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Penal II caderno completo

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Professor Tailson Pires Costa
Arts. 121 até 234, CP + CF + legislação complementar. 
dos crimes contra a vida 
1° NORMA 
CRITÉRIO DE VALORAÇÃO
Quando o nosso Código Penal foi pensado, o legislador adotou o critério do valor. Isso significa que ele estabeleceu 
valores para os bens jurídicos e criou uma ordem de "hierarquia" entre esses bens. 
Quanto maior o valor do bem jurídico atingido, maior será a resposta do Estado (ou seja, maior será a sanção imposta ao 
infrator da norma). 
VIDA 
É o maior bem jurídico tutelado, por isso a vida está no primeiro capítulo da parte especial do Código. 
PROTEÇÃO LEGAL? 
Esse direito encontra limitação quando há confronto com outros interesses do Estado (exemplo: a Constituição 
prevê que em tempo de guerra pode haver pena de morte). 
-
O direito à vida tem seu fundamento na Constituição Federal, art. 5°, caput. 
Artigo 5°, caput, CF: a vida humana é protegida desde o início (desde o produto da concepção, que é a fecundação de um 
óvulo por espermatozoide). 
CONCEITO? 
O direito à vida é considerado um direito fundamental em sentido material, ou seja, indispensável ao desenvolvimento da 
pessoa humana. 
VIDA EXTRAUTERINA 
A vida é igualmente protegida pelo ordenamento jurídico desde o instante da concepção. Enquanto está em fase 
intrauterina, trata-se de aborto matar o ser humano em gestação. Quando a vida fora do útero materno principia, é 
natural tratar-se de homicídio – ou infanticídio, conforme a situação. Entretanto, há polêmica acerca do início da vida 
extrauterina para efeito de diferenciar o homicídio (ou infanticídio) do aborto.
Esse fenômeno é passível de prova pericial, que pode se dar de duas formas: 
DOCIMASIA HIDROSTÁTICA DE GALENO
Quando a criança morre no momento do parto, o médico legista retira o pulmão e coloca em uma bacia com água. Se o 
órgão boiar e houver bolhas, significa que a criança respirou e, portanto, houve vida. O médico vai, então, verificar qual foi 
o momento do parto para descobrir há quanto tempo a criança morreu. Desta forma, é possível saber se a interrupção da 
vida foi antes, durante ou depois do parto e, desta forma, saber qual foi o crime (aborto, homicídio ou infanticídio). 
PULSÕES CARDÍACAS / MOVIMENTOS CIRCULATÓRIOS 
Caso não seja possível realizar a docimasia hidrostática de galeno, o médico vai verificar as pulsões cardíacas e os 
movimentos respiratórias. 
MORTE 
PROVA: NECRÓPSIA
Para quem é doador de órgãos e tecidos, vale o que está na lei 9.434/97: a morte jurídica ocorre com a morte 
encefálica irreversível, que deve ser atestada por dois médicos diferentes. 
-
Para quem não é doador, o sujeito só será considerado juridicamente morto com a paralisação, ao mesmo tempo, -
Quando alguém pode ser considerado juridicamente morto? Atualmente, há duas formas de morrer juridicamente 
1° bimestre
 Página 1 de Penal II 
das três funções vitais (função cardíaca ou respiratória, função pulmonar ou respiratória e função encefálica ou 
cerebral). 
Esse exame realizado no Instituto Médico Legal quando a pessoa morre é chamado de necrópsia. 
homicídio
CONCEITO 
O conceito de homicídio se encontra no caput do artigo 121, CP. -
"Art. 121, CP, caput. Matar alguém. Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos."
No direito brasileiro, homicídio é sinônimo de assassinato. -
Homicídio é, portanto, a suspeição da vida de um ser humano causada por outro. Constituindo a vida o bem mais precioso 
que o homem possui, trata-se de um dos mais graves crimes que se pode cometer. 
Esse conceito impede qualquer confusão com a prática do aborto, já que o aborto é a destruição da vida 
intrauterina. 
-
Também não se confunde com suicídio, que é a eliminação da vida própria, e não de outrem. -
Matar alguém: destruição da vida extrauterina de outrem. 
Não se confunde com genocídio, que é um crime contra a humanidade, considerado hediondo. O genocídio é 
previsto no artigo 1° da Lei 2.889/56 e possui várias condutas alternativas. O principal fundamento da existência do 
genocídio consiste na intenção do agente, que é eliminar, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial 
ou religioso. 
-
Homicídio é a supressão da vida de um ser humano causada por outro. A vida é considerada o bem mais precioso que o 
homem possui, de modo que o homicídio é considerado um dos mais graves crimes. 
Trata-se de crime comum (aquele que não demanda sujeito ativo qualificado ou especial); material (delito que exige 
resultado naturalístico, consistente na morte da vítima); de forma livre (podendo ser cometido por qualquer meio eleito 
pelo agente); comissivo (“matar” implica em ação) e, excepcionalmente, comissivo por omissão (omissivo impróprio, ou 
seja, é a aplicação do art. 13, § 2.º, do Código Penal); instantâneo (cujo resultado “morte” se dá de maneira instantânea, 
não se prolongando no tempo); de dano (consuma-se apenas com efetiva lesão a um bem jurídico tutelado); unissubjetivo 
(que pode ser praticado por um só agente); progressivo (trata-se de um tipo penal que contém, implicitamente, outro, no 
caso a lesão corporal); plurissubsistente (via de regra, vários atos integram a conduta de matar); admite tentativa. 
HOMICÍDIO SIMPLES 
O homicídio simples só vai acontecer se nenhuma outra espécie de homicídio ocorrer (se dá por exclusão). -
O caput do artigo 121, CP é chamado é "homicídio simples" e tem uma pena base de 6 a 20 anos.
Portanto, eliminar a vida de outro ser humano, sem qualquer circunstância especial, provoca a aplicação de uma 
pena de 6 a 20 anos de reclusão. 
-
Sob a denominação de simples, estabelece a lei penal um dos tipos mais singelos e de fácil compreensão que o Código 
Penal prevê. Trata-se de um tipo meramente descritivo, que não traz nenhum elemento normativo ou subjetivo, não 
contém componentes de ilicitude, nem de culpabilidade. 
Homicídio simples hediondo (art. 1° da lei 8.072/90): o homicídio simples é hediondo "quando praticado em atividade 
típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente". 
§1° HOMICÍDIO PRIVILEGIADO 
"Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, 
logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço."
Lembrar: todo crime privilegiado vai beneficiar o réu. 
O crime de homicídio se torna privilegiado quando o réu preenche algum dos requisitos que se encontram nesse 
parágrafo. 
 Página 2 de Penal II 
A atividade típica de grupo de extermínio sempre foi considerada pela jurisprudência majoritária um crime cometido por 
motivo torpe. O sujeito que se intitula "justiceiro" e atua por conta própria eliminando várias vidas humanas age com 
desmedida indignidade. Eventualmente, é possível, por exemplo, que o agente mate outra pessoa, em atividade típica de 
grupo de extermínio, pra preservar um bairro de um deplorável traficante de drogas; se assim for, sua motivação faz 
nascer o relevante valor social, que privilegia o homicídio, aplicando-se a regra do §1° do artigo 121, e não a figura básica 
do caput. 
Relevante valor (a pessoa deve matar acreditando que o seu ato tem relevante valor social ou moral).-
-> social (traficante / patriota): o sujeito mata acreditando que a sua conduta de homicídio vai fazer bem não só 
para ele, mas para toda a coletividade. 
 ∟exemplo: um pai tem seus filhos estudando em uma escola que está localizada onde há muitas ações de traficantes. Então 
o pai mata o traficante, acreditando que está fazendo o bem para seus filhos e para os filhos das outras pessoas também (é 
mais ou menos como fazer justiça pelas próprias mãos). 
-> moral (eutanásia): o sujeito mata acreditando que está fazendo o bem para uma única pessoa, que é a pessoa 
que ele está matando. 
 ∟exemplo: filho está com sua mãe muito doente, sobrevivendo apenas por aparelhos. O filho desliga os aparelhos 
acreditando que está ajudando sua mãe, acabando com o sofrimento dela. 
Dominado de violenta emoção(maus tratos, adultério). Neste caso, a pessoa perde o controle da razão diante de 
determinado fato (é um estado de ânimo ou de consciência caracterizado por uma viva excitação do sentimento”, 
podendo levar alguém a cometer um crime.) Entretanto, neste caso, o homicídio deve acontecer no momento da 
violenta emoção, e não depois.
-
 ∟exemplo: pai que chega em casa e encontra sua filha sendo estuprada. 
Requisitos: 
A palavra "pode" deve ser interpretada como um dever do Estado (afinal, trata-se de um direito do réu). -
Consequência: o juiz "pode" reduzir...
§2° HOMICÍDIO QUALIFICADO (LEI 8.072/90, art. 1°)
"Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo futil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar 
perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do 
ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos."
Lembrar: todo crime qualificado prejudica a situação do réu. 
O homicídio qualificado é praticado com circunstâncias legais que integram o tipo penal incriminador, alterando para mais 
a faixa de fixação da pena. Portanto, da pena de reclusão de 6 a 20 anos, prevista para o homicídio simples, passa-se ao 
mínimo de 12 e ao máximo de 30 para a figura qualificada. Considera-se crime hediondo. 
Motivação do homicídio (motivo banal).-
Forma que o homicídio é praticado (formas cruéis). -
O homicídio pode ser qualificado por duas situações: 
Ele não esteve lá desde sempre, foi inserido nessa lei após a morte da atriz Daniela Perez. -
O homicídio qualificado também se encontra na lei dos crimes hediondos (lei 8.072/90). 
Paga ou promessa de recompensa (motivo torpe): homicídio com intuito financeiro. -
I. matador de aluguel / herança / invalidade profissional 
Motivo fútil: é tão banal quanto o motivo torpe, mas não tem caráter financeiro. -
II. Marido X esposa / briga de trânsito / rompimento de namoro 
III. Menor periculosidade / dificuldade de defesa / risco à várias pessoas 
 Página 3 de Penal II 
Emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar 
perigo comum: aqui, o homicídio é cometido com requinte de crueldade. Ou seja, o agente revela elevado grau de 
periculosidade. Pode ocorrer, ainda, quando o sujeito mata e coloca em risco a vida de várias pessoas. 
-
Traição, emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do 
ofendido. Exemplo: amigo que mata o outro.
-
IV. Boa-fé... / covardia... 
Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime. -
V. matar testemunhas... 
Contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. Entretanto, deve-se observar que nem toda morte de 
mulher é feminicídio. 
-
-> observar §2°-A: haverá feminicídio quando a mulher for morta em uma relação familiar ou em uma relação 
doméstica. 
 ∟ I. violência doméstica. 
VI. Feminicídio
 ∟ II. menosprezo. 
Contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da CF, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional 
de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou 
parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição. 
-
-> observar que esse crime se estende aos familiares dos policiais. 
VII. Matar autoridades...
Pena de 12 a 30 anos. -
Consequência: aumento de pena. 
§3° HOMICÍDIO CULPOSO 
"Se o homicídio é culposo: 
Pena - detenção, de um a três anos."
Negligência, imprudência ou imperícia 
Trata-se da figura típica do caput ("matar alguém"), embora com outro elemento subjetivo: culpa. É um tipo aberto, que 
depende, pois, da interpretação do juiz para poder ser aplicado. A culpa, conforme o artigo 18, II, do CP é constituída de 
imprudência, negligência ou imperícia. 
Se este parágrafo fala em homicídio culposo, isso significa que os homicídios dos §§1° e 2° são dolosos. Não pode haver, 
em momento algum, dolo (intenção de matar). 
§4°
"No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de 
profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências 
do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o 
crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos."
Aumenta a pena do homicídio culposo (previsto no §3°). -
1° parte: culposo qualificado 
A pena será aumentada se a pessoa deixar de prestar socorro, fugir do local ou deixar de observar regras técnicas e a 
vítima morrer. 
ECA (8.069/90)-
EI (10.741/03)-
2° parte: agravante 
Nos casos de crime doloso, a pena será aumentada em razão da vulnerabilidade da vítima (menor de 14 anos/maior de 60 
anos). 
 Página 4 de Penal II 
A pessoa faz aniversário as 00horas do dia do seu nascimento. -
§5° PERDÃO JUDICIAL 
"Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o 
próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária."
Exemplo: pai que provoca a morte do próprio filho, num acidente fruto de sua imprudência, já teve punição mais do 
que severa. 
-
O perdão judicial é a clemência do Estado, que deixa de aplicar a pena prevista para determinados delitos, em hipóteses 
expressamente previstas em lei. Essa é uma das situações que autoriza a concessão do perdão. Somente ao autor de 
homicídio culposo pode-se aplicar a clemência, desde que ele tenha sofrido com o crime praticado uma consequência tão 
séria e grave que a sanção penal se torne desnecessária. 
O legislador volta a falar em homicídio culposo. Neste caso, o juiz deixa de aplicar a pena na hora da condenação. 
Fundamentos jurídicos
As consequências do homicídio devem atingir o sujeito ativo de tal forma que o Estado não tem interesse em agravar seu 
sofrimento. 
O homicídio deve ser culposo.-
Laços afetivos (afinidade) entre o agente e a vítima.-
Exigências legais
§6° AUMENTO DE PENA 
"A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de 
prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio."
Exemplo: Beltrano comete um homicídio por meio cruel, em grupo de extermínio. Qualifica-se o crime com base no 
§ 2.º, III, associando-se ao § 6.º. A faixa de fixação da pena estabelece-se de 12 a 30 anos (por conta da 
qualificadora do inciso III), usando-se o aumento de um terço até metade na terceira fase da fixação do quantum da 
pena. Esse mecanismo é juridicamente viável porque, quando o homicídio é dupla ou triplamente qualificado, a 
primeira circunstância serve para qualificar, enquanto a(s) outra(s) funciona(m) como agravante(s). Havendo causa 
de aumento, que predomina sobre agravante, deve-se utilizar a elevação de um terço até metade.
-
Estabeleceu-se uma causa de aumento de um terço até a metade. Entretanto, o disposto neste parágrafo, na realidade, 
pode ser inaplicável. O crime de homicídio, praticado por grupo de extermínio ou milícia privada, sempre foi considerado 
como qualificado, fundado no inciso I do § 2.º: paga, promessa de recompensa ou outro motivo torpe. Desconhece-se a 
figura do homicídio simples cometido por exterminadores. Diante disso, não se pode aceitar o indevido bis in idem. Se a 
atividade paramilitar ou vigilante é torpe, por natureza, provocando a qualificação do delito, deixa de incidir a causa de 
aumento. Porém, há uma hipótese em que tal causa de aumento torna-se aplicável. Se o homicídio qualificar-se por outro 
fundamento, de caráter objetivo (incisos III e IV do § 2.º), pode-se utilizar o aumento deum terço até a metade. 
Não há definição legal para o número de integrantes da milícia privada ou do grupo de extermínio. 
Milícias são associações criminosas que agem através da força e da grave ameaça para intimidar determinadas 
comunidades e corromper essas pessoas (obrigar que essas pessoas paguem por segurança, por exemplo). Com 
isso, essas associações tomam conta de todo o comércio e o morado acaba ficando refém disso. Se as pessoas não 
pagarem, elas morrem. 
-
a) milícia privada...
Pode ser praticado por um único agente, o grupo é o que vai ser atingido (ou seja, o agente escolhe determinados 
grupos para exterminar). 
-
-> exemplo: matança de moradores de rua. 
b) grupo de extermínio 
§7° AUMENTO DE PENA
"A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência;
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou portadora de doenças 
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degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; 
III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima. 
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima; 
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 
11.340, de 7 de agosto de 2006 ."
Contra mulher gestante ou cujo filho ainda não atingiu mais do que três meses;-
Vulnerabilidade da vítima (menor de 14 anos, maior de 60 anos ou que seja incapaz por qualquer problema física ou 
mental);
-
Cometido na presença de ascendentes ou descendentes; -
Praticado desrespeitando medidas protetivas. -
Feminicídio 
Homicídio doloso, tentado ou consumado: competência do tribunal do júri. A ação penal pública é a ação penal 
incondicionada (que deverá ser promovida pelo MP). 
induzimento ao suicídio 
Art. 122, CP. 
CONCEITO
Suicídio é a morte voluntária. No Brasil, não se pune o autor da tentativa de suicídio por motivos humanitários: afinal, 
quem atentou contra a própria vida, por conta de comoção social, religiosa ou polícia, estado de miserabilidade, 
desagregação familiar, doenças graves, causas tóxicas, efeitos neurológicos, infecciosos ou psíquicos e até por conta de 
senilidade ou imaturidade, não merece punição, mas compaixão, amparo e atendimento médico. Pune-se, entretanto, 
aquele que levou outra pessoa ao suicídio, ainda que nada tenha feito para que o resultado se desse, tendo em vista ser a 
vida um bem indisponível, que o Estado precisa garantis, ainda que contra a vontade do seu titular. De outra parte, fica 
nítido que o suicídio é ato ilícito - embora não seja penalmente punido, até mesmo porque, quando se consuma, não teria 
sentido algum aplicar sanção à família
Automutilação é a conduta de causar lesões em si próprio. Vale recordar, até mesmo pelo princípio da 
transcendentalidade ou da alteridade, o qual veda a punição de condutas que não ultrapassem o âmbito de 
disponibilidade do agente, que a autolesão, por si só, não é punida. Assim como o suicídio não é punido, o que o legislador 
veda é o induzimento, a instigação ou o auxílio material a que alguém suicide ou que se mutile.
INDUZIMENTO, AUXÍLIO E INSTIGAÇÃO
"Art. 122, caput, CP. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio material 
para que o faça: Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
§1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, nos termos 
dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. 
§2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos."
Induzir: induzir significa dar a ideia a quem não possui, inspirar, incutir. Portanto, nessa primeira conduta, o agente sugere 
ao suicida que dê fim à sua vida. 
Instigação: instigar é fomentar uma ideia já existente. Trata-se, pois, do agente que estimula a ideia suicida que alguém 
anda manifestando. 
Exemplo: o agente fornece a arma utilizada pela pessoa que se mata. Nesse caso, deve dizer respeito a um apoio 
meramente secundário, não podendo, jamais, o autor, a pretexto, "auxiliar" o suicida, tomar parte ativa na ação de 
tirar a vida, tal como aconteceria se alguém apertasse o gatilho da arma já apontada para a cabeça do próprio 
suicida. Responde, nessa hipótese, por homicídio. 
-
Auxílio: trata-se da forma mais concreta e ativa de agir, pois significa dar apoio material ao ato suicida. 
Não se admite, pois a expressão contida no tipo penal menciona "prestar auxílio", implicando em ação.A)
Auxílio por omissão: trata-se de questão controversa na doutrina e jurisprudência, havendo duas correntes: 
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Admite-se, desde que o agente tenha o dever jurídico de impedir o resultado. B)
Sujeitos ativo e passivo: qualquer pessoa. No caso do sujeito passivo, é preciso ter um mínimo de discernimento ou 
resistência, pois, do contrário, trata-se de homicídio. 
Elemento subjetivo: dolo, não se admitindo a forma culposa. Por outro lado, o agente que, brincando, sugere à vítima que 
se mate não pode ser punido. Trata-se, neste caso, de verdadeira aberração. 
Se cada uma delas ingerir veneno, de per si, por exemplo, aquela que sobreviver responderá por participação em 
suicídio, tendo por sujeito passivo a outra (ou as outras) que morreram. 
A)
Caso uma ministre o veneno para as demais, se sobreviver, responderá por homicídio consumado de todos os que 
morreram (e tentativa de homicídio, com relação aos que sobreviverem), tendo em vista que o delito previsto no 
artigo 122, CP não admite qualquer tipo de ato executório, com relação a terceiros. 
B)
Na hipótese de cada pessoa administrar veneno a outra (exemplo: José dá veneno à Maria, que fornece a Pedro, 
que o ministra a Ana, etc.), todas sobrevivendo, responderá cada uma por tentativa de homicídio, tendo como 
sujeito passivo a pessoa a quem deu o tóxico. 
C)
Se cada pessoa ingerir, sozinha, o veneno, todas sobrevivendo, com lesões leves ou sem qualquer lesão, o fato é 
atípico, pois o crime do artigo 122, CP é condicionado à ocorrência de lesões graves ou morte. 
D)
Na hipótese de uma pessoa administrar veneno a outra, ao mesmo tempo em que recebe a peçonha desta, aquele 
que sobreviver responderá por homicídio consumado; se ambos sobreviverem, configurará tentativa de homicídio 
para as duas (como na alternativa C). 
E)
Caso quatro pessoas contratem um médico para lhes ministrar o veneno, tendo por resultado a morte de duas 
pessoas e a sobrevivência de ouras duas. Estas, que ficaram vivas, sem lesões graves, responderão por participação 
em suicídio, tendo por sujeitos passivos as que morreram. O médico, por sua vez, responderá por dois homicídios 
consumados e duas tentativas de homicídio. Adaptando-se o pacto de morte à roleta russa (passar um revólver 
entre vários presentes, contendo uma só bala no tambor, que é girado aleatoriamente, para que a arma seja 
apontada por cada um na direção de seu corpo), dá se o mesmo. Quem sobreviver responde por participação em 
suicídio, tendo por vítima aquele que morreu. Finalmente, acrescente-se a hipótese, no contexto da roleta russa, do 
participante que der um tiro em si mesmo, sofrendo lesões graves, no entanto sobrevivendo. Ele não deve ser 
penalmente responsabilizado, pois o direito brasileiro não pune a autolesão. Os outros, sem dúvida, responderão 
por participação em suicídio. 
F)
Pacto de morte: é possível que duas ou mais pessoas promovam um pacto de morte, deliberando morrer ao mesmo 
tempo. Neste caso, várias hipóteses podem se dar, tais quais: 
FORMAS MAJORADAS 
"§3° A pena é duplicada: 
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil; 
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquercausa, a capacidade de resistência."
Exemplo: induzir alguém a se matar para ficar com a herança ou para receber valor de seguro. -
Motivo egoístico: trata-se do excessivo apego a si mesmo, o que evidencia o desprezo pela vida alheia, desde que algum 
benefício concreto advenha ao agente. Logicamente, merece maior punição. 
Motivo torpe: é o motivo repugnante, vil, abjeto, desprezível. A vingança vem sendo compreendida pelo STJ como um 
motivo torpe, no caso de homicídio. Entretanto, o STJ já decidiu que a vingança pode ou não configurar motivo torpe, a 
depender do caso concreto. 
Motivo fútil: é aquele que demonstra desproporção em relação ao crime praticado. Caracteriza-se quando o delito 
consubstancie razão frívola, mesquinha, insignificante. E se o crime for praticado com ausência de motivo, existe 
divergência doutrinária, mas o STJ tem entendido não ser admissível a configuração do crime praticado sem motivo como 
qualificado por motivo torpe. 
Vítima menor de idade: como vimos, não pode se tratar de pessoa sem capacidade de compreender aquilo que faz, como 
uma criança. 
Vítima com diminuição da capacidade de resistência: é aquela que, por qualquer motivo, está mais suscetível ao 
induzimento ou à instigação, como aquela que padece de alguma enfermidade, como uma depressão. 
"§4° A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de computadores, de rede social ou 
 Página 7 de Penal II 
É importante recordar que a conduta típica, para a configuração do delito em estudo, deve se voltar a uma pessoa 
determinada ou a pessoas determinadas. Haverá, portanto, o aumento da pena, até o dobro, no caso de o agente 
se utilizar, por exemplo, de chamar de vídeo ou mesmo o serviço de mensagens do Facebook. 
-
transmitida em tempo real."
A fração de aumento deve ser até o dobro, devendo o juiz adotar como critério, o maior potencial de dano da 
conduta. Com efeito, o aumento deve ser menor se houver o uso de uma chamada de vídeo entre duas pessoas já 
conhecidas, sendo o uso da internet apenas um instrumento que possibilita sua ação à distância. Por outro lado, a 
majoração deve ser mais elevada se o agente procura suas vítimas em uma rede social, transmitindo sus mensagens 
a uma dezena de pessoas, escolhidas a partir de um grupo de apoio por abuso de álcool, por exemplo. 
-
Neste caso, a lei fixa a fração em até metade, ao contrário do parágrafo anterior ("até o dobro", naquele caso). O 
maior desvalor da conduta reside no fato de o sujeito ativo ter uma posição de liderança ou de coordenação em 
grupo ou rede virtual, ou seja, com formação realizada pela internet, a rede mundial de computadores. Com isso, 
sua conduta possui maior probabilidade de eficácia e menor controle, já que sua própria posição demanda dele tal 
responsabilidade no grupo. 
-
"§5° Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual."´
HIPÓTESES DE CONFIGURAÇÃO DE CRIME MAIS GRAVE
"§6° Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão corporal de natureza gravíssima e é cometido contra 
menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento 
para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime 
descrito no §2º do art. 129 deste Código."
§7° Se o crime de que trata o §2º deste artigo é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o 
necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde 
o agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. 121 deste Código."
Menor de 14 anos de idade: a lei presume de forma absoluta a incapacidade do menor de 14 anos a resistir a uma 
ideia de suicídio ou automutilação. Deste modo, se a vítima com referida idade se mata ou se mutila, neste último 
caso com configuração de lesão de natureza gravíssima, o agente responderá pelo crime de homicídio ou de lesão 
corporal gravíssima, respectivamente.
-
Vítima que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento contra a prática do ato: 
cuida-se de vítima que, por enfermidade (como esquizofrenia) ou deficiência mental (como quem nasceu com 
microcefalia), não tem capacidade de decidir, de forma consciente e livre, sobre o fim de sua própria vida ou sobre 
a automutilação.
-
Vítima que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência: a última hipótese abarca qualquer causa que 
torne o sujeito passivo mais vulnerável, sem possibilidade de resistir ao induzimento, à instigação ou ao auxílio 
material ao suicídio ou à automutilação. É o caso de alguém que abusou do consumo de bebida alcoólica ou que 
usou cocaína a ponde de não ter domínio de sua própria vontade. 
-
Configura lesão corporal gravíssima ou homicídio se o crime qualificado for praticado contra: 
Lesão corporal gravíssima: se o resultado for uma lesão corporal gravíssima, sendo a vítima uma das acima 
mencionadas, o agente deve responder nos termos do artigo 129, §2°, do CP. A lesão corporal de natureza 
gravíssima, como denominada pela doutrina, se configura se ensejar incapacidade permanente para o trabalho; 
enfermidade incurável; perda ou inutilização do membro, sentido ou função; deformidade permanente ou aborto. 
-
Morte: se a vítima for uma das destacadas pelo §7° do artigo 121 e lhe sobrevier a óbito como consequência da 
conduta típica, haverá a configuração do homicídio, por expressa previsão legal, afastando-se a forma qualificada 
do §2° do artigo 122 do CP. 
-
Quanto à punição, a lei determina que, caso o sujeito passivo seja algum dos elencados acima, a punição deve ocorrer de 
acordo com o resultado obtido: 
infanticídio
Art. 123, CP. 
CONCEITO
 Página 8 de Penal II 
"Art. 123, CP. Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
Pena - detenção, de dois a seis anos."
O sujeito ativo deve, necessariamente, ser a mãe sob influência do estado puerperal. -
Trata-se do homicídio cometido pela mãe contra seu filho, nascente ou recém-nascido, sob a influência do estado 
puerperal. É uma hipótese de homicídio privilegiado em que, por circunstâncias particulares e especiais, houve por bem o 
legislador conferir tratamento mais brando à autora do delito, diminuindo a faixa de fixação da pena (mínimo e máximo). 
Embora formalmente tenha o legislador eleito a figura do infanticídio como crime autônomo, na essência não passa de 
um homicídio privilegiado, como já observamos. 
DISTINÇÃO ENTRE INFANTICÍDIO E ABORTO
Menciona a lei penal que o infanticídio pode ter lugar durante o parto ou logo após. Nesta última hipótese, não há dúvida: 
inexiste aborto. Entretanto, o problema mais sensível é descortinar o momento em que a criança deixa de ser 
considerada feto para ser tratada como nascente. O início do parto se dá com a ruptura da bolsa, pois a partir daí o feto 
se torna acessível às ações violentas (por instrumentos ou pela própria mãe do agente). Assim, iniciado o parto, torna-se o 
ser vivo sujeito ao crime de infanticídio. Antes, é hipótese de aborto. 
ANÁLISE DO NÚCLEO DO TIPO 
Observa-se que o verbo "matar" é o mesmo do homicídio, razão pela qual a única diferença entre o crime de infanticídio e 
o homicídio é a especial situação em que se encontra o agente. Matar significa eliminar a vida de outro ser humano, de 
modo que é preciso que o nascente esteja vivo no momento em que é agredido. Trata-se de crime punido somente na 
forma dolosa. 
SUJEITOS ATIVO E PASSIVO
Autora do delito só pode ser a mãe, enquanto a vítima é o ser nascente ou o recém-nascido. 
ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo. Não se exige elemento subjetivo específico, nem se pune a forma culposa. 
ELEMENTOS JURÍDICO E MATERIAL
O objeto jurídico protegido é a vida humana, enquanto o material é a criança, que sofre a agressão. 
ESTADO PUERPERAL
É o estado que envolve a parturiente durante a expulsão da criançado ventre materno. Há profundas alterações psíquicas 
e físicas, que chegam a transtornar a mãe, deixando-a sem plenas condições de entender o que está fazendo. É uma 
hipótese de semi imputabilidade que foi tratada pelo legislador com a criação de um tipo especial. O puerpério é o 
período que se estende do início do parto até a volta da mulher às condições pré-gravidez. Como toda mãe passa pelo 
estado puerperal - algumas com graves perturbações e outras com menos -, é desnecessária a perícia. 
CIRCUNSTÂNCIA DE TEMPO
O infanticídio exige que a agressão seja cometida durante o parte ou logo após, embora sem fixar um período preciso 
para tal ocorrer. Deve-se, pois, interpretar a expressão "logo após" com o caráter de imediatidade, pois, do contrário, 
poderão existir abusos. Após o parto ter se consumado, a presunção do estado puerperal vai desaparecendo e o correr 
dos dias inverte a situação, obrigando a defesa a demonstrar, pelos meios de prova admitidos (perícia ou testemunhas), 
que o puerpério, excepcionalmente, naquela mãe persistiu, levando-a a matar o próprio filho. 
CLASSIFICAÇÃO DO CRIME 
É delito próprio (só pode ser cometido por agente especial, no caso a mãe); instantâneo (a consumação não se prolonga 
no tempo); comissivo (exige ação); material (que se configura com o resultado previsto no tipo, a morte do filho); de dano 
(o bem jurídico precisa ser efetivamente lesado); unissubjetivo (pode ser cometido por uma só pessoa); progressivo 
(passa, necessariamente, por uma lesão corporal); plurissubsistente (vários atos integram a conduta); de forma livre (não 
s encontra no tipo a descrição da conduta que determina o resultado); admite tentativa. Aliás, vários casos de agressões 
contra recém nascidos terminam não se consumando, visto que os recém nascidos tem menor necessidade de oxigênio. 
CONCURSO DE AGENTES 
Tendo o Código Penal adotado a teoria monista (artigos 29 e 30), pela qual todos os que colaborarem para o 
cometimento de um crime incidem nas penas a ele destinadas, no caso presente coautores e partícipes respondem 
igualmente por infanticídio. O mesmo se dá se a mãe auxilia, nesse estado, o terceiro que tira a vida do seu filho e ainda 
se ambos (mãe e terceiro) matam a criança nascente ou recém nascida. A doutrina é amplamente predominante nesse 
 Página 9 de Penal II 
sentido. 
aborto 
Arts. 124 a 128, CP 
ABORTO PROVOCADO PELA GESTANTE OU COM SEU CONSENTIMENTO 
"Art. 124, CP. Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque: 
Pena - detenção, de um a três anos."
CONCEITO DE ABORTO 
Sentido etimológico: privação do nascimento. -
É a cessação da gravidez, cujo início se dá com a nidação, antes do termo normal, causando a morte do feto ou embrião. 
O termo mais correto seria "abortamento": é a conduta criminosa, interrupção da gravidez. 
Entende-se que o início da gravidez se dá com a fecundação do embrião na parede uterina. -
Quando se dá o início da gravidez? 
FORMAS DE ABORTO
Aborto natural: é a interrupção da gravidez oriunda de causas patológicas, que ocorre de maneira espontânea (não há 
crime). 
Aborto acidental: é a cessação da gravidez por conta de causas exteriores e traumáticas, como quedas e choques (não há 
crime). 
Aborto criminoso: é a interrupção forçada e voluntária da gravidez, provocando a morte do feto. 
Aborto terapêutico ou necessário: é a interrupção da gravidez realizada por recomendação médica, a fim de salvar a 
vida da gestante. Trata-se de uma hipótese específica de estado de necessidade. 
-
Aborto sentimental ou humanitário: é a autorização legal para interromper a gravidez quando a mulher foi vítima de 
estupro. Dentro da proteção à dignidade da pessoa humana em confronto com o direito à vida nesse caso, do feto), 
optou o legislador por proteger a dignidade da mãe, que, vítima de um crime hediondo, não quer manter o produto 
da concepção em seu ventre, o que lhe poderá trazer sérios entraves de ordem psicológica e na sua qualidade de 
vida futura. 
-
Aborto permitido ou legal: é a cessação da gestação com a morte do feto, admitida por lei. Esta forma divide-se em: 
Aborto eugênico ou eugenésico: é a interrupção da gravidez, causando a morte do feto, para evitar que a criança nasça 
com graves defeitos genéticos. Há controvérsia se há ou não crime nessas hipóteses (como se verá no artigo 128). 
Aborto econômico-social: é a cessação da gestação, causando a morte do feto, por razões econômicas ou sociais, quando a 
mãe não tem condições de cuidar do seu filho, seja porque não recebe assistência do Estado, seja porque possui família 
numerosa, ou até por política estatal. No Brasil, é crime. 
SUJEITOS ATIVO E PASSIVO
O sujeito ativo é a gestante, enquanto o passivo é o feto ou embrião. 
Secundariamente, o sujeito passivo é a sociedade, que tem interesse em proteger a vida do ser em formação no útero 
materno. 
OBJETOS JURÍDICO E MATERIAL 
O objeto jurídico protegido é a vida do feto ou embrião. Primordialmente, o objeto material é o feto ou embrião, que sofre 
a conduta criminosa, mas também pode ser a gestante, pois seu corpo pode ser protegido para provocar o aborto. 
ANÁLISE DO NÚCLEO DO TIPO 
"Provocar" significa dar causa ou determinar; "consentir" quer dizer dar aprovação, admitir, tolerar. O objeto das condutas 
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é a cessação da gravidez, provocando a morte do feto ou embrião. 
ELEMENTO SUBJETIVO 
É o dolo. Não exige elemento subjetivo específico, nem se pune a forma culposa. 
PROVA DO ABORTO
Em regra, faz-se por exame pericial. Excepcionalmente, por exame indireto. Nesse sentido: TJSP - "a prova de gravidez e 
de que o aborto foi provocado é assunto médico-legal, normalmente esclarecido no laudo pericial, cuja eventual 
deficiência não impedirá a pronúncia e até mesmo a condenação do acusado, desde que apoiada noutros elementos 
persuasivos de materialidade do crime." (HC 280.904-3, Cafelândia, 4°. C., rel. Haroldo Luz, 27.04.1999, v.u., JUBI 35/99).
EXIGÊNCIA DE GRAVIDEZ COMPROVADA 
É preciso que a gestação seja, de algum modo, comprovada, pois “provocar” aborto implica em matar o feto ou embrião. 
Se este não existe ou já estava morto, trata-se de crime impossível. 
PARTICIPAÇÃO DE TERCEIRO
Exemplo: aconselhar a gestante a cometer, sozinha, o aborto. -
O delito admite a participação, desde que na forma secundária, consistente em induzimento, instigação ou auxílio. 
Se a pessoa atua diretamente para causar a interrupção da gravidez não é partícipe, mas autora do delito do art. 126.
CLASSIFICAÇÃO DO CRIME 
Trata-se de crime próprio (só a gestante pode cometer); instantâneo (cuja consumação não se prolonga no tempo); 
comissivo ou omissivo (provocar = ação; consentir = omissão); material (exige resultado naturalístico para sua 
configuração); de dano (deve haver efetiva lesão ao bem jurídico protegido, no caso, a vida do feto ou embrião); 
unissubjetivo (admite a existência de um só agente), mas na última modalidade (com seu consentimento) é 
plurissubjetivo, mesmo que existam dois tipos penais autônomos – um para punir a gestante, que é este, e outro para 
punir o terceiro, que é o do art. 126; plurissubsistente (configura-se por vários atos); de forma livre (a lei não exige 
conduta específica para o cometimento do aborto); admite tentativa. Pune-se somente a forma dolosa
HIPÓTESES QUE AFASTAM A OCORRÊNCIA DE ABORTO
Gravidez molar: desenvolvimento completamente anormal do ovo. Não há aborto, pois é preciso se tratar de "embrião de 
vida humana". 
Gravidez extrauterina: trata-se de um estado patológico, onde o embrião não tem condições de se desenvolver, atingindo 
vida própria de modo normal. Nesse caso, par haver aborto lícito, é necessário que não haja possibilidade médica de 
intervir para sanar o problema. 
ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO SEM CONSENTIMENTO
"Art. 125, CP. Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: 
Pena - reclusão, se três a dez anos."
SUJEITOS ATIVO E PASSIVO 
Neste caso, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, emborao sujeito passivo não seja somente o feto ou embrião, mas 
também a gestante, pois a agressão foi dirigida contra a sua pessoa, sem o seu consentimento. 
Secundariamente, o sujeito passivo é a sociedade que tem interesse em proteger a vida do ser em formação no útero 
materno. 
OBJETOS JURÍDICO E MATERIAL 
Os objetos jurídico são a vida do feto ou embrião e a integridade física da gestante; os objetos materiais são igualmente o 
feto ou embrião ou a gestante, que sofreram a conduta criminosa. 
CLASSIFICAÇÃO DO CRIME 
Trata-se de crime comum (que pode ser praticado por qualquer pessoa); instantâneo (cuja consumação não se prolonga 
no tempo); comissivo (provocar = ação) ou omissivo (quando houver o dever jurídico de impedir o resultado. Ex.: o 
médico que, contratado para acompanhar uma gestação problemática, não o faz deliberadamente); material (exige 
resultado naturalístico para sua configuração); de dano (deve haver efetiva lesão ao bem jurídico protegido, no caso, a 
vida do feto ou embrião e a integridade física da mãe); unissubjetivo (admite a existência de um só agente); 
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plurissubsistente (configura-se por vários atos); de forma livre (a lei não exige conduta específica para o cometimento do 
aborto); admite tentativa.
ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO COM CONSENTIMENTO 
"Art. 126, CP. Provocar aborto com o consentimento da gestante: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil 
mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência Forma qualificada ."
SUJEITOS ATIVO E PASSIVO 
Ativo é qualquer pessoa; passivo é o feto ou embrião. 
Secundariamente, o sujeito passivo é a sociedade, que tem interesse em proteger a vida do ser em formação no útero 
materno. 
OBJETOS JURÍDICO E MATERIAL 
O objeto jurídico é a vida do feto ou embrião; o objeto material é o feto ou embrião, que sofre a conduta criminosa.
ANÁLISE DO TIPO 
Trata-se de uma exceção à teoria monística (todos os coautores e partícipes respondem pelo mesmo crime quando 
contribuírem para o mesmo resultado típico). Se existisse somente a figura do artigo 124, o terceiro que colaborasse com 
a gestante para a prática do aborto incidiria naquele tipo penal. Entretanto, o legislador, para puni mais severamente o 
terceiro que provoca o aborto, criou o art. 1126, aplicando a teoria dualista do concurso de pessoas. 
CLASSIFICAÇÃO DO CRIME 
Trata-se de crime comum (que pode ser praticado por qualquer pessoa); instantâneo (cuja consumação não se prolonga 
no tempo); comissivo (provocar = ação); material (exige resultado naturalístico para sua configuração); de dano (deve 
haver efetiva lesão ao bem jurídico protegido, no caso, a vida do feto ou embrião); plurissubjetivo (necessita da 
participação de, pelo menos, duas pessoas, embora, neste caso, existam dois tipos autônomos); plurissubsistente 
(configura-se por vários atos); de forma livre (a lei não exige conduta específica para o cometimento do aborto); admite 
tentativa. Pune-se somente a forma dolosa. 
DISSENTIMENTO PRESUMIDO 
Quando a vítima é menor de 14 anos ou é alienada ou débil mental, não possui consentimento válido, levando à 
consideração de que o aborto deu-se contra a sua vontade. Esse dispositivo é decorrência natural do enfoque que a lei 
penal concede ao menor de 14 anos, incapaz de consentir validamente certos atos. 
DISSENTIMENTO REAL 
Quando o agente emprega violência, grave ameaça ou mesmo fraude, é natural supor que extraiu o consentimento da 
vítima à força, de modo que o aborto necessita encaixar-se na figura do artigo 125. 
FORMA QUALIFICADA 
"Art. 127, CP. As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de 1/3 (um terço), se, em consequência do 
aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, 
se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte."
APLICAÇÃO RESTRITA 
Somente se aplica a figura qualificada às hipóteses dos arts. 125 e 126, pois não se pune a autolesão no direito brasileiro. 
HIPÓTESES DA FIGURA QUALIFICADA 
Lesões graves ou morte da gestante e feto expulso vivo: tentativa de aborto qualificado. 
Aborto feito pela gestante, com lesões graves ou morte, havendo participação de outra pessoa: esta pode responder por 
homicídio ou lesão culposa (se previsível o resultado para a gestante) em concurso com autoaborto, já que não se aplica 
a figura qualificada à hipótese prevista no art. 124. 
CRIMES QUALIFICADOS PELO RESULTADO 
Trata-se de hipótese em que o resultado mais grave qualifica o originalmente desejado. O agente quer matar o feto ou 
embrião, embora termine causando lesões graves ou mesmo a morte da gestante. Entendem a doutrina e a 
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jurisprudência majoritárias que as lesões e a morte só podem decorrer de culpa do agente, constituindo, pois, a forma 
preterdolosa do crime (dolo na conduta antecedente e culpa na subsequente). Entretanto, a despeito disso, não há 
restrição legal expressa para que o resultado mais grave não possa ser envolvido pelo dolo eventual do agente. Mas, se 
isso ocorrer, conforme posição predominante, costuma-se dividir a infração em duas distintas (aborto + lesões corporais 
graves ou aborto + homicídio doloso, conforme o caso). Em suma, o aborto com morte ou lesão grave para a gestante é 
um crime qualificado pelo resultado, que pode dar-se com dolo na conduta antecedente (aborto) e dolo eventual ou 
culpa na consequente (morte ou lesão grave para a gestante). Não se trata, pois, do autêntico crime preterdoloso, aquele 
que somente admite dolo na conduta antecedente e culpa na consequente. Por tal motivo, é possível a configuração da 
tentativa, isto é, o agente tenta praticar o aborto, não consegue, mas termina causando à gestante lesões graves. É uma 
tentativa de aborto com lesões graves para a mãe. 
ABORTO PRATICADO POR MÉDICO 
"Art. 128, CP. Não se pune o aborto praticado por médico: 
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu 
representante legal."
ANÁLISE DA EXPRESSÃO "NÃO SE PUNE" 
Trata-se de um equívoco do legislador: pois fica parecendo ser uma escusa absolutória. Melhor teria sido dizer "não 
há crime". 
A)
É correta a expressão: pois está a lei dizendo que não se pune o aborto, o que significa que o fato típico deixa de ser 
punível, equivalendo a dizer que não há crime. 
B)
Há duas posições a respeito: 
CONSTITUCIONALIDADE DO DISPOSITIVO 
Nenhum direito é absoluto, nem mesmo o direito à vida. Por isso, é perfeitamente admissível o aborto em circunstâncias 
excepcionais, para preservar a vida digna da gestante. Há, no entanto, uma posição contrária na doutrina, sustentando a 
absoluta impossibilidade de ser legitimado o aborto, pois seria ofensa à cláusula pétrea do art. 5°, CF, que é o direito à 
vida. 
SUJEITO QUE PODE PRATICÁ-LO 
Entende-se que somente o médico pode providenciar a cessação da gravidez nessas duas hipóteses, sem qualquer 
possibilidade de utilização da analogia "in bonam partem" para incluir, por exemplo, a enfermeira ou a parteira. A razão 
disso consiste no fato de o médico ser o único profissional habilitado a decidir, mormente na primeira situação, se a 
gestante pode ser salva evitando-se o aborto ou não. Quanto ao estupro, é também o médico que pode realizar a 
interrupção da gravidez com segurança para a gestante. Se a enfermeira ou qualquer outra pessoa assim agir, poderá ser 
absolvida por estado de necessidade ou até mesmo por inexigibilidade de conduta diversa, conforme o caso. 
ABORTO TERAPÊUTICO 
Trata-se de uma hipótese específica de estado de necessidade. Entre os dois bens que estão em conflito (vida da gestante 
e vida do feto ou embrião), o direito fez clara opção pela vidada mãe. Prescinde-se do consentimento da gestante neste 
caso. 
ABORTO HUMANITÁRIO OU PIEDOSO 
Em nome da dignidade da pessoa humana, no caso a mulher que foi violentada, o direito permite que pereça a vida do 
feto ou embrião. São dois valores fundamentais, mas é melhor preservar aquele já existente.
Autoriza o aborto sentimental, pois está claramente prevista a hipótese em lei; A)
Não autoriza, pois é impossível a "morte de um ser humano" em nome de uma ficção. B)
ESTUPRO DECORRENTE DE VIOLÊNCIA FÍSICA 
ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR 
Após a edição da Lei 12.015/2009, o atentado violento ao pudor foi incorporado pelo estupro, de modo que tanto a 
conjunção carnal quanto outro ato libidinoso são, igualmente, considerados formas de estupro. Por isso, resultando de 
qualquer deles a gravidez, autoriza-se o aborto. 
 Página 13 de Penal II 
EXISTÊNCIA DE CONDENAÇÃO OU PROCESSO PELO DELITO DE ESTUPRO 
Prescindível, pois a excludente não exige a condenação do responsável pelo crime que deu origem à autorização legal. O 
importante é o fato e não o autor do fato. Por isso, basta o registro de um boletim de ocorrência e a apresentação do 
documento ao médico, que não necessita nem mesmo de autorização judicial. 
CONSENTIMENTO DA GESTANTE 
É imprescindível, pois é ela que pode saber o grau de rejeição à criança que existe em seu coração. Caso decida gerar o 
ser, permitindo-lhe o nascimento, este é direito seu. Em verdade, terá dado mostra de superior desprendimento e 
nenhum bem será ainda mais sacrificado, além do trauma que já sofreu em virtude de violência sexual. 
A QUESTÃO DO ABORTO EUGÊNICO EM CONFRONTO COM A ANENCEFALIA 
Algumas decisões de juízes têm autorizado abortos de fetos ou embriões que tenham graves anomalias, inviabilizando, 
segundo a medicina atual, a sua vida futura. Seriam crianças que fatalmente morreriam logo ao nascer ou pouco tempo 
depois. Assim, baseando-se no fato de que algumas gestantes, descobrindo tal fato, não se conformam com a gestação de 
um ser completamente inviável, abrevia-se o sofrimento e autoriza-se o aborto. 
o da gestante, não suportando carregar no ventre uma criança de vida inviável; -
o do médico, julgando salvar a genitora do forte abalo psicológico que vem sofrendo. -
O juiz invoca, por vezes, a tese da inexigibilidade de conduta diversa, por vezes a própria interpretação da norma penal 
que protege a “vida humana” e não a falsa existência, pois o feto ou embrião só está “vivo” por conta do organismo 
materno que o sustenta. A tese da inexigibilidade, nesse caso, teria dois enfoques: 
As únicas hipóteses de aborto legal são as previstas no art. 128, e não se pode dizer que interromper a gestação de 
um ser anômalo irá “salvar a vida da gestante”. Abalos psicológicos não podem ser causa para a interrupção da 
gestação, mesmo porque a medicina evolui a passos largos dia após dia, o que significa que a perspectiva de vida e 
de cura pode alterar-se a qualquer instante. A inexigibilidade da conduta diversa é uma causa supralegal de 
exclusão da culpabilidade, presente em nosso ordenamento, embora, em muitos casos, não estejam presentes os 
seus requisitos. A disseminarmos tal conduta, nada impede, no futuro, que a eugenia – aprimoramento da raça 
humana – volte a imperar em nossa sociedade, permitindo que pais escolham qual tipo físico de criança desejam, 
provocando o aborto daquelas que, em padrões questionáveis, sejam “inviáveis”.
-
A medicina, por ter meios, atualmente, de detectar tais anomalias gravíssimas, propicia ao juiz uma avaliação antes 
impossível. Até este ponto, é razoável a invocação da tese de ser inexigível a mulher carregar por meses um ser que, logo 
ao nascer, perecerá. Mas não se pode dar margem a abusos, estendendo o conceito de anomalia fatal para abranger fetos 
ou embriões que irão constituir seres humanos defeituosos ou até monstruosos. Afinal, nessa situação, o direito não 
autoriza o aborto. Lamentavelmente, tem-se observado que nem todas as decisões autorizadoras do aborto ligam-se ao 
feto ou embrião plenamente inviável. Algumas, levando em conta o sofrimento dos pais de terem em gestação um feto 
ou embrião anormal, física ou mentalmente, mas com possibilidade de viver, ainda que com características monstruosas, 
acabam autorizando o aborto para fazer cessar a angústia dos genitores. 
Não podemos acolher a tese de que o feto ou embrião, com anomalias, que irá constituir-se em ser vivo 
monstruoso, ou com curta expectativa de vida, possa ser exterminado, enquanto, se os pais não o fizerem durante a 
gestação, não mais poderão assim agir quando o mesmíssimo ser monstruoso nascer. Se a vida humana deve ser 
protegida de qualquer modo, seja de ser monstruoso ou não, necessita-se estender essa proteção tanto à criança 
nascida quanto àquela que se encontra em gestação. E diga-se mais: a eventual curta expectativa de vida do futuro 
recém-nascido também não deve servir de justificativa para o aborto, uma vez que não se aceita, no Brasil, a 
eutanásia, vale dizer, quem está desenganado não pode ser morto por terceiros, que terminarão praticando 
homicídio (ainda que privilegiado). Entretanto, se os médicos atestarem que o feto ou embrião é verdadeiramente 
inviável, vale dizer, possui malformação que lhe impedirá a vida fora do útero materno, não se cuida de “vida 
própria”, mas de um ser que sobrevive à custa do organismo da gestante. 
-
Se o direito protege, como é doutrina e jurisprudência predominantes, qualquer tipo de pessoa, mesmo a monstruosa 
(deformada ou de conformação anômala), não se compreende a razão pela qual, em alguns casos, leve-se em conta a 
possibilidade de a gestante optar pela morte do feto ou embrião, encaixado na mesma situação. Ou seja: fetos ou 
embriões que se constituirão em seres monstruosos ou de vida relativamente inviável, no futuro, podem ser sacrificados 
de imediato; recém-nascidos monstruosos, no entanto, não podem.
 Página 14 de Penal II 
lesão corporal
"Art. 129, CP. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano.
Lesão corporal de natureza grave:
§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2º Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incurável;
III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Lesão corporal seguida de morte:
§ 3º Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Diminuição de pena:
§ 4º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta 
emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Substituição da pena
§ 5º O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois 
contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.
Lesão corporal culposa:
§ 6º Se a lesão é culposa: 
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
Aumento de pena:
§ 7º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4º e 6º do art. 121 deste Código. 
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.
Violência Doméstica:
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou 
tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. 
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1 o a 3 o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9 o deste artigo, aumenta-
se a pena em 1/3 (um terço).§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa 
portadora de deficiência. 
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes 
do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra 
seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de 
um a dois terços."
CONCEITO DE LESÃO CORPORAL
Trata-se de uma ofensa física voltada à integridade ou à saúde do corpo humano. 
Para a configuração do tipo é preciso que a vítima sofra algum dano ao seu corpo, alterando-se interna ou 
externamente, podendo, ainda, abranger qualquer modificação prejudicial à sua saúde, transfigurando-se qualquer 
função orgânica ou causando-lhe abalos psíquicos comprometedores. 
-
Não é indispensável a emanação de sangue ou a existência de qualquer tipo de dor. Tratando-se de saúde, não se 
deve levar em consideração somente a pessoa saudável, vale dizer, tornar enfermo quem não estava, mas ainda o 
fato de o agente ter agravado o estado de saúde de quem já se encontrava doente. 
-
Não se enquadra neste tipo penal qualquer ofensa moral. 
 Página 15 de Penal II 
Exemplo: agente que ameaça gravemente a vítima, provocando-lhe uma séria perturbação mental, ou transmite-
lhe, deliberadamente, uma doença através de um contato sexual consentido. 
-
A lesão pode ser cometida por mecanismos não violentos. 
AUTOLESÃO 
Não é punida no direito brasileiro, embora seja considerada ilícita, salvo se estiver vinculada à violação de outro bem ou 
interesse juridicamente protegido, como ocorre quando o agente, pretendendo obter indenização ou valor de seguro, 
fere o próprio corpo, mutilando-se. Nessa hipótese, aplica-se o disposto no art. 171, §2°, V do CP, tendo em vista a 
proteção a proteção ao patrimônio da empresa seguradora. 
ANÁLISE DO NÚCLEO DO TIPO
"Ofender" significa lesar ou fazer mal a alguém ou a alguma coisa. O objeto da conduta é a integridade corpora (inteireza 
do corpo humano) ou a saúde (normalidade das funções orgânicas, físicas e mentais do ser humano). 
SUJEITOS ATIVO E PASSIVO 
Como exemplo de sujeito passivo qualificado ou especial, pode-se mencionar a mulher grávidas, no caso de lesão 
corporal com aceleração de parto (§1°, IV) ou de aborto (§2°, V). 
-
Qualquer pessoa, salvo em algumas figuras qualificadas. 
ELEMENTO SUBJETIVO 
Na figura prevista no caput, que é a lesão corporal simples, somente o dolo, sem exigir-se elemento subjetivo específico 
ou dolo específico.
OBJETOS MATERIAL E JURÍDICO 
O primeiro é a pessoa que sofre a lesão; o segundo é o bem jurídico protegido, que é a incolumidade física.
CLASSIFICAÇÃO
É crime comum (pode ser cometido por qualquer pessoa); material (exige resultado naturalístico, consistente na lesão à 
vítima); de forma livre (podendo ser cometido por qualquer meio eleito pelo agente); comissivo (“ofender” implica em 
ação) e, excepcionalmente, comissivo por omissão (omissivo impróprio, ou seja, é a aplicação do art. 13, § 2.º, do Código 
Penal); instantâneo (cujo resultado ocorre de maneira instantânea, não se prolongando no tempo); de dano (consuma-se 
apenas com efetiva lesão a um bem jurídico tutelado); unissubjetivo (que pode ser praticado por um só agente); 
plurissubsistente (em regra, vários atos integram a conduta de lesar); admite tentativa.
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA OU BAGATELA 
É viável não considerar fato típico a lesão ínfima causada à vítima, pois o Direito Penal não deve ocupar-se de 
banalidades, dependendo, naturalmente, do caso concreto. Assim, exemplificando, pequenas lesões causadas 
culposamente em acidentes de trânsito podem ser consideradas atípicas.
LESÕES LEVES PROVOCADAS POR CÔNJUGES 
Costumava-se, como medida de política criminal, defender o arquivamento do inquérito policial ou até mesmo a 
absolvição da pessoa acusada quando o casal se reconciliava, visando à preservação da família. Uma condenação poderia 
provocar maiores danos à estabilidade conjugal, já alcançada pela recomposição de ambos. 
Ocorre que, atualmente, cuida-se da hipótese de violência doméstica (art. 129, §9°), cuja ação é pública incondicionada. 
Por isso, não é o caso de continuar a aplicar a política criminal de preservação dos laços familiares, pois o interesse 
público em buscar a punição do agente é superior à pretensa preservação do matrimônio. 
CONSENTIMENTO DO OFENDIDO
É perfeitamente aplicável, no contexto das lesões corporais, o consentimento da vítima como causa supralegal de 
exclusão da ilicitude. Não se pode mais conceber o corpo humano como bem absolutamente indisponível, pois a 
realidade desmente a teoria. É verdade que o Estado deve zelar pela vida humana, indisponível que é, além da 
integridade física, embora sem jamais desconhecer que a evolução dos costumes e da própria ciência traz modificações 
importantes nesse cenário. Atualmente, as práticas demonstram que o ser humano dispõe, no dia a dia, de sua 
integridade física, colocando-se em situações de risco de propósito ou submetendo-se a lesões desejadas. Do mesmo 
modo, não deve o Estado imiscuir-se na vida íntima das pessoa, resolvendo punir, por exemplo, lesões corporais 
consentidas cometidas durante a prática de ato sexual desejado entre adultos. Assim, conforme a sociedade for 
assimilando determinados tipos de lesão corporal, deve o Estado considerar válido o consentimento do ofendido para 
eliminar a ilicitude do fato. Tudo está a depender, naturalmente, da evolução dos costumes, pois não devem ser aceitas 
 Página 16 de Penal II 
condutas que ofendam a moral e a ética social.
LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE 
CONCEITO DE LESÃO CORPORAL GRAVE 
Sob a mesma rubrica, o legislador tipificou dois modelos distintos de lesão corporal: a grave e a gravíssima. Enquanto no §
1° encontram-se os casos de lesão corporal grave, no §2°estão os casos de lesão corporal gravíssima. A diferença entre 
ambas as denominações emerge cristalina a partir da análise da pena cominada: reclusão de 1 a 5 anos para a hipótese 
grave e reclusão de 2 a 8 anos para a gravíssima. 
Assim, a lesão corporal grave (ou mesmo a gravíssima) é uma ofensa à integridade física ou à saúde da pessoa humana, 
considerada muito mais séria e importante do que a lesão simples ou leve. Ontologicamente, inexiste diferença entre 
quaisquer tipos de lesão corporal dolosa, embora, para efeito de punição, leve-se em consideração a espécie de dano 
causado à vítima. 
OCUPAÇÃO HABITUAL
Compreende-se como toda e qualquer atividade regularmente desempenhada pela vítima, e não apenas a sua ocupação 
laborativa. Assim, uma pessoa que não trabalhe, vivendo de renda ou sustentada por outra, deixando de exercitar suas 
habituais ocupações, sejam elas quais forem - até mesmo de simples lazer -, pode ser enquadrada nesse inciso, desde que 
fique incapacitada por mais de 30 dias. 
A única exigência é que a atividade exercida pela vítima seja lícita, pois não teria cabimento considerar presente a 
qualificadora no caso de um delinquente que deixasse de cometer crimes por período superior ao trintídio porque foi 
ferido por um comparsa. 
Por derradeiro, deve-se destacar que o termo "habitual" tem a conotação de atividade frequente, não se podendo 
reconhecer a lesão corporal grave quando a vítima ficar incapacitada para ocupações que exercia raramente (exemplo: o 
ofendido, por conta da lesão corporal, foi obrigado a adiar por mais de 30 dias uma viagem de lazer, algo que costumava 
fazer esporadicamente). 
Perícia
Torna-se indispensável a realização de laudo pericial para atestar o comprometimento da vítima para seu mister habitual 
por mais de 30 dias, devendo ser elaborado tão logo decorra o trintídio - embora possa subsistir a tolerância de alguns 
dias. O exame complementar pode ser suprido por prova testemunhal, como expressamente prevê o art. 168, §3° doCPP. 
PERIGO DE VIDA 
É a concreta possibilidade de a vítima morrer em face das lesões sofridas. Não bastam conjecturas ou hipóteses vagas e 
imprecisas, mas um fator real de risco inerente ao ferimento causado. Trata-se de um diagnóstico, e não de um 
prognóstico. Por isso, torna-se praticamente indispensável o laudo pericial, sendo muito rara a sua substituição por prova 
testemunhal, salvo quando esta for qualificada, ou seja, produzida pelo depoimento de especialistas (como o médico que 
cuidou da vítima durante a sua convalescença). A doutrina e a jurisprudência pátrias, majoritariamente, consideram que, 
neste caso, somente pode haver dolo na conduta antecedente (lesão corporal) e culpa no tocante ao resultado mais grave 
(perigo de vida), pois, havendo dolo em ambas as fases, estar-se-ia diante de uma tentativa de homicídio. 
Perícia 
Em sentido contrário: "STF - 'a ausência de laudo pericial não impede seja reconhecida a materialidade do delito de 
lesão corporal de natureza grave por outros meios.' (HC 114.567/ES, 2° T., Rel. Gilmar Mendes, 16.10.2012, v.u.)."
-
Diversos autores entendem que é indispensável. O perigo de vida é uma situação médica, que precisa ser 
convenientemente atestada e, sem dúvida, deixa vestígio. Desse modo, mesmo que não seja possível o exame pericial 
direto, pode-se buscar o indireto, feito por meio da análise das fichas clínicas da vítima. 
DEBILIDADE PERMANENTE 
Trata-se de uma frouxidão duradoura no corpo ou na saúde, que se instala na vítima após a lesão corporal provocada pelo 
agente. Não se exige que seja uma debilidade perpétua, bastando ter longa duração. 
Perícia 
Nesse prisma: "TJSP - 'Lesão Corporal Grave – Absolvição – Impossibilidade – Provas seguras da autoria que levam à 
condenação. Qualificadora prevista no inciso I do § 1.º do artigo 129 – Afastamento por ausência de exame 
complementar – Inadmissibilidade – Laudo complementar que somente seria necessário para se dar a correta 
-
É indispensável, mas basta um laudo, não sendo necessário o exame complementar. 
 Página 17 de Penal II 
tipificação do delito, que no presente caso é explicita (grave), pela perda permanente da visão do olho esquerdo –
Apelação do réu não provida. (...) O laudo de fls. 09 descreve que a vítima informou que sofreu agressão recebendo 
atendimento médico e apresentando relatório com diagnóstico de trauma lácero-contuso do olho esquerdo e 
explosão do olho esquerdo. Os médicos peritos foram categóricos em atestar, após análise do ferimento, que a 
lesão é de natureza grave pela incapacidade para as atividades habituais por mais de 30 dias e pelo resultado, qual 
seja, debilidade permanente do sentido da visão. A corroborar, a vítima, em Juízo, confirmou que ficou mais de um 
mês sem trabalhar (fls. 42). Vale lembrar que a realização de exame complementar é necessária para que se possa 
dar a correta tipificação da natureza da infração penal. No presente caso, a lesão é grave, explicitada pela perda 
permanente da visão do olho esquerdo, sendo dispensável complementação de laudo.' (Ap. 990.10.226337-1, 16.ª 
C., rel. Pedro Menin, 01.03.2011, v.u.)."
Membro
Obs.: os dedos são apenas partes dos membros, de modo que a perda de um dos dedos não constitui-se em 
debilidade permanente da mão ou do pé. 
-
Os membros do corpo humano são os braços, as mãos, as pernas e os pés. 
Sentido 
Exemplificando: perder a visão em um dos olhos é debilidade permanente. -
Possui o ser humano cinco sentidos: visão, olfato, audição, paladar e tato. 
Função
Exemplo: função respiratória, função excretória, função circulatória. -
A perda de um dos rins é debilidade permanente e não perda da função, pois se trata de um órgão. -
Trata-se da ação própria de um órgão do corpo humano. 
ACELERAÇÃO DE PARTO
Há possibilidade de haver o nascimento com vida, mas, em razão da lesão corporal sofrida pela mãe, que tenha 
atingido o feto, venha a morrer a criança; alguns autores opinam que, nesse caso, responderia o agente por lesão 
corporal gravíssima, equiparando-se a situação à lesão corporal seguida de aborto; outros, porém, sugerem que, 
havendo morte após o nascimento, caracteriza-se apenas a lesão corporal grave. 
-
Significa antecipar o nascimento da criança antes do prazo normal previsto pela medicina. Nesse caso, é indispensável o 
conhecimento da gravidez pelo agente. Se, em virtude da lesão corporal praticada contra a mãe, a criança nascer morta, 
terá havido lesão corporal gravíssima (art. 129, §2°, V). 
INCAPACIDADE PERMANENTE PARA O TRABALHO 
Trata-se da inaptidão duradoura para exercer qualquer atividade laborativa lícita. Nesse contexto, diferentemente da 
incapacidade para as ocupações habituais, exige-se a atividade remunerada, que implique em sustento, portanto, acarrete 
prejuízo financeiro para o ofendido. 
ENFERMIDADE INCURÁVEL 
É a doença irremediável, de acordo com os recursos da medicina na época do resultado, causada na vítima. Não configura 
a qualificadora simples debilidade enfrentada pelo organismo da pessoa ofendida, necessitando existir uma séria alteração 
na saúde. Embora a vítima não seja obrigada a submeter-se a qualquer tipo de tratamento ou cirurgia de risco para curar-
se, também não se deve admitir a recusa imotivada do ofendido para tratar-se. Se há recursos suficientes para controlar a 
enfermidade gerada pela agressão, impedindo-a de se tornar incurável, é preciso que o ofendido os utilize. Não o fazendo 
por razões injustificáveis, não deve o agente arcar com o crime na forma agravada. Por outro lado, uma vez condenado o 
autor da agressão por lesão gravíssima, consiste em ter gerado ao ofendido uma enfermidade incurável, não cabe revisão 
criminal caso a medicina evolua, permitindo a reversão da doença. Caberia a revisão criminal apenas se tivesse havido erro 
quanto à impossibilidade de cura no momento da condenação, ou seja, a enfermidade era passível de controle e 
tratamento, mas tal situação não foi percebida a tempo. 
Transmissão do vírus da AIDS 
nos debates havidos no julgamento do HC 98.712/RJ, o eminente Min. Ricardo Lewandowski, ao excluir a possibilidade de 
a Suprema Corte, naquele caso, conferir ao delito a classificação de ‘Perigo de contágio de moléstia grave’ (art. 131, do 
Código Penal), esclareceu que, ‘no atual estágio da ciência, a enfermidade é incurável, quer dizer, ela não é só grave, nos 
termos do art. 131’. Na hipótese de transmissão dolosa de doença incurável, a conduta deverá será apenada com mais 
rigor do que o ato de contaminar outra pessoa com moléstia grave, conforme previsão clara do art. 129, § 2.º inciso II, do 
Código Penal. A alegação de que a Vítima não manifestou sintomas não serve para afastar a configuração do delito 
previsto no art. 129, § 2.º, inciso II, do Código Penal. É de notória sabença que o contaminado pelo vírus do HIV necessita 
 Página 18 de Penal II 
de constante acompanhamento médico e de administração de remédios específicos, o que aumenta as probabilidades de 
que a enfermidade permaneça assintomática. Porém, o tratamento não enseja a cura da moléstia” (HC 160982 -DF, 5.ª T., 
rel. Laurita Vaz, 17.05.2012, v.u.).
PERDA OU INUTILIZAÇÃO 
Perda implica em destruição ou privação de algum membro (exemplo: corte de um braço), sentido (exemplo: aniquilação 
dos olhos) ou função (exemplo: ablação da bolsa escrotal, impedindo a função reprodutora). Inutilização quer dizer falta 
de utilidade, ainda que fisicamente esteja presente o membro ou o órgão humano. Assim, inutilizar um membro seria a 
perda de movimento da mão ou a impotência para o coito, embora sem remoção do órgão sexual. 
Cirurgia de mudança de sexo
Atualmente é admissível, não só pela evolução dos costumes, mas sobretudo pelo desenvolvimento da medicina, 
constatando a necessidade da cirurgia, para a melhoria de vida do transexual, possa o sexo ser alterado. Formalmente, no 
entanto, não deixa de ser uma lesão corporal gravíssima, que inutiliza, permanentemente, a função sexual e também 
reprodutora. Pode-sedizer, em alguns casos, que os órgãos sexuais estavam atrofiados e não aptos à reprodução, embora 
existam e façam parte da constituição física do indivíduo. E justamente porque não são mais desejados, o caminho é 
muda-los, por meio da intervenção médica. 
DEFORMIDADE PERMANENTE 
Deformar significa alterar a forma original. Configura-se a lesão gravíssima quando ocorre a modificação duradoura de 
uma parte do corpo humano da vítima. 
Salienta a doutrina, no entanto, estar essa qualificadora ligada à estética. Por isso, é posição majoritária a exigência de s er 
a lesão visível, causadora de constrangimento ou vexame à vítima, e irreparável. Citam-se como exemplos as cicatrizes de 
larga extensão em regiões visíveis do corpo humano, que possam provocar reações de desagrado ou piedade (tais como 
as causadas pela vitriolagem, isto é, o lançamento de ácido no ofendido), ou a perda de orelhas, mutilação grave do nariz, 
entre outros. Entretanto, existem discordâncias dessa postura, afinal, o Código Penal não exige, em hipótese alguma, que 
a deformidade seja ligada à beleza física, nem tampouco seja visível. Desde que o agente provoque na vítima uma 
alteração duradoura nas formas originais do seu corpo humano, é de se reputar configurada a qualificadora. 
Chega-se a levantar, como critério de verificação desta qualificadora, o sexo da vítima, sua condição social, sua profissão, 
seu modo de vida, entre outros fatores extremamente subjetivos, por vezes nitidamente discriminatórios e sem 
adequação típica. Uma cicatriz no rosto de uma atriz famosa seria mais relevante do que a mesma lesão produzida numa 
trabalhadora rural? Poderia ser, para o terceiro que não sofreu a deformidade - já que a análise desbancaria para o 
campo estético -, embora, para a vítima, possa ser algo muito desconfortável. Deste modo, pouco importa seja a 
deformidade visível ou não, ligada à estética ou não, passível de causar impressão vexatória ou não, exigindo-se somente 
seja ela duradoura, ou seja, irreparável pelos recursos apresentados pela medicina à época do resultado. E acrescente-se 
possuir essa qualificadora caráter residual, isto é, quando houver lesão passível de alterar a forma original do corpo 
humano, não se configurando outras hipóteses de deformidade - debilidade ou perda de membro, sentido ou função -
deve ela ser aplicada. 
ABORTO 
É a interrupção da gravidez, causando a morte do feto. Neste caso, exigem a doutrina e a jurisprudência majoritárias que 
o resultado qualificador (aborto) ocorra na forma culposa. Nessa visão, se o agente, ao agredir a gestante, tivesse agido 
com dolo (direto ou eventual) com relação à morte do feto, deveria responder pelo delito de aborto (absorvendo-se a 
lesão provocada na gestante), para alguns, ou por aborto em concurso com o crime de lesões corporais, para outros. 
Entretanto, nada exige, na lei penal, seja essa a conclusão, pois o tipo penal, em momento algum, estabelece a forma 
preterdolosa para a lesão corporal seguida de aborto, ou seja, não há a exigência (como existe no art. 129, §3°) de que o 
aborto somente possa ser punido a título de culpa. O crime é qualificado pelo resultado (uma figura híbrida por 
excelência), admitindo dolo no antecedente e dolo no consequente, bem como dolo no antecedente e culpa no 
consequente. Se a pena for considerada insuficiente, não opinião de alguns, para punir o agente que tiver manifestado o 
dolo nas duas fases, dever-se-ia alterar a parte sancionadora do tipo penal, mas não criar uma forma de punição 
alternativa. Se no roubo seguido de morte (latrocínio) admite-se, majoritariamente, a existência de dolo no antecedente 
(roubo), bem como dolo no subsequente (morte), o mesmo deve ocorrer neste e em outros casos de crimes qualificados 
pelo resultado. Por outro lado, parte da doutrina crê ser possível a incidência da lesão corporal gravíssima quando o 
agente agredir a mulher grávida, provocando-lhe o aborto, ainda que tenha atuado com dolo no tocante ao resultado 
qualificador. Caso o legislador desejasse uma consequência diversa, isto é, a punição do aborto, neste caso, somente se 
houvesse culpa por parte do agente, deveria ter deixado isso bem claro, como o fez na lesão corporal seguida de morte. 
 Página 19 de Penal II 
LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE 
CRIME PRETERDOLOSO 
Trata-se da única forma autenticamente preterdolosa prevista no Código Penal, pois o legislador deixou nítida a exigência 
de dolo no antecedente (lesão corporal) e somente a forma culposa no evento subsequente (morte da vítima). Ao 
mencionar que a morte não pode ter sido desejada pelo agente, nem tampouco por ele ter assumido o risco de produzi -
la, está se fixando a culpa como único elemento subjetivo possível para o resultado qualificador. Justamente por isso, 
neste caso, havendo dolo eventual quanto à morte da vítima, deve o agente ser punido por homicídio doloso. Sob o nexo 
causal: "STJ - 'não há a configuração do crime de lesão corporal seguida de morte se a conduta do agente não foi a causa 
imediata do resultado morte, estando ausente o necessário nexo de causalidade.' (AgRg no Resp 1.094.758/RS, 6° T., rel. 
Vasco Della Giustina, 01.03.2012, m.v.)."
Tentativa 
Inadmissível, pois o crime preterdoloso envolve a forma culposa e esta é totalmente incompatível com a figura da 
tentativa. Se o agente não quer, de modo algum, a morte da vítima, é impossível obter a forma tentada da lesão seguida 
de morte. Ademais, ou a morte ocorre e o crime está consumado, ou não ocorre e trata-se apenas de uma lesão corporal.
DIMINUIÇÃO DE PENA 
LESÃO CORPORAL PRIVILEGIADA 
Estabelece a lei o grau de redução, variando de um sexto a um terço, devendo o juiz ater-se, exclusivamente, à causa em 
si, não levando em consideração fatores estranhos, vinculados a outras fases da aplicação da pena, como as 
circunstâncias judiciais. Portanto, tratando-se de relevante valor social ou moral, deve focar o quão importante esse valor 
apresentou-se ao réu e à sociedade no momento doas fatos. Embora de cunho subjetivo, a avaliação judicial deve ser 
fundamentada e calcada nas provas dos autos. Maior diminuição (um terço) para a mais aguda relevância; menor 
diminuição (um sexto), para relevância ordinária. No tocante à violenta emoção, mensura-se a intensidade desse 
sentimento exacerbado, conforme o grau de provocação injusta da vítima. Maior redução para a violentíssima emoção 
fundada em provocação de cristalina injustiça; menor, para a violenta emoção calcada em provocação de injustiça 
ordinária, sem qualquer destaque.
Esta hipótese é aplicável às lesões grave, gravíssima ou seguida de morte. Para a lesão leve, reservou-se o próximo 
parágrafo. 
SUBSTITUIÇÃO DA PENA 
LESÃO CORPORAL PRIVILEGIADA 
Esta é uma autêntica hipótese de privilégio, embora conectada ao parágrafo anterior (como se vê no inciso I), acarretando 
a substituição da pena privativa de liberdade pela pecuniária. Aplica-se somente à hipótese de lesão corporal leve e desde 
que haja relevante valor social ou moral ou o domínio de violenta emoção, logo após injusta provocação da vítima.
Lesões recíprocas 
Não se trata de uma situação de legítima defesa, ou seja, se o ofendido agredir o agente apenas para se defender não 
deve este receber o privilégio. Ao referir-se a "lesões recíprocas", dá a norma a entender que as duas partes entraram em 
luta injustamente. Não teria cabimento algum conceder o privilégio ao agressor cuja vítima, para dele se desvencilhar, 
tenha sido obrigada a agredi-lo e não conceder o benefício ao agente quando o ofendido tenha sofrido lesões, 
conseguindo soltar-se do agressor sem fazer uso da força. Ora, se a vítima está em atitude lícita (agindo em legítima 
defesa), não pode esta situação servir de motivação para o atacante conseguir um benefício legal considerável, que é a 
substituição da pena privativa de liberdade por multa. Entretanto, se ambos são igualmente culpados e agressores um do 
outro, pode o juiz levar tal hipótese em consideração para aplicar o

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