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A ascensão do resto
III – Preparando-se para o confronto, a partir de aproximadamente 1980
9 – De mecanismos de controle a mecanismos de resistência
	O acesso ao capital estrangeiro transformou tendências expansionistas em superexpansionistas, levando a crises de dívida externa, com altos custos econômicos devido ao desequilíbrio, como queda na produção, salário e intervencionismo. O livre comércio confirmou na saúde das indústrias de substituição de importação do resto, mas a concorrência estrangeira mostrou sua fragilidade. As economias do resto buscaram mecanismos de resistência, tornando-se globais. Alguns poucos, os independentes, ousaram unir com as fileiras inovadoras, baseando a sua expansão de setores de alta tecnologia em firmas nacionais e investimentos em p&d.
	A superexpansão pode ser definida como um excesso de oferta sobre a demanda causada por projeções errôneas de oferta ou demanda, sendo presente em condições de livre mercado e, especialmente, em industrialização tardia e quando essa industrialização tardia ocorre por meio de um Estado desenvolvimentista. Como crises da dívida ocorrem em países retardatários, pode-se concluir que essas condições tardias conduzem a superexpansão. Isso ocorre por três fatores: 1 - em um cenário de competição mundial, a necessidade de atingir uma escala mínima eficiente leva a busca da maximização do lucro através das vendas. 2- com a expansão de retardatários, muda a divisão internacional do trabalho e a especialização dos países, tornando necessária a liberalização de alguns serviços, principalmente financeiros. 3- as informações se tornam imperfeitas com a maior abertura do mercado financeiro, levando a excesso de capacidade, chances de pânico financeiro e especulação. 
	Em estados desenvolvimentistas, a industrialização implica em número ainda maior de tendências expansionistas, utilizando de ativos intermediários para aumentar a lucratividade da atividade manufatureira, o que pode levar a uma bola de neve e também a uma pressão por investimentos.	Crises de dívida na América Latina em 1982 e leste da Ásia 1997 foram precedidas por alta em investimento.
	São poucas as contra tendências, como controle sobre a expansão da capacidade e de controles sobre empréstimos no estrangeiro, mas como existe uma busca por mercado do Atlântico Norte e busca de crédito pelo “resto”, isso pouco ocorre, também porque como o controlador é o governo e não há forma de impedir os empréstimos pelo governo, que normalmente são excessivos e descontrolados. Todos os países (China, Índia e Taiwan) que conseguiram evitar o colapso financeiro em 2000 eram estadistas, com alta participação do governo na formação de capital interno e com mercado financeiro pouco liberalizado, sendo a disposição de emprestar de bancos estrangeiros uma condição para a quebra financeira. A alta nos empréstimos e investimentos pode ser vista nos fracassos do pós-guerra no “resto” .
	As crises foram provocadas pelo “estado imperialista” (aquele que representa seu setor de serviços financeiros) mas não são impedidas pelo “estado desenvolvimentista" (representa o setor manufatureiro). A duração da crise pode ser explicada pela eficiência de alocação, que estava sob o controle do Estado desenvolvimentista durante parte dos anos pós-guerra. Para provar isso, é possível ver se as indústrias escolhidas pelo estado desenvolvimentista sobreviveram ao comércio mais livre. Se sim, a estagnação seria devido à ineficiência de alocação. 
	Na década de 1980 os Estados Unidos adotaram uma política similar à adotada pela Grã-Bretanha um século antes, provendo suas próprias indústrias em uma estratégia ofensiva, com proteção interna e abertura dos mercados de economias mais fracas. O maior desafio não foram os países do resto, mas sim o Japão, que se tornou o alvo principal da abertura de mercado. O resto era um empecilho político aos Estados Unidos, representando ameaça aos empregos americanos. Isso levou a esforços para abri-la o mercado do resto mediante liberalização das importações. 
	Para o Consenso de Washington, a liberalização deveria ocorrer para redirecionar recursos de indústrias pouco eficientes, que sobreviviam atrás de muralhas tarifárias, para mais eficientes, buscado estimular o crescimento econômico, podendo ser provado por realocação de recursos devido a tarifas mais baixas. Para verificar essa ideia, foi criado o índice de mudança estrutural, que iria de 0 a 100, sendo que 100 representava mudança completa da estrutura industrial. A mudança industrial é baixa, não chegando a 12% entre 1980 e 1994 e era maior em países menos industrializados . Esse índice não era sensível a mudanças dentro das indústrias e não era sensível a desindustrialização, pois queda na participação da indústria manufatureira no PIB pode ser devido a aumento do setor de serviços, por exemplo. Com isso, não é possível descartar a hipótese que o setor industrial estabelecido pelo Estado desenvolvimentista era eficiente. 
	Analisando indústrias que expandiram ou contraíram, é possível analisar o papel do Estado desenvolvimentista, pois se as empresas que ele escolheu forma as que cresceram, o Estado foi capaz de criar setores líderes. Setores no resto que exigem vantagens comparativas dinâmicas são de maquinário elétrico e não elétrico e equipamentos de transporte, que são difíceis de serem desenvolvidos, tendo sido selecionados pelos estados. Além disso, os setores escolhidos pelos estados eram aqueles com expansão mundial maior. Analisando países individualmente, é possível perceber grande variação nas indústrias que exibiam vantagem comparativa dinâmica. Com base nesses dados, a alocação de recursos pelo Estado desenvolvimentista parece ter sido eficiente para passar no teste do mercado, sendo que o livre comércio não conduziu a reestruturação na forma de contração ou expansão de manufatoras, possibilitando a criação de setores líderes. Alguns países, como Argentina e Chile, careciam de setor dinâmico o bastante para servir de motor do crescimento.
	Na década de 1990, os Estados desenvolvimentistas estavam desacreditados e desmoralizados, sendo que a grande ameaça era a desnacionalização no nível das empresas, devido a um aumento no investimento estrangeiro direto, real ou previsto. Para isso, foram criados mecanismos de resistência (política que cumpre a letra da lei mas não seu espírito).
	A OMC e o GATT permitiam a proteção contra a concorrência de importação agregada (que desestabilizava a BP) e concorrência ameaçando suas indústrias individuais em virtude de altas nas importações ou práticas comerciais injustas. As restrições voluntárias à exportação eram a principal salvaguarda do GATT, sendo proibidas pela OMC por serem discriminatórias. Os países então elevavam as tarifas para não utilizar RVE, sendo recurso de diversos países. Outras formas utilizadas eram medidas não tarifárias (MNTs), direito antidumping. Resultados na área de serviços (incluindo investimento estrangeiro) foram modestos, sendo, por exemplo, que os países conseguiram manter requisitos de conteúdo local. Assim, os países conseguiram proteger sua BP e sustentar uma indústria sitiada. Subsídios eram categorizados em três grupos: os proibidos, processáveis e permissíveis (P&D, desenvolvimento regional e ambienta lismo). Assim, na década de 90, não estava claro com que frequência mecanismos de resistência eram invocados.
	Na década de 90 aumentou o investimento estrangeiro direto no resto e, por outro lado, a formação interna de habilidades continuou baixa. Países que dependem de comprar tecnologia tem níveis altos de venda de ativos produtivos a estrangeiros, o que não acontece com países que tem interesse em formar seu próprio acervo de ativos baseados no conhecimento, que tem pouca participação estrangeira na sua economia.
	No pós-guerra, uma vantagem das grandes empresas era o seu porte total e essa vantagem pode ser imaginada se comparando o porte de seus mercados com os do resto. Para concorrer, as empresas do resto adotaram estratégias,como fusões e aquisições, integração vertical, horizontal e diversificação, fusão e reorganização interna. Isso mostra uma tendência à concentração que ocorreu, por exemplo, na indústria de bens de consumo. 
	A diferença entre países que faziam e compravam ativos baseados no conhecimento alargou, principalmente entre a diferença entre a América Latina e a Ásia. 
	Os países do resto estavam, no ano 2000, concorrendo por recursos, participação do mercado e liderança. Os chamados independentes (China, Índia, Taiwan e Coreia) utilizavam a estratégia de fortalecimento das capacidades de forma nacional, “fazendo” tecnologia. Já Argentina, Brasil, Chile, México e Turquia (integracionistas) o crescimento era baseado na compra de tecnologia e na dependência de regras de conduta estrangeiras para disciplinar os negócios. Entre 1950 e 1980, esses países compartilhavam o mesmo conjunto de instituições desenvolvimentistas. A partir de 1980, a “semente” responsável pela ascensão do resto se dividiu em duas características, em tornou de habilidades competitivas, capacidades e ativos baseados no conhecimento. Quando se tornaram necessárias capacidades de mais tecnologia, os países se dividiram entre depender de firmas estrangeiras ou formar firmas nacionais, criando então uma diferença entre países. Implicações do modelo único de desenvolvimento que se separou: 1 – a ascensão conjunta facilitou aprendizado entre os países do resto e não somente com Atlântico Norte e Japão 2- A falta de ativos baseados no conhecimento em quantidade suficiente para concorrer com a indústria moderna levou a intervenção estatal.
10 – O “resto” ascenderá uma vez mais
	Todos os governos dos países do resto intervieram de maneira deliberada no mercado devido a falta a falta de ativos baseados no conhecimento para concorrer a preços mundiais de mercado e todo o processo de industrialização foi concebido para minimizar os efeitos nocivos das políticas intervencionistas.
	Segundo Gerschenkron, quanto mais tardiamente um país se industrializa tanto maiores as intervenções econômicas do seu governo, pois os métodos se produção se tornam intensivos em capital. Os países do resto utilizaram de bancos de desenvolvimento para isso. Mas, para Amsden, não foi tão mínima a intervenção do governo em industrializações anteriores, pois os primeiros industrializados intervieram em peso para promover seus próprios interesses. A intervenção seria assim diferente. A distância da fronteira tecnológica mundial e o grau de intervenção não se movem necessariamente em uníssono no país retardatários, o que cresce é o papel da empresa estrangeira. 
A abordagem dos ativos à industrialização adotam três pressupostos 1- direitos proprietários seguros são tidos como certos. Isso, com informação perfeita geram custo de transação zero, o que leva ao desenvolvimento da economia. Pode ser que isso seja o suficiente para o desenvolvimento, mas, mesmo que a informação seja perfeita, o conhecimento não é, podendo gerar altos custos de transação. 
As abordagens das transações e dos ativos têm fundamentos institucionais, mas são distintas. Na primeira, dada à mão de obra, o que importa para recuperar terreno são direitos proprietários e baixos custos de transação. Na segunda, dados os direitos proprietários seguros, o que importa são os ativos baseados em conhecimento e baixos custos de transação. Com isso, a industrialização envolve passar de um conjunto de distorções relacionado às rigidezes do subdesenvolvimento e da produção de artigos primários a outro conjunto de distorções baseadas no conhecimento
2 - No geral, presume-se que o porte e a estrutura da empresa não importam para o desenvolvimento, mas para a autora isso é relevante para a diversificação industrial. Empresas de pequeno porte no resto normalmente não eram inovadoras e nem serviram como agente da diversificação industrial. 
3 - A abordagem dos ativos presume que políticas macroeconômicas não importem no longuíssimo prazo, apesar de poder retardar o processo e inflar o impacto positivo do Estado desenvolvimentista sobre a industrialização. 
Se o conhecimento não é perfeito, então a produtividade e a qualidade podem variar entre empresas de uma mesma indústria em diferentes países e permitir que mecanismos de mercado determinem o preço pode não bastar para permitir a concorrência internacional. Além disso, esse preço pode não ser um ótimo de Pareto. Para o resto, pode ser mais proveitoso elevar a produtividade por engenharia institucional.
A renúncia do conhecimento perfeito abre portas para elaboração de teorias indutivas de desenvolvimento, que utilizam casos concretos de expansão industrial para explicar o crescimento e orientar políticas. Esses modelos podem influenciar a formação de políticas Econômicas mais que teorias abstratas dedutivas e as falhas de governo não podem ser tidas como certas se os governos utilizarem mecanismos para elevar produtividade e ligar no tranco o crescimento industrial. 
Formação de instituições necessárias para criar mecanismos de controle pode identificar vencedores e explicar perdedores. A Argentina, por exemplo, não desenvolveu nenhum desses mecanismos. 
Os países do resquício que podem seguir o resto são aqueles com experiência manufatureira, habilidade para construir mecanismo de controle que subsidie o aprendizado

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