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(20171009144556)A FUNÇÃO EDUCATIVA DO FARMACÊUTICO NO SISTEMA ÚNICO


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A FUNÇÃO EDUCATIVA DO FARMACÊUTICO NO SISTEMA ÚNICO 
DE SAÚDE 
 
SPADA*, Kadija– CBES 
kakaspada@hotmail.com 
 
Resumo 
 
Este trabalho se propõe refletir sobre a potencial função educativa que o farmacêutico pode 
realizar no Sistema Único de Saúde. A metodologia utilizada foi uma pesquisa bibliográfica 
de textos considerados básicos para as reflexões referentes ao tema. A consolidação do SUS e, 
conseqüentemente, a integralidade e a resolutividade das ações de saúde tornam-se um desafio 
para a formação dos profissionais da saúde. O perfil do profissional farmacêutico após a 
implantação das Diretrizes Currriculares em 2002 sofreu uma grande ampliação. No modelo 
generalista, o farmacêutico deve estar habilitado a atuar nas mais diversas áreas e também 
estar capacitado a atuar em equipes multiprofissionais, para atender aos pressupostos do SUS. 
Este trabalho destaca a educação em saúde na promoção do uso racional de medicamentos e 
aponta a atenção farmacêutica como prática educativa e como possível tendência para uma 
maior aproximação com o paciente, com vistas à adesão ao tratamento e à melhoria da sua 
qualidade de vida. A prática educativa pode ser feita durante a entrevista com o paciente, 
considerada um dos atos mais importantes dentro da atenção farmacêutica. Por meio dela, 
pode-se avaliar o grau de compreensão do paciente em relação ao seu tratamento, bem como 
desenvolver sua autonomia e responsabilidade no cuidado com sua saúde. Como todo 
profissional de saúde, o farmacêutico é um educador em potencial e que deve ter o paciente 
como centro da atenção. Com isso procura-se estabelecer um processo educativo que torne 
possível ao paciente tomar a decisão de aderir ao tratamento, utilizando o medicamento de 
maneira correta, consciente e responsável. 
 
Palavras-chave: Educação em Saúde; Farmacêutico; Uso Racional de Medicamentos. 
Introdução 
A profissão farmacêutica, ao longo do século XX, sofreu diversas transições e 
experimentou, inclusive, a perda de sua identidade. O papel tradicional de boticário, com 
preparações de fórmulas e orientações exclusivas aos seus usuários, foi substituído, aos 
poucos, pela produção de medicamentos em escala pela indústria farmacêutica, o que deu às 
atividades farmacêuticas um enfoque mercantilista. A farmácia, assim como um 
estabelecimento comercial qualquer, voltou-se para o lucro por meio da “empurroterapia”, e o 
farmacêutico foi perdendo autonomia no desempenho de suas atividades, distanciando-se do 
seu papel de agente de saúde. 
 
*
 Farmacêutica-Bioquímica da Unidade Básica de Saúde de Passos Maia/SC. Especialista em Docência em 
Saúde pelo Colégio Brasileiro de Estudos Sistêmicos - CBES/Porto Alegre/RS. 
 
1260 
Entretanto, o farmacêutico formado no Brasil pouco contribuiu para mudar essa 
realidade, pois, para atender às necessidades do mercado pós-industrializado, os cursos de 
farmácia tiveram de se reposicionar, incorporando disciplinas na matriz curricular que o 
capacitassem para atuar em áreas próximas ao medicamento, dando enfoque tecnicista a sua 
formação. 
Dentro de suas atribuições, o farmacêutico é o profissional capacitado para orientar, 
instruir e educar o usuário sobre todos os aspectos relacionados ao medicamento, inclusive 
sobre o uso racional de medicamentos, possuindo, assim, uma importante atuação no Sistema 
Único de Saúde, onde a atenção primária à saúde é enfatizada (MOTA et al, 2000). 
Não é possível pensar em saúde sem, simultaneamente, pensar em educação e nas 
relações que existem entre ambas, pois educação em saúde é, acima de tudo, educação, o que 
supõe um contato, uma transmissão, um desenvolvimento de conhecimentos, competências, 
hábitos e valores (GAZZINELLI, 2006). É nesse contexto que se insere a importância do 
farmacêutico como educador em saúde pública, capaz de atuar em defesa da saúde do usuário 
através da promoção do uso racional de medicamentos, bem como na participação do 
processo educativo dos pacientes no que diz respeito aos riscos da automedicação, da 
interrupção, da troca dos medicamentos prescritos e a importância da receita médica para a 
aquisição dos mesmos. 
A realização deste trabalho é justificada pela progressiva tomada de consciência sobre 
a importância da função educativa do farmacêutico no Sistema Único de Saúde, tendo não 
mais apenas o medicamento, mas a educação em saúde e a qualidade de vida do paciente, 
como foco de suas ações. 
Este trabalho tem por objetivos demonstrar a importância da atuação do farmacêutico 
no SUS, bem como refletir sobre sua função educativa. A metodologia utilizada foi uma 
pesquisa bibliográfica de textos básicos e recentes, considerados importantes como referencial 
teórico para as análises e reflexões pertinentes ao tema. 
 
O Sistema Único de Saúde (SUS) 
Considerado uma conquista da mobilização da sociedade, o SUS nasceu com a 
finalidade de eliminar as desigualdades assistenciais. A Constituição Federal de 1988 deu 
relevância pública à saúde com o artigo 196, que prega “a saúde como direito de todos e dever 
do Estado”, e abriu caminho para a criação do SUS por meio da regulamentação da Lei 
Orgânica da Saúde n° 8080 e pela lei 8.142 em 1990 (BRASIL, 1990). 
 
1261 
O SUS é um novo sistema de assistência à saúde, regionalizado e hierarquizado, que 
integra o conjunto das ações de saúde da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, onde 
cada um cumpre funções específicas, porém articuladas entre si (BRASIL, 2003). 
A partir de então, todos os cidadãos passam a ter direito a consultas, exames, 
internações e tratamentos nas unidades de saúde vinculadas ao SUS, sejam públicas (da esfera 
municipal, estadual ou federal) ou privadas (contratadas pelo gestor público de saúde), sendo 
proibida cobrança em dinheiro sob qualquer pretexto (BRASIL, 2003). 
Do ponto de vista filosófico, o SUS é um dos sistemas mais avançados do mundo e 
tem como tripé de sustentação as diretrizes da descentralização, integralidade do atendimento 
e participação da comunidade (BRASIL,1990). 
Com a descentralização pretende-se tratar os usuários no local em que vivem, ou seja, 
nos seus municípios, com o intuito evitar grandes deslocamentos, isso, levando em 
consideração que o poder de decisão no setor de saúde, quando exercido por gestores que se 
encontram perto da realidade local, pode contribuir para uma assistência mais efetiva. 
 
Plano municipal de assistência farmacêutica 
A assistência farmacêutica é parte integrante dos serviços e programas de saúde e 
representa um conjunto de atividades inter-relacionadas, ou seja, representa um processo que 
abrange adquirir, ministrar, conservar e controlar a qualidade, segurança e eficácia dos 
medicamentos; a obtenção e divulgação de informações e a educação permanente da equipe 
de saúde e dos pacientes, assegurando o uso racional dos medicamentos (BERMUDEZ, 1999; 
MARIN, 2003). 
Durante o processo de municipalização da assistência farmacêutica, os Municípios 
assumiram o compromisso de estruturar esta área para desenvolver as atividades que lhe são 
pertinentes. Trata-se de uma atividade multidisciplinar, porém sua coordenação deve estar sob 
responsabilidade do profissional que tem a formação acadêmica compatível e a atribuição 
legal para exercê-la: o profissional farmacêutico. 
 
A formação do farmacêutico 
A consolidação do Sistema Único de Saúde e, conseqüentemente, a integralidade e a 
resolutividade das ações de saúde, tornam-se desafios importantes para a formação de 
recursos humanos em saúde. O farmacêutico, com essa formação tecnicista, renuncia aos 
múltiplos saberes, muitas vezes imaginando a saúde dividida em medicamentos, exames 
laboratoriais e alimentos (IVAMA, 2005). Decorrente desse processo, corre-se o risco de 
 
1262 
formarprofissionais isolados no contexto do SUS, sem o conhecimento mínimo de 
funcionamento do sistema. 
Para Zubioli, 
A deformação do ensino farmacêutico não constitui fato isolado dos acontecimentos 
na história da farmácia e do desenvolvimento científico e tecnológico da indústria de 
medicamentos em nosso meio, mas representa um dos aspectos mais nefastos 
conhecidos no mundo contemporâneo de subserviência total aos interesses do poder 
econômico [...] O ensino farmacêutico nunca preocupou seriamente a alta 
administração do país. O abandono por parte dos farmacêuticos das funções que lhe 
são inerentes no âmbito da farmácia de dispensação não pode ser atribuído 
exclusivamente ao ensino universitário, mas guarda estreita relação com as políticas 
governamentais imprimidas à legislação sanitária desde o início deste século [...] 
(ZUBIOLI, 1992. p. 89-90). 
 
A reorientação do ensino farmacêutico no país vem se delineando desde a década de 
1980 em virtude da mobilização dos estudantes para ser aprovado um novo perfil para o 
profissional farmacêutico, com destaque para seu papel social. Para isso, os estudantes 
reivindicaram a reforma do currículo mínimo implantado ainda em 1970, que privilegiava o 
aspecto técnico da educação superior e ignorava a dimensão humanista e social dessa 
educação (CARRILLO, 1999). 
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996, propôs a substituição dos currículos 
pelas Diretrizes Curriculares dos Cursos, o que levou as instituições de ensino superior (IES) 
a repensarem princípios e diretrizes que orientassem seus cursos. Em agosto de 2001, durante 
o Fórum Nacional de Avaliação da Diretrizes Curriculares para os cursos de Farmácia, os 
representantes das IES, dos estudantes e das entidades farmacêuticas aprovaram a proposta de 
formação do “farmacêutico generalista” (SANTOS, 1999). 
A resolução CNE/CES 2, de 2002, instituiu as diretrizes curriculares nacionais do 
curso de farmácia, as quais definem um perfil multiprofissional e multidisciplinar, conforme 
os preceitos do SUS. Espera-se que o profissional receba “formação generalista, humanista, 
crítica e reflexiva”, tendo como atribuições principais a prevenção de doenças, a promoção, a 
proteção e a recuperação da saúde humana (BRASIL, 2002). 
A formação generalista representa uma mudança no que diz respeito ao conceito, 
estrutura e filosofia da profissão farmacêutica, que enfatiza temas relacionados às questões 
sociais e sanitárias, incluindo a prática da atenção farmacêutica, formando um profissional 
com múltiplas habilidades. Porém, para exercer a profissão plenamente com base na nova 
formação generalista, o farmacêutico terá de enfrentar o atual sistema, que inclui a delegação 
de atividades burocráticas e de gerenciamento em detrimento de sua atuação junto ao 
paciente. 
 
1263 
O papel educativo do farmacêutico 
A educação é uma prática sujeita à organização de uma dada sociedade e deve ter 
condições de criar um espaço de intervenção nessa realidade com o objetivo de modificá-la, 
de transformá-la. Como um processo de diálogo, indagação, reflexão e ação partilhada, a 
educação propõe tornar as pessoas capazes de pensar e de encontrar formas alternativas de 
resolver seus problemas, entre os quais o de saúde-doença (GAZZINELLI, 2006). 
A Unidade Básica de Saúde, mais precisamente, a farmácia ambulatorial, é um espaço 
limitado, porém importante para o desenvolvimento de ações educativas. Por meio dela, o 
farmacêutico, assim como outros profissionais de saúde, tem o compromisso de compartilhar 
seu conhecimento técnico com a população, sem deixar de reconhecer a importância dos 
conhecimentos populares. 
O farmacêutico, na maioria das vezes, é o último profissional de saúde a ter contato 
direto com o paciente depois da decisão do médico pela terapia medicamentosa. Dessa 
maneira, torna-se co-responsável pela sua qualidade de vida (FERRAES, 2003). 
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cabe ao profissional farmacêutico 
atuar em defesa da saúde do paciente, promover o uso racional dos produtos farmacêuticos, 
bem como participar da promoção e educação sanitária, o que envolve, entre outros aspectos, 
o processo educativo dos pacientes acerca dos riscos da automedicação, da interrupção e da 
troca da medicação prescrita, da necessidade da receita médica, no que diz respeito à 
dispensação de medicamentos tarjados, e a automedicação responsável. 
Dessa forma, os serviços farmacêuticos de atenção primária na farmácia ambulatorial 
podem contribuir para a diminuição do número de internações, a assistência aos pacientes 
com doenças crônicas e a prática de educação em saúde (MARIN, 2003). 
Dentro dessa lógica, o farmacêutico precisa assumir um papel educativo, comunicativo 
e complementar ao serviço médico. O paciente que sai do consultório com uma receita terá 
maior resolução de seus problemas se tiver acesso aos medicamentos prescritos e se essa 
prescrição atender à racionalidade terapêutica. Também é necessário avaliar os fatores que 
podem interferir em seu tratamento, como histórico de reações alérgicas, tabagismo, uso de 
outros medicamentos, hábitos alimentares, entre outros. Esta avaliação, com a possibilidade 
de intervenção visando à efetividade terapêutica, pode ser obtida com a implantação da 
“atenção farmacêutica” (VIEIRA, 2007). 
 
 
 
 
1264 
A atenção farmacêutica como prática educativa 
O conceito clássico de atenção farmacêutica como “a provisão responsável da 
farmacoterapia com o objetivo de alcançar resultados definidos que melhorem a qualidade de 
vida dos pacientes” foi publicado por Hepler e Strand em 1990 (HEPLER, 1990). 
Posteriormente, outros conceitos de atenção farmacêutica surgiram no cenário mundial. 
Entretanto, o conceito brasileiro destaca-se ao considerar a promoção da saúde, 
incluindo a educação em saúde como componente da atenção farmacêutica, o que constitui 
um diferencial marcante em relação às definições usadas em outros países. Assim é definida a 
atenção farmacêutica: 
A atenção farmacêutica é modelo de prática farmacêutica, desenvolvida no contexto 
da assistência farmacêutica. Compreende atitudes, valores éticos, comportamentos, 
habilidades, compromissos e co-responsabilidades na prevenção de doenças, 
promoção e recuperação da saúde, de forma integrada à equipe de saúde. É a 
interação direta do farmacêutico com o usuário, visando uma farmacoterapia 
racional e a obtenção de resultados definidos e mensuráveis voltados para a melhoria 
da qualidade de vida. Esta interação também deve envolver as concepções dos seus 
sujeitos, respeitadas as suas especificidades bio-psico-sociais sob a ótica da 
integralidade das ações de saúde (OPAS, 2002). 
 
A atenção pode ser aplicada em vários momentos: 
a) em nível de prevenção – formar grupos de pacientes para educação sanitária por 
meio de palestras e uso de material educativo; 
b) em nível ambulatorial/dispensação – identificar pacientes com patologias crônicas 
para orientação e acompanhamento, visando à adesão ao tratamento instituído. 
 
Educação em saúde e o uso racional de medicamentos 
A educação em saúde constitui um conjunto de saberes e práticas orientados para a 
prevenção de doenças e promoção da saúde. Trata-se de um recurso por meio do qual o 
conhecimento cientificamente produzido no campo da saúde, intermediado pelos profissionais 
de saúde, atinge a vida cotidiana das pessoas, uma vez que a compreensão dos condicionantes 
do processo saúde-doença oferece subsídios para a adoção de novos hábitos e condutas de 
saúde, possibilitando aos sujeitos envolvidos uma visão crítica, uma maior participação 
responsável e autônoma em relação à saúde no dia-a-dia (GAZZINELLI, 2006). 
A Organização Mundial da Saúde, segundo Levy, pontua que o foco da educação em 
saúde está voltado para a população e para aação. De uma forma geral, seus objetivos são 
encorajar as pessoas a adotarem e manterem padrões de vida sadios; usarem de forma 
cuidadosa os serviços de saúde colocados à sua disposição e tomarem suas próprias decisões, 
 
1265 
tanto individual como coletivamente, visando melhorar suas condições de saúde e as 
condições do meio ambiente (LEVY et al, 2007). 
Dentre os diversos espaços dos serviços de saúde, Vasconcelos (1999) destaca os de 
atenção básica como um contexto privilegiado para o desenvolvimento de práticas educativas 
em saúde, que se justifica pela proximidade com a população e a ênfase nas ações preventivas 
e promocionais. No contexto do uso racional de medicamentos, a educação em saúde é um 
processo que possibilita implantar ações capazes de ultrapassar os limites das informações 
relativas a uma determinada prescrição. 
Como contexto das práticas educativas, considera-se que estas tanto podem ser 
formais e desenvolvidas nos espaços convencionais das unidades básicas de saúde, com a 
realização de palestras e distribuição de cartilhas e folhetos, como também podem ser 
informais, desenvolvidas nas ações de saúde cotidianas, como, por exemplo, durante a 
dispensação de medicamentos para o paciente (L’ABBATE, 1990). A abrangência do 
processo educativo permite a abordagem de inúmeros aspectos, dentre os quais 
automedicação, bebidas alcoólicas, conservação, duplicação da dose, gravidez e lactação, 
riscos para crianças, terceira idade, entre outros (MARIN, 2003). 
 
Comunicação com o paciente 
A comunicação é um dos instrumentos básicos da atenção farmacêutica e, também, o 
processo que torna possível o relacionamento paciente-farmacêutico. É pela comunicação 
estabelecida com o paciente que se pode compreendê-lo em seu todo, sua visão do mundo, 
isto é, seu modo de pensar, sentir e agir. Só assim consegue-se identificar os problemas por 
ele sentidos, com base no significado que atribui aos fatos que lhe ocorrem, e tentar ajudá-lo a 
manter ou recuperar sua saúde (STEFANELLI, 1993). 
Para Lyra Júnior, o diálogo facilita as relações entre o paciente e o farmacêutico e 
permite uma troca de informações num processo simétrico, no qual o conhecimento científico 
do farmacêutico não é mais importante que o conhecimento adquirido pelo paciente ao longo 
de sua vivência, mas são complementares. A partir do momento em que o paciente se sente 
respeitado e toma consciência da importância como agente responsável pela própria saúde, 
passa a cuidar melhor de si, o que tem um efeito positivo direto sobre sua saúde (LYRA 
JÚNIOR, 2005). 
Freire afirma que “sem diálogo não há comunicação e sem esta não há verdadeira 
educação” (FREIRE, 1987). 
 
 
1266 
Entrevista com o paciente 
A entrevista pode ser considerada um dos atos mais importantes para a adequada 
educação do paciente. Por meio dela, pode-se avaliar o grau de compreensão do paciente 
sobre um determinado assunto; sua realização exige treinamento e, principalmente, habilidade 
nas relações interpessoais. A entrevista pode ser dividida em cinco etapas: apresentação, 
anamnese farmacológica, avaliação das informações, desenvolvimento da educação e 
finalização (MARIN, 2003). 
 
a) Apresentação 
É importante que o local destinado à entrevista seja adequado, em condições de 
oferecer privacidade. O farmacêutico, então, pode iniciar a entrevista apresentando-se 
adequadamente, além de explicar o propósito da entrevista, estimar o tempo necessário e obter 
o consentimento do paciente. 
 
b) Anamnese farmacológica 
Com o objetivo de determinar o conhecimento prévio, o grau de compreensão de seu 
estado e do próprio processo de educação, o farmacêutico deve fazer com que o paciente narre 
os fatos por meio de respostas a perguntas adequadamente estruturadas, que oportunizem ao 
paciente refletir sobre o que sabe (perguntas que o fazem pensar) e/ou recordar-se de pontos 
de que não se lembra ou que não considerou importante (por meio de perguntas abertas 
direcionadas a um objetivo específico) (MARIN, 2003; OPAS, 2002). 
Por meio desse processo, podem-se identificar as áreas nas quais o paciente necessita 
de educação e aconselhamento. Como exemplo, uma pergunta que pode ser empregada para 
saber se o paciente conhece a indicação e o nome do medicamento prescrito: “Para que o 
médico disse que é este remédio?”. Caso o paciente não lembre, pode-se questionar: “Qual o 
problema você acha que este remédio pode ajudar/resolver?” Se o paciente demonstrar 
desconhecimento, deve-se anotar esse dado para posterior orientação. Em seguida, o 
farmacêutico pode verificar se o paciente possui conhecimentos suficientes para a 
administração correta e racional do medicamento. Por último, proceder à revisão final: “Só 
para ter certeza de que não esquecemos nada, por favor, repita como você deve tomar/usar seu 
medicamento” (MARIN, 2003). 
 
 
 
 
1267 
c) Avaliação das informações 
Depois dos questionamentos, o farmacêutico pode proceder a uma análise das 
respostas e da expressão corporal do paciente – determinar o que ele sabe, o que ele não sabe, 
como está sua qualidade de vida etc. Diante dessas avaliações, verificar quais são as 
necessidades de educação do paciente. Como realizá-la, levando-se em consideração nível 
cultural, a linguagem e seu estado emocional? 
 
d) Desenvolvimento da educação 
Todo ser humano possui um conhecimento próprio, que resulta de sua vivência, e 
respeitar esse conhecimento é essencial para a aprendizagem. Nessa perspectiva, o processo 
educativo se assenta, fundamentalmente, no ouvir. Uma das formas de educar é, portanto, 
construir uma relação de ajuda firmada na confiança, num processo mútuo de conhecimento, 
dando ao paciente a oportunidade de falar. Ouvir a outra pessoa significa compartilhar de sua 
vida, aprender com a sua experiência. Somente na cumplicidade, no envolvimento sincero, o 
processo educativo acontece (GAZZINELLI, 2003). 
Freire afirma: 
Não é falando ao outro de cima para baixo [...] como se fôssemos portadores da 
verdade a ser transmitida aos demais que aprendemos a escutar, mas é escutando que 
aprendemos a falar com eles. Somente quem escuta paciente e criticamente o outro 
fala com ele [...], mesmo que em certas condições precise falar a ele [...], fala com 
ele como sujeito da escuta de sua fala crítica e não como objeto de seu discurso. O 
educador que escuta aprende a difícil lição de transformar o seu discurso, às vezes 
necessário, em uma fala com ele (FREIRE, 1996). 
 
Para Freire, o educador é aquele que cria condições para desenvolver a consciência 
crítica do outro, uma consciência crítica voltada para análise de problemas e que assume uma 
posição questionadora, fundamentada no diálogo. 
Diante disso, pode-se delinear um modelo emergente de educação em saúde, que pode 
ser referido como modelo dialógico, por ser o diálogo seu instrumento essencial. O paciente é 
reconhecido como sujeito possuidor de um saber que, embora diferente do saber técnico-
científico, é levado em consideração pelo profissional. Num modelo dialógico e participativo, 
todos, profissionais e pacientes, atuam como iguais, ainda que com papéis diferenciados, ao 
contrário do modelo tradicional, hegemônico, no qual os pacientes são tomados como 
indivíduos carentes de informação em saúde, cujas estratégias desta prática educativa incluem 
informações verticalizadas que ditam comportamentos a serem adotados para a manutenção 
da saúde (CHIESA; VERÍSSIMO, 2003). 
 
1268 
O objetivo da educação dialógica não é o de informar para saúde, mas de transformar 
saberes existentes. A prática educativa, nesta perspectiva, visa ao desenvolvimento da 
autonomia e da responsabilidade dos indivíduos no cuidado com a saúde, porém não mais 
pela imposição de um saber técnico-científico detido pelo profissional,mas, sim pelo 
desenvolvimento da compreensão da situação de saúde (CHIESA; VERÍSSIMO, 2003). 
 
e) Finalização da entrevista 
A finalização da entrevista é o momento em que é selado o compromisso entre o 
farmacêutico e o paciente de que existe um acordo de respeito e ajuda para o uso seguro e 
racional de medicamentos. 
 
Conclusões 
Os problemas relacionados ao consumo de medicamentos apresentam-se geralmente 
em virtude da falta de conhecimento, da informação incorreta, do esquecimento, do acesso 
inadequado e desqualificado dos serviços de saúde e dos próprios medicamentos. Somam-se a 
esses problemas uma possível prescrição indevida, a falta de comprometimento do paciente 
com a terapia, a utilização excessiva, a substituição do medicamento sem orientação, a 
duplicação terapêutica, as interações medicamentosas, a contra-indicação por doenças ou 
alergias e o armazenamento incorreto. 
Orientar o paciente e desenvolver ações educativas sobre medicamentos não são 
atividades exclusivas do farmacêutico; ao contrário, devem estar relacionadas às atribuições 
de todos os profissionais da equipe de saúde. No entanto, a própria natureza da formação do 
farmacêutico, somada à função de dispensar medicamentos, dá a este profissional a 
qualificação e a oportunidade ímpar de estar com o paciente antes que seja iniciado o seu 
tratamento. 
É certo que a revalorização profissional não se dá apenas com uma nova estrutura 
curricular. É preciso definir para quem será voltado o modelo de assistência farmacêutica. 
Tendo o SUS como o modelo de saúde a ser seguido, parece evidente que as políticas de 
assistência farmacêutica e de medicamentos devem seguir as mesmas diretrizes, que são de 
universalidade do acesso, integralidade das ações e controle social. 
Como todo profissional de saúde, o farmacêutico é um educador em potencial, que 
deve ter o paciente como o centro da atenção e levar em consideração sua visão de mundo, 
pois todo paciente tem direito à sua individualidade. Com isso procura-se estabelecer um 
 
1269 
processo educativo que torne possível ao paciente tomar a decisão de aderir ao tratamento, 
utilizando o medicamento de maneira correta, consciente e responsável. 
Educar é mais do que apenas divulgar informações; precisa envolver processos que 
contribuam para a mudança de atitudes e de conduta do paciente, permitindo-lhe enxergar sua 
condição de enfermo e o medicamento sob novo olhar. O farmacêutico, para ser educador, 
precisa ter consciência de si e de sua identidade profissional, estar envolvido na atividade 
educativa por inteiro, sabendo ouvir para atender às necessidades do paciente e, assim, criar 
condições para o estabelecimento de práticas educativas eficazes no que diz respeito ao uso de 
medicamentos. 
 
REFERÊNCIAS 
 
BERMUDEZ, J. A. Z.; BONFIM, J. R. A. (Org.) Medicamentos e reforma do setor saúde. 
São Paulo: Hucitec/Sobravime, 1999. 236 p. 
 
BRASIL. Lei Federal n° 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições de 
promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e funcionamento dos serviços de 
saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, 20 set. 1990. Disponível 
em: <http://www.anvisa.gov.br/e-legis/ > Acesso em: 13 fev. 2007. 
 
_______. CNE/CES. Resolução n° 2, de 19 de fevereiro de 2002. Institui Diretrizes 
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Brasília, DF, 4 mar. 2002. Disponível em: 
<http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES022002.pdf >. Acesso em: 14 fev. 2007. 
 
_______. Ministério da Saúde. Fundo Nacional de Saúde. Gestão Financeira do Sistema 
Único de Saúde: manual básico. 3. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2003. 66 p. 
 
_______. Ministério da Saúde. Assistência farmacêutica na atenção básica. Secretaria de 
Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica e 
Insumos Estratégicos. 2. ed. (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Brasília, 2006. 98 p. 
 
CARRILLO, G.G.G. Ensino farmacêutico e a necessidade de mudanças na concepção de 
estágio na carreira do farmacêutico-bioquímico. Cuiabá: UFMT, 1999. Disponível em: 
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