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Prof. Antônio Jorge Béze – Direito Processual Civil 
 
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1. A Vida em Sociedade 
1.1 Introdução 
Nosso ponto de partida será o conceito de Sentimento Jurídico, que foi 
explicado de forma brilhante no ano de 1872 na Sociedade Jurídica de Viena em 
conferência proferida por Rudolf Von Ihering1. 
 
Em síntese, podemos extrair de suas palavras que: 
“A luta pelo Direito é um dever do interessado para 
consigo próprio.” 
“A defesa do direito é um dever para com a sociedade.” 
O Sentimento Jurídico quando em equilíbrio é uma 
garantia de uma sociedade justa, consequentemente, de 
um Estado forte e soberano. 
“A força de um povo corresponde à força do seu 
sentimento jurídico. Cultivar o sentimento do Direito na 
nação é, portanto, cultivar o vigor e a força do Estado. 
Por esta cultura não entendo, está claro, a cultura teórica 
da escola e do ensino, mas a realização prática dos 
princípios da justiça em todas as relações da vida” 
 
Assim, podemos entender que cada pessoa deve lutar; cada operador do 
direito deve garantir a aplicação da norma de forma a viabilizar uma sociedade 
realmente fraterna, solidária e comprometida com o respeito à dignidade da pessoa 
humana. Muito mais do que simples operadores do Direito, cada um de nós deve 
ser um agente transformador da realidade social e no final ter a certeza de que, 
além de uma passagem por esta vida, fomos importantes e contribuímos em algum 
momento para melhorar o mundo. 
 
Outro estudioso e pensador jurídico chegou a afirmar: 
“Quanto a mim, depois de ter estado entre os livros 
algumas horas, senti sempre a necessidade de 
escancarar uma janela. Provavelmente é este o segredo 
daquele pouco que eu consegui fazer no campo da 
ciência. Tive sempre a sensação de que, para o meu 
saber, contavam mais os homens do que os livros e 
mergulhei na vida.” (Francesco Carnelutti2). 
 
Então: vamos mergulhar na vida?! 
 
A vida em sociedade é muito difícil e isto é um fato! 
 
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 O homem com suas necessidades, os seus desejos ilimitados, entra em atrito 
com o seu semelhante e com o meio no qual vive - cujos bens são limitados – e, 
pretendendo para si os bens e, o pior, pretendendo fazer sua vontade em 
detrimento da vontade do próximo, na maioria das vezes, age sem respeitar os 
limites, valores e princípios necessários para a sobrevivência da própria sociedade. 
Assim, inegável que nos relacionamentos intersubjetivos surjam os conflitos 
de vontades (ou interesses) que, por sua vez, comprometem a estrutura de nossa 
sociedade e, por que não dizer, de nossa própria espécie e de nosso planeta. 
As normas surgem com o objetivo de evitar os conflitos de interesses, 
tutelando determinados bens, que em razão de tal proteção, são alçados a 
categoria de bens juridicamente relevantes. 
Por outro lado, é inerente ao ser humano achar que a sua vontade deve 
prevalecer frente à pretensão do outro. A falta de determinados valores, que fogem 
a ciência jurídica, torna necessária a regulamentação da vida em sociedade. 
Como consequência temos: 
1. Direitos e deveres / ônus e bônus 
2. Normas legais que surgem com o objetivo de regular 
a vida em sociedade. 
3. Normas legalizadas, positivadas, pelos líderes 
(representantes) da sociedade em razão da legitimidade 
formal que possuem e de observância geral por parte do 
grupo social que visa regular; sob pena de cumprimento 
forçado por imposição do Estado-Juiz (Poder Judiciário). 
 
 Nossa Constituição Federal em seu artigo 1º fala dos princípios fundamentais 
– Soberania, Cidadania, Dignidade da Pessoa, Poder do Povo, etc. No artigo 3º 
preceitua os objetivos de construir uma sociedade livre, justa e solidária, visando o 
bem estar de todos, acabando com as desigualdades sociais, por fim, no artigo 5º 
garante o direito de ação e assegura o contraditório e a ampla defesa, 
independente do pagamento de custas, além do devido processo legal, dentre 
outros importantes princípios. 
Como regra temos que a pessoa – titular de direitos e obrigações - vive e 
respeita as limitações impostas pelos preceitos morais, religiosos e legais. Todos 
nós temos a capacidade de compor nossos conflitos diretamente com outros 
indivíduos pelo diálogo. 
 Podemos realizar uma composição (acordo, transação) 
 Podemos renunciar nossos direitos ou ainda nos 
submeter à vontade alheia sem opor resistência, visto que 
legítima a pretensão manifestada. 
 Podemos, em casos excepcionais, exercer a autotutela 
(por exemplo: nos casos de legitima defesa, estado de 
necessidade e força maior – excludentes da ilicitude), uma vez 
que, como regra, encontra-se vedada pelo ordenamento pátrio 
e constitui crime previsto no artigo 345 do Código Penal. 
 
Quando não ocorre a pacificação, por atuação das partes envolvidas, ainda no 
chamado campo material (A x B), em razão de não se poder fazer justiça, o que 
seria tipificado como exercício arbitrário das próprias razões, aquele que se sente 
prejudicado recorre ao Poder Judiciário (responsável pela aplicação das normas 
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abstratas ao caso concreto – que têm por função típica dizer o Direito – função de 
prestar a tutela jurisdicional). 
 Assim, se estamos diante de pretensões resistidas em relação ao mesmo 
bem juridicamente tutelado, podemos afirmar que: se as partes não chegam à 
composição do conflito e se não houver a possibilidade do exercício da autotutela, 
estamos frente ao conflito de interesses qualificado por pretensões resistidas, isto 
é, da lide ou do litígio. 
Lide ou litígio – é o conflito de interesses qualificado pela pretensão 
resistida. 
Exemplo: A quer um determinado objeto (bem jurídico) e B também o quer e 
resiste à pretensão de A. Considerando que a regra veda o exercício arbitrário das 
próprias razões, o Estado-Juiz deverá declarar na hipótese concreta quem tem 
razão. Para que possa atuar, na prática, o Poder Judiciário se utiliza das normas de 
Direito Processual. 
Assim, podemos concluir que não havendo a possibilidade de uma das partes 
envolvidas no conflito fazer valer o seu direito pela força e não sendo possível a 
autocomposição, isto é, a atuação da vontade das partes na solução da crise 
jurídica apresentada na hipótese concreta (submissão, renúncia e acordo), só resta 
um caminho como regra, frente ao monopólio estatal da atividade jurisdicional, 
qual seja: O Processo. 
Processo – é o caminho – é o meio pelo qual o Estado-Juiz compõe a lide 
(julgamento) – função jurisdicional = declarar o direito 
Procedimento - é a forma de caminhar, é a maneira como os atos do 
processo se materializam e se desenvolvem. 
Autos do Processo – materialização do conjunto de atos processuais 
praticados rumo à sentença. 
 
1.2 Espécies de Tutela 
Diante do fato concreto podemos recorrer ao Estado-Juiz para pleitear as 
seguintes espécies de tutela: 
 
 Conhecimento ou cognição 
Através de tal espécie de tutela, o que se busca é a declaração do direito 
aplicável ao caso concreto – atividade intelectiva do órgão investido da função 
jurisdicional que, após verificar as teses apresentadas pelas partes e analisar 
o conjunto probatório constante dos autos, irá formar o seu livre 
convencimento e motivar a sua decisão; solucionando o conflito deduzido em 
juízo (lide) e resolvendo a demanda proposta (desde que satisfeitos 
determinados pressupostosprocessuais e atendidas as condições do exercício 
do direito de ação). 
 
A nomenclatura utilizada nesta espécie de tutela é Autor e Réu. Podemos 
utilizar ainda os termos: demandante e demandado, respectivamente, para 
aquele que propõe a ação (polo ativo da demanda) e em face de quem a 
mesma é proposta (polo passivo da demanda). 
 
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 Execução 
Na tutela de execução, as nomenclaturas utilizadas são: Credor e Devedor ou 
Exequente e Executado. O que se objetiva com a mesma é a garantia de 
satisfação, através de atos materiais do Estado-Juiz, seja em processo 
autônomo de execução, seja na fase de cumprimento de sentença (modulo 
específico da Tutela Cognitiva), do que consta do título executivo extrajudicial 
ou da parte dispositiva da sentença. 
 
 Cautelar 
A Tutela Cautelar constitui Tutela Diferenciada – espécie do gênero Tutelas de 
Urgência e tem por escopo resguardar e proteger a eficácia do processo de 
conhecimento ou de execução. Assim, o requerente da medida poderá, 
utilizando referida tutela, garantir a satisfação e a entrega da tutela específica 
pleiteada (ou a ser pleiteada) por parte do requerido, em processo autônomo 
de cognição ou execução. 
 
Neste momento, ainda que de maneira incipiente, podemos afirmar que a 
atividade Jurisdicional tem por escopo: Declarar, resguardar e satisfazer o direito, 
com vistas à pacificação com justiça, entregando a tutela específica, seu 
equivalente jurisdicional e, em última hipótese, a tutela substitutiva caracterizada 
pelas perdas e danos. 
 O Direito exerce uma função ordenadora na sociedade, isto é, coordena os 
interesses que se manifestam na vida social de modo a organizar a cooperação 
entre as pessoas e compor os conflitos que se verificarem entre seus membros. 
 As diversas situações que se apresentam diariamente entre as pessoas, 
perante os bens pretendidos por elas e perante o próprio direito que regula suas 
vidas é sempre motivo de tensão individual e social. 
A tarefa da ordem jurídica é exatamente a de harmonizar as relações sociais 
intersubjetivas, a fim de ensejar a máxima realização dos valores humanos com o 
mínimo de sacrifício e desgaste. 
 
1.3 Conflitos 
São caracterizados por situações em que uma pessoa, pretendendo 
determinado bem para si, não pode obtê-lo, uma vez que: aquele que poderia 
satisfazer a sua pretensão não a satisfaz; o próprio direito proíbe a satisfação 
voluntária do Direito. 
 
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Formas de Solução dos Conflitos de Interesses 
 
1. Autotutela ou Autodefesa 
Na chamada autotutela ou autodefesa temos a ausência de juiz distinto das 
partes e a resolução do conflito ocorre pela imposição da vontade de uma delas à 
outra. 
Tal prática encontra-se vedada por nosso ordenamento jurídico e a sua 
utilização, como veremos em breve, constitui exceção à regra insculpida no artigo 
5º, XXXV, de nossa Carta Magna – que consagra o princípio da inafastabilidade do 
controle jurisdicional3. 
 
Autotutela 
 
Crime 
Indivíduo: art. 345 CP – “exercício arbitrário das próprias 
razões” 
Agentes investidos de Autoridade pelo Estado: art. 350 CP 
– “abuso de poder” 
 
2. Autocomposição 
Por outro lado, pode ocorrer numa determinada situação, caracterizada como 
conflito de interesses, que as partes envolvidas cheguem a uma solução que 
resolva a referida pendência. 
Assim, a autocomposição ocorrerá sempre que por vontade de uma das 
partes envolvidas no conflito ou de ambas a crise apresentada se solucionar. 
Podemos conceber três formas de solução, todas envolvendo condutas 
praticadas pelas próprias partes envolvidas no conflito, são elas: 
 
a) Renúncia  desistência da própria pretensão 
b) submissão  desistência ao oferecimento de 
resistência à pretensão do outro 
c) Acordo ou transação  solução encontrada através de 
concessões recíprocas 
 
3. Heterocomposição 
Com o fortalecimento da noção de Estado a autotutela é vedada e o Estado 
chama para si a função de declarar o direito aplicável ao caso concreto. 
 
 
3
 Ao definir Jurisdiçao, o prof. Cândido Rangel Dinamarco nos apresenta a exata extensão de referido 
princípio, vejamos: “A atividade dos órgãos do Estado destinada a formular e atuar praticamente a regra 
jurídica concreta que, segundo o direito vigente, disciplina determinada situação jurídica”. Por força de 
dispositivo constitucional, no Brasil essa atividade é privativa do Poder Judiciário, único órgão apto a 
formular decisões dotadas da força da coisa julgada. DINAMARCO, Cândido Rangel. Manual de 
Direito Processual Civil. 2. ed. São Paulo: Forense, 2000, p. 07 
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Não obstante a possibilidade das partes envolvidas num determinado conflito 
optarem pela arbitragem, como forma de solução do conflito de interesses, tal 
modalidade alternativa de pacificação dos conflitos, não configura a regra; razão 
pela qual, passaremos a analisar, ainda que em linhas gerais, o chamada atividade 
jurisdicional do Estado-Juiz. 
 
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2. A Função Jurisdicional e seus escopos 
2.1 Introdução 
Pela jurisdição, os juízes agem em substituição às partes, que não podem 
fazer justiça com as próprias mãos (autodefesa proibida 345 CP); a elas, que não 
mais podem agir, resta a possibilidade de fazer agir, provocando o exercício da 
função jurisdicional. 
Considerando que a jurisdição se exerce através do processo, pode-se 
provisoriamente conceituar este como instrumento por meio do qual os órgãos 
jurisdicionais atuam para pacificar as pessoas conflitantes, eliminando os conflitos e 
fazendo cumprir o preceito jurídico pertinente a cada caso que lhes é apresentado 
em busca de solução. 
 O que distingue a jurisdição das demais funções do Estado (legislativa, 
administrativa) é precisamente a finalidade pacificadora com que o Estado a exerce 
e o seu caráter substitutivo ao fazer atuar a norma abstrata de forma concreta no 
conflito apresentado, substituindo a vontade das partes pelo comando exarado pelo 
órgão jurisdicional. 
Assim a Pacificação é o escopo magno da jurisdição e, por consequência, de 
todo o sistema processual. É um escopo social, uma vez que se relaciona com o 
resultado do exercício da jurisdição perante a sociedade e sobre a vida gregária dos 
seus membros e felicidade pessoal de cada um. 
 
Demais escopos da jurisdição: 
1. Social - Educação para o exercício dos próprios direitos 
e respeito aos direitos alheios. 
2. Político - Preservação do valor liberdade, a oferta de 
meios de participação nos destinos da nação e do Estado 
e a preservação do ordenamento jurídico e da própria 
autoridade deste. 
3. Jurídico - A atuação da vontade concreta do direito. 
2.2 Da Autotutela à Jurisdição 
Como vimos anteriormente, as relações intersubjetivas envolvem, muitas das 
vezes, resolver conflitos. Alguns interessam ao ordenamento jurídico que, em sua 
função ordenadora, busca definir as regras que serão aplicadas a fim de regular 
nossas condutas. 
Ao se organizar politicamente o Estado chamou para si a função de resolver 
os conflitos de interesses, proibindo, consequentemente, a Justiça Privada 
(autotutela). 
 
Assim, o exercício das próprias razões, via de regra, constitui crime cuja 
tipificação encontra-se no Código Penal Brasileiro. 
 
Exercício arbitrário das próprias razões 
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Art. 345 - Fazerjustiça pelas próprias mãos, para 
satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o 
permite: 
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além 
da pena correspondente à violência. 
Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente 
se procede mediante queixa. 
 
Como afirmamos anteriormente a autotutela encontra-se vedada, isto é, 
proibida pelo ordenamento jurídico. Contudo, em determinadas hipóteses, em razão 
da impossibilidade do Estado fiscalizar e se fazer presente em todos os conflitos de 
interesses de nossa sociedade, poderá aquele que se sentir prejudicado por outrem 
utilizar, por exceção, de sua própria força ou dos meios necessários para fazer valer 
a sua vontade. 
Podemos citar algumas hipóteses, meramente exemplificativas, asseguradas 
pelo ordenamento jurídico que, ao lado das hipóteses de legitima defesa e estado 
de necessidade, possibilitam a resolução do conflito de forma parcial, isto é, pelo 
próprio interessado, vejamos: 
 
Das Árvores Limítrofes 
Art. 1.283. As raízes e os ramos de árvore, que 
ultrapassarem a estrema do prédio, poderão ser cortados, 
até o plano vertical divisório, pelo proprietário do terreno 
invadido. 
 
Dos Efeitos da Posse 
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse 
em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado 
de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. 
 
§ 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se 
ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça 
logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além 
do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. 
 
Do Penhor Legal 
Art. 1.467. São credores pignoratícios, independentemente 
de convenção: 
I - os hospedeiros, ou fornecedores de pousada ou alimento, 
sobre as bagagens, móveis, jóias ou dinheiro que os seus 
consumidores ou fregueses tiverem consigo nas respectivas 
casas ou estabelecimentos, pelas despesas ou consumo que 
aí tiverem feito; 
 
II - o dono do prédio rústico ou urbano, sobre os bens 
móveis que o rendeiro ou inquilino tiver guarnecendo o 
mesmo prédio, pelos aluguéis ou rendas. 
Art. 1.468. (...) 
 
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Art. 1.469. Em cada um dos casos do art. 1.467, o credor 
poderá tomar em garantia um ou mais objetos até o valor da 
dívida. 
 
Art. 1.470. Os credores, compreendidos no art. 1.467, 
podem fazer efetivo o penhor, antes de recorrerem à 
autoridade judiciária, sempre que haja perigo na 
demora, dando aos devedores comprovante dos bens 
de que se apossarem. 
 
Art. 1.471. Tomado o penhor, requererá o credor, ato 
contínuo, a sua homologação judicial. 
 
Pela exposição apresentada, forçoso concluir que o sistema da autotutela 
constitui uma exceção, cujas hipóteses encontram especificação no próprio 
ordenamento jurídico, não constituindo, via de regra, uma forma legítima ou 
autorizada de solução dos conflitos. 
Por outro lado, verificamos que o conflito pode ser solucionado de forma 
legítima pelas próprias partes. Logo, as vontades dos sujeitos – titulares dos 
direitos – envolvidos no conflito podem ser direcionadas à sua resolução, seja em 
razão da renúncia, da submissão ou da transação. 
Contudo, não havendo a possibilidade da autotutela e não existindo a 
autocomposição, restaria apenas a heterocomposição como forma de solução da 
controvérsia. 
Podemos entender a heterocomposição como a modalidade de resolução dos 
conflitos prestada por terceiro, sujeito imparcial, que se coloca em situação de 
sobreposição às partes e, após a análise dos fatos, decide em substituição as 
vontades originárias o comando que incidirá a resolver o litígio. 
Preferimos falar em terceiro imparcial apenas para incluir na 
heterocomposição ao lado da atividade jurisdicional a arbitragem, consagrada em 
lei específica, que atua como verdadeira Jurisdição por delegação4. 
 
Podemos conceituar Jurisdição5 como o poder-dever do Estado de aplicar o 
direito ao caso concreto submetido pelas partes, através da atividade exercida 
pelos seus órgãos investidos; conhecendo, resguardando e entregando 
(satisfazendo) a tutela específica, o seu equivalente jurisdicional ou uma tutela 
substitutiva, num prazo razoável e com o menor custo para as partes envolvidas e 
para o próprio Estado-Juiz. 
 
 
4
 Humberto Theodoro Júnior entende que a arbitragem é um meio de solução da lide mediante decisão 
confiada a “pessoas desinteressadas, mas não integrantes do Poder Judiciário”. Destaca que a instuição do 
juízo arbitral implica renúncia à via judiciária para solução da lide. (Curso de Direito Processual Civil, 40 
ed. vol. 1, item 3.6, p.36 - Forense) 
5
 Para José Frederico Marques, jurisdição é a função exercida pelo Estado “para compor processualmente 
conflitos litigiosos, dando a cada um o que é seu segundo o direito objetivo.” (Manual de DPC 9 ed. vol. 
1, p. 97) 
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2.3 Finalidades e Características da Jurisdição 
Podemos verificar, dentre outros escopos, três finalidades precípuas ligadas 
aos aspectos jurídico, social e político: 
 
 A Composição de litígios, através da aplicação e 
especialização das normas gerais de conduta 
ao caso concreto (escopo jurídico); 
 A pacificação social (escopo social) e 
 A realização da Justiça (escopo político) 
 
Como características do instituto destacamos: A atuação concreta do direito e 
a substitutividade, isto é, a atuação no lugar das partes e de forma obrigatória. 
O Estado-Juízo ou Estado-Juiz, ao analisar o conflito de interesses ou as crises 
jurídicas, com a sua declaração (decisão lato senso) cria um comando que vincula 
as partes e deve ser observado - substituindo as vontades originariamente 
sustentadas (as teses do demandante e do demandado) e que funciona como "lei" 
a solucionar de forma concreta a crise jurídica. 
 
2.4 Princípios da Atividade Jurisdicional 
Para uma melhor compreensão de determinado tema, devemos buscar 
conhecer e interpretar de maneira sistemática os princípios que servem de alicerces 
ao referido instituto. 
No que concerne à atividade jurisdicional podemos destacar os seguintes 
princípios norteadores do instituto: 
 INAFASTABIILIDADE DO CONTROLE JURISDICIONAL - Previsto 
no artigo 5º, inciso XXXV, de nossa Constituição Federal, consagra a atividade 
jurisdicional como o único6 caminho possível para a solução da lide, ao 
preceituar que: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de 
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à 
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, 
nos termos seguintes: 
 
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário 
lesão ou ameaça a direito; 
 
 
6
 Há que se destacar que embora exista a possibilidade da utilização da autotutela e da arbitragem 
(verdadeiro equivalente jurisdicional), a primeira encontra vedação expressa em nosso ordenamento e a 
segunda tem sua aplicação limitada, seja pela própria lei que a regulamenta, seja ainda pela falta de 
interesse e conhecimento dos sujeitos envolvidos no conflito. 
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 INEVITABILIDADE: uma vez ativada pelas partes, a jurisdição é 
forma de exercício do Poder Estatal, e o cumprimento de suas decisões não 
pode ser evitado sob pena de cumprimento coercitivo (cumprimento de 
sentença). 
 INDECLINABILIDADE: tem o Estado o deverde solucionar os 
conflitos de interesses quando provocado. Consequência lógica da imposição 
de que os cidadãos observem as normas legais. Aqui vale uma lembrança: o 
exercício arbitrário das próprias razões constitui crime (artigo 345 do Código 
Penal Brasileiro) e somente quando autorizado pela lei poderá o indivíduo 
valer-se da autodefesa. 
Nossa Constituição garante que nenhuma lesão ou ameaça a direito será 
excluída da apreciação do Poder Judiciário elevando à categoria de Direito 
Fundamental o acesso à Justiça. Assim, a atividade jurisdicional pode ser 
considerada como um Poder/Dever do Estado-Juiz e, uma vez provocado, ele 
deverá solucionar a lide - desde que presentes as condições da ação e os 
pressupostos processuais - mas isso será tema específico de outra aula - 
Teoria da Ação! 
 INVESTIDURA: o Estado atua através de seus órgãos. Somente os 
agentes investidos do poder estatal - de aplicar o direito ao caso concreto 
(julgar) - é que podem exercer a jurisdição. 
 INDELEGABILIDADE: o agente que exerce a jurisdição não pode 
delegar tal função e, uma vez provocado, deverá julgar e, ainda que encontre 
lacuna na norma, deverá socorrer-se da analogia, dos costumes e dos 
princípios gerais do direito - artigo 126 do Código de Processo Civil. 
 Outro princípio que podemos conceber é o PRINCÍPIO DA 
INÉRCIA: a jurisdição não pode ser exercida de ofício pelos agentes 
detentores da investidura, dependendo de provocação das partes. Esta é a 
regra em nosso ramo do Direito. No Direito Processual Civil vigora o princípio 
do dispositivo, da demanda, da ação ou, em outras palavras, da inércia da 
jurisdição. 
 Vamos ao penúltimo princípio que analisaremos nesta aula, qual seja: 
o PRINCÍPIO DA ADERÊNCIA. Pelo princípio da aderência, o exercício da 
jurisdição, por força do princípio da territorialidade da Lei processual, deve 
estar sempre vinculado a uma prévia delimitação territorial. Seja em razão da 
Soberania das Nações, seja em razão de critérios que delimitam a atuação 
dos órgãos judicantes. Mais adiante vamos abordar algumas formas de 
delimitação da atividade jurisdicional. 
 Vamos analisar o nosso último princípio - UNICIDADE. A jurisdição 
enquanto poder/dever é una e indivisível e retrata a própria Soberania de 
nossa Nação. Quando falarmos de competência analisaremos o instituto sob o 
aspecto de sua funcionalidade e verificaremos algumas divisões, repartições 
administrativas entre seus diversos órgãos, o que caracteriza 
DESCONCENTRAÇÃO do poder jurisdicional - Todo magistrado, devidamente 
investido na atividade judicante - tem jurisdição... mas, nem todos têm 
competência para apreciar determinadas crises jurídicas. 
 
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Agora vamos falar das espécies de jurisdição 
Num primeiro momento podemos conceber a jurisdição considerando o tipo 
de pretensão submetida ao Estado-Juiz. Assim teríamos: Jurisdição Penal 
(aquela que envolve pretensões de natureza penal) e Jurisdição Civil (obtida por 
exclusão), isto é, não sendo pretensão de natureza penal, podemos afirmar tratar-
se de natureza civil. Esta por sua vez poderá estar afeta ao Direito material do 
trabalho ou apenas ao direito material civil (jurisdição civil estrito senso - exercida 
por exclusão: salvo penal e trabalhista). 
Podemos considerar uma segunda forma de analisar/classificar o instituto - 
Quanto ao grau em que a mesma é exercida. Assim teríamos: Jurisdição 
Inferior. Exercida pelo 1º órgão judicante que conhece da crise jurídica e que por 
isso mesmo afirmamos tem competência originária para a causa e Jurisdição 
Superior. Exercida pelo órgão jurisdicional que tem competência recursal - reexame 
da matéria. 
Uma pergunta: Podemos afirmar que grau de jurisdição é sinônimo de 
instância? Alguns com veemência defenderão que sim... Eu afirmo que não... Mas 
isso será melhor compreendido na análise de nossos exercícios. 
Agora o nosso ponto de partida para classificarmos o instituto é o órgão que 
exerce a atividade jurisdicional. Assim temos: Jurisdição Especial: aquela 
exercida por órgãos que julgam apenas determinadas pretensões. Por exemplo: 
Justiça do Trabalho; Militar e Justiça Eleitoral; e Jurisdição Comum: Exercida por 
órgãos que julgam pretensões de qualquer natureza (salvo aquelas vinculadas à 
Jurisdição Especial). Para maioria da doutrina estariam classificadas em tal 
categoria/espécie a Justiça Comum Estadual e Federal. 
Nosso foco agora está na submissão ou não às normas, isto é, ao direito 
positivado. Assim teríamos: Jurisdição de Direito: aquela cuja atividade do 
magistrado estaria vinculada aos limites da lei; sendo essa a regra. Veja depois o 
que preceitua o artigo 127 do Código de Processo Civil. E teríamos ainda hipóteses 
em que o julgamento se daria pela Jurisdição de equidade, aquela em que o Juiz 
estaria, até certo ponto, liberado dos critérios da legalidade estrita, permitindo-se 
que seja atribuído ao caso concreto a solução que o juiz reputar mais justa, ainda 
que se deixe de aplicar o direito objetivo. 
Vamos agora ao último critério de classificação que adotamos em nosso 
esquema. 
Vamos falar agora da Jurisdição Contenciosa e da Jurisdição Voluntária. 
Inicialmente devo advertir que o tema ainda envolve debates acirrados na doutrina. 
Podemos conceber Jurisdição Contenciosa como a atividade inerente ao Poder 
Judiciário, com o Estado-Juiz atuando substitutivamente às partes na solução dos 
conflitos, mediante a prolação de sentença de mérito que aplique o direito ao caso 
concreto - quando presente as condições da ação e os pressupostos processuais, 
visto que existindo vício formal o processo será extinto de forma anômala, isto é, 
sem cumprir os reais escopos da atividade jurisdicional. 
Por outro lado, podemos conceituar a Jurisdição Voluntária como sendo a 
Administração Pública de Interesses Privados. Na hipótese, ora analisada, a 
participação do Estado-Juiz se faz necessária, a fim de chancelar e dar validade ao 
negócio jurídico que as partes pretendem realizar. 
Chamamos a atenção, novamente, para o fato de que tal "fiscalização" ocorre 
quando o objeto da composição for relevante para a ordem jurídica e que nem 
todas as composições realizadas serão objeto de apreciação do Poder Judiciário. 
 
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Basta imaginar e lembrar as hipóteses de autocomposição que caracterizam 
soluções parciais permitidas pelo ordenamento jurídico. 
 
Vejamos alguns Lembretes 
 
 A lei nº 11.441/07 - envolve a DESJUDICIALIZAÇÃO de alguns dos 
procedimentos especiais de Jurisdição Voluntária - artigo 1124-A do CPC. 
 Nas hipóteses do artigo 267 do CPC, mesmo diante de situações que 
envolvam a Jurisdição Contenciosa, não haverá apreciação do mérito em 
razão da existência de vício formal - sentença anômala, processual ou 
terminativa. 
 Na Jurisdição Contenciosa temos: Lide, Partes, Sentença de Mérito, 
Função Jurisdicional, CABE AÇÃO RESCISÓRIA (485 CPC) e, se tudo der 
certo, temos coisa julgada material. 
 Na Jurisdição Voluntária ou Graciosa temos: Acordo de Vontades, 
Interessados, o que se busca é a homologação do negócio jurídico, 
podemos entender como atribuição meramente administrativa - CABE 
AÇÃO ANULATÓRIA (486 CPC) e a coisa julgada será apenas formal. 
 
 
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3. Competência 
3.1 Introdução 
Podemos afirmar que a jurisdição sofre apenas uma limitação e que esta se 
caracteriza quando pretendemos que os nossos comandos judiciais sejam aplicados 
e obedecidos por outros povos, outras nações, tão soberanas quanto a nossa. Esseé o limite de nossa atividade jurisdicional - a territorialidade de nossos país ou 
daquilo que podemos entender como território brasileiro. 
Por outro lado, para fins de administração da Justiça, e aplicação da norma, 
temos critérios que delimitam a área segura para a atuação do magistrado e 
sempre que ultrapassá-los ele estará numa área de desconforto - tecnicamente 
poderemos afirmar que ele será incompetente. 
Podemos concluir que, para a existência da relação jurídica de direito 
processual há que se buscar um órgão investido de jurisdição. E, para a validade da 
mesma, há que se verificar se a atuação de referido órgão obedece aos critérios 
que delimitam a atividade judicante. 
 
Podemos definir competência com a delimitação da Jurisdição. 
3.2 Critérios que fixam a competência 
Os critérios utilizados para a fixação da competência envolvem dois sistemas 
distintos. 
O primeiro - que tem por base os critérios Matéria e Função ou Hierarquia - 
contempla regras cogentes, de interesse público, cujo descumprimento tem como 
consequência a nulidade dos atos praticados, que por isto mesmo, deve ser 
reconhecido de ofício pelo magistrado, não estando sujeito a prazo preclusivo ou 
grau de jurisdição (artigo 267 §3º e 301 §4º). Aqui falamos em Incompetência 
Absoluta - que deve ser arguida em preliminar de contestação - momento e forma 
adequada. Mas que até mesmo em ação rescisória poderia ser levantado. 
 
O outro, que tem por base os critérios Valor e Território, cujo interesse está 
relacionado às partes, revelando disponibilidade, permite a modificação pela 
vontade das partes ou por sua inércia. Sendo vedado, atualmente, ao magistrado 
declinar da competência sem a devida provocação da parte interessada, o que se 
dá através de exceção - defesa de natureza processual -prevista no artigo 304 CPC 
- diga-se: sujeita a preclusão. 
 
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4. Direito de Ação 
4.1 Introdução 
Para que possamos assegurar nossos direitos, dispomos do direito de ação 
assegurado na Constituição e consagrado pelo princípio do acesso á justiça. 
 
Desta forma, verificaremos em nossos estudos que o direito de ação enquanto 
garantia fundamental pode ser conceituado como um direito público, subjetivo, 
autônomo e abstrato de se obter um pronunciamento judicial sobre uma situação 
controvertida. 
 
Lembrete: Ação é uma posição jurídica capaz de permitir a qualquer pessoa a 
prática de atos tendentes a provocar o exercício, pelo Estado, da função 
jurisdicional, existindo ainda que inexista o direito material afirmado. 
 
O poder da ação se revela ao longo de todo o processo, sendo exercido toda 
vez que é exercida alguma posição jurídica ativa no processo. 
 
Podemos concluir que é o direito a um pronunciamento estatal que solucione 
o litígio, fazendo desaparecer a incerteza ou a insegurança gerada pelo conflito de 
interesses, pouco importando qual seja a solução a ser dada pelo juiz. 
4.2 Evolução do conceito de ação 
Várias teorias explicam ao conceito de ação, em nossos estudos vamos focar 
nas seguintes teorias: 
 Teoria Imanentista ou Civilista: A ação é imanente ao Direito 
(a todo direito correspondente uma ação que o assegure – Art. 75 
CC/16, 80,I e 83 II, III CC/02 ) atualmente superada em razão da 
Autonomia do Direito Processual Civil. 
 Direito autônomo e concreto: A ação só existe quando existir o 
direito material, direito à sentença favorável (Wach, Bülow e Hellwing). 
Direito Potestativo – A ação é direito autônomo e concreto, porém se 
dirige contra o adversário, não contra o Estado (Chiovenda). 
 Direito Autônomo e Abstrato: A ação não tem relação alguma 
de dependência com o Direito Material controvertido (é a mais aceita ). 
 Teoria eclética: revela a necessidade do preenchimento dos 
requisitos do provimento final (condições da ação). 
 
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4.3 Incidência das Teorias 
 
Excluída a teoria Imanentista e a Teoria do Direito Potestativo, as demais são 
complementares, uma vez que tratam do mesmo conceito (ação) sob pontos de 
vista diferentes, vejamos: 
 
 Teoria abstrata da ação: vê na ação o poder de provocar a atuação do 
Estado-Juiz. Todos têm poder de ação de forma Incondicionada – 
assegurado pelo ordenamento Constitucional. 
 
 Teoria Eclética: revela a ação como o poder de obter um provimento 
de mérito, poder este que só estaria presente se o autor preenchesse 
as condições da ação (267 VI CPC). 
 
a) Possibilidade jurídica do pedido -> Inexistência 
de vedação da análise do pedido no plano 
processual. 
 
b) Interesse de agir – Necessidade/utilidade da 
providência jurisdicional solicitada. 
 
c) Legitimidade para a causa – Pertinência 
subjetiva abstrata com o direito material (ativa 
e passiva) 
 
 Teoria Concreta da Ação: vê na ação o direito de obter no processo o 
resultado favorável, só existindo se o demandante tiver razão no plano 
do Direito substancial. 
 
4.4 Classificação das Ações 
Após a edição da Lei nº. 11.232, de 22 de dezembro de 2005, cuja vigência 
se deu a partir do dia 23 de junho de 2006, podemos afirmar que a satisfação do 
julgado, isto é, o cumprimento da sentença se dará em fase contínua à fase de 
cognição pura (até a sentença), na qual o magistrado garantirá a entrega da tutela 
específica, seu equivalente ou ainda o substituto legal. 
 
Desta forma, numa concepção clássica das tutelas podemos conceber três 
formas distintas de se provocar o Estado-Juízo e consequentemente finalidades 
específicas de acordo com a ação pleiteada, são elas: 
 
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 Ação de Cognição (conhecimento) – tem por escopo buscar a 
declaração (lato senso) e o reconhecimento do direito tutelado, bem 
como o cumprimento, isto é, a satisfação do comando exarado pelo 
Estado-Juízo. 
 
 Ação de Execução – visa à satisfação do credor que possui título 
líquido, certo e exigível. 
 
 Ação Cautelar – Visa o acautelamento do processo, isto é, resguardar 
a eficácia do instrumento (processo principal) de conhecimento ou de 
execução. 
 
No que concerne aos efeitos da Tutela de Cognição, podemos vislumbrar uma 
classificação quinaria para as ações que buscam o reconhecimento da tutela 
jurisdicional adequada, são eles: 
1. Declaratória 
2. Constitutiva 
3. Condenatória 
 
a) Meramente Condenatória 
b) Mandamental 
c) Executiva (lato senso) 
 
4.5 Elementos da Ação 
A importância do estudo dos elementos da ação justifica-se em razão da 
segurança jurídica que deve ser perquirida no exercício da busca pelo direito 
aplicável ao caso concreto (tutela jurisdicional específica). 
 
Somente após a análise e compreensão dos elementos que compõem a ação 
podemos evitar a propositura de causas com identidade de elementos e de forma 
simultânea em juízo (litispendência) e ainda o reexame daquelas que já foram 
objeto de decisão (coisa julgada). 
 
Os fenômenos da conexão, continência e prevenção visam, igualmente, evitar 
decisões controvertidas e conflitantes. 
 
 Se idênticos os três elementos da ação teremos o controle impeditivo da 
análise judicial de demandas. 
 
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4.5.1 Elemento Subjetivo da Ação 
Caracterizado pelas partes. Quem pede e aquele em face de quem é requerida 
uma providência jurisdicional. São aqueles que participam da relação jurídica 
processual contraditória desenvolvida perante o juiz. 
 
 Autor – deduz a sua pretensão em juízo 
 Réu – resiste a tal pretensão(podendo, nas ações de caráter dúplice, 
formular pretensão em seu benefício). 
 
4.5.2 Elemento Causal da Ação 
Caracterizado pela Causa de Pedir (causa petendi). São os fatos e 
fundamentos jurídicos que levam o autor a procurar o juiz. É a descrição do conflito 
de interesses e sua repercussão jurídica na esfera patrimonial ou pessoal do autor. 
Divide-se em: 
 
 Causa Remota ou fática: é a descrição fática do conflito de interesses. 
O fato constitutivo do direito do autor. (a causa mais antiga da qual 
toda relação jurídica se origina). 
 
 Causa Próxima ou Jurídica: é a descrição da consequência jurídica 
gerada pela lesão ao Direito do autor. 
 
4.5.3 Elemento Objetivo da Ação 
Resta caracterizado como a providência a medida esperada por parte do 
requerente, a providência que será determinada pelo Estado-Juízo após a análise e 
tramitação do feito, divide-se em: 
 
 Imediato – É a exigência formulada contra o Estado-juiz, visando à obtenção 
da tutela jurisdicional, a qual pode ser de cognição, executiva ou cautelar. A 
condenação, a declaração ou a constituição do direito. Relacionado ao 
Direito Processual 
 
 Mediato – É a exigência formulada em face do Réu para que este se 
submeta à pretensão de direito material que o autor diz ter sido 
desrespeitado. O bem jurídico almejado. Direito substancial ou material (ex. 
receber o pagamento) 
 
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5. Processo e Procedimento 
5.1 Introdução 
Verificamos anteriormente que nem sempre é possível se chegar a uma 
solução satisfatória do conflito, seja pela imposição da vontade do sujeito que se 
julga titular de um direito ou ainda pela atuação das vontades dos titulares dos 
interesses em conflito. Noutras palavras, nem sempre será possível a autotutela ou 
a autocomposição. 
Desta forma, há que se garantir um sistema que busque pacificar a sociedade 
resolvendo e amenizando a existência de situações que comprometam a segurança 
jurídica necessária ao convívio pacifico e harmonioso da sociedade. 
Nossa Constituição assegura como direito fundamental o acesso à Justiça, 
consagrando, dentre outros princípios que iremos relembrar, o Devido Processo 
Legal. Desta forma, forçoso concluir ser imprescindível para que alguém seja 
punido e privado de sua liberdade ou de seus bens haja uma persecução através de 
um sistema previamente definido pela norma. 
Sendo assim, configura o processo o caminho, o instrumento que a parte 
dispõe para fazer valer o direito em tese violado e desrespeitado por outro que, 
igualmente, resiste a uma pretensão em face de sua vontade. 
Em seu aspecto extrínseco podemos conceber a noção de procedimento, isto 
é, a forma como se vai caminhar para determinado objetivo. . Como a parte deverá 
atuar nas várias fases processuais objetivando a tutela de seu interesse. Em outras 
palavras: o procedimento revela como a parte deverá se portar para alcançar uma 
sentença de mérito satisfatória a sua pretensão. 
 
5.2 Espécies de Tutelas (processos) 
 
 Conhecimento ou cognição: Livro I do CPC – a jurisdição será 
provocada visando o conhecimento da matéria, a declaração do direito 
aplicável ao caso concreto e o cumprimento da sentença. 
 
 Execução: Livro II do CPC – A parte poderá requerer ao Estado-Juiz 
que, através de meios coercitivos, faça valer o comando contido no 
título executivo extrajudicial. 
 
 Cautelar: Livro III do CPC – a jurisdição será provocada visando à 
proteção do instrumento (processo), resguardando assim a efetividade 
do mesmo. 
 
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5.3 Relação Jurídica Processual 
 
Podemos definir a relação jurídica processual como aquela que se estabelece 
entre autor, juiz e réu - relação angularizada (para alguns triangular). 
A relação jurídica se estabelece entre os três, embora existam outros 
participantes do processo, por exemplo: assistente, perito, escrevente. Assim, 
podemos afirmar que: sujeitos da relação jurídica processual são as partes 
(demandante e demandado) e o juiz, e sujeitos do processo são todos aqueles que 
praticam atos e influenciam na dinâmica do procedimento. 
 
A formação da relação se dá em duas etapas: 
 
1ª) Proposta a ação (art. 263 CPC) – relação linear – autor e juiz 
2ª) Após a citação (decorrido o prazo da resposta) – artigos 219, 263 e 267 § 
4º do CPC. 
 
Cuidado: Artigo 285-A – Relação linear com possibilidade de julgamento com 
resolução do mérito (pela improcedência), cabendo RETRATAÇÃO do juiz. 
 
Características da Relação Jurídica Processual: 
 
 É autônoma – não se confunde com a relação jurídica que se discute 
no processo = Direito material. Não se confunde com o processo = 
conjunto de atos complexos. Atividade -> Fim. 
 Trilateral – dela participam autor, réu e o órgão judicante. 
 Pública – o juiz nela figura como o órgão do poder Estatal. 
 Complexa – há recíprocos direitos, deveres e ônus. 
 Dinâmica – desenvolve–se progressivamente até um ato final. 
 
Observações Complementares: 
 
O Estado e as partes estão, no processo, interligados por uma série muito 
grande e significativa de liames jurídicos, sendo titulares de situações jurídicas em 
virtude das quais se exige de cada um deles a prática de certos atos do 
procedimento ou lhes permite o ordenamento jurídico essa prática. 
 
Através da relação jurídica, o direito regula não só os conflitos de interesse 
entre as pessoas, mas também a cooperação que estas devem desenvolver em 
benefício de determinado objetivo comum. 
 
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O processo é uma entidade complexa, podendo ser encarado sob o aspecto 
dos atos que lhe dão corpo e da relação entre eles (procedimento) e igualmente 
sob o aspecto das relações entre os seus sujeitos (relação processual). 
 
5.4 Partes da Relação Jurídica Processual 
Partes: São os sujeitos parciais do processo. Autor e Réu -> Demandante e 
Demandado. 
Regra: Quem formula o pedido em juízo é o próprio titular (em tese) da 
pretensão, do direito que diz ter sido violado / desrespeitado. Nesta hipótese 
podemos afirmar que estamos diante da legitimidade ordinária para causa. 
Por outro lado, nem sempre tal identidade será mentida. Temos hipóteses em 
que o demandante não guarda qualquer relação com o direito material em tese 
violado, mas que a lei permite sua atuação em nome próprio na defesa de 
interesses (direitos) alheios, nesta hipótese configuração a legitimidade 
extraordinária para a causa. 
5.5 Litisconsórcio 
Aprendemos que o esquema básico, mínimo, da Relação Jurídica Processual 
envolve dois sujeitos parciais – demandante e demandado - e um sujeito que 
representa o órgão investido na função jurisdicional e, portanto, imparcial. 
O Código de Processo Civil regula hipóteses nas quais tal esquema mínimo 
poderá sofrer alterações no que diz respeito à Cumulação Subjetiva. Podemos 
conceber facilmente hipóteses em que um ou mais autores demandem em face de 
um ou mais réus buscando a satisfação do direito material em tese violado. Tal 
possibilidade recebe pelo sistema normativo vigente a especificação de 
litisconsórcio. 
Conceito: podemos conceber o conceito de litisconsórcio, com apoio nas lições 
de Cândido Dinamarco, como a situação caracterizada pela coexistência de duas ou 
mais pessoas do lado ativo ou passivo da relação processual, ou em ambas as 
posições. 
A justificativa apresentada para a possibilidade / necessidade da formação do 
litisconsórcio está ligada aos princípios da economia processual (redução de gastos) 
e ao da segurança jurídica (evitardecisões contrárias por juízos diferentes). 
Podemos classificar os vários tipos de litisconsórcios tendo em vista os 
seguintes aspectos: sujeitos envolvidos na relação jurídica processual; tempo de 
sua formação; obrigatoriedade de sua formação e alcance dos seus efeitos. 
O sistema de classificação aqui adotado visa apenas facilitar o estudo do 
operador do direito, sendo certo que, a exemplo de outros critérios de classificação, 
as espécies apontadas estão interligadas e se exteriorizam de forma concomitante 
nas relações jurídicas. 
Como sugestão para fixação dos conceitos que serão abordados, 
apresentamos um quadro (anexo I) contendo, segundo critérios específicos, cada 
uma das espécies de litisconsórcio, a explicação do seu significado, um exemplo 
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22 
prático de cada tipo encontrado e, por fim, a tipificação legal, o fundamento, para o 
exemplo apresentado. 
 
Posteriormente ao estudo da classificação, passamos à análise da dinâmica do 
litisconsórcio no âmbito da relação jurídica processual. 
Preceitua o art. 48 do CPC o Princípio da Independência dos litisconsortes, 
com aplicação no litisconsórcio comum ou simples, mas incompatível com o sistema 
do unitário. Logo, a independência é relativa. 
Como exemplo de tal independência, temos a possibilidade da escolha do 
advogado e da apresentação de defesa de forma individual e diferenciada pelos 
litisconsortes. 
Contudo, no que diz respeito ao litisconsórcio unitário, tal independência 
cessa nas seguintes hipóteses: 
 atos e omissões que beneficiarem a um dos l litisconsortes, a todos 
beneficiarão (provas e recursos, art. 509 do CPC); 
 omissões não prejudicam os outros litisconsortes, o mesmo ocorrendo 
com os demais atos prejudiciais (confissão, art. 350 do CPC); 
 art. 49 do CPC – todos devem ser intimados, mas cada um pode 
promover o andamento do feito, independentemente; 
 art. 191 do CPC – prazo em dobro. 
 
 
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6. Petição Inicial 
6.1 Conceito 
Podemos conceituar a petição inicial como o instrumento da demanda, isto é, 
o meio através do qual noticiamos nossa pretensão ao Estado-Juízo com a 
finalidade de obtermos o justa composição da lide. 
 
 Ao analisarmos referido instrumento, podemos destacar que a elaboração de 
referida peça técnica aborda os seguintes aspectos: 
 
PARA QUEM SE PEDE COMPETÊNCIA 
QUEM PEDE LEGITIMIDADE CAPACIDADE 
EM FACE DE QUEM SE PEDE LEGITIMIDADE 
CAPACIDADE 
O MOTIVO PELO QUAL SE PEDE CAUSA DE PEDIR 
O QUE PEDE PEDIDO 
COMO PROVAR O QUE SE PEDE PROVAS 
QUAL O VALOR DO QUE PEDE VALOR DA CAUSA 
 
Para a validade do processo, devemos observar critérios de validade do 
procedimento, desta forma, para fins didáticos, podemos conceber fases do 
chamado Devido Processo Legal. A saber: 
 
a) Fase Postulatória – momento caracterizado pela elaboração e apresentação 
das teses do demandante e do demandado. Embora, ao longo da atividade 
jurisdicional as partes, sujeitos parciais da demanda, formulem os mais 
diversos requerimentos, podemos destacar a Petição Inicial e as atitudes do 
demandado (“respostas”) como o momento específico para a realização das 
postulações. 
 
b) Fase Ordinatória – Após a oportunidade de resposta, que se dá com a 
citação de forma válida, os autos do processo serão encaminhados ao 
magistrado com a finalidade de verificar a necessidade ou não das 
chamadas Providências Preliminares. De forma simples, podemos conceituar 
referido momento processual como a fase destinada a analisar e preparar o 
feito para a resolução de acordo com o estado do processo. 
 
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c) Fase Instrutória ou Probatória – Havendo necessidade de dilação 
probatória, o magistrado determinará a produção de provas e possibilitará o 
contraditório em relação as mesmas. Vale lembrar que já no momento da 
propositura da ação e quando da resposta as provas devem estar 
especificadas e no que concerne a prova documental devidamente anexada 
aos autos. 
d) Fase Decisória – Momento que tem por escopo decidir a lide. 
 
6.2 Propositura da Ação 
O artigo 263 do CPC considera proposta a ação no momento em que a peça é 
despachada ou distribuída (onde houver mais de um Juízo competente para a 
propositura da ação). 
 
Proposta a ação, quatro hipóteses podem ocorrer, são elas: 
 
a) Mandar emendar a inicial (art. 284 CPC) 
b) Indeferimento da Petição Inicial (295 CPC) 
c) Julgamento Liminar da Lide (285-A CPC) 
d) Determinar a citação (285 CPC) 
 
 
Os requisitos da Petição Inicial vêm especificados no Código de Processo Civil nos 
artigos 282, 39,I, 283 e 257. 
 
6.3 Análise dos Tipos de Pedido 
 
Podemos afirmar que o pedido é a conclusão da exposição dos fatos e dos 
fundamentos jurídicos. Constitui o objeto da demanda, aquilo que se pretende 
obter com a prestação da tutela jurisdicional reclamada. 
 
O objeto do pedido desdobra-se em objeto imediato, providência jurisdicional 
solicitada, e objeto mediato, que constitui o bem jurídico pretendido. 
 
O artigo 286 CPC informa que o pedido deve ser certo ou determinado. Melhor seria 
ter utilizado o conectivo “E”, visto que, em última análise, o pedido deve ser certo E 
determinado, como será analisado abaixo. 
 
Pedido certo: É pedido expresso, pelo menos no que diz respeito ao gênero do 
objeto pretendido. 
 
Pedido determinado: é o pedido cujo objeto foi individuado quanto à quantidade e à 
qualidade. 
 
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O Artigo 286, em sua parte final, conceitua o chamado Pedido Genérico. Podemos 
conceituar o mesmo como o pedido certo quanto à existência, quanto ao gênero, 
mas ainda não individuado no que respeita à quantidade/qualidade. É o certo 
determinável. 
 
No artigo 287 do CPC (que pode ser combinado com o artigo 461 do mesmo 
diploma legal) vislumbramos o Pedido Cominatório que é caracterizado como o 
meio indireto para coagir o réu a cumprir obrigação de fazer, não fazer ou entregar 
coisa. 
 
Por Pedido Alternativo (artigo 288 do CPC) entendemos aquele que pode ser 
satisfeito por mais de uma forma pelo demandado (geralmente em razão da 
natureza da obrigação de direito material) 
 
Pedido Subsidiário é uma modalidade de pedido alternativo, com uma diferença: 
enquanto o pedido alternativo refere-se ao objeto mediato, que pode ser escolhido 
inclusive na fase da execução, o pedido subsidiário refere-se ao objeto imediato, à 
tutela jurisdicional, na qual a prestação já fica definida. Ex.: o autor formula mais 
de um pedido em ordem sucessiva, a fim de que o juiz conheça do posterior, se 
não puder acolher o anterior (artigo 289 do CPC). Como veremos em nosso 
encontro trata-se de espécie de cumulação imprópria. 
 
O Pedido de Prestações periódicas (ou de trato sucessivo) vem descrito no artigo 
290 do CPC e permite ao juiz incluir na condenação as prestações periódicas ou de 
trato sucessivo, ainda que o autor não tenha requerido. 
 
O artigo 291 do CPC preceitua o Pedido de Prestação Indivisível ao regular o 
recebimento da prestação indivisível, aplicando-se também à hipótese de 
solidariedade ativa. Ex.: CC – artigos 260 e 267, qualquer credor pode cobrar a 
dívida inteira. 
 
Por fim, como objeto de nossos estudos, temos a possibilidade da cumulação de 
demandas prevista no artigo 292 do CPC que se caracteriza pela possibilidade de se 
formular mais de um pedido contra o réu, a fim de que o juiz conheça a ambos 
conjuntamente. Tal cumulação, chamadatecnicamente de cumulação própria, se 
divide em: 
 
a) Cumulação simples – pedidos absolutamente independentes. Ex.: cobrança 
de duas dívidas oriundas de fatos diferentes. 
b) Cumulação sucessiva – os pedidos guardam relação de dependência. 
Ex.:investigação de paternidade c/c petição de herança. 
 
Por fim, encerrando este tópico, vale a leitura complementar dos artigos 293 e 264 
do Código de Processo Civil, que tratam respectivamente da forma de se interpretar 
os pedidos e da possibilidade de modificação do mesmo. 
 
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7 A Tutela Jurisdicional e o “Inimigo Tempo” 
 
Considerando que não podemos realizar a autodefesa, proibida pelo ordenamento 
jurídico como vimos e o fato de que nem sempre vamos obter uma composição 
pelas próprias partes; 
 
Considerando ainda que, não podemos obter uma sentença de mérito – que resolva 
a lide – sem o devido processo legal – dialético e sob o crivo do contraditório; 
 
Considerando por fim, que o procedimento e os atos do mesmo demandam tempo; 
 
Fica a seguinte pergunta: Como tornar o processo um meio efetivo e eficaz de 
pacificação social? 
 
Como obter a justa composição da lide, com a entrega da tutela específica, sem 
ofender a ampla defesa e o contraditório? 
 
Para responder as indagações anteriores, passamos à analise das chamadas tutelas 
de urgência. 
7.1 Tutelas de Urgência – Breve análise 
 
Para amenizar os efeitos nocivos que o tempo impõe ao procedimento, podemos 
utilizar as tutelas diferenciadas: Cautelares e Antecipatórias. 
 
As tutelas cautelares visam garantir a “justiça” e a eficácia prática da futura 
(provável sentença). Apesar de não satisfazerem a pretensão noticiada nos autos, 
resguardam e protegem o processo principal no qual se discute a lide – o mérito. 
 
Na verdade, tais medidas visam aparelhar o processo de meios adequados e 
suficientes para que possa desenvolver-se regularmente e caracterizando-se como 
processo justo 
 
São medidas que dão apoio ao processo e, por tal razão, caracterizadas como o 
“instrumento do instrumento”. 
 
Sob o foco da atividade cognitiva do magistrado, permitem que com base num juízo 
de probabilidade – fundamentado na fumaça do bom direito e no perigo da demora 
da entrega da prestação jurisdicional – possa o órgão judicante – adotar medidas 
temporárias que colaborem para a efetividade e eficácia da tutela jurisdicional. 
 
As cautelares vêm previstas a partir do artigo 796, em livro próprio, no Código de 
Processo Civil. 
 
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Outra espécie de tutela diferenciada preocupada com a efetividade e eficácia da 
tutela jurisdicional e com os efeitos nocivos do “inimigo tempo” é a tutela 
antecipada, que passamos a analisar em linhas gerais neste momento. 
 
As medidas antecipatórias, têm por escopo antecipar os efeitos materiais do 
provimento final (sentença). Elas antecipam, integrando ao patrimônio jurídico do 
requerente, no todo ou em parte, exatamente o bem da vida postulado pelo 
mesmo. Realizam, desde logo, embora provisoriamente, a pretensão contida no 
processo, logo são satisfativas. 
 
Oferecem ao sujeito, em sua vida exterior ao processo, o mesmo resultado que ele 
espera obter ao fim do procedimento, ou parte deste resultado e de seus efeitos. 
Dão apoio às pessoas e estão contidas no próprio instrumento em que se busca a 
resolução da lide. 
 
Sob o foco da analise cognitiva do magistrado, trabalham com um juízo de 
verossimilhança – fundamentado na prova inequívoca, no fundado receio de dano 
de difícil reparação ou irreparável ou, alternativamente, abuso do direito de defesa. 
 
Desta forma, inegável que “a demora na obtenção do bem significa a sua 
prevenção no patrimônio do réu. quanto maior for a demora do processo, maior 
será o dano imposto ao autor e, por consequência, maior será o benefício conferido 
ao réu.” (Luiz Guilherme Marinoni) 
 
7.2 Tutela Cautelar 
 
Podemos entender por Ação Cautelar o direito público, subjetivo e abstrato, 
assegurado constitucionalmente, de se provocar a tutela jurisidiconal cautelar que 
tem por finalidade proteger e resguardar a eficácia dos processos de cognição e de 
execução. 
 
Por sua vez, Processo Cautelar é o instrumento utilizado para garantir o devido 
processo legal na busca pela proteção da efetividade da atividade jurisdicional. 
 
Processo é o caminho utilizado para a busca da tutela jurisdicional. 
 
Medida Cautelar é o que se pretende obter do Estado-Juiz no exercício da tutela 
jurisdicional; a proteção almejada. Exemplo: arresto, sequestro etc. (artigos 813 e 
seguintes do CPC) 
 
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7.2.1 Características da Tutela Cautelar 
 Instrumentalidade de Segundo Grau: Se considerarmos que o processo é 
um instrumento que visa garantir um direito, seja através do 
reconhecimento (declaração) e de sua posterior satisfação (cumprimento); 
ou ainda, em razão da existência da certeza, liquidez e exigibilidade da qual 
se reveste o título. Podemos conceber que as tutelas cautelares têm por 
escopo instrumentalizar o próprio instrumento (instrumentalidade hipotética 
ou instrumentalidade ao quadrado para alguns doutrinadores seria a 
nomeclatura correta), isto é, o processo cautelar aparelha e instrumentaliza 
a efetividade das tutelas de cognição e de execução respectivamente. 
 
 Autonomia/Acessoriedade: Há uma autonomia procedimental, ou seja, 
deverá haver a Petição Inicial, a Citação do Réu, a Contestação, a Réplica, e 
por fim a Sentença. (art. 796 do CPC). No entanto, não devemos esquecer 
que ele só existe para satisfazer outro processo, sendo assim, ele é 
dependente do Processo Principal.Se o Processo Cautelar for extinto, isso 
não significa que o Principal também deverá ser, ou que não venha existir. 
Porém, se o Principal extinguir-se, automaticamente ocorrerá o mesmo com 
o Cautelar (art. 810 do CPC).Vale desde já a advertência que nos casos de 
reconhecimento da prescrição ou da decadência a decisão no processo 
cautelar afetará, consequentemente, o processo principal – configurando, 
pois, as duas hipóteses descritas exceção a regra descrita. 
 
 Temporalidade (Provisoriedade): O Processo Cautelar não é definitivo, nasce 
tendo por fundamento determinadas circunstâncias que, se ao cessar, 
finalizam com a medida concedida. Ademais, vale lembrar que as cautelares 
não são, na sua essência, satisfativas. 
 
 Revogabilidade (Modificabilidade): A medida cautelar sempre poderá ser 
revogada ou modificada a qualquer tempo (art. 807 do CPC). Poderá 
também ser substituída por caução real ou fidejussória (art. 805 do CPC). 
 
 Urgência: Existe o “periculum in mora”, ou seja, o perigo da demora. Dessa 
forma, poderá o Juiz determinar as medidas provisórias que julgar 
adequadas, quando houver fundado receio de que uma parte, antes do 
julgamento da lide, cause ao direito da outra, lesão grave e de difícil 
reparação (art. 798 do CPC). Há que se consignar que o perigo aqui 
destacado guarda relação direta com a própria tutela principal, isto é, o 
escopo é analisar se existe perigo para efetividade da tutela dita principal. 
 
 Sumariedade da Cognição - O Processo Cautelar é mais rápido que o 
Procedimento Comum Ordinário e Sumário. Cognição é a análise dos 
argumentos através das provas. No Procedimento Cautelar há o pressuposto 
do “fumus bonis iuris”, ou seja, a fumaça do bom direito. O Juiz não faz uma 
análise profunda dos fatos ocorridos no processo, pois a ação é sumária, 
rápida. Dessa forma,a análise não é plena, exaustiva e muito menos, 
profunda. (art. 801, IV do CPC) 
 
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 Inexistência Da Coisa Julgada Material - A coisa julgada material é a eficácia 
que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a Recurso 
Ordinário ou Extraordinário. (art. 467 do CPC). Na coisa julgada formal, 
como não houve julgamento do mérito, nada impede que o autor intente de 
novo a ação, podendo assim haver o Recurso. (Salvo as hipóteses descritas 
no art. 268 do CPC). A ÚNICA hipótese em que a Ação Cautelar faz coisa 
julgada material, como já destacado anteriormente, é quando o Juiz acolhe 
a DECADÊNCIA ou a PRESCRIÇÃO. 
 
 Fungibilidade: Interpretando sistematicamente os artigos 2º, 128 e 460 do 
CPC, verificamos que o magistrado deverá, via de regra, julgar nos limites 
do que foi requerido pelas partes (princípio da demanda, princípio da inérica 
da jurisdição e princípio da congruência). Assim, podemos concluir que o 
Juiz proferirá sentença após apreciar todo o pedido, podendo acolhê-lo ou 
rejeitá-lo, no todo ou em parte (art. 159 do CPC), sendo proibido ao Juiz 
proferir sentença favorável ao autor, de natureza diversa da pedida, bem 
como condenar o réu em quantia superior ao objeto diverso do que lhe foi 
demandado (art.160 do CPC). Ao estudarmos os princípios que norteiam as 
cautelares e a sua fundamentação, verificaremos que, frente ao caso 
concreto, o juiz poderá determinar as medidas cautelares que entender 
adequadas, ainda que o pedido não seja exatamente o da tutela deferida. 
7.2.2 Pressupostos da Tutela Cautelar 
 Periculum in mora (perigo da demora): ocorre quando há risco iminente de 
perecimento, destruição, deterioração ou qualquer risco que prejudique a 
eficácia do processo principal. O dano deve ser provável. 
 
 Fumus boni iuris (fumaça do bom direito): significa indícios de um direito, 
presunção de legalidade (onde há fumaça há fogo). Este pressuposto 
significa a possibilidade ou probabilidade de existência do direito invocado 
pelo autor da ação cautelar. 
7.2.3 Classificação das Medidas Cautelares 
 Preparatória ou Antecedente/Incidental: preparatórias são aquelas que 
antecedem a propositura da ação principal, enquanto as incidentais são 
aquelas que surgem no curso do processo principal (art. 800 CPC). 
 
 Típicas ou Nominadas: são as ações cautelares reguladas sob a 
denominação de “procedimentos cautelares específicos”, que podem ser 
subdividas em quatro espécies: a) medidas sobre bens; b) medidas sobre 
provas; c) medidas sobre pessoas; d) medidas conservativas e outras não 
cautelares. 
 
 
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 Atípicas ou Inominadas: são aquelas deixadas pelo legislador ao Poder Geral 
de Cautela do Juiz, disposto no art. 798 CPC. 
7.2.4 Eficácia da Medida Cautelar 
Quando cessa a eficácia da medida cautelar? 
 
Se a parte não intentar ação no prazo de 30 dias contados da data da efetivação da 
medida cautelar, quando esta for concedida em procedimento preparatório; se não 
for executada dentro de 30 dias; se o Juiz declarar extinto o processo principal, 
com ou sem o julgamento do mérito. 
 
Vale ressaltar que conservam sua eficácia no prazo de 30 dias, contados da data de 
sua efetivação quando for concedida em procedimento preparatório e na 
dependência do processo principal, mas, podem a qualquer tempo, ser revogadas 
ou modificadas (art. 807 do CPC). 
 
O indeferimento da medida não impede que a parte intente a ação, nem influi no 
julgamento desta, exceto se o Juiz, no procedimento cautelar, acolher as alegações 
de decadência ou de prescrição do direito do autor (art. 810 do CPC). 
 
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8 Das respostas do Réu 
 
A Relação Jurídica Processual é dialética, desta forma, podemos concluir que tem 
como princípio norteador o contraditório. 
 
A Constituição Federal consagra o Princípio do Devido Processo Legal em seu artigo 
5º, inciso LIV CRFB, segundo o qual “Ninguém será privado de sua liberdade e de 
seus bens sem o devido processo legal”. 
 
Assim, podemos entender a resposta da réu (demandado) como uma reação ao 
estímulo que lhe é feito pela citação. 
 
De conformidade com o artigo 297 Código de Processo Civil, três são as espécies de 
resposta, a saber: 
 contestação 
 exceção 
 reconvenção 
 
Vale lembrar que o prazo para oferecimento da resposta consta de referido 
dispositivo, podendo o réu oferecer, no prazo de 15 (quinze) dias, em petição 
escrita, dirigida ao juiz da causa, contestação, exceção e reconvenção. 
 
Devemos ressaltar que na contagem do prazo duas regras devem ser observadas: 
 
1. O prazo para resposta só se inicia depois de esgotado todo o procedimento 
citatório. Art. 241 CPC. Normalmente é da juntada aos autos do mandado 
cumprido. 
 
Art. 241. Começa a correr o prazo: (Redação dada pela Lei nº 8.710, de 
24.9.1993) 
I - quando a citação ou intimação for pelo correio, da data de juntada aos autos 
do aviso de recebimento; (Redação dada pela Lei nº 8.710, de 24.9.1993) 
II - quando a citação ou intimação for por oficial de justiça, da data de juntada 
aos autos do mandado cumprido; (Redação dada pela Lei nº 8.710, de 24.9.1993) 
III - quando houver vários réus, da data de juntada aos autos do último aviso de 
recebimento ou mandado citatório cumprido; (Redação dada pela Lei nº 8.710, de 
24.9.1993) 
IV - quando o ato se realizar em cumprimento de carta de ordem, precatória ou 
rogatória, da data de sua juntada aos autos devidamente cumprida; (Redação 
dada pela Lei nº 8.710, de 24.9.1993) 
V - quando a citação for por edital, finda a dilação assinada pelo juiz. (Redação 
dada pela Lei nº 8.710, de 24.9.1993) 
 
2. Nos casos de litisconsórcio, deve ser obedecido o princípio da 
simultaneidade: o prazo se inicia ao mesmo tempo para todos os 
litisconsortes. Pode até terminar em momentos distintos (Ex. Fazenda 
Pública x particulares). A regra é o prazo de 15 dias. EXCEÇÕES: art. 191 
CPC – litisconsortes com diferentes procuradores; 
 
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8.1 Da Contestação 
 
Podemos conceituar contestação como a principal espécie de resposta do réu. Nela 
o réu deve alegar todas as matérias de fato e de direito que possam influenciar o 
convencimento do juiz no sentido da improcedência do pedido do autor. 
 
Caso o Réu não conteste a ação o artigo 319 do CPC informa que reputar-se-ão 
verdadeiros os fatos afirmados pelo autor. Isso decorre do fato do demandado não 
ter impugnado especificamente as alegações do autor e, consequentemente, não 
ter tornado os fatos controvertidos, sendo certo que, independem de prova os fatos 
tidos como incontroversos (artigo 334, III do CPC). 
 
A regra é que na contestação o demandado requeira a improcedência do pedido 
autoral (sentença declaratória negativa) Mas, vale ressaltar que há uma hipótese 
em que a contestação amplia o objeto litigioso do processo. Isso se dá nas ações de 
caráter dúplice, nas quais se permite ao demandado formular pedido a seu favor - : 
pedido contraposto. 
 
Temos algumas previsões decorrentes da lei, a saber: 
 
 procedimento comum sumário – art. 278, § 1º, CPC; 
 juizados especiais cíveis – art. 31 CPC 
 ações possessórias – art. 922 CPC. 
 
8.2 Conteúdo da Contestação 
 
Sendo a contestação peça de resistência por excelência, podemos conceber duas 
esferas de defesas: Processuais (que buscam invalidar o processo quanto a sua 
forma) e Defesas de Mérito(que atacam o próprio conteúdo material da lide). 
 
As defesas processuais visam a impedir o exame do mérito da causa. O artigo 301 
do CPC apresenta as chamadas questões preliminares que devem ser analisadas 
antes do mérito da causa. Apenas a titulo exemplificativo temos: a incompetência 
absoluta do juízo; a falta de condição da ação e a inobservância dos pressupostos 
processuais. 
 
As defesas de mérito atacam a questão “de fundo”, o mérito da causa, isto é, a 
causa de pedir remota e os seus fundamentos. Se dividem em defesas de mérito 
diretas e indiretas. 
 
 Defesas de mérito diretas: são as que negam a ocorrência do fato 
constitutivo do direito do autor ou de seus efeitos. 
 
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 Defesas de mérito indiretas: Não se discute o fato constitutivo nem a 
produção de seus efeitos. Em tal modalidade o demandado alega outros 
fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor 
 
 
8.3 Princípios específicos da contestação 
 PRINCÍPIO DA EVENTUALIDADE / DA CONCENTRAÇAÕ DA DEFESA. Art. 300 
CPC. Segundo esse princípio, o réu deve apresentar na contestação TODAS 
as matérias de defesa. Assim, na contestação, na eventualidade de um 
primeiro argumento não ser aceito, alega-se um segundo, assim 
sucessivamente, tendo em vista que, na eventualidade de o juiz não acolher 
um, oferece-se um outro. 
 
Art. 300. Compete ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de defesa, 
expondo as razões de fato e de direito, com que impugna o pedido do autor e 
especificando as provas que pretende produzir. 
 
 ÔNUS DA IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA DOS FATOS Art. 302 CPC: o réu tem o 
ônus (não a obrigação) de impugnar especificamente os fatos alegados pelo 
autor, sob pena de serem presumidos como verdadeiros. Esse ônus não 
atinge o advogado dativo, o MP e o curador especial. Além disso, podem 
fazer contestação por negativa geral / genérica / negativa genérica. Não 
precisam impugnar especificamente os fatos alegados pelo autor. 
 
Art. 302. Cabe também ao réu manifestar-se precisamente sobre os fatos 
narrados na petição inicial. Presumem-se verdadeiros os fatos não impugnados, 
salvo: 
I - se não for admissível, a seu respeito, a confissão; 
II - se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público que a lei 
considerar da substância do ato; 
III - se estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto. 
Parágrafo único. Esta regra, quanto ao ônus da impugnação especificada dos 
fatos, não se aplica ao advogado dativo, ao curador especial e ao órgão do 
Ministério Público. 
 
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9. Direito Probatório - Teoria Geral das Provas 
Podemos entender como prova qualquer elemento que contribua para a formação 
da convicção do magistrado acerca da existência de determinado fato. 
 
No que concerne à prova, podemos conceber que a valoração realizada pelo 
magistrado diz respeito a sua convicção, isto é, a um juízo de persuasão racional de 
acordo com os elementos probatórios constantes dos autos. Assim, convicção 
(critério subjetivo) não se confunde com certeza (critério objetivo). 
 
Na análise ponderada dos fatos alegados pelas partes pode o magistrado, na 
sistemática do Direito Processual Civil, contentar-se com a Verdade Formal, isto é, 
com os elementos probatórios constantes dos autos. 
 
Temos como objeto da Prova os fatos alegados pelas partes, relevantes para a 
causa e que, consequentemente, irão contribuir para a formação do livre 
convencimento motivado do magistrado. 
 
Vale lembrar que, por regra, não existe a necessidade de se provar o Direito 
alegado. Contudo, o artigo 337 do CPC especifica hipóteses nas quais cabe à parte 
a prova do alegado (ônus da prova). 
 
Toda prova produzida nos autos de uma relação jurídica processual apresenta dois 
destinatários distintos, a saber: 
 
 Destinatário Direto – Aquele a quem se procura convencer a respeito da tesa 
levantada nos autos do processo: O Estado-Juízo 
 
 Destinatário Indireto – Aquele que suportará as consequências do resultado 
da demanda e que, por isso mesmo, deve poder exercer o contraditório e a 
ampla defesa em relação à produção das provas a fim de comprovar a 
veracidade da tese sustentada perante o órgão responsável pela atividade 
jurisdicional: O Sujeito Parcial da Demanda – a parte. 
 
Ressalte-se que a prova trazida para o “mundo dos autos” configura elemento de 
convicção do magistrado, razão pela qual, independentemente do fato de beneficiar 
ou prejudicar aquele que a requereu e/ou produziu, o magistrado poderá considerá-
la, visto que este será sempre o destinatário direto da mesma (Princípio da 
Comunhão das Provas). 
9.1 Valoração da Prova 
1. Sistema das Ordálias ou Juízo dos Deuses 
2. Sistema da Prova Legal 
3. Sistema da Íntima Convicção do Magistrado 
4. Sistema da Persuasão Racional do Juiz (Livre Convencimento Motivado) 
 
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9.2. Procedimento Probatório 
Podemos conceber o procedimento probatório através da analise de quatro fases 
distintas, a saber: 
 
 1ª Fase: Proposição da Prova (PI e Resposta) 
 2ª Fase: Admissão da Prova (Decisão de Saneamento) 
 3ª Fase: Produção da Prova (Regra: AIJ. Cuidado: Prova Documental – 396 
CPC e Pericial – Fase Instrutória) 
 4ª Fase: Valoração da Prova (no momento de sentenciar) 
 
9.3 Ônus Probatório 
 Aspecto Subjetivo: quem prova o quê; 
 Aspecto Objetivo: o que se deve provar. 
 
O artigo 333 do Código de Processo Civil distribui o ônus da prova (aspecto 
subjetivo) afirmando ser do Autor o ônus de provar o fato constitutivo do seu 
direito e ao Réu o ônus de comprovar os fatos modificativos, extintivos ou 
impeditivos do direito do autor; sem prejuízo do ônus da contraprova por parte do 
Autor e do Réu a respeito dos fatos alegados por seu ex-adverso. 
 
Quanto ao aspecto objetivo das provas, vale lembrar que o magistrado irá se 
posicionar a respeito das questões ou pontos controvertidos da demanda. Assim, 
somente os fatos alegados por uma das partes e impugnados pela outra, quando 
relevantes ao deslinde da causa, serão objeto de cognição por parte do magistrado. 
 
Por outro lado, o artigo 334 do Código de Processo Civil informa quais os fatos 
independem de prova. 
 
Pela Teoria da Carga Dinâmica da Prova, buscando a isonomia de tratamento às 
partes na relação jurídica processual, pode o magistrado trabalhar com a chamada 
“inversão do ônus da prova”. 
 
 
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10. Questões para análise da Turma 
Grupo 01 
01) Se, no curso da demanda, o juiz identificar a ausência de um dos litisconsortes 
necessários, poderá o mesmo determinar de ofício a sua inclusão no processo? 
02) Três empresas A, B e C formalizam um contrato com a empresa X que tem por objeto o 
fornecimento de matéria-prima para que elas possam produzir, em conjunto, determinado bem 
de consumo. 
A empresa A se sente prejudicada suspeitando haver nulidade no contrato firmado. Assim, 
propõe demanda em face da empresa X pedindo a anulação do instrumento firmado. 
Pergunta-se: Pode a empresa A propor a ação sozinha? 
03) Qual a natureza jurídica da decisão que limita o litisconsórcio multitudinário? Sob qual 
fundamento poderá o magistrado, de ofício, limitar o número de litigantes? 
04. Antônio e Carlos, na qualidade de acionistas, ajuizaram ação de conhecimento, pelo 
procedimento comum ordinário, em face de ALKA S/A, tendo por objeto imediato a declaração 
e o reconhecimento

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