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CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - BURITIS Instituto de Ciências Exatas e de Tecnologia Engenharia Química PRÁTICA DE STEFAN Professor (a): José Maria Alunos: Amanda Sousa Vieira de Paula - 11515695 Belo Horizonte 2016 2 RESUMO A transferência de massa por difusão baseia-se na diferença de potenciais químicos de duas espécies, quando existe um gradiente de concentração que fornecerá a força motriz necessária para que possa acontecer o fluxo das espécies. O coeficiente de difusividade (DAB) é um dos parâmetros mais importantes para caracterizar o fenômeno de transferência de massa por difusão molecular. O objetivo deste experimento é a determinação dos coeficientes de difusividade do acetato de etila, do tetracloreto de carbono e do álcool etílico e então compará-los com os valores encontrados na literatura. O método utilizado para determinação dos DAB experimentais é a célula de Stefan-Arnold 1. INTRODUÇÃO A transferência de massa é o processo de transporte onde existe a migração de uma ou mais espécies químicas em um dado meio, podendo esse ser sólido, líquido ou gasoso. O transporte das espécies químicas pode ser feito por dois mecanismos: difusão e/ou convecção.1 A difusão deve-se à diferença de potenciais químicos das espécies, ou seja, à diferença de concentrações entre dois locais num dado sistema. A diferença de concentração se traduz em força motriz necessária ao movimento da espécie considerada de uma região a outra. Esse processo de difusão baseia-se então em um gradiente de concentração, que fornece o potencial motriz para que ocorra um fluxo espontâneo entre as espécies. Uma espécie química move-se de áreas de alto potencial químico para áreas de baixo potencial químico, deste modo, a extensão máxima teórica de uma determinada transferência de massa é tipicamente determinada pelo ponto em que o potencial químico seja uniforme.1 Geralmente, espécies químicas distintas apresentam uma difusividade mássica diferente quando submetidas a uma mesma temperatura e pressão constantes. Entretanto, se forem alteradas constantemente as condições de pressão e temperatura para uma determinada espécie química, então terá variações em sua difusividade mássica. Normalmente a difusividade mássica é mais alta nos gases do que em substâncias líquidas e sólidas, assim como é maior nos líquidos do que nos sólidos. 3 Figura 1: Esquema representativo da difusão de dois gases Um dos parâmetros que caracterizam a transferência de massa por difusão molecular é a difusividade mássica (DAB), expressa na Primeira Lei de Fick (equação 1). Essa difusividade mássica é uma grandeza na qual representa uma constante de proporcionalidade e surgiu da derivação de expressões teóricas em função das propriedades moleculares da mistura, tabela 1, usando a teoria cinética dos gases, e pode ser definido como a mobilidade do soluto no meio, sendo governada pela interação soluto- meio. Esse parâmetro é dependente das propriedades do gás, como pressão, temperatura e concentração do sistema. O efeito da energia cinética, por exemplo, indica que quanto mais agitado o meio, melhor será a mobilidade do soluto, consequentemente, maior o DAB.2 A difusividade é melhor expressa a partir de experimentos ao invés de correlações semi-empíricas apresentadas na literatura, uma vez que essas correlações utilizam uma ampla faixa para os parâmetros. Experimentalmente, um dos métodos para a determinação do coeficiente de difusão binária em gases é o de Stefan-Arnold. Esse experimento, adaptado, consiste de um líquido volátil A confinado em uma bureta que fica em contato com ar estagnado (gás puro B), e, por essa interface, ocorre o transporte de massa pelo movimento do vapor do líquido no sentido de sua diminuição de concentração. 4 Tabela 1: Correlações semi-empíricas para o cálculo de DAB Continuando com a Primeira Lei de Fick, o fluxo (J) é definido como a quantidade de material que atravessa uma unidade de área do plano perpendicular à direção do fluxo num intervalo de tempo, e dCa/dz que é a taxa de aumento da concentração com a distância medida na direção do fluxo. O sinal negativo indica que o fluxo ocorre na direção contrária à do gradiente de concentração.3 Equação 1: 𝐽𝐴,𝑍 = − 𝐷𝐴𝐵 * dCa/dz Experimentalmente, um dos métodos para a determinação do coeficiente de difusão binária em gases é através da célula de Stefan-Arnold. Esse experimento, ilustrado na figura 2, consiste de um líquido volátil A confinado em um capilar que fica em contato com ar estagnado (gás puro B), e, por essa interface, ocorre o transporte de massa pelo movimento do vapor do líquido no sentido de sua diminuição de concentração. 5 Figura 2: Esquema da célula de Stefan-Arnold A volatilidade está ligada à facilidade que a substância tem em passar do estado líquido para o gasoso, dessa forma, substâncias mais voláteis evaporam mais facilmente. Nesse caso, a volatilidade do composto A permite que essas moléculas passem da fase líquida à fase gasosa. Dessa maneira, existe a formação de uma camada de espessura δ logo acima da superfície do líquido onde a pressão é igual à pressão de vapor de A, e onde a concentração de A na fase gasosa é máxima.2 Porém, devido a difusão, as moléculas localizadas nesse filme de espessura δ irão sofrer processo de difusão e ser transportadas para fora do mesmo, como ilustrado na figura 3. Contudo, por causa dessa saída de A do filme e devido à volatilidade do líquido, mais moléculas de A serão levadas à fase gasosa para compensar essa saída, mantendo a concentração de A no filme constante e máxima. Porém, essa constante volatilização resulta na diminuição progressiva da altura do líquido. Figura 3: Esquema representativo de uma célula de Arnold com altura variável 6 Pelo fato de ser considerado que esse filme tem uma certa espessura e a concentração de A nele ser constante, diz-se que é nessa camada que será encontrada toda a resistência à difusão. Apesar da redução da altura, como foi dito antes, as moléculas se volatilizam e mantém a concentração de A no filme constante. Com isso, o gradiente de concentração entre o filme e o resto do gás B se mantém constante ao longo do tempo, configurando assim um regime pseudo-estacionário.2 Para esse regime, pode-se se calcular o coeficiente de difusão DAB, obtido a partir de medidas da variação do nível de líquido. Equação 2: Onde, Lo = Comprimento do caminho de difusão inicial [m]; CAliq = Concentração de A no líquido [mol/m3]; y* = Fração molar de A na mistura gasosa na condição de saturação [-]; C = Concentração molar total na fase gasosa [mol/m3]; DAB = Difusividade molecular binária de A em B [m2/s]. Portanto, esperamos um comportamento linear para as curvas de t/L-L0 em função de LL0 e também a de L2-L02 em função de t. Algumas hipóteses que foram utilizadas para a determinação das equações mostradas anteriormente, devem ser consideradas para a realização do experimento: 1.Difusão unidimensional - o processo de difusão é tridimensional, entretanto, nesse caso, pode ser considerado unidimensional, uma vez que o fluxo do soluto em duas direções (eixo x e y) é tão pequeno a ponto de ser desprezado diante de uma terceira dimensão (eixo z). Isso ocorre devido ao pequeno diâmetrodo tubo capilar em relação ao seu comprimento.2 7 2.Supõe-se temperatura e pressão como constantes e, tendo como base a lei dos gases ideais, a difusividade e a concentração também podem ser consideradas constantes. 3.Meio inerte - durante a evaporação do composto, não há geração ou consumo de matéria, uma vez que o ar é inerte. Desta forma, não há reação entre o meio e os componentes. 4.Ar estagnado - considera-se a hipótese de ar estagnado, uma vez que pretende-se estudar somente o efeito difusivo de um composto no ar. Dessa forma, não deve haver fluxos de ar, pois essas acarretariam em contribuições convectivas, impossibilitando a realização do cálculo do DAB. 5.Regime pseudo-estacionário - essa hipótese permite relacionar o fluxo molar com o abaixamento do nível de líquido em relação ao tempo. Apesar dos cálculos serem válidos para o estado estacionário, a realidade é que o regime é transiente, pois a interface entre os componentes A e B não é fixa, uma vez que o componente líquido (volátil) vai evaporando fazendo com que a fronteira varie. A partir disso, o fato de que a velocidade com que a fronteira desce ser muito menor do que a difusão do componente permite supor um estado pseudo-estacionário. 6.Mistura gasosa ideal - próximo à interface líquido/gás, na fase gasosa, a concentração de A corresponde ao equilíbrio termodinâmico entre as fases. Estima-se a concentração de A pela lei de Dalton (𝑃𝑣 𝑑𝑜 í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝐴/ 𝑃 𝑡𝑜𝑡𝑎 𝑑𝑜 𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎). Considera-se que a mistura dos gases A e B tenha um comportamento ideal.4 2. MATERIAIS E MÉTODOS Conjunto difusão Termômetro Barômetro Paquímetro Relógio/Cronômetro Líquidos (P.A): Álcool-Etílico/ Acetato de Etila/ Tetracloreto de Carbono Um longo tempo após a introdução do liquido no tubo, inicia-se a medida da posição da interface em relação à extremidade superior, em função do tempo, anotando em cada medida, os valores de temperatura e pressão. As medidas foram tomadas uma vez por 8 dia. O intervalo de leitura garantia o tempo necessário para que houvesse a difusão. A temperatura ambiente também foi anotada. Para difusão de um componente A em um meio estagnado B, tem-se: Equação 3: Onde, L = distância da extremidade superior da coluna de difusão até a interface gás-liquido P = pressão T = temperatura absoluta Lo = valor de L no instante inicial MA = massa molecular Ρa = densidade do liquido DAB = difusividade do componente A em B R = constante dos gases XBL = frações molares de B na extremidade superior da coluna XBo = frações molares de B junto à interface gás-líquido θ = tempo. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES O método de Stefan-Arnold é caracterizado pelo preenchido de seu corpo capilar por líquidos voláteis até um determinado nível. Após determinado tempo, é perceptível a variação da altura do fluido na célula em questão. Durante cinco dias foram aferidas as alturas nas células de Stefan-Arnold, os resultados obtidos podem ser observados na tabela 2. 9 DIA t (h) T (C°) Alcool-Etilico Acetato de Etila Tetracloreto de carbono 21/11 20:10 22°C 9,0 cm 8,5 cm 8,0 cm 22/11 20: 15 23°C 9,5 cm 16,4 cm 11,4 cm 23/11 20:00 25°C 9,9 cm 18,9 cm 13,9 cm 24/11 20:10 24°C 10,1 cm 21,2 cm 15,3 cm 25/11 20:20 27°C 10,4 cm 23,4 cm 16,7 cm Tabela 2: Dados experimentais que mostram a variação da altura de Alcool-Etilico, Acetato de Etila e Tetracloreto de Carbono com o tempo. Com os valores obtidos foi possível a construção de um gráfico (figura 4) que relaciona a variação de altura com o tempo. 0 0,5 0,9 1,1 1,4 0 7,9 10,4 12,7 14,9 0 3,4 5,9 7,3 8,7 0 2 4 6 8 10 12 14 16 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 L - L0 (c m) t (min) L-L0 VS T Àlcool-Etilico Acetato de Etila Tetracloreto de Carbono Figura 4: Variação de altura com o tempo 10 A figura 4 nos mostra que o etanol foi a substância com menor variação durante os cinco dias. Uma possível causa deste fenômeno poder ser a diferença de características química das mesmas. O grupamento hidroxila na molécula de etanol, representa a mais forte interação intermolecular, interações de hidrogênio. Esta confere ao álcool em questão uma grande estabilidade no estado líquido, apesar de sua massa molecular relativamente baixa. Com isso, podemos dizer que este líquido possui uma baixa pressão de saturação nas condições estudadas. A difusão dos vapores dos compostos orgânicos ao longo do tudo, segue a lei de Fick. Este modelo matemático nos permite correlacionar o comprimento inicial e o comprimento em um dado instante de tempo, o que possibilita calcular uma estimativa para o valor do coeficiente de difusão 𝐷, esta correspondência é representada pela equação 2. A partir desta equação, podemos obter o 𝐷 experimental ao plotar o gráfico tendo t/ (L-L0) = f (L- L0). Estes gráficos estão demonstrados nas figuras 5, 6 e 7. 0 2890 3188,89 3927,27 4121,43 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 T/ L- L0 (M IN /C M) L-L0 (CM) ALCOOL-ETILICO Figura 5: Alcool-Etilico 11 Figura 6: Acetato de Etila Figura 7: Tetracloreto de Carbono 12 Para se determinar o D experimental, foi necessário realizar uma análise dos gráficos t/ (L-L0) = f (L-L0), levando em consideração o momento no qual a difusão dos compostos atingirá um estado pseudo-estacionário. Em seguida, foi feita uma aproximação linear do período de tempo no qual o composto permanece nesse estado, com o objetivo de obtermos o coeficiente angular da reta. A escolha deste intervalo de tempo é uma etapa crucial para o cálculo do coeficiente de difusão, tendo em vista que as diferenças das estruturas químicas das substâncias farão com que cada uma leve um tempo característico para o atingimento do estado pseudo- estacionário. Com isso, as oscilações referentes ao estado transiente refletirão no resultado final, se os pontos utilizados na aproximação abragirem um espaço de tempo demasiadamente longo, a tabela 2 nos apresenta os valores de D experimental e o L0 efetivo, ambos obtidos a partir equação 3 e das propriedades dos compostos. L0 efetivo DAB cm2/min Alcool-Etilico 3,3438 0,005915 Acetato de Etila 29,6410 0,083811 Tetracloreto de Carbono 15,9367 0,044863 Tabela 3: Valores de L0 efetivo e DAB experimental Para a realização dos cálculos teóricos, adotamos a correlação de Chapman Enskog (tabela 1). 13 A partir dessa equação obtivemos o valor teórico de DAB. Alcool-Etilico Acetato de Etila Tetracloreto de Carbono DAB (cm2/min) 0,1287 0,1001 0,1069 Erro 97,35% 16,46% 22,18% CONCLUSÃO Ao comparar os valores experimentais com os valores teóricos, percebe-se a discrepância nos resultados, que podem ser consequências de erros sistêmicos e condições de cada substância submetida a temperaturas e pressões diferentes. Assim sendo mais preciso os valores obtidos experimentalmente de acordo com cada situação e ambiente, visto que o cálculo de DAB teórico é diretamente proporcional à temperatura e que a lei de Fick não leva em consideração as forças resistivas nas paredes do tubo. Outro fator a se destacar é que esta correlação é mais utilizada para gases apolares, fazendo assim com que os resultados teóricosnão sejam tão confiáveis. Também podemos notar discrepâncias nos valores obtido para L0. No álcool-etílico o valor experimental e o valor efetivo não diferem tanto quanto nos outros solventes, onde o valor de L0 efetivo é muito maior do que o valor calculado experimentalmente, o que não é compatível, visto que claramente a altura inicial da estava no topo do tubo. O coeficiente de difusividade ainda é um parâmetro de difícil mensuração, mesmo com o aparato tecnológico disponível nos dias de hoje. Portanto, um erro acentuado entre as distintas técnicas matemáticas usadas consiste em um prognóstico dentro da normalidade. 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. INCROPERA, Frank P. Et al. Fundamentos de Transferência de Calor e Massa. USA. LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora S. A., 2008. 2. SHERWOOD, T, REID, R. The Properties of Gases and Liquids. McGraw –Hill Inc, 2nded, 1966 3. MEY P., MENDES P.R.S. Determinação do coeficiente de difusão de sais em líquidos não newtonianos pelo método método de taylor. Departamento de engenharia mecânica, Pontifica Universidade Católica do RIo de Janeiro, 2010. 4. WELTY, J. R. and Wicks C.E. & Wilson, R.E. – Fundamentos de transferência de calor e massa. John Wiley & Sons, 3ª edição , 1986. 5. Newton Paiva. Experimento 01: Prática de Stefan. Disponível em: <http://ead.newtonpaiva.br/course/view.php?id=7184> Acesso em 28 Nov. 2016.
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