a um sentimento psíquico onde perdemos o controle do nosso corpo diante a uma situação inesperada. Se o agente está dominado (fortemente envolvido) pela violenta emoção, justamente porque foi, antes, provocado injustamente, pode significar, como decorrência lógica, a perda do autocontrole que muitos têm quando sofrem qualquer agressão sem causa legitima. Pode desencadear-se daí, um homicídio. Doloso qualificado – aumento de pena: § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo futil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Motivo torpe: é atributo que é repugnante, provocador de excessiva repulsa à sociedade. No motivo torpe o crime é cometido diante há algum tipo de vantagem econômica. Motivo fútil: significa que a causa fomentadora da eliminação da vida alheia calcou-se em elemento insignificante se comparado ao resultado. Portanto, é a flagrante desproporção entre o motivo e o resultado obtido. Aqui, diferente do motivo torpe, não há nenhuma vantagem econômica. Emprego de meio insidioso, cruel ou que provoque perigo comum, tais como veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura: meio insidioso é o enganoso, constituindo o veneno típica forma de ação camuflada do agente; meio cruel é o gerador de sofrimento desnecessário à vítima, representada tanto por algumas formas de veneno, que matam de forma agônica, como pelo fogo, tortura e asfixia, constituindo sofrimento atroz. Exemplo: microondas. Recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima: aproveita-se da bpa fé da vítima para cometer um homicídio. Quando o agente colhe o ofendido de maneira inesperada, gera um contexto próprio desta qualificadora, pois a defesa é dificultada, até mesmo impossível. Cuida-se, nesse cenário, da surpresa autenticamente imprevisível, impossível de calcular, prognosticar, imaginar. Ex: a esposa que aguarda o marido dormir para matá-lo, sem que tivesse havido qualquer desentendimento sério anterior entre ambos. Torpeza particular conexa a outro delito: consiste na atuação do agente com o fim de assegurar (garantir que dê certo) a execução (desenvolvimento dos atos de realização da empreitada criminosa), ocultação (encobrimento do fato), impunidade (evitar o castigo, a punição do autor, ainda que o fato seja conhecido) ou vantagem (lucro obtido) de outro crime. Ex.: matar testemunha para dificultar prova, ou ainda, ocultar outros crimes que estão em investigação. Doloso com causa de aumento de pena: “§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.”. Culposo simples: § 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) Pena - detenção, de um a três anos. Forma culposa: se o homicídio for cometido por imprudência, imperícia ou negligencia. - Imperícia: agir sem aptidão para a ação, desde que o dolo esteja afastado. Ex: dirigir sem habilitação. - Negligência: É o termo que designa falta de cuidado ou de aplicação numa determinada situação, tarefa ou ocorrência, falta de atenção, não tomando as devidas precauções, ausência de reflexão necessária, inação, indolência, inércia e passividade. - Imprudência: É o ato de agir perigosamente, com falta de moderação ou precaução, consiste na violação das regras ou leis, um comportamento de precipitação. Culposo com causa de aumento de pena: § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Perdão Judicial: permite-se que o juiz afaste a punibilidade do crime de homicídio culposo, não aplicando a pena, se as consequências do crime atingirem o próprio agente de maneira tão grave que a sanção se torne desnecessária. O agente pode ser atingida de forma física (sofrer lesões graves de difícil recuperação, por exemplo) ou moralmente (perda de ente querido – como o filho – produzindo trauma de natureza psicológica. A pena, se aplicada, não poderia ser mais severa do que já foi o próprio resultado naturalístico decorrente da conduta culposamente praticada. Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio – Artigo 122. Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.Parágrafo único - A pena é duplicada: Aumento de pena I - se o crime é praticado por motivo egoístico; II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. O sujeito passivo é o individuo (que tem o mínimo de discernimento e resistência) que tira a própria vida, conduta essa que não é penalizada, visto que a pena não pode ultrapassar a morte do agente. A tentativa também não é ato tipificado. O Estado, ao invés de penalizar, oferece tratamento ao sujeito, visto que a cadeia, claramente não ira recuperar o individuo. Embora, não haja penalização, é importante ressaltar que o suicídio não é um direito disponível. O constrangimento do suicida para evitar que a ação se efetive, por sua vez é permitido. Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: § 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo: II - a coação exercida para impedir suicídio. O crime consiste em induzir, instigar e auxiliar a suicídio. Induzir: significa dar a ideia a quem não a possui, inspirar, incutir. O agente sugere ao suicida que dê fim à sua vida. Instigar: é fomentar uma ideia já existente. O agente estimula a ideia suicida que alguém anda manifestando. Auxiliar: é a forma mais concreta e ativa de agir, pois significa o dar apoio material ao ato suicida. Ex.: o agente fornece a arma utilizada pela pessoa que se mata. Nesse caso, deve dizer respeito a um apoio meramente secundário, não podendo, jamais, o autor, a pretexto de ‘auxiliar’ o suicida, tomar parte ativa na ação de tirar a vida, tal como aconteceria se alguém apertasse o gatilho da arma já apontada pra cabeça do próprio suicida. Responde, nessa hipótese, por homicídio, tendo em vista que o suicídio é a morte voluntária. Casos de aumento de pena: a pena é duplicada quando o crime é cometido por motivo egoístico (excessivo apego a si mesmo, o que evidencia desapego pela vida alheia) ou quando a vitima é menor de 18 anos e maior de 14 anos (o menor de 14 anos, se não tem capacidade nem mesmo para consentir num ato sexual, certamente não terá para a eliminação da própria vida, razão pela qual o agente responde por homicídio, na forma tentada ou consumada) ou tem diminuída, por qualquer motivo, a sua capacidade de resistência (fases críticas de doenças graves, físicas ou mentais, abalos psicológicos, senilidade, infantilidade ou ainda pela ingestão de álcool ou substancias de efeitos análogos). Infanticídio – Artigo 123. Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos. O verbo matar é o mesmo do homicídio, razão pela qual a única diferença entre o crime de infanticídio e o homicídio é especial situação em que se encontra o agente. Estado puerperal é aquele que envolve a parturiente durante a expulsão da criança do ventre materno. Há profundas alterações psíquicas e físicas que chegam a transformar a mãe, deixando-a em plenas condições de entender o que está fazendo. É uma hipótese de semi-imputabilidade que foi tratada pelo legislador com a criação do tipo especial. O puerpério é o período que se estende do início do parto até a volta da mulher nas condições de pré-gravidez. O infanticídio exige que a agressão seja cometida durante ou logo após, embora sem fixar um período preciso para tal ocorrer. O correto é presumir o estado puerperal quando o delito é cometido imediatamente após o parto, em que se pese poder haver prova em contrario, produzida pela acusação. Após o parto ter-se consumado, no entanto, a presunção vai desaparecendo e o correr dos dias inverte a situação, obrigando a defesa a demonstrar, pelos meios admitidos (pericia e/ou testemunhas), que o puerpério, excepcionalmente, naquela mãe persistiu, levando-a a matar o próprio filho. Hipóteses de incidência: - A mãe, que, por exemplo, após o parto, resolve ir até o berçário e mata criança sem nenhuma relação com o seu filho, por achar que esta matando o seu filho (erro essencial) responde como se tivesse atingido a vítima certa. - Se a mãe atinge outro filho, que não o recém-nascido durante seu estado puerperal responde por homicídio. - Se a mãe mata o filho sobre estado puerperal com auxilio do pai da criança, ambos respondem por infanticídio. O pai responde pelo artigo 122 combinada com o artigo 29 (concurso de pessoas). Aborto - Artigos 124 a 128. É a eliminação da vida intrauterina; cessação da gravidez, antes do tempo normal, causando morte do feto ou embrião. Suas formas são: Aborto natural: é a interrupção da gravidez oriunda de causas patológicas, que ocorre de maneira espontânea – não há crime. Aborto acidental: é a cessação da gravidez por conta de causas exteriores e traumáticas, como quedas e choques – não há crime. Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena - detenção, de um a três anos. Aborto criminoso: é a interrupção forçada e voluntária da gravidez, provocando a morte do feto ou do embrião. - Quando não existe a presença de um terceiro, ou seja, autoaborto, responde apenas a gestante; - Quando existe auxilio de terceiro responde a gestante (pelo artigo 124) e o terceiro (pelo artigo 126) - O consentimento não é válido quando a gestante é menor de quatorze anos, débil mental ou alienada - nesse caso o terceiro responde pelo artigo 126. - O consentimento deve ocorrer durante todo o ato, desde que seja possível. Aquele que praticar (terceiro) contra o consentimento da gestante, ou ainda de forma violenta, utilizar de coação irresistível, fraude (nesse caso,a gestante tem que ser enganada de forma incontestável, por exemplo: a gestante vai ao médico fazer um exame e acredita que é apenas um exame corriqueiro, visto que o médico não deixa a perceber nenhuma conduta fraudulenta) responde pelo artigo 125. Aborto provocado por terceiro Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos. Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos. Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. Forma qualificada Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessa causas, lhe sobrevém a morte (preterdoloso). Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: Aborto necessário I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto no caso de gravidez resultante de estupro II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. O aborto permissivo só pode ser feito pelo médico. Pode ser feita em duas situações: Aborto terapêutico ou necessário: é a interrupção da gravidez realizada por comendação médica (aqui não cabe opinião de terceiros, a decisão cabe ao médico), a fim de salvar a vida da gestante. Trata-se de uma hipótese especifica de estado de necessidade. Aborto sentimental ou humanitário: é a autorização legal para interromper a gravidez quando a mulher foi vitima de estupro. Optou o legislador por proteger a dignidade da mãe, que, vitima de um crime hediondo, não quer manter o produto da concepção em seu ventre, o que lhe poderá trazer sérios entraves de ordem psicológica e na sua qualidade de vida futura – não há no que se falar sobre inconstitucionalidade, visto que oEstado falhou na segurança e não pode exigir qualquer outra conduta da gestante (inexigibilidade de conduta diversa – excludente de culpabilidade). Gravidez de incapaz: cabe aos representantes da incapaz decidir sobre o aborto. Quando houver conflito entre os representantes e a gestante, a vida prevalece. Caso haja conflito entre os representantes, a vontade da mãe prevalece, pelo fato de ela ter passado por situação semelhante. Aborto eugênico: é a interrupção da gravidez, causando a morte do feto ou do embrião, para evitar que a criança nasça com graves defeitos genéticos. Não há autorização em lei, mas existe jurisprudência nesse sentido. Ex: aborto de feto anencéfalo. Lesão Corporal – Artigo 129. Conceito: ofensa à integridade corporal ou a saúde de outrem (diferente de autolesão). Trata-se de uma ofensa física voltada a integridade ou a saúde do corpo humano, não se admitindo, neste tipo penal, qualquer ofensa moral. É necessário que a vítima sofra algum dano ao seu corpo, alterando-se interna ou externamente (dano anatômico; dano a estética ou a saúde), podendo ainda abranger qualquer modificação prejudicial a saúde, transfigurando-se determinada função orgânica ou causando-lhe abalos psíquicos comprometedores. Não é indispensável à emanação de sangue ou a existência de qualquer tipo de dor. Tratando-se de saúde, não se deve levar em consideração somente a pessoa saudável, vale dizer, tornar enfermo quem não estava, mas ainda o fato do agente ter agravado aquele estado de saúde de quem já se encontrava doente. Diminuição de pena: Relevante valor social ou moral: na ótica social envolve interesse de ordem geral ou coletiva. Na ótica moral, os valores concentram-se em interesse particular ou especifico. (ex. ferir o traficante que viciou o seu filho). Domínio de violenta emoção logo em seguida a injusta provocação. Qualificadoras: Incapacidade para ocupações habituais, por mais de trinta dias (§1º; I): é toda e qualquer atividade regularmente desempenhada pela vítima, e não apenas a ocupação laborativa. Assim, uma pessoa que não trabalhe, vivendo de renda ou sustentada por outra, deixando de exercitar suas habituais ocupações, sejam elas quais forem – até mesmo simples lazer -, pode ser enquadrada nesse inciso, desde que fique incapacitada por mais de trinta dias. A única e lógica exigência é que a atividade da vitima seja licita. Por derradeiro, deve-se destacar que o termo habitual tem conotação de atividade frequente, não se podendo reconhecer a lesão corporal grave quando a vitima ficar incapacitada para ocupações que exercia raramente. É indispensável à realização do laudo pericial para atestar o comprometimento da vitima para seu mister habitual por mais de trinta dias, devendo ser elaborado tão logo decorra o trintídio. O exame complementar pode ser suprido por prova testemunhal. Perigo de vida (§1º; II): é a concreta possibilidade de a vítima morrer em face das lesões sofridas. Trata-se de um diagnóstico, não de um prognóstico. Deve haver um fator real de risco inerente ao ferimento. Torna-se praticamente indispensável o laudo pericial, sendo muito rara a sua substituição por prova ou depoimento de especialistas, como o médico que cuidou da vítima durante sua convalescença. Debilidade permanente de membro, sentido ou função (§1º; III): trata-se de uma frouxidão duradoura no corpo ou na saúde, que se instala na vítima após a lesão corporal provocada pelo agente. Não se exige que seja uma debilidade perpétua, bastando ter longa duração. Ainda pode-se lesionar os sentidos (comunicação com o mundo exterior de forma parcial ou total), funções (fisiologia do exercício humano; ação própria de um órgão do corpo humano. P.ex.: função respiratória) Aceleração de parto (§1º; IV): antecipar o nascimento da criança antes do prazo normal previsto pela medicina. Se em virtude da lesão corporal praticada contra a mãe, a criança nascer morta, terá havido lesão corporal gravíssima. Incapacidade permanente para trabalho (§2º; I): trata-se de inaptidão duradoura para exercício de qualquer atividade laborativa (exige-se atividade remunerada, que implique em sustento, que acarrete prejuízo financeiro para o ofendido). Enfermidade incurável (§2º; II): é a doença irremediável, de acordo com os recursos da medicina na época do resultado, causada na vítima. Não configura a qualificadora a simples debilidade enfrentada pelo organismo da pessoa ofendida, necessitando existir uma seria alteração na saúde. Embora a vítima não esteja obrigada a submeter-se a qualquer tipo de tratamento ou cirurgia de risco para curar-se, também não se deve admitir recusa imotivada do ofendido para tratar-se. Se há recursos suficientes para controlar a enfermidade gerada pela agressão, impedindo-a que se torne incurável, é preciso que o ofendido as utilize. Não o fazendo por razões injustificáveis não deve o agente arcar com o crime na forma agravada. Ainda sim, não cabe revisão processual caso a medicina evoluam permitindo reversão da doença. Perda ou inutilização de membro, sentido ou função (§2; III): entende-se por mutilação o que é decorrente de um acidente a amputação ocorre decorrente a intervenção médica. Já na inutilização, não houve separação do membro, mas este já não pode ser mais utilizado. Deformidade permanente (§2º; IV): significa alterar a forma original. Configura-se lesão gravíssima quando ocorrer modificação duradoura de uma parte do corpo humano da vítima. Da periclitação da vida e da saúde – Artigos 130 a 136 Perigo de contágio venéreo – artigo 130. Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. § 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 2º - Somente se procede mediante representação. Expor significa colocar em perigo ou deixar descoberto. O objeto da conduta é o contágio de moléstia venérea. Atingi-se pela prática de relação sexual (é a união estabelecida entre duas pessoas através de prática sexual, constituindo expressão mais abrangente do que a conjunção carnal, que se limita a cópula pênis-vagina. Abrange, pois, o sexo anal ou oral). Ou outro ato libidinoso. Qualificadora: se a intenção do agente é transmitir a moléstia. Cuida da hipótese em que o agente está contaminado e quer transmitir a doença. Pune-se a conduta de manter relação sexual ou outro ato libidinoso com vítima, desejando o contaminado transmitir-lhe a doença, causando-lhe um dano, embora seja dispensável o resultado naturalístico (efetiva contaminação da vítima). Havendo ou não contágio, responderá o agente pela figura o agente pela figura do art. 130; §1º. Entretanto, justamente porque a sua vontade é transmitir a doença, caso obtenha sucesso, atingindo formas mais graves de lesão, deverá responder por lesão grave ou gravíssima e até por lesão seguida de morte, conforme o caso. Se ocorrer lesão corporal leve, fica absorvida pelo delito mais grave. Perigo de contágio de moléstia grave – art. 131 É a prática de qualquer ato suficiente para transmitir moléstia grave (doença seriam que inspira preciosos cuidados, sob pena de causar sequelas ponderáveis ou mesmo a morte do portador) de que está contaminado. O agente pratica ato capaz de produzir o contágio de moléstia grave da qual é portador com o claro objetivo de transmitir o mal a outrem, portanto, causando-lhe dano a saúde. Havendo ou não o efetivo contágio o crime está consumado. Perigo para a vida de ou saúde de outrem – art. 132 Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direito e iminente. A conduta do sujeito exige, para configurar este delito, a inserção da vítima certa numa situação de risco real, experimentando uma situação muito próxima ao dano. Ocorre com a prática do ato capaz de expor a perigo a vida ou a saúde, independente de resultado naturalístico. Aumento de pena: eleva-se umsexto a um terço da pena, se a exposição da vida ou da saúde decorre do transporte de pessoa para a prestação de serviços em estabelecimento de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. Abandono de incapaz – art. 133 Abandonar pessoa que está sob guarda de seu cuidado, guarda ou vigilância ou autoridade, não sendo capaz de defender o risco do seu abandono. - Qualificadoras pelo resultado: a pena será de reclusão, de um a cinco anos, caso do abandono resulte lesão grave; será de reclusão, de quatro a quatorze anos, se do abandono ocorrer á morte (crime qualifica-se como preterdoloso). - Causas de aumento de pena: as penas são aumentadas de um terço quando o abandono ocorrer em local sem habitantes; se o agente for ascendente, descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima e se a vítima for maior de sessenta anos. Exposição ou abandono de recém-nascido O sujeito ativo deve ser a mãe, e excepcionalmente o pai, pois o tipo menciona a finalidade de ocultar desonra própria. Abandonar: sentido de largar ou deixar de dar assistência pessoal a alguém Expor: colocar em perigo, retirando a pessoa do seu lugar habitual para levá-lo para ambiente hostil, desgrudando-se dela. Formas qualificadas pelo resultado: a pena será detenção, de um a três anos, caso abandono resulte lesão grave; de dois a seis anos, se do abandono ocorrer morte. Omissão de socorro – art. 135 O objeto jurídico do artigo visa proteger a saúde. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, bem como à pessoa inválida ou ferida ao desamparo ou em grave e iminente perigo. Deixar de pedir, nesses casos, o socorro a autoridade pública. - A lei não exige que uma pessoa coloque a sua segurança em risco para salvar a outra de qualquer tipo de apuro. Nesta situação deve-se recorrer a socorro da autoridade pública. Maus tratos – Artigo 136 Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado ou, ainda, abusando dos meios de correção ou disciplinar. O agente pode praticar uma conduta ou várias, e o delito será único. É evidente que, havendo, mais de uma conduta o juiz pode levar tal situação em conta para fixação da pena, que é detenção, de dois meses a um ano, ou multa; Direito Penal II – Faculdade de Direito de SBC Página 2
Compartilhar