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A Escola Austríaca e seus membros

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A ESCOLA AUSTRÍACA DE ECONOMIA E SEUS PRINCIPAIS MEMBROS
A Escola de Salamanca, o século de ouro espanhol (1512 – 1624)
Berço da economia, formada por dominicanos e jesuítas, professores de moral e teologia (Escolástica¹);
Iniciou a visão austríaca da economia (moeda, inflação, preços, valores);
Membros: Diego de Covarrubias, Luis Saraiva de la Calle, Martin Azpicuelta, Juan de Lugo, Juan de Salas, Castilho de Bobadilla, Juan de Mariana;
Teoria subjetiva do valor:
“O valor de um produto não depende de sua natureza ou essência, mas da avaliação subjetiva do homem, ainda que tola”
Descoberta da relação correta entre preços e custos:
“O preço justo nasce da abundância ou da falta de mercadorias e não dos custos do trabalho”
A natureza dinâmica do mercado e a impossibilidade de alcançar um modelo de equilíbrio:
“Um equilíbrio depende de tantas circunstâncias específicas que só Deus sabe”
O conceito dinâmico de concorrência entendida como um processo de rivalidade:
“(...) preços caem pela rivalidade da competição entre os comerciantes”
O efeito distorcivo que a inflação tem sobre a economia real:
“(...) constitui roubo qualquer tipo de diluição da moeda pelos governantes”
A impossibilidade de organizar a sociedade através de ordens compulsivas, por falta de informação necessária para dar um conteúdo coordenador às mesmas:
“A informação é dispersa e subjetiva, e não deve centralizá-la sob pena de a ordem social perder solidez” 
Em suma, os escolásticos espanhóis do século de ouro foram já capazes de articular o que depois viriam a ser os princípios mais importantes da Escola Austríaca de Economia.²
¹ Pensamento cristão da Idade Média, baseado na tentativa de conciliar a filosofia grega e a doutrina religiosa.
² Para compreender a influência dos escolásticos espanhóis sobre o posterior desenvolvimento da Escola Austríaca de Economia, é preciso recordar que, no século XVI, o imperador e rei da Espanha, Carlos V enviou seu irmão Fernando I para ser rei da Áustria. É assim, fácil compreender a origem da influência intelectual dos escolásticos espanhóis sobre a Escola Austríaca, e que não foi uma simples coincidência, mas sim um produto de íntimas relações históricas, políticas e culturais que se desenvolveram entre a Espanha e a Áustria a partir do século XVI.
Carl Menger, e a teoria do valor subjetivo (1840 – 1921)
Menger foi o fundador da Escola Austríaca de economia. Ele foi o primeiro a demonstrar que o valor de qualquer bem ou serviço é subjetivo, o que levou à revolução marginalista³ na economia, aposentando a teoria clássica do valor-trabalho.
Marx dizia que o valor de uma mercadoria depende diretamente da quantidade total de trabalho utilizada em sua produção. Se a quantidade de trabalho exigida para a construção de uma bicicleta for a mesma exigida para a fabricação de um bolo, então o valor de mercado da bicicleta será o mesmo que o do bolo.
Já Menger explicou que o valor de um bem não deriva da quantidade de trabalho despendida em sua fabricação. Um homem pode gastar centenas de horas fazendo sorvetes de lama, mas se ninguém atribuir qualquer serventia a estes sorvetes de lama — e, portanto, não os valorizar o suficiente para pagar alguma coisa por eles —, então tais produtos não têm nenhum valor, não obstante as centenas de horas gastas em sua fabricação.
Assim como a beleza, o valor está nos olhos de quem vê. O valor de um bem é subjetivo: depende do uso e do grau de importância pessoal (subjetiva) que alguém confere a esse bem (seja ele uma mercadoria ou um serviço).  Se o bem servir para algum fim ou propósito, então terá valor para ao menos uma pessoa.
Nenhum objeto, seja um pão ou uma casa, possui um valor econômico intrínseco.  Ao contrário: somente uma mente humana pode atribuir valor a estes itens. 
Portanto, e ao contrário do que diz a teoria marxista, bens e serviços não têm valor por causa da "quantidade de trabalho" consumida em sua produção. Já uma determinada habilidade de trabalho pode ter grande valor caso seja considerada útil (como um meio produtivo) para se alcançar um objetivo que alguém tem em mente.
Consta que Menger teria enviado sua obra para Marx, que então teria desistido de publicar os volumes seguintes de O Capital4, visto que toda a base de sua teoria havia desmoronado com a revelação da verdadeira origem do valor.
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3 Podemos definir o conceito de Utilidade Marginal com o seguinte exemplo:
 Se um indivíduo possui cinco carros idênticos, os quais satisfazem completamente todos os seus desejos, então o valor de cada carro será determinado pela importância que esse indivíduo atribui a eles (supomos que haja um ranking de preferências pelos carros, e que o quinto carro é o menos importante para ele). Assim, se ele, por exemplo, perder o quinto carro, o valor de um carro aumentaria de acordo com a satisfação que ele agora tira do quarto carro no seu ranking de importância. Caso ele perdesse quatro carros, ficando com apenas um, o valor desse único carro restante aumentaria enormemente, e o indivíduo agora passaria a valorizá-lo de acordo com a importância que esse único carro tem para ele na satisfação de todos os seus afazeres diários. Por outro lado, caso ele ganhasse num sorteio 100 carros iguais, então a utilidade marginal e o valor de cada carro agora seria de zero, pois a satisfação de todos os seus desejos automobilísticos não dependeria da posse de um centésimo carro -- aliás, não dependeria nem mesmo de um sexto carro.
4 O livro “O Capital” de Karl Marx foi divido em três volumes, no entanto, Marx publicou apenas o primeiro, os outros dois foram finalizados após sua morte pelo seu amigo Friedrich Engels.
Eugen Böhm-Bawerk, e a preferência temporal (1851 – 1914)
Aluno de Menger e seu principal sucessor, Böhm-Bawerk foi quem antes de todos, refutou a famosa teoria da mais-valia de Marx.
O capitalista remunera o trabalhador com $100, esse trabalhador gera mercadorias, e essas mercadorias são vendidas por $120. Segundo Marx, esse lucro de $20 só foi possível de ocorrer porque houve uma parte do trabalho que não foi remunerada pelo capitalista.
Essa diferença seria justamente a mais-valia, que é a mensuração exata da "exploração da mão-de-obra do trabalhar" — ou seja, o trabalhador prestou um serviço para o capitalista e não obteve a devida remuneração.
O que há de errado com essa teoria da exploração de Marx é que ele não compreende o fenômeno da preferência temporal, explicado por Böhm-Bawerk.
Você realmente acredita que ter $1.000 hoje é o mesmo que ter $1.000 apenas daqui a 5 anos (e assumindo zero de inflação de preços), mesmo que ambos os valores contenham o mesmo tempo de trabalho?
Pois é exatamente esse o raciocínio por trás de toda a análise marxista da exploração.
Os capitalistas adiantam bens presentes (salários) aos trabalhadores em troca de receber — somente quando o processo de produção estiver finalizado — bens futuros (lucros). Existe necessariamente uma diferença de valor entre os bens presentes dos quais os capitalistas abrem mão (seu capital investido na forma de salários e maquinário) e os bens futuros que eles receberão (se é que receberão).
Os capitalistas, ao adiantarem seu capital e sua poupança para todos os seus fatores de produção (pagando os salários da mão-de-obra e comprando maquinário), esperam ser remunerados pelo tempo de espera e pelo risco assumido. Por outro lado, os trabalhadores, ao receberem seu salário no presente, estão trocando a incerteza do futuro pelo conforto da certeza do presente.
Os trabalhadores que os capitalistas empregam não precisam esperar até que os bens sejam produzidos e realmente vendidos para receberem seus salários.  O empregador "adianta" aos trabalhadores o valor de seus serviços enquanto o processo de produção ainda está em andamento, precisamente para aliviar seus empregados de terem de esperar até que as receitas da venda dos produtos aos consumidores sejam recebidas no futuro.
Arelação trabalhista, portanto, é apenas uma relação de troca entre bens presentes (o capital e a poupança do capitalista) por bens futuros (bens que serão produzidos pelos trabalhadores e pelo maquinário utilizado, mas que só estarão disponíveis no futuro).
Sem o empreendedor e o capitalista para organizar, financiar e dirigir o empreendimento, seus empregados não teriam trabalho e nem receberiam salários antes que um único produto fosse fabricado e vendido.
Ludwig von Mises, e a impossibilidade do cálculo econômico no socialismo
Bem antes de Mises atacar as bases teóricas do socialismo, socialistas e não-socialistas já haviam percebido que o socialismo sofria de um grave problema de incentivos.
Se, por exemplo, todos os indivíduos em um sistema socialista fossem receber uma mesma renda — ou, em sua variante, se todos fossem produzir "de acordo com suas capacidades", mas recebessem "de acordo com suas necessidades" —, então, parodiando aquela famosa pergunta: quem, no socialismo, fará o trabalho de recolher o lixo?  Ou seja, qual será o incentivo para se efetuar os trabalhos sujos?  Mais ainda, quem fará esses trabalhos?  Ainda pior: qual será o incentivo5 para se trabalhar duro e ser produtivo em qualquer emprego?
No entanto, a singularidade e a crucial importância do desafio lançado por Mises aos defensores do socialismo é que seu argumento estava totalmente dissociado desse problema do incentivo.  Mises, com efeito, disse: muito bem, vamos supor que os socialistas tenham sido capazes de criar um poderoso exército de cidadãos genuinamente ávidos para seguir todas as ordens de seus mestres, os planejadores socialistas. 
Fica a pergunta: o que exatamente esses planejadores mandariam esse exército fazer?  Como eles saberiam quais produtos deveriam produzir?  Em qual etapa da cadeia produtiva cada um deveria trabalhar?  Quanto de cada produto deve ser produzido?  Quais técnicas devem ser utilizadas na produção como um todo?  Onde especificamente fazer toda essa produção?  Como eles saberiam seus custos operacionais ou qual processo de produção é mais eficiente?
O comitê de planejamento central não tinha como responder a essas perguntas, pois o socialismo não dispõe daquela indispensável ferramenta que só existe em uma economia de mercado, e a qual empreendedores utilizam para fazer cálculos e estimativas: existência de preços livremente definidos no mercado.
Mises atentou para o fato de que sem propriedade privada dos meios de produção não há como estabelecer preços no mercado.  Se os meios de produção (fábricas, máquinas e ferramentas) não possuem proprietários definidos (eles pertencem ao estado), então não há um genuíno mercado entre eles.  Se não há um mercado entre eles, é impossível haver a formação de preços.  Se não há formação de preços, não há cálculo de lucros e prejuízos e, consequentemente, não há como direcionar o uso de bens de capital para atender às mais urgentes demandas dos consumidores da maneira menos dispendiosa possível.
Sem preços livres, e sem poder fazer cálculo de custos, é impossível haver qualquer racionalidade econômica, o que significa que uma economia planejada é, paradoxalmente, impossível de ser planejada.
Sendo assim, as decisões do comitê central necessariamente teriam de ser completamente arbitrárias e caóticas.  Caso seja aplicado, o socialismo resultará invariavelmente em uma irracional alocação de recursos na economia devido ao estabelecimento artificial e arbitrário de preços pela autoridade governamental, culminando em escassez generalizada de bens.
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5 Ver exemplo do CEO da Gravity Payments.
Friedrich Hayek, e a ordem espontânea do mercado (1899 – 1992)
Por sua vez, o prêmio Nobel5 em economia Friedrich Hayek demonstrou que, no mundo real, a informação está dispersa entre uma imensidão de indivíduos. 
Por isso, somente os indivíduos que possuem esses fragmentos de informação podem estabelecer uma ordem de mercado espontânea e descentralizada capaz de suprir as demandas existentes de maneira eficaz, criando um sistema de preços que coordena as ações individuais das pessoas na sociedade.
Por exemplo, apenas o proprietário de uma fábrica em Cornélio Procópio pode saber de detalhes muito específicos sobre sua linha de produção; é impossível que os planejadores centrais em Brasília tenham esse mesmo conhecimento. E é impossível que, não sabendo destes detalhes, eles possam planejar "eficientemente" a economia, direcionando, por meio de decretos, os recursos e os fatores de produção do país para as finalidades que julgam ser as mais desejadas. Tentar estabelecer um planejamento central econômico seria não só uma atitude presunçosa, mas extremamente danosa à sociedade, pois impossibilitaria que aqueles que possuem de fato as informações fizessem o melhor uso das mesmas.
De acordo com Hayek, e pelas mesmas razões de que o socialismo é uma impossibilidade lógica e um erro intelectual, as instituições mais importantes para a vida em sociedade (morais, jurídicas, lingüísticas e econômicas) não foram criadas propositalmente por ninguém. Essas instituições são resultados de um longo processo de evolução no qual milhões de seres humanos de diversas gerações foram colocando, cada um deles, o seu “grão de areia” de experiências, conhecimentos etc.,originando dessa forma uma série de pautas repetitivas de comportamento (instituições) que, por um lado, surgem do próprio processo de interação social e, por outro, o tornam possível.
Hayek argumentou também que o sistema de preços em uma economia de mercado pode ser visto como um gigante "sistema de telecomunicações", o qual rapidamente transmite os fragmentos essenciais do conhecimento de um ponto localizado até outro.  Tal arranjo de "rede" só funciona bem se não for prejudicado por uma hierarquia burocrática, através da qual cada fragmento de informação teria de fluir até o topo da cadeia de comando, ser processado pelos planejadores centrais, e então fluir de volta até os subordinados.
Por tudo isso, é impossível que o órgão planejador encarregado de exercer a coerção para coordenar a sociedade obtenha todas as informações de que necessita para fornecer um conteúdo coordenador às suas ordens.  O planejador da economia teria de receber um fluxo permanente e crescente de informação, de conhecimento e de dados para que seu pudesse organizar a sociedade de forma eficiente.
Só que é obviamente impossível uma mente ou mesmo várias mentes obterem e processarem todas as informações que estão dispersas na economia.  As interações diárias entre milhões de indivíduos produzem uma multiplicidade de informações que são impossíveis de serem apreendidas e processadas por apenas um seleto grupo de seres humanos.
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5 Prêmio Nobel de 1974, "por seu trabalho pioneiro na teoria da moeda e flutuações econômicas e pela análise penetrante da interdependência dos fenômenos econômicos, sociais e institucionais"
Referências
Escola Austríaca
http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=30 
A importância dos pós-escolásticos para a Escola Austríaca
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1694 
A Escola Austríaca e a refutação cabal do socialismo
http://mises.org.br/Article.aspx?id=1386 
Os principais membros da Escola Austríaca
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2348

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