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Direitos reais Obrigação Propter rem: Seguindo a tradução livre do latim, temos que esta é uma obrigação em razão (propter) da coisa (rem). Surgem pela simples aquisição de um direito real de propriedade. Ex: Pagamento do condomínio, IPTU. Para muitos autores (Carlos Roberto Gonçalves, p.ex.), é uma figura híbrida, pois não faz parte do direito real ou obrigacional. Exemplo do artigo 1.345, CC: O adquirente de unidade responde pelos débitos do alienante, em relação ao condomínio, inclusive multas e juros moratórios. OBS: O promitente comprador tem que pagar as obrigações proter rem? “Despesas condominiais. O promissário-comprador, investido na posse do imóvel, responde pelas despesas de condomínio, independentemente de ainda não ter sido feito o registro” (STJ, Resp 136.562 – DF, 4ª T. rel. Min. Sávio Figueiredo, DJU, 1º -3-1999). NÃO CONFUNDIR OBRIGAÇÕES PROPTER REM: 1º) ÔNUS REAL: obrigação transmitida juntamente com o direito de propriedade. São gravames existentes na coisa. Ex: 20% manutenção de reserva legal (art. 16, Lei 4771/65 – Código Florestal) 2º) OBRIGAÇÕES COM EFICÁCIA REAL: relação obrigacional que produz eficácia erga omnes. Ex: art. 8º, Lei 8245/91 (Lei do Inquilinato). “Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.” POSSE POSSE é exercício aparente de uns dos direitos da propriedade. Ex: dirigir um carro. Conceito: art. 1.196, Código Civil. OBS: para Carlos Roberto Gonçalves o conceito de posse resultaria da conjugação de 03 (três) dispositivos legais: 1º) art. 1.196 (onde haveria indiretamente o conceito de posse), 2º) art. 1.198 (onde o legislador diz em que casos o exercício configura detenção, e não posse) 3º) art. 1.208 (não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância). Fundamento da Posse: “a posse é protegida para evitar a violência e assegurar a paz social, bem como porque a situação de fato aparenta ser uma situação de direito. É, assim, uma situação de fato protegida pelo legislador.” (Carlos Roberto Gonçalves) PRINCIPAIS TEORIAS SOBRE A POSSE Teoria Subjetiva (Clássica), de Savigny (1803) Posse: poder que a pessoa tem de dispor materialmente de uma coisa, com intenção de tê-la para si e defendê-la contra a intervenção de outrem. Posse = corpus + animus domini, ou P= C+A Corpus (elemento objetivo): é o poder físico sobre o bem. Animus domini (elemento subjetivo): é a intenção de dono. Ex.: locatário (detentor, pois “C” sem “A”). Ex2.: João invade terreno e por ali fica por anos. Ele tem o poder físico e se sente dono (C+A), mas sabe que não é. Nesta teoria, ele é possuidor. Mérito: autonomia/posse. -Posse: fato na origem, direito nas conseqüências (ex: interditos). Críticas: explicação superficial sobre o poder físico. Ex: é necessário estar com o bem o tempo todo? Falta de proteção ao locatário; Dificuldade na prova do aspecto subjetivo (intenção). Teoria Objetiva , de Ihering (1818-1892) Posse: é mero exercício da propriedade. Posse = corpus, ou P= C Posse – poder de fato, Propriedade – poder de direito sobre a coisa. OBS: Detenção: posse desqualificada/degradada pela lei. Incidência de obstáculo legal. Na teoria objetiva, “a propriedade sem a posse seria um tesouro sem a chave, uma árvore frutífera sem a escada que atingisse os frutos, pois a propriedade sem a posse restaria paralisada”. (Cristiano Chaves) Animus (elemento subjetivo): vontade de ser possuidor (“animus tenendi”) esta embutido no “corpus”, isto é, na maneira como a pessoa se comporta com a coisa.Dispensável. Assim: Detentores/teoria clássica (ex: locatário) – possuidor Admissibilidade coexistência posses: DIRETA X INDIRETA. Art. 1197. Posse direta (ou imediata): é daquele que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de contrato (locatário, p, ex.) Posse indireta (ou mediata): é a daquele que cede o uso do bem (a do locador, p. ex.). Dá-se o desdobramento da posse. Uma não anula a outra. Mérito: Abandono do animus domini; Ampliação do rol de possuidores (que eram detentores). Críticas: Subordinação da posse à propriedade. Retrocesso. Código Civil de 2002: Filiou-se a teoria objetiva. OBS: exceção subjetiva existente no CC/02: usucapião como modo aquisitivo da propriedade que demanda o animus domini. - Teorias objetiva e subjetiva: envelhecidas. Jus possessionis x Jus possidindi Jus possessionis (ou posse formal) é o direito DE posse, ou seja, é o poder sobre a coisa e, a possibilidade de sua defesa por intermédio dos interditos possessórios (interdito proibitório, de manutenção da posse ou de reintegração de posse). Trata-se de conceito que se relaciona diretamente com a posse direta e indireta. Ao possuidor direto é conferido o direito DE posse. Independe de qualquer título. Jus possidendi (ou posse causal) é o direito À posse, decorrente do direito de propriedade, ou seja, é o próprio domínio. Em outras palavras, é o direito conferido ao titular de possuir o que é seu. A posse não tem autonomia. Distinção posse x detenção POSSE é exercício aparente, em nome próprio, de uns dos direitos da propriedade. Animus tenendi. Art. 1196. DETENÇÃO: exercício do poder de fato sobre a coisa em nome alheio. Fâmulo da posse. Art. 1198. OBS: posse desqualificada/degradada pela lei (através de obstáculo). OBS: Art. 1208: Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. Permissão - autorização temporária para utilização da coisa. Tolerância - inação, passividade. Violentos – contra o possuidor ou contra o direito de posse. Clandestinos - é obtida de forma oculta, sempre às escondidas. OBS: não há posse em bens públicos – arts. 183 e 191, CF/88. Uso do bem público pelo particular = mera detenção consentida (Carlos Roberto Gonçalves) Natureza jurídica da posse . Divergência doutrinária. 03 (três) correntes. 1-) posse é um estado de fato (Clóvis Beviláqua) 2-)a posse é um direito real (Caio Mário). 3-) posse é um fato e um direito nos efeitos que produz (eclética) CLASSIFICAÇÃO DA POSSE Espécies 1-) Quanto ao desdobramento da posse: Direta e Indireta Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. A clássica distinção entre posse direta e indireta surge do desdobramento da posse plena, podendo haver desdobramentos sucessivos. OBS: Plena: é a posse em que o possuidor exerce de fato os poderes inerentes à propriedade, como se sua fosse a coisa. Desdobramento da posse – podem ser sucessivos Feito o desdobramento, poderá o possuidor direto efetuar novos desmembramentos, tornando-se possuidor indireto. Terá a POSSE DIRETA quem tiver a coisa consigo. Posse exclusiva – posse de um único possuidor. OBS: desdobramento da posse em possuidores direto/indireto não desnatura a posse exclusiva. Posse exclusiva – contraposto – composse. Composse: situação pela qual duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente, poderes possessórios sobre a mesma coisa. Art. 1.199: “Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores”. OBS: A composse está para a “(...) posse da coisa como o condomínio está para a propriedade.” (Moreira Alves) Defesa da posse/composse: pode ser feito para que compossuidor passe a exercer posse exclusiva. Composse pro diviso: Podem os compossuidores, também, estabelecer uma divisão de fato para a utilização pacífica do direito de cada um, surgindo, assim, a composse pro diviso. Composse pro indiviso:se todos exercerem, ao mesmo tempo e sobre a totalidade da coisa, os poderes de fato (utilização ou exploração comum do bem). OBS: Composse – várias posses concomitantes sobre o mesmo bem. Posse paralela (ou múltipla) – desdobramento da posse em direta x indireta. 2-) Quanto ao vícios objetivos: Justa e Injusta Posse Justa: posse desprovida dos vícios específicos do art. 1.200, CC. A posse justa é mansa, pacífica, pública e adquirida sem violência. Posse Injusta: posse maculada por pelo menos um dos vícios da posse (violência, clandestinidade ou precariedade). Violência: expulsa de um imóvel, por meios violentos, o anterior possuidor. Analogia com a figura penal do roubo. Clandestina: posse do que furta um objeto ou ocupa imóvel de outro às escondidas. Analogia com a figura penal do furto. Precária: posse quando o agente se nega a devolver a coisa, findo o contrato. Analogia com a figura penal da apropriação indébita. OBS: Para a proteção da posse, não basta que seja justa/injusta em sentido absoluto. Basta que seja justa em relação ao oponente. “injustiça da posse ocorre entre o esbulhado e o esbulhador, sendo a situação deste viciada em relação ao outro”. (Arruda Alvim) Continuidade no caráter da posse: art. 1203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida. OBS: art. 1208 admite a cessação dos vícios da posse. 3-) Quanto ao vícios subjetivos: Boa-fé e Má-fé Posse de boa-fé: é aquela cujo possuidor está convicto de que o exercício de sua posse encontra fundamento na ordem jurídica. Posse de má-fé: o possuidor tem conhecimento do vício que macula a posse. Art. 1201. Conceituação posse boa-fé. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção. . “É de suma importância, para caracterizar a posse de boa-fé, a crença do possuidor de se encontrar em uma situação legítima. Se ignora a existência de vício na aquisição da posse, ela é de boa-fé; se o vício é de seu conhecimento, a posse é de má-fé. Para verificar se uma posse é justa ou injusta, o critério, entretanto, é objetivo: examina-se a existência ou não dos vícios apontados”. (Carlos Roberto Gonçalves, grifo nosso) Questão: é possível que uma posse seja de injusta e de boa-fé ou justa de má-fé? 4-) Posse AD USUCAPIONEM OU AD INTERDiCTA: Posse ad usucapionem: é a posse que pode conduzir a usucapião. É a posse de quem tem o bem como dela. Para fins de usucapião a posse deve ter o corpus + animus domini. Não é achar que é dono, mas é agir como tal – “possuir como seu” (art. 1.238 a 1.240). Posse ad interdicta: aqui a posse é direta. Há proteção possessória, mas não conduz ao usucapião. Recebe esse nome por causa dos interditos possessórios. Interditos possessórios (ações possessórias): . Reintegração de posse . Manutenção de posse . Interdito proibitório 5-) Posse ORIGINÁRIA OU DERIVADA: Posse originária: é a posse que não tem relação com posse anterior. A primeira posse. Ex.: pescar um peixe. A posse não foi recebida de ninguém. Mas quem comprar o peixe adquire a posse (derivada). Posse derivada:é a posse recebida de outrem. Inter vivos ou causa mortis. 6-) Posse NATURAL OU JURÍDICA: Posse natural: é a posse que existe no mundo físico. Se constitui pelo exercício de poderes de fato sobre a coisa. Posse jurídica:é a posse inventada pelo direito por força de cláusula.. 7-) Posse EXCLUSIVA OU COMPOSSE: Posse exclusiva: é a posse que não é dividida com ninguém. Posse plena, direta ou indireta, de um único possuidor. OBS: desdobramento da posse não é incompatível com exclusividade da posse. Composse: é a posse compartilhada. Duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente, poderes possessórios sobre a mesma coisa. Ex.: marido e mulher. Qualquer dos compossuidores pode valer-se do interdito possessório ou da legítima defesa para impedir que outro compossuidor exerça uma posse exclusiva sobre qualquer fração da comunhão. Art. 1199. Pro diviso: no plano real as pessoas dividem a utilização da coisa. Compossuidores estabelecem uma divisão de fato para a utilização pacífica do direito de cada um. Em relação a terceiros, como se fosse um único sujeito, qualquer deles poderá usar os remédio possessórios, tal como acontece no condomínio. Pro indiviso: a coisa não foi dividida. Ex.: filhos que dividem fazenda e seus frutos. Os filhos exercem a composse sem divisão fática. 8) Quanto ao Tempo de Posse Posse Nova: aquela que data de menos de 1 ano e 1 dia. Posse Velha: aquela que tem mais de 1 ano e 1 dia. OBS: possibilidade de liminar/procedimento especial. Art. 924, CPC.
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