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Quilombolas no Paraná

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O presente texto é uma coletânea de trechos históricos, referentes à presença negra no estado do Paraná, em seus aspectos humanos e econômicos. Ao final de cada trecho, cito a referência bibliográfica para posterior pesquisa mais detalhada, do que cada autor está explicitando. Portanto, o mesmo, é apenas um apoio didático para nosso estudo, de maneira resumida, da temática de nosso módulo.
Profª. MS. Elisangela S. de Almeida 
O NEGRO NO PARANÁ
Apesar de não ter sido tão numerosa quanto em outras regiões do Brasil, a escravidão no Paraná foi bastante significativa.
A partir de 1765 e até meados do século XIX, o território paranaense, por decisão da Coroa portuguesa, pertenceu à Comarca de São Paulo. Somente em 1853 o território do Paraná, que constituía a 5ª Comarca de São Paulo, conquistou a sua emancipação.
	Depois da Autorização Real de 14 de março de 1702, mandando conceder sesmarias, é que o Governador D. Álvaro da Silveira e Albuquerque iniciou sua prática através de um documento expedido a 16 de agosto de 1703. Os pedidos de sesmarias nos campos de Curitiba partiam, sobretudo de São Paulo, Santos e Paranaguá, sendo que, fazia-se a ocupação do solo com alguns escravos e algumas cabeças de gado.
A sesmaria cedida em 19 de março de 1704, na região do rio Iapó, ao paulista Pedro Taques de Almeida e sua família, está diretamente ligada à povoação de Castro. Uma vasta coleção de documentos do Arquivo Ultramarino Português, cujas cópias se encontram no Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense, é de interesse para o Paraná. Nela encontra-se a relação de todas as fazendas dos Campos Gerais, com os nomes de seus proprietários. As 29 fazendas relacionadas para o ano de 1772 foram distribuídas entre seis proprietários, sendo cinco deles de São Paulo e um de Paranaguá. Na relação de cada fazenda consta o numero de animais e frequentemente, o de escravos negros.
A partir do estabelecimento de uma economia de tipo rural para as regiões paranaenses ligadas às atividades da pecuária, originou-se uma espécie sociedade rural, caracterizada pelo regime de escravidão. Ainda que o trabalho escravo e o trabalho livre coexistissem, a sociedade paranaense, como todo o Brasil, foi envolvida e marcada pelo regime escravista. (SANTOS, pg.30)
O processo de ocupação negra no atual Vale do Ribeira e litoral estão articulados com o crescimento da mineração da Freguesia do Iguape, nos séculos XVIII – XVIII. Para lá se deslocavam os colonizadores em posse de africanos escravizados, principalmente de Guiné, Angola e Moçambique. A mineração clandestina e as fugas de negros possibilitaram uma territorialização autônoma sob a forma de quilombos, e a conseqüente existência de seus descendentes nos municípios de Adrianópolis e Guaraqueçaba. (CPT, p 12).
A decadência do ciclo da mineração no Paraná e o impulso proporcionado às atividades da pecuária pelos mercados centrais da economia brasileira fizeram com que nos primeiros decênios do século XVIII, a mão-de-obra escrava passasse a ser utilizada nas fazendas. Nesse período, a escravidão indígena ainda existia, mas o escravo negro constituía a grande maioria.
A mão-de-obra escrava era empregada nos serviços internos da fazenda, juntamente com trabalhadores assalariados. Após o final da fase da mineração houve a necessidade de se utilizar os estoques excedentes de escravos que se deslocavam para as regiões da pecuária, pois, desocupados, representavam um ônus para a economia paranaense. O grupo social da fazenda não era composto apenas por mestres e escravos, mas também por agregados que apesar de serem pessoas juridicamente livre viviam subordinados à classe senhorial. Dessa maneira “escravos e camaradas, nas fazendas, desde que amanhecia, saíam em grupos para as invernadas, a fim de fazer o rodeio”. (SANTOS, pg.32)
O estabelecimento da pecuária como empresa econômica fundamental cristalizou a manutenção do trabalho escravo. E nessa conjuntura econômica, houve a transposição do sistema escravista da mineração em decadência, para a criação de gado, em plena ascensão. A partir daí, haverá uma mudança de atividade de grande parte dos habitantes do planalto e, mesmo do litoral. Através de cartas de concessão de sesmarias, constata-se a presença de escravos que acompanham os mestres nas atividades de pastoreio. Nas fazendas dos Campos Gerais, pertencentes ao Convento do Carmo, em Itu (São Paulo), os frades possuíam “4.000 cabeças de gado vacum, 200 éguas, 200 ovelhas e 40 escravos” . Num total de cinco fazendas. Isso equivale a uma média de oito escravos por fazenda e, nesse caso, é bem provável a participação em um numero maior de trabalhadores livres. Por outro lado, o Colégio dos Jesuítas de Paranaguá era proprietário de duas fazendas, em Pitangui e Curitiba, tendo em ambas “. De acordo com esse exemplo, a média seria de 20 escravos por fazenda, o que pode levar a acreditar numa maior participação do trabalho escravo em relação ao trabalho livre. Entretanto essas fontes revelam, seguramente, o total de escravos empregados em todas as atividades das fazendas (serviços domésticos, agrícolas, etc.) e não somente naqueles ligados à pecuária.[1: Coleção de documentos do arquivo histórico ultramarino Português. Inst. Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense. Doc. nº 364,1772][2: SERAFIN LEITE, P. História da Companhia de Jesus no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, v. 6, 1938, p.455.]
Em 1772 havia 52 grandes fazendas ao longo do caminho das tropas que atravessavam os Campos Gerais. Se tomarmos como exemplo um total estimado de 10 escravos por fazenda, teremos então uma população prevista de 520 escravos para o total de fazendas. Com uma média de três escravos empregados nos cuidados do gado, presume-se que, aproximadamente 1/3 dos escravos seria utilizado nesse setor. A grande maioria dos escravos estaria então vinculada às demais atividades da fazenda, que constituía um conjunto econômico e social integrado. (SANTOS, pg.32).
No Paraná, no final do século XVIII, devido à saturação dos mercados centrais, houve uma baixa sensível nos preços dos animais de transporte e de gado. Em 1790, segundo Romário MARTINS, “ um cavalo custava 4 mil réis e um boi 2 mil réis”. Os preços sofreram então reduções em relação aos custos para se comprar um escravo robusto, de 18 a 30 anos, valendo 120 mil réis; eram necessários 30 cavalos ou 60 bois. E antes, em 1740, isto é, em pleno auge do ciclo da mineração, os preços desses animais nos mercados chegaram a “25 e 8 mil réis”, respectivamente. Nesse caso, apenas cinco cavalos ou 15 bois bastavam para se comprar um escravo com aquelas características. Portanto, durante o século XVIII, os escravos representavam, no Paraná, um investimento considerável para os fazendeiros, se comprado às tropas.[3: MARTINS, R. História do Paraná. Curitiba: Ed. Guaira, p.121 ][4: MARTNS, R. p, 221]
O emprego de mão-de-obra escrava, com raríssimas exceções, nas mesmas atividades dos trabalhadores livres, é indicio de que os escravos representavam uma porcentagem significativa no total da população paranaense. De acordo com o Censo geral de 1772, feito pela Capitania de São Paulo, a população paranaense era composta de 7.627 habitantes dos quais 28,8% eram escravos. Com base nas pesquisas sobre a população do litoral de Paranaguá e Antonina para o final do século XVIII, temos a seguinte tabela: [5: HISTÓRIA do Paraná. Curitiba: Grafipar, 1965, v. 1 p.117][6: WESTPHALEN, C.M. Duas vilas paranaenses no final do século XVIII: Paranaguá e Antonina. Curitiba: Bol. UFPR, n.5, 1964, p.4.]
	
	Sexo masculino
	Sexo feminino
	Total
	
	Numero absoluto / %
	Numero absoluto / %
	Número absoluto / %
	Livres
	3024 75,7%
	3196 77,8%
	6220 76,8%
	Escravos
	970 24,3% 
	913 22,2% 
	1883 23,2%
	Total
	3994 100,0% 
	4109 100,0% 
	8103 100,0%A ECONOMIA DO MATE
Durante os primeiros decênios do século XIX, a economia paranaense começou a entrar definitivamente numa fase comercial. A partir daí, estruturou-se uma economia de exportação que substituiu quase por completo a produção de subsistência. Nesse novo contexto histórico-econômico, a produção do mate, para exportação, monopolizou todas as atividades do litoral e primeiro planalto do Paraná (SANTOS, pg. 38-39). 
A ação do trabalho escravo, paralelamente a do trabalho livre, também se fez sentir na produção do mate, onde a colheita, o preparo e o fabrico do mate exigiam intensa participação. A falta de documentação não permite estabelecer em quais fases do processo de preparo do mate eram utilizados os escravos e em quais condições; pode-se dizer, entretanto, que durante a fase de extração e transporte e de beneficiamento eram utilizados homens livres e escravos (SANTOS, pg. 40-41).
Ainda que as fontes sobre a participação da mão-de-obra nos engenhos não seja muito esclarecedoras, pode-se observar que o trabalho escravo nos engenhos de soque exerce um papel preponderante. Para J. de MIO, a grande carga de trabalho diário, nos engenhos de Curitiba, era despedida pelo braço escravo: “o horários dos engenhos era das seis as seis, com uma hora de folga para o almoço. Os operários, seminus, cobertos de pó verde do mate, sendo eles na maioria gente de cor, pareciam demônios movimentando-se naquele turbilhão de pó e barulho ensurdecedor de pilões e do rodar das peneiras." [7: MIO, J. de. Noticias Históricas sobre a Erva-Mate e os seus Engenhos de Beneficiamento em Curitiba a datar de 1808 a 1850. Curitiba, Boletim do IHGEP, Papelaria Requião, V. S., fase, 3-4, 1951, p.57. ]
PECUÁRIA
A fase da pecuária que se desenvolveu no primeiro e segundo planaltos paranaenses durante o século XIX encerrou um sistema econômico-social fundamentado na mão–de-obra escrava e na grande fazenda. As pretensões dos grandes fazendeiros por terras e escravos eram imperativos para a preservação do status social.
As fazendas eram auto-suficientes, produzindo a sua própria subsistência: carne de poço, milho, feijão, mandioca, arroz. O gado era reservado para a exportação, não fazendo parte, portanto, da alimentação diária. A maior parte dos escravos era empregada na produção de alimentos e de outros produtos de subsistência. Havia nas fazendas dos Campos Gerais, escravos que, além dos serviços domésticos e de lavoura, ocupavam-se também de atividades artesanais, carpinteiros, sapateiros, alfaiates, ferreiros, etc. Através das coleções de atos de compra e venda de escravos, é possível constatar que, nas fazendas existentes nas imediações da Lapa e de Castro, existiam escravos especializados em atividades da pecuária, laçadores, domadores, campeiros, tropeiros e outros (SANTOS, pg. 60).
Durante grande parte do século XIX, a vida econômica dos Campos Gerais estava baseada na criação e no comércio de muares. A essas duas economias, acrescentaram-se os aluguéis das pastagens para o descanso e a engorda das tropas, isto é, as invernadas. Muitos fazendeiros passaram a reservar, cada vez mais, um maior numero de invernadas em suas fazendas, a fim de arrendá-las aos tropeiros. Entretanto, a partir de 1875, o comércio de muar começou a declinar rapidamente. A substituição do transporte com animais pelo transporte ferroviário ocasionou uma violenta queda nos negócios do tropeirismo (SANTOS, pg. 61)
A alteração da utilização da propriedade fundiária foi o reflexo da desagregação do sistema econômico-social estabelecido sobre a economia da pecuária. Diversas famílias de fazendeiros passaram a morar nas cidades, movimentando ainda mais o comércio das mesmas provocando a cristalização do poder urbano sobre o poder rural.
O trabalho escravo que, havia sido até então o fundamento de poder econômico dos fazendeiros, começou a diminuir sensivelmente nos âmbitos do setor rural. A fazenda Fortaleza, a maior da Província, encerrou suas atividades de criação e agricultura, mantendo apenas as atividades de invernadas. O proprietário dessa fazenda, “que tinha antes 100 escravos, passou a residir na cidade de Castro, vendeu os escravos, conservando apenas 8”.[8: PINHEIRO Machado, p. 19]
Ainda que o valor dos escravos tenha aumentado consideravelmente durante o decênio de 1870, não só no Paraná como em todos os principais centros escravagistas brasileiros, no decênio de 1880, nos Campos Gerais, esse regime de trabalho já se encontrava em plena desintegração. Ainda nas cidades, os escravos de profissão doméstica também eram utilizados como negros de ganho e de aluguel. (SANTOS, pg. 64-65)
De uma forma geral, no Paraná, tanto no setor de produção da economia mercantil como no setor da economia de subsistência – tendo ambos empregado uma população economicamente ativa – o trabalho escravo foi necessário (SANTOS, pg. 68).
IMIGRAÇÃO E COLONIZAÇÃO.
A proibição pelo Governo Imperial do tráfico de escravos a partir de 1831 ocasionou reflexos no Paraná. Uma das conseqüências foi a exportação de escravos desse estado para os fazendeiros de café, em São Paulo. No ano de 1867 o imposto sobre a venda de escravos igualou o imposto sobre animais. O Porto de Paranaguá tornou-se, também, o centro de contrabando de escravos para o Brasil. Como conseqüência ocorreu o fenômeno mais significativo da escravidão no Paraná: o “Combate do Cormorant”
A lei “Bil Aberdeem” permitia que a marinha inglesa perseguisse navios negreiros brasileiros, mesmo na nossa costa marítima. Em junho de 1850 o navio inglês Cormorant entrou na nossa baia de Paranaguá para aprisionar navios negreiros carregados de escravos. Diante disso, alguns moradores de Paranaguá revoltados com a violação de nossas águas, dirigiram-se para o forte da Ilha do Mel e convenceram o comandante a abrir fogo contra o navio inglês que retornava da baia. Travou-se, assim, um combate entre a fortaleza e o navio que teve repercussão internacional.
O contrabando continuou, conforme informa Romário Martins: “nem assim arrefeceu o tráfico de africanos para Paranaguá, pois ainda em 1861 o governo do Império por denuncias levadas a seu conhecimento, agia no sentido de extinguir o contrabando humano, feito então, pela barra do rio Superagui, onde podiam entrar, até Guaraqueçaba, embarcações de 200 toneladas (LAZIER, pg.51-52). 
As principais administrações provinciais paranaenses, a partir da década de 1870, procuraram estabelecer articulações entre a política de colonização e a emancipação e acelerar a transição para uma sociedade livre. Entretanto, a necessidade de convivência com uma sociedade escravista representava obstáculos para a implementação do projeto de modernidade e prosperidade para a Província do Paraná (SANTOS, pg. 71). 
A questão abolicionista ocupou o espaço de várias sociedades emancipacionistas e abolicionistas que existiam em Curitiba, Paranaguá (Sociedade Redenção Paranaguense) e Ponta Grossa. Houve inclusive, em Curitiba, uma sociedade secreta, a Ultimatum. Seus membros tinham o costume de ajudar a fuga de escravos que eram maltratados pelos seus senhores e comprando alforrias. (SCHMIDT, p. 46)
“Arcadas do Pelourinho (Ctba) – a Fonte Maria Lata D´ Água de 1996, com escultura do artista paranaense Erbo Stenzel.” 
As autoridades administrativas provinciais desenvolviam a política de aceleração da emancipação dos escravos, contando com a legislação imperial que precipitava o processo. A Lei do Ventre Livre, de 28 de setembro de 1871, em seu artigo 3º criou as quotas do fundo de emancipação dos escravos, que permitia a libertação anual de escravos em cada Província do Império, quantos correspondessem à quota anualmente disponível. Esta legislação foi aplicada na Província do Paraná, conforme consta nos relatórios dos Presidentes, e era amplamente divulgada entre os proprietários de escravos para “apresentarem seus requerimentos na Secretaria da Junta Classificadora, a fim de não serem prejudicados os direitos dos interessados.” No ano de 1876, à Provínciado Paraná coube 26:155$315 do fundo de emancipação, cuja distribuição foi a seguinte:[9: O DEZENOVE DE DEZEMBRO, Curitiba, Ano XXXIII, n. 156, de 15.07.1886, p. 3.]
DEMONSTRATIVO DE DISTRIBUIÇÃO DO FUNDO DE EMANCIPAÇÃO
	FREGUESIAS
	POPULAÇÃO ESCRAVA
	IMPORTÂNCIA QUE TOCA CADA FREGUESIA
	Capital
	921
	2.281$000
	Arraial Queimado
	115
	285$000
	Votuverava
	252
	625$000
	S. José dos Pinhais
	456
	1:130$000
	Iguassú
	188
	466$000
	Campo Largo
	518
	1:283$000
	Palmeira
	614
	1:521$000
	S. João do Triunfo
	15
	37$315
	Lapa
	1.079
	2:672$000
	Rio Negro
	107
	265$000
	Ponta Grossa
	835
	2:068$000
	Castro
	790
	1:956$000
	Jaguariahyva
	447
	1:107$000
	S. José da Boa Vista
	275
	681$000
	Tibagy
	514
	1:273$000
	Guarapuava
	576
	1:426$000
	Palmas
	273
	676$000
	Paranaguá
	709
	1:756$000
	Guarakessava
	132
	327$000
	Antonina
	837
	2:073$000
	Guaratuba
	198
	491$000
	Morretes
	466
	1:154$000
	Porto de Cima
	243
	602$000
	TOTAL
	10.560
	26:155$315
FONTE: PARANÁ. Relatório (...) Lamenha Lins, op. Cit, 1876
O artigo 4º da Lei de 28.09.1871 permitia ao escravo a formação de um pecúlio que poderia lhe oferecer os meios para se chegar à alforria. E para a formação de um pecúlio era autorizado ao escravo, desde que com o consentimento de seu senhor, obter recursos do seu trabalho. Tal concessão já estava autorizada em muitas propriedades, onde os senhores abriam uma brecha para os escravos, que foi denominada de brecha camponesa dentro do sistema escravista. (SANTOS, pg. 72).
Enquanto eram implementadas medidas para acelerar o processo de emancipação dos escravos, o novo sistema de colonização, inaugurado pelo Dr. Lamenha Lins, até então inédito para o país, já revelava resultados positivos, com o inicio da formação da estrutura de um sistema agroalimentar em condições de abastecimento, ainda que precário. (SANTOS, pg. 73).
A política oficial de povoamento posta em prática pelo Governo Imperial visava, no início, basicamente, a ocupação de áreas fronteiriças e, em plano secundário, solucionar o problema da falta de mão-de-obra. Entretanto, a partir da segunda metade do século XIX, em face de um quadro conjuntural, já assinalado no presente trabalho, que, dentre outros, apontava fortemente para a extinção da escravidão, a política de imigração ultrapassava os objetivos políticos e militares para fixar-se naquele voltado para a oferta de mão-de-obra, para a grande lavoura de exportação e para a lavoura de subsistência. (SANTOS, pg.77-78)
O imigrante europeu era encarado sob uma concepção “romântica”, capaz de criar uma civilização camponesa à maneira da Europa. (...) Além do suprimento à carência populacional, a imigração era considerada “fator étnico de primeira ordem, destinada a tonificar o organismo nacional abastardado por vícios de origem e pelo contato que teve com a escravidão”. A imputação ao índio e ao negro de máculas raciais na população brasileira destacava-se neste e em muitos outros pronunciamentos oficiais do período, e de certo modo refletia a mentalidade nacional a este respeito.
No caso paranaense, é possível que este problema não fosse tão saliente, na medida em que a economia local não estava alicerçada unicamente na mão-de-obra escrava. Contudo, a transição concernente implicava uma transformação cultural a respeito do trabalho e, neste sentido sim, adquire relevo e articulava-se intimamente à problemática da imigração (NADALIN, pg.72-73). 
Mas o discurso liberal assumido no Brasil não poderia desconsiderar nosso passado escravocrata. De fato, a herança escravista calava em profundidade, e a elite era dominada pelo medo. Medo alimentado pela memória dos quilombos, por um certo maniqueísmo desenvolvido em função do legado colonial, em que o cativo, de vitima do sistema, passava a ser o causador de sua violência característica. Tudo isso está na origem e alimentava os preconceitos da minoria branca. Não era só o negro mau, bruto e violento; toda a população mestiça não era confiável e, em decorrência, não tinha condições morais para cumprir os elevados propósitos nacionais de colonização e conquistar o território nacional. Além disso, o negro – representante de um sistema que deveria ser extirpado – era igualmente criticado como culpado do aviltamento do trabalho, inapto às tarefas importantes, tão necessárias naquele momento.
 (...) A proposta traduzia-se numa receita para o progresso, via introdução do imigrante branco, livre, pacífico e trabalhador, capaz de ajudar a apurar e tonificar - leia-se branquear – tanto a “raça” brasileira como o trabalho. O refrão entoado no Paraná dos oitocentos, evidenciando muito claramente a busca de um branqueamento racial. Realmente, o Paraná trabalhou o paradigma do darwinismo social, buscando a integração na civilidade e no progresso ocidental pela via racial. Num século caracterizado pelo fortalecimento dos nacionalismos, sobretudo pela afirmação de um passado glorioso, o Paraná, como o resto do Brasil, pretendia desenvolver sua coesão política numa projeção para o futuro em que os “vícios de origem” e o contato com a escravidão seriam sanados pela tonificação do organismo nacional. (NADALIN, pg,74-75). 
OS QUILOMBOS NO PARANÁ HOJE (segundo CPT)
Segundo os últimos levantamentos no Paraná, existe cerca de 86 comunidades quilombolas no Paraná, sendo 36 as certificadas pela Fundação Cultural Palmares (FCP). No município de Adrianópolis as comunidades remanescentes de quilombos (CRQs) certificadas são as seguintes: João Sura, Praia do Peixe, Porto Velho, Sete Barras, Córrego das Moças, São João, Córrego do Franco, Estreitinho, Três Canais e as Comunidades Negras Tradicionais Bairro dos Roque e Tatupeva. Em João Sura vivem cerca de 38 famílias, organizando as suas atividades em torno da agricultura, do extrativismo, da pesca e da criação de animais. Praia do Peixe é uma comunidade que dista 50 km da sede do município de Adrianópolis, tendo como referência de sua fundação o ano de 1806, e assim como João Sura, a base de suas atividades é a agricultura. A comunidade de Porto Velho existe desde pelo menos 1750, tendo como referência socioeconômica a agricultura e culturalmente as festas de Bom Jesus, Nossa Senhora Aparecida e a semana do Divino. Sete Barras mantêm-se também a partir da agricultura, da criação de animais e da pesca.
Em Doutor Ulysses existe a comunidade remanescente de quilombo Varzeão e a Comunidade Negra Tradicional de Queimadinhos. Segundo informações do grupo de Trabalho Clóvis Moura, essas comunidades sobrevivem da criação de animais e do cultivo de feijão, milho, mandioca, arroz e abóbora para consumo familiar. A pesca que é pouca e individual em rio é feita com anzol. De acordo com relatos, não se fazem mais as festas do Divino nem as festas de São Gonçalo pois essas comunidades são, atualmente evangélicas.
Em Bocaiúva do Sul temos a presença da CRQ de Areia Branca, que atualmente possui roça comunitária na qual trabalham homens e mulheres no cultivo de mandioca, milho, abóbora, arroz, batata – doce e banana. A comunidade guarda a cultura da medicina popular e da casa de farinha que é um espaço de produção e cultural. Em Campo Largo encontramos a CRQ Palmital dos Pretos e a Comunidade Negra Tradicional de Sete Saltos, que estão separadas por diferentes visões e a mais interessante é sobre o modo, a técnica, a criação dos porcos. Enquanto uma tem a criação solta, a outra cria os suínos no cercado, tornando esse fato motivo de intermináveis debates sobre a melhor e mais higiênica delas.
Na Lapa encontram-se as CRQs de Restinga, Feixo e Vila Esperança. Descendentes de escravizados herdeiros das terras, no geral vivem da agricultura de subsistência, com a plantação de arroz, milho e verduras, lutando para permanecer ou recuperar as terras. Em Guaraqueçaba existem as CRQs de Rio Verde e Batuva. Nas duas comunidades é o feijão, o arroz, a mandioca e a banana o que se cultiva nas roças familiares.
Nacidade de Castro são encontradas as comunidades de Serra do Apon, Mamãs, Limitâo, Tronco, Sutil e Santa Cruz. Com as histórias profundamente entrelaçadas, essas comunidades vivem hoje da agricultura, fazem uso de ervas medicinais e são abastecidas com águas de rios e de riachos. Sofrem ameaças de madeireiras (pinus) e fazendeiros da região. O município de Candói conta com as comunidades de Despraiado, Vila Tomé e Cavernoso. Em Reserva do Iguaçu – Pinhão, resiste, há pelo menos um século, a comunidade de Paiol de Telha. 
No município de Palmas se encontram as comunidades remanescentes de quilombo Adelaide Maria de Trindade Batista e Castorina Maria da Conceição (Fortunato), além da Comunidade Negra Tradicional Tobias Ferreira (Lagoão). Em Turvo encontramos a CRQ Campina dos Morenos. Em Ivaí/Imbituva a presença das comunidades de São Roque e Rio do Meio, que eram uma mesma comunidade e foi cortada ao meio por ocasião da ocupação das terras quilombolas pelos imigrantes europeus. Em Guaíra se localiza a CRQ Manoel Ciriaco dos Santos, seus membros fixam-se no Paraná após fugas sucessivas de condições análogas à escravidão e tem seu nome em homenagem ao patriarca que os guiou até aqui; o cultivo maior é de mandioca que é vendida para um comerciante da cidade, nos quintais são plantadas as verduras; os quilombolas também criam animais. 
Em São Miguel do Iguaçu: Apepú; em Curiúva: Água Morna e Guajuvira. Na lembrança da comunidade de Água Morna estão os relatos dos antepassados sobre a Guerra do Paraguai. Atualmente criam animais para consumo e cultivam milho, feijão, arroz, mandioca, abóbora, amendoim e batata – doce. 
REFERÊNCIAS
CPT – Comissão Pastoral da Terra. 25ª Romaria da Terra do Paraná. Quilombo: Resistência de um Povo, Território de Vida. Curitiba, 2010.
LAZIER, Hermógenes. Paraná: Terra de Todas as Gentes e de Muitas Histórias. 3ª Ed. Francisco Beltrão : GRAFIT, 2003.
NADALIN, Sérgio Odilon. Paraná: Ocupação do Território, População e Migrações. Coleção Histórias do Paraná. Curitiba : SEED, 2001.
SANTOS, Carlos Roberto Antunes. Vida Material, Vida Econômica. Coleção História do Paraná. Curitiba : 
SEED, 2001.
SCHMIDT, Maria Auxiliadora M. S. História do Cotidiano Paranaense. Curitiba : Letraviva, 1996.

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