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Capítulo 7. COOPERAÇÃO JURISDICIONAL

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2017 - 07 - 16 
Curso Avançado de Processo Civil - Volume 1 - Edição 2016
PARTE II - JURISDIÇÃO
CAPÍTULO 7. COOPERAÇÃO JURISDICIONAL
Capítulo 7. Cooperação jurisdicional
Sumário: 1. Cooperação internacional: 1.1 Noções gerais; 1.2 Princípios, 1.3 Requisitos;
1.4 Objeto da cooperação jurídica internacional; 1.5 Auxílio direto; 1.6 Carta rogatória - 2.
Cooperação nacional: 2.1 Noções gerais; 2.2 Modalidades.
1. Cooperação internacional
1.1. Noções gerais
As normas de cooperação jurídica internacional são aquelas que regulam a requisição
de atos a serem praticados fora dos limites territoriais do Estado soberano. São inúmeros
os instrumentos multilaterais e bilaterais já celebrados pelo Brasil em matéria de
cooperação internacional. Um exemplo é a Convenção sobre os Aspectos Civis do
Sequestro Internacional de Crianças, concluída em Haia, em 25 de outubro de 1980, e
promulgada no Brasil pelo Dec. 3.413/2000. Outro exemplo é o Acordo de Cooperação e
Assistência Jurisdicional em Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e Administrativa entre
os Estados Partes do Mercosul, a República da Bolívia e a República do Chile, assinado em
Buenos Aires, em 5 de julho de 2002, e promulgado no Brasil pelo Dec. 6.891/2009. Ainda,
um outro exemplo é o Tratado sobre Auxílio Judicial em Matéria Civil e Comercial entre o
Brasil e a China, firmado em Pequim, em 19 de maio de 2009, e promulgado no Brasil pelo
Dec. 8.430/2015.
A cooperação jurídica internacional dá-se conforme as regras provenientes de tratados
internacionais dos quais o Brasil seja signatário. Na falta de tratado, a cooperação é
viabilizada se entre os Estados houver reciprocidade, manifestada por via diplomática
(art. 26, caput e § 1.º, do CPC/2015). Essa regra não se aplica, contudo, na hipótese de
homologação de sentença estrangeira, em que não a reciprocidade não é exigida (§ 2.º).
O legislador do CPC/2015 optou pela expressão "cooperação jurídica internacional" no
intuito, parece-nos, de não restringir essa prática ao âmbito jurisdicional. Isso significa
que a cooperação jurídica internacional também pode realizar-se, por exemplo, em
processos administrativos.
A cooperação jurídica internacional pode ser ativa ou passiva. Será ativa, quando
solicitada pelo Brasil para a prática de ato em Estado estrangeiro. Será passiva, quando
requisitada pelo Estado estrangeiro para a prática de ato em território brasileiro.
1.2. Princípios
Além das regras provenientes de tratados dos quais o Brasil seja signatário e das
normas fundamentais que regem o Estado brasileiro, deve a cooperação jurídica
internacional observar os princípios e exigências do art. 26 do CPC/2015. Conforme o
dispositivo, para que a cooperação se realize, devem ser observadas, no Estado
requerente, as garantias do devido processo legal (inc. I).
Exige-se, além disso, que nacionais e estrangeiros, residentes ou não no Brasil, recebam
o mesmo tratamento, para que a todos seja garantido o acesso à justiça e à tramitação dos
processos. Aos necessitados, deve ser assegurada a assistência judiciária (inc. II).
A publicidade processual também deve ser garantida, mas são ressalvadas as regras de
sigilo previstas no ordenamento jurídico do Brasil e do Estado requerente (inc. III).
1.3. Requisitos
A cooperação jurídica internacional, como já dito, deve observar as normas
fundamentais previstas no ordenamento jurídico brasileiro. Isso significa que não é
permitida a prática de atos que desrespeitem normas fundamentais ou que produzam
resultados com estas incompatíveis (art. 26, § 3.º, do CPC/2015). Da mesma forma, não
serão admitidos pedidos passivos de cooperação que possam configurar ofensa à ordem
pública (art. 39 do CPC/2015).
Em termos práticos, o art. 26 prevê, em seu inc. IV, a necessidade de que exista
autoridade central para transmissão e recepção dos pedidos de cooperação. Na ausência
de determinação específica, a autoridade central será o Ministério da Justiça (§ 4.º),
através do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional
(DRCI), como disposto no Dec. 6.061/2007 (Anexo I).
O pedido de cooperação formulado pela autoridade brasileira e os documentos que o
instruem, acompanhados da tradução para o idioma do país em que o ato será praticado,
são encaminhados à autoridade central para envio ao Estado requerido.
No caso da cooperação passiva, quando o documento que instruir o pedido e a
respectiva tradução para o português forem encaminhados através da autoridade central
ou por via diplomática, não haverá necessidade de ajuramentação, autenticação ou outro
procedimento de legalização, pois, quando encaminhados nessas condições, consideram-
se autênticos, observado o princípio da reciprocidade de tratamento.
A cooperação jurídica internacional exige a espontaneidade na transmissão de
informações entre as autoridades estrangeiras. Ou seja, as informações devem ser
transmitidas imediatamente, sem que haja a estrita necessidade de solicitação pelo Estado
requerente. O escopo dessa norma, parece-nos, é simplificar os mecanismos de
cooperação.
1.4. Objeto da cooperação jurídica internacional
Podem ser objeto da cooperação jurídica internacional, a teor do que dispõe o art. 27
do CPC/2015, atos de citação, intimação e notificação judicial e extrajudicial (inc. I),
"colheita de provas e obtenção de informações" (inc. II), "homologação e cumprimento de
decisão" (inc. III), "concessão de medida judicial de urgência" (inc. IV) e "assistência
jurídica internacional" (inc. V). Esse rol, porém, não é taxativo. O inc. VI do próprio art. 27
dispõe que poderá ser objeto de cooperação "qualquer outra medida judicial ou
extrajudicial não proibida pela lei brasileira".
1.5. Auxílio direto
No auxílio direto, a cooperação jurídica internacional é mais célere e desburocratizada,
sendo cabível quando a medida não decorrer diretamente de decisão judicial que tenha de
ser submetida a juízo de delibação realizada no Brasil, cuja competência é do STJ (art. 105,
I, i, CF).
Além dos casos previstos nos tratados dos quais o Brasil seja signatário, o art. 30 do
CPC/2015 diz que podem ser objeto de pedido de auxílio direto a obtenção e a prestação de
informações sobre o ordenamento jurídico ou a respeito de processos administrativos ou
judiciais (inc. I); e a colheita de provas, desde que não trate de processo de competência
exclusiva de autoridade judiciária brasileira (inc. II).
Esse rol também não é taxativo. Pode ser objeto de auxílio direto qualquer outra
medida não proibida pela legislação brasileira (inc. III), desde que, como já referido, não
decorra diretamente de decisão judicial que tenha de ser submetida a juízo de delibação.
O pedido de auxílio direto, cuja clareza e autenticidade deverá ser assegurada pelo
Estado requerente, é encaminhado à autoridade central brasileira que lhe dará
andamento. Tanto no pedido de auxílio direto ativo, quanto passivo, a autoridade central
brasileira comunica-se diretamente com suas congêneres. Somente quando necessário,
comunicar-se-á com os demais órgãos estrangeiros responsáveis pela tramitação e
execução de pedidos de cooperação (art. 31 do CPC/2015).
Se se tratar de auxílio direto passivo para a prática de atos de natureza meramente
administrativa, a própria autoridade central deverá adotar as providências necessárias
para o cumprimento.
Já, quando se tratar de medida de natureza jurisdicional, recebido o pedido, a
autoridade central deverá encaminhá-lo à AGU, que dirigirá ao juízo federal do lugar em
que deva ser executada a medida requerimento para a prática do ato. Tal requerimento
poderá ser feito pelo Ministério Público nas hipóteses em que este for designado como
autoridade central.
1.6. Carta rogatória
A carta rogatória é mecanismo de cooperação jurídica internacional destinado a atos
que exijam maiores formalidades. Há, no art. 35 do CPC/2015, previsão de que seria a
cartarogatória destinada à "(...) prática de ato de citação, intimação, notificação judicial,
colheita de provas, obtenção de informações e cumprimento de decisão interlocutória,
sempre que o ato estrangeiro constituir decisão a ser executada no Brasil". Esse
dispositivo, entretanto, foi vetado pela Presidência da República, sob o fundamento de que
a imposição da prática de determinados atos pela carta rogatória, que poderiam ser
realizados por meio de auxílio direto, afetaria a celeridade e a efetividade da cooperação.
É certo, contudo, que a carta rogatória permanece sendo o único mecanismo de
cooperação quando a medida decorrer diretamente de decisão que deva ser submetida a
juízo de delibação no Brasil.
Assim como o auxílio direto, a carta rogatória pode ser ativa ou passiva, conforme
expedida pela autoridade jurisdicional brasileira para a prática de atos no Estado
estrangeiro, ou pela autoridade jurisdicional estrangeira, para a prática de atos no Brasil.
Segundo dispõe a regra do art. 36 do CPC/2015, o procedimento de carta rogatória
proveniente de autoridade jurisdicional estrangeira, de competência do STJ, é de
jurisdição contenciosa, assegurando-se às partes todas as garantias do devido processo
legal.
Na defesa, as partes podem discutir apenas questões referentes ao atendimento dos
requisitos para que a decisão judicial produza efeitos no Brasil. É vedada a discussão do
mérito do pronunciamento judicial estrangeiro pelas partes ou a sua revisão pelo órgão
jurisdicional brasileiro.
No vol. 2, cap. 33 examina-se, com mais vagar, a homologação de sentença estrangeira
e a concessão do exequatur à carta rogatória, previstas no art. 960 e ss.
2. Cooperação nacional
2.1. Noções gerais
Como já referido, não é permitido aos juízos a prática de atos judiciais fora da esfera de
sua competência. Portanto, para que a tutela jurisdicional justa e efetiva seja prestada em
tempo razoável, o art. 67 do CPC/2015 impõe aos órgãos do Poder Judiciário o dever de
recíproca cooperação, visando viabilizar e facilitar a realização de atos fora dos limites da
competência do juízo requerente.
Trata-se de dever que abrange absolutamente todos os órgãos do Poder Judiciário,
independentemente do grau ou ramo desses órgãos (art. 69, § 3.º, do CPC/2015). É que, em
respeito ao princípio da unidade da jurisdição nacional, não pode o Poder Judiciário
permitir que as distinções por motivos de competência impeçam a atuação de seus
diversos órgãos em sintonia. A cooperação alcança também os juízos arbitrais que, por
meio das cartas arbitrais, podem formular pedido de cooperação ao Poder Judiciário.
Sobre o tema, v. n. 32.2, adiante.
Assim sendo, em atenção ao dever de cooperação (art. 6.º do CPC/2015), à agilidade, à
concisão e à instrumentalidade das formas, impõe-se que os atos de cooperação sejam
realizados de maneira rápida e fluída.
As normas de cooperação previstas no CPC seguem as diretrizes traçadas pelo Conselho
Nacional de Justiça na Recomendação 38, de 3 de novembro de 2011, através da qual
recomendou a implantação de uma Rede Nacional de Cooperação Judiciária, com a
instituição dos Juízes de Cooperação1 (que também podem ser instituídos em segundo
grau de jurisdição), e a criação pelos Tribunais de Núcleos de Cooperação.2
2.2. Modalidades
O pedido de cooperação, a teor do que dispõe o art. 68 do CPC/2015, pode ser formulado
para a prática de qualquer ato processual, desde que não constitua ofensa ao princípio do
juiz natural.
O caput do art. 69 do CPC/2015 dispõe que não há forma específica para o pedido de
cooperação jurisdicional. Ou seja, é possível que os juízos cooperantes estabeleçam as
formas de cooperação que considerarem adequadas ao caso concreto (v.g.e-mail - a forma
eletrônica é a preferencial). A ausência de especificidade, no entanto, não implica a escusa
da forma, que sempre estará presente e é processualmente relevante. O escopo da norma
é a flexibilidade, sem perder de vista o devido registro e documentação do ato praticado,
em respeito, também, ao princípio da publicidade.
Ao determinar que o pedido de cooperação "deve ser prontamente atendido" e
"prescinde de forma específica" reforça a necessidade de observância dos princípios da
celeridade e da instrumentalidade das formas. Isto é, não basta que a cooperação se dê
sem embaraços entre os órgãos jurisdicionais, é preciso que sua efetivação ocorra de
maneira célere. A cooperação morosa pode não cumprir com a finalidade a que se destina.
O pedido de cooperação pode ser executado através do auxílio direto, da reunião ou
apensamento de processos, da prestação de informações e dos atos concertados entre os
juízes cooperantes.
Atos concertados são os atos ajustados entre os juízos cooperantes que, na dicção do §
2.º do art. 69 do CPC/2015, podem consistir no estabelecimento de procedimento para:
citação, intimação, notificação de ato, obtenção e apresentação de provas e colheita de
depoimentos, efetivação de tutela provisória, efetivação de medidas e providências para
recuperação e preservação de empresas, facilitação de habilitação de créditos na falência
e na recuperação judicial, centralização de demandas repetitivas e execução de decisão
jurisdicional. Esse rol, porém, não é exaustivo. Como preceitua o art. 68 do CPC/2015,
acima tratado, o pedido de cooperação pode versar sobre qualquer ato processual.
Em relação às cartas (de ordem ou precatória), tradicionalmente utilizadas para
pedidos de cooperação nacional, o art. 264 do CPC/2015 preceitua que elas podem adquirir
formas variadas, sejam físicas, eletrônicas, telefônicas ou por telegrama. As cartas
precatórias, de ordem e arbitral, diz o § 1.º do art. 69, seguem o regime do art. 260 e ss. do
CPC/2015, tratado, neste Curso, no cap. 32, adiante.
1. Cooperação Internacional
Noções Gerais
Atos a serem praticados fora dos limites territoriais do Estado
soberano
Regras aplicáveis: Tratados Internacionais - Reciprocidade (via
diplomática) - Homologação de Sentença Estrangeira
Processos Judiciais - Administrativos - Arbitragem
Ativa (solicitada pelo Brasil) e Passiva (requisitado por Estado
estrangeiro)
Princípios
Devido Processo Legal
Tratamento Igualitário
Assistência Judiciária
Publicidade
Requisitos
Observar as normas fundamentais previstas no ordenamento
brasileiro
Necessidade de autoridade central para transmissão e recepção dos
pedidos de cooperação
Espontaneidade na transmissão de informações a autoridades
estrangeiras
Objeto Art. 27 do CPC/2015 - Rol exemplificativo
Modalidades
Carta rogatória
Auxílio direto
2. Cooperação Nacional
Noções Gerais
Princípio/Dever de cooperação - Art. 6.º do CPC/2015
Rede Nacional de Cooperação Judiciária
Abrange qualquer ato processual
Modalidades
Art. 69 do CPC/2015 - Rol exemplificativo
Ausência de forma específica
3. Doutrina Complementar
3.1. Cooperação Internacional
· Alexandre Flexa, Daniel Macedo e Fabrício Bastos (Novo..., p. 67). Os autores
argumentam que "a cooperação internacional pode ser classificada em ativa, quando o
requerente é o órgão brasileiro, ou passiva, quando o Estado estrangeiro é o requerente.
No Superior Tribunal de Justiça, consoante o art. 105, I, i, da CF, são processadas as cartas
rogatórias e os pedidos de homologação de sentenças estrangeiras, instrumentos
tradicionais, mas não exclusivos, destinados a viabilizar a cooperação internacional
passiva. De outro lado, a carta rogatória ativa, no momento de seu envio, deverá cumprir
os requisitos da lei brasileira, além de conformar-se com a legislação estrangeira. É de
responsabilidade do Ministério da Justiça, através do DRCI, o envio das cartas rogatórias".
· André Luís Monteiro e Fabiane Verçosa (Breves..., p. 117-118) ressaltam que "a
espontaneidade na transmissão de informações significa o dever de o Estado brasileiro,
quando figurar como Estado requerido emqualquer modalidade passiva de cooperação
jurídica internacional já solicitada por Estado estrangeiro, prestar informações a respeito
do desenvolvimento do pedido de ofício, informando a respeito de novos andamentos e
novas providências, independentemente de sucessivas provocações do Estado requerente,
o que torna a comunicação muito mais célere e efetiva. O termo 'espontaneidade' não
poderá em qualquer hipótese ser interpretado como dispensa da exigência de tratado (...)
ou reciprocidade".
· Andre Roque (Teoria..., p. 146) explica que "para que uma decisão brasileira produza
efeitos no exterior, ou vice-versa, é preciso contar com a colaboração do Estado receptor
para a realização dos atos necessários ao seu cumprimento. Esse fenômeno costuma ser
denominado por diversas expressões, como assistência judiciária internacional,
cooperação internacional, cooperação judicial internacional, cooperação jurisdicional
internacional ou cooperação interjurisdicional. O CPC/2015 adotou a expressão
cooperação jurídica internacional, que parece mesmo a mais adequada, uma vez que
engloba o reconhecimento de decisões proferidas fora do Poder Judiciário, por árbitros
(não possui, portanto, caráter exclusivamente judicial) e a prática, entre países distintos,
de medidas de natureza administrativa (ou seja, não se trata apenas de cooperação na
esfera jurisdicional)".
· Humberto Theodoro Júnior (Curso..., vol. 1, 56. ed., p. 194) entende que "o novo
Código atribuiu maior importância à cooperação internacional, levando em conta a
necessidade de colaboração entre os Estados, em razão da crescente globalização.
Atualmente, é impossível imaginar-se um Estado completamente ilhado e centrado em
seus limites territoriais. Cada vez mais as pessoas estão em interação, seja na área
econômica, comercial, jurídica ou social, e as distâncias não são mais vistas como
obstáculos ao intercâmbio. Essa movimentação de pessoas, bens e dinheiro, a par de
incrementar a economia mundial, reclama uma maior assistência entre os Estados para
assegurar o pleno funcionamento da Justiça, quer para a execução de atos processuais,
quer para a colheita de provas ou simples troca de informações. Nesse cenário, os tratados
internacionais ganham extrema relevância, na medida em que ditam regras de
cooperação para a prática de atos processuais entre os diversos países. A jurisdição de um
Estado, como ato de soberania, adstringe-se à sua área territorial. Não houvesse, pois, essa
colaboração, várias decisões ficariam sem efeito, por impossibilidade de cumprimento
fora dos limites jurisdicionais". Segundo afirma esse autor, "apesar de se aceitar a eficácia,
no País, de atos proferidos por juízes estrangeiros, a cooperação não será admitida se tais
atos contrariarem ou produzirem resultados incompatíveis com as normas fundamentais
que regem o nosso Estado (art. 26, § 3º [do CPC/2015]). Dessa maneira, os fundamentos
institucionais da jurisdição brasileira jamais poderão ser desrespeitados, a pretexto de
colaboração com justiça estrangeira".
· Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero (Novo Código..., p.
106). Para os autores, "cabe aos tratados internacionais disciplinar cooperação
internacional, não sendo atribuição do Judiciário analisar a conveniência da extensão
oferecida a essa cooperação. Embora o art. 26 do CPC [2015], preveja requisitos para essa
cooperação, descabe ao Judiciário brasileiro recusar a cooperação prevista em tratado, sob
a alegação de violação a algum dos requisitos ali indicados. Excetua-se dessa regra a
eventual violação a algum dos requisitos ali indicados. Excetua-se dessa regra a eventual
violação a normas fundamentais do Estado brasileiro (arts. 1.º a 17 da CF)".
· Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery (Comentários..., p. 285), afirmam que
"os Estados com os quais o Brasil mantiver relações de cooperação no âmbito processual
deverão tratar de forma igual brasileiros e aqueles que são nacionais desses países. A
justificativa constitucional está, porém, no princípio de isonomia do CF 5.º caput. Tudo que
estiver submetido à jurisdição brasileira ou dela requerer cooperação deve respeitar esse
princípio, mediante o tratamento idêntico àqueles que são iguais e desiguais. Da mesma
forma, se o Brasil requerer cooperação processual de um Estado, este deverá dispensar
aos brasileiros envolvidos, o mesmo tratamento que daria aos seus nacionais."
· Teresa Arruda Alvim Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva
Ribeiro e Rogerio Licastro Torres de Mello (Primeiros..., p. 96), sobre o inc. IV do art. 26,
determinam que "a existência de autoridade central, cá e lá, está fundada na ideia de
concentração dos pedidos, a fim de que sua gestão possa ser feita com algum grau de
eficiência. Se, por exemplo, houver diversos órgãos jurisdicionais do Estado X,
pretendendo obter a cooperação brasileira para a prática de determinados atos (como
citação, por exemplo, nos termos do art. 27, I [do CPC/2015]), todos esses pedidos deverão
ser encaminhados à autoridade central do Estado requerente, que as remeterá ao
Ministério da Justiça para as providências que se fizerem necessárias".
3.2. Cooperação Nacional
· Alexandre Flexa, Daniel Macedo e Fabrício Bastos (Novo..., p. 94). De acordo com os
autores, "para o CNJ, o processamento dos pedidos de cooperação judicial será informado
pelos princípios da agilidade, concisão, instrumentalidade das formas e unidade da
jurisdição nacional, dando-se prioridade ao uso dos meios eletrônicos. Os mecanismos de
cooperação têm por finalidade institucionalizar meios que tragam maior fluidez e
agilidade à comunicação entre os órgãos judiciários e outros operadores sujeitos do
processo, não só para cumprimento de atos judiciais, mas também para harmonização e
agilização de rotinas e procedimentos forenses, fomentando a participação dos
magistrados de todas as instâncias na gestão judiciária".
· Humberto Theodoro Júnior (Curso..., vol. 1, 56. ed., p. 263) afirma que "o novo Código,
na implantação de uma política de informalidade e agilidade, destinada a incrementar a
eficiência do serviço judiciário - que leva em conta a necessidade de diligências fora da
base territorial do foro -, instituiu o dever de recíproca cooperação aos órgãos do Poder
Judiciário, estadual ou federal, especializado ou comum, em todas as instâncias e graus de
jurisdição, inclusive aos tribunais superiores, o qual deverá se efetivar por meio de seus
magistrados e servidores (art. 67 do CPC/2015). A cooperação preconizada pelo NCPC tem a
função de permitir o intercâmbio e o auxílio recíproco entre juízos numa dimensão que
vai além dos limites rígidos e solenes das cartas precatórias ou de ordem".
· Leonardo Faria Schenk (Breves..., p. 243) entende que "a opção do legislador por um
processo de matiz colaborativa (art. 6.º [do CPC/2015]) evidencia a existência de deveres
não apenas das partes para com o órgão jurisdicional, mas também entre as próprias
partes e do órgão jurisdicional para com elas, além do dever de mútua cooperação entre
os diversos órgãos do Poder Judiciário (art. 67 [do CPC/2015]), com manifestações ao longo
de todo o processo, a exemplo do dever de agir com lealdade e boa-fé, do dever de
urbanidade e respeito, do dever de pontualidade, do dever de remoção dos obstáculos ao
cumprimento das decisões, do dever de comparecer em juízo e de prestar esclarecimentos,
do dever de imediata comunicação da impossibilidade de realização dos atos processuais,
do dever de clareza, transparência e celeridade na realização das diligências e nas suas
respectivas comunicações, além de inúmeros outros, sem jamais olvidar a existência de
interesses antagônicos das partes no processo, justificador, inclusive, do interesse de agir
na jurisdição contenciosa (art. 17 [do CPC/2015]), e a responsabilidade estatal de decidir o
conflito com o máximo respeito às garantias fundamentais.".· Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery (Comentários..., p. 367), em comentário
ao art. 67 do CPC/2015, afirmam que "da mesma forma que os Estados soberanos devem
ajudar-se mutuamente na solução de questões que ultrapassam fronteiras, os diversos
órgãos constituintes do Poder Judiciário devem também prestar esse auxílio mútuo uns
aos outros", bem como que "a redação genérica do CPC [2015] 68 dá a entender que a
cooperação pode se dar de qualquer forma que se faça necessária para a melhor prestação
jurisdicional".
· Teresa Arruda Alvim Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva
Ribeiro e Rogerio Licastro Torres de Mello (Primeiros..., p. 133), sobre a cooperação
nacional, afirmam que "a despeito do grau do órgão jurisdicional (primeiro grau, segundo
grau ou instância excepcional) e de sua competência territorial, material ou em razão do
valor, deverá existir entre todos os órgãos do Poder Judiciário cooperação recíproca: atos,
informações, elementos constantes dos autos e afins que sejam úteis para determinado
órgão jurisdicional e que possam ser praticados ou fornecidos por outro órgão do Poder
Judiciário, em prestígio a este dever de recíproca cooperação, deverão ser objeto de fluxo
franco, célere, independente de forma pré-fixada (o que não quer dizer destituído de
forma, como adiante consignamos). Consiste, este dever de cooperação, em algo que se
impõe ao Poder Judiciário como um todo, aplicando-se tanto a magistrados quanto a todos
os servidores da Justiça: note-se a ênfase dada pelo art. 67 do CPC [2015] à incidência do
dever de cooperação a 'magistrados e servidores'".
Enunciados do FPPC
N.º 5.(Art. 69, § 3.º, CPC/2015) O pedido de cooperação jurisdicional poderá ser
realizado também entre o árbitro e o Poder Judiciário.
4. Bibliografia
4.1. Fundamental
Alexandre Flexa, Daniel Macedo e Fabrício Bastos, Novo Código de Processo Civil. O que
é inédito. O que mudou. O que foi suprimido, Salvador: JusPodivm, 2015; Fernando da
Fonseca Gajardoni, Luiz Dellore, Andre Vasconselos Roque e Zulmar Duarte de Oliveira Jr.,
Teoria geral do processo: comentários ao CPC de 2015: parte geral, São Paulo, Forense,
2015; Humberto Theodoro Júnior, Cursodedireitoprocessualcivil, 56. ed., Rio de Janeiro,
Forense, 2015, vol. 1; Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery, Comentários ao
código de processo civil, São Paulo, Ed, RT, 2015; Teresa Arruda Alvim Wambier, Fredie
Didier Jr., Eduardo Talamini e Bruno Dantas (coord.), Breves comentários ao Novo Código
de Processo Civil, São Paulo, Ed. RT, 2015; _____, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo
Ferres da Silva Ribeiro e Rogerio Licastro Torres de Mello, Primeiros comentários ao novo
código de processo civil: artigo por artigo, São Paulo, Ed. RT, 2015.
4.2. Complementar
Antônio Pereira Gaio Júnior e Edmundo Gouvêa Freitas, Os limites da jurisdição
nacional e a cooperação internacional no plano do novo Código de Processo Civil
brasileiro, RePro 243/537; Caio Gonzalez de Babo, Fundamentos da cooperação jurídica
internacional, RDCI 82/335; Felipe Fröner, Cooperação internacional na perspectiva da
normatização projetada e da normatização internacional, RePro 215/281; Flávia Pereira
Hill, A cooperação jurídica internacional no projeto de novo Código de Processo Civil o
alinhamento do Brasil aos modernos contornos do direito processual, RePro 205/347;
Haroldo Valladão, Problemas jurídicos da cooperação internacional no campo do
desenvolvimento econômico e social, Doutrinas Essenciais de Direito Internacional, 1/1029;
José Maria Tesheiner, Cooperação judicial internacional no novo Código de Processo Civil,
RePro 234/331; Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero, Novo
código de processo civil comentado, São Paulo, Ed. RT, 2015; Saulo Stefanone Alle,
Cooperação jurídica internacional e interpretação do direito interno, RDCI 81/329.
FOOTNOTES
1
O art. 7.º da Recomendação 38/2011 impõe ao Juiz de Cooperação os seguintes deveres: "I -
fornecer todas as informações necessárias a permitir a elaboração eficaz de pedido de
cooperação judiciária, bem como estabelecer os contatos diretos mais adequados; II - identificar
soluções para os problemas que possam surgir no processamento de pedido de cooperação
judiciária; III - facilitar a coordenação do tratamento dos pedidos de cooperação judiciária no
âmbito do respectivo Tribunal; IV - participar das reuniões convocadas pela Corregedoria de
© desta edição [2016]
Justiça, pelo Conselho Nacional de Justiça ou, de comum acordo, pelos juízes cooperantes; V -
participar das comissões de planejamento estratégico dos tribunais; VI - promover a integração
de outros sujeitos do processo à rede de cooperação; VI - intermediar o concerto de atos entre
juízes cooperantes; VI - intermediar o concerto de atos entre juízes cooperantes".
2
Os Núcleos de Cooperação, segundo dispõe o art. 9.º da Recomendação 38/2011, têm como função
"sugerir diretrizes de ação coletiva, harmonizar rotinas e procedimentos, bem como atuar na
gestão coletiva de conflitos e na elaboração de diagnósticos de política judiciária, propondo
mecanismos suplementares de gestão administrativa e processual, fundados nos princípios da
descentralização, colaboração e eficácia". Segundo consta no relatório do CNJ, gerado em
25.07.2013, a quase totalidade dos tribunais no Brasil já constituíram Núcleo de Cooperação
Judiciária e instituíram a figura do juiz de cooperação. Fonte:
[www.cnj.jus.br/images/manuais/Meta_4_de_2012_detalhamento.pdf]. Acesso em: 18.08.2015.

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