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Resumo 09 Defeitos do Negócio Jurídico

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DIREITO CIVIL II
WANIA ALVES FERREIRA FONTES
Graduada em Direito pela UFMG
Pós graduada em Direito Processual Civil pela UFU
Pós graduada em Direito do Trabalho pela UNIT
Pós graduada em Direito Civil pela UFU
Mestra em Relações Sociais “Direito do Trabalho” pela PUC/SP
Escritório: Rua José de Santana 280 – Fones (34) 38218799 – 98058484
Email: wania@unipam.edu.br
..........................................................................................................................
DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
Em relação ao plano de validade do negócio jurídico, este pode ter existência, ter sido elaborado com os requisitos de validade, mas podem conter vícios capazes de serem invalidados pela anulabilidade. Ocorre, exatamente quando o negócio jurídico está viciado, portanto, com defeito.
Do Erro ou Ignorância:
1) Introdução:
	Ignorância é o completo desconhecimento acerca de um objeto. Erro é a noção falsa a respeito desse mesmo objeto ou de determinada pessoa. Por outras palavras, na primeira, a mente está in albis; na segunda, o que nela está registrado é falso.
	Num e noutro caso, o agente e levado a praticar o negócio jurídico, que não praticaria por certo, ou que praticaria em circunstâncias diversas, se estivesse devidamente esclarecido. 
2) Erro substancial ou essencial:
	O erro, para viciar a vontade e tornar o negócio jurídico anulável, deve ser essencial ou substancial, ou seja, de tal relevo que sem ele o ato não se realizaria. Deve ser escusável (deve ter por fundamento uma razão plausível, de tal monta que qualquer pessoa inteligente e de atenção ordinária seja capaz de cometê-lo. A lei adotou o critério do homem médio, ou seja, comparação da conduta do agente com a da média das pessoas) e deve ser real (tangível, palpável, importanto efetivo prejuízo para o interessado).
	São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio (artigo 138).
	Diz o artigo 139 que o erro é substancial ou essencial quando:
	A) Interessa à natureza do negócio:
	Há erro essencial sobre a natureza do negócio quando se intenciona praticar certo negócio e no entanto se realiza outro: João entrega determinado objeto a título de empréstimo e Maria o recebe a título de doação. Ou, João entrega um imóvel a título de venda e Maria o recebe a título de locação. Nesses casos, não há acordo de vontades sobre a própria essência do negócio jurídico, em virtude de erro substancial. Logo, é ineficaz.
	B) Interessa ao objeto principal da declaração:
	Há erro sobre o objeto principal da declaração quando a coisa concretizada no negócio em verdade não era pretendida pelo agente. O comprador acredita esteja a adquirir, num loteamento, certo lote de terreno, bem situado e próximo de centro urbano, quando realmente está comprando outro muito mais distante. Ou, o comprador acredita sejam parafusos os objetos que adquiriu e, de fato, são pregos. Em qualquer dessas hipóteses, a vontade desviou-se, devido ao desentendimento sobre o objeto do negócio; este é anulável, e o adquirente está autorizado, em ambos os casos, a pedir sua decretação.
	C) Interessa a alguma das qualidades a ele essenciais.
	Há erro sobre alguma das qualidades essenciais do objeto principal da declaração quando se supunha existente determinada, que, porém, não existia, tendo a falsa crença determinado a vontade. Creio ser lã animal o que é lã sintética; adquiro cavalo de tiro por um de corrida. Versando o erro sobre qualidades essenciais do objeto, equivocadamente tidas por existentes, o ato é anulável. Alguém, desejando possuir candelabros de prata, adquire-os do comerciante, que afirma serem eles do metal indicado. Depois de os ter adquirido, verifica o comprador que os candelabros eram de cobre prateado. O negócio é anulável, porque a qualidade do metal fora o motivo determinante do ato.
	Por outro lado, alguém adquire candelabros de prata, porque lhe foi assegurado terem pertencido a celebridade; posteriormente, capacita-se de que, embora exata a procedência, os candelabros são de cobre prateado. Nesse caso, o negócio é válido, porque a razão determinante da compra havia sido a circunstância de haver pertencido o objeto, em outros tempos, a personagem célebre.
	D) Concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante.
	O erro, incidindo sobre a pessoa com que se teve intenção de tratar, só é causa de anulabilidade do ato quando a consideração da mesma pessoa foi a causa determinante, a mola propulsora do negócio jurídico, quer quanto a sua identidade, quer quanto a qualidade essencial de que seja portadora.
	Numerosos são os negócios jurídicos em que o erro sobre a pessoa tem influência decisiva: a) casamento – erro essencial quanto à pessoa – artigos 1556 – 1557; b) no contrato a título oneroso, tendo por objeto fato infungível – artigo 247.
	Em outros casos, porém, o erro sobre a pessoa será de somenos importância, em especial se o ato versa sobre fato fungível.
	E) Sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.
	É o erro de direito (error juris). O novo Código comtempla, ao enumerar os casos em que há erro substancial (artigo 139), ao lado das hipóteses de fato (que decorre de uma noção falsa das circunstâncias), o erro de direito, desde que não se objetive, com a sua alegação, descumprir a lei ou subtrair-se à sua força imperativa e seja o motivo único ou principal do negócio jurídico, pois ninguém pode descumprir sob a alegação de que a desconhece (artigo 3º, LICC).
	Pode-se invocar o erro de direito, p. ex., para afastar a imputação de má-fé.
	A pessoa que contrata a importação a importação de determinada mercadoria ignorando existir lei que proíbe tal importação. Como tal ignorância foi a causa determinante do ato, pode ser alegada para anular o contrato, sem com isso se pretender que a lei seja descumprida.
	O apego à ficção (nemo jus ignorare licet) só deve ser mantido quando indispensável à ordem pública e à utilidade social. A lei é humana e equitativa. Entendê-la de outro modo será, muitas vezes, condenar quem realmente estava enganado e foi vítima de equívoco perfeitamente desculpável.
	O error juris não consiste apenas na ignorância da norma, mas também no seu falso conhecimento e na sua interpretação errônea. De qualquer modo, para induzir anulação do ato, necessário que o erro tenha sido a razão única ou principal, ao determinar a vontade.
3) Erro acidental:
	É o concernente às qualidades secundárias ou acessórias da pessoa ou do objeto. Esse erro não induz à anulação do ato porque se refere a circunstâncias de somenos importância e que não acarretam efetivo prejuízo, ou seja, a qualidades secundárias do objeto ou da pessoa. Mesmo que conhecida a realidade, o negócio seria realizado. Seria o caso se o erro dissesse respeito somente à cor do veículo (preto, em vez de azul escuro).
4) Falso motivo:
	O motivo do negócio são as idéias, as razões subjetivas, interiores, consideradas acidentais e sem relevância para a apreciação da validade do negócio. Em um compra e venda, p. ex., os motivos podem ser diversos: a necessidade de venda, investimento, edificação de moradia, etc.
	Os motivos são estranhos ao direito e não precisam ser mencionados.
	Por outro lado, quando os motivos são expressamente mencionados como razão determinante, passam à condição de elementos essenciais do negócio. Neste sentido, diz o artigo 140 que o falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante.
	Assim, as partes podem promover o erro acidental a erro relevante. Os casos mais comuns são as deixas testamentárias, com expressa declaração do motivo determinante que, entretanto, se revelam falsos, posteriormente (filiação,parentesco).
	O erro sobre o movimento de negócios de um estabelecimento não é substancial; mas, se as partes convencionarem que essa é a razão determinante do contrato, o erro sobre tal assunto é promovido de acidental a substancial, e pode, por conseguinte, ser proveitosamente alegado para se promover a anulação do ajuste.
	Ao final, vale dizer que o motivo não se confunde com a causa.
	Causa é o escopo, o fim visado pela parte ao realizar o negócio jurídico; é o sustentáculo necessário do ato, parte constitutiva deste. Numa compra e venda, p. ex., a causa que movimenta o vendedor é o intento de embolsar o preço a que aciona o comprador, o desejo de receber a coisa adquirida.
5) Transmissão defeituosa da vontade:
	A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a declaração direta (artigo 141).
	O Código Civil equipara o erro à transmissão defeituosa da vontade. Se o declarante não se encontra na presença do declaratõrio e se vale de um intermediário (interposta pessoa ou núncio) ou de um meio de comunicação (fax, telégrafo, internet, etc.) e a transmissão da vontade, nesses casos, não se faz com fidelidade, estabelecendo-se uma divergência entre o querido e o que foi transmitido erroneamente (mensagem truncada), caracteriza-se o vício que propicia a anulação do negócio.
6) Erro de indicação da pessoa ou da coisa:
	O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada (artigo 142).
	O erro de indicação da pessoa ou da coisa trata-se de erro sanável ou acidental.
	O doador ou testador, p. ex., beneficia seu sobrinho Antônio. Na realidade, não tem nenhum sobrinho com esse nome. Apura-se, porém, que tem um afilhado de nome Antônio, a quem sempre chamou de sobrinho.
	Quem alega o erro deve prová-lo. Fenômeno de ordem subjetiva, não comporta, muitas vezes, prova direta. Será preciso deduzi-lo então de elementos objetivos, que o exprimam por uma relação natural e necessária.
	Aliás, o artigo 1903 dispõe nestes termos.
	O artigo 142 complementa o disposto no artigo 138, ou seja, a anulação de um negócio só é admissível em caso de erro substancial.
7) Erro de cálculo:
	O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade (artigo 143). Assim, com a retificação, o erro deixa de ser real e, portanto, anulável.
8) Execução de acordo com a vontade real do manifestante:
	O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante (artigo 144).
Do Dolo
1) Conceito:
	Dolo é o induzimento malicioso de alguém à prática de um ato que lhe é prejudicial, mas proveitoso ao autor do dolo ou a terceiro. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa (artigo 145).
	O dolo em muito se avizinha do erro, e, se representa uma limitação à eficácia do ato jurídico, isso ocorre porque a vontade que o constituiu manifestou-se enganada.
	Enquanto no erro o engano é espontâneo, no dolo é provocado.
	Alguns autores, inclusive, assimilam os dois defeitos, por entenderem que a causa da anulabilidade do ato jurídico é sempre o erro, quer espontâneo, quer provocado, isto é, o dolo.
2) Dolo principal e dolo acidental:
	É o dolo principal que se diferencia do dolo acidental quando a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo, assim, só o dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos (artigo 146).
	Enquanto o dolo principal constitui vício do consentimento, capaz de anular o ato jurídico; o dolo acidental não passa de um ato ilícito, que gera, para seu agente, uma obrigação de reparar o dano causado à vítima.
	Finalizando, Sílvio Rodrigues cita um julgado do TJSP que proclamou ser anulável, por dolo do vendedor, o negócio em que a apelante, mulher rústica e desprovida de luzes, fora vítima de manobras fraudulentas, em virtude das quais, enganada, ludibriada, fora impelida à compra de pequeno bar, cujo valor era insignificante, envolvendo-se assim em negócio arriscado e ruinoso, que não ultimaria, não fosse a lábia da outra parte.
3) Dolo de terceiro:
	Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou (artigo 148).
	Se o adquirente é convencido por um terceiro de que o relógio que está adquirindo é de ouro, sem que tal afirmação tenha sido feita pelo vendedor, e este ouve as palavras de induzimento utilizadas pelo terceiro e não alerta o comprador, o negócio torna-se anulável.
	Entretanto, se a parte a quem aproveite (vendedor) não soube do dolo de terceiro, não se anula o negócio. Mas, o lesado poderá reclamar perdas e danos do autor do dolo, pois este praticou um ato ilícito.
4) Dolo negativo ou omissão dolosa:
	O silêncio, via de regra, não geral qualquer efeito jurídico.
	O dolo pode ser praticado por ação ou por omissão. O dolo por omissão surge, nos termos do art. 147, quando, nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.
	Um problema teórico relevante é o de saber se o silêncio será imputável a quem o guarda somente quando a lei exige que se manifeste, ou se caberá ao julgador, ante o exame do caso concreto, decidir se houve abstenção dolosa, ainda quando a lei não imponha o dever de falar.
	Provando-se que, sem a omissão, o negócio não se teria celebrado, pode ser pleiteada a sua anulação. Esteia-se tal dispositivo no princípio da boa-fé, que deve nortear todos os negócios.
	Nos contratos de seguro, p. ex., se o estipulante de seguro de vida oculta dolosamente ser portador de doença grave, perderá o direito ao recebimento do seguro, por aplicação do artigo 766.
	O TJSP, p. ex., proclamou ser dolosa a omissão do vendedor de um pomar de laranjas que oculta estarem os frutos atacados de uma praga denominada leprose.
	O compromisso de compra e venda, p. ex., em virtude de o alienante ter ocultado a existência de trincas no prédio objeto do contrato, quando lhe competia a obrigação de revelar tal fato, é anulável por omissão dolosa ou dolo negativo.
5) Dolus bonus e dolus malus:
	Dolus bonus é o dolo tolerável no comércio em geral. É considerado normal, e até esperado, o fato de os comerciantes exagerarem as qualidades das mercadorias que estão vendendo. Não torna o negócio anulável, porque de certa maneira as pessoas já contam com ele e não se deixam envolver, a menos que não tenham a diligência que se espera do homem médio. Somente vicia o ato o dolus malus, exercido com o propósito de causar prejuízo.
	Quando, p. ex., se induz alguém a tomar remédio que se recusa a ingerir, e que, no entanto, lhe é necessário ou mesmo quando ardilosamente se procura frustrar plano de inimigo ou assassino, temos o dolus bonus.
	Para distinguir o dolo tolerado daquele que vicia o consentimento (dolus malus), não se podem ditar regras absolutas. A lei e a ciência devem confiar no juiz e deixar a ele o cuidado de decidir entre o dolus malus e o dolus bonus.
	Às vezes, o autor pode ser vítima de sua própria negligência, pois, dadas suas condições pessoais, tinha elementos para apurar a veracidade das declarações.
6) Dolo do representante legal:
	Segundo o artigo 149, o dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos.
7)Dolo bilateral:
	Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização (artigo 150).
	Se ambas as partes têm culpa, uma vez que cada qual quis prejudicar a outra, nenhuma delas pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização. Para alguns, se trata de uma compensação, porque ninguém pode valer-se da própria torpeza. Para outros, não se trata de compensação, mas sim de desprezo do Poder Público, que fecha os ouvidos ao clamor daqueles que, baseados em sua própria torpeza, pretendem obter a proteção jurisdicional.
Da Coação
1) Introdução:
	O que caracteriza a coação é o emprego da violência psicológica para viciar a vontade. Coação é toda ameaça ou pressão exercida sobre um indivíduo para forçá-lo, contra a sua vontade, a praticar um ato ou realizar um negócio.
	A coação é mais grave do que o próprio dolo, porque, se este incide sobre a inteligência da vítima, aquela infringe sua liberdade. Além disso, ela ofende de modo mais sensível a ordem social.
2) Espécies de coação:
	A coação pode ser física (absoluta) ou moral (relativa).
	O exemplo clássico de coação física é o da mão da vítima que é conduzida a assinar ou subscrever um documento. Neste caso, a vítima é privada de qualquer resquício de vontade; ela não pode querer coisa diversa. Sua vontade está aniquilada. A coação física torna o negócio jurídico nulo, não anulável, porque lhe falta elemento substancial, o consentimento do interessado.
	A coação que constitui vício da vontade e torna anulável o negócio é a moral ou relativa. É uma coação psicológica. Nesta, deixa-se uma opção ou escolha à vítima: praticar o ato exigido pelo coator ou correr o risco de sofrer as conseqüências da ameaça por ele feita.
	Nem toda ameaça, entretanto, configura coação.
3) Pressupostos:
	O artigo 151 especifica os requisitos para que a coação possa viciar o consentimento, pois, “a coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens”. Assim:
	A) deve ser a causa determinante do ato: o negócio deve ter sido realizado somente por ter havido grave ameaça ou violência, que provocou na vítima fundado receio. Sem a coação, o negócio não se teria concretizado.
	B) deve incutir um temor justificado: a coação deve ser de tal intensidade que efetivamente incuta ao paciente um fundado temor justificado de dano. Pode ser: morte, mutilação, dor física, seqüestro, cárcere privado, prisão, fome, sede, desonra, ridículo, desconsideração pública, escândalo.
	Não se leva em conta o critério do homem médio, mas ao “apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela” (artigo 152).
	C) deve ser de dano temido e grave: a lei refere-se ao dano próximo, provável e irremediável. Ameaça de mal remoto, impossível ou eventual não constitui coação apta a viciar o consentimento. O mal é iminente sempre que a vítima não tenha meios para furtar-se ao dano, quer com os próprios recursos, quer mediante auxílio de outrem, ou da autoridade pública.
	D) deve ser abusiva: isso quer dizer que deve ser ilícita, contrária ao direito. Assim, não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito (artigo 153, primeira parte), como, p. ex., a ameaça feita pelo credor de protestar ou executar o título de crédito. Entretanto, é ilícita a conduta de quem se vale dos meios legais para obter vantagem indevida: o indivíduo que, surpreendendo alguém a praticar algum crime, ameaça denunciá-lo caso não realize com ele determinado negócio.
	E) deve constituir ameaça de prejuízo à pessoa ou a bens da vítima, ou a pessoas de sua família: incluem-se o casamento, união estável, parentes afins (cunhados, sogros, etc.) ou até mesmo a pessoas não pertencentes a família do paciente. Neste caso, diz o artigo 151, parágrafo único, que se “disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação”.
4) Outras disposições:
4.1) Temor reverencial:
	O simples temor reverencial (artigo 153, segunda parte), não será considerado como coação. Por temor reverencial se entende o receio de desgostar pai, mãe, superior hierárquico ou outra pessoa a quem se deve respeito ou obediência.
	Do ponto de vista jurídico, mero receio de desagradar aos genitores, ou a outras pessoas consideradas nas relações sociais e profissionais, sem os requisitos básicos da coação, não é vício do consentimento, porque aquela deferência não tem o condão de obliterar a vontade livre.
4.2) Coação exercida por terceiro:
	Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos (artigo 154).
	Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto (artigo 155).
	Se o sujeito passivo é pessoa jurídica, não se pode cogitar de coação, que tem como pressuposto a vontade livre, só existente na pessoa física (RT 122/525).
Do Estado de Perigo
1) Introdução:
	O negócio jurídico celebrado em estado de perigo é anulável (artigo 178, II).
	O estado de perigo se equipara ao estado de necessidade e, por isso, assume obrigação excessivamente onerosa.
	Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa (artigo 156, caput).
	Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias (artigo 156, parágrafo único).
	Considerou o legislador que, na prática, podem ocorrer vínculos de afetividade que atuem psicologicamente de forma tão intensa como a do parentesco. Assim, cabe ao juiz decidir de acordo com as circunstâncias, no exame do caso concreto.
2) Pressupostos:
	Exige-se, destarte:
	a) necessidade de salvar-se (ou alguém de sua família ou até algum não parente);
	b) conhecimento pela outra parte de grave dano;
	c) obrigação excessivamente onerosa.
	Compõe-se, assim, de dois elementos: objetivo (é a assunção de obrigação excessivamente onerosa); subjetivo (constrangimento causado pela necessidade de salvar-se ou de salvar pessoa de sua família do risco grave existentes. Este último deve ser complementado pela adesão da parte beneficiada ao desvio psicológico, que há de ser conhecedora do grave perigo por que passa o declarante.
3) Casos de estado de perigo:
	A) Exemplo clássico de estado de perigo é o da pessoa que se afogando e, desesperada, promete toda sua fortuna para ser salva.
	B) aquele que, assaltado por bandidos, em lugar ermo, se dispõe a pagar alta cifra a quem venha livrá-lo da violência.
	C) o comandante de embarcação, às portas do naufrágio, que propõe pagar qualquer preço a quem venha socorrê-lo.
	D) o doente que, no agudo da moléstia, concorda com os altos honorários exigidos pelo cirurgião.
	E) a mãe que promete toda a sua fortuna para quem lhe venha salvar o filho, ameaçado pelas ondas ou de ser devorado pelo fogo.
Da Lesão
1) Introdução:
	Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga à prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta (artigo 157, caput).
	Não se contenta o dispositivo com qualquer desproporção: há de ser manifesta.
	Exige-se, ainda, que a avaliação da desproporção entre as prestações seja feita segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico (artigo 157, § 1º).
	Para Caio Mário, o instituto da lesão surgiu nos contratos de comprae venda, permitindo seu desfazimento quando o comprador pagava menos da metade do preço efetivo da coisa à época da realização do negócio.
	A lesão compõe-se de dois elementos: objetivo (consistente na manifesta desproporção entre as prestações recíprocas, geradoras de lucro exagerado; subjetivo (caracterizada pela inexperiência ou premente necessidade do lesado).
2) Conhecimento do prejuízo pelo beneficiado:
	Outro aspecto diz respeito ao fato de que não se preocupa em punir a atitude maliciosa do favorecido. O contrato é anulável porque foi viciado o consentimento da parte prejudicada, mesmo que o outro contratante não tenha tido conhecimento das suas condições de necessidade ou de inexperiência.
	Enfim, malgrado a parte beneficiada tire vantagem da situação, não se exige que tenha induzido a vítima a celebrar o contrato lesivo, nem que tivesse ciência de sua premente necessidade ou inexperiência; mesmo porque, o contratante não induz o outro à prática do ato lesivo, mas apenas tira proveito de sua situação, diversamente do que ocorre no dolo.
3) Princípios característicos:
	A) a lesão só é admissível nos contratos comutativos, porquanto nestes há uma presunção de equivalência entre as prestações; por conseguinte, ela não se compreende nos ajustes aleatórios em que, por definição, as prestações podem apresentar considerável desequilíbrio.
	B) a desproporção entre as prestações deve verificar-se no momento do contrato e não posteriormente. Pois, se naquele instante não houve disparidade entre os valores, inocorreu lesão.
	C) a desproporção deve ser considerável. Por vezes, o legislador deixa ao juiz ampla margem para decidir se houve desproporção notável entre a contribuição dos contratantes.
	D) o desfazimento do negócio depende de decisão judicial.
	E) é facultado à parte beneficiada efetuar a suplementação do preço, a fim de, reequilibrando o contrato, eliminar o defeito que o ameaça. Esta é uma prerrogativa do contratante beneficiado no ajuste, que, desse modo, pode ilidir sua rescisão. Por conseguinte, ao prejudicado não é deferido o direito de pedir a inteiração do valor. Só se lhe permite pleitear a rescisão. Ao outro é que, como se disse, se concede a alternativa de salvar a avença, mediante o reequilíbrio das prestações.
4) Convalidação do negócio:
	Finalmente, na lesão não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito (artigo 157, § 2º).
	O lesado poderá, assim, optar pela anulação ou pela revisão do contrato.
	Caso o lesado opte pela anulação, será facultado ao outro contratante ilidir a pretensão de ruptura do negócio, mediante o referido suplemento, suficiente para afastar a manifesta desproporção entre as prestações e recompor o patrimônio daquele.
Da Fraude Contra Credores
1) Introdução:
	A fraude contra credores é vício social. É praticada com o intuito de prejudicar terceiros, ou seja, os credores. A sua regulamentação jurídica assenta-se no princípio do direito das obrigações segundo o qual o patrimônio do devedor responde por suas obrigações. É o princípio da responsabilidade patrimonial.
	Ao tratar do assunto, o legislador teve de optar entre proteger o interesse dos credores ou o do adquirente de boa-fé. Preferiu proteger o interesse deste. Assim, se ignorava a insolvência do alienante, nem tinha motivos para conhecê-la, conservará o bem, não se anulando o negócio.
2) Requisitos:
	A fraude contra credores exige dois elementos:
	Elemento subjetivo (consilium fraudis ou conluio fraudulento), é a má-fé, o intuito malicioso de prejudicar. Não se exige o propósito deliberado de prejudicar credores. Basta que o devedor tenha noção de que de seu ato advirão prejuízos. Basta a prova da ciência da situação de insolvência do vendedor.
	Elemento objetivo (eventus damni), prejuízo decorrente da insolvência. É o negócio prejudicial ao credor, por tornar o devedor insolvente, ou por ter sido praticado em estado de insolvência.
3) Má-fé presumida:
	A má-fé do adquirente é presumida quando:
	A) insolvência for notória (títulos protestados, p. ex.);
	B) houver motivo para ser conhecida do outro contratante (parentesco próximo, preço vil, p. ex.).
	Neste caso, serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente (artigo 159).
4) Hipóteses legais de fraude contra credores:
	4.1) Transmissão gratuita ou remissão de dívidas: os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos (artigo 158, caput).
	Neste caso, os credores não precisam provar o conluio fraudulento, pois a lei presume a existência do propósito de fraude.
	4.2) Pagamento antecipado de dívida ao credor quirografário: o credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu (artigo 162).
	Todos os credores quirografários devem permanecer em pé de igualdade; se um deles é pago antecipadamente, vem a ser beneficiado, em detrimento dos demais. Se a dívida estiver vencida, o pagamento será considerado normal.
	4.3) Concessão de garantia dívidas: as garantias dadas a algum credor tais como penhor, anticrese e hipoteca presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores (artigo 163). O que se anula, nesta hipótese, é somente a garantia, a preferência concedida a um dos credores (artigo 165, parágrafo único).
5) Ação Pauliana:
	Só estão legitimados a ajuizar ação pauliana (recebe esse nome por causa do jurisconsulto Paulo) ou revocatória os credores quirografários (do grego escrito a mão) e que já o eram ao tempo da alienação fraudulenta (art. 158, caput e § 2º).
	Os que se tornaram credores depois da alienação já encontram desfalcado o patrimônio do devedor e mesmo assim negociaram com ele. Nada podem, então, reclamar.
	Da mesma forma, os credores com garantias reais não podem, em princípio, ajuizá-la porque já existe um bem determinado especialmente afetado à solução da dívida. Nada impede, porém, que a intentem se a garantia se tornar insuficiente (art. 158, § 1º).
	O autor da ação anulatória (pauliana ou revocatória) tem o ônus de provar, nas transmissões onerosas, o eventus damni e o consilium fraudis.
	A ação deve ser proposta contra o devedor insolvente e também contra a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, bem como contra terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé (artigo 161).
	Ou seja, se o objeto alienado pelo devedor já foi transmitido a um subadquirente, deverá ser este igualmente citado; nesse caso, porém, para que vingue a ação contra o último, preciso será que deste se prove má-fé.
	Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores (artigo 165).
6) Outras disposições:
	6.1) Ordinários indispensáveis à manutenção do estabelecimento ou à subsistência do devedor e de sua família: presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família (artigo 164).
	O fato de estar insolvente, não impede o devedor de continuar a vender as mercadorias expostas nas prateleiras de seu estabelecimento. Mas, não pode alienar o próprio estabelecimento.
	6.2) Depósito do preço pelo adquirente: se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados. Se o preço for inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes correspondaao valor real (artigo 160).
7) Distinção entre fraude contra credores e fraude de execução:
Instituto de direito material instituto de direito processual
Ônus da prova do autor (credor) independe de má-fé do adquirente
Interesse particular interesse do Estado, inclusive tipifica 
 ilícito penal (artigo 179, CP).
Atos anulados atos declarados ineficazes
Objeto de ação específica declarável incidentalmente

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