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DA FORMAÇÃO DOS CONTRATOS Autores: Roberto Senise Lisboa, Paulo Lobo, Maria Helena Diniz, Fábio Ulhoa Coelho, Flávio Tartuce, Ricardo Fiuza, Renan Lotufo, Carlos Roberto Gonçalves, Caio Mário da Silva 1. FASE PRÉ-CONTRATUAL: negociações preliminares 1.1. Fase da Puntuação • Denomina-se SONDAGEM ou TRATATIVAS ou ESTUDOS ou DEBATES; • Momento prévio que as partes discutem, ponderam, refletem, fazem cálculos, estudos; • Os interesses dos contraentes são divergentes ainda (discussão); • Pode existir vontade em contratar, mas não é manifestada; • Não há vinculação ao negócio; • Qualquer uma das partes pode afastar-se, alegando desinteresse, sem responder por perdas e danos; • Teoria da perda da chance: se a parte arcou com despesas apenas pelo indício dado pela outra parte e aquela perdeu a chance de utilizar estas em outras atividades ou investimentos que lhe proporcionariam retorno; • Se comprovada a má-fé nessa fase será a ato ilícito (art. 184 e 186 CC) Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal. Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 1.2. Fase da proposta • Denomina-se OFERTA ou OBLAÇÃO ou POLICITAÇÃO; • É a manifestação do propósito em contratar; • Partes: proponente, ofertante ou policitante (quem apresenta a oferta) e aceitante (quem aceita a oferta); • Oferta equivale à proposta: independe de formalidade, salvo quanto à informação (eficácia cogente da oferta – arts. 30 e 35, CDC); Art. 30 CDC. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado. Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha: I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade; II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente; III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos. • Respeita o princípio da vinculação ou obrigatoriedade da proposta (segurança jurídica), salvo quando: Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso. a. Se houver declaração de vontade quanto ao direito de retratação ou arrependimento (não obrigatoriedade) – somente se não ferir o CDC; b. Se houver limitação pela própria natureza do negócio (Ex: limite de estoque; promoções radiofônicas para quem responder primeiro uma pergunta; transporte gratuito no limite da capacidade de uso do veículo; c. Se houver limitação resultante das circunstâncias do caso (princípio da razoabilidade), onde ao juiz cabe aferir se a proposta seria ou não obrigatória. d. Se for oferta ao público, que consiste na proposta de contratar feita a uma coletividade (número indeterminado de pessoas), torna-se obrigatória salvo se circunstâncias ou usos descaracterizarem-na como tal. Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos. Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada. Ex1: em localidade com ainda há anúncios de produtos em alta voz para atrair clientes à barraca ou lojinha do anunciante. A proposta definitiva só é feita após a escolha do bem pretendido. Ex2: máquina de refrigerantes, onde o interessado coloca uma moeda. A aceitação da proposta é feita por meio de um mecanismo transmissor da sua vontade. Prevalece CDC. � Prazo de validade da proposta A proposta obriga o proponente e deverá ser devidamente cumprida se aceita, salvo os casos do art. 428, CC Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta: I - Se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante; II - Se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente; III - Se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado; IV - Se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente. • A proposta pode ser realizada da seguinte forma: a. Entre presentes são as pessoas que mantêm contato direto e simultâneo uma com a outra (tratam do negócio pessoalmente ou por meio de transmissão imediata da vontade (telefone); o aceitante toma ciência da oferta quase no mesmo instante em que ela é emitida; b. Entre ausentes são aquelas pessoas que não mantêm contato direto e imediato entre si (tratam do negócio por meio de carta ou telegrama - correspondência epistolar). I. Teoria da cognição: o contrato entre ausentes somente se forma quando a resposta do aceitante chega ao conhecimento do proponente II. Teoria da agnição: dispensa-se que a resposta chegue ao conhecimento do proponente. Pode ser: i.Subteoria da declaração propriamente dita: o contrato se forma no momento em que o aceitante ou oblato redige, datilografa ou digita a sua resposta ii.Subteoria da expedição: o contrato se forma no momento em que a resposta é expedida. III. Subteoria da recepção: o contrato se forma no instante em que o proponente recebe a resposta, dispensando-se a leitura (Ex: AR). Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante. Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto: I - no caso do artigo antecedente; II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; III - se ela não chegar no prazo convencionado. c. Em meio virtual: por analogia, é proposta feita entre presentes se celebrada em chat (sala virtual de comunicação), por contato direto quando da formação da proposta e sua aceitação; ou entre ausentes, se celebrada por mensagem eletrônica (email), por haver lapso de tempo entre emissão da oferta e resposta. � Morte e falência do proponente: a. Se o proponente morrer e a proposta puder ser cumprida a posteriori (quando não for prestação infungível), perdura a obrigatoriedade, refletindo-se nos bens componentes do espólio; b. Se o proponente falir antes da aceitação da proposta, poderá revogar a proposta ou o aceitante desistir desta ao antever prejuízos; 1.3. Fase da aceitação • Denomina-se PROMESSA ou COMPROMISSO • Há manifestação da vontade em contratar (consentimento), então a parte que recebeu a oferta (aceitante ou oblato) aceita a proposta • O efeito da aceitação da proposta é a formação do contrato • Deve ser isento de vícios de consentimento, sob pena de anulação • Aceitação fora do prazo, com adições, restrições ou modificações importa em contraproposta (nova proposta – art. 431, CC) Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta. • Dever de informar: se a aceitação chegar tarde ao proponente, por imprevistos, este deverá comunicar o aceitante, sob pena de perdase danos Art. 430. Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento do proponente, este comunicá-lo-á imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e danos. • Aceitação expressa ou tácita: na ausência da expressa, o início de atos executórios condiz com aceitação tácita (costume negocial) Art. 432. Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa. CONTRATO PRELIMINAR • Objetiva a formação de um contrato definitivo no futuro mediante aceitação legal da proposta (art. 462 a 466, CC). Trata-se, portanto, de um negócio jurídico que tem por objeto a obrigação de fazer um contrato definitivo. • Características: exigibilidade, retratabilidade e onerosidade • Não havendo cláusula de arrependimento, qualquer das partes pode exigir a execução do contrato preliminar, assinalando prazo para que a outra adote as providências a seu cargo indispensáveis à celebração do definitivo. • Esgotado o prazo, caberá a execução específica do contrato preliminar, mediante sua conversão em definitivo, ou a resolução, sempre acompanhada do direito à indenização por perdas e danos. EX: promessa de compra e venda, a qual, quando devidamente registrada no Cartório de Imóveis, produz eficácia real, facultando ao promitente-comprador, se for necessário, recorrer à ação de adjudicação compulsória para a concretização do seu direito. Seção VIII Do Contrato Preliminar Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado. Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive. Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente. Art. 464. Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte inadimplente, conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação. Art. 465. Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra parte considerá-lo desfeito, e pedir perdas e danos. Art. 466. Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena de ficar a mesma sem efeito, deverá manifestar-se no prazo nela previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado pelo devedor. � Na relação de consumo (CDC): Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance. Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor. Art. 48. As declarações de vontade constantes de escritos particulares, recibos e pré-contratos relativos às relações de consumo vinculam o fornecedor, ensejando inclusive execução específica, nos termos do art. 84 e parágrafos. Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio. Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados. ARRAS ou SINAL CONCEITO: cláusula acessória de qualquer tipo de contrato pela qual as partes, ou uma delas somente, confirma a intenção de cumprir as obrigações contratadas. Trata-se de fórmula de garantia empregada em certos negócios imobiliários e raros contratos de prestação de serviços. O pagamento a título de arras é computado no pagamento correspondente à execução do contrato. 2. FASE CONTRATUAL: efetivação do contrato (art. 104, CC) 2.1. Fase do consenso • Denomina-se ACORDO ou CONTRATO DEFINITIVO • É a proposta definitiva, contendo direitos e deveres às partes contratantes • Pacta sunt servanda: quando a vontade das partes ofertante e aceitante se fundem em um acordo, que passa a obrigar ambas as partes (contrato vincula as partes). 2.2. Fase da publicidade • Se o contrato tem por objeto direitos reais: registro no Cartório de Registro Geral de Imóveis • Se o contrato tem por objeto ações: registro no Livro Registro de Ações Nominativas da sociedade emissora • Nos demais casos: registro será feito no Cartório de Registro de Títulos e Documentos. LUGAR DA FORMAÇÃO DO CONTRATO O contrato reputa-se celebrado no lugar em que foi proposto. Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto. RESPONSABILIDADE PRÉ-CONTRATUAL • Responsabilidade pré-negocial ou extranegocial ou extracontratual • Ninguém é obrigado a contratar, mas o faz em respeito aos princípios da boa-fé, seriedade, eticidade e da autonomia privada; a responsabilidade advém da elaboração de atos que antecedem a formulação do negócio jurídico quando demonstrada a deliberada intenção, com falsa manifestação de interesse, de causar dano a uma das partes (leva-lo a perder outro negócio ou realizando despesas), • Deriva do descumprimento do dever de boa-fé (culpa in contrahendo), que é imposto por lei (art. 422, CC) e, em decorrência deste incorre em ato ilícito (art. 186, CC), ficando obrigado a indenizar pelos prejuízos causados (art. 927, caput, CC) Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. NÃO SE TRATA DA INEXECUÇÃO DO CONTRATO PRELIMINAR! • A dificuldade do tema reside na fixação dos pressupostos a partir do qual se pode imputar responsabilidade civil àquele sujeito de direito que interrompeu processos de negociação em curso ou mesmo recusou-se a contratar a despeito do completo amadurecimento do acordo de vontade.
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