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Prova Final a

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Descreva o modelo de crescimento com causação circular cumulativa de Kaldor, destacando a importância e o significado da lei de Verdoorn.
Kaldor propõe um modelo de crescimento em oposição aos modelos neoclássicos predominantes na época, partindo da observação de regularidades empíricas para compor sua análise econômica. Dentre tais observações, três tiveram especial importância para o modelo de causação circular cumulativa. A primeira foi a forte associação entre o crescimento do PIB industrial e do PIB não-industrial, o que indica que o setor industrial seria o “motor” do processo crescimento de uma economia. A segunda descreve a relação causal positiva entre o crescimento da produtividade no setor industrial e do produto industrial, e pode ser descrita pela lei de Verdoorn (1). Derivadas das duas primeiras “leis” apresentadas por Kaldor, pode-se supor que a dinâmica do setor industrial seria dada pelo fato deste apresentar a predominância de retornos crescentes de escala, dinâmicos e estáticos. Por fim, Kaldor observou que o crescimento industrial seria limitado não pela taxa de crescimento da oferta, mas sim pela taxa de crescimento da demanda. Em economias abertas, o principal componente da demanda autônoma determinante no crescimento do produto seria a taxa de crescimento das exportações – por ser o único componente da demanda realmente autônomo, já que vindo de fora e independendo da renda nacional (como é o caso do consumo e investimento) e custear as importações necessárias para o crescimento. 
O modelo de crescimento econômico com causação circular cumulativa foi descrito por Kaldor apenas verbalmente, e formalizado em 1975 por Thirlwall e Dixon. O crescimento do PIB seria liderado pelas exportações (2). O crescimento das exportações, por sua vez, é dado por (3). A renda fora da economia e o nível de preços externos são considerados fatores exógenos, já o nível de preços internos seria dado por uma equação de mark-up simples (4). A produtividade do trabalho, por sua vez, cresceria de acordo com a equação de Verdoorn, ou seja, estaria relacionada com o crescimento da produção. É a lei de Verdoorn que vai determinar a natureza cumulativa e circular do modelo – dada um aumento no produto levaria a uma elevação da produtividade do trabalho, reduzindo os preços de bens domésticos, o que elevaria a demanda por exportações, iniciando um novo ciclo. Podemos dizer, assim, que a lei de Verdoorn introduz a possibilidade de um círculo virtuoso de crescimento nas economias.
(1) ri = ra + λqi → ra nos dá o crescimento autônomo da produtividade do trabalho, enquanto o coeficiente de Verdoorn é a elasticidade do crescimento da produtividade em relação ao crescimento da produção.
(2) yt = γxt → γ nos dá a força do crescimento das exportações para o crescimento do produto.
(3) Xt = (Pft/Pdt . E) n Zte → o nível das exportações é função da taxa de câmbio real, dada a elasticidade preço da demanda por exportações (n), e da renda de fora do país, dada a elasticidade renda por exportações (e). 
(4) pdt = wt – rt + τ → sendo wt a taxa de crescimento dos salários, rt a taxa de crescimento da produtividade do trabalho e τ taxa de crescimento do mark-up sobre os custos do trabalho.
Discorra sobre a visão da CEPAL acerca da industrialização de países periféricos e suas recomendações de políticas para o desenvolvimento econômico.
De acordo com a teoria cepalina, a partir de um certo nível de amadurecimento da periferia, a industrialização passa a ser forma espontânea e necessária de seu desenvolvimento. O caráter espontâneo da industrialização na periferia estaria ligado a acontecimentos de caráter conjuntural, que transformam a economia mundial. É o caso das guerras mundiais e da crise de 29, que incentivaram a produção interna de produtos manufaturados correspondentes aos anteriormente importados. Outro fator foi substituição da Inglaterra pelos EUA no centro cíclico da economia mundial uma vez que a economia estadunidense tinha um caráter mais fechado e apresentava tendência à redução dos coeficientes de importações. Já o caráter necessário da industrialização estaria ligado às diferentes estruturas da periferia (heterogênea e especializada) e do centro (homogênea e diversificada), gerando tendências de deterioração dos termos de troca, que levaria a crises sistemáticas no BP. 
O processo de industrialização, que deveria ocorrer obrigatoriamente por substituição de importações, traria consigo uma série de contradições e desajustes. Como conseqüência da chegada tardia da industrialização na periferia, a tecnologia introduzida nas indústrias da periferia é importada do centro. No entanto, a tecnologia produzida no centro é poupadora de mão-de-obra, o que não é compatível com as relações de capital-trabalho da periferia. Como conseqüência há reprodução do desemprego estrutural da periferia, mesmo com a industrialização. Além disso, a tecnologia importada não é compatível com os padrões de consumo e estruturas de produção da periferia e, assim, as indústrias periféricas se mostram menos eficientes que as dos centros. Com o crescimento do setor moderno surgem ainda desajustes inter-setoriais da produção, relativos à carências de infra-estrutura, transporte, energia, etc. Por fim, destaca-se o fato de a industrialização substitutiva de importações não alterar a necessidade de importar – há uma alteração na composição das importações, mas o seu coeficiente permanece elevado dada a forte necessidade de importar característica do processo substitutivo, se reproduzindo o problema das crises sistemáticas no BP. 
Apresentados as contradições e desequilíbrios resultantes do processo de industrialização, mostra-se essencial o papel do governo, com o planejamento e escolha cuidadosa das políticas econômicas, buscando alterar a estrutura da periferia e evitar a propagação do subdesenvolvimento. As recomendações de políticas da CEPAL para o desenvolvimento econômico tinham como eixo principal a condução deliberada da industrialização. Várias medidas foram propostas, dentre elas: iniciativas que visassem elevar o coeficiente de poupança interna, orientação do crédito, captação de recursos financeiros internacionais, investimento em infra-estrutura, alternativas para diminuir a vulnerabilidade frente à flutuações externas, política de proteção orientando a industrialização substitutiva de importações, ação no campo tecnológico.
Descreva o modelo de crescimento com restrição no BP de Kaldor e seus pressupostos. Quais são as conseqüências do ponto de vista de políticas de desenvolvimento.
O modelo proposto por Kaldor e formalizado por Dixon e Thirlwall (modelo KDT) trabalhava com retornos crescentes de escala na indústria. Além disso, o crescimento do produto seria impulsionado pelo crescimento da demanda e, em uma economia aberta, o crescimento das exportações seria o principal componente da demanda autônoma – por ser o único componente realmente autônomo, já que vindo de fora e independente da renda nacional (como consumo e investimento), e por ser capaz de custear as importações necessárias para o crescimento. No entanto, este crescimento do PIB encontra na prática limites no balanço de pagamentos. O modelo de crescimento com restrição no BP foi formalizado por Thirlwall (1979). Foi feita então uma extensão do modelo de causação circular cumulativa proposto por Kaldor através da inclusão de uma função da demanda por importações (1). O modelo de crescimento liderado pelas exportações é restrito pelo BP pelo fato de, quanto maior a elasticidade renda da demanda por importações, maior a restrição ao crescimento, por o BP poderá ser deficitário. Assim, podemos dizer que o papel do crescimento das exportações é reforçado com a inclusão da restrição no BP. Primeiramente, o multiplicador de comércio exterior de Harrod se reflete em aumento da demanda agregada, ocasionado pelo aumento das exportações. Em segundo lugar, o aumento das exportações proporciona o influxo de moeda estrangeira necessário parapermitir que os demais componentes da demanda agregada cresçam, dado que a expansão do consumo e do investimento agregados certamente estarão associados a volumes crescentes de importações.
A implicação deste modelo, em termos de políticas, é a tentativa dos países de suspender a limitação do BP sobre a demanda. A liberalização do comércio não seria um bom caminho, já que pode melhorar o desempenho das exportações, mas também aumentar o fluxo de importações. Já a desvalorização não pode elevar permanentemente a taxa de crescimento de um país, a não ser que seja contínua e altere favoravelmente outros parâmetros do modelo. Uma alternativa para os países seria impor controles de importações a fim de reduzir a elasticidade renda da demanda por importações. Os países podem ainda buscar o investimento direto a longo prazo. Por fim, pode-se dizer que para os países em desenvolvimento a alternativa mais acertada seria buscar uma mudança estrutural no sentido de reduzir a elasticidade renda da demanda por importações e aumentar a elasticidade renda da demanda por exportações.
(1) Xt = (Pft/Pdt . E) ψ Ztπ 
Defina e descreva o funcionamento dos conceitos de desenvolvimento desigual originário, heterogeneidade estrutural e sistema centro-periferia, de acordo com a CEPAL.
A CEPAL preocupou-se em criar uma teoria específica do desenvolvimento latino-americano e, para tal, desenvolveu o modelo centro-periferia. A estrutura dos países que formam esses blocos seria diferente porque a industrialização chega a eles em momentos distintos. Está presente aí a idéia de desenvolvimento desigual originário, um conceito relacionado aos diferentes momentos históricos em que os países que compõe os centros e a periferia se desenvolvem, determinando diferentes inserções na economia mundial. Os centros são as economias em que primeiro penetraram as técnicas capitalistas de produção, enquanto a periferia apresenta uma produção que permanece com um atraso relativo do ponto de vista tecnológico e organizativo. Pode-se dizer que centros e periferias se constituem historicamente como resultado da forma pela qual o progresso técnico se difunde na economia mundial, conformando-se assim estruturas diferentes. A periferia apresentaria uma estrutura especializada e heterogênea, já os centros, diversificada e homogênea. A heterogeneidade estrutural presente na periferia está relacionada ao fato de os diferentes setores apresentarem diferentes níveis de tecnologia – apenas alguns, aqueles voltados para a exportação, apresentam tecnologia de ponta – gerando assim diferentes níveis de produtividades. A renda per capita média é puxada para baixo devido à baixa produtividade média – e isso é o subdesenvolvimento. Essa estrutura desigual tende a se reproduzir e perpetuar, e há uma tendência de longo prazo a que se alargue as diferenças entre os dois pólos.
Partindo dessa diferenciação estrutural configura-se uma divisão internacional do trabalho na qual cabe ao pólo periférico produzir e exportar matérias primas e alimentos, enquanto os centros cumprem a função de produzir e exportar bens industriais para o sistema em seu conjunto.

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