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MACROECONOMIA II AULA 7 – MODELO “KEYNESIANO” SIMPLES P/ ECONOMIAS ABERTAS 14. Política Econômica Ideal de política econômica → obter simultaneamente: Equilíbrio interno: pleno emprego sem inflação e com orçamento equilibrado (a pleno emprego) → economia sob a reta Qp (produção potencial); Equilíbrio externo: no ponto Qp deve haver equilíbrio em transações correntes (STC = 0), pois em caso contrário: Se permanentemente STC < 0 → PEL > 0 → PEL cada vez mais elevado (país cada vez mais endividado) → eventualmente os credores se recusarão a emprestar ou aplicar dinheiro no país por considerá-lo muito arriscado → haverá então uma crise cambial (incapacidade de manutenção da taxa de câmbio em seus níveis anteriores devido ao esgotamento de reservas internacionais); Se permanentemente STC > 0 → PEL > 0 → PEL cada vez mais negativo (país cada vez mais credor); segundo a teoria ortodoxa, haveria um desequilíbrio também porque o país estaria acumulando recursos que poderia usar para aumentar seu bem-estar interno; Poderia ainda haver pressão política dos países que se considerassem prejudicados; Mas CUIDADO: Vimos em Macro 2 que não era possível simplesmente verificando se um país tinha déficit ou superávit no orçamento do governo afirmar se a política fiscal STC0 = 0 Qp D0 Função demanda agregada (D) 45o Equilíbrio interno D = Q = Qp D Qp Q Função STC STC Q Equilíbrio externo STC = 0 Equilíbrio interno e externo simultâneos estava sendo excessivamente contracionista ou expansionista; era preciso verificar se a reta orçamentária cruzava o eixo X no ponto Qp; Do mesmo modo, a simples observação do nível do STC (superavitário ou deficitário) em qualquer nível de produção não torna possível afirmar se o país está em seu equilíbrio interno e externo de longo prazo (e portanto se sua taxa de câmbio real está em equilíbrio de longo prazo); Portanto, o critério correto é para fazer tal avaliação é: Quando a função STC corta o eixo X no ponto Qp há equilíbrio externo de longo prazo → a taxa de câmbio real encontra-se exatamente em seu valor de equilíbrio externo de longo prazo (dados os valores dos demais parâmetros da função); Quando a função STC corta o eixo X abaixo do ponto Qp há desequilíbrio externo de longo prazo (STC seria < 0 no ponto Qp) → a taxa de câmbio real encontra-se abaixo de seu nível de equilíbrio de longo prazo (excessivamente valorizada); Quando a função STC corta o eixo X acima do ponto Qp há desequilíbrio externo de longo prazo (STC seria > 0 no ponto Qp) → a taxa de câmbio real encontra-se acima de seu nível de equilíbrio de longo prazo (excessivamente desvalorizada). Neste modelo, portanto, apenas por coincidência as funções estarão perfeitamente alinhadas de forma a gerar este equilíbrio simultâneo. Não há neste modelo nenhum mecanismo automático de mercado que garanta o equilíbrio do STC (e portanto da taxa de câmbio real) em seus níveis de longo prazo. Tais mecanismos automáticos de mercado, porém, estão presentes em modelos mais avançados. Por exemplo, na situação do gráfico abaixo as economias enfrentam ao mesmo tempo desemprego (desequilíbrio interno) e déficit em transações correntes (desequilíbrio externo). Q0 Q0 STC0 D 45o D Qp Q STC Q Qp Como reequilibrar a economia tanto interna quanto externamente? Políticas expansionistas (por exemplo, fiscais) podem elevar os níveis de produção/ renda real até Qp, mas elevam as importações e portanto o déficit em transações correntes – maior desequilíbrio externo. DILEMA: O uso de políticas expansionistas para reequilibrar a economia internamente pode desequilibrá-la externamente. SOLUÇÃO: combinar políticas expansionistas com outras políticas (chamadas “políticas de mudança de composição da demanda”) que desloquem também a posição da função STC. No caso do gráfico, por exemplo: Desvalorizar a taxa de câmbio nominal – com preços fixos, gera desvalorização real da taxa de câmbio e ganho de competitividade dos produtos nacionais em relação aos estrangeiros, aumentando as exportações e diminuindo as importações, ao favorecer sua substituição pelos produtos nacionais mais baratos; Aumentar o protecionismo (o que aumenta T ), isto é, erigir barreiras tarifárias e/ou não-tarifárias às importações – o que promove a substituição de importações pela produção nacional; Reduzir da renda líquida enviada ao exterior RLE, mediante limitação dos dividendos remetidos pelas multinacionais e/ou moratória; “Esperar” que o PIB real do resto do mundo Q* cresça o suficiente. Obs.: tais políticas também deslocam a função de demanda agregada para cima; portanto, a política expansionista deve ser menos expansiva que no caso da economia fechada (ou, talvez, até precise ser contracionista!), senão levará a economia para além de Qp. É interessante pensar sempre primeiro na política que ajusta o STC via deslocamento da função STC, verificando-se o impacto sobre o nível de STC1 Qp Q0 Q0 STC0 D0(G0; 0) 45o D Qp Q STC Q D1(G ou↓G) STC0(0) STC1() produção; se este ainda ficar aquém Qp, será necessário usar uma política expansionista para fazer Q=Qp; caso contrário, uma política contracionista deverá ser empregada. 15. Efeito transbordamento e efeito repercussão Efeito Transbordamento: Política macroeconômica expansionista (monetária e/ou fiscal) em um país aumenta sua renda aumentam suas importações aumentam as exportações dos parceiros comerciais efeito expansionista sobre a renda desses parceiros; e vice-versa; Ex. 1: O governo dos EUA faz uma política monetária expansionista a economia (renda, produção, emprego) estadunidense se expande aumentam as importações estadunidenses de seus parceiros comerciais aumentam as exportações brasileiras para os EUA aumenta a demanda pelos produtos nacionais caem estoques aumentam produção, renda e emprego no Brasil efeito multiplicador nova queda de estoques etc... Interdependência difícil circunscrever efeitos das políticas; mas outras políticas podem ser colocadas em prática para reverter este efeito! Efeito Repercussão: Consequência do efeito transbordamento; volta dos efeitos (em menor escala) para o país que originou o efeito transbordamento; Ex. 1: a expansão da economia brasileira aumenta as importações aumentam as exportações dos EUA para o Brasil a economia dos EUA se aquece mais, e assim sucessivamente. 16. Solução matemática Dados: A = 50; T = -5; c = 0,75; R = 10; RLE = 10; t = 0,25; m = 0,1; x = 0,1; Q* = 100; s = 2; = 10. 1o passo: calcular Qeq = m)t1(c1 s*xQ)RLER(cTA = 1,0)25,01(75,01 10*2100*1,0)1010(75,0550 = 5375,0 75 139,53; 2o passo: usar Qeq para calcular STC: STC = T + xQ* – mQ + s – RLE = -5 + 0,1*100 – 0,1*139,53 +2*10 - 10 + 1,047 (superávit em transações correntes → PEL diminuindo). 17. Conclusão Principais limitações: Aplicabilidade limitada ao caso do regime de câmbio fixo; Função investimento; Ausência de taxa de juros/política monetária; Ausência de tratamento da contade capitais e financeira e, consequentemente, do impacto do SBP sobre as reservas internacionais; Hipótese de que os preços não se alteram em resposta a uma alteração da taxa de câmbio nominal é altamente implausível; Outras limitações apontadas por heterodoxos: Hipótese de que um superávit em STC seja uma situação de desequilíbrio insustentável muito questionável: países superavitários não parecem interessados em reduzir seus superávits; o A economia mundial seria marcada então por uma assimetria: países têm incentivos para evitar déficits, mas não superávits em STC; o Ocorre, porém, que o mundo como um todo é uma economia fechada, de modo que é impossível que todos os países em conjunto tenham superávit ou déficit em STC; o Na soma dos países, STC = 0 (o superávit de um país implica necessariamente um déficit em outro); o Assim, com todos os países colocando em prática políticas para reduzir seus déficits e nenhum para reduzir superávits: A economia mundial apresentará um viés recessivo, se os países deficitários tentarem evitar déficits em STC mediante políticas contracionistas (já que os superavitários não tentam colocar políticas expansionistas em prática para reduzir seus superávits); OU Se os países deficitários tentarem reduzir os déficits em STC mediante desvalorizações cambiais e/ou aumento do protecionismo doméstico, enquanto os superavitários tentarem evitar a redução de seus superávits em STC através da retaliação de tais políticas, então a economia mundial apresentará uma tendência a desenvolver políticas mercantilistas, que causam “prejuízos aos vizinhos” (beggar thy neighbour). Keynes fez propostas de política econômica que visavam criar mecanismos para eliminar este viés, obrigando os países a reduzirem seus superávits. o União de compensação internacional → banco central mundial reciclaria tais superávits, emprestando-os automaticamente aos deficitários.
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