Buscar

Suicídio à luz da sociologia

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 6 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 6 páginas

Prévia do material em texto

O SUICÍDIO À LUZ DA SOCIOLOGIA. 
ÉMILE DURKHEIM
O suicídio para Durkheim era um fato social; estava relacionado com o estado civil, a religião, a profissão, o lugar onde se vive etc. O suicídio passava a ser “importante” quando deixava de ser individual e passava a ter uma natureza social; buscava compreender a relação que havia entre as pessoas. Os fatos sociais deveriam ser vistos de forma puramente material e não se deixar levar em conta a religião, o sentimento etc.
 Ele destacou que a causa para o suicídio era a coesão social – o efeito de aderir ou reunir as coisas entre si e/ou implica algum tipo de união ou vínculo. Quando não havia relação entre os suicídios notava-se que existia uma falta ou excesso de integração social do suicida no meio, isso seria resultado da falta de regras que vinculem os membros da sociedade. Então ele classificou o suicídio em três categorias: o egoísta, o altruísta e o anômico.
SUICÍDIO EGOÍSTA
Acontece quando as pessoas se sentem totalmente separadas da sociedade. Geralmente as pessoas estão integradas na sociedade por questões de trabalho, laços de parentescos etc, quando esses laços são perdidos e/ou sentem-se isolados, aumentam as chances da ocorrência do ato em si. Predomina nas sociedades modernas e é visto como algo de individualismo extremado. 
“Quanto mais se enfraqueçam os grupos sociais a que ele (indivíduo) pertence, menos ele dependerá deles, e cada vez mais, por conseguinte, dependerá apenas de si mesmo para reconhecer como regras de conduta tão-somente as que se calquem nos seus interesses particulares. Se, pois, concordarmos em chamar de egoísmo essa situação em que o eu individual se afirma com excesso diante do eu social e em detrimento deste último, podemos designar de egoísta o tipo particular de suicídio que resulta de uma individualização comedida”. (Durkheim, O Suicídio, 1998). 
SUICÍDIO ALTRUÍSTA 
O indivíduo está tomado por uma força coercitiva e pela obediência, seja em um grupo mais restrito ou na própria sociedade. Ocorre em nome de uma causa política ou religiosa; a morte é vista como forma de honrar algo ou alguém; os suicidas querem responder as expectativas coletivas. “Quando desligado da sociedade, o homem se mata facilmente, e se mata também quando está por demais integrado nela”, afirma Durkheim. 
SUICÍDIO ANÔMICO 
As leis/normas da sociedade não são compatíveis com os objetivos de vida do suicida, logo ele não se identifica com tais normas e seu escape é o ato. Ocorrem em momentos de crises sociais (desemprego) ou quando há alguma transformação social (modernização). O suicida sente-se perdido e sozinho nesse momento de caos social. 
“Como saber que móbil determinou o agente, como saber se, ao tomar sua resolução, desejava efetivamente à morte, ou tinha outro fim em vista? A intenção é demasiado íntimo para poder ser atingida do interior, a não ser por aproximações grosseiras”, escreve Durkheim. 
Observa-se que as sociedades não são compostas apenas por indivíduos, mas também por fatores físicos materiais independentes destes e que também influenciam a vida social. A intensidade com que se manifesta a ‘tendência suicidogênea’ depende dos seguintes fatores:
“... primeiro, a natureza dos indivíduos que compõe a sociedade; segundo, a maneira como estão associados, ou seja, a natureza da organização social; terceiro, os acontecimentos passageiros que perturbam o funcionamento da vida coletiva, sem alterar, no entanto a constituição anatômica desta, tais como as crises nacionais, econômicas etc”. (Id., P. 199). 
Durkheim esclarece que, em condições normais, as ‘correntes suicidogêneas’ (egoísta, altruísta e anômica) “se compensam mutuamente”. Assim, o indivíduo se encontra num “estado de equilíbrio” que o preserva de qualquer ideia de suicídio. Mas, se uma delas ultrapassar um certo grau de intensidade em prejuízo das outras, tornar-se-á, ao individualizar-se e pelas razões expostas, suicidogênea”. (DURKHEIM, 1983, p.199). 
A sociedade é real, a morte também não é uma abstração. Se aceitarmos e compreendermos esta realidade, podemos viver melhor e nos resignarmos à certeza da finitude. Dessa forma, é possível superar os tabus e o moralismo que envolvem temas como o suicídio. 
ARTHUR SCHOPENHAUER
O SUICÍDIO POR AUTO-SUPRESSÃO
Porque não é possível deixar de querer é que se deixa de viver.
O suicida ele quer viver, por mais paradoxal que pareça. Está insatisfeito com sua vida, por não conseguir realizar seus desejos, suas vontades e viver da forma que lhe era agradável. “Não está descontente senão com as condições nas quais sua vida fracassou [...] quereria a vida, quereria que sua vontade existisse e sem afirmasse sem obstáculo”. (id., ibid.). 
O SUICÍDIO, NEGAÇÃO ILUSÓRIA DA VONTADE.
A morte não é o fim do sofrimento.
A morte não é a aniquilação, e de um ponto de vista fenomenal, a vontade de viver com o ato do suicídio. O que diminui, talvez, é sua força de objetivação. “Quando, num sonho sofrido e espantoso, a angústia atinge seu ponto culminante, ela própria nos desperta, e todos os horrores da noite se esvanecem. A mesma coisa acontece no sonho da vida, quando a ansiedade atinge seu grau máximo, nos impulsiona a cortar o seu fio”. (idem2, p.194). Isso nos mostra que a morte não uma escapatória, pois ao despertar do sonho da vida de novo nos tornamos a vontade, cujo desejo é viver. O querer-viver não pode ser destruído fisicamente, porque ele próprio não é físico. 
O suicídio prolongado, o suicida não se dando por satisfeito em pôr fim a sua pessoa, põe fim a sua progenitura. Imagina que dessa forma irá suprimir em um só golpe o fenômeno e a sua essência; tem-se em mente que irá poupar do suplício da existência, tanto a si mesmo quanto a seus filhos. 
SUICÍDIO, ÓBSTACULO À REDENÇÃO.
O bem absoluto consiste na negação da vontade.
Primeiro que o bem é algo relativo, nunca se chegará a um acordo geral sobre o termo. “Estamos condenados a querer, sem poder satisfazer nossa vontade; daí um perpétuo sofrimento, entrecortado por alguns momentos de tédio”, visão trágica do mundo, segundo Schopenhauer. Para além desse breve repouso da vontade que é o tédio, pode-se haver a negação radical da vontade, salvando-o do suicídio (summun bonum). 
O próprio homem poderá salvar-se, caso ele entenda que só será possível através de sua negação da vontade; diz-se que a vontade há de se suicidar por intermédio do homem. O homem é o único libertador, a porta do nada. 
Para que a vontade possa negar-se é preciso que haja uma castidade, pois ela é a expressão da vontade em nós. “Pela palavra ascetismo [...] entendo propriamente aquela aniquilação refletida do querer que se obtém pela renúncia aos prazeres e pela busca do sofrimento; uma penitência voluntária, uma espécie de punição infligida a si para chegar a incessante mortificação da vontade”. (Schopenhauer 1, p.491-2). 
DIFERENÇAS COM AS CONDENAÇÕES TRADICIONAIS.
O suicídio é injusto?
“Desde que uma ação não caia na falta [...] de invadir o domínio que se afirma a vontade de outrem, com vistas a negá-la, ela não é injusta”. (idem1, p.187). Cada um tem um direito incontestável sobre sua própria pessoa e sobre sua vida. Talvez possa haver certa indiferença, pois deixaria de lado as pessoas que precisam de você, mas para Schopenhauer ser indiferente não é o mesmo que ser injusto. 
O suicídio deve ser punido?
É sem lógica você querer punir um suicida, pois nada irá assustar ele. As punições não devem ser após o erro, e sim para que eles não sejam cometidos. A punição aplicada a um suicidófilo era um enterro vergonhoso e o confisco dos bens; então ele poderia temer por sua família que seria desonrada e aniquilar essa vontade. Schopenhauer tinha em vista que “se a tentativa de suicídio é punida, o que se pune é a falta de habilidade que o fez fracassar”. 
De certo ponto de vista, o suicídio poderia ser visto de forma positiva. É “reconfortante” saber que caso você sente uma dor insuportável e não consegue lidar com aquilo, há outros meios para se esquivardesse problema. “A morte é para nós, um refúgio demasiado necessário, para que nós deixássemos levar pelos meros atos da autoridade do padre”. (idem 2, p.188). 
O SUICÍDIO POSITIVO.
Um homem, em presença de uma grave iniquidade, por ele sofrida ou da qual foi simples testemunha, ser tomado por uma indignação bastante profunda a ponto de abandonar sua vida, à sangue frio sem reservar um meio de salvação”. (id., ibid., p.451). Nisso se ver a intenção de produzir um efeito no futuro, servindo de exemplo; não há interesse pessoal (perde a sua vida), e nem interesse da sociedade em buscar garantir a segurança mediante leis. 
 
FREDRICH NIETZSCHE
A LIBERDADE PARA A MORTE.
Para Nietzsche há duas maneiras de mortes que são opostas: há a “morte covarde” e/ou “não livre”; e há a “morte voluntária” e/ou “liberdade para a morte”. 
A morte covarde.
Ela é designada como a experiência da morte como “acaso”, o efeito imediato é querer morrer. A falta de longevidade é suficiente para abandonar a mesma (pregadores da morte). A esperança dos cristãos ou dos pregadores da morte, é que a renúncia dessa vida “assaltada” pela morte abra caminho para uma outra vida, uma “vida eterna”. 
Há uma interpretação do tempo como o pai que devora seus próprios filhos (ladrão que rouba a vida). 
A causa do sofrimento do homem é a capacidade de recorda-se do “foi assim”; quando a vontade não pode querer para trás. O “foi assim” não especifica o tempo, ele é uma totalidade (passado, presente e futuro). Ele frustra a liberdade da vontade, que nada pode fazer sobre aquilo que sempre “não é mais”. A morte não “livre” deve ser uma consequência lógica da vontade cativa diante do tempo que passa, pois é somente assim que a morte parece ser um acidente que assalta o homem. 
Para Nietzsche, a “morte voluntária” é aquela que vem no “tempo certo” porque “eu quero”. O adepto da morte voluntária quer a morte para afirmar a si mesmo. Não aceita a ideia de a morte é algo que estranho que vai roubar-lhe a vida, porque sempre será “minha morte”, algo intrínseco amo meu próprio ser. Para ele, quando não é mais possível viver “orgulhosamente”, deve-se optar por “morrer orgulhosamente”, e não continuar vivendo de forma indecente na dependência de alguém e/ou algo. 
A morte que rouba, violenta, ataca, frustra, limita, etc., é um sistema mórbido do homem cujo tempo é aquele do pai que devora seus próprios filhos. Com a adesão à eternidade do instante, passamos a ser completos e a morte nunca chega.

Outros materiais