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ARTIGO DE OPINIÃO GLÁUCIA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE LETRAS
GOIÂNIA, 03 DE DEZEMBRO DE 2013.
DISCIPLINA: ESTUDOS SOBRE LETRAMENTO
PROFESSORA: GLÁUCIA VIEIRA CÂNDIDO
ALUNA: MARIA CÍCERA MORAES DA SILVA
ARTIGO DE OPINIÃO
OS DESAFIOS DO LETRAMENTO A PARTIR DA ORALIDADE E DA ESCRITA COMO INTERAÇÃO SOCIAL
Maria Cícera Moraes da Silva
O letramento conforme Street (1988) deve ser olhado em todas as culturas como forma de interação social. O autor observa ainda que as restrições sobre o letramento vão além do próprio letramento, podendo também ser visto como lugar de negociação ou de transformação. Nesse sentido, a alfabetização de acordo com Paulo Freire, é eventualmente uma forma de transformar o mundo e, possivelmente através da nossa criticidade e na análise das práticas sociais, compreendendo também que deve haver uma importância maior em relação à prática da leitura e da escrita.
Segundo Soares (1998), o letramento é o modo ao qual o indivíduo se insere as práticas sociais, envolvendo-se ao seu contexto social. Kleiman (1991) compartilha com outros autores (Scribner e Cole, 1981) os conceitos de letramento que definem o letramento como um conjunto de práticas sociais da escrita num contexto específico que colocam essas práticas dentro do contexto escolar e, sendo os sujeitos classificados como alfabetizados e não-alfabetizados. Por isso, ficam à mercê de uma prática de letramento dominante. Seguindo o conceito de Magda Soares ao definir alfabetismo Rojo (2009), observa que ele é bastante complexo e sócio-historicamente determinado. A autora afirma que o alfabetismo é necessariamente o ato de conhecer e compreender o que envolve a leitura e a escrita.
Dessa forma explicita:
 “Por essas razões é que os testes, exames e medidas de alfabetismo estabelecem níveis de alfabetismo, como veremos. Importante notar que o foco do conceito de alfabetismo está no conhecimento, nas capacidades envolvidas na leitura e na escrita. É, portanto, um conceito de natureza, sobretudo psicológica e de escopo individual- investigamos os níveis de alfabetismo dos indivíduos de determinada população”. (ROJO, 2009, p.45).
Com base nas pesquisas do INAF (Indicador de Alfabetismo Funcional), só é considerado alfabeto funcional o indivíduo que é capaz de acessar e processar informações escritas como ferramenta para enfrentar as demandas cotidianas.
Braggio (1992) faz uma reflexão dos vários modelos de leitura e escrita como um redimensionamento sociopsicolinguístico, apropriando-se da linguagem escrita para assim, colocar o leitor como crítico em suas diferentes práticas sociais.
Neste sentido, a autora analisa outros autores que defendem a linguagem de uma maneira concreta. Bakhtin, Vygotzky, Luria e Paulo Freire a examinam desde a sua aquisição até o seu contexto sócio-histórico-cultural.
Ao abordar a autoria, a escrita e a oralidade Tfouni (2010), propõe observar uma pessoa analfabeta como autores, conscientes do que falam e fazem. Analisando o filme “Maioria Absoluta” (1964) de Leon Hirsman, retrata a história de pessoas analfabetas que, vão em busca de uma perspectiva de vida melhor.
O filme Maioria Absoluta, apresenta sujeitos analfabetos sem voz democrática (o autor traz dados de que analfabetos mesmo sendo maiores de 18 anos não tinham direito ao voto), o que para os sujeitos, o ato de votar mudaria sua condição vida. Assim como o filme Vida Maria, que além da questão econômica, traz em voga a contradição da condição social feminina, analfabeta no sertão nordestino, sem melhores oportunidades de mudança na condição em que vivem, mas dotadas do desejo de dominarem o código escrito. Porém no filme Maioria Absoluta, nos leva a perceber, que esta exclusão na qual viviam, destacamos aqui condições econômicas miseráveis, não impediam de fazer uma leitura do mundo que vivia e no qual queriam passar a viver, tal percepção é sustentada pelo contexto e fazem presentes no seu discurso oral. Mesmo sem dominar o discurso escrito são capazes de questionar a realidade, pensando em mudanças, desta forma estes argumentos são e estão presentes em suas falas. A condição de analfabetos não os impedem de mostrar que são letrados, porém não dominam o código. Assim como Tfouni, o filme nos apresenta sujeitos produtores de linguagem que não sabem ler nem escrever, são autores, assim como o Senhor Manoel Batata, que dependem do domínio do código através de outra pessoa, nos levando a percebê-lo como um autor, que domina somente o discurso oral, autor de memória, com lógica e raciocínio, capaz de defender suas idéias, mas não se reconhecer nas letras que as representam. De acordo com INAF podemos percebê-lo como alfabeto funcional. Já os sujeitos do Filme: Maioria Absoluta pode ser percebida como letrados, porém não alfabetizados. A nosso ver está presente na obra uma crítica quanto ao papel da escola na década de 60, tanto é que o filme ficou sob censura até meados dos anos 80. A escola como maior responsável pelo discurso escrito, trazia meras repetições sem contextualização, repressora de idéias e conceitos.
 Deve trazer um contexto no qual possibilite uma percepção da realidade, essa percepção crítico-reflexiva apresentada pelos personagens. Defendida por Tfouni então ressaltamos que os indivíduos de uma sociedade letrada dominam o discurso oral mesmo desconhecendo o discurso escrito.
Ao analisarmos as realidades presentes em vida Maria e Maioria Absoluta pode-se fazer um paralelo quanto à importância dada nos discursos orais e escrito, como ambos são percebidos ou não, como fatores que contribuem para uma mudança na condição de vida dos personagens. Nossa reflexão se dá a partir da fala dos sujeitos: Maria Aparecida mãe de Maria José.
_Vai menina, vai procurar o que fazer. Fica aí só desenhando o nome.
Percebemos neste momento que embora se trate de uma tentativa de um mesmo texto, ou seja, o seu próprio nome, cada folha traz um pouco da individualidade de cada uma. Porém não as tira da condição de analfabetas funcionais, que no Brasil, considerando analfabetos, segundo dados do INAF, de 1964, até a atualidade esse quadro vem decaindo. Saindo de um nível de analfabetismo absoluto para um nível básico de leitura e matemática. O que nos leva a concluir segundo os dados do INAF, 2011. Partindo da realidade apresentada no filme: Maioria Absoluta de 40 milhões de analfabetos, sendo 25 milhões entre 18 e 44 anos, comparando dados de 2011 que evidenciam maior número de pessoas escolarizadas, porém com baixa qualidade de aprendizagem ou quedas quanto ao qualitativo e aumento do qualitativo, considerando os níveis de alfabetização. 
 De acordo com a análise dos gráficos compreendemos que: em 2001 apenas 61 % da população era alfabetizada funcionalmente e em 2011 houve aumento de 73% da população que domina plenamente as habilidades de leitura, escrita e matemática.
	Tabela I
Evolução do Indicador de Alfabetismo Funcional 
População de 15 a 64 anos (em %)      
	 
	 2001-2002
	2002-2003 
	2003-2004 
	2004-2005 
	2007 
	2009 
	 2011-2012
	Analfabeto
	 12
	13
	12
	11
	9
	7
	 6
	Rudimentar
	 27
	26
	26
	26
	25
	21
	 21
	Básico
	 34
	36
	37
	38
	38
	47
	 47
	Pleno
	 26
	25
	25
	26
	28
	25
	 26
	Analfabetos funcionais  (Analfabeto e Rudimentar)
	 39
	39 
	38 
	37 
	34 
	27 
	 27
	Alfabetizados funcionalmente  (Básico e Pleno)
	 61
	 61
	 62
	 63
	 66
	 73
	 73
	 base
	2002
	2002
	2002 
	2002 
	2002 
	2002 
	2002 
Fonte: INAF BRASIL 2001 a 2011
	Tabela II
Escolaridade da população de 15 a 64 anos no Brasil / IBGE
	Escolaridade
	 Censo
	PNAD
	Sem escolaridade
	10%
	10.866.552
	9%
	11.766.782
	Ensino Fundamental I
	30%
	32.599.65618%
	23.533.564
	Ensino Fundamental II
	28%
	30.426.345
	24%
	31.378.086
	Ensino Médio
	24%
	26.079.725
	35%
	45.759.708
	Superior
	8%
	8.693.242
	14%
	18.303.883
	TOTAL
	100%
	108.665.519
	100%
	130.742.024
Fonte: Censo Populacional IBGE 2000 e PNAD 2009
	Tabela III
Níveis de alfabetismo da população de 15 a 64 anos por escolaridade (em %)
	Níveis
	 Até Ensino
Fundamental I
	Ensino Fundamental II
	Ensino Médio
	 Ensino Superior
	
	2001-2002
	 2011 
	2001- 2002
	2011
	2001-2002
	 2011 
	2001-2002
	 2011 
	Bases
	 797
	536
	555
	476
	481
	701
	167
	 289 
	Analfabeto
	30
	21
	1
	1
	0
	0
	0 
	0
	Rudimentar
	44
	44
	26
	25
	10
	8
	2
	4
	Básico
	22
	32
	51
	59
	42
	57
	21
	34
	Pleno
	5
	3
	22
	15
	49
	35
	76
	62
	 
Alfabetizado Funcionalmente  (Analfabeto e Rudimentar)
 
	73
	65
	27
	26
	10
	8
	 2
	 4
	 
Funcionalmente Alfabetizado  (Básico e Pleno)
 
	 27
	 35
	 73
	 74
	 90
	 92
	 98
	 96
 	
Portanto, compreende-se que a alfabetização alcançaria sua função se contribuísse para formação de leitores críticos. Possibilitando-os como sujeitos aptos a compreenderem a realidade em que vivem, num ambiento sociocultural. Nesse sentido, contribuindo para a transformação, formação de habilidades e capacidade crítico e reflexiva, tornando-os capazes de serem autores e escritores de sua história e da história do coletivo do qual fazem parte.
REFERÊNCIAS:
BRAGGIO, Silvia Lucia Bigonjal. Leitura e alfabetização: da concepção mecanicista à sociopsicolinguística / Silvia Lucia Bigonjal Braggio.
INAF. Indicador Nacional de Alfabetização Funcional. 3º Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional: um diagnóstico para inclusão social pela educação. São Paulo. 2003. p. 2-16.
KLEIMAN, Angela. Os significados do letramento: Uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita / Angela Kleiman ( org.). – Campinas, SP: Mercado de Letras, 1995. 
ROJO, Roxane. Letramentos Múltiplos, escola e inclusão social./ Roxane Rojo. – SP: Parábola Editorial, 2009.
STREE. Brian. Perspectivas intercultuais sobre o letramento. (p. 465-488).
TFOUNI, Leda Verdiani. Letramento e alfabetismo: Autoria e letramento: análise das narrativas orais de ficção de uma mulher analfabeta. Leda Verdiani Tfouni. – 9. Ed. – Ed.. – São Paulo: Cortez, 2010. – (Coleções questões da nossa época; v. 15). p. 49-64.
http: // youtu.be/TWaCI6o2wTc
http: //www.youtube.com/watch?v=rcCAOUur2mg
Vida Maria, Filme de Marcio Ramos, Produção de Joelma Ramos. http: //www.youtube.com/watch?v=XhPzkCc5S M

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