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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CENTRO DE ENGENHARIA E CIENCIAS EXATAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QÚIMICA CURSO DE ENGENHARIA QUIMICA SEDIMENTAÇÃO TOLEDO – PR 2017 BEATRIZ FLORENCIO DA SILVA FLÁVIA RAFAELA CARVALHO LUIS FARINA PEDRO SIQUEIRA SEDIMENTAÇÃO Trabalho acadêmico apresentado à disciplina de Laboratório de Engenharia Química II em cumprimento parcial aos requisitos para obtenção do título de graduação em Engenharia Química na Universidade Estadual do Oeste do Paraná Campus de Toledo. Docente: Prof. Dr. Camilo Freddy Mendoza Morejon. TOLEDO – PR JULHO DE 2017 RESUMO Sedimentação é um processo de separação sólido-fluido baseado na diferença de densidade entre o sólido e o líquido, no qual, pela ação da gravidade, as partículas sólidas presentes em uma corrente líquida são removidas. Com o intuito de se estudar o processo de sedimentação, realizou- se uma visita à Sanepar, em que foi possível observar várias operações unitárias ao acompanhar o tratamento do esgoto da ETE Norte da cidade de Toledo-PR. Assim, pode-se relacionar com o conhecimento teórico obtido ao longo do curso. A partir dos resultados obtidos, notou-se uma elevada discrepância entre as dimensões reais do equipamento e as dimensões hipotéticas. Isso se deve ao fato de que, como foram fornecidos poucos dados reais (apenas o diâmetro e vazão volumétrica), a maioria dos dados e inclusive o ensaio laboratarial foram arbitrados apenas para a execução e demonstração dos cálculos. Isso evidencia que o projeto de um equipamento, para que seja feito da maneira mais correta possível, deve ser precedido de análises corretas das características do lodo e do fluido em suspensão, além de ensaios laboratoriais precisos sobre o comprortamento da suspensão em questão. Vale ressaltar também que mesmo os dados tratados como reais possuem um elevado grau de discrepância da realidade da Estação de Tratamento, pois os dados de caracterização do lodo e do fluido também foram arbitrados de forma hipotética. Portanto, esse relato possui um propósito mais descritivo e demonstrativo do que quantitativo. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 5 2. OBJETIVOS ......................................................................................................................... 7 3. METODOLOGIA ................................................................................................................. 8 3.1 Materiais ............................................................................................................................ 8 3.2 Tratamento de esgoto da ETE Norte Toledo .............................................................. 8 3.3 Fluxograma ....................................................................................................................... 9 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................... 10 4.1 Fundamentos da sedimentação .................................................................................. 10 4.2 Método de Coe e Clavenger ........................................................................................ 12 4.2 Método de Kynch ........................................................................................................... 13 4.3 Método de Talmadge e Fitch ....................................................................................... 14 4.4 Projeto e Dimensionamento de um decantador ........................................................ 17 4. CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 23 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 24 1. INTRODUÇÃO Na indústria química, conforme Blackadder et al. (2004), há a constante presença de partículas sólidas e, assim, são necessários processos de separação para obter o resultado desejado nas indústrias de beneficiamento de minério, alimentícias, no tratamento de água e em estações de tratamento de efluente. Um dos exemplos de processo é a sedimentação, a qual utiliza o princípio do fenômeno de transporte da partícula para o fundo de um equipamento. Nesse, a partícula sólida em suspensão sofre ação das forças da gravidade, de empuxo e de resistência ao movimento (BENVINDO et al., 2002). Trata-se, portanto, de um processo de separação sólido-fluido fundamentado na diferença de densidade entre o sólido e o líquido. Pela ação da gravidade, as partículas sólidas presentes em uma corrente líquida são removidas, o que garante ao processo as características de baixo custo e grande simplicidade operacional (FRANÇA et al., 2007). Assim, os sedimentadores despertam o interesse da indústria química e, por isso, os conhecimentos referentes ao dimensionamento e operação são de extrema importância, com o objetivo de melhorar a utilização e eficiência no atendimento aos objetivos operacionais. Um dos primeiros estudos no âmbito de sedimentação foi o de Coe e Clevenger (1916), no qual foi criada uma metodologia a fim de projetar os sedimentadores em batelada para diferentes concentrações iniciais, variando as concentrações da alimentação e da lama. Nesse, para cada ensaio, determinavam-se a concentração e a velocidade inicial de sedimentação na região de concentração constante. Já em 1952, Kynch desenvolveu um modelo cinemático fundamentado na equação da conservação da massa para fase sólida. Além disso, em 1955, surgiu o método de Talmadge-Fitch, o qual, por sua vez, consiste em determinar a área mínima do sedimentador a partir do ponto de compressão na curva de sedimentação. Vale ressaltar que, segundo Lira (2010), normalmente, os sedimentadores operam em regime contínuo ou semicontínuo, sendo construídos de forma circular, com uma parte cilíndrica e outra cônica. Além disso, neste relatório, utilizou-se a NBR 12209, responsável por regulamentar as condições para o dimensionamento do sedimentador. 2. OBJETIVOS Aplicar de forma técnica, tanto no âmbito qualitativo quanto no quantitativo, os conceitos referentes ao processo de sedimentação e analisar o sedimentador utilizado para o tratamento do esgoto da ETE Norte da cidade de Toledo-PR e sua respectiva operação. 3. METODOLOGIA 3.1 Materiais Para este trabalho, utilizou-se prancheta, folhas de sulfite, caneta e aparelho celular com câmera fotográfica. 3.2 Tratamento de esgoto da ETE Norte Toledo Durante a visita, coletaram-se informações qualitativas, como os processos aplicados e algumas características a eles atreladas. Assim, pode- se relacionar com o conhecimento teórico obtido ao longo do curso. Quanto às questões quantitativas, coletaram-se dados referentes à capacidade de alguns dos reservatórios utilizados, assim como algumas dimensões dos equipamentos. Observou-se que, ao adentrar na ETE, o esgoto coletado passa pelo processo de gradeamento mecânico, com o intuito de remover sólidos grosseiros; seguido de desarenação, que serve para remover grãos de areia e pedras por sedimentação. Nisso, um sensor ultrassônico analisa a vazão e, então, se estiver acima do nível desejado, um compressor elimina osresíduos em excesso em uma caçamba. Em seguida, o efluente é transportado ao reator anaeróbico de fluxo ascendente (UASB), no qual a matéria orgânica é decomposta por bactérias anaeróbias. Após essa digestão, o efluente é direcionado a um filtro biológico, que possui em torno de 6 a 7 metros e contém pedras de granulometrias distintas e, ao fundo, seixos. Por fim, a próxima etapa ocorre no sedimentador, onde será depositada uma fração das partículas que persistiram no efluente após os processos realizados anteriormente. Vale ressaltar que há também o leito de secagem do lodo, formado por uma camada de pedras e areia e ocorre uma descarga do subproduto. Após o processo de secagem, o lodo seco é recolhido pela empresa Paraná Ambiental, assim como os sólidos grosseiros retirados durante o tratamento preliminar. Segundo o tecnólogo ambiental, a empresa utiliza os resíduos em processos de compostagem para que possam ser comercializados. 3.3 Fluxograma O fluxograma abaixo é uma representação esquemática das etapas que compõem o processo, que podem ser basicamente resumidas em: tratamento preliminar (gradeamento e desaneração), tratamento biológico, filtração e sedimentador. Figura 01: Fluxograma representativo do tratamento da fase líquida da ETE Norte da cidade de Toledo-PR 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Fundamentos da sedimentação Nos decantadores contínuos, a suspensão é injetada pelo meio do tanque. Em torno da borda do tanque estão os vertedores para o líquido límpido. As grades servem para raspar a lama, conoduzindo-a para o centro do fundo, por onde é descarregada. O movimento das grades também agita a camada de lama, o que favorece a remoção da água retida na lama (FOUST et al., 1982). Para se entender o comportamento dos sólidos particulados no elfuente que entra no sedimentador, pode-se utilizar os ensaios em proveta como base, pois demonstram o mesmo comportamento. A operação de sedimentação é baseada em fenômenos de transporte, onde a partícula sólida em suspensão está sujeita a ação das forças da gravidade, do empuxo e de resistência ao movimento. O mecanismo da sedimentação descontínua auxilia na descrição do processo contínuo, com o uso do teste de proveta, que e baseado no deslocamento da interface superior da suspensão com o tempo. Durante esse teste pode ser observada, após um tempo, a existência de cinco regiões distintas: uma região de líquido clarificado, a de sedimentação livre e a de compactação, como mostra a Figura 02. Figura 02: Ensaio de sedimentação em proveta (FOUST et al., 1982) A região A mostra o líquido clarificado. No caso de suspensões que decantam muito rápido esta camada pode ficar turva durante certo tempo por causa das partículas finas que permanecem na suspensão. Na região B ocorre a suspensão com a mesma concentração inicial, ou seja, a linha que divide A e B é geralmente nítida. A zona C é a zona de transição. A concentração da suspensão aumenta gradativamente de cima para baixo, variando entre o valor inicial até a concentração da suspensão espessada. A interface BC é, de modo geral, nítida. Já a região D mostra a suspensão espessada na zona de compressão, ou seja, é a suspensão onde os sólidos decantados sob a forma de flocos se encontram dispostos uns sobre os outros, sem atingirem a máxima compactação. A separação entre as zonas C e D geralmente não é nítida e apresenta diversos canais através dos quais o líquido proveniente da zona em compressão escoa. A espessura desta zona vai aumentando durante a operação. A última região, a região E, apresenta os sólidos grosseiros que foram decantados logo no início do ensaio. A espessura desta zona praticamente não varia durante o ensaio. Além disso, nesta figura pode se observar a evolução da decantação com o tempo. As zonas A e D tornam-se mais importantes, enquanto a zona B diminuiu e C e E permaneceram inalteradas. Ao final do processo B e C desapareceram, ficando apenas o líquido clarificado, a suspensão em compressão e o sedimento grosso. Este também é chamado ponto de compressão, ou ponto crítico. A zona A aumenta enquanto que a zona D diminui lentamente até a superfície de separação das camadas A e D atingirem o valor. Este valor mínimo não corresponde necessariamente a concentração máxima da suspensão decantada, pois é possível, com agitação apropriada, reduzir ainda mais a altura da lama espessada. Quase todos os métodos correntes de cálculos de projeto de um sedimentador provêm do trabalho de Coe e Clavenger. A hipótese primária é a de que a velocidade de queda da interface sólidos-líquido seja uma função da concentrção local, ou seja, a velocidade de sedimentção diminui com o aumento da concentrção. Porém, a diminuição é menos rápida que o aumento de concentração. Este equilíbrio entre a diminuição da velocidade linear e o aumento do fluxo de massa, em consequência da maior densidade de sólidos na camada compactada é imprevisível, mas constitui um aspecto importante do projeto do processo (FOUST et al., 1982). O projeto de um sedimentador baseia-se na curva de sedimentação. Essa curva é obtida através de um ensaio de sedimentação com uma amostra da suspensão diluída a ser clarificada, tal como foi explicado anteriormente. Algumas hipóteses para dimensionamento de sedimentadores foram formuladas por Coe e Clevenger, Kynch, Roberts e Talmadge e Fitch. 4.2 Método de Coe e Clavenger Este método é a base para os demais. A área de um sedimentador contínuo deve ser suficiente para permitir a decantação de todas as partículas alimentadas. Se a área for insuficiente haverá acúmulo de sólidos numa dada seção do sedimentador e então as partículas sólidas serão arrastadas com o líquido clarificado. Este método tem como etapa inicial, a determinação do perfil de alturas na zona de interface de sedimentação de uma suspensão em função do tempo. Para tanto, utiliza-se uma proveta graduada será observada a separação de fases da suspensão a medida que transcorre o tempo de decantação das partículas sólidas. Duas fases poderão ser observadas, uma em que se encontra o líquido límpido e outra em que o processo de decantação prossegue. Na fase de decantação, existe uma região em que as partículas sedimentam livremente, e outra fase em que as partículas já não caem livremente, em razão da presença de outras partículas, nesta segunda fase, ainda há uma região no fundo da proveta com os sedimentos depositados, denominados lamas ou lodos (GEANKOPLIS, 2003). Para o dimensionamento são realizadas as seguintes considerações: a) A velocidade de decantação dos sólidos em cada zona é função da concentração local da suspensão: v = f (C); b) As características essenciais do sólido obtido durante ensaios de sedimentação descontínuos não se alteram quando se passa para o equipamento de larga escala. Figura 03: Esquema de sedimentador contínuo Pelo balanço de massa tem-se a Equação 01. 𝑸𝑨 ∙ 𝒄𝑨 = 𝑸 ∙ 𝒄 = 𝑸𝑬 ∙ 𝒄𝑬 (01) Com isso, define-se as Equações 02 e 03. 𝑸 = 𝑸𝑨 ∙ 𝒄𝑨 𝒄 (02) 𝑸𝑬 = 𝑸𝑨 ∙ 𝒄𝑨 𝒄 (03) Assim, para a velocidade de sedimentação, utiliza-se a Equação 04, em que o maior valor de A será a área mínima do sedimentador. 𝒗 = 𝑸 − 𝑸𝑬 𝑨 (04) 4.2 Método de Kynch Kynch desenvolveu um método de dimensionamento de sedimentadores que requer apenas um ensaio que forneça a curva de decantação (Figura 04). Tanto C como v podem ser tirados diretamente da curva. Traçam-se tangentesem diversos pontos da curva e determinam-se os valores de t, z e zi (MOREIRA, 2017). Figura 04: Curva de decantação provinda de ensaios de laboratório. Com a construção gráfica calculam-se os diversos pares de valores da concentração e da velocidade de decantação, com os quais são calculados os valores correspondentes da seção transversal pela Equação 05. O valor máximo de A será a área do sedimentador. 𝑨 = 𝑸𝑨 ∙ 𝒄𝑨 𝒗 ( 𝟏 𝒄 − 𝟏 𝒄𝑬 ) (05) 4.3 Método de Talmadge e Fitch Este método gráfico permite calcular diretamente a área mínima do sedimentador quando se conhece o ponto de compressão na curva de sedimentação. A área mínima pode ser calculada pela Equação 06, em que o ponto 𝑐𝐴 ∙ 𝑧0/𝑐𝐿 é dado pela Figura 05. 𝒛𝒎𝒊𝒏 = 𝒄𝑨 ∙ 𝒛𝟎 𝒄𝑳 (06) Figura 05: Determinação do tempo mínimo (MOREIRA, 2017) Quando a curva de sedimentação resulta na combinação reta- exponencial, a capacidade de sedimentação é dada pela Equação 07, permitindo-se calcular a área de sedimentação. ( 𝑸𝑨 𝑨 ) 𝒑𝒓𝒐𝒋 = 𝒛𝟎 𝒕𝒎𝒊𝒏 (07) Para o cálculo da altura do sedimentador, deve-se fazer a soma das alturas de 3 regiões distintas do sedimentador: a região clarificada (H1), região de espessamento (H2) e a altura do fundo do sedimentador (H3), indicadas pelas Equação 08. 𝑯 = 𝑯𝟏 + 𝑯𝟐 + 𝑯𝟑 (08) Em que: 𝐻1 é um valor arbitrado entre 0,45 e 0,75 m; 𝐻2 = 4 3 ∙ 𝑄𝐴 ∙ 𝑐𝑎 ∙ 𝑡𝑅 𝐴 ∙ 𝜌𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜 ∙ 𝜌𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜 − 𝜌𝑓𝑙𝑢𝑖𝑑𝑜 𝜌𝑙𝑜𝑑𝑜 − 𝜌𝑓𝑙𝑢𝑖𝑑𝑜 𝐻3 = 0,073 ∙ 𝐷. Onde 𝑡𝑅 é o tempo de residência da partícula sólida, calculado como indicado na Figura 06. O fator 4/3 permite corrigir a imprecisão no emprego da massa específica do lodo em vez da massa específica média na região de espessamento. Figura 06: Análise gráfica do tempo de residência (MOREIRA, 2017) O tempo de residência é obtido pela diferença entre 𝑡𝐸 e 𝑡𝐶 (tempo crítico). O valor de 𝑡𝐸 é obtido traçando-se a reta que se inicia em 𝑧 = 𝑐𝐴 ∙ 𝑧0/𝑐𝐿 e 𝑡 = 0. Encontrando-se o ponto onde essa reta tangencia a curva z versus t, tem-se 𝑡𝐸. O ponto crítico é o momento onde a suspensão entra em compressão. Este ponto pode ser determinado por um gráfico de log(𝑧 − 𝑧𝑓) versus o tempo como apresenta a Figura 07. O ponto crítico se localiza na descontinuidade da curva obtida. Figura 07: Determinação do ponto e do tempo crítico (MOREIRA, 2017) 4.4 Projeto e Dimensionamento de um decantador Para que se torne possível o dimensionamento de um sedimentador semelhante ao utilizado na Estação de Tratamemto de Efluente Doméstico de Toledo – PR, são necessários alguns dados característicos do lodo formado bem como da água, como densidade e concentração de sólidos. Como não foi possível coletar muitos desses dados, fez-se uma estimativa para que o projeto do equipamento fosse possível, portanto, é esperado que haja uma certa descrepância dos dados obtidos para o que realmente se observa na prática. Esses dados podem ser observados na Tabela 1, onde ca é a concentração de sólidos na alimentação, cL é a concentração do lodo, 𝑄𝐴 é a vazão volumétrica na qual o sedimentador é operado e ρ é utilizado para representar a densidade. O único dado descrito que é do processo real, e que não foi preciso ser arbitrado, é o de vazão volumétrica. A densidade do lodo pode ser calculada pela Equação 09. Tabela 01: Dados característicos hipotéticos do processo. Temperatura (°C) 25 ca (g/cm3) 0,0025 cL (g/cm3) 0,0109 QA (m3/h) 108 ρsólido (g/cm3) 2,2 ρfluido (g/cm3) 1 ρlodo (g/cm3) 1,13636 𝛒𝐥𝐨𝐝𝐨 = (𝟏 − 𝐜𝐋 𝛒𝐬ó𝐥𝐢𝐝𝐨 ) ∙ 𝛒𝐟𝐥𝐮𝐢𝐝𝐨 + 𝐜𝐋 (09) Para os cálculos de projeto de um sedimentador contínuo, geralmente usam-se dados da sedimentação descontínua obtidos em laboratório. Essas medições constituem os ensaios mais satisfatórios para determinar as características de sedimentação de uma dada suspensão ou de uma lama. Embora sejam ensaios descontínuos, a análise dos seus resultados é útil para o projeto de sedimentadores que operam continuamente (FOUST et al., 1982). Como também não foram fornecidos os dados dos ensaios de sedimentação, fez-se uma simulação de dados de altura da suspensão (z) em função do tempo (t) de operação, para possibilitar a execução dos cálculos de projeto. Esses dados sao fornecidos pela Tabela 02. Tabela 02: Dados hipotéticos de ensaio de sedimentação. t (min) 0 1 2 3 5 8 12 16 20 25 z (cm) 51 43,5 37 30,6 23 17,9 14,3 12,2 11,2 10,7 O método utilizado para o projeto do sedimentador a ser utilizado será o Método de Talmadge e Fitch, pois por envolver mais dados do processo como os tempos crítico e de espessamento, promove resultados mais precisos a respeito do dimensionamento do equipamento. Para isso, primeiro é preciso encontrar uma curva que represente adequadamente os dados experimentais. Essa curva é apresentada pela Figura 08. Figura 08: Gráfico de altura da suspensão versus tempo Da Equação 06, pode-se calcular a altura mínima zmin a partir dos dados de concentração e da altura inicial z0 da suspensão. 𝒛𝒎𝒊𝒏 = 𝟎, 𝟎𝟎𝟐𝟓 𝒈 𝒄𝒎𝟑 ∙ 𝟓𝟏𝒄𝒎 𝟎, 𝟎𝟏𝟎𝟗 𝒈/𝒄𝒎𝟑 𝒛𝒎𝒊𝒏 = 𝟏𝟏, 𝟔𝟗𝟕 𝒄𝒎 Com isso, a partir da equação da curva dos dados experimentais obtida na Figura 08, calcula-se o tempo mínimo tmin, utilizando 𝑦 = 𝑧𝑚𝑖𝑛. Assim, obtém-se o valor de 𝑡𝑚𝑖𝑛 = 18,012 𝑚𝑖𝑛. Inserindo os valores de 𝐿𝑎, 𝑧0 e 𝑡𝑚𝑖𝑛 na relação proposta pela Equação 07, obtém-se o valor da área mínima do sedimentador (Amin). ( 𝟏𝟎𝟖 𝒎𝟑/𝒉 𝑨𝒎𝒊𝒏 ) 𝒑𝒓𝒐𝒋 = 𝟎, 𝟓𝟏 𝒎 𝟏𝟖, 𝟎𝟏𝟐 𝒎𝒊𝒏 ∙ 𝟏 𝟔𝟎 𝒉 𝒎𝒊𝒏 𝑨𝒎𝒊𝒏 = 𝟔𝟑, 𝟓𝟕 𝒎 𝟐 Com a área mínima calculada, pode-se determinar o diâmetro do sedimentador, a partir da Equação 10, que demonstra a equação da área de seção transversal do cilíndro rearranjada. 𝑫 = √ 𝟒 ∙ 𝑨 𝝅 (10) Assim, tem-se que o diâmetro do sedimentador é 𝐷 = 8,997 𝑚. Para se calcular a altura do sedimentador a ser utilizado, deve-se fazer a soma das alturas da região clarificada (H1), da região de espessamento (H2) e do fundo do sedimentador (H3). Como a altura da região clarificada pode variar de 0,45 a 0,75 metros, usa-se a média desses valores como parâmetro, portanto, 𝐻1 = 0,6 𝑚. Para o cálculo de H2, é preciso encontrar o tempo crítico e o tempo de espessamento. Para o tempo crítico plota-se o gráfico demonstrado pela Figura 09, de log (z-zf) em função do tempo, sendo o tempo crítico o ponto na descontinuidade da curva obtida. Figura 09: Gráfico de log (z-zf) em função do tempo para análise do tempo crítico Analisando a Figura 09, obtém o valor de tempo crítico de 𝑡𝑐 = 3 𝑚𝑖𝑛, que é o momento após o início da sedimentação onde a frente de sedimentação deixa de ter velocidade constante. Para se encontrar o tempo de espessamento 𝑡𝐸, deve-se obter o ponto da curva z x t cuja tangente corta o eixo das ordenadas em zmin. Com isso, obtém-se um tempo aproximado de espessamento de 𝑡𝐸 = 42,4 𝑚𝑖𝑛. O tempo de residência pode ser calculado pela diferença entre 𝑡𝐸 e 𝑡𝑐, obtendo-se o valor de 𝑡𝑅 = 39,4 𝑚𝑖𝑛 = 0,657 ℎ. Com todos esses parâmetros calculados, torna-se possível calcular a altura da região de espessamento. 𝐻2 = 4 3 ∙ 108 𝑚3/ℎ ∙ 0,0025𝑔/𝑐𝑚3 ∙ 0,657ℎ 63,57𝑚2 ∙ 2,2𝑔/𝑐𝑚3 ∙ 2,2𝑔/𝑐𝑚3 − 1𝑔/𝑐𝑚3 1,3636𝑔/𝑐𝑚3− 1𝑔/𝑐𝑚3 𝐻2 = 0,0056 𝑚 Para a altura do fundo do sedimentador, tem-se: 𝐻3 = 0,073 ∙ 8,997𝑚 𝐻3 = 0,657 𝑚 Com os valores de todas as alturas, pode ser calculada a altura total do sedimentador, a partir da Equação 08. 𝐻 = 0,6 𝑚 + 0,0056 𝑚 + 0,657 𝑚 𝐻 = 1,2626 𝑚 Todo o equacionamento descrito anteriormente foi feito baseado em dados hipotéticos de ensaios de sedimentação e características do lodo, para que os cálculos de projeto pudessem ser demonstrados por completo, porém, com o auxílio de uma trena, foi possível medir o diâmetro real do sedimentador, e assim, pode-se obter as dimensões reais aproximadas para efeito de comparação. O diâmetro medido foi de 𝐷𝑟𝑒𝑎𝑙 = 14,6 𝑚, e a partir da equação da área de seção transversal do cilíndro, rearranjando a Equação 10, pode-se obter a área real do sedimentador. A área obtida foi de 𝐴𝑟𝑒𝑎𝑙 = 167,41 𝑚 2. Para poder calcular a altura do sedimentador segue-se o mesmo procedimento descrito pela Equação 10, considerando também a altura da região clarificada como sendo 𝐻1 = 0,6 𝑚. Assim, os valores obtidos foram de 𝐻2 = 0,00212 𝑚 e 𝐻3 = 1,066 𝑚, tendo por fim a altura total do sedimentador sendo de 𝐻 = 1,668 𝑚. Para efeito de comparação dos dados hipotéticos com os reais, construiu-se a Tabela 03, com as dimensões do sedimentador obtidas em cada caso. Tabela 03: Tabela comparativa das dimensões reais e hipotéticas. Hipotéticas Reais D (m) 8,997 14,6 A (m²) 63,57 167,41 H (m) 1,2626 1,668 Observa-se uma discrepância muito grande entre as dimensões reais do equipamento e as dimensões hipotéticas. Isso se deve ao fato de, como foram fornecidos poucos dados reais (apenas o diâmetro e vazão volumétrica), a maioria dos dados e inclusive o ensaio laboratarial foram arbitrados apenas para a execução e demonstração dos cálculos. Isso evidencia que o projeto de um equipamento, para que seja feito da maneira mais correta possível, deve ser precedido de análises corretas das características do lodo e do fluido em suspensão, além de ensaios laboratoriais precisos sobre o comprortamento da suspensão em questão. É importante ressaltar que mesmo os dados tratados como reais nesse relato possuem um elevado grau de discrepância da realidade da Estação de Tratamento visitada, pois os dados de caracterização do lodo e do fluido também foram arbitrados de forma hipotética. Um exemplo disso é a altura de ambos os resultados, pois a altura mínima recomendada para sedimentadores de remoção mecanizada é de 3,5 metros segundo a NBR 12209/2011, para estações de tratamento de esgoto doméstico. Pode-se dizer que a altura encontrada para ambos os casos é muito pequena para a escala industrial. Explica-se isso pelo fato de que os valores arbitrados de concentração do lodo e da suspensão serem muito altos e que a densidade estipulada das partículas também é alta, o que faz com que as partículas se depositem em um tempo muito pequeno. Sabe-se que o comportamento real não é esse, pois o sedimentador em questão é utilizado no tratamento secundário do esgoto após passar por um filtro e, portanto, as partículas presentes no efluente nessa etapa do processo já são bem pequenas e menos densas, levando mais tempo para se sedimentarem. Portanto, esse relato possui um propósito mais descritivo e demonstrativo do que quantitativo. 4. CONCLUSÃO A visita à Sanepar permitiu observar diversas operações unitárias e acompanhar o tratamento do esgoto de Toledo. Apesar de ser uma empresa com equipamentos relativamente modernos, nota-se que o processo poderia ser melhorado, como: os gases removidos do biorreator poderiam ser usados para gerar energia e o filtro utilizado poderia ser um filtro com uma manutenção mais simples. Em uma situação real, não é possível de se observar o modelo proposto da proveta na literatura, e pode-se aproximar os valores do dimensionamento do decantador. Os valores ficaram discrepantes, pois todos os cálculos foram feitos a partir de valores hipotéticos. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT NBR 12209 - Elaboração de projetos hidráulico-sanitários de estações de tratamento de esgotos sanitários, 2a edição. Rio de Janeiro, 2011. BENVINDO, A.L et al. (2002). Tratamento de Minérios. 3ª Edição. CETEM – Centro de Tecnologia Mineral; Rio de Janeiro-Brasil. BLACKADDER; NEDDERMAN. Manual de Operações Unitárias. 2ª Ed. Editora Hemus, 2004. COE, H.S; CLEVENGER, G.H: Methods for determining the capacities of slimesettling tanks. Transactions of the American Institute of Mining, Metallurgical andPetroleum Engineers, v.60, p.356-358; (1917). FOUST, A. S.; WENZEL, L. A.; CLUMP, C. W.; MAUS, L.; ANDERSEN, L. B. 2ed. Princípios das operações unitárias. Rio de Janeiro: Guanabara Dois/LTC, 1982. FRANÇA, S. C. A, Casqueira, R. G. Ensaios de sedimentação. Comunicação Técnica elaborada para o Livro Tratamento de Minérios: Práticas Laboratoriais, Parte VI –Desaguamento, cap. 23, pág. 393-408, Rio de Janeiro, Brasil, 2007. GEANKOPLIS, C. J. Transport Processes and Separation Process Principles. 4ed. New York: Prentice Hall, 2010; LIRA, J. R. Estudo dos Parâmetros que Influenciam a Floculação na Sedimentação Contínua. Universidade Federal de Uberlândia, 2010. MOREIRA, M. F. P. Engenharia de Separação. Toledo, Paraná, 2017.
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