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Módulo: Presciência Humana 1 AULA 1 – Sentido/significado da Vida e os Desejos Humanos1 Prof. Clérisson Torres2 Caro estudante, refletir quanto ao sentido e significado da vida é um desafio e tanto. Aliás, passamos a vida a buscar respostas quanto ao sentido ou direção que a mesma tem no tempo e no espaço em que existimos. Também no decorrer de nossas vidas procuramos desvendar seu significado ou relevância, e para tal, procuramos conceber os desafios que a vida nos oferece, constantemente, quer em âmbitos profissionais, pessoais/familiares e existenciais. Nesta aula procuraremos refletir quanto ao sentido/significado da vida e suas interfaces com as necessidades e desejos humanos para que nossas ações provenientes de nossos desejos sejam ou estejam embasadas em princípios, valores ou leis da vida que indicam moral, ética e estética elevadas em prol de uma vida mais bela, rica e significativa, com mais experiências culminantes, como dizia o psicólogo humanista Abraham Maslow (Apud FADIMAN, 2002), ou seja, com mais momentos de segurança, satisfação e felicidade. Entende-se que, quanto mais reflexivo e integrado com a vida e seus ditames, maior a possibilidade humana de ser presciente, ou seja, de ser capaz de prever ou ultrapassar a realidade para conter, minimizar ou extinguir situações problematizadoras individuais ou sociais, bem como, de antecipar e, por sua 1 Este módulo ou texto foi construído para a disciplina Presciência Humana, uma das disciplinas realizadas pelo programa On Line NED – Núcleo de Estudos Dirigidos da UNIME/Paralela para todos os alunos da diversidade de cursos que voluntariamente se inscreveram e realizaram o mesmo à distância, com o fim de aproveitá-lo como carga horária de atividade complementar. 2 Clérisson Torres é Psicólogo, psicoterapeuta e professor universitário. É Mestre em Educação (UFBA/FACED) tendo como objeto de pesquisa a Análise do Juízo Moral de Docentes e Discentes Universitários. Especialista em Docência do Ensino Superior dissertou sobre o tema "Autoconhecimento e a Consciência Moral, Ética e Estética: uma contribuição à formação de educadores". É Coordenador do Curso de Psicologia da UNIRB em Salvador, bem como, docente de graduação e pós-graduação. Contato: clerissontorres@uol.com.br Consciência Módulo: Presciência Humana 2 vez, de projetar suas ações no viver de maneira prudente, responsável e comprometida, eis os exemplos de pessoas como Sílvio Santos, Oscar Niemeyer, César Pascal, Bill Gates, Anísio Teixeira, Santos Dumont, Hipócrates, Charles Darwin, Gregor Mendel, Louis Kervran, Sigmund Freud, Rui Barbosa, Pontes de Miranda, Sócrates, Leonardo Da Vince, Albert Einstein, Nostradamus e outros, ou até mártires da humanidade como Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Jesus, Buda, Zoroastro, etc. Pois bem, caro aluno, falar da vida exige um estudo extenso em bibliografias de cunho científico, filosófico e até religioso. Nossa intenção não é favorecer tal extensão, mas discutir algumas premissas da vida em âmbitos filosófico-científicos e espirituais, na busca de uma abordagem integral, que nos oportunizem uma melhor compreensão. Nosso foco é o homem enquanto ser que também é produto do que sente, pensa e faz, bem como, do meio em que vive. É sobre este ser social que deseja e age que queremos compreender a ação da vida nele, bem como, a ação dele na vida. Distintamente da primeira, é esta segunda ação – a humana, que pode, de forma abreviada, gerar malefícios à humanidade por pensar e agir de maneira impulsiva, precipitada e inconseqüente, sem prevenção ou projeção a pequeno, médio e longo prazo. Com o fim de que nossas ações não sejam tão imediatistas e irresponsáveis, importa refletirmos quanto a duas premissas (ver SLIDE 01) que fundamentam nosso estudo: 1. Nada vive em absoluto isolamento; 2. A vida se prova pelo movimento; É praticamente unânime, cientificamente falando, que na vida nada nem ninguém vive em isolamento absoluto. Até mesmo alguém sozinho no pico mais alto do Himalaia, não está plenamente isolado, pois se relaciona com coisas, seres ou mesmo com seus pensamentos e Slide 01 – Premissas quanto a Vida Vida Nada vive isolado A vida se prova pelo movimento Quanto + Movimento + Vida + Progresso Para se compreender a vida tem que se alcançar o valor significativo das relações com: COMO AÇÃO/ MOVIMENTO INTERNO E EXTERNO DO HOMEM NAS RELAÇÕES = Pessoal/familiar Profissional Moral A V I D A Relação ���� Pessoas ���� Coisas ���� Seres ���� Pensamentos / Sentimentos Módulo: Presciência Humana 3 sentimentos, por exemplo. Eis aqui uma premissa da vida, que tudo está em relação, pois nada vive isolado. Logo, falar de vida é falar das relações que existem em todas e quaisquer dimensões do viver. Se também concebermos filosoficamente, a premissa que a vida se prova pelo movimento (MODIN, 2003) atômico ou subatômico, ou mesmo, cientificamente, pelo movimento de duplicação (reprodução) celular, então, quanto mais movimento estabelecemos em nossa vida, mais possibilidade de progresso pessoal, social, profissional e moral (espiritual), dentre outros. Ora, se a vida se prova pelo movimento e se nada existe isolado absolutamente, pois tudo está em relação, então, quanto mais movimentos físicos, psíquicos ou morais, maior é o número de relações e, por sua vez, considerando que o Universo conspira o movimento de evolução, maior a probabilidade de desenvolvimento humano e responsabilidade social. Não obstante, caro estudante, é comum negarmos as relações, ou seja, os movimentos objetivos ou subjetivos que a vida nos oportuniza através das relações. A VIDA SÓ NOS OFERECE O “VIVER” RELAÇÃO Felicidade RELAÇÃO = AUTO-REVELAÇÃO Um dos grandes desafios da humanidade não é o de fazer com que o ser humano atinja o estado de felicidade, mas o de atingir firmeza e paciência diante da decepção, dor e sofrimento. Satisfação Segurança Quando algo ou alguém nos revela irritação ou nervosismo, é comum projetarmos sobre o outro dizendo que ele(a) está nos irritando ou nos deixando nervosos. Ora, se a vida se prova pelo movimento e quanto mais movimento maior a possibilidade de progresso, então por que negamos, fugimos ou reprimimos os movimentos de irritação, nervosismo, ciúme, inveja, que estamos sentindo? Inobservar tais movimentos não é negar a vida e, por conseguinte, as relações, que se estabelecem através dela (ver SLIDE 02)? Slide 02 – A vida, através das relações, revela quem ainda somos. Módulo: Presciência Humana 4 Ora, se negamos ou fazemos vistas grossas para o presente vivido, como poderemos prever o futuro? O descomprometimento com o aqui e agora elimina a clareza da situação e, por sua vez, o discernimento quanto ao caminho que devemos seguir em termos pessoais, profissionais ou espirituais. AÇÃO DA VIDA / AÇÃO DO HOMEM EVOLUÇÃO HUMANA ConsultConsultConsultConsultóóóório de rio de rio de rio de PsicologiaPsicologiaPsicologiaPsicologia IMPULSIONADO PELAS LEIS NATURAIS ATRAVÉS DAS RELAÇÕS Coisas Seres Processos Pensamentos Sentimentos PRODUZ SENSÇÕES Objetivas Subjetivas SENTIR MOVIMENTO DA VIDA NO HOMEM Sensação ♦ ESQUECER, INOBSERVAR �Predominância dos vícios �Discernir o caminho que deve seguir MOVIMENTO DO HOMEM NA VIDA Sentir Pensar Reconhecer Raciocinar Querer Realizar Ousar DESEQUILÍBRIO Físico Doenças Psíquico Transtornos Moral Vícios �. AJUDA Desenvolver as qualidades; Compreender e dissolver os vícios; Despertar potenciais; Manifestar as virtudes ☺. CONSEQUÊNCIAS ♦ PERCEBER,COMPREENDER Pois bem, somosimpulsionados pela vida (ver SLIDE 03) através de suas leis naturais, que interna ou externamente, produzem em nós sensações. O movimento do homem na vida inicia quando decide com grau maior ou menor de percepção e implicação, conhecer ou não as necessidades, desejos, curiosidades ou exigências que a vida lhe oferece. Algumas sensações que nos defrontamos são deveras ameaçadoras à nossa psiquê, mas não devemos negar o que sentimos de forma precipitada, impulsiva e inconseqüente pelo uso de mecanismos egóicos de defesa caracterizando descomprometimento com a vida e seus ditames. Parafraseando Freud (1976), temos o dever de tornar consciente o que é inconsciente, e para tal, devemos primar por refletir, concentrar, meditar ou contemplar nossas vicissitudes em prol de melhor discernir o caminho a seguir. Isto nos torna mais perceptivos, conscientes e cientes do presente e, por conseguinte, prescientes do futuro para previamente lidar com as intempéries do viver. Assim, é tomando consciência de nossas trevas ou sombras interiores que minimizamos nossos desequilíbrios, bem como, desenvolvemos competências e habilidades de raciocínio e intuição necessárias para usar do nosso livre arbítrio com Slide 03 – Ação natural da vida / ação artificial do homem e as devidas conseqüências. Módulo: Presciência Humana 5 beleza, força e sabedoria, antecipando e abreviando nossos projetos de vida nos níveis sociais, pessoais, afetivos e profissionais (ver SLIDE 04). Diante do exposto, até o momento, é notório que só é possível compreender a vida através do viver. E viver é ser, é estar em relação conosco e com o todo do qual fazemos parte, conforme Barreto (2005). Então, devemos tirar proveito do valor real e genuíno das relações segundo esta autora. Seguindo a mesma linha de raciocínio, Torres (2006) ressalta que o valor significativo da vida apreendida através das relações não está na busca exclusiva de segurança, sucesso e felicidade, mas sim na auto-revelação, ou seja, na percepção e no auto-comprometimento com tudo aquilo que nossa vida interior, quer física, psíquica ou moral (espiritual) nos revela, como os vícios ou condutas que apresentamos no dia a dia, a exemplo do ciúme, inveja, pesar, angústia, ânsia, nervosismo, preguiça, avareza, orgulho e outros dos quais somos acometidos. Noutras palavras, racionalizamos quando redefinimos a realidade (FREUD, 1976) dizendo que certa pessoa está nos deixando nervosos, ciumentos ou irritados. Logo, descomprometemo-nos de perceber que, independente das intenções de tais pessoas, a VIDA através delas está nos revelando que ainda reagimos de forma irritadiça, nervosa ou ciumenta. Eis que muito importa saber pensar perante os desafios que a vida nos oferece, pois uma vez contatado com algo ou alguém, estes nos geram sensações objetivas ou subjetivas. Tais sensações, expressas em nós pelo sentir, nos impulsionam pela necessidade a saber o que são (ver SLIDE 05). É a partir daqui que começa a nossa problemática quando fazemos uso do pensar, mas ao mesmo tempo a nossa possibilidade de evolução ou aperfeiçoamento, quer pelo sofrimento, pela razão ou pelo sentimento/intuição. Isto porque, quando labutamos com o pensar, podemos expressá-lo por formas diferenciadas de fantasia, entendimento “A tarefa do homem é (...) conscientizar-se dos conteúdos que pressionam para cima, vindos do inconsciente. Ele não deve permanecer em sua inconsciência, nem tampouco permanecer idêntico aos elementos inconscientes de seu ser, assim se esquivando a seu destino, que é o de criar cada vez mais consciência. Tanto quanto podemos discernir, a finalidade única da existência humana é a de avivar uma chama na escuridão do simples ser”. C. G. Jung Slide 04 – Citação do psicólogo C. G. Jung quanto à finalidade da existência humana. Módulo: Presciência Humana 6 e/ou compreensão (KRISHNAMURTI, 1999). Diante do que sentimos, buscamos pensar para saber o que é, todavia, sempre que pensamos, criamos uma imagem ou símbolo de tal sensação. Portanto, nunca podemos perder de vista que o que dizemos ser não é o que é, mas o que pensamos ser (SPINOZA, 2005). Noutras palavras, caro aluno, você não é o que você pensa ser, nem o que os outros dizem ou desejam que você seja, mas sim o que você é tal qual é, no aqui e agora das relações. SÍNTESE DAS RELAÇÕES Atividade Fim Atividade Meio V I D A V I V E R R E L A Ç Õ E S Princípio, Meio e Fim das Relações Contato Sentir Pensar Desejar Prazer Dor Reflexão Tirocínio da Vida OBJETO - O que é FINALIDADE - Para que é JUSTIFICATIVA -Por que é MÉTODO Como, Onde, Quando e Quanto fazer RECURSOS Com quem, Com quanto e Com que fazer FONTE O Mundo das Relações So fri m en to R az ão Se n tim en to / I n tu iç ão É natural que busquemos segurança perante o que sentimos. A problemática está em perdemos o contato direto, correto e completo com o desconhecido, com o que é tal qual é, a sensação, já que é através dela que pode haver tanto o surgimento de intuições, como o despertamento dos nossos sentimentos como fruto das experiências, ou seja, nossa sabedoria interior. Ao sentir algo e denominar de ciúmes, por exemplo, é natural que nossa imaginação evoque lembranças, conhecimentos, idéias, opiniões acerca do experimentado e assim, por exemplo, produza pensamentos diversos que nos levam a desejar ser senhor dessa situação, logo de ter controle e/ou domínio sobre a mesma. Tal desejo de mudar a situação fenomênica da vida caracteriza o devir humano, uma vez que tal vir a ser nos traz satisfação de ter ou ser aquilo que elimina nosso incômodo. Ora, se pensamos buscar segurança perante o que sentimos, ao sermos Slide 05 – Síntese do princípio, meio e fim das relações humanas. Módulo: Presciência Humana 7 contatados pelo que dizemos ser ciúme, e se desejamos na perspectiva de satisfação, conforme a nossa noção de viver, que reflete nosso maior ou menor grau de consciência da finalidade da vida e da razão de existirmos, então, tendemos a procurar o prazer na busca natural de felicidade. Os transtornos psicossomáticos (gastrites nervosas, dores de cabeça, depressões etc.) são possíveis expressões de quem buscou a qualquer custo tal segurança, satisfação e felicidade. Nesse sentido, é quando o ser humano chega à dor pela frustração perante o infortúnio acometido, que é convidado pela vida à reflexão. Não é a toa que no senso comum se diz que o homem só aprende pelo sofrimento. A vida é o que contatamos, sentimos ou até mesmo, de certo modo, o que pensamos que ela seja; parece que a finalidade da mesma é a evolução, aperfeiçoamento ou aprimoramento de nossa constituição física, psíquica e moral quando desejamos e buscamos prazer nos desafios e contingências do viver; mas parece, também, que a razão ou justificativa da vida é explicitamente exposta quando experimentamos a dor, tanto das conseqüências de nossas ações, como das expressões, lembranças e desejos não realizados, ou até mesmo como produto natural da transformação alquímica do nosso ser. É nesses momentos de dor, maior ou menor, que buscamos o método para a solução de nossas necessidades pelo uso de nossas forças psíquicas, como a reflexão, concentração, meditação, vibração, percepção, contemplação e/ou exaltação (TORRES, 2001; BARRETO, 2005). É pelo uso de nossas forças mentais que podemos perceber e, por conseguinte, conceber, através das relações internas e externas, valores, códigos, princípios ou leis morais, éticas e estéticas mais elevadas para nosso viver. Com efeito, são nesses momentos que mais uma vez, conscienteou inconscientemente, perguntamos: quem somos, de onde viemos e para onde vamos. De igual forma, são nesses momentos de transformação interior, não apenas pelo sofrimento, mas pela razão e/ou sentimento/intuição, que vamos concebendo o princípio criador, a finalidade da vida e a razão de nossa existência, momento a momento, logo, construindo, desconstruindo e reconstruindo nossas vidas. Portanto, é pelo uso de nossas forças psíquicas, que aprendemos a saber pensar e, por sua vez, a desejar com base em NECESSIDADES à medida que vamos constantemente delineando os métodos, recursos e as fontes, tanto para Módulo: Presciência Humana 8 solucionarmos nossas decepções, dores e sofrimentos no viver, como para ampliarmos nossas experiências, nossos conhecimentos teóricos e a nossa sensibilidade essencial para sermos prescientes, por prever, antecipar e projetar ações que devem ter como base valores e princípios elevados de convivência social em prol de maior qualidade de vida. Discernir quanto às nossas ações é de fundamental importância, pois os comportamentos humanos podem levar tanto a uma liberdade cada vez maior de ser e estar independente, desembaraçado, imune ou LIVRE para ir e vir, como também pode levar a uma escravidão física (prisões), psíquica (neuroses e psicoses), e moral (vícios). Basta compreender que o homem é composto de necessidades e desejos. Há necessidades que se transformam em desejos e há desejos que se transformam em necessidades. Necessidade é tudo aquilo sem o qual o homem, num determinado contexto existencial, não pode viver, levando-se em conta toda a capacidade de elevada consciência que pode e deve vir a manifestar. Já o desejo é uma sofisticação da necessidade (SCHWERINER, 1999), ou uma força que se impõe e exige realização, distintamente da vontade que, pressupõe uma escolha consciente, voluntária e benéfica (ARANHA, 2003). NECESSIDADE DESEJO Liberta Espiritualiza Escraviza Materializa “Penso que não ter necessidade, é coisa divina e ter as menores necessidades possíveis é o que mais se aproxima do divino” Sócrates VIRTUDESVIRTUDES VVÍÍCIOSCIOS Logo, desejar baseado numa necessidade seja ela física, psico-afetiva (trabalho, estudo, socialização) ou moral (transformar vícios em virtudes) é fazer Slide 06 – Síntese do princípio, meio e fim das relações humanas. Módulo: Presciência Humana 9 uma escolha de forma consciente, sofisticada e voluntária, é buscar atender a mesma em gênero, número e grau. Por exemplo, se um indivíduo está com sede e deseja satisfazer tal necessidade fisiológica, por exemplo, ao dirigir-se à geladeira ou filtro, saciará sua sede, por conseguinte estará livre para novas necessidades que a vida vier lhe impulsionar. No entanto, caso esteja com sede e venha a desejar um líquido que não seja constituído em sua maior parte de água, mas sim constituído de elementos outros, que seu ser e seu corpo não necessitam, como por exemplo, uma bebida alcoólica3, logo estará a criar necessidades que antes não existiam, como a paciência para curar uma ressaca ou dor de cabeça, necessidade de dormir para descansar mais ou até a necessidade de fazer uso, de maneira “homeopática”, de bebida alcoólica, uma vez que se tornou escravo do vício e agora necessita desvencilhar-se aos poucos do mesmo. Dessa forma, quando o homem deseja, não baseado em necessidades físicas, psíquicas e morais, ele se materializa, prendendo-se nas cadeias magnéticas de seus temperamentos. Ele pode vir a “nunca” desejar reconhecer que agiu de forma esteticamente não bela, a ponto de dizer: “... eu sou assim, você que se vire” ou “quando você se casou comigo, você já sabia como eu era!”. Aqui o homem se escraviza em seus próprios pensamentos, valores, crenças, dogmas, paradigmas, filosofias. No entanto, tal comportamento não deixa de ser uma necessidade que há de ser sanada, mas não sem decepções, dores, frustrações, seja em que nível for. Em contrapartida, quando o homem deseja baseado numa necessidade, denota estar consciente de si, do ambiente e da sociedade em que vive, portanto, de suas ações e conseqüências, logo se liberta e se espiritualiza, uma vez que transforma necessidades grosseiras em necessidades cada vez mais sutis. Deste modo, é o homem que constrói o seu próprio destino, não havendo determinismo de Deus para com o mesmo, não obstante, também não há liberalismo, afinal, a vida tem suas leis naturais, como a lei de evolução e a de necessidade, por exemplo. Destarte, no processo evolutivo humano, devemos minimizar nossas necessidades e não ampliá-las ilusoriamente. 3 Não é nossa intenção fazer nenhuma apologia contra toda e qualquer bebida alcoólica, pois compreendemos que tudo é necessário, porém tudo passa. Módulo: Presciência Humana 10 Eis a razão de Sócrates, segundo Platão (CLARET, 1996, p. 55) dizer: penso que não ter necessidade é coisa divina e ter as menores necessidades possíveis é o que mais se aproxima do divino. Parece que quando desejamos dentro da necessidade, lapidamos o nosso ser a ponto de diminuirmos as nossas necessidades físicas, psíquicas e morais relativas, momento em que nos aproximamos mais de Deus. Contudo, esse estado de ser exige de nós atenção plena a nós mesmos, às nossas reais necessidades, e ao movimento do Universo, às suas próprias Leis, já que fazemos parte dele. É cediço que não vivemos isolado, tudo está em relação e em plena conexão, razão pela qual, temos o dever moral de voluntária e conscientemente, agir baseado em princípios universais de consciência, para que possamos nos integrar cada vez mais. Pois, ou nos integramos à força ou nos entregamos à força das imposições, inclusive e, principalmente, das culturas decadentes. Com efeito, considerando a necessidade como uma Lei Universal, deve o homem cada vez mais conhecer e desvendá-la para não se tornar escravo de desejos desequilibrados. Seguindo essa linha de raciocínio, cabe aqui citar o renomado psicólogo americano Lawrence Kohlberg (2002), quando ensina o valor de Princípios Universais, ao mencionar o exemplo de grandes mártires da história da humanidade, como Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Sócrates, que se destacaram pelo fato de suas ações estarem baseadas em tais princípios. Nunca pareceu tão relevante experimentar diretamente o valor real, genuíno e significativo da vida, ou seja, das relações, a partir do resgate das Leis Universais, e não pela atitude infantil e adolescente de busca desenfreada de prazer, sucesso e segurança a qualquer custo, que têm fundamentado os nossos mais elementares desejos. São tais atitudes insanas, alienadas, evasivas, confusas, depressivas, fruto de desejos incongruentes, efêmeros e ilusórios, que obscurecem o pensar humano, por se afastar de leis naturais, e, por sua vez, inibem ações que expressam senciência, consciência e presciência no viver. Módulo: Presciência Humana 11 GLOSSÁRIO Devir – Vir a ser; tornar-se; movimento de mudança. Ditame – Leis, regras, aviso, ordem. Espiritualizar – Destilar; assimilar ao espírito; despir-se de afeições terrenas; ampliar as virtuosidades. Experiências Culminantes - Momentos mais felizes da vida, catarse, êxtase. Infortúnio – Desgraça; infelicidade; desventura. Intempéries – Mau tempo; condições atmosféricas ruins. Mecanismos de defesa do ego – São mecanismos inconscientes de defesa que o ego utiliza para ajustar-se perante situações ameaçadoras. Um deles é a repressão - mecanismo de defesa mais forte do ego, pois suprime da percepção do indivíduo o que está acontecendo. É o mecanismo de evitar a realidade. Caracteriza-se então, por afastar determinado evento, idéia ou percepçãoconsciente, mantendo-o à distância. Racionaliza – Refere-se ao mecanismo inconsciente de defesa do ego, a racionalização. No qual, o ego redefine via “desculpas rápidas e bem elaboradas” a realidade, achando intelectivamente motivos socialmente aceitáveis para pensamentos e ações inaceitáveis. Senciência – É a ciência do bem estar. Caracteriza a capacidade de sentir dos animais e dos seres humanos de maneira que eles possam discernir o que devem ou não devem experimentar em prol do seu bem estar. Portanto, a ação senciente possibilita ao ser afastar-se de situações ameaçadoras, dolorosas e angustiantes, em prol de atender naturalmente as necessidades de seu ser. Sutil – Grácil; tênue, fino. Vício – Inclinação para o mal em oposição a virtude; desregramento habitual; Vícios capitais: orgulho, cólera, inveja, luxúria, gula, preguiça e avareza. PARA REFLETIR Consciência Questões Instigantes: “R E F L I T A” O que é a Vida? O aparecimento da vida é fruto do acaso ou do processo evolutivo, isto é, da necessidade? Há vida em outros planetas? Quem somos, de onde viemos e para onde vamos? Qual o princípio criador, a finalidade da vida e a razão de nosso existência? Módulo: Presciência Humana 12 SAIBA MAIS • MÚSICA: REFLEXÃO (MAHATMA– Grupo de Música e Estudo) Da janela do meu quarto Sinto o tempo não passar Observo as pessoas vão passando Apressados na ânsia de chegar Automóveis passam Na velocidade de um querer Revelando a intenção de superar Os problemas que na vida podem acontecer. Se você já parou para refletir O porquê de tudo isso Nossa angústia de querer Alcançar um objetivo Pois se tudo existe e tem razão de ser É preciso a reflexão do ser... Temos medo de encarar O que não é conhecido De falar de coisas que nos tragam dúvidas Descobrir qual o seu real sentido. E não adianta ir buscar no que já estar escrito Por si próprio tem que experimentar Receber, perceber e conceber o infinito. Se você for parar para refletir O porquê de tudo isso Poderá entender Tudo que parece impossível A razão de existir, a verdade do Ser A vida, infinita luz... Se você já parou para refletir O porquê de tudo isso E conseguiu conceber esse fato indescritível Já experimentou uma nova ação A real transformação do Ser... • FILME: - “A Corrente do Bem”. Sinopse Eugene Simonet (Kevin Spacey), um professor de Estudos Sociais, faz um desafio aos seus alunos em uma de suas aulas: que eles criem algo que possa mudar o mundo. Trevor McKinney (Haley Joel Osment), um de seus alunos e incentivado pelo desafio do professor, cria um novo jogo, chamado "pay it forward", em que a cada favor que recebe você retribui a três outras pessoas. Surpreendentemente, a idéia funciona, ajudando o próprio Eugene a se desvencilhar de segredos do passado e também a mãe de Trevor, Arlene (Helen Hunt), a encontrar um novo sentido em sua vida. Módulo: Presciência Humana 13 O MESTRE COM A PALAVRA “A Vida é uma eterna perda, todavia, a única perda não aceitável é a lição da perda”. A Arca. “Penso que não ter necessidade é coisa divina e ter as menores necessidades possíveis é o que mais se aproxima do divino”. Sócrates. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS � ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena P. Filosofando: introdução à filosofia. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2003. � BARRETO, Maribel. O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação. Salvador: Sathyarte, 2005. � CLARET, Martin. Sócrates: “homem, conhece-te a ti próprio”. Coleção Vidas e Pensamentos. São Paulo: Martin Claret, 1996. � FRANKL, Viktor E. Um sentido para a Vida - Psicoterapia e Humanismo. 12 ed. São Paulo: Idéias & Letras, 2005. � FREUD, Sigmund. O ego e o id. Obras Completas de Sigmund Freud, v. XIX (1923-1925). Rio de Janeiro: Imago editora, 1976. � KRISHINAMURT, J. Sobre Conflitos. São Paulo: Editora Cultrix, 1999. � FADIMAN, James; FRAGER, Robert. Teorias da Personalidade. São Paulo: Harbra, 2002. � HOUAISS, Antonio. Minidicionário Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Objetiva / Moderna, 2004. � MONDIN, Batista. O Homem, quem ele é? São Paulo: Paulus, 2003. � KOHLBERG, L. Minha Busca Pessoal pela Moralidade Universal. In: BIAGGIO, Ângela M. B. Lawrence Kohlberg: ética e educação moral. São Paulo, Moderna, 2002. � SCHWERINER, Mário René. Comportamento do consumidor: da psicologia ao marketing. São Paulo: Coleção ESPM Vídeo, 1999. Módulo: Presciência Humana 14 � SPINOZA, Baruch de. Ética: demonstrada à maneira dos Geômetras. Tradução Jean Melville. São Paulo: Martin Claret, 2005. � TORRES, Clérisson. Análise do Juízo Moral de Docentes e Discentes Universitários. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Educação, 2005. � _________. Autoconhecimento e a Consciência Moral, Ética e Estética: uma contribuição à formação de educadores. Monografia (Especialização em Docência do Ensino Superior) – ABEC/UNIBA, Salvador, 2001. � _________. Autoconhecimento e o Despertar da Consciência Humana. (online) Disponível em <http://www.concienciologia.pro.br>: Acesso em: 01/09/2006.
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