Buscar

AULA 4

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 5 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Aula 4: 
Política e Sociedade – a História Política e as diversas formas de poder
História e Poder se refundam um ao outro diuturnamente: o poder engendra a história e a história engendra o poder, em um complexo círculo no qual uma coisa não parece ser separável da outra.
Por outro lado, em que pese que, em sentido mais abrangente, toda a história seja relacionada ao poder, também podemos dizer que o poder constitui uma instância mais específica da vida social.
No texto dedicado à História Política da obra coletiva Domínios da História (ver material didático), Francisco Falcon evoca logo de saída a interessante metáfora de que “história e poder são como irmãos siameses”, uma vez que “olhar para um sem perceber a presença do outro é quase impossível” (FALCON, 1997, p. 61). Dito de outro modo, é efetivamente inseparável da história a dimensão do poder (ou da política, se considerarmos esta como a esfera que se relaciona diretamente com o poder).
Toda a história humana, em seus mais diversificados aspectos, processos, temporalidades e espacialidades, é permanentemente atravessada pelo poder, nas suas mais diversas formas; ao mesmo tempo, é também produto e realização de uma história ou de um processo histórico específico todo e qualquer poder – dos macropoderes exercidos pelo Estado ou pelas instituições aos micropoderes que se distribuem indelevelmente pela rede social.
Quando o historiador dedica-se a examinar em primeiro plano o Poder nas suas múltiplas relações com a vida social e com a história, quando começa a examinar as diversas maneiras como os homens estabelecem pressões recíprocas, bem como os domínios e resistências de uns sobre os outros – seja no âmbito das relações e confrontos entre grandes grupos sociais, estados ou instituições, seja no âmbito das relações e confrontos entre os indivíduos – é neste momento que se delineia o que poderemos chamar de História Política. No entanto, é preciso esclarecer desde já que “poder” (e, consequentemente, história política) não constitui um conceito estático.
Os estudiosos da história e da ciência política estão constantemente concebendo de novas maneiras o que é o poder, melhor dizendo, esses estudiosos a cada instante podem perceber novas coisas relacionáveis ao poder, novos modos de interação humana através dos quais os homens se afetam reciprocamente. 
Se o poder se anuncia altissonante ao nível do Estado, com suas formas de controle, disciplina, guerras, violência e policiamento, também nos aspectos mais discretos da vida humana ele pode ser surpreendido pelos historiadores, antropólogos e sociólogos. 
Uma simples palavra pode expressar uma relação de poder e a mais espontânea relação afetiva ou amorosa pode estar atravessada por indeléveis poderes dos quais nem sempre nos apercebemos claramente.
Essa percepção mais abrangente do poder não esteve dada desde sempre, ou à disposição de todos aqueles que até hoje estudaram as sociedades humanas. Os modos de perceber o poder também são produtos da história: vão se modificando na história dos diversos campos de saber, e esses campos também se modificam à medida que percebemos o poder de novas maneiras. 
Por isso, para compreendermos com maior clareza as expansões, transformações e desenvolvimentos de que a história política se beneficiou no decorrer da história da historiografia, devemos compreender também as expansões conceituais relacionadas à ideia de poder que ocorreram nesse mesmo período.
Nosso ponto de partida será o século XIX, uma época em que boa parte da atenção dos historiadores voltava-se mais explicitamente para a história política (como, aliás, também nos séculos anteriores). 
Era mais raro, então, que os historiadores se dedicassem ao estudo de aspectos que hoje se relacionariam ao que denominamos história cultural, e não existiam ainda preocupações com o que bem mais tarde seria chamado de história das mentalidades. 
A economia, e, portanto, a história econômica, também só eram lateralmente examinadas pela maior parte dos historiadores profissionais.
A política, de fato, ocupava o principal campo de interesses dos historiadores, particularmente a “grande política” – aqui entendida como um universo específico que se relaciona aos assuntos de Estado, aos meios tradicionais e formalizados da política profissional, às relações entre estados através das guerras e diplomacia, aos poderes e modos de organização desenvolvidos por grandes instituições.
Para entender mais este assunto, acesse a Biblioteca Virtual e leia o texto Política, História e Poder.
O “Poder” apresenta-se ininterruptamente neste teatro social no qual todos ocupamos simultaneamente a função de atores e de espectadores – daí que se pode falar hoje também em um “teatro do poder” quando examinamos a política nas várias épocas históricas (BARROS, 2006, p. 5). De igual maneira, o Poder, para além das batalhas tradicionais e revoluções mais explícitas, é também aquilo que foi se afirmando no decorrer de uma série de novas lutas políticas e sociais que redefiniram a sociedade em que vivemos. 
Deste modo, o Poder passava a ser também aquilo os homens aprenderam a reconhecer nas mulheres, que as maiorias aprenderam a reconhecer nas minorias, que o mundo da ordem aprendeu a reconhecer na marginalidade, que os adultos aprenderam a reconhecer nos mais jovens (BARROS, 2006, p. 5). Essa compreensão mais abrangente da noção de “poder” redefine, obviamente, os sentidos para o que se deve entender por História Política, e, a partir daqui, emergem também novos objetos para esta modalidade historiográfica, que dificilmente poderiam ter sido pensados pelos historiadores do século XIX.
É importante ainda ressaltar que há mesmo uma complementaridade possível entre a série de antigos objetos da História Política e a série de novos objetos que se tornou possível com a expansão do conceito de poder. 
Os antigos objetos privilegiados pelos historiadores políticos do século XIX não desapareceram, conforme já veremos. Eles, na verdade, passaram a conviver e a dialogar com novos objetos.
Ademais, é preciso também ressaltar que essas duas séries de antigos e novos objetos da história política também são concomitantemente atravessadas por outro par de perspectivas que podem permear as relações entre história e poder. Podemos acompanhar as observações de Francisco Falcon, no artigo História e Poder (ver material didático), quando este autor observa que existem “duas maneiras de ver a questão das relações entre história e poder” (FALCON, 1997, p. 61):
“(...) há um olhar que busca detectar e analisar as muitas formas que revelam a presença do poder na própria história; mas existe um outro olhar que indaga dos inúmeros mecanismos e artimanhas através dos quais o poder se manifesta na produção do conhecimento histórico”.
Retomando a discussão sobre os objetos recorrentes da História Política, podemos dizer que estes – sejam os antigos ou os novos – correspondem a todos aqueles que se mostram atravessados pela noção ampliada de “poder”, em todas as direções e sentidos, e não mais exclusivamente em uma perspectiva unilateral que parte da centralidade estatal ou da imposição dos grupos dominantes de uma sociedade.
Posto isso, se os antigos enfoques da História Política tradicional foram relativamente secundarizados pela historiografia mais moderna a partir dos anos 1930 (Escola dos Annales e novos marxismos), esses temas tradicionais começaram a retornar mais amiúde nas últimas décadas do século XX.
A Guerra, a Diplomacia, as Instituições, ou até mesmo a trajetória política dos indivíduos que ocuparam lugares privilegiados na organização do poder – tudo isso, que rigorosamente falando jamais desapareceu completamente da palheta de interesses dos historiadores profissionais, começou a retornar a partir do final do último século com um novo interesse (BARROS, 2005, p. 6).
Por outro lado, para além desses objetos já tradicionais que se referem às relações entre as grandes unidadespolíticas e aos modos de organização dessas macrounidades políticas que são os Estados e as Instituições, passavam a adquirir especial destaque, no repertório de interesses dos historiadores políticos, as relações políticas entre grupos sociais de vários tipos e, começaram mesmo a despertar um interesse análogo também as relações interindividuais, os micropoderes, as relações de poder no interior da família, os relacionamentos intergrupais, assim como o campo das representações políticas, dos símbolos, dos mitos políticos, do teatro do poder, ou do discurso.
Para saber mais sobre o assunto, acesse a Biblioteca Virtual e leia o texto O Campo da História.
À medida que a Geografia desenvolveu uma nova noção de território ao examinar com novo olhar os espaços de que os homens se apropriam, também se fortaleceram interfaces que já existiam entre a História e a Geografia, mas agora mediadas por aspectos relacionados com a História Política. A saber, “território” pode ser definido como um espaço ou lugar sobre o qual se estabelece um poder e se agrega uma identidade.
Mesmo animais como gatos, cães, lobos e tantos outros costumam estabelecer seus territórios perante outros animais da mesma espécie – vale dizer, ao demarcar um território, o animal está sinalizando e afirmando seu poder nos limites do lugar demarcado. Com as sociedades humanas não é diferente: podemos ver a demarcação de territórios desde os grandes espaços como os estados nacionais, até os pequenos lugares como as vizinhanças e os territórios das gangues de rua. O poder atravessa essas diversas esferas e tipos de agrupamentos humanos, e, portanto, pode-se pensar também aqui em objetos para a história política.
O discurso – e ao lado disso a interface da história política com as ciências da comunicação e com a linguística – tem sido outro aspecto bem frequentado pelos historiadores políticos. O que pode ser dito através dos vários tipos de discurso? Quando? Por quem? Em quais circunstâncias?
Como atravessam o discurso os interditos (isto é, aquilo que não pode ser dito de modo nenhum, ou ao menos em determinadas circunstâncias)?
Questões como estas têm levado os historiadores a examinarem de uma nova maneira os diversos textos que são por ele tomados como objetos de análise ou fontes historiográficas – bem como outras formas discursivas não textuais como as imagens.
Além da sua notável expansão de objetos de estudo, a História Política renovou-se também a partir dos já mencionados diálogos intradisciplinares com outros campos da História, bem como de seus diálogos interdisciplinares com outras ciências humanas e sociais. Entre estas, conforme inventaria René Remond em um texto que já se tornou um clássico, e que introduz a famosa coletânea Por uma Nova História Política (2003), destacam-se a sociologia, o direito público, a psicologia social, a linguística e outras. A partir do diálogo com estes campos, a História Política pode enriquecer-se com empréstimos diversos: novas técnicas, novos conceitos, aqui um novo vocabulário, ali uma problemática que até então não lhe era comum. A Ciência Política, o que até certo ponto não deixa de ser evidente, contribuiu simultaneamente para uma renovação do vocabulário da História Política e para a incorporação de novas noções, tais como o conceito de “poder simbólico”, proposto pelo sociólogo Pierre Bourdieu (1989), dentre outros.
Em linhas gerais, temos aí um quadro sintético das novas tendências, interesses, discussões conceituais e possibilidades de abordagens que se relacionam mais francamente com o movimento de expansão que a História Política apresentou no decorrer século XX, e mais particularmente ainda nas suas últimas décadas, de modo a abarcar novos objetos a serem privilegiados pelos historiadores. 
Para ampliar sua compreensão sobre a história política, e aprofundar um conhecimento mais detalhado sobre o estudo de objetos mais recentes da história política – tais como o imaginário político ou as conexões entre poder e discurso

Outros materiais