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Resumo_Epílogo_Arrighi

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Texto Arrighi “O longo século XX” – Epílogo Pode o Capitalismo sobreviver ao sucesso?
Schumpeter havia proposto em meados do século XX que “o desempenho atual e futuro do sistema capitalista é tal que nega a ideia de seu desmoronamento sob o peso do fracasso econômico, mas seu próprio sucesso mina as instituições sociais que o protegem e inevitavelmente cria condições em que ele não conseguirá sobreviver”. Quando ele afirmou isso, o mundo passava por uma crise econômica e se pensava muito no fracasso do capitalismo. A tese principal de Schumpeter, entretanto, era contrária a visão corrente, que acreditava que a competição perfeita permitiria que o sistema capitalista superasse suas crises recorrentes e sobrevivesse. Para ele, o capitalismo baseado num certo monopólio e limitado por certas decisões governamentais permitiria um crescimento bem mais significativo. O processo de inovação e transformação seria melhor sucedido caso grandes empresas tomassem a liderança. A competição perfeita raramente havia existido na história e não podia ser considerada um modelo de eficiência.
No mesmo período, Karl Polanyi formulou uma tese que complementaria a ideia de Schumpeter. Houve um breve período de livre concorrência, mas que pode ser considerado como uma perfeita utopia, pois caso permanecesse por mais tempo no capitalismo, teria destruído a humanidade e seu equilíbrio social. Sem a criação de uma ordem governamental e até mesmo internacional, haveria poucas opções para evitar esse cenário desastroso. As instituições criadas após a Segunda Guerra a partir de Bretton Woods e da ONU não conseguiram criar esse governo mundial, porém, mesmo assim, os EUA entraram como detentores desse papel. As décadas seguintes após a Guerra foram marcadas pela ação reguladora do Estado Americano, com seu constante fornecimento de liquidez ao mercado mundial, e pela predominância de grandes grupos empresariais. O crescimento econômico foi excepcional no período, comprovando a tese de Schumpeter, de que o capitalismo se expandiria mais eficientemente com grandes grupos empresariais e uma limitação do Estado. Todavia, não se comprovou a necessidade de um tipo de governo global para gerar o crescimento, como afirmou Polanyi.
Mesmo mantendo-se um grande crescimento econômico até a década de 1980, ressurgiram as propostas de livre mercado e desregulação da economia. Tal proposta pode parecer anacrônica, porém não é. O sucesso dos mercados regulados da década de 60 e 70 desorganizou certas condições de regulação econômica e permitiu o surgimento de certas economias informais, típicas de séculos anteriores. Um mercado muito regulado e burocratizado leva ao aproveitamento de brechas por parte do mercado informal, forçando a desregulação do mesmo. Pirenne explicou esse fenômeno como um pêndulo econômico, que leva a uma alternância de sistemas informais ou formais. Pode ser que essa tendência recente de desregulação da economia leve novamente a uma tendência reguladora, em busca de resolução dos desequilíbrios formados. Apesar desse movimento pendular, não ocorre uma volta a um mesmo ponto que já foi vivido. A estruturas do capitalismo global voltam mais fortes e complexas. Além disso, tais oscilações tendem a ganhar maior velocidade ao longo do tempo. Devido a esse processo, há uma tendência de que a reorganização das entidades globais de poder não consiga criar mais agentes suficientemente grandes para recompor o sistema em crise. Ou talvez, leve a criação de agentes tão fortes que imponham fim à competição interestatal pelo capital circulante. Arrighi dá o exemplo do descarte de certas regiões na economia global, como a África Subsaariana.
Nos últimos anos, houve uma tendência real de aumento do poder das instituições, como o caso do FMI, do Conselho de Segurança da ONU e do G-7. Esse processo de crescimento pode levar a criação de instituições que ultrapassem a limitada capacidade dos EUA e de seus aliados na regulação mundial. Braudel sugeriu que cada troca do alto poder global levou à superação de uma região sobre outra. Esse foi o caso do Império Britânico, substituído pelos EUA, e pode ser o caso do Leste Asiático substituindo os EUA. É notável o salto do Leste Asiático nas ultimas década dos século XX. Esse salto só começou após a década de 1970, depois da crise sinalizadora do processo de acumulação norte americano. O crescimento do Japão é o mais notável no grupo dos países do Leste Asiático. Contudo, os milagres de Japão Coreia do Sul e Formosa só podem ser compreendidos pela unidade e integridade de um esforço regional. 
Nas experiências de rápida industrialização dos últimos dois séculos, o resultado mais notado foi o crescimento das disparidades regionais e estagnação e acorrentamento de algumas economias. A industrialização do Alemanha no fim do sec XIX e do Japão até a década de 1930, por exemplo, não foram totalmente benéficas para o sistema como um todo. Contudo, a industrialização e crescimento japoneses após a Segunda Guerra foram excepcionais, garantindo seu espaço de relevância na economia mundial e transbordamento para toda uma região. Após a década de 1960, defasagem do grau de industrialização reduziu entre os países de renda média e alta, de forma categórica. Já a redução da defasagem de renda não ocorreu da mesma forma, aumentou pelo contrário. 
A emergência japonesa ainda não pode ser considerada um quinto ciclo sistêmico de acumulação, entretanto sua trajetória é bem mais considerável. O PIB per capita japonês cresceu de forma mais acelerada e constante, porém sua população é bem maior do que a da Alemanha, por exemplo. Assim, seu peso global sobre a renda foi bem maior. Houve, do mesmo modo, um grande avanço do sistema financeiro japonês.
Os casos da Coreia do Sul, Formosa (Taiwan), Hong Kong e Cingapura também são bem sucedidos, contudo não são explicados exclusivamente pela industrialização. Outros países asiáticos também passaram por industrializações aceleradas, como Malásia e Indonésia, mas não elevaram significativamente sua renda como os primeiros quatro tigres asiáticos. Os quatro Tigres também conseguiram se destacar como credores importantes, principalmente para países asiáticos. Dessa forma, não podemos considerar a excepcionalidade da expansão asiática apenas pelo lado da industrialização. Esse grupo de quatro países consegou mudar suas estruturas e hierarquias de poder, a fim de alcançar um novo processo de adição de valor a seus produtos. O crescente valor de comércio na região representa isso.
Esse momento de transição representa uma oportunidade para o fortalecimento das estruturas supranacionais econômicas, a fim de manter as relações capitalistas. Tais estruturas permitem que os EUA e a Europa permaneçam dentro das relações de poder, contudo a expansão do capitalismo asiático representa uma limitação à expansão das velhas estruturas do capitalismo americano. 
Arrighi considera ser importante avaliar as fontes de vitalidade do capitalismo atual, como forma de visualizar futuras oportunidades de troca de poder. Assim, o autor traça todo o processo de ascensão japonesa desde o fim da Segunda Guerra. A ajuda financeira americana foi essencial nesse período e forçou a quebra do regime nacionalista industrial, o militarista e o imperialista japonês. A própria ajuda financeira, no entanto, foi grande fonte de lucro das empresas japonesas. 
Antes da Guerra Fria, o interesse americano caminhava no sentido de desmantelar o poderio militar japonês, sem muito priorizar a recuperação econômica. Quando os interesses americanos e soviéticos começaram a conflitar na Europa e a guerra das Coreias eclodiu, o governo americano alterou o sentido de sua política. Cresceram os gastos militares na região e os pacotes de ajuda econômica. Priorizou-se o estabelecimento de um forte comércio triangular na região, entre EU, Japão e Sudeste Asiático. Uma das estratégias dos americanos foi o estabelecimento do Japão como centro de conexão da região. Os coreanos e taiwaneses foram convencidos a deixarde lados seus ódios pelas tentativas colonialistas japonesas e começar a integrar suas economias com esse país. Desse modo, se estabeleceria um ponto de apoio e influência americano na região. 
A atuação americana na região levou a mudanças nas relações comerciais com o Ocidente. O Japão serviu como intermediário do poder aquisitivo norte americano e a mão de obra barata asiática. A BC entre os dois países se tornou extremamente deficitária para os EUA. No mesmo período, houve forte deterioração fiscal na economia americana, principalmente por suas ações militares. No entanto, o investimento americano no Japão também se voltou para a criação de bases indústrias que fornecessem insumos baratos para a indústria bélica americana. O superávit comercial americano não foi a causa dos problemas financeiros americanos, mas a extravagância fiscal de um Estado bélico-assistencialista. 
Em suma, até a crise de superacumulação americana na década de 1970, o Japão foi convidado dos americanos no grupo de países ricos. Com a explosão da crise, os americanos mudaram sua política. Ao invés de trabalhar para a abertura do mercado de seus aliados aos produtos japoneses, começou a trabalhar para a abertura do mercado japonês ao capital mundial. Naquele período houve grande aproximação americana com o restante asiático, como a China, porém os EUA tentavam conter o avanço japonês. Com a crise de superacumulação americana, os japoneses puderam expandir sua influência sobre a Ásia. Sua forma mais intensa de expansão foi através da criação de um sistema de subcontratação estruturada na região. 
Diferentemente de outras formas de subcontratação, o modelo japonês se baseia numa estrutura muito mais descentralizada de atividades produtivas. A divisão é feita em diversas camadas, de níveis primários, secundários, terciários, assim por diante, até as subcontratações simples. Outra diferença está relacionada com a estabilidade da estrutura vertical e horizontal das empresas. A cooperação é muito maior no Japão e a relação com as empresas é mais próxima. Na Europa e nos EUA há muita instabilidade na relação, devido à pressão existente entre os elos. Uma terceira diferença está na forma como os japoneses aproveitaram os diferenciais de salário e o reproduzem nas estruturas subcontratadas. Há uma restrição na contratação de mulheres nos cargos de alto nível, a fim de utilizá-las em camadas mais baixas e baratas. E por fim, há uma forte expansão transnacional que busca aproveitar os bolsões de mão de obra disponíveis no Leste asiático.
 Ao longo dos anos a lucratividade caiu nas empresas japonesas, ao ponto que no fim da década de 60, o ganho de produtividade das plantas deixou de compensar a queda na taxa de lucro. Mesmo assim, manteve-se o grau de cooperação das empresas e o modelo de subcontratação, o que ainda garantiu a expansão dos grandes grupos japoneses. 
Já na década de 60 os crescimentos externos japoneses começaram a crescer rapidamente. Desse modo, foram transferidos setores de menor valor adicionado para outros países da região. As shogo shosha foram importantes para adiantar financiamentos necessários para que parte dos grandes grupos se estabelecessem em outros países. Portanto, a expansão externa japonesa se deu em maior parte por sócios minoritários do que por sócios majoritários. 
O volume de investimento externo direto japonês foi menor, contudo garantiu maior diversificação de setores e melhoria da competitividade, devido à existência de múltiplas fontes e flexibilização das mesmas. Esse tipo de investimento foi considerado “arma de fracos por muitos, porém na década de 80 o mesmo conseguiu elevar o Japão ao posto de um dos maiores investidores externos no mundo. Iniciou-se com os primeiros Tigres (Coreia, Taiwan, Cingapura e Hong Kong), quando houve aumento dos salários nesses países e uma consequente perda de competitividade, formaram-se outras expansões de investimento, rumo a outros países da região. Arrighi demonstrou que esse fluxo de investimentos começou com os EUA, rumo ao Japão, e depois rumo aos outros países asiáticos.
A estrutura descentralizada e flexível de expansão das subcontratações garantiu vantagens para o Japão nesse processo. Enquanto os EUA realizaram sua expansão, promovendo elevação do poder aquisitivo por onde passasse e elevação dos custos de reprodução, o Japão promoveu essa expansão comprimindo esses custos. 
Até a década de 1980, o Japão foi auxiliar dos EUA em várias de suas políticas de concessão de liquidez pelo mundo. Auxiliou no financiamento de países do terceiro mundo e do próprio governo americano. Quando a desvalorização do dólar em 1987 ameaçou a economia japonesa, houve inversão desses fluxos e mudança no apoio ao endividamento de países do terceiro mundo estratégicos para os americanos. O Japão foi encontrando menos motivos para manter as exigências americanas. Os japoneses perceberam que seria inútil tentar manter o poder aquisitivo americano, através do financiamento de um keynesianismo militar, aquisição cultural e tecnológica. Seria melhor explorar os recursos humanos asiáticos e aprofundar suas raízes na região. A retirada desse apoio aodéficit fiscal americano acentuou a tendência de que a crise de superacumulação se tornasse crise de superprodução.
Imaginou-se que esses conflitos de interesse levariam, por fim, a uma mudança na estrutura do poder mundial, assim como ocorreu com outras potências no passado. Contudo, essa mudança não aconteceu e não parece estar acontecendo da mesma forma. Apesar do Japão ter acumulado grande parte do poder de capital mundial, ele não possui quase nenhum poder militar e decisório. O Ocidente permitiu que o Japão crescesse e se estabelecesse na economia, até o ponto que não atrapalhasse seu desenvolvimento. A capacidade do Ocidente em manter esse centro tradicional de poder chegou tão longe ao ponto de ser necessário formar um império verdadeiramente global, a fim de manter esse equilíbrio. Para manter esse império global será necessário controle de fontes excedentes do capital que estão localizadas no Leste Asiático. 
Para tentar controlar esse excedente o Ocidente poderá tentar continuar com a política de desenvolvimento do capitalismo asiático, contudo chegará a um ponto que as vantagens geográficas estratégicas do Ocidente passem a ser desvantagens. 
Arrighi levanta alguns questionamentos. O primeiro seria por que não levar essa luta autodestrutiva a uma negociação dos termos de intercâmbio político dos anos anteriores? Por que não reconhecer os limites fundamentais na mudança dos epicentros de acumulação de capital? Por que não deixar que o capital do leste asiático dite as questões de poder?
Arrighi também pensa em três desfechos possíveis para a atual crise do regime de acumulação americano. A primeira é que pode ser possível que o Ocidente detenha os cursos da História dos últimos quinhentos anos e se mantenha na alta patente. Para contrabalancear com a concentração de capital em outra região, poderá surgir um sistema realmente mundial de poder que mantenha esse equilíbrio.
Segundo, o Ocidente não conseguiria deter o curso da história do capitalismo e perder sua posição de alta patente e de mando no processo sistêmico de acumulação de capital. Mas faltaria à nova guarda do poder capacidade de gestão do Estado e da guerra. O capitalismo poderia perecer junto com o poder estatal que fez fortuna num período anterior.
Por fim, pode ser que esse sistema de poder gere conflitos de interesse muito maiores do que os observados nos momentos finais da Guerra Fria. A história capitalista poderia chegar ao fim, mas voltando a um forma de aos sistêmico observado a seiscentos anos atrás.

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